You are on page 1of 22
ATERCEIRA* Jacques Lacan (Roma, 1974) J. Lacan: Eu s6 falo esta tarde pelo fato de que ontem e hoje, pela manh4, ouvi coisas excelentes. Nao vou nomear as pessoas, porque isso vai parecer lista de premiados. Ouvi = coisas excelentes, especialmente esta manha. Entio, previno-os de que vou ler, vocés compreenderfo por qué. Eu explico isso no texto. ‘Tradugio: Analucia Teixeira Ribeiro Para circulagio interna na Escola Letra Freudiana a : ATerceira , "A Terceirat € 0 titulo. A terceira volta, 6 sempre a primeira, como diz Gérard de - Nerval2, Faremos cbjegio a que isso faca "disque"? Por que no, se isso “dit-ce-que™. aE E ainda esse edit-ce-quet, 6 preciso ouvidlo, esse algo que 0 “disque-ours"™ de ai Roma. .” : Se eu injeto assim mais um pouco de onomatopéia, na Lingus, nfo € que ela tenha o direito de me retorquir que no hd onomatopéia que jé nflo se especifique pelo sistema ~ _fonemético da lingua. Voots sabem que, para o francés, Jakobson media o calibre: ¢ deste ~< —\. tamatho, Em outras palavras, & por ser em francés que 0 discurso de Roma [discours de - Rome], pode ser ouvido como disqu'ourdrome’. Eu tempero isso ‘observando que ourdrome é @um ronrom que seria admitido por outras lalinguss, se bem aceito de ouvido por alguma ~ de nossas vizinhas geogrificas, ¢ que isso nos tira naturalmente do jogo da matriz, de : Takobson, aquela que-eu especificava hé pouco. - ‘Como eu nfo devo falar muito tempo, passo a vocts um tuque, Isso me dé a -. oportunidade, simplesmente, esse ourdrome, de colocar a voz na rubrica dos quatro objetos eo que eu chamo de pequeno 4, isto 6, esvazié-la de novo da substincia que poderia haver no ae fifdo que ela f22, ou seja, recolocé-la em termos da operacic significant, aquela gue especifiquei_pelos efeitos ditos de metonfmia. De modo que, @ P ‘@ voz ~ S€ posso ~ \\ dizer assim ~a voz esté livre, {ivre de ser outra coisa que no substincia®. + B isso. Mas € uma outra delineacéo que pretendo apontar introduzindo minha - ‘Terceira. A onomatopéia que-me ocorreu, de um modo um tanto pessoal, me favorece — bato na madeira me favorece porque esse|tonini)sem divida neahuma, € 0 2070.0 gato. =, Se isso passa por sua laringe ou por outro lugar, eu nao sei, mas quando os acaricio, parece SE aque € pelo corpo todo, e & isso que me faz chegar a este ponto de onde quero comesar- \ Comego por af 0-que nfo Thes forgosamente a fegra do jogo, mas isso vird depols. "Buy penso, logo se goza" ["Je pense donc se joutf"], Isso rejeita [rejette] 0 "logo" ‘usual, que se diz je souls [eu goz-sou (goz0+sou)]. ‘Fago aqui uma pequena brincadeira com isso. Rejeitar, aqui, deve set entendido como © que eu disse da forclusio, que rejeitando @ je souls, isso reaparece no real. Isso Poderia passar por um desafio na minha idade, i emi que hé trés anos, como se diz as pessoas 4 quem se quer jogar isso na cara, hé trés ancs, ‘Sécrates estava mort’. Mas mesmo que eu. morresse em seguida — isso poderia bem me acontecer, acomece CO Lévy- Strauss’, assim, na tribuna — Descartes jamais ouvis slguém ‘dizer a respeito de seu je souls, gue ele gozmve da Vide. Nao é isco néo. Que seatido tem, o seu je souis [eu "gozsou"|? Eratamente o meu sujeito,o "ie" da psicandlise. Naturalmente, ele nfo sabia, coltado, ele nfo sabia, isso € evidente, ¢ € preciso que eu o interprete para ele: isto.¢ um sintoma. Porque a partir de que ele pessa antes de concluir que ele "sou" [suif], da midsica do ser, fem divida? Ele pensa a partir do saber da escola com que os Jesuftas, seus mestres, Ihe Y encheram os ouvidos. Ele constata que isso é pouco sélido. Seria bem melhor, € certo, se tle-se desse conta de que seu saber vai bem mais longe do‘que ele penss,além da,eseqla, de Ge Ba algo de duridoso ne ar, se posso dizer assim, ¢ somente pelo fato de que sie ‘fala, a ’ is falando alingua, ele tem um inconsciente, € esté perdido como qualquer wit 7 ) que Se respeite; o que eu chamo de um saber impossivel de alcancar para 0 sujeito, quando Hee ele, 0 sujeito, hd somente um significante que_o representa junto a esse saber. Bum fepitseatante, se posso assim dizer, de comércio, com esve saber constinsido, pare cicie Meee Descartes, como era de uso em sua época, por sua insergio no discurso em que ele nascev, isto 6, 0 discurso que eu chamo do mestre, 0 discurso da pequena nobreza. E por isso ‘| mesmo que ele ndo se livra dele, com seu ‘feu penso, logo eu gozsou" ["je pense donc je souis"]. “____ nda assim 6 melhor do que o que diz Parménides. ‘A opacidade da conjuncéo do Waive do eifG?, ele nfo vai além disso, esse pobre Platio, ele nfo vai além disso; porque 3e no fosse ele, 0 que saberfamos de Parménides? Mas 0 fato é que ele nfo vai além disso, ce ele nao nos transmitisse a histeria genial de Sécrates, o que gaaharfamos com isso? Mas eu me esfalfei durante essas pseudo-férias, eu me esfalfei em cima do Sofista. Eu devo Ser muito sofista, provavelmente, para que iss0 me interesse. Deve haver alguma coisa ali para a qual eu sou obtuso. Eu ndo aprecio. Faltam-nos alguns meios para apreiar. Enfim, falta-nos saber 0 que era.o sofista, nessa época. Falta-nos 0 peso da coisa. ' ‘Voltemos 20 sentido do "gozsou" [souis]. Nao é simples, 0 que ma gramética tradicional se pe a titalo da conjugacéo de um certo verbo ser [ére]; para 0 latim, af tode 0 mundo percebe.que fui, como se.diz naItélia, que fut ndo faz soma.com stim comio se diz Tumbéey aqui, Sem coniar o testo da confusio. Ents, deixemos isso de lado, Dexemos de Jado tudo 0 que acontecea quando os selvagens, os gauleses comegaram & ter de se virar ‘com isso. Eles fizeram 0 est escorregar para 0 lado do “stab”, Alids, no foram os tinicos. Na Eepanba, crefo que foi a mesma coisa. Enfim, a lingusteria se vira como pode com rao sep. Nao vou agora repetir a voo8s © que preenche os domingos dos nossos estudas classicos. ‘De qualquer modo, podemos nos perguntar de que seres de mito, enfim, aqueles cujo, nome eu coloquei carne esses seres — que, aids, so ali: 0s Undewxropéens", foram faventados de propésit, sfo mitemas — o que € que eles podiam colocar na sua ligacio {copule}™... por toda parte que ndo em nossas Linguas, é serve de cépula... eafim, algo como a prefiguragio do Vert ‘simplesmente qualquer coisa que ‘bo encamado? Dirio isso, aqui! Tove me aborrece, Acharam que me dariam prazer, fazendo-me vir a Roma, néo sei por qué. Hé lugares demais para o Espirito Santo. O que por essa cépula? ‘o Ser tem de supremo se nfo for Enfim, eu me diverti interpondo af o que chamamos de pessoas, enfim, encontrei uma coisa que me divertiu: m’es-tu-me, mais-tu-me , sso nm 7° Na realidade, € a mesma coisa. E a histéria da mensagem que cada forma invertida. Eu digo isso h4 muito tempo isso fez permite se embaragar: m'aimes-tu ir, Na verdade, € a Claude Lévi- Strauss que o devo, Ele se voltou para uma de miahas excelentes amigas, ue 6 sua mule, fue € Monique, para cham-la por seu nome, e Ihe disse, arespito do que €x exprmis, Us oT jac, que cada um recebia Sua mensagem de uma forma inverida. Monique me repen fo. Ex ado podia eacontrar férmula mais feliz para o que eu queria dizer justaments aquele momento. Mesmo assim, foi ele quem me passou isso, Como vocts véem, eu Pez >. 0 que me interessa onde 0 encontro. Bem, entio deizo de lado os outros tempos, a sustentacéo [éeayaze] do imperfeito. ‘Siézais {eu era}. Ab! qu'est-ce que tu étaies ? fo que & que t ‘sustentas/eras 7]"*. E depois, 0 teste, Deixenos isso, porque preciso continuar. Q sabjuitive, isso ¢ engracado. Que.ele__ fseja como por acaso! Quanto a Descartes ele nfo se engan: Dens € 9 dizer. Ele vé muito Fem que "deuzer", (deure (diewdeus + dire] € 0 que fa. ser a.verdade, @ qu decide sobre ela, por sua cabeca. Basta "deuzer" [dieure] como de ‘Se Diew me eagana, azar, esta é a verdade de ours. Bem, continueros. Porque eu fago, neste exato "eu. Esta € a verdade, ndo hi meio © pelo decreto do diewre,.a verdade ‘momento, algumas observagGes @ 3 respeito das pessoas que levaram a critica do outro lado do Reno, para acabar bajulando Hitler. Isso me faz ranger os dentes. maa Entéo, o simbélico,o imaginérioe o real, é isso oluimero um) 6 inaudito & que isso tenba tomado sentido, e tena tomado sentido ordenado assim. Nos dois casos, foi por minha causa, do que eu chamo de vento, que ex ‘sinto que nio posso mais nem mesma prever, 0 Vento com que se enfunam as velas em nossa ‘época. Pois € evidente que isso nfo € sem sentido, de inicio. £ nisso que consiste o pensamento, que. | palavras introduzem no_corpo algums representagées Imbecis, af esti, vocés tém af 0 | fraque; vocés tém af o imagindrio, e que além ‘do mais nos rend gorge [devolve] — isso nao quer dizer que ele nos rengorge [encha de orgulho], nfo, ele nos vomits, mas © qué? como por acaso, uma yerdade, uma verdade a. mais. 0 ciimulo! Que o sentido se aloje nele nos, G5, 20 mesmo tempo,,05 dois outros como sentido O idealism, caja imputacio todo 0 mundo repudiou, o idealismo estd por ‘tris disso. As pessoas sé querem isso, £6 isso as ateressa, ji que o pensamento é mesmo o que hé de mais eretinizante ao chamar a atencio || pera o sentido. ' ‘Como lhes tirar da cabeca 0 emprégo filos6fico de meus termes, isto 6-0 emprego cbsceno? quando, por outro lado, € preciso que isso entre, mas melhor seria que eotesee cascuiso lugar. Voeds imaginam que o pensamento 6 algo que se situa no cérebro. Nao veio por que eu Os dissuadiria disso. Mas ex tesho ezrteza — tenho certeza¢ i9 6 problema mea Pogo que isso se situa nos mésculos da testa, no ser falante, exatamente como no Pore espinlio. Eu adoro o porco-espiaho. Quando vejo um, eu o ponho no bolso, dentro do meu Teaco, Naturalmente, ele urina, Até que eu o leve para o meu gramado, em minha cass de campo. E lé, eu adoro ver producir-se esse franzic dos miisculos da tssta Depois disso, \( exatamente como nés, ele se fecha. Enfim, se vocés podem pensar com 0s miisculos da fests, podem também pensar com os pés. Pois bem, ¢ af que eu queria que isso entratt *\ fois tinal de contas, todo o imaginiio, o simibélico ¢ o real, to isso ¢ feito pare que camiaho da anilise. NAgueles cisculos de barbante que eu me esfafei em desenhar para Hosts, Ss circulos de barbante, nfo se trata de se acomodar com eles. E preciso que isso Ihes sirva, MGpeles deste grupo de pessoas que so 08 que me beguem, pare que isso os ajude a abriro que isso Ihes sirva justamente para ©. _errel de que en Ihes falava este ano, que iss0. Thes (sive para percebe pologia que isso define ~{6 que, hi entre) € no se deixarenl enganaé pela auto-estrada. See aio iio Tabs. O que seria preciso € que vocts os entendessem. Eles estio af desde bem antes daquela que eu implico em chamar de a Primeira, a primeira vez She tu falel em Roma. Eas apresentt,eses tts, depois de télos mito bem cogitado, ore resentel motto cedo,-bem antes de terme dedicado ao meu primeiro discuso de Roma”, Que sejam esses ciculos do n6 borromeano, afinal nfo ¢ razio para voces tropecarennnele. Néo € sso que eu chamo de peasar com 0s pés. Seria 0 caso de vosts Sores alguna coisa bem diferente de urs membro ~ eu falo dos analistas ~ seria Y caso de vocts deixarem ali esse objeto insensé [inseistto/sem sentidd] que eu especifiquei F Como sendo 0 objeto pequeno a. £, iss que se_apreende_ na, juncio do simbélico, do fenagindsioe d0 real, como a6. 2 apreendt-lo cozetamente que York poderto responder «| Hee a funcho de vocts: oferect-o como causa, oferectlo a seu anlisants, come e228 \\l do desejo dele. B isso que se trata de bier, Mas se vocks trépecarem af, também nao ser iecrfvel. O importante € que isso seja Bs suas custas. - Para dizer as coisas, apés esse reptidio do je souis, vou divertir-me dizendo a vocés fe queleide n6 preciso sé-o, Ent, se eu acrescentar, além disso o que vocts saber depois do gue eu arulel durante um ano sobre os quatro discursos, sab 0 titulo de O Avesso da Peleandlise, de qualquer forma, do set, é preciso que vocts nic fara mais do que ©. semblant. Isso € dificil. E tanto mais dificil que mio basta ter, idéia disso para fazer 0 . Nao pensem que eu tive essa idéia. Eu escrevi objeto, pequeno a. ‘Isso € bem sso o aparenta A Logica, isto é isso 0 torma operante no rea, a titulo do objeto do qual justamente nfo hd ids, o que, € preciso dizé-o, era um buraco #6 spnr2 m= qualquer ~ teorla, qualquer que seja, 0 objeto, do qual néo bd idéia. E 0 que justifica minhas reserves, fnquelss que fiz hi pouco, a respeito do pré-socratismo dé Plats. Nio é que ele no tenha ‘/tito o sontimento éisso. O semblant ele esté mergulhado ele, sem o saber. Isso ¢ uma * obsessdo para ele, mesmo que ele nfo o saiba. Isso s6 quer dizer uma coisa, € que ele 0 sente, mas ngo sabe por que é assim. Daf esse insuporte esse insuportével que ele propaga. ‘Nio bé-um s6 discurso no qual o semblant nfo dirijao jogo. Nio.se v8 por motive’ dltimo & chegar, o discurio analtico, escaparia disso. Mesmo assim no Bé 4 para que nesse discarso, scb pretexto de quo ele € 0 éltimo a ‘chegar,-vocés se sintam to 5 Cc pouco & vontade que cheguem a: fazer, conforme o costume com que 8° empertigam seus Potegas da Internacional, um semblant mais semblant do que o natural, exibido; vocés s¢ lembram afinal que 0 semblant uilo que fala como es) icie, € resente, em toda espécie de disourso que 05 OCU a = Ento, sej ates estos, , mais naturals, quando voces receberem alguém que vem Thes pedir uma : alive, Nao ge sintam to obrigados a se empertigarem. Mesmo como buftes, voces estio justificades em sé-lo. Basta ver minha Televisdo. Eu sou um palhaco. Baseiem-se nesse f exemplo ¢ nfo me imitem! A seriedade que me anima € a série que-woces constituer 4 ‘Vocés nfo podem, a mesmo tempo, ser parte disso e sé-to. Q simbélico, o imagindrio. «ose so 60 enuniads o e Bes palavra, quando Sond ‘situani no discurso andlitico, quando. vocts.s4o.analistas. Eles j euierpent verdairanreie, esses termos, para.e por esse discurso. Eo. nao tive de por at nen aGb dv de seguir, 3 também. Nio quo dizer que iso.nfo iluminecs | <— também 280 05 javalida. O[discirgo do mest por exemplo, seu fim 2 6 qiié as Coisas Catminhem no mesmo passo de todo 0 ‘mundo. Pois bem, isso ndo é de todo a ‘odsma coisa que o real, porque o real, justamente, & 0 que nfo citinha.€:9 que aLrevESSE 9” Caminho desea carfuager, bem mals do que iso, 9 que nfo grsea dese repels pare aH marcha, Eu disse isso antes: € 0 que volta sempre 20_mes jugar. A én vt sobre volta". £ o lugar que se descobre, o lugar do semblant. F dific institu-lo vo { somente a partir do imagindrio, como a riocéo de lugar parece indicar. Felizmente temos a opologia matemitica para nos apoiarmos ¢ € o que eu tento fazer. ‘Num segundo tempo, -ao defini-lo, esse Treal, Jen tentei aponté-lo a. partir. éo impossivel de tma modalidade Iégica. Suponham, com efeit, que nfo haja nada de imposetvel no real. Os eruditos fariam wma cara amarrada e n6s também! Quem é aus fem tiguma coisa a resmungar? Mas quanto cto foi preciso percorrer para percebsrmcs isso. Durante séculos acreditou-se que tudo era possivel. Enfim, néo se hhaja alguns cet cals que tenham ido Lelbniz. Ele 6 se sala bem pelo {Gompossivel")Deus bavis feito da melhor maneira, era preciso que as coisas fossem possiva im, 0 que bé xT combinagoes e mesizo de artimanhas por trés de tudo isso ¢ inimagingvel. Talvez => (eee hos love a consierar 0 suundo como o que ele é: imaginétio. Iso 36 pode ser feito, reduzindo a funcSo dita de representacfo,colocando-a onde ela est, ou se no compo. Faz muito tempo que desconfiamos disso. £ mesmo nisso que consiste 0 idealismo filoséfico. $6 que oidealismo flos6fico chegou a iso, mas enquanto ndo havia cigncia, isso nfo podia cacerrar o assunto, nfo sem uma pontinha assim: resignando-se, eles esperavam os sinais, os sinais do além, dovovpve ndimeno ', é assim que eles o chamam. E por isso que houve alguns bispos nessa historia, 0 bispo Berkeley" principalmente, que no seu tempo era imbativel, e isso Ihe convinha muito bem. sees ecpeancasiquna de leer o sel pea 2 , gat a javocar aqua teoria dos quanta, nem a da onda e do ~ ‘corpésculo ™. Seria melhor, de qualquer modo, se ‘yocés estejam informados, embora ‘isso ‘bie Ihes interesse, Mas informar-se sobre isso, fagam-no vocés mesmes. Basta abrir alguns _ livcinhos de ciéncias. i Q.real, ao mesmo tempo, no é universal, o guequs dizer que ele 86 € todo no , sentido estrto de que cada um de seus elementos seja idéntico a st mesmo, mas no podendo dizer-se _naytea [todos] . tio ha "todos 9s elementos", $6 hf conjuntos a serem determinados em cada caso. £ inttil acrescentar: isto € tudol Isso 86 tem 0 sentido de 5 pontuar esse qualquer coisa, esieysigiaeaie]- letra que 6.0 que en escrevo Si — ssi signi cue 84 se escreve fazendo-o sem nenhum efeito de sentido, O homélogo, se uso dizer, do objeto pequeno a. Enfim, quando penso que me divert durante uy momento fazendo um Jogo eatre esse S, que eu tinha levado até a dignidade do significante Um, que eu brinquei com esse Um e 0 pequeno a, eno a de ouro, isso vale mil! sso vale mil, quero dizer que isso ganha alcance por ser esctito. De fato, isso era pase ilustrar a inutilidade de qualquer coito com o mundo, isto ¢, do que se chamou até agora de | conhecimento, Porgue nig bé nada mais no mundo além de um objeto pequeno a, fezes ou Glhar, voz ou seio, que. divide um sujeito ¢ 0 mascara esse dejeto que ele, 20 corpo, ex+ ‘iste. Para fazer semblant disso, € preciso ter aptidao. £ particularmente dificil... € mais 2 6 diffe para uma mulher do que pura um omem, 20 contrério do que se-diz. Que a-mulher > seja eventualmente o objeto pequeno a do homem, isso nfo quer Get de modo algum que ela goste de sé-lo. Mas enfim, isso acontece. Acontece que ela se assemelhe a isso zs \ naturalmente. Nao h4 nada de mais semelhante... enfim que se pareca mais com um cocd de a )) mosquito do que Anna Freud! Isso deve ‘The con ‘Sejamos sérios. Voltemos a fazer o que estou tentando. £ preciso sustentar esta ‘Tercsira com 0 real que ela compora,e é por isso que lhesfago « pergunta que vejo dvs 88 - jessoas que falaram comigo, antes de mim, j4 supunham isso um pouce, nfo s6 supuatian . re gins’» disseram que o tenham dito, 6 sal de que o supGem —seré que a psicandlise € = um sintoma? qualquer modo, seria melhor que fosse a resposta certa. En ‘chamo de ‘Yer do real Quero dizer que isso se apresenta como um peixinho exja bas Vore 86 se fecha depois de morder o sentido. Entio, de duas coisas uma: ou isso o faz proliferar ~ *Crescei e multiplica-vos!, disse 0 Senhior, o que ainda assim € algo um tanto forte, que deveria nos fazer protestar, esse emprego do termo multiplicacio: ee, o Senor, sabe 0 que €uma multiplicagio, nao € esse intumescimento do-peixinho —ou entdo, ele morre. ‘O que setia melhor, para isso devertamos nos esforgat, 6 gue o real do sintome Tora, € 8 a cone Haze BO Numa época em que ex me divulgava nos servicos que eu nllo nomearel = embora no meu papel aqui eu faga alusio a isso, como vai ser impresso, eu preciso pular umes partes numa poca em que eu teatava fazer compreender nos servigos dx medicina que 6 era sintoma, eu info 0 dizia exatamente como agora, mas afinal ~ ¢ talvez um Nachirag - afinal, eu creio que ji o sabia, mesmo que néo tivesse ainda felto surgir o imaginfrio, 9 SHRBOLGS e © real. O sentido do sintoma nio é aqucle como qual ¢ alimentado para sua proliferagio ou exiinedo, o sentido do sintoma ¢ 0 real. o real, na medida em que cle.se “atravessa pata impedir.que-as coisas.caminhem, no sentido rt que-el las se.d0.conta por sf, smas, de_modo satisfatério, satisfatSrio-pelo-menos. ara.o.senhor. O que no quer dizer ue 0 escravo sofra com isso de alguma mancirs, longe.tisse..O. eScravo, eu hes peco. erddo por este paréatese, 0 escravo, nesse caso, é muito mais folgado do que se imaging, €_ ie quem goza,-20-contrério-do-que-diz Hegel, que-deveria-afinal ‘perceber.isso, porque foi pot fsso que le se deixou dominar pela senhor Entio Hegel Ihe promete além de tudo 0 fFaturo, néo Ibe falta mais nada! Isso também é um Nachtrag, um Nachtrag mais sublime do {que no meu caso, se posso dizer assim, porque isso prova que 0 escravo tinha a felicidade de jf ser cristo na época do paganismo. E evidente, mas enfim, mesmo assim € curioso, € realmente 0 lucro total! Tudo, tudo para ser feliz! Isso no aconteceré nunca mais. Agora, que nfo b§ mais escravos, somos reduzidos a reler o quanto pudermos.2s comédias de Plauto e de TerEncio, tudo isso para termos uma idéia do que eram os escravos- Enfim, estou me desviando do assunto. Contudo, néo é sem deixar de perder 0 fio do que prova esse desvio. Q sentido do sintoma depende do futuro do real, portanto, como 28 disse na entrevista coletiva, do Exit da peicandlise. O que Ihe é pedido, € que-nos livre ‘do real e do sintoma. Se tiver sucesso nesse pedido, pode-se esperar — eu digo isso assim, esculpem-me, mas vejo que bé pessoas aqui que no estavam ma-entrevista coletiva, ¢ pare clas que eu o digo — pode-se esperar tudo, a saber, uma volta da verdadeira religifio, por | exempto, que como vocés saber, nfo dé! mostras de se enfraquecer= Ela mio ¢ Louse, | yerdadeira religiid; todas as esperangas sdo permitidas, Se posse dizer assim, ela as | “santifica. Entéo, certamente, isso thas permite. Masse a. peicanilise tiver éxito, ela se \L, Gatinguiré por nfo ser senfo um sintoma esquecido. Ela nfo deve se surpreender com isso, esse € 0 destino da verdade tal coi:o ela mesma o estabelecs n0- Principio A verdal-st “esquece, Portanta, tudo depende de_se o real iasiste. Somente por isso, €preciso que-a lise fracasse. E preciso reconhecer que ela toma esse ‘caminho ¢ que tem, portanto, _.., Boas chances de continuar sendo um sintoma, de crescer ¢ se multiplicar.Psicanalistas no mortos, segue cartal Mas ainda assim, cuidado. Esta 6 talvez minha mensagem de uma forma invertida, Talvez eu esteja também me precipitando. Ea fungo da pressa, que eu ressaltei para vocts. ‘O que eu Lies disse pode, porém, ter sido mal enteadido; o que eu acabo de lhes dizer, entendido de modo que seja tomado no sentido de saber se a psicanilise ¢ um Sintome social. H4 apenas um sintoma social: cada individuo ¢ realmente. um proletérie, isto é, ndo tem nenkum discurso com 0 qual fazer ago social, em outras palavras, semblant. ¢ Fol contra isso que Mary se prevenil, se preveniu de um modo incrfvel. Dito ¢ feito. 0 “. que ele emitiu implica que mio hi nada a ser mudado. # por isso mesmo, alids, que tudo » continua exatamente como antes. A. psicandlise, socialmente, tem ima outa consisténcia, diferente dos outros discursos. Ela € um Iago a dois. & exatamente nisso que ela se acha no lugar da.falta de relacéo sexual, [sso no basta de modo algum para fazer dela um sintoma social, pois a \ jelagdo semua. ela falta em todas as formas de sociedades, Iso estd ligndo 2 verdade que faz estrutura de todo discurso. £ exatamente por isso, aliés, que nio b4 wverdadeira dade fandada no discurso aaalitico, Hid uma escola que, justamente, nao se define por ee & “NER {, Ser uma sociedade, Ela se define por eu ensinar ali algume evisa Por mais engracado que ¢ 3. % isso possa parecer, quando se fala de Escola Freudiana, isso € algo no género do que } g_ Sizeram os Esticos, por exemplo. E até mesmo pode-se dizer que os Estbicostnham afin = § algo como um pressentimento do lacanismo. Foram eles que inventaram a distingio do SLD signans ¢ do signaturd!. Em contrapartida, eu Ihes devo meu respeito pelo suicidio. ~~ FY Naturalmente, ndo quero dizer isso dos suicidios que sfo de brincadeira, mas daquela forma gL eesuleio que, em suma, 60 ato propraments dito. Néo pode falhar, é claro. Senko, no Sum ato. Em tudo isso, portaato, néo hé problema de pensamento. Um psicanalista ;, / sabe que o pensamento € aberrante por natureza, 0 que nfo 0 impede de ser responsavel por }-¢ 4 um discurso que solda o analisante— a qué? Como alguém o disse muito bem esta manha, nfo 20 analista; o que ele disse esta manhf, eu 0 exprimo de outra forma, fico feliz que haja convergéncia nisso — ele solda o analisante ao par analisante-analista. exatamente a mesma coisa que alguém disse esta anh. crate Portanto, o que b de picante, em sido $30, €-que-seja do real que,depends 0. “% analista nos anos vindouros ¢ néo o contrério, Néo €GF mods slgum do analista que, 3 jo> Gepende o-advento a6 red, Oaalista ten por Missa Opor-se a ele. Apesar de tudo, o real_ cor aps poderia bem tomar 0 frefo nos dentes;-sobrety ie ° clentifico. Esse € até mesmo um dos exercfcios daquilo que € ‘chamado-de ficcao cientifica, 1ue, devo dizer, eu nfo lefo nunca, mas freqiientemente nas andlises me contam o que hé ali > e € inimaginavel. A tugenia, a eutandsia, enfim, toda espécie de eubrincadeiras diversas. Onde isso fica engracado, é s6 quando os préprios cientistas ficam tomados, no pela ficcio \ eientifica, mas ficam tomados por uma/angtstia} isso, afinal, € instrutivo. E exatamente 0 Sintomactipico de ‘todo advento do real. .E quando os bidlogos, para nomed-los, esse ss L. Gientistas, se impdem 0 embargo de um tratamento. de laboratério das bactérias sob 0 pretexto de que se as fizerem multo resisteates ¢ muito fortes elas poderiam bem escorregar - Pela oleira da porta e liquidar, enfim, pelo menos toda « experiéncia sexuada, liquidando o “ Ser falante (parlétre], de qualquer forma isso € algo de muito picante. Esse acesso de 7 responsabilidade é formidavelmente comico, toda vida enfim reduzida A infecoSo que ela €. realmente, 0 que é inteiramente verossimil, isso é 0 cimulo do ser-pensante! © problema : | } gue eles nem por isso percebem que a morte se. 40 mesmo tempo, pelo que na ll aling Talangue], tal como a escrevo, da sinal dela. De qualquer modo, os."eu" que cassinalel aed je-passagem; nos ‘poriam ‘na apatia do bem universal e fariam 3 supléacia & aus€ncia da relagio que eu disse ser imposstvel, para sempre, por essa conjuncio de Kant com Sade com 2 qual eu julgzei que devia marcar nom esetito o future Y {que nos aguarda — ou seja, 0 mesmo no qual a andlise tem, de uma certa forma, seu futuro = assegurado. "Franceses, um esforco a mais para serem tepublicanos"™, Caberé a vocés responder a essa admoestagio — porque ... embora eu continue sem saber se esse artigo o agradon cu desagradou a vooés. $6 um cara se esfalfou em cima dele, mas ndo conseguiy~ grande coisa. Quanto mais eu como meu Dasein, como escrevi no final de um de meus seminérios, menos eu sei sobre o tipo de efeito que ele Ihes faz. Esta Terceira, eu a leio, quando vocts podem talvez se lembrat de que na Primeire, ~ que volta equi, eu achei que devia colocar minka fala, j4 que ela foi impressa depois, isso, u Sob o pretexto de que voces todos tinham o texto distribufdo. Se hoje eu 6 fago ourdrome, - espero que isso nio Ihes cause muita dificaldade-em ouvir 0 que-eu leio. Se for demais, ex eco desculpas. ira, portanto, aquela_que volta, para que no cesse de se. escrever,. - necesséria, aPrimeird, "Fungo e campo...", eu disse ali o que era preciso dizer. A _ interpretagao, eu enunciei, ‘néo é interpretacio de sentido, mas jogo com 0 equivoco. Foi por isso que enfatizei o significante na Lingua. Eu o designei da instincia da letra, isso para a me fazer ouvir pelo parco estoicismo de vocts. Disso resulta, acrescentei depois, sem mais = feito, que é d'alingua que se opera a interpretacdo, o que nfo impede que. inconsciente seja_estruturado como uma linguagem, uma_dessas linguagens das justamente é. = _, trabalho dos lingtiistas fazer acreditar que alfagua é animada. A gramética € como chamam isso geralmente, ou quando é Hjelmslev™, a forma. Isso nao avanca sozinho, mesmo que alguém que deve a mim essa abertura tenha posto a énfase na gramatologia™. ass — Alingua é'o que permite que, 9 yu [voto], consideremos que nio é por acaso que isso séju também veut [quer], terceira pessoa do indicativo do verbo vouloir [querer]; que 0 non (ndo] que nega ¢ o nom {nome} que nomela, isso também nio seja um acaso; nem que . {dieu [deles] (4' apSstrofe antes de "ewe" que designa aqueles de quemrse fala) seja feito da mesma maneira que o algarisme deut [dois], isso nfo é puro nem arbitrério, como ~ diz Saussure. O que é preciso conceber af, € 0 dep 0, a pettificacio que se 2 “area pelo manejo, por um grupo, de sua-experiéacia inconsciente. A lingua nfo deve ser dita viva porque ela est em uso. E antes’ morte-do signo que ela veicule. Nao € porque 0 inconsclente é estruturado como uma linguagem que elingua no tenha de gozar contra seu, = ‘godar, jf que ela ¢ feita desse préprio gozar. ae - O sijeito suposto saber, que € o analista na transferéncia, nfo € suposto sem razio BS ele sabe em que consiste o inconsciente, por ser um saber que se articula pel’ lingua, 0 coipo que @ fala estando enodado a ela somente pelo real do qual se goza. Mas 0 corpo eve Ser comipreendido ad natural, como desenodado desse real que, por ex-sistir a ele, 2 5 titulo de fazer seu gozo, mio lhe fica menos opaco. Ele é 0 abismo menos notado de que a ¢ Sejadalingua que civilize esse gozo, se ouso dizé-lo, ex entendo por isso que ela o leve a seu efeito desenvolvido, aquele pelo qual o corpo goza de cbjetos 0 primeiro dos quais, aquele ¥ ' que escrevo como objeto a € 0 proprio objeto, como-eu dizia, do qual nio existe idéia — “ \ idéia, como tal, quero dizer — Salvo se ele for quebrado, esse objeto, ¢ nesse caso seus ' pedagos sio identificdveis corporalmente e, como fragmentos do corpo, identificados. E sSomente pela psicanilise, € nisso que esse objeto faz 0 nticleo elaboravel do g020, mas de s6 esti ligado 4 existéncia do n6, as trés consisténcias de toros, de aros de barbante que o constituem™. e O estranho & esse laco que faz com que unt goz0, qualquer que ele seja, © suponha, esse objeto, e que assim o mais-de-gozar, pois foi assim que eu acteditei poder designar seu agar, esteja relacionado a algum gozo, sua condicéo. Eu fiz um pequeno esquema. Se for este 0 caso, no que se refere ao gozo do corpo, enquanto ele € gozo da vida, a coisa mais espantosa é que esse objeto, o pequeno a, separe esse gozo do corpo do gozo filico. Para isso, € preciso que voces vejam camo é feito on6 I/ Imagindsio Imaginério Real ‘Simbélico Real ‘Simbélico , (A) = ozo do Outro 1() = Gor’ falics Figura 1) (Figura 2) “Tmuflas vezes. Nao sei quantas pessoas aqui preseates estio uri pouco informadas destas istdrias esdrixulas, que nos vém da india, kamdaliné” € como chamam isso. Ha quem p designe assim essa coisa que sobe, que Ihes sobe ao'longo da medula, dizeni eles, porque depois disso fizemos algum progresso em anatomis, ¢ entio © que os outros explicam de i uma maneira que concerne & espinha do corpo, eles imaginam que isso € a medula ¢ que isso sobe ao cérebro. ) (© fora-do-corpo [hors-corpi] do goz0 filico — para ouvi-lo ~ ¢ nés 0 ouvimos esta ; manbi, gragas 20 meu caro Paul Mathis™, que € também aquele a quem eu cumprimentava pelo que Ii dele sobre a escrta ea psicandlise, ele nos deu esta manhd um exemplo i of Que 0 g079 filico se tore andmalo 20 gozo do compo, isso € algo que jé foi percebi b formidével. Nao € uma grande inteligéncia, esse ‘Mashimi™. E para nos dizer que foi Sd0 jf... ‘Sebastido que Ihe deu a oportunidade de ejacular pela pritneira vez, é preciso realmente que isso o tena impressionado, -essa ejaculagéo. Vemos isso todos 0s dias, tipos que nos . \ contam que sua primeira masturbacéo, eles nao a esquecerio jamais, que isso créve a & Véeran". De fato, compreende-se bem por que igso arrebenta a tela, porque isso mio vem + dentro da tela. Ele, o corpo eafim, se introduz na economia do gozo ~ foi daf que eu parti © 4a imagem do corpo. A relagio do homem, diquilo que se chama por esse nome, com seu se ba algumna coisa que ascinala bem que ela é imagindtia, € o alcance que a imagem Z corps ny 5 toma af e no infcio eu salientei bem isso, que de qualquer modo era preciso para isso umia cs razio no real, € que® rematuracio de Bollé' — isso néo vem de mim, bem de Boll, eu eB fnuaca procusel ser original, procurei ser Légico — 6 que s6 a prematuragio explica essa preferencia pela imagem, que vem de que ele antecipe sua maturagio corporal, com tudo 9 que isso comporta, é clara, ou seja, que ele no pode ver um de seus semelhantes sem pensar que esse semelhante toma seu lugar e, portasto, naturalmente, que ele © vomita.~ imagem? Vocts sabem o trabalho = que ex tive mma certa €p0ca — porque naturalmente vocés mio perceberam isso = ¢ 3 Trabalho que eu tive para explicar isso. Fu fiz questio de dar a essa imagem no sel qual 10 | protétipo num certo mimero de animais, ou seja, o momento em que a imagem desempeaha tum papel no processo germinal. Fui entio buscar o grilo peregrino, uma porcdo de coisas, 0 esgana-gata, a pomba... Na realidade, néo era absolutamente algo como um preliidio, um exercicio, séo antepastos, tudo isso. Que o homem goste tanto de olhar sua imagem, pois a bem, basta dizer: & assim: Mas 0 que hd de mais impressionante, € que isso tenha permitido 0 desvio, nfo 6? o,desvio no mandamento de Deus. O homem esté afinal mais préximo dele mesmo, em seu ser do que em sua imagem no espelho. Entio, que histéria € essa do ; mandamento "Tu amarés teu prximo como a ti mesmo", se isso néo se funda sobre essa ~ miragem, que 6 afinal algo de engracado, mas como essa miragem justamente € 0 que 0 leva a odiar, nfo seu préximo, mas seu semelhante, isso € ums coisa que estaria um pouco fora, se a geate nfo pensasse que afinal Deus deve saber 0 que diz, e que hé alguma coisa que-se ama ainda mais, para cada um, do que sua imagem. 3 (© que 6 impressionante € isso: € que se hd alguma coisa que nos dé a idéia do se gozer, €0 animal. Nio se pode dar nenhuma prova disso, mas enfim, isso parece estar bem implicado pelo que chamamos de corpo animal. "A questdo torna-se interessante a partir do momento em que se amplia isso se, em nome da vida, nos perguntamos se a planta goza. Afinal, isso é algo que tem um sentido, od porque foi af que nos armaram esse golpe, 0 golpe dos Utios do campo. Eles nio tecem nem ¢. fiam, foi acrescentado. Mas € certo que-agora, nfo podemos nos contentar com isso, pela a - boa razio de que justamente, é 0 caso deles, tecer & fiar. Para nés, que vemos isso 20 “ microscépio, nio hi exemplo mais manifesto de que é fiado. Entio € talvez disso que eles ©. gozam, de tecer € de fist, Mesmo assim, isso deixa 0 conjunto da coisa no ar. A questi “2 fica ainda por decidir, se a vida implica gozo. E se a questo permanece duvidosa para 0 vegetal, isso s6 faz valorizar mais o fato de que ela néo o seja para a pelavra [parole], porque alfmgua, onde 0 gozo faz depésito™, como eu disse, néo sem mortificé-la, nfo a io sem que ela se apresente como madeira morta, testemuntia afinal que a vida, que uma Tinguagem rejeita, nos dé bem a idéia de que é algo da ordem do vegetal. £ preciso examinar isso de perto. Enfim, hé um lingiista que insistiu muito no fato de que 0 fonema, isso nunca faz sentido. O problema € que a palavra também nio faz sentido, apesar do diciondrio. Fu me gabo de fazer com que, numa frase, qualquer palavra tenha qualquer sentido. Entio, se qualquer palavra pode ter qualquer sentido, onde se deter, | pa frase? Onde encontrar a unidade elemento? Ti que estamos em Roma, vou tentar dar a vocts uma idéia do que eu gostaria de dizer sobre essa unidade a ser buscada pelo significante. Hé, como yooés sabem, as famosas trés virtudes, ditas justamente teologais. Aqui, elas sfo vistas apresentando-se nos muros exatamente por toda parte sob a forma de mulheres corpulentas. O mfaimo que se possa dizer & que, depois disso, ao traté-las como | sintomas, nfo se forga a nota, porque definir o sintoma, como eu o fiz, a partir do real, € dizer que as mulheres exprimem tarsbém muitssimo bem o real, jé que justamente, & | insisto no fato de que as mulheres sf0 ndo-todas. Ento, a partir dat, a esperance, no, a £6, \asspesagt ea aria se ‘en 28 significo pela foire, por laisse-spére-ogne — lasciate ogni sper ‘este é um Ynetamorfema como outro qualquer, j4 que hd pouco vocts me permitiram 0 ourdrome, denominé-las assim e terminar com 0 fracasso [ratage] tfpico, ou seja, com o arquifracassado [archiraté], parece-me que € uma incidéncia mais efetiva para © sintoma, para o sintoma dessas trés mulheres. Isso me parece mais pestinente do que aquilo que, no momento em que se comeca 2 racjonalizar enfim tudo, formula-se, por exemplo, como essas irés questées de Kant com as quais ex tive de me virar na televisio, is = u ou seja: o que eu posso saber, o que me & permitido esperar ~ isso realmente 0 cimulo! ~ __e0 que devo fazer? E realmente muito curioso que estejamcs nesse ponto. Nao, é claro, que Yeu considere que a £6, a esperanca e a caridade sejam os primeiros sintomas a serem | colocados na berlinda, Ndo sio maus sintomas, mas enfim, isso alimenta perfeitaments a © neurose universal... nfo €? Isso quer dizer que afinal as coisas ndo estejam tho male que _7— s estejamos todos submetidos ao} sada assim 9.Igreja esté af, cuidan: : afinal o que ela tampona. a ‘Tomei este exemplo, assim, para nfo me embaracar no que eu tinha comecado . inicislmente, para thes dar como jogo, como exemplo do que é preciso para tratar um = sintoma, 140 €? Quando eu disse que a interpretacéo deve ser sempre, como foi dito aqui, gracas a Deus, e ontem mesmo por Tostain™, o ready-made, Marcel Duchamp, que a0 N menos vocés entendam alguma coisa disso, o esseacial que h4 nos jogos de palavras, é af ‘que deve visar nossa interpretacéo, para nfo ser aquela que alimenta 0 sintoma de sentido. E depois, eu vou lies confessar, vou lhes confessar tudo, por que no? Esse truque, ‘esse desvio da £6 [foi], esperanca e caridade para a foire™ — eu digo isso porque oatem ou anteontem noite, na entrevista coletiva, houve alguém que achou que eu estava “ ¥ exagerando sobre esse assunto de foi e foire; esse é uin dos meus sonhos, eu tenho todo o { direito, exatamente como Freud, de comunicar meus sonhos a voc8s; a0 contrério dos de ‘Freud, eles nfo sio inspirados pelo desejo de dormir, € antes 0 desejo de despertar que me ‘agita. Mas enfim, isso é particular. Enfim, esse significante unidade € capital. E capital, mas o que hé de sensfvel € que ** sem isso, € manifesto, 0 proprio materialismo moderno, podemos estar certos de que ele no teria nascido se ha muito tempo isso nfo atormentasse os homens, ¢ nesse tormento, a finica coisa que se mostrava estar a0 seu alcance, era sempre a letra. Quando Aristételes, alquer um, enfim, comega a ordenar a idéia de elemento, é sempre... ele faz uma rie de letras p o 1, exatamente como ris, Nao hd em outro lugar nada que dé, de infcio, a idéia de elemento, no sentido em que eu creio ter evocado hé pouco, do grio de areia — talvez esteja numa dessas passagens que eu pulei, pouco importa — a idéia do elemento, a idéia da qual eu disse que isso s6 podia ser contado, e nada nos detém nesse género; por : mais numerosos que sejam os gros de areia — h4 houve um Arquimedes que disse isso ~ por mais numerosos que:eles sejam, sempre se conseguird calibré-los, mas tudo isso s6 nos i -Yem a partir de algo que nio tem melhor suporte do que 2 letra. Mas isso quer dizer ns f; | também, porque nao hf letra sem isso 6 até mesmo um problema, como é que . | tee se pei ea Ree ‘se fez nada de bastante sério sobre a escritura. a ‘de qualquer forma, valeria @ pena, exfim, porque estd exatamente af uma articulacfo. : Portanto, que 0 significante seja estabelecido por mim como representando um sujeito junto a outro significante, esta € a funclo que se revela — como alguém 0 observou | hé pouco, fazendo, de uma certa forma, uma abertura para o que eu posso Thes dizer —esta é a fungdo que s6 se revela com a decifracéo, que é tal que necessariamente € & cifra que se retorna, e que isso € 0 Gnico exorcismo de que a psicandlise seja capaz; € que a decifracio. ae resume no que faz cifra, no que faz com que o sintoma seja algo que antes de tudo nio cessa de se escrever do real, e que chegar'a domé-lo até o ponto em que @ linguagem possa azer dele equivoco, é por af que esti ganho o terreno que separa o sintoma do que eu vou hes mostrar nos meus deseahos, sem que 0 sintoma se reduza a0 g0z0 filico. (Preciso pular um pedaco aqui). 12

You might also like