CADERNOS: pe
EDUCACAO POLiticaI. INTRODUCAO
Para entender melhor o que significa ideologia,
como ela aparece e como a praticamos diariamente,
you fazer uma exposicao de forma ilustrada. Trés
personagens acompanhardo nossa exposigao.
Parece um pouco estranho, mas tentarei fazer
que, A medida que o leitor acompanhe a histéria dos
personagens, entenda também como se forma esse
conjunto de idéias, valores, intengGes, aspiragdes na
cabeca das pessoas, o qual leva o nome de IDEO-
LOGIA.
Os tipos representados por nossos trés persona-
gens pertencem a nossa vida didria, podemos identi-
ficé-los claramente e, inclusive, As vezes, identificar-
mo-nos com eles. Sao alguns tipos sociais que fazem
parte do nosso cotidiano, bem como da vida social
mais ampla,
Na préxima parte, farei uma pequena apresen-
tacao de como a palavra foi usada desde que surgiu
até hoje, quais foram as modificagdes que sofreu e o
que é hoje entendido por ideologia.
Terminando a 2. parte, vou retornar aos nossos
personagens e entdo mostrar como a ideologia atua
nos casos do trabalhador Joao, da professora Teresa
e do pintor Luis. Como a ideologia participa da vida
cotidiana, como influencia e atua nas pessoas em
todos os ramos de atividade,
1.° PERSONAGEM — O OPERARIO JOAO
E trabalhador da construgao civil, jovem, sol-
teiro, de aproximadamente 20 anos de idade, que
veio do Nordeste ha pouco tentar a vida no Sul.
Embora tenha comecado nesse tipo de emprego como
Operario da inddstria de construcao e viva de uma
9A nuito precdria em uma casinha
Ce a store aspira a uma outra vida
feri Ele tem varios amigos em Sao Pauly ding
deles passou a conhecer um pouco mais do m, og
. daqueles que ganham melhor ¢ Vivern co ‘
ee es Por isso, nosso jovem Joao Nao € y, om
con! tipico de obras. Ainda que precise trabat
ae levantar cedo, terminar o dia ae de cae
sago”, pegar énibus cheio e em ce ler Nomi
de dormir, Joao sonha com uma outra vi a. 4 S Very,
imagina-se numa bela casa, tendo tempo le Soba
para descansar, passear, ver televisdo ou ir a praia,
Além disso, Joao tem também Outro desejo; ele 0s.
taria de se casar com Maria.
ia € namorada de Joao. Joao conseguiu, g
deny potbeeren um anel para dar de presente
a Maria no seu anivers4tio, Os sonhos de Jodo in.
Com ela ele pretende ter uma vida,
uma residéncia, um lar decente, Joao imagina uma
casa grande, bonita, cheia de movei:
J >rova dé que ele “conseguiu vencer”, 14
estarao, além dos MOveis, enfeites € pecas de deco-
GO que Jog nao foi mais um
conseguiu aqui. Mais
. MS anos, quando
fer um negécio pré-
le
Prio. Talvez uma fi
. Fundamentaim
sabe que usando
outros, ele se Sentir4
‘Sua terra, se cle puder ir
~ boa.e objetos de qualids s
aos demais qui “subiu na yj
dinheiro, Joao actedita niio
0s demais colegas — que o di
dinh,
cle possa realizar egges Sonhos, ‘Om
Mostrar £8888 coisas aos outros, Mos
comprar tudo isso,
. O que Joao nao entende muito ber
Subir na vida, Para passar para uma cam
_ melhor, para ganhar mais dinheiro, Nao-bas|
10trabalhar. & preciso outras coisas, outros mecanismos
agem para isso ¢ a sociedade nao facilita muito 4s
pessoas para que subam na vida. Ele sabe de alguns
exemplos de pessoas que se fizeram por si mesmas,
¢ esses exemplos marcam muito claramente a imagi-
nacao de Joao, que acha que também um dia podera,
como os outros que se fizeram por si mesmos, tornar-
se uma pessoa muito rica, muito poderosa. Ele nao
sabe exatamente como isso se dé. Alguns, ele sabe,
chegaram a isso por meio da sorte, por meio de uma
Joteria ou, ent&io, porque souberam aliar-se a pessoas
ricas. Os caminhos para chegar a uma posicao alta
so desconhecidos, mas Joao sonha com isso.
Enquanto trabalha na construcao, enquanto pen-
sa no seu futuro, em Maria, na sua casa, na sua
vida, Joao imagina que isto seja uma coisa bastante
possivel a todos e que basta um pouco de in-
yestimento, um pouco de trabalho. Pelo fato de
trabalhar bastante e de viver conforme a ordem na so-
ciedade, Joao acredita ser esta a Yinica maneira de
melhorar na vida e acredita também que quem regula
tudo isso é a propria sociedade em que vive. Ele
pretende progredir dentro das regras, da ordem, dos
critérios que ja estao definidos pela sociedade e de-
dica muito respeito as pessoas que ja estao numa po-
sigago melhor. Nao apenas um respeito, mas uma
veneracao.
A descricao deste primeiro personagem apresen-
ta de forma bastante sintética, simplificada, certo tipo
ideol6gico,
_2.° PERSONAGEM — A PROFESSORA TERESA
O segundo tipo ideolégico é uma professora
chamada Teresa, que da aulas noturnas de Histéria
para o 2.° grau e de manha estuda na universidade.
Ela tem uma vida bastante agitada. E uma pessoa
que, como Joao, espera melhorar um pouco de vida
e o faz através do estudo, No local onde estuda, ela
desenvolve uma pesquisa dentro do tema “Historia e
Sociedade”. Teresa est4 preocupada com um recente
asocial prasileiro — @ auc ee Se 08 gi, > |
jo capazes de conduzir . 08 trabal
dicatos 5 ta questao surgiu na cabeca de Teresa ie
dores. Es ‘megou a participar mais ativamente @
que ela viens Por ter amigos operirios, cla psa®
Jutas sin mais de perto os movimentos de Telvinge
vivenciat mi timento de saldrios, melhores condics..
cacao, ee nada de trabalho, mais beneficios Sociai,
e ne hospitalar) sentir que alguma coisa estavg
mais ands as conquistas dos trabalhadores. Sep,,"
aie ‘os operarios agiam corretamente, mas o sing,
cato, seu OTgao de representagao e defesa, estatig
atrasando essas realizagoes. 4
Esse estudo que Teresa faz na uniyersidade é
um estudo que Ihe interessa pessoalmente. Ela gost,
desse assunto ¢ procura conhecer 0 tema um pouco
mais profundamente. Ela imagina que a pesquisa
podera ser feita diretamente com os trabalhadores,
Fla iria ao seu local de trabalho e conversaria com
eles para saber como € a sua relacao com o sindi-
cato. O final da pesquisa, a professora pretende que
seja uma confirmacgao de alguma coisa que cla jé
imagina: o problema dos trabalhadores é 0 préprio
sindicato.
roblema
3.9 PERSONAGEM — O PINTOR LUIS
Por fim, temos um rapaz chamado Luis, que tem
o dom de saber pintar. Luis é adolescente, vive num
bairro de classe média urbana e desde pequeno tem
demonstrado muito jeito para a pintura. Na escola,
desenhava muito bem. Depois, iniciou um tipo “&
Pintura em aquarela, evoluindo mais tarde e freqiien-
fone, durante in certo tempo uma escola de pintu!
ie eal idealista, no sentido de acreditar que @ a
ie ae y Comunicar muito as pessoas, que ela po
ae ae ee nao somente reproduzir o mund?s
coated i Passar uma mensagem além da ue
segundo ais, Net pe ue & ae :
tissem emogoes ee de fazer que as pessons
meee Tentes das que sentem simP
“vendo os fatos e a natureza.Luis participou hé algum tempo de uma expo-
sigao para principiantes em uma cidade do interior e
nesse encontro foi muito feliz. A comissao julgadora
gostou muito de seus trabalhos e Ihe deu o primeiro
lugar. Depois de haver ganho essa distingao, Luis
conheceu um homem, chamado sr. Henrique — um
intermedidrio na comercializagao de quadros —, que
se interessou muito pelos seus trabalhos. Ele tinha
muitos contatos & poderia vender as telas de Luis
para uma série de compradores: bancos, firmas etc.
Luis gostou da idéia e entregou-Ihe suas obras para
serem vendidas.
O sr. Henrique, por ser negociante, via a pintura
de uma perspectiva diferente da de Luis. Ele con-
seguiu que Luis encarasse seus quadros como algo
que poderia ser comprado e vendido, como um objeto
que se coloca no mercado. Isso entusiasmou bastante
0 jovem, mas ao mesmo tempo fez que ele comegasse
a sentir o tipo de transformagdo que acontecia com
seu “produto”, A partir do momento em que scus
quadros passaram a ser vendidos, procurados ¢ ex-
postos nos lugares publicos, Luis comecou a perceber
algo estranho — os quadros “soltavam-se” dele.
Aquilo que ele havia criado, feito com bastante amor,
aquelas obras, onde ele havia investido grande emo-
Gao e das quais gostaya muito, de repente comecaram
a circular por outros locais, ambientes, regides ¢ pas-
saram a viver sem Luis: “Parecia que os quadros vi-
viam.” Aj ele sentiu algo estranho — o que ele tinha
criado j4 nao era mais dele, era do mundo.
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