You are on page 1of 801
Ilearo Vieira Pinto O Coneceito de Tecnologia ca E fato raro, no mundo editorial, que ad livros fundamentais de autores importantes permanegam inéditos por muitos anos. Foi auspicioso receber a not cia de que a mais extensa obra de Alvaro Vieira Pinto (1909 - 1987) havia sido recém-descoberta, na forma de 1.410 laudas datilografadas em, maquina de escrever, minuciosamente corrigidas a mao. O tema nao poderia ser mais atual — 0 conceito de tecnologia ~¢ a abordagem, fascinante ¢ rara: aqui é um filésofo quem discorre sobre teenologia, no um economista. A conseiéncia ingénua pode perguntar: por que um fildsofo resolveu estudar tao extensamente esse assunto? Vieira Pinto poderia responder que o processo de hominizagao apresenta dois aspectos fundamentais: a aquisig&o, pela nossa espécie, da capacidade de projetar ¢ a conformagao de wim ser social, condig&o necesséria para que se possa produzir o que foi projetado. Considerada como “ineméria social do fazer novo”, a técnica é inerente a esse proceso, pois o desenvolvimento do homem, o animal que cria e produz, exige um manuseio cada vez mais elaborado do mundo, Vieira Pinto referenda a importincia, potencialmente libertadora, da téenica. Recusa as concepgdes que fazem dela um perigo em si, pois ao fim e ao cabo quem comanda 0 processo — para o bem ou para ‘© mal ~ sempre é 0 homem. Mas recusa fetiches. Denuncia, por exemplo, a expressio “era teenoldgica”, comumente aplicada ao tempo atual, pois o homem niio seria humano se nao vivesse desde sempre nessa suposta era, A idéia de que ela foi inaugurada recentemente é apenas uyn artificio ideolégico por meio do qual os Para a mentalidade ing@nua a naciio é coisa que ep ate “jaen am iste enquanto coisa. Est feita, sua realidade é completa, ainda que admitindo-se que sofra modifieagoes ao longo da hist a, («.) Ora, 0 que a consci neia critica desvenda 6 justan ente 0 oposto: é a ninha atividade que torna possivel a ia da nagio. A nagio niio existe como fato, mas como projeto, Nao éo que no presente a comunidade é mas 0 que pretende ser, entendendo-se a palavra “pretende? em sentido literal, como “pre-tender” = tender antec pado para um estado real (...) A comunidade constitui a nagio ao pretender ser, porque é assim que a constitui no projeto de onde deriva a atividade criadora, 0 trabalho, A na resulta, pois, de um projet da comunidade, posto em execucdo sob a forma de trabalho. Consciéneia e realidade nacional, 1900 Parte Trés ee CAPITULO TEMAS PROPOSTOS PELA CIBERNETICA pasmo manifestado pela consciéneia ingénua diante das obras colos- ( ) sais e das estupendas descobertas cientificas de nossos dias jai foi men- cionado como fonte de uma impli ita concepgio de mundo que, fun- dada agora nas eriagdes hi nas, repete o fendmeno ant em que os primeiros @ randes filsofos viam a origem do pensamento : intentando explicar a realidade, Se tal estado de espirito atual tivesse razio de um tio extraordinari inesperado ¢ incompreensivel salto no curso do nvolvimento da racic nalidade ¢ de seu maximo produto, a cién - cia, que caberia efetivamente dizer encontrar-nos diante de uma situa fio ju- is acontecida no passade inteiro da humanidade, 0 do reinicio da historia. O fundamento do reeomego, suposto um fato evidente para qualquer partie: a no siibito da pante das sociedades civilizadas de nossos dias, encontrar-s 0 sobre a natureza. poténcia humana, que abriu ao homem perspeetivas de ag cin de aquisigiio de cont tos ¢ de possivel modif agiio de sua propria este Jinica ¢ psiqn com que nunea teria alguém podido sonhar. O sinal desta sensacional reviravolta no curso da historia, que permite des- inal do novo w Masticamente ori cortinar desde ja 0 estado f i em qi humanidade ingressa, nos é dado pela constitu visiy ibili gio de recentes ¢ impr ciéncias, que po: Ses humanas medi regulacao e 0 controle di te maquinismos engendrados pelo homem, porém dotados de extraordinirios ¢ inimaginaveis poderes. Efetivamente, ao que agora se revela, no apenas sao capazes de regular © ditig a tradicional fabricagao dos bens de consumo, como passam a oferceer os modelos, ¢ h ra o domi- do » depois os meios mater realidade de individuo ¢ age nio do proprio homem te social. Qu se sabe que poderosos exércitos imperialistas planejam em gigantescos com tadores, obedes sudo aos teoremas dat teoria matemtica dos jogos. a estratégi mais eficiente para matar populagdes subdesenvalvidas, nao & 36 a equipar simbolica mas real da vida humana a uma carta de | Iho que nos enche de horror, enquanto prova de insensibilidade moral, Sobretude este sen= timento nos & infundido pelo orgulho dos estrategos do pais dominante em fa- ce das criagdes téeenit 15 que inventaram ¢ de que se ufanam, exatamente por se prestarem a um uso inumano, A conseineia entre os hi ens, que se julgaria tum ideal ético eapaz de mover o individuo as mais generosas & herdicas agie J para um reduzidissime mundo de afortunados pode- pas a ser interpretada como simples jogo, 0 “jogo da vide 0 que torna na tural que a maioria per rem ganhar. Fa teori ica da historia que se pode chamar de concepcae loté 1c intelig Munidos desse altruis te esquema do sistema de relagies entre os homens. os novos diriges 05, com a certeza 1es politicos dos eentros heg mn iar - a partir de um que hes garante a quinquilharia infalivel de que se utilizam, pretendem t mos da vida humana para os tempos proximos, renova segundo comed hist6ria do homem na Terra, com a certeza de ale nian ern breve para todos o prémio da reconquista da existéneia ed@niea. Tal a neep= ao, ao mesmo te Le in po pu que os livros sagrados ajudam a lar, a do Segundo Eden, com a vantagem de que en relagio a este nio se tra as iril de uma realidade hn imagi nario episdio das « que sera eriada pelo home sti n, vingando-se « dade pela inj s0- frida com a primeira expulsac Acreditam os estrategistas que preparam o futuro do mundo estarem reti rando da sua conseiéneia a culpa ¢ a natural apreensie que as decisées desse ificas eonstrutivas, ao tornd-las jam a pessoas de profiss 5 pau ifieas”. impessoais, uma vez que as entregam As maquinas processade de programas heuristics, Convém obse linkas deste’ var, desde as prime rainy pitulo, a propésito do exemplo escalhido, a que panto pode che da consei@ncia racional. levando-a a desfaze pustitutive de sua lo que sibilidade moral, com as duas esséncia © a apagar os tiltimos resquicios des nies desculpas, tipicamente ideoldgiens, dana reir. ap qque a guerra 6 um jogo, ¢ s6 agora o engenho humano conseguiu submeter ao caleulo matematico das probabilidades 0 choque das vontades em conflito im mente tomadas, mesmo no ato de jogar: a segunda, que as decisdes, imemori campo dos jogos. pela inteligéneia humana, podem hoje ser deixadas As maqu nas miraculos nente elaboradas para tal fim, Deste modo, nfo so as armas stroem a mais fraca, mas o cérebro eletronieo. a a entregue 0 desti quem fi » dos povos e das massas pobres, Interpondo entre ele eo dominado a maquina fria ¢ infalivel, o dominador toma o banho lustral i que he devolve a conscié wilada. O suposto reinicio da historia & mar- cado por conquistas que maravilham os homens ¢ concretamente undo podem ar de encher de esperangas os componentes das massas trabalhadoras. ao se saberem livres da situagao de humilhante dey neia da vontade de un se- methante. nem sempre benevolente. colocado em posigaio de comando, mas fe- lizmente entregnes a maquinismos perfeitos, que. conforme Ihes explican os professores de relagdes hnmanas, eneaminha » a sociedade para a solugio dos inais pungentes problemas, Aos eressados convém fiearem sabendo que fir < nalmente chegou a hora do término da funesta situagio habitnalmente expres sa no mote corrente “a exploracde do homem pelo home”, substituide agora ul, infalivel. pela impare ional e esperangosa divisa: “a submissio do ho- mem As miquinas caleuladoras”, hamadas pelos idelogos dos centros metro- politanos “méquinas de gove 1. A crenga na renovagao da historia pelo surgimento da cibernética e das maquinas processadoras de atividades intelectuais Até aqui os homens criaram miaquinas para as colocarem a seu servig cilitando a produgio econdmiea, desde a alavanca simples « nicos, quimicos ou eléiricos de uso generalizade na 4 yea moderna, Mas nio é 0 curse dese assombroso progresso que la. ae mo- do de ver da consei@ncia ingént adaem nova fase da aent storia e sim a | a at receni-nats- Hau ta proposicdo, O discernimento entre os dois, i mudanga de qualidade oeorrida atualmente 1 » do conheeimento 1m plano superior inédito, cuja exteriorizacio se enu cida ciéneia eibernética ¢ nos engenhos que permite constru i parte de aspectos constituira o assunto principal do presente capitulo. ‘Todas as produ- Ges cientifieas do passade stavam acidental AL USOS, nefastos, da pélvora As méquinas voadoras, foram interpretadas como tecnolo ~ gias positivas para a espécie humana, a qual se enriquecia sempre, ainda quando tais bens eram malevolamente desyiados de suas finalidades ti © empre; dos para causar o mal. Em nossos dias. porém. em face das eriagdes cis cas eda an ‘t, vaticinada por simplorios videntes, da robotizagio da huma- nidade, 0 que se questions natureza dos produtos da inteligéncia, a relagio etre eles © as finalidades 0 destino do homem, Suspeita-se © teme-se que o homem esteja comegando a engendri F monstros que o iio devor ow aniqui- larao suas mais caras realizac os valores imemoriais as respeitiiveis esiru - turas sociais. A raziio de to des wio social encontra- astroso fendmeno de cont se na irrefletida (0 da crenca de estarmos vivendo, pela pri wweitag neira vex desenvolvimento da espécie. a época em que teve lugar a seguinte apocaliptica inversiio: a maquina deixou de obedecer incondicionalmente ao homem para se tornar a dominadora do he mn. Mesmo o mais comum e despreparado tran- seunite comeca a perceber « leo mudou nas condigées da existéncia e que a mada Segunda Revolugao Industri: expresso ingénua explicavel pela su- posigaio de ter havido a zuma Primeira. coloca-o em situagio inquietante, « ado por um horizonte onde nao descobre aint que a. Por to- apo se anunei da parte, nos livros que divu Mme Comentam a nova ciéneia, a cibernética, discutem-se questies deste quilate: “esté o homem sendo superado pela maqui- na?”, “poderd o homen continuar a viver sem adotar un nove regime biolbgi- 60, a parabiose homem-maquina?”, “qual o destino do ser humano obrigado a pdqquinas qui competir, munide cul ue volun 1CeSL cons les. que 1 nenite estender, coma adem, 1 pensam, apre jam por si s6s utes iores?”, * vel outras maquinas semell sup lade que v homem se t now um ser obsoleto?”, ete. So algumas vezes raros autores sérios os que fa zou indagagdes assim, cientistas ¢ pensadores. e nao exclusivamente irrequie= de passando, principalmente pelas noticias veiculadas por los reporte dlico naturalmente toma eonhe es. O pt mento de que ale extraordinario se est estes tiltinios ¢ imperitos “cana is”. Temos de dar a devida atengio ao novo es~ tado de espirito, que se prende as grandes possibilidades, postas agora ao al- Jo humana, pelas miquinas e procedimentos eibernét » ire- amentos € mos, esti claro. proceder a critiea da recente ciéneia, de seus fu mnétodos, por de is de um »mplexos para caberem er und s quauntas p ensaio filosdtieo s 1 carditer especializado, Desejamos simplesmente assinalar. sempre dentro d ema, 0 papel q| avcibernética desempenha nos varios ramos ainda mal entrelagados ¢ também imperfeitamente delimitados em que se subdivide. @ saber, a automacio. a técnica dos computadores, a teoria da in formag 0. a teoria dos sistemas, a da regula a teoria matemati dos j 8 toria dos algoritmos, entre outros, Sendo a tecnologia paradigmatica de nossa Gpoca, pela riqueza e novidade das perspectivas tedricas ¢ caminhos priticos que inaugutou, presta-se a fundamentar a pretensio, declarada por diversos autores. sObrios ou visiondrios. de remodelar a historia, Sera este exatamente 0 ipal tema que nos importa discutir ¢ ponderar. Os capitulos iniciais do presente ensaio permitiram-nos, segundo acredita- mos. tratar em carater, ilosifivo alg s problemas gerais relatives & compreen- . la téenica e da te » dla macy ologia. Av comecarmos um nova pa do livro, reencetamos outra etapa, partindo ~ munidos dos eselarecinentos teb- ricos necessrios — da téenica ¢ da tecnologia nas suas realizagées concn amuatis, evidentemente histéricas tanto quanto as precedentes, mas represen do aquilo que temos diante dos olhos ¢ de que devemos nos ecupar para a elas aplicar as reflexdes, em certa medida abstratas, anteriormente efetuadas. Supondo no leitor um conhecimento, embora perfunetério, do estado amal da realidade representada pelo emprego em larga escala da automacie na produ- do industrial, dos prinefpios da eibernética coneretizados em inst mentos de uso te © principalmente das questdes suscitadas pela teoria da informa comunic: ar fio, assim como do pensamento inyentivo de que tanto se ouve tomamos por base esse conhecimento, mesmo lacunar ¢ até vago, para discutir 6s pontos para nds imteressantes pela sisnifieagio filosdfica que 1m ow podem a ter. Ne nar na so objetivo permanece sempre o mesmo: cont tual controvérsia 0 que nos parece ser a fecunda intervencaio do pensi- mento er énuas, tio », separando-o da pululante proliferagio de idéias veis de surgir nesse terreno e de serem, pelo sabor da noyvidade e auséneia de ri- gorosos critérios no leitor inadvertido, aceitas como metal de boa lei 2. O cardter hist6rico e dialético da cibernética Mesmo aludinde apenas a pontos que néo podem ser aprofundados segun- do mereceriam, teremos ocasiao, mediante um tratamento filo: geral, que nao deve por isso ser confundide com superficial, de mostrar os convenientes limites do estilo de pensar cil niético, as rardes que justific na constituigio em eiéncia autonome pesquisas e resultados pritivos das reflexdes sobre es- se grupo, agora melhor definido, de problemas, « as ingenuidades numerosas e Apr dite ayes que ja 0 reels 101 ow 0 ame 1 ¢ mais ampla observagio cu a fazer, sufici ie abordagem do tema, restr ente por si para nos ofere me-se naquela que aponta o cariter relative dos apressados julgamentos pro- feridos pelos comentadores da nova ciéneia, muitos deles freqiientemente os proprios iniciadores desse nentos ramo do saber, Tais july rem-se A supos- ta natureza inédita da transforma cao cultural causada pela cibernética e suas icias. com a cri conseqii maquinismos até hoje desconhecides. Embora 4 nds, contempordneos do fato, pareca inpressionante ¢ até alarmante 0 surto de conhecimentos ¢ de nalizagées praiticas a que assistimos, ninguém tem o di reito de dis ina” ocorre que pela primeira ver tal situagao de “virada de pai mos que o estado de espirito de assombro. inquietude ¢ in- dagacdo que se apossa de muitos de n6s constitui readio natural ¢ reiterada, andes descobertas cientifi cas, conduzindo a profundas ao e de convivio social, deram aos homens da Ges de produ poca a sensaga » de estar vivendo uma transformacao dos tempos. Sem dtivida, a hist a foi um proceso retilineo e r anu jansoso. Somente 6 pensamen- ta acredita alética, a © meew nessa imagem, Na perspectiva te um curso flexuoso, onde se assinalan histéria apresenta evidente pontos nodais, fases de nteleetuais ¢ tenicas, resultan- spe ial brilho nas realizag ua tes do actimulo subtes isigdes, criticas, en- neo de pequenas ¢ sucessivas aq saios ¢ balbuceios q clodir sinam por 1 vigorosas criagées, distal ria das a5 vezes tanto de outro momento izualmente luminoso, que ao leigo parece haver total descontinuidade ¢ afloramento de idéias, producao de bens e inven- p nihilo. ( ‘0 estd serem os momentos desta es~ Gio de instrumentos ténicos ¢ p quantitativa feita a ie saltos 1 isito da obscura acumulagae representam de 3 sombra da forma dominante, a tinica visivel, a dela e sua substituigdo pelos aspectos qualitativos nascentes, apa verdade efeito do continuo 1 inexpliedveis, in ovimento do pensamento no trabalho de exprimi tamente a realidade. Toda origem de cada vez mais perle um produto cultural. como a ciéneia ou a técnica, revela-se ao mesmo tempo relativa ¢ absoluta. Relativa, porque depende de todas as realizagbes preceden- tes, cada uma das quais foi em seu tempo uma origens ¢ absolut porque ea da qual diferencia-ne das anteriores por tragos distintivos ¢ irrepetiveis, a saber ‘© modo como aproveita 0 cardter relative que possti, os determinantes sobre os quais se funda nenio a A centiiria que se chamou de Rena cultura ocidental curepé ieve esse efeito, conforme demonsira a propria palavra, Julgava-se que, com a ascensio da burguesia come Juzir, as ial, os inauditos modos mecanicos de pr descobertas de inviolados continentes. a técnica da nave io _de alto-mar, 0 alargamento do mundo, as eriacdes da arte, a difusio da palavra pela impr sa, o surgimento di mionarquias nacionais, a exploragdi das coldnias ¢ tantos outros fatos antes deseonhecidos na vida dos povos europeus. a historia volta- va uma pagina ja lida e reiniciava um periodo imprevisto, A humanidade oei- dental culia acreditava estar nascendo novamente. Tomaya-se de al otimis ~ ino por sair das “irevas da dade Média” ¢ ingtessar uo esperancoso “reino da razao”. \ dilerer 1 entre aquele renascimento © o atual consiste em que ago os promotores da transmudacdo historiea nie esizio mais seguros de haver aherto para o-homem as portas de um future melhor, antes mostram-se quase ul uns in iversalmente apreensives, © a amente desolados. com as perspee= livas que o atual “renaseimento” permite divisar, Os fatos que poem em divvi- [at | da plas ine 1 oportunidade do termo “renascimento” explieam os temores ¢ as miilti- bes ingénuas. do género das exemplifieadas, cifran te entre 0 esp UNTOSO. prog sso das ci com os poderosos instrumentos as condigies postos ao alcance do homem para at soviais em que decor dia Os autores que iio conhecen a teoria sociolési let di quan «a das fases atravessadas pelo movimento da histéria quedam-se perplexos fis” absirates, irreais, te do “desajuste”, para o qual sé apontam “tem y nfo puramente verbais, numa patente demonstragio de pensan desprepa do. Invertem a funcao do processo hist + produ ex 1. Fim vez. de ser entendido como o natural agente das transforma- Ps em curso ou ja se anunciando em sua ocorré neia proxima inevitd tem 0s pensadores reaciondirios em erer que 0 processo deve desempenhar o pa- pel de forga conservadora, de an a a estahilizagio das relacdes sociais ‘ora pa Vigentes, Propéem, assim, a extrayagante idéia de que os grandes progressos téenieos da época atual deveriam concorrer para fortalecer o regi me que os pos- sibilitou © os esta executando, em vez de representarem o impulso que engen drara nova etapa do proceso da Ihando suas influ novado~ iro, eS} balb itifica em projetos de modif fas no pen doras, levando-as a ter uma perc de seu estado que nelas 0 da realidade. Os idedlogos dos centros imperiais pretendem realizar esta impossivel faganha: modificar a face do mundo, pela introdugao de instrument de produgio ja- mais vistos. © simultaneamente conservar intacta ¢ inyaridvel a consciéneia social correspondente a fase anterior, Sio principalmente os socidlogos de profissao que se atormentam com a constatacao do malogr + previsies. zicas ou ao moralis- E, como sempre, recorrem its explicagdes psicologistas mi mo de véo rasteiro para tornarem compreensivel o comportamento das gr multiddes de operirios & povos explorados, O estado de crdnica ¢ imemorial ig- uma forma de maldade congénita. Em vex de se mostra- norfineia equivale rem agradecidos as sociedades metropolitanas que criam tamanhos progressos instrumentais, facilitando ¢ racionalizando o trabalho, as massas trabalhado ras por toda parte, especialmente nos paises subdesenyolvidos, se agitam em ininteligiveis provas de obtusidade ¢ ingratidao. Quando os atuais tedricos da nétiea indica as inevitiveis ressondincias sociais dos progressos (enicos, delineiam uma tese m prineipio correta, porém logo a seguir destizurada aproveitavel porque, nio te to dialétieo da histo- Jo por base 0 conkeci ria, leva lelismo meeanicista ou ainda behaviorista entre as supor um pi aquisicdes da ciéneia, suas conseqiiéneias priticas ¢ as transformagoes politi- = determi das pela nova consciéneia social, Aereditando na relagiio simples- Alea mente linear entre 6 curso dos fatos € o do pensamento, julgam que a evolugio da consciéneia social deve deslizar sem rupturas eatastr pois Ihe parece radimissivel que um sistema capaz de empreender tao portentosas criagdes tec- ‘as mostre-se impotente para assegurar a tranqiiilidade social exigida para o prosseguimento do acelerado progresso téenico. Ao observarem os fatos ocor ndo de modo exatamente oposto ao que devia ser, segundo seus ingénuos ndsticos, em vez de revisarem a teoria até entio utilizada, caem no deses- , dan- » das imprecagies vis € passam a amaldigoar as proprias realizagie do-lhes 0 nome de “monstros”, de “inimigos do homem”, de “robs que aca- bs nil outras infa igiosas ¢ os ideais morais”, e rio por destruir a humanidade, as erengas reli lidades equivalentes, ‘Tal crise de cor preensio tem lugar por- ‘io a cibe que 0s autores que esconjtiram a tecnologia em geral, ¢ com predile ~ Lica, nao percebem que se muclasse ys fia - no Angulo de julgamento os mes tribues tos passariam a ter significaciio oposta A que thes A sociedade capitalista que desencadeou a chamada Pri ‘a Revoluga ne Industrial, ¢ hoje em dia, em grande parte, a supost le Jes sociais que nao quer modifi Segunda, vé eom av mi- xima inquietagao a dispa ntre os rect os de agio que tem nas mi ps ¢ ar em consonincia com a transforma- cio de tais recursos, Assiste-se 4 Imente a grotesea parddia de 0 nove Re- nascimento supor que o antigo Renascimento tivesse sido desencadeado por ho- mens de formagio ¢ interesses feudais, que os conciliam pacificamente, sem lu- tas das cama as burguesas, sem revoltas camponesas em quase toda a Europa, com o surto das relagées de produgio mereantis. O descompasso nio paralisa materialir Lie © progresso efetive, que. sendo a expansio irreprimivel da ra- iio, 01 sej a realidade natural, faz-se de um modo da acio do homem sobri AI preensio eritiea das alteragdes em n as. em vex de ser acompanhado da correspondente com- reha, vé se dificultado por ociosas ¢ its vezes até cOmieas ind: s, reveladoras do despreparo da conseiéne espe- cialmente de cientistas ¢ fil6sofos, para perceber os movimentos de que parti- motores. Deixam assini os sabios dle cipam ¢ de que sie até pessoalmente | visio puntiforme de contribuir com 0 que poderia ser um precioso quinhao de impulso da inteligéneia para o desenvolvimento harmonioso do processo. Nao dispomos de espago para entrar em minticias a este respeito, mas nao nos po- demos recusar respigar alguns t6picos demonstrativos da veracidade do qua- dro esbocado., saa dizer & que as grandes realizagies téenicas do nosso tem- un pensar que es umivelmente inaugurando a ha nova amos fase do processo do desenvolvimento, sem contudo ser lieito « er que s6 por is~ [13 | acdio” historiea, fend so estejamos passando de uma a outra “form neno rare & tujos funda is ¢ econdmicos sio outros. Acentuemos t nenitos soci ma expres= i I nas estruturas de sii “uma nova fase”. que de modo algum se deve confundir com uma origin: formagio historiea hem mesmo com uma variagio essenci aracteristicas da for jos com o “reinicio da relac acto vigente, ¢ muito historia”. A existéneia de fases no curso de um processo histérice nao The confe- re carater nem linear nem ciclico, Tal fe Meno ja OCOrren repetic passado © documenta simplesmente a natureza dos saltos historicos normais » do conheci a no proceso de acumulag nento © conseqiientes repercussdes 1 conyiyéneia entre os homens. Em face de um salto desta spécie, cabe indagar ular. Ao contr quais os aspectos definidores do caso part io do que julga o pensar ingénuo embasbacado, nio se trat de um recomego metafisicamente absolute © sim da continuagio, sob novas formas qualitativas, do constante avanco da racionalidade humana, sempre definido pelas criagdes ideais ¢ ma- teriais, Do mesmo modo que todas as situagées agudas similares do pasado esta tem no ur » antecedente da historia as razbes que a explicam, em parti- cular a aquisigio dos conhecimentos cientifieos. Sendo uma situagio real, é dialética e portanto apresenia a unidade de aspectos opostos a que linhas atras aludimos: de um lado, mostra-se efetivamente or nal. pelas cria © que condicionam a modificagao de algumas relagdes tr viven entre os homens; mas, por outro lado, nao é orig nal, pois apenas de- senvolve os efeitos dos determi: tes pertencentes fase anterior, A lei dialé- tica da negacio da negagao preside a essas mudancas e, quando devidamente entendida, evita-nos o deslize em diversas ¢ flagrantes ingenuidades, de outro modo inevitaveis, O ronhecimento da originalidade da situacao atual do pro- cessio de ¢ 0 cientifica, com a constituigao da cibernética, trazendo a meca- hizacio automatica da producio de bens mate iis ¢ de produtos ideais. por exemplo os resultados do eileulo, no fiea em nada diminufdo com o desmas - caramento das ingenuidades comumente associadas a esse momento revelade \ compreensiio da duplicidade de aspectos apresentada por toda fase on pe- riodo hist ‘0 relativamente distinto obriga-nos a acentuar a simultaneidade rios ¢ a procurar a raziio total que explica 0 salto definidor da épo- nergente tanto naquilo que € n ‘0, aparece e passa a ser adotado, quanto nos aspectos velhos da realidade que desaparecem, sendo abandonados. F, pre- ciso visualizar em pensamento concomitantemente os dois movimentos confli- tantes. nao como se assistisse fio unife ne, tos a uma interpret precisa e cinzenta, mas ao choque © luta de opostes, para adquitir a compreensio dos is motivos que explicam 6 aparecimento a superficie visivel « Je do novo

You might also like