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COMBATES AEREOS Nas selvas da Malaisia, os britanicos descobrem meios politicos, sociais e militares para isolar uma guerrilha. A presenga britdnica na peninsula Malaia foi contestada no final da década de 20, quando um pequeno grupo de comunistas tentou derrubar o governo colonial e pro- clamar a repiblica. Em 1941, os japone ses ocuparam a peninsula e a iha de Cin- gapura; os comunistas organizaram a re- sisténcia ao invasor recebendo apoio bri- t€nico para a campanha de guerrilhas. Apés a guerra, porém, esses aliados con- junturais tornaram a enfrentar-se na luta pela hegemonia politica numa area maior que a Gra-Bretanha, Em 1946, os britdnicos estabeleceram a Unido da Malaisia, que compreendia nov Estados malaios e as colOnias de Penang ¢ Malaca. A unido foi desfeita em 1948, dando lugar & Federagao da Malaisia. No mesmo ano, 0 governo colonial proibiu as atividades dos sindicatos locais, de inspi ragdo comunista dades, os comunis Malaisia (de origem chinesa, em sua m: ria) retornaram as guerrilhas. Foi essa aor! gem do estado de emergéncia na Malai due se estendeu de 1948 a 1960. Muitos analistas véem nesses doze anos de lutas o melhor exemplo de uma vitorio- sa campanha antiinsurrecional. Os comu nistas tinham a experiéncia das guerrilhas antijaponesas, mas dessa vez, no conse- guiram estabelecer areas liberadas, limitan- do-se a ataques terroristas contra posigdes governamentais. A partir de 1952, a acele- agdo do processo de independéncia da Ma- laisia isolou-os politicamente; no mesmo ano, o remanejamento das populagdes ru- rais de origem chinesa para as chamadas ‘aldeias estratégicas” eliminou a principal base de sustentacdo da guerrilha. Em sua fase mais aguda, o conflito en- volveu cerca de 40 mil militares (dos quais 519 morreram), 61 mil policiais (1.346 mor- :08) e 250 mill homens da Guarda Nacio- nal, mobilizados para enfrentar algumas dezenas de milhares de combatentes do Exército de Libertagdo dos Povos Malaios (ELPM). No inal, os rebeldes estavam re- duzidos a quinhentos homens doentes, en- curralados junto a fronteira da Tailandia No inicio da emergéncia na Malaisia, a RAF dispunha de oito esquadrilhas, das nos aerddromos de Changi, Seletar ¢ ‘Tengah, na ilha de Cingapura, ¢ de Kuala Lumpur, capital da Malaisia. Os primeiros ataques comunistas eram tAo dispersos que ‘do havia como estabelecer um plano an- tiinsurrecional que usasse com eficiéncia os Bristol Beaufighter Mk 10 os Spitfire Mk 18 das 45.* ¢ 60." esquadrilhas. Contudo, tirando partido da experiéncia adquirida no final da guerra, os Mosquito PR. Mk 34 de reconhecimento aéreo comegaram a ci letar informagdes sobre os focos de terro Tistas, e aos poucos emergiu um padrao ta tico. Por volta de 1949, jé estavam defini das as linhas mestras da Operagao Firedog principal contribuigdo da RAF (Royal Air Force, a Fora Aérea britinica), a campa- nha na Malaisia. Distantes de suas bases e operando sob més condicdes atmosféricas, os De Havilland Hornet receberam como ‘missdo principal 0 combate aos grupos guerrilheiros que se escondiam nas densas florestas malaisias. O transporte de tropas e suprimentos da Gré-Bretanha até a Malaisia, 10.000 km distante, era feito pelas grandes ‘aeronaves Avro York. Transporte e bombardeio Devido & mata fechada ¢ & dificuldade de apoio as tropas de terra, a missdo bésica da Forca Aétea consistia no transporte de policiais e militares para o interior da Ma- laisia. Os Dakota da 48.*, 52.* ¢ 110.* ¢s- quadrilhas também se encarregavam de manté-los com suprimentos, munigdes ¢ medicamentos, langados de péra-quedas. Outras aeronaves, porém, nao apresenta- vam desempenho eficaz. Em 1948/49, os Beaufighter, Mosquito e Spitfire tinham de trés a quatro anos de servico; apesar das excelentes instalagdes de apoio construidas ‘em Cingapura, esses ‘‘veteranos”” da Se- ‘gunda Guerra nem sempre se encontravam ‘em condigdes de operar. Além disso, os ataques a baixa altitude em condigdes at- ‘mosféricas de enorme turbuléncia obriga- ram a substituigao dos Beaufighter por um bombardeiro mais resistente, o Brigand, que, em 1949, comegou a reequipar a 45.* Esquadritha. No ano seguinte, os Brigand a 84.* Esquadrilha foram transferidos do ‘Oriente Médio para a base aérea de Ten- ah, transformada em centro de operagdes dessas aeronaves na Malaisia. Ambiente indspito ‘Considerando a total auséncia de oposicao no ar, 0s pilotos dos Brigand podiam concentrar-se em usar bombas, foguetes ¢ ‘metralhadoras em ataques a alvos terres- tres, Nas raras vezes em que encontravam fogo antiaéreo preciso, a estrutura refor- sada da aeronave resistia tao bem aos da- nos de combate quanto as turbuléncias de voo. ‘A medida que se multiplicavam as agBes terroristas, foi possivel definir melhor o pa- dro dos ataques. Cada vez mais numero- 508, 08 grupos guerrilheiros passaram a to- ‘mat vilas e aldeias, das quais obtinham provisdes, ¢ que Ihes serviam como bases. Estas poderiam ser desbaratadas somente se as forgas coloniais se deslocassem com rapider e atacassem de surpresa. Mas isso nao era facil: a movimentacao furtiva dos uerrlheiros entre suas bases constituia um problema para sua localizacdo ¢ posterior ataque. Tais dificuldades obrigaram & am- pliagio dos efetivos da RAF, que em 1950 tinha na regido 160 avides em servigo e 36 na reserva, ‘Outta vantagem temporaria dos rebeldes € que a crise eclodiu num periodo particu- larmente dificil para a Gra-Bretanha, cuja politica de austeridade econémico-militar fora posta a prova pelo conflito no recém- criado Estado de Israel, pela ponte aérea de Berlim Ocidental (sob bloqueio comu- nista) e pela contribuigdo militar as forgas ddas Nagdes Unidas na Coréia. Nessa con- juntura, vinte Short Sunderland foram ‘agregados as esquadrilhas 88." ¢ 205.*, ba- seadas em Seletar e encarregadas de vigiar deslocamentos guerrilheiros no litoral ma- Iaio e de empreender rapidas missbes de pa- trulha costeira no Japao. A 33.* Esquadri- Tha (cagas) transferiu seus Tempest Mk 2 dda Alemanha para Changi em 1949 e, em Uma das caracteristicas do Brigand era o ataque de alte precisao. Esse potencial, entretanto, ndo péde ser ‘adequadamente aproveitado na campanka da Malatsia. Coberta por florestas, a Malaisia foi alco de uma tuta antiguerritha cldssiea: combates travados em terra, com apoio da Forea Aérea. As bases concentravam-se ao sul (em Cingapura) ea oeste (em Kuala Lumpur e Butterworth). setembro desse ano, para Kuala Lumpur ¢ Butterworth. Utilizado para ataque ao solo, 0 Tem: pest dava pouca visibilidade inferior a0 Toto, ¢ seu motor mostrava-se vulneravel a0 fogo antiaéreo. Por esse motivo, foi substituido no inicio de 1951 pelo De Ha- villand Hornet, equipado com dois moto- res Merlin, Iss0 facilitou 0s trabalhos de manutenco, pois os Mosquito e Spitfire também possuiam motores Merlin, Rolls- Royce. © Vampire Mk 5, substituto dos Spit re Mk 18 da 60.* Esquadrilha de Tengah em dezembro de 1950, foi o primeiro caga- bombardeiro a jato utilizado no conffito. ‘Acespléndida visto que proporcionava a0s pilotos superava amplamente as limitagdes de sua dnica turbina. © Vampire tornou- Os Spitfire da 81.* Esquadritha da RAF empreenderam o levantamento Jotogréfico da peninsula Malaia. Essa ‘missdo revelou-se vital para a campanha, pois 0 mapeamento existente era limitado e impreciso. Em suas iltimas missbes, 0 Spitfire PR. Mk 19 otografou vastas dreas da Selva @ procura de focos guerrlheiros. Sikorsky S-51 Dragonfly utilizado no transporte de soldados feridos. Os helicépteros aumentaram extraordinariamente a mobilidade das orcas de seguranca. se um favorito do pessoal da 60.* e o mes- ‘mo aconteceu com os Venom, enviados a Helicépteros em agao Q término da Guerra da Coréia, em 1953, favoreceu a ofensiva das tropas de Sir Gi rald Templer, langada no ano anterior. Evidenciou-se, a partir dai, um tratamen- to original e extremamente profissional do terrorismo, que inspiraria os franceses na Argélia. Uma década depois, os america- nos preferiram confiar na logistica sofisti- cada — com resultados desastrosos. ‘Naquele periodo, a RAF desativava os vides que usara na Segunda Guerra Mun- dial. Os Dakota da 48.", 52.* ¢ 110." es- ‘quadrilhas foram quase todos substituidos pelos Valetta C. Mk 1; os primeiros heli- ‘cépteros (Dragonfly) de apoio terrestre da 194.* Esquadritha chegaram em fevereiro de 1953; 05 Meteor Mk 10 de reconheci Tha em dezembro, ¢ os primeiros transpor- tes leves STOL — 0 Pioneer CC. Mk 1 da Capazes de voar em formacdo cerrada de fazer bombardeio pesado sobre vastas regides, os Lincoln foram as ‘mais eficientes aeronaves da guerra. Com seu grande poder de fogo, destrogaram a proterdo natural dos guerritheiros: a vegetagao. Esquadritha — tiveram desempenho nal nas pistas da selva a partir de sgiu 0 auge de poderio na Malaisia, reunin- do catorze esquadrilhas e 242 avides na ati- va (Hornet, Valetta, Vampire, Spitfire, Mosquito, Meteor, Sunderland, Auster, Dragonfly, Whirlwind Pioneer) ¢ outros 54 na reserva. Coube a 81.* Esquadrilha, de reconhecimento aéreo, realizar as ulti- ‘mas missOes do veterano Spitfire (1.° de abril de 1955) e do Mosquito (15 de dezem- bro de 1955). © aumento gradual no mimero de heli- cépteros melhorou muito o apoio aéreo, ‘gragas ao emprego de pistas improvisadas na selva. Pequenas unidades das forgas de seguranga passaram a ser transportadas poucas horas aps a identificacao de gru- pos guerrilheiros (0 que antes demandava dias, devido & distancia entre as pistas em ‘que podiam pousar os Dakota e Valetta). Tratado do Sudeste Asiatico Em setembro de 1954, reuniram-se em Ma- nila (Filipinas) os paises membros do Tra- tado de Defesa do Sudeste Asidtico: Aus- trélia, Nova Zelandia, Franca, Paquistao, Filipinas, Tailandia, Gra-Bretanha e Esta- COMBATES AEREOS De Havilland Hornet F3 com bombas sob as asas. Nas condigées da campanha na Malaisia, era dificil bombardear com preciséo as bases da guerritha. As forcas terrestres instalaram varias ‘guarnigdes no interior. Para abastecé-las, empregou-se 0 resistente Pioneer, que, além de levar até quatro pessoas, era muito eficiente no pouso decolagem na selva. dos Unidos. Nessa ocasido, procurou-se definir a atitude dos signatarios em rela- (edo a agressdes armadas, embora 0 artigo IV (depois parcial e unilateralmente rejei tado) mencionasse de modo explicito “agresso comunista””. Apesar de meses de pressdo americana, a Gra-Bretanha resis tiu @ assinatura do tratado até se tornar ir reversivel a derrota francesa na Indochina. Um dos resultados da assinatura do tra- tado foi o envolvimento formal da Nova De Havilland Mosquito pouco antes de partir em uma de suas tltimas misses de reconhecimento sobre as selvas da Malaisia, em dezembro de 1955. Essa eronave foi substitulda pelo Gloster Meteor PRIO. Zelandia e da Australia na luta antiinsur- recional na Malaisia. Na verdade, as esqua- drilhas 1.* ¢ 38." do 90.° Regimento Aé- reo da RAAF (Royal Australian Air For- ce, Forca Aérea australiana), com avides Ayro Lincoln e Dakota, respectivamente, ‘acompanhavam a RAF na Malaisia desde 1980. As esquadrilhas 14.* e 41.* da RNZAF (Royal New Zealand Air Foret Fora Aérea neozelandesa), com avides Vampire, Venom e Bristol 170, comegaram @ operar em 1955 a partir de Cingapura. Trés anos depois, o governo australian decidiu reformar e ampliar a base aérea de Butterworth (em frente a ilha de Penang, no litoral oeste da Malaisia), para seus vides Sabre e Canberra. Ao mesmo tem- po, a MAF (Malayan Air Force, Forga A&- Destinado a defesa do litoral, 0 Sunderland GRS mostrou-se um aviao de ataque eficaz. Resistente, com boa ‘autonomia de voo e considerdvel carga de bombas, participou de muitas ofensivas no inicio do conflito. rea mala(sia), cujas atividades até entdo se limitavam ao desempenho de alguns pilo- tos que voavam como alas, passou a ope- rar 08 avides de transporte Twin Pioneer em apoio as forgas de seguranca. Esse acimulo ininterrupto de efetivos e equipamentos aéreos na Malaisia, no final dos anos 50, nao se destinava apenas a dar fim ao estado de emergéncia, mas a esta- belecer, como parte do Tratado de Mani- Ja, seguranca militar duradoura no Sudes- te’Asitico. Na verdade, a Malaisia, Esta- do independente da Comunidade Britani- ca, ndo era signataria do tratado, enquan- to Cingapura ndo passava, na época, de uma colénia da Grd-Bretanha. A medida que a natureza dos compro- missos da Grd-Bretanha na defesa de ter- ritérios ultramarinos tornava-se clara, 0 principio de reforgo desses locais (re-force detachments) foi adotado como parte i tegrante do treinamento das esquadrilhas da RAF. A nova atitude evidenciou-se nas freqitentes missdes de unidades baseadas nas ilhas Briténicas a outras regides, em particular a viagem dos Canberra da 9." Esquadrilha (bombardeiros) a Butter- worth, entre margo e junho de 1956 Em’1958, porém, com a MAF, a RAAF e a RNZAF assumindo gradualmente maior parcela das operagdes aéreas e uma reducdo marcante nas atividades dos guer- rilheiros, os efetivos da RAF na Malaisia comegaram a declinar. Nesse ano, a RAF ‘mantinha 178 avides na ativa e 42 na re- serva. Em 1960, ao término da campanha, esses niimeros eram de, respectivamente, 134 e trinta aparelhos. tiltimo levantamento mostrou um efe- tivo de apenas oito esquadrilhas: a 48. com avides de transporte Handley Page Hastings; a 52.*, com avides Valetta; a 60.", com os Meteor NF, Mk 14; a 81.", com 0s Canberra PR. Mk 7; a 110.*, com (0 helicépteros Whirlwind; a 205.*, com os hidroavides Sunderland; a 209.*, com os O Venom FB4 néo fez boa ‘campanha na Malaisia. Frégit e complexo, possuia pequena carga bélica e limitada ‘autonomia de vbo. 0 Canberra revelou-se um mau substituto para o Lincoln. Levava ‘apenas metade da carga de bombas, linha velocidade de cruzeiro muito elevada e era dificil de pitotar nas condiedes atmosféricas locais. Twin Pioneer; e uma esquadrilha do AAC (Army Air Corps, Destacamento Aéreo do Exército), com os Auster. Nenhuma esqua~ dritha de cacas de ataque a forgas de terra esteve permanentemente baseada na Ma~ laisia. Ocstado de emergéncia terminou de ma: neira bem-sucedida gragas ao uso inteligen- te das forcas de terra e ar (por menor que fosse o envolvimento destas tltimas) numa escala limitada em funedo de compromis- s0s politicos espalhados por todo o mundo. Contudo, foi exatamente a natureza limi tada do uso efetivo de avides no apoio as forcas de terra que evitou a implantacao de grandes bases aéreas, que seriam bas- tante vulneraveis a ataques desfechados por guerrilheiros. A grande licdo deixada por essa crise — e ignorada desde ento — es- ta na brilhante estratégia empregada pelo general Templer: isolar politica e social- mente o inimigo e impedi-lo de qualquer maneira de concentrar grande niimero de efetivos, que poderiam atacar os principais centros urbanos e se constituir numa amea- a a longo prazo. COMBATES AEREOS Confronto anglo-indonésio O choque entre um nacionalismo emergente e 9s seculares interesses da Gra-Bretanha no Sudeste Asidtico. A luta na peninsula Malaia mal havia ces- sado quando a Gra-Bretanha se viu envol- vida em novo conflito na regi. Ao norte da ilha de Bornéu, em Brunei e Sarawak (respectivamente protetorado e coldnia bri- tAnicos), outro estado de emergéncia era decretado, em dezembro de 1962, para su- focar uma onda de rebelides que logo atin. siria dimensio internacional. ‘A topografia na peninsula Malaia e em Bornéu se assemelha, com as mesmas vas- tas florestas e montanhas de até 4.000 m de altitude. Quando distantes da planicie costeira, as comunicagdes dependiam dos rios ou de trilhas precarias, em meio a sel- va. O clima era quente e iimido, marcado por chuvas torrenciais, mas voava-se em boas condipdes atmosféricas entre amanha ea tarde. Raramente se langavam opera: 6es noturnas, pois tornava-se quase im. possivel a localizacio dos alvos. Mesmo & luz do dia, a navegacdo aérea enfrentava problemas, uma vez que os mapas dispo- niveis em 1962 eram poucos ¢ em escala muito reduzida para uso tético. As tripu- lagGes baseavam-se, portanto, no conheci- ‘mento visual da regio — ios, espinhacos e vales, No entanto, havia diferengas entre as campanhas na Malaisia e em Bornéu. De 1948 a 1960, as forcas britdnicas enfrenta- ram guerrilheiros sem grande apoio exter- no. Em contrapartida, ao sufocar as pri- meiras rebelides em Brunei e Sarawak, a Gra-Bretanha colocou-se em confronto com uma poténcia estrangeira, a Indoné- sia, que fazia fronteira com seus territorios coloniais. Ao sul da ilha de Bornéu situava- se 0 extenso territério indonésio de Kali- mantan. As colonias de Sarawak e Sabah (ou Bornéu do Norte) ficavam ao norte de Kalimantan; 0 protetorado britanico de Brunei constituia um enclave no litoral de Sarawak. As colOnias britanicas e 0 terri t6rio sob soberania indonésia ficavam se- parados por uma fronteira imprecisa com cerca de 1.600 km de extenstio em plena floresta tropical. No inicio da década de 60, 0 governo bri- tanico decidiu fundir num nico Estado seus territ6rios de Bornéu, a peninsula Ma- lia (Malaisia) e Cingapura. Toda essa re- sido passaria a chamar-se Malaisia, subdi- vidida em Oriental ¢ Ocidental. Mas Bru- nei ndo desejava partilhar a riqueza de seus campos petroliferos ¢ se recusou a fazer parte do novo Estado, Criangas observam um Bristol Belvedere pousar numa aldeia. A simpatia da populacao civil era condicdo bdsica para © controle de Bornéu, COMBATES AEREOS Hawker Hunter FGA.Mk 9, transportando doze foguetes e dois tanques alijaveis, patrulha o litoral ‘malatsio. Os Hunter desempenhavam imissdes de ataque e interceptacao. A reagdo da Indonésia ao plano britani- co foi imediata. Ela se opunha a formacao de nova ¢ poderosa entidade em sua pré: pria esfera de influéncia; além do mais, ha- vvia muito pretendia anexar os trés territ6- rios setentrionais de Bornéu assumir 0 controle total da ilha. Naquela época, Sarawak, Brunei e Sa- bah abrigavam grupos dissidentes, com tendéncias politicas préprias — anticolo- nialistas, antimalaisianas, pré-comunistas ¢ pré-Indonésia. Desse modo, nao foi di- ficil para os indonésios semear a rebeligo nessas areas e treinar guerrilheiros em Ka- limantan. Quando se proclamou a forma- 40 da nova Malaisia, em setembro de 1963, a Indonésia estava pronta para infil rar guerrilheiros através da fronteira apoié-los com seu Exército regular. Trés objetivos © que comeyara como rebelito interna ‘ransformou-se em confronto internacio- nal junto a uma fronteira comum. A Gri- Breianha tinha de manter a seguranga in- terna nos territérios que controlava, além de vigiar sua fronteira com Kalimantan, a fim de impedir as incursdes terrestres ¢ aé- reas, ¢ também a infiliragao no norte de Bornéu, por mar. Os britanicos precisavam, ainda, garan tira trangiilidade interna da Malaisia pe- insular — com a qual haviam firmado um tratado de defesa — e suprir as forgas de seguranea, para impedir que 0 confronto assumisse as proporgdes de uma guerra ge- neralizada. Ao mesmo tempo, deviam abster-se de medidas preventivas contra os indonésios, para ndo serem vistos como agressores pela opinido piblica mundial , em particular, pelo Terceiro Mundo. Para assegurar o respaldo da populasdo civil dos territérios britanicos em Bornéu a todos es- 0 ses objetivos, paralelamente as ages em terrae ar desiechou-se também uma cam- panha que seria conhecida como “corapSes mentes”. AFEAF (Far East Air Force, Forga Aé- rea do Extremo Oriente) tinha, portanto, muitos papéis a desempenhar, no abaste- cimento de grupos de transporte de curta média distancia e no estabelecimento de uma ADIZ (air defence identification zo- nne, zona de identificacao de defesa aérea) ao longo da fronteira com Kalimantan. AFEAF reequipara-se desde o estado de emergéncia anterior, na peninsula Malaia. Em Tengah, estavam baseadas as esquadri- Ihas 20.*, ‘com avides Hawker Hunter com os Gloster Javelin que dispunha de En- elish Electric Canberra B.Mk 2. Essas uni dades tinham 0 apoio de avides Canberra PR.Mk7, Avro Shackleton MR.Mk 2e de vrios aparelhos de transporte, leves € pe- sados, estacionados em trés outras bases a0 longo da peninsula. ‘A RAAF (Royal Australian Air Force, Forga Aérea australiana) contava com uma esquadrilha (a 2.*) de avides Canberra ¢ duas (@3.* ea7.*) de Sabre, baseadas em Butterworth. A RNZAF (Royal New Zea- O papel principal na tuta cabia as Forgas terrestres. Mas era vital a ‘mobilidade dos aparelhos Twin Pioneer no transporte de tropas para a selva. Aqui, 0 embarque de uma patrutha. land Air Force, Forca Aérea neo-zelandesa) dispunha de uma esquadrilha de avides Canberra (a 75.*) em Tengah e outra (a 41.4) de Bristol Freighter em Changi. Comeca a retomada A estratégia para debelar as revoltas em Brunei e Sarawak baseou-se numa respos- ta militar imediata. Em 8 de dezembro de 1962, apenas algumas horas apés os levan- tes, tropas ¢ équipamento deixavam Cin- Bapura com destino a Bornéu emi avides Handley Page Hastings, Blackburn Bever- ley, Vickers Valetta e Scottish Aviation Pioneer, além de um Transport Command Bristol Britannia que se encontrava em Changi. Naquele momento, todo 0 terri- tério de Brunei, com excecdo da capital, jd estava em poder dos rebeldes. primeiro Beverley pousou no aeropor- to civil de Brunei, e as forcas que transpor- tava, os gurcas, assumiram 0 controle das Em 1965, 0 aeroporto de Labuan tornou-se a principal base avancada briténica. Os suprimentos eram at concentrados ¢ redistribuidos para os campos de pouso no interior da selva. Scottish Aviation CC.Mk I ‘operou em Bornéu durante 0 conflito com a Indonésia. Atuou no apoio as forgas terrestres na fase mais aguda da uta. Os P-51 Mustang indonésios invadiam 0 espaco aéreo malaisio. Seus motores a pistdo ndo emitiam sinais infravermelhos, evitando o rastreamento pelos misseis Firestreak. instalagdes. Isso assegurou 0 pouso dos aparelhos seguintes eo desembarque de mais soldados, veiculos e material bélico, Enquanto isso, o Britannia fazia duas via- ‘gens até 0 posto avangado da RAF em La- Duan, tinica pista em que podia pousar no norte de Bornéu. Em 9 de dezembro, a situaedo em Sara- wak estava controlada, mas em Brunei ain- da reinava tensio. No dia seguinte, foram enviados reforeos por uma forca de trans- porte, que inclufa avides Shackleton da 205. Esquadritha, um Bristol Freighter da RNZAF cum Lockheed Hercules da RAAF. Ao final de um més de operacao, cerca de 3.200 homens, 113 veiculos, varios canhées ereboques, dois Auster e300 t de carga ha- viam sido transportados pelo ar (0s equi pamentos mais pesados seguiram por mar) Soldados ¢ suprimentos chegavam a seu destino em avides Beverley, Pioneer e Bris- tol Sycamore e nos helicdpteros Belvede- re, de dois rotores, da 66.* Esquadrilha, trazidos para 0 Sudeste Asidtico em maio de 1962. Os Valetta langavam suprimentos para as tropas em terra. Com a vantagem de ser uma ilha préxima a costa, livre de ataques rebeldes, Labuan transformou-se em base operacional. ‘A primeira medida foi isolar e esmagar 1s focos principais de rebeldes, antes que udessem consolidar posigdes ¢ receber apoio dos indonésios. Dessa perspectiva, os principais objetivos das forcas britanicas ‘eram 0 campo petrolifero de Seria e a pis- ta de pouso de Anduki. Os Twin Pioneer da 209.* Esquadrilha fizeram 0 reconheci- mento de ambos os objetivos, constatan- do a impossibilidade de aterrissar. Preparou-se entdo uma forga de cinco ‘Twin Pioneer, um Beverley e um Army Air Corps DHC Beaver. Os Pioneer pousaram pperto do campo petrolifero ¢ os soldados Que transportavam renderam 0 posto de policia local. Voando baixo ao longo da costa, para escapar ao radar, um Beverley aproximou- se do aeroporto de Anduki, subiu pouco ‘acima da copa das arvores e pousou, frean- do forte, em apenas um quarto de pista Dois minutos depois, desembarcadas as tropas, 0 aparelho fez uma decolagem cur- ta, no mesmo sentido; foi atingido duas ve- es nessa manobra. A operacdo teve pleno &xito, devolvendo aos britanicos o contro- Te do campo de pouso. Os reféns europeus em poder dos rebeldes foram libertados ilesos. Na calmaria que se seguiu ao esmaga- mento dos levantes, ocorreram incursdes rebeldes pela fronteira, sobretudo apés a formacao da Malaisia. Mas poucos locais favoreciam a infiltragao. A 84." Esquadri- ha, j& equipada com avides Canberra PR.Mk 7, desempenhou importante papel nna atualizacdo de mapas e na obtencdo de fotos, onde se identificavam pontos de tra- vessia na fronteira e trilhas na selva. Para conter a infiltragdo, as forcas de se- ‘guranga estabeleceram uma série de posi- ‘90es fortificadas préximas dos pontos co- mhecidos de travessia. Como podiam ser abastecidas pelo ar, ampliaram-se as in- cumbéncias da RAF, com 0 conseqiiente aumento da forga de transporte da FEAF. Em agosto de 1963, duas esquadrilhas fo- ram remodeladas: a 245." recebeu avides Armstrong Whitworth Argosiy ¢ a 103." a verséo aperfeigoada do Mk 10 do West- land Whirlwind, equipados com turbinas Gnome. Juntamente com os Twin Pioneer, de pouso e decolagem em pistas curtas, € (0 helicépteros Belvedere, os Whirlwind constitufram pécas fundamentais para 0 éxito da campanha britdnica em Bornéu. Tatica britanica A medida que se intensificavam as respos- tas as incursOes de guerrilheiros, impOs-se um padrao definido de abastecimento por via aérea. Estabeleceram-se areas avanca- das em Labuan e Kuching, no sudoeste de Sarawak, para receber 0 fluxo diario de su- primentos transportados por avides Has- Um Victor recebe sua carga de bombas para atacar os indonésios. Modernos apareihos britdnicos eram enviados com Sreqiiéncia @ Malaisia. COMBATES AEREOS Os helicépteros desequilibraram a luta nas selvas. Os birrotores HC.Mk 1 Belvedere atuaram em Bornéu de 1962 a 1965, no ‘apoio as tropas em terra. tings, Beverley e Bristol Freighter; maqui- nas pesadas e a maior parte dos alimentos munigdes chegavam por mar. O elo se- guinte da cadeia de abastecimento consis- tia em varias pistas de pouso construidas 4s pressas no interior, capazes de receber avides Pioneer, helicdpteros e, as vezes, até mesmo os Beverley e Valetta. Eram pistas irregulares e curtas, que exigiam muito dos pilotos nas aproximagdes. Mas demonstra ram sua importéncia como pontos de con- centrago de suprimentos e centros a par- tirdos quais as forgas terrestres podiam ar- mar patrulhas. Estas se mantinhiam na sel vva gracas aos suprimentos lancados pelos Hastings, Beverley e Valetta ou por grupos de helicépteros. De fato, a versatilidade dos helicépteros cera essencial para poupar tempo de vo en. tre Labuan e Kuching. Operando das ba ses avancadas, 0s aparelhos efetuavam um rimero crescente de tarefas, como 0 abas- ‘tecimento de alimentos e munico, evacua do de feridos, transporte e revezamento de tropas. Ao Belvedere, capaz de igar cargas pe- sadas e desajeitadas, cabiam tarefas como, Cacas Sabre da 77.* Esquadritha da RAAF sido reabastecidos e rearmados nna base de Butterworth. Os ustralianos aatuaram na defesa da Malatsia Ocidental e s6 deixaram a peninsula tempos apds a partida dos briténicos, ai deixando muitos de seus Sabres. por exemplo, o transporte de obuseiros de 105 mm do Exército, arma que se revelou muito importante. Como néo havia mui- tos obuseiros desse tipo em Bornéu, os bri- tnicos passaram a transporté-los, de heli- céptero, de um ponto para outro. Dessa ‘maneira, levaram o inimigo a acreditar que todas as posigdes governamentais dispu- nham de armamento pesado. A Indonésia amplia a luta Na ilha de Bornéu, as incursdes através da fronteira intensificaram-se com a partici- pacio de tropas regulares da Indonésia. Além de realizarem surtidas aéreas a par- tir de Kalimantan, os indonésios enviaram ‘grupos armados para atacar de surpresa a peninsula Malaia (Malaisia Ocidental) ‘A viilancia contra as invasGes aéreas a0 Tongo da fronteira de Kalimantan ficou a cargo de oito avides Hunter da 20.* Esqua- drilha e dois Javelin da 60.*. Metade des sa forca baseava-se em Labuan e metade em Kuching. Sua tarefa consistia em escol- tar avides de suprimento e montar um sis- tema permanente de defesa, com pilotos autorizados a travar combate ¢ destruir qualquer avido indonésio que violasse a ADIZ. O problema era que toda incursto ocorria téo rapido que o avido indonésio podia retornar a.seu espago aéreo antes da chegada dos Hunter ou Javelin. As incurs6es indonésias na Malaisia Oci dental passaram a enfrentar dificuldades. A primeira, lancada em agosto de 1964, en- volveu cem soldados regulares, que inva: diram a costa oeste da peninsula Malaia em diferentes pontos. Duas semanas depois, para-quedistas indonésios saltaram em Jo- hore, ao sul. Ficou evidente que, se um Lockheed C-130 podia penetrar o eéu ma- laisio, outros avides indonésios consegui riam Tazer o mesmo. O espago aéreo da Malaisia Ocidental e da ilha de Cingapura foi declarado ADIZ em setembro de 1964, colocando-se em alerta total as esquadri Ihas de defesa da FEAF, Ao mesmo tem- po, os avides Hunter se engajavam numa série de ataques aéreos em apoio as tropas terrestres. Em outubro, os britdnicos ¢ as forcas de seguranca malaisias haviam eli- minado totalmente os invasores. No decorrer dos seis meses seguintes efetuaram-se mais quarenta desembarques e atos de sabotagem. Mas a defesa aérea da Malaisia Ocidental estava bastante re- forgada, gracas a presenca de acronaves do porta-avides Victorious e de esquadrithas equipadas com misseis. As ages armadas prosseguiram duran- te todo 0 ano de 1965. A partir de 1966, porém, ficava claro que a Gra-Bretanha controlava as campanhas em Bornéu ena Malaisia Ocidental. "Nos anos seguintes, a Malaisia se firma- ria como Estado, abrangendo a peninsula Malaia e as antigas coldnias briténicas, & excegdo de Brunei, No entanto, em vista de sua dispersdo geografica e da diversida- de étnica (malaios, chineses, indianos, pa- quistaneses), nunca se livrou inteiramente dos movimentos rebeldes. AERONAVES FAMOSAS: Kawasaki [-61 mien Heranga de projetistas alemdes que trabalharam no Japdo nos anos 30, o Hien conquistou respeito no Pacifico. ‘Uma das imposigdes do Tratado de Versalhes (assinado em 1919, apés a Primeira Guerra Mundial, pelas nagdes aliadas vitoriosas © 0s derrotados alemaes, regulamentando a sorte da Europa cen- tral) foi que a Alemanha ficava proibida de fabricar armamen- tos — inclusive aviées. Diante desse fato, numerosas indiistrias alemas de equipamen- tos bélicos mudaram-se para longe da vigildncia dos paises ven- cedores. O mesmo aconteceu com toda uma geragdo de técnicos, que, desempregados, deixaram a Alemanha em busca de outros centros. Entre esses especialistas, destacava-se o engenheiro Ri- cchard Vogt, que se estabeleceu no Japio. Sob sua direcdo, a em- presa japonesa Kawasaki Kokuki Kogyo - KK adquiriu os direi- tos de fabricacdo de motores de avido refrigerados a égua, no ‘comego dos anos 30. Embora Vogt tenha retornado & Alemanha naquela mesma dé- ‘cada, para se tornar engenheiro-chefe da Blohm und Voss, a as- sociagdo entre a aerondutica alema e a japonesa continuou a pro- ‘gredir. Antes do final dos anos 30, a Kawasaki obteve autoriza- ‘sao para produzir no Japao 0 motor Daimler-Benz DB 600 e, mais tarde, também o DB 601. Em abril de 1940, uma equipe de técnicos japoneses foi buscar nna Alemanha um conjunto de plantas e algumas unidades do ex- celente motor DB 601A, de doze cilindros em V invertido. Apés ‘as necessérias adaptagdes as técnicas de fabricagao japonesas, em julho de 1941 ficava pronto o primeiro motor Kawasaki Ha-40 Provavel Ki-61-Ib testado no Wright Field, Ohio, em 1945. ‘Mesmo sendo inferior ao P-5ID Mustang, 0 Hien despertou 0 interesse dos técnicos americanos. (como foi designada a licenca do DB 601A). Quatro meses depois, entrava em producdo sob a designa¢do de motor do Exército Type 2, de 1.100 hp. Primeiros projetos Encorajacda pela aparente superioridade dos avides europeus equi- pados com motor V-12 (em comparagao aos de motor radial), Kawasaki apresentou ao Exército japonés diversos projetos de aga com seu novo Ha-40, O resultado foi uma encomenda, em fevereiro de 1940, do Koku Hombu (Comando Aéreo) & compa- hia. Contratava-se o desenvolvimento de dois aparelhos: 0 casa pesado Ki-60 e 0 Ki-61, mais leve e polivalente (de combate aé- ¥e0, ataque ao solo ¢ interceptador) No comego do programa, a prioridade recafa sobre o Ki-60. Porém, gragas & mudanea de propésitos na busca de um melhor desempenho da blindagem do cockpit e protecao dos tanques de combustivel, 0 Ki-61 acabou sendo favorecido. Sob a lideranga de Takeo Doi, que tinha como assistente Shin Owada, a Kawasaki péde tomar como ponto de partida do Ki-61 todo 0 conhecimento acumulado durante o trabalho de elabora- do do Ki-60. A reducao de peso foi conseguida adotando-se uma fuselagem com segdo transversal menor elimitando armamen- to a apenas quatro metralhadoras, localizadas duas na carena- gem do motor e duas nas asas. Para atender as exigéncias de mul- tiemprego, os téenicos japoneses decidiram utilizar uma asa de alongamento maior, bem como ampliar a capacidade de com- bustivel. O desenvolvimento ¢ fabricacao do protétipo no demoraram. ‘A primeira aeronave deixou a unidade de produslo de Kagami- gahara, localizada ao norte de Nagoya, em dezembro de 1941, ‘a mesma semana em que a forea aeronaval japonesa lan¢ava seu devastador ataque contra Pearl Harbor. Era tamanha a confian- a esse novo caga que a linha de montagem foi logo organiza- da, Onze protétipos adicionais receberam encomenda, estes com tanques autovedantes, o que aumentou a carga alar para 146,5 g/m, consideravelmente superior & que os pilotos da Forsa A&- rea nip6nica estavam habituados a experimentar nos aparelhos fem que voavam. ‘Apesar do acréscimo de carga alar, 0 Ki-61 causou entusiasmo entre os pilotos militares de provas, que viam em sua elevada ve- locidade de mergulho uma resposta eficaz aos cagas americanos ue empregavam a tética do mergulho no inicio dos combates para se aproximar do inimigo. Comprovada a superioridade do novo aparelho, por meio de experiéneias em combates simulacioe com um Curtiss P-40E capturado, um Messerschmitt Mel09E- importado, um Nakajima Ki-43-Il um Ki-d41, 0 Exér ponés confirmou a ordem de produgao. AERONAYVES FAMOSAS: Kawasaki Ki-61-1 Otsu do 59.° Sentai (Ashiya). O aparetho recebeu alteracdes na fuselagem traseira e no Teme. Ostenta, também, a insignia da Escola de Treinamento de voo de Akeno. Versoes do Kawasaki Ki-64 AERONAVES FAMOSAS Camuflagem em ver escondendo 0 ac ‘metélico. O aparel Ki61-KAI do 19. que combateu em Okinawa, Formosa e Filipinas. AERONAVES FAMOSAS. Kawasaki Ki-64 Caracteristicas Kawasaki Ki-61-I KAlc Hien Tipo Monoplace interceptador ¢ caca-bombardeiro. Propulsio Motor Kawasaki Ha-40, de 1.100 hp, de doze cilindros em V invertido, refrigerado a agua. Desempenho Velocidade maxima, 590 km/h a 4.260 m; atingia 5.000 m de altitude em 7 minutos; teto de servigo, 10.000 m; alcance, 1.800 km. Pesos Vazio, 2.630 kg; com carga normal, 3.470 kg. Dimensées Envergadura, 12 m; comprimento, 8,94 m; altura 3,7 m; area alar, 20 m? Armamento Dois canhdes Ho-5 de 20 mm no nariz duas metralhadoras de 12,7 mm Type I nas asas, mais carga externa de bombas de 240 kg ou dois tanques alijaveis de 200 litros nas asas. Kawasaki Ki-61-Ib, com tanques alijaveis, do 68.° Sentai, uma das primeiras unidades a empregar 0 Hien em combate fem 1943), na Nova Guiné. No inicio esse avido suplantow os Curtiss P-40, mas depois foi perdendo a superioridade, & ‘medida que 0 padréo de qualidade da industria Japonesa se deteriorava. AERONAVES FAMOSAS KiSI-I do 244,° Sentai de defesa territorial, esquadritha do quartel-general comandada pelo major Tembico Kobayashi. © quartel-zeneral era Sregiientemente identificado pela cor azul na cauda. Comeca a produgao em série primeiro avido de série construido com ferramental de produ- ¢40 — décimo terceiro Ki-61 — foi entregue em agosto de 1942, Pouco diferia dos protétipos; a principal mudanga consistia na liminagdo de dois pequenos painéis transparentes dos dois la- dos da fuselagem, bem & frente dos caixilhos do para-brisa, A partir daquele més, acelerou-se a fabricago e, no final do ano, 34 avides ja haviam sido entregues ao Exército sob a designacao Type 3 Model 1 Hien (Andorinha), ou Ki-61-1. Dos primeiros, dduas versdes foram produzidas: 0 Ki-61-A, armado com duas me- tralhadoras Type 1 de 12,7 mm no narize duas Type 89 de 7,7 mm nas asas; ¢ o Ki-61-Ib, com quatro metralhadoras Type 1 de 12,7 mm. ‘A primeira unidade de servico a receber o Hien, em fevereiro de 1943, foi o 23.° Dokuritsu Dai Shijugo Chutai (esquadritha independente), para treinamento ¢ adaptagio de pilotos, Sua es tréia em combate aconteceu sobre a costa da Nova Guiné, dois meses depois, com 0 68.° ¢ 0 78.° Sentai (grupos de caca). Nes- sas agdes iniciais, o novo caca da Kawasaki mostrou-se melhor ‘oponente para os avises aliados do que o Ki-43 (ao qual estava substituindo), principalmente devido a superior velocidade de mer- gulho. Alguns problemas, porém, verificaram-se com 0s Ki-61 za Nova Guiné: o clima quente ¢ umido da regiao fazia ferver 244.° Sentai contava, em 1944/1945, com alguns dos ‘mais experientes pilotos. Baseados em Narumaisu e Chofu, seus Ki-61 estiveram em acao contra os Grumman Hellcat, Vought e Corsair da Marinha americana. e= (05 motores quando o aparelho ainda estava no solo, exigindo um rapido taxiamento sobre pistas de rolagem quase sempre inade- quadas. Embora ndo associado as dificuldades de superaquecimento, um Ki-61-1 experimental foi produzido com uma pequena unida- de retratil para refrigeragao no solo — em substituigdo ao gran- de radiador ventral — e condensadores sobre as asas para obter © resfriamento em v6o por meio de evaporacdo de agua. Esses testes forneceram subsidios para a preparacao do caga Ki-64, um projeto radicalmente novo de Takeo Doi, que ficou apenas no protétipo, OKi-61 recebeu também aperfeigoamentos nas armas, apesar da falta de um canhao de 20 mm de fabricagao japonesa. No sen- tido de suprir-se essa falha, 0s Ki-61-1a ¢ Ki-61-Ib passaram a so- frer adaptagdes de fabrica, para que pudessem acomodar nas asas ‘os canhdes Mauser MG 151 de 20 mm (importados). Duas dessas armas foram instaladas em substituicao as metralhadoras comuns. Quando 0 canhao japonés Ho-5 de 20 mm passou a ser fabri- cado, Takeo Doi aproveitou a oportunidade para reforgar ¢ sim- plificar a estrutura da asa. J4 no Ki-61-KAlc, que comegou a apa- recer em janeiro de 1944, 0 canhdo Ho-5 também substituia as, metralhadoras da fuselagem. Tempos depois, 0 Ki-61-I KAId apresentava dois canhdes Ho-105 de 30 mm, mas voltava a ter as metralhadoras Type 1 (de 12,7 mm) no nariz. As verses KAI Aparetho do 37.° Sentai, unidade que participou dos ultimos combates na defesa das Filipinas, antes de ser forgada a se deslocar para Formosa e Okinawa, no final da guerra, 5 As letras AK pintadas nos temes indicam que estes Ki-61-1 pertenciam a Escola de Treinamento de Akeno, a principal em territorio japonés. (abreviatura de kaizo, modificado) introduziram também uma be- quilha fixa, em lugar da escamotedvel, e suportes para carga bé- lica sob as asas, 0 que se tornou possivel gragas ao reforco estru- tural introduzido. Por todo 0 ano de 1944, o esforco de produc se concentrow no Ki-61-I KAlc, cuja quantidade aumentou macigamente. Até janeiro de 1945, 2.654 Ki-61 haviam sido fabricados. Semelhanga com o Messerschmitt Quando o Hien surgiu sobre a Nova Guiné, 0s aliados perderam temporariamente a superioridade aérea. O desconhecimento so: bre 0 novo caga chegou mesmo a fazer que circulassem relaté- rios, entre os pilotos americanos, segundo os quais os japoneses estariam usando 0 caga alemao Messerschmitt Me 109.0 engano logo se desfez e, a partir da avaliacdo das taticas de combate pre- fetidas pelos pilotos dos Ki-61, os aliados foram advertidos no sentido de evitar ataques em picada e explorar, em vez disso, as deficigncias do caca japonés em termos de velocidade. Com o tem- po, 0 Hien acabou sendo dominado. Durante 1944, as entregas do avido foram aceleradas ¢ ele pas sou a ser encontrado em grande nimero na campanha das Filip nas, entre 1944-45 (quando equipou o 17.°, 18.° ¢ 19.° Sentai), e sobre Okinawa e Formosa (19.°, 37.°, $9.° © 105.° Sentai). O Ki-61-I1 A medida que a guerra no Pacifico avancava, a qualidade da in- diistria japonesa ia se deteriorando. Isso ficou patente na queda dos padrdes de qualidade de seus motores aeronduticos, particu: larmente do Ha-40 usado no Ki-61. Defrontando-se com exigén cias de melhor desempenho, Takeo Doi foi pressionado a adap- tar seu avido ao impulsor Ha-140, um motor de doze cilindros em V, com 1.500 hp de poténcia. primeiro protstipo, 0 Ki-61-II, ficou pronto em agosto de 1943. O novo avido trazia asas de maior area e uma capota dife. rente no cockpit, ampliando o campo visual do piloto. Mas o mo- tor Ha-140 ficou muito aquém do esperado, sofrendo numero- sos problemas — o pior deles era seu fraco virabrequim, que que- aN O tanque alijével (200 litros) do Ki-61 era considerado rudimentar. Aumentava seu alcance de 1.100 para 1.600 km, ‘mas reduzia em 80 km/h sua velocidade. Kawasaki Ki-61-1 do 23. Chutai (uma esquadritha independente), do Exército Japonés. Em abril de 1945 esse grupo estava baseado em Yonian, na itha de Okinawa. brou varias vezes. Fora isso, a célula nunca deixou de apresentar falhas, registrando-se imimeros rompimentos de asa. Apesar de tudo, o Ministério das Municdes do Japao confiava em que os problemas do Ha-140 resumiam-se a simples questdes industriais ¢ que seriam solucionados com um controle de quali- dade mais rigoroso. A producao em massa do Ki-61-II como ca- ¢a do Exército Type 3 Model 2 foi ordenada em setembro de 1944. Depois de compietar onze protétipos (dos quais s6 oito entraram em testes), a area da deriva teve de ser aumentada, para compen- sar o nariz ligeiramente maior, 0 Ki-61-I KAI reincorporou as asas do Ki-61-I KAI, reduzindo a probabilidade de outros rom- pimentos. Desde que © motor Ha-140 nao fosse muito solicita- do, © novo caga apresentava um desempenho mais aperfeicoa- do, podendo aleangar uma velocidade maxima de 610 km/h a 6.000 m e elevar-se até 5.000 m em 6 minutos. OKi-61-I KAI foi produzido em duas verses: KAla, com dois canhées de 20 mm no nariz e duas metralhadoras de’ 12,7 mm nas asas; ¢ KAIb, com quatro canhdes de 20 mm, Totalizaram 374 aparelhos fabricados; mas, devido a persistentes problemas ‘nos motores, poucos atingiram unidades operacionais e nunca plantaram os Ki-61-I KAI mais antigos. O Ki-61-Il KAI foi, po- rém, 0 tinico interceptador japonés com armamento adequado © capaz de atingir a altitude de operacao dos enormes bombs deiros Boeing B-29 Superfortress. Tera sido, entre os cacas nipo- nicos, 0 que conseguiu derrubar maior nimero de superfortalezas. Em 19 de janeiro de 1945, o Ki-61-II KAI sofreu um golpe fa- tal, quando 0s B-29 quase arrasaram a fabrica de motores Aka: shi, que produzia os Ha-140. Nesse dia, cerca de trinta avides aca: bados e prontos para entrega foram destruidos no solo; 275 eélu- las ficaram sem motor. O Hien quase encerrou sua histéria ali mesmo, n&o fosse a engenhosidade dos japoneses em enfrentar circunstancias adversas, 0 Ki-100 Com o bombardeamento da Akashi, o planejamento prévio pa- ra solugao dos problemas mecanicos no Ha-140 teve de ser acio- nado em cardter de emergéncia, Assim, com base nos estudos ini A maioria dos Ki-61-I da Escola de Treinamento Akeno nai ostentava pintura, exceto nos spinners, por onde se identificavam as esquadrithas. AERONAVES FAMOSAS Ki-100-Ib com acabamento em preto. A versao ‘‘b” (Otsu) incorporava fuselagem traseira mais curta capota maior, para melhorar a visibilidade do piloto. ciados em novembro de 1944, a Kawasaki, sem tempo para de- senvolver um caca inteiramente novo, recebeu instrugdes de adap- tar a célula do Ki-61-Il KAI a fim de receber 0 motor radial de catorze cilindros Mitsubishi Ha-112-I, de 1.500 hp. A maneira como se cumpriu essa ordem em menos de doze semanas, sob as, erescentes devastagdes dos bombardeios aliados, constituiu cer- tamente um dos mais extraordinérios feitos da engenharia indus- trial em tempo de guerra. A acomodacao do motor Ha-112, com 1,22 m, a uma fusela- gem de apenas 84 cm de diametro revelou-se um grande exercicio de eriatividade. O trabalho foi realizado principalmente porque os engenheiros da Kawasaki tiveram a oportunidade de exami- nar 0 caga alemao Focke-Wulf Fw 190, que teve seu motor ra- dial substituido por um em linha. O novo Ki-100 (um Ki-61-I1 KAL adaptado) vou pela primeira vez como protétipo no dia 1.° de fevereiro de 1945. Defensor ferrenho do motor refrigerado a agua, Takeo Doi deve er recebido o sucesso de sua nova criagdo um tanto contrariado. Apesar de todo 0 volume do novo impulsor, por causa de sua disposigao radial, o reduzido peso e a menor carga alar resulta- am num aparelho de melhor maneabilidade, registrando-se ape- nas uma ligeira queda no desempenho. Além disso, 0 motor ra- dial gozava de excelente reputa¢ao de confiabilidade. Feitos os testes de vo, veio a ordem de transformar todos os Ki-61-II KAI sem motor em modelo Ki-100; 272 passaram as uni- © motor radial alterou bastante 0 perfil dos Kawasaki. O Ki-100 entrou nna luta em margo de 1945; ‘mais lento que o predecessor, tinha, porém, melhor manobrabilidade. dades de caga baseadas em territério japonés, entre margo e ju- nnho de 1945, ‘Assim que se confirmou o sucesso do Ki-100, a Kawasaki co- mefou a fabricar 0 novo avio, partindo de zero. Os modelos de série sairam de suas fébricas de Kagamigahara ¢ Ichinomiya em maio de 1945. Quando a produsdo ja atingia niveis satisfatérios, pesados bombardeios atingiram essas instalagdes, reduzindo dras- ticamente as entregas; em julho, a montagem dos avides interrom- peu-se em Ichinomiya Em servigo, 0 Ki-100 foi saudado como 0 melhor e mais con- fiével caga do Exército imperial japonés em toda a guerra..Sim: ples de comandar — até mesmo para os jovens e inexperientes pilotos, inferiorizados nas batalhas aéreas registradas sobre 0 Ja- pio nos derradeiros meses da luta no Pacifico —, o aparelho con- sequiu resultados até certo ponto surpreendentes. Além de seu pa- pel como destruidor de bombardeiros, o Ki-100 enfrentava em igualdade de condig6es 0s Grumman F6F Helleat da Marinha americana, que entao cruzavam 0 espaco aéreo nip6nico. Os Ki-100 foram usados pelo 5.°, 17.°, 111.° ¢ 244.° Sentai, num total de 390 entregues (incluindo os 272 Ki-61 convertidos ¢ doze novos avides produzidos em Ichinomiya). Outra verso chegou a ser produzida, 0 Ki-100-II; tinha motor radial Ha-112-IIRU com turbocompressor Ru-102. Trés protstipos voa- ram antes que o fim das hostilidades impedisse a produeao de avides em territério japonés A foto destaca bem a adaptagdo da carenagem mais larga do novo motor a delgada fuselagem, no Ki-100. A impressao é de robustec e res As unidades que receberam 0 Ki-100 ndo tiveram tempo de treinar com 0 novo avido. O 5.° Sentai, por exemplo, comecou adaptando-se ao Ki-4S Toryu, em maio de 1945.

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