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nutricao animal Andriguetto As bases e os fundamentos da nutri¢ao animal Os alimentos Nobel Lag WaT ge Gemael Flemming Souza Bona Filho © 1981 José Milton Andriguetto Direitos desta edigao reservados a AMPUB Comercial Ltda. (Nobel é um seto editorial da AMPUB Comercial Ltda.) Rua Pedroso Alvarenga, 1046 - 9° andar ~ 04531-004 ~ Sao Paulo ~ SP Fone: (11) 3706-1466 ~ Fax: (11) 3706-1462 www.editoranobel.com.br E-mail: ednobel@editoranobel.com.br Capa: Maria Regina Knoll Impressio: Paym Grifica e Editora Ltda. Reimpressio: 2006 Dados Internacionais de Catalogagao na Publicagao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) N97 10 animal / José Milton Andriguetto et. al, - Sdo Paulo ; Nobel, 2002. vl Bibliografia. Contetido : v.1. As bases ¢ os fundamentos da nutrigdo animal. Os alimentos. ISBN 85-213-0171-5 (vol. 1) ISBN 85-213-0060-3 (vol. 2) J. Nutrigdo anima! 1. Andriguetto, José Milton, 1934 83-1562 CDD-636-0852 indices para catélogo sistematico: 1, Anime Nutrigio : Zootecnia 636.0852 2. Nutrigdio animal : Nutrigo : Zootecnia 636.0852 E PROIBIDA A REPRODUGAO Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo ‘transmitida por meios eletrénicos ou gravagdes, sem a permissdo, por escrito, do editor. Os infeatores serao punidos pela Lei” 9.610/98. Impresso no Brasil / Printed in Brazil SUMARIO PARTE! AS BASES E OS FUNDAMENTOS DA NUTRIGAO ANIMAL 11 Cap. 1. O OBJETIVO DA NUTRICAO E DA ALIMENTACAO ANIMAL 13 Comparagao entre os animais e os vegetais . 39 Gap. 3. DIGESTAO-PROCESSOS GERAIS E PARTICULARIDADES POR-ESPEGIE ANIMAL 2s a Processos fisicos na digestao .. .. 42 Digestao: Aspectos gerais Digestao no intestino grosso_ Particularidades do processo digestivo nos eqiinos 49 Particularidades do processo digestivo nas aves .. 52 Particularidades no processo digestivo dos ruminantes ....... : 52 Cap. 4. ABSORCGAO Cap. 5. DIGESTIBILIDADE E BALANCOS NUTRICIONAIS ........ a Determinagéo da digestibilidade .. i Material com Cap. 6. OS PRINCIPIOS NUTRITIVOS E SUAS NUTRICIONAIS ...... + 3 ITE CARTE 6.1. OS LIPIDIOS NA NUTRIGAO ANIMAL . Funcées nutricionais dos lipidios .... 89 Acido nicotinico (Niacina) _e Nicotinamida (Niacinamida| Acido pantoténico . Piridoxina (Be Vitamina C (dcido ascérbico! 6.5. OS MINERAIS NA NUTRICAO ANIMAL As substancias minerais ..... sscsanteran Agua-eletrélitos-liquidos do organismo Origem da dgua do organismo ..............6.4+5 Perdas de agua e de eletrélitos . Necessidades de gua Qualidade da agua de bebida ... Cloro-sddio (Sal comum) .... Potdssio Cobalto_.... 2 i Zinco Molibdénio Vanadio Niquel .... 2 Silicio . 251 Fluor 252 Outros microelementos de interesse em nutrigdo .. 255 Cap. 7. AVALIAGAO DO VALOR ENERGETICO DOS ALIMENTOS . 257 Energia bruta ........... 00. c cece cece ee eee eee 257 Energia digestivel . 258 Energia metaboli . 260 Energia produtiva . 261 Energia liquida .. ‘ . 262 Outras formas de medir energia — Ni Digestiveis Totais (NDT) ... . 267 PARTE II OS ALIMENTOS secsseeeisemsrisiessvesssewasien ts 269 Cap. 1. GRAOS DE CEREAIS E SEUS SUBPRODUTOS . . 271 Milho . 272 Trigo - 274 Cevada - 276 Sorgo . 279 Aveia Arroz Centeio . Trigo Preto, Trigo Sarraceno ou Trigo Mourisco ... 284 Cap. 2. ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL . Suplementos protéicos . Farinha de carne .. Farinha de residuos de abate de aves Farinha de sangue . Farinha de penas .. Farinha de peixe .. Soliveis de pescado . Farinha de camaréo e crustéceos . . 299 Farinha de figado .. 299 Farinha de cerdas e/ou pélos . + 301 Suplementos energéticos .. 301 ». 301 304 304 Oleos e gorduras animais . Suplementos minerais Farinhas de ossos . Farinha de casca de ostras 305 Outros suplementos .......... -.» 306 Leite e derivados de leite .................. 306 Farinhas de subprodutos de centri de incubagdo ............00..ceeeeeeee eee 307 Farinha de cama de galinheiro e de dejegdes animais -. 309 Farinha de contetdo de ramen . . ot . 312 312 313 Farinha de faneros Farinha de crisdlidas Pupas de moscas . Ovos, larvas e ninfas de formigas . 313 Cap. 3. SEMENTES OLEAGINOSAS E SEUS SUBPRODUTOS ..... 315 Consideragdes gerais .............. 20.0 eee ee eee 315 Processos de extracéo dos dleos vegetais . we. 316 Extrusdo oo. 318 Soja .... . 319 Algodao Amendoim Girassol Linho +. 331 Mamona » 332 Coco... . 333 Babacu .. Gergelin 334 Palma ... * we. 334 Suplementos energéticos .................0.0008 335 Cap. 4. ENSILAGEM — SILAGEM ........... 0... c cece eee e ene 343 Cap.5. FENO — FENAGAO ............. 2.0000. cce ee eee ee eee 367 Cap.6. OUTROS ALIMENTOS ... ... 381 Melacgo de cana . BIBLIOGRAFIA PARTE | AS BASES E OS FUNDAMENTOS DA NUTRICAO ANIMAL Capitulo 1 O OBJETIVO DA NUTRICAO E DA ALIMENTAGAO ANIMAL A exploragéo dos animais domésticos é feita na sua quase totalidade visando um interesse econémico. Evidentemente, a utili- zacao favordvel do mercado, em ambos os sentidos — venda da produgdo e a aquisigao do necessdrio para a mesma — situa o ambiente para a industria pecudria. Dentro da ampla variagdo possi- bilitada pelo mercado, somente a técnica podera produzir economica- mente, em qualidade e quantidade; esta, para a producao, econdmica, situa-se, basicamente, em trés aspectos: — GENETICA; — HIGIENE — MANEJO; — ALIMENTAGAO. A GENETICA confere ao individuo potencial intrinseco que é 0 ponto de partida para o desempenho de toda e qualquer func¢ao, ressaltando-se aquela da produgao. Assim, existem ragas e variedades altamente especializadas obtidas mediante selegéo e cruzamentos adequados, permitindo um usufruto mais rapido da producao animal. A medida que cresce a especializacdo genética. cresce também a necessidade de mais perfeita nutrigao e alimentac&o para aproveitar este potencial genético. O potencial genético é, portanto, exteriorizado, complementado pela alimentagao. De nada adiantaria, nao fosse a alimentacao racional. A HIGIENE E O MANEJO fornecem, ao lado da Genética, o ponto de partida as condigdes basicas, prevenindo as enfermidades e dando condigées de higidez necessarias a criagdo animal. Apesar do cuidado que se dispense 4 criagdo, 4 forma de explo- ragao e controle das enfermidades, a menos que se alimentem conve- nientemente, os animais nao poderdo obter beneficios que atinjam © objetivo econémico. Basta lembrar que a alimentagao constitui 60 a 80% do custo da criagao. A ALIMENTAGAO RACIONAL dos animais domésticos tem por objetivo fornecer a um individuo ou a um grupo de individuos de uma determinada raga ou espécie, os alimentos capazes de manter a vida aa NUTRIGAO ANIMAL e assegurar, nas melhores condigées de rendimento, a elaboracao das produgdes que o homem pretende de um animal ou de um grupo de animais. O problema da alimentagao dos animais domésticos foi resolvido no momento em que o homem comegou a manté-los como produtores de trabalho mecanico, de carne, de leite, de ovos, de 1a, etc., mas 0 problema da alimentacao racional, gragas 4 qual o rendimento otimo pode ser obtido, ndo é de facil solugdo: esta nado pode ser encontrada, a nao ser pelos esforcos conjugados de observadores ¢ de experi- mentadores, na medida em que as aquisigées das ciéncias bioldgicas, quimicas e fisicas 0 permitirem. O problema da alimentacao é de importancia capital na pratica da criagéo de animais domésticos, em razo das repercussdes econ6- micas das solugdes que lhe sao dadas. Dentre os fatores que condi- cionam o rendimento das producdes animais, a alimentagao, que fornece ao organismo as matérias necessdrias a elaboragéo das pro- ducées, representa o meio mais eficaz de que dispomos atualmente Podemos selecionar os individuos mais aptos mas ndéo sabemos modificar a nosso gosto a capacidade intrinseca de produgéo de um determinado animal. Temos que aceitar as condicées naturais impostas pelo clima, se bem que nos esforcemos em constituir ao redor do animal um microclima que o proteja mais ou menos eficazmente dos efeitos ambientais e que Ihe seja favordvel. Pelo contrario, as possibilidades de ago que nos s&o oferecidas pela alimentacdo sao muito amplas e nao sao limitadas a nao ser pela capacidade prépria de utilizagdo do organismo considerado. A cobertura das necessidades nutritivas representa, antes de tudo, PRODUCAO. O problema da alimentagdo ou arragoamento tem por base o conhecimento das necessidades nutritivas do organismo, em funcéo de sua espécie, de sua idade, de seu sexo, de suas produgées: 6 um problema de ordem tedrica — A NUTRICAO. Ao equilibrar regimes alimentares os técnicos tém de pensar em termos de nutrientes antes de pensar nos alimentos que os integram. Atualmente os nutrientes conhecidos consistem em pelo menos 12 aminodcidos essenciais e suas inter-relagdes com os demais, 17 vita- minas, 15 ou mais minerais, acidos graxos, glicidios e fatores ainda nao identificados. Estes nutrientes tém de ser administrados em tal proporcao, dosificagao e forma, que nutram adequadamente o animal em quest&o, tendo em conta os varios fatores ja citados. Ndo sé é importante a quantidade do nutriente, mas também o é da-lo em propor¢do correta em relacao aos outros nutrientes, para que tenha utilidade maxima. Tal quantidade e proporgdo variam com a idade do animal, a fase e o sistema de producao. O problema da alimentagao ou do arragoamento tem por objetivo traduzir as necessidades nutritivas tedricas em necessidades alimen- © OBJETIVO DA NUTRIC AO E DA ALIMENTAZAO ANIMAL 15 tares reais, quer dizer, de lormular ragoes, regimes alimentares, Este aspecto é mais complexo do que aquele da nutrigdo. Com efeito, ana- lisado um caso considerado, o problema da nutrigéo comporta uma solugdo étima, expressada por um numero limitado de termos. Ao contrario, as solucdes possiveis do problema do arragoamento corres- pondente sao numerosas, em virtude da quantidade de alimentos que podem ser utilizados para cobrir as necessidades nutritivas dentro do programa mais econémico. Por outro lado a alimentagao implica também aspectos outros que Ihe sdo préprios: — os alimentos nao devem conter substancias nocivas; — devem ser adaptados as particularidades anatOmicas e funcio- nais dos animais aos quais sao destinados, particularmente muito dife- rentes de uma espécie para outra; — em cada espécie a alimentagao deve estar em acordo com a capacidade de utilizagdo de cada individuo; — a escolha dos alimentos é igualmente orientada pelas consi- deragées de ordem econémica; possibilidade de reabastecimento, custo dos alimentos, que colocam em questao um terceiro aspecto, produgao e a distribuigéo dos alimentos. O animal doméstico é um transformador de produtos néo utilizaveis ou dificilmente utilizdveis pelo homem. O problema da alimentagéo esta em grande parte condicionado pela produgao agricola. Por outro lado, os animais domésticos utilizam subprodutos provenientes da preparagaéo dos alimentos destinados ao homem e por vezes residuos da alimentacao humana. Assim o abaste- cimento dos animais compreende questées miltiplas, producao pro- priamente dita, colheita, conservacao, transporte, complementagao e distribuigaéo. A natureza e a importancia relativa destes aspectos séo sensivelmente diferentes no caso dos animais domésticos € do homem. Os dados fornecidos pelos conhecimentos da nutrigéo devem dominar o problema do arragoamento e, portanto, do abastecimento. Essa subordinacéo é indiscutivel no caso da alimentagéo humana, sendo origem de uma das regras que deveriam inspirar uma orga. nizagao racional da producao agricola. No caso da alimentacdo animal no sé os dados da nutricéo devem guiar o estabelecimento do arra- goamento, porquanto este 6 amplamente dominado pelo aspecto eco- némico. Por outro lado, o arragoamento do animal esta estreitamente associado e muitas vezes subordinado a alimentagao humana, de qual é auxiliar. A relagdo de dependéncia entre os trés problemas: nutrigdo, entacéo e abastecimento, é sensivelmente diferente para os animais e para o homem, e os problemas que se devem considerar em cada caso sao diferentes, embora com estreita correlacao. 16 NUTRIGAO ANIMAL Cabe ao veterinario, ao agronomo e ao zootecnista conhecerem profundamente os problemas da nutri¢o animal, porquanto a mesma representa e condiciona aquilo que é a finalidade das suas carreiras: a produgao de alimentos para as populacées. Capitulo 2 OS ALIMENTOS E OS PRINCIPIOS NUTRITIVOS — COMPOSICAO DOS ANIMAIS E DOS VEGETAIS DEFINICAO DE ALIMENTO E DE TERMOS RELACIONADOS — CLASSIFICACAO Varias so as tentativas de definir alimento: “tudo o que 6 capaz de reparar a perda das partes solidas ou fluidas de nosso corpo (corpo animal) merece o nome de alimento” (LEMERY) ; “o alimento 6 uma substancia tomada de um meio exterior, necessaria a manutengéo dos fendmenos do organismo vivo e a reparagao das perdas do mesmo organismo” (CLAUDE BERNARD) ; “chama-se alimento tudo o que leva ao organismo a matéria e a ener- gia que lhe séo necessdrias” (DASTRE). Todas estas definigdes, no entanto, sao imperfeitas, pois levam a concluir a existéncia de substancias que, tomadas individualmente, so capazes de manter a vida, o que € 0 mesmo que admitir a exis- téncia de alimentos completos. Nao existem alimentos naturais completos. A alimentagaéo dos organismos animais exige a associacéo de diversos alimentos em uma racdo. Nem o leite nem os ovos sao alimentos completos; complementam as necessidades de um estagio da vida: a primeira infancia dos mamiferos e os embrides das aves. Assim mais certa ser a definigéo dada por JACQUOT: *alimento € uma substancia que, consumida por um individuo, 6 capaz de contribuir para assegurar o ciclo regular de sua vida e a sobrevi- véncia da espécie @ qual pertence”. Uma determinada substancia pode ser alimento para um animal ou para uma dada espécie, mas pode deixar de ser alimento para um outro animal ou outra espécie. Ressalta-se nesta definigao o fator fundamental: “O valor nutri- tivo de um alimento determinado nao é uma caracteristica imutével 18 NUTRIGAO ANIMAL em si, ela depende da composigao da ragdo, quer dizer, dos outros alimentos que a constituem”. Assim, o conceito de alimento é muito amplo pois engloba todas as substancias que podem ser incluidas nas dietas dos animais por conterem nutrientes. Estas substancias compreendem nao somente os produtos vegetais e animais e seus subprodutos, mas também substancias nutritivas puras, quimicamente sintetizadas ou pro- duzidas por processos outros, como, por exemplo, as fermentagoes microbianas. O conceito acima estabelecido implica necessariamente outros aspectos: a substancia considerada como alimento nao pode portar substancias téxicas. Neste particular veremos, na continuidade, que sob o aspecto da toxicidade devemos considerar a toxicidade por espécie, pois a substancia que 6 téxica para uma determinada espécie pode nao produzir efeitos negativos para outra espécie. Devemos considerar também a possibilidade de inativar o toxico, o que, eviden- temente, depende da resposta econémica a solugdo do problema. Outro aspecto a considerar em um alimento € a sua apetibilidade ou palatabilidade, ou seja, o seu grau de aceitagao pelo animal. Também heste particular existem hoje substancias cuja Unica fungao é tornar aceitavel pelo animal alimentos que, no estado natural, seriam rejei- tados, contribuindo assim para ampliar o campo dos alimentos. Afora os aspectos j4 mencionados, o valor de uma substancia tida como alimento 6 baseado em seu teor de nutrientes. Morrison define nutriente como o constituente, ou grupo de constituentes dos alimentos, de igual composi¢ao quimica geral que ajuda a manter a vida animal. E importante considerar como se encontram os nutrientes no alimento, seus fatores de flutuagao e aqueles que maior interesse representam para a nutrigao animal. Submetendo-se um alimento a 105°C em uma estufa até peso constante, vamos verificar que a quan- tidade inicial diminui em seu peso e volume. A esta temperatura a perda sofrida pelo alimento foi seu teor em 4gua. Assim, em uma primeira diviséo podemos dizer que os alimentos sdo constituidos por agua (umidade) e matéria seca. Agora, submetendo a matéria seca (M.S.) a 550°C, vamos verificar que parte do alimento se queima e se volatiliza, restando um residuo que 6 chamado de residuo mineral ou cinzas. A parte que entra em combustéo 6 a matéria organica do ento e a cinza seu contetido mineral. Entendemos, assim, que um alimento, além de certo teor em 4gua, possui constituintes organicos e minerais, estes dois ultimos contidos na chamada matéria seca* do alimento. Obviamente, nestes dois grandes grupos estao contidos os nutrientes organicos e os minerais e ambos est&o contidos na matéria seca dos alimentos. O teor em 4gua dos alimentos e conse- qientemente sua matéria seca podem variar de 5 a 95%, variando, (+) £ importante enfatizar, desde 14, que todo 0 equilfbrio nutricional de uma ragfo 6 feito com base ‘om nutrientes referidos & matéria seca da mosma. OS ALIMENTOS E OS PRINCIPIOS NUTRITIVOS 19 portanto, seu conteddo em nutrientes. O valor nutritivo de um alimento depende, assim, em principio, do seu teor em matéria seca. Alimegto Agia Matéria Seca (umidade) Matéria“organica Matéria mineral Interessa-nos, neste capitulo, conhecer a composicao quimica dos alimentos para melhor avalia-los em seu potencial em nutrientes Nos capitulos seguintes esta avaliagao se seguiré sob o aspecto bioldgico, isto é, do ponto de vista de sua utilizacao pelo animal, como sejam: a digestibilidade, a absorcéo e o metabolismo intermediério, bem como a inter-relagao entre nutrientes. Continuando o estudo dos componentes quimicos dos alimentos e fracionando as duas subdivisdes do esquema acima, vamos verificar que, na matéria organica dos alimentos, encontramos quatro grupos de substancias diferenciadas por suas propriedades quimicas, fisico- quimicas e biolégicas que sao: os glicidios ou carboidratos, os lipidios, as proteinas e as vitaminas. Na materia mineral, por sua vez, encon- tram-se todos os elementos minerais conhecidos, mas em quantidade e formas varidveis. Certos minerais estao presentes na forma de tracos (oligoelementos minerais. microelementos minerais, ou mine- rais tracos) sob forma mal definida e, algumas vezes, em estado livre Outros minerais existem em quantidades significativas, constituindo os chamados macroelementos minerais, que podem ser encontrados em estado sdlido cristalizado, ou em solugaéo no meio celular ou nos liquidos intersticiais e circulantes, ora em estado ionizado, ora nao ionizados. Outros. enfim, encontram-se combinados com a matéria organica perdendo, assim, temporariamente, suas caracteristicas de matéria mineral. Quimicamente, entretanto, vamos considerd-los so- mente como minerais propriamente ditos, e dividi-los em grupos: os macroelementos e os microelementos minerais. Ao primeiro grupo pertencem 0 sédio, o fosforo, 0 célcio, 0 cloro, o potassio, o magnésio, 0 enxofre, etc., e ao segundo grupo 0 ferro, 0 iodo, o cobre, o fluor, © manganés, 0 zinco, 0 cobalto, o selénio, o molibdénio, etc. Ampliando 0 esquema de composigaéo quimica dos alimentos, teremos, portanto: Alimento. Agus MS. a Matéria Organica Matéria Mineral a / IN Glicidios Lipidios Proteinas Vitaminas Macroelémentos Microelementos 20 NUTRIGAO ANIMAL Prosseguindo na andlise dos constituintes da M.S., acima men- cionados, poderemos defini-los, subdividi-los e classifica-los como segue: A — GLICIDIOS OU CARBOIDRATOS Sao substancias organicas ternarias compostas de carbono, hidro- génio e oxigénio, encontrando-se o hidrogénio e o oxigénio nas mesmas proporgées que na formagdo da molécula de 4gua, donde o nome carboidrato. Sao constituidos principalmente de hexosanas, que séo formadas por hexoses ou moléculas de 6 d4tomos de carbono; de pentosanas que sao constituidas por pentoses ou moléculas de 5 dtomos de carbono. Outras moléculas, como as trioses e dioses, estéo algumas vezes presentes, porém em pequenas quantidades e geralmente nao importantes. Sao representados principalmete pelos acucares, os amidos, as celuloses, as gomas e substancias afins. Os glicidios sao sintetizdos pelos vegetais clorofilianos, a partir do gas carbénico e da agua, pela fotossintese, segundo a reacéo seguinte: 6CO, + 6H.O + 673 Cal —> CsHnOs + 602 Esta reagdo utiliza a energia luminosa para se efetuar. O termo glicidio ou glucidio deriva-se do grego glukus que signi- tica doce e compreende exclusivamente os acticares redutores e seus compostos que, por hidrélise, dio um ou mais acucares redutores. Os acticares e 0 amido sao facilmente digeridos pelos animais e tém elevado valor alimenticio (energético). Por outro lado, a celu- lose e outros glicidios complexos s4o digeridos com mais dificuldade, implicando muito dispéndio de energia em sua digestdo, salvo nos ruminantes, cuja flora microbiana é de inestimavel valor para a di- gestao da mesma. A quantidade de glicidios no corpo animal é sempre pequena, porém continuamente substituida. Como veremos mais tarde, os gli- cidios constituem a principal fonte de calor para o corpo e de energia para a realizacdo de varios processos vitais. CLASSIFICAGAO DOS GLICIDIOS a — Actcares redutores nao hidroliséveis As OSES, que se classiticam conforme o numero de dtomos de carbono contidos na molécula. b — Os corpos que dao, por hidrélise, uma ou mais oses OS ALIMENTOS E OS PRINCIPIOS NUTRITIVOS 21 Os OSIDIOS Se todos os produtos da hidrdlise dos osideos séo oses serao denominados HOLOSIDIOS, que se classificam conforme o numero de oses obtidos na hidrdlise. Se as oses nao forem os Unicos resul- tantes da hidrélise, teremos os HETEROSIDIOS. Esta classificacao repousa essencialmente sobre o grau de condensag&o da molécula. nao levando em consideracaéo os grupos reagentes (aldeidos e ceto- nas), nem as propriedades éticas. — CLASSIFICAGAO DOS GLICIDIOS DOS ALIMENTOS NATURAIS | — OSES (monossacarideos) a—Trioses: dioxiacetona, ausente nos alimentos naturais. Gliceraldeido, constituinte das triose-fosfato. b — Pentoses: Ribose, constituinte das nucleoproteinas e presente em todos os tecidos. Xilose, presente no tecido de susten- tacaéo dos vegetais. Arabinose, gomas vegetais. Ramnose e fucose, presentes nas algas. c—Hexoses: Glicose, nos tecidos animais e vegetais, livre ou combinada (glicosamina). Manose, agucar protidico dos ani- mais. Galactose, constituinte da lactose do leite. Frutose, constituinte da sacarose e da inulina nos tecidos vegetais e presente no esperma animal. Il — OSIDIOS (polissacaridios) HOLOSIDIOS (Substancias que, por hidrolise, dao apenas glicidios) a — Diholosidios (Dissacaridios): séo formados por duas moléculas de monossacaridios com a perda de uma molécula de Agua. Os mais comuns sao: sacarose (cana-de-agticar, beterraba); trealose (cogumelos); lactose (leite); maltose (produto da hidrélise do amido e do glicogénio): celobiose (produto da celulose, por hidrdlise) . b — Poliholosidios (polissacaridios): sao formados por moléculas de hexoses. Os mais conhecidos sao: tafinose (triholosideo da beterraba); amido (reserva glicidica dos vegetais). O amido é o maior constituinte, proporcionalmente, da maioria das ragdes ani- mais. Hidrolisa dando a seguinte seqiéncia: Amido + H:0 —> Dextrina Dextrina + H:0 — Maltose Maltose + H:0 — Glicose Inulina: (reserva glicidica de certos vegetais). Na hidrdlise, principalmente da a frutose. Nao é glicidio muito comum, sendo encontrada em certos tubérculos. 22 NUTRIGAO ANIMAL Glicogénio: (reserva glicidica dos animais). E encontrado somente nos organismos animais, onde 6 produzido no tigado, sendo a fonte primaria de glicidios para os animais: sua hidrélise da a glicose. Celulose: E o principal constituinte da parede das plantas. Juntamente com as galactanas est4 presente em todos os vegetais. A celulose 6 mais abundante nos vegetais fibrosos e apresenta baixa digestibilidade, salvo para os ruminantes. Para outros animais como suinos e aves, além de ser de baixa digestibilidade, pode reduzir a digestibilidade de outros nutrientes. ignina: a lignina pertence ao grupo das matérias pécticas. Nao 6 um glicidio verdadeiro. Contém demasiado carbono para se enquadrar como carboidrato, também nao se encontrando o hidrogénio e o oxigénio na proporgado correta. E encontrada principalmente nas palhas, cascas de cereais e de plantas. Nao 6 utilizada pelo trato digestivo dos animais, inclusive baixando a dige: idade de outros nutrientes. Mesmo para os ruminantes nao é utilizada por nao ser atacada pelos microrganismos do rumen. Certos autores referem que apre- senta grupamentos fendlicos que provocam a depressdo do desenvolvimento dos microrganismos do rimen. A lignina, porém, é uma fonte potencial muito importante para o forne- cimento de carboidratos aos ruminantes uma vez que, por processos de hidrdlise acida ou alcalina, ou por processamento a vapor, sob presséo, pode ter sua molécula quebrada tor- nando-se, entdo, utilizével para os herbivoros. Outros polissacaridios: quitina, presente nos insetos e vege- tais inferiores, pertence como a lignina ao grupo de substan- cias chamadas pécticas. Gomas, constituida de pentosanas, so representadas principalmente pela xilana e arabana, pre- sentes nos tecidos de sustentacao dos vegetais. HETEROSIDIOS Sao substancias que, por hidrélise, dao glicidios e outros componentes nao pertencentes aos grupamentos glicidicos. Encontram-se principalmente no reino vegetal. A fragao nao glicidica é formada de taninos, flavonas, alizarina, etc. Sao desprovidos de interesse como alimentos. Sao substancias geralmente dotadas de propriedades farmacodinaémicas ou tdoxicas. Aos glicidios ligam-se substancias diversas que interes- sam @ alimentacdo: acido ascérbico (vit. C), inositol. ciclo- exano-hexol, produtos fendlicos ou polifendlicos: derivados das naftoquinonas (vit. K); derivados dos terpenos farnesol da vitamina K produtos: do metabolismo dos ag¢ticares: dcido latico, Acido pirtvico, dcido citrico, Acido malico e outros OS ALIMENTOS E OS PRINCIPIOS NUTRITIVOS 23 Os alimentos glicidicos tém principalmente origem vegetal: os gréos de cereais ricos em amido; as folhas dos vegetais, as palhas, os talos, ricos em celulose; os tubérculos e raizes ricos em fécula e€ acticares; os frutos, ricos em acucares e 4cidos organicos. O Unico alimento glicidico importante de origem animal é 0 leite, em fungao da lactose, uma vez que 0 glicogénio da carne e do figado € muito prontamente transformado em dcido latico. De todos os glicidios citados, apenas trés tém realmente interesse na ALIMENTACAO animal: a glicose que representa o tipo do nutri- ente glicidico celular; 0 amido que representa a reserva glicidica do mundo vegetal e ocupa lugar importante na alimentagao humana e animal e finalmente a celulose, de inegavel valor na nutri¢do dos ruminantes. B — LIPIDIOS Alimentos vegetais e animais possuem substancias insoltveis na agua, mas extraiveis pelos solventes organicos: éter, cloroférmio, benzeno, etc. Ao conjunto dessas substancias dése o nome de lipidios. Os lipidios contém carbono, hidrogénio e oxigénio, com mais carbono e hidrogénio em proporgao ao oxigénio do que os glicidios. Compreendem os gliceridios das gorduras naturais (lipidios pro- priamente ditos), seus ésteres e substancias com propriedades and- logas: fosfatidios, esterdis, etc. Os gliceridios sao também chamados gorduras neutras; foi o quimico francés Chevreul que ao final do século XIX, estabeleceu de maneira definitiva sua transformagao, sob a agao de dlcalis, em dcidos graxos e glicerol. Do ponto de vista quantitativo, as graxas neutras constituem a fracdo lipidica mais importante. porém existem substancias lipidicas, presentes em pequenas quantidades nos alimentos, que representam importantissimo papel na nutrigéo, como o caso da vitamina D. Os lipidios constituem um grupo muito complexo, cuja unica caracteristica comum é a propriedade de se dissolverem nos sol- ventes org&nicos. — CLASSIFICAGAO DOS LIPIDIOS A classificacao dos lipidios é bastante arbitraria, em virtude do muito que ainda existe por desvendar neste complexo de substancias. — CLASSIFICAGAO DOS LIPIDIOS DOS ALIMENTOS NATURAIS | — LIPIDIOS SIMPLES — Esteres de Acidos graxos e de dife- rentes alcoois. a — Gliceridios — Esteres dos acidos graxos e do glicerol: gor- duras neutras;

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