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O GLOBO ● ECONOMIA ● PÁGINA 42 - Edição: 20/03/2011 - Impresso: 19/03/2011 — 02: 30 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO

42 ●
ECONOMIA O GLOBO Domingo, 20 de março de 2011
.

Fotos de Ana Branco

Um Rio mais verde para


debater o clima Reflorestamento e projeto para
reduzir pobreza antecedem
reunião da ONU

TELHADO VERDE no
morro da Babilônia,
no Leme, vai ser
apresentado na Rio +
20 como um dos projetos
de UPP Verde, que já
conta com adesão de
empresas privadas

Liana Melo e Emanuel Alencar nas últimas duas décadas. —


CORPO A CORPO

F
Seja por carência de institui-
oi a falta d’água que levou
Dom Pedro II a encomen-
ções, seja por um sistema de-
cisório que tenha condições de LUIZ ALBERTO FIGUEIREDO MACHADO Sucessos e
dar o replantio de pra-
ticamente toda a Floresta
proteger as populações mais ca-
rentes e vulneráveis, que, no fracassos
da Tijuca. Eram meados do sé-
culo XIX quando a crise am-
fundo, tornam-se as mais atin-
gidas pela crise ambiental.
‘Não existe qualquer tipo de penalidade’ desde a Rio 92
biental se apresentava como um Economista de formação, mas ● Se dependesse apenas dos europeus, o MACHADO: Vamos olhar para frente com
temor tão improvável quanto ambientalista por autodefinição, Programa das Nações Unidas para o Meio base na compreensão das lições do passado. ● Ainda que não esteja
distante. A ousadia fez do Brasil Besserman está convencido de Ambiente (Pnuma) seria elevado à ca- O que significa que novos temas entrarão no sendo convocada como
um dos primeiros países a pro- que o Rio é a melhor tradução tegoria de agência internacional da ONU. debate, porque, nos últimos anos, passaram uma reunião de chefes de
tagonizar um reflorestamento de do “desafio” que a Humanidade Só que os países em desenvolvimento, a ter relevância. Não só a questão da água, da Estados, a Rio + 20 tem
tal proporção com espécies na- está enfrentando para lidar com com exceção do Brasil, são contrários a segurança alimentar e a questão energética, tudo para repetir o suces-
tivas. Em pleno século XXI, o Rio o tripé desenvolvimento social, uma mudança de status do Pnuma. O tema mas a própria mudança climática mudou de so da Rio 92. Mas por mo-
de Janeiro tenta reprisar a sua econômico e ambiental: já virou assunto recorrente nas reuniões status na discussão ambiental. Vamos olhar tivos menos nobres: a crise
própria história, com o reflo- — O Rio é visto como capital preparatórias da Rio + 20, que estão ocor- retrospectivamente, mas não faremos um ambiental, nos últimos 20
restamento de 1.300 hectares do ecológica do planeta, ainda que rendo em Nova York. O diretor-geral do exercício de recriminação. anos, recrudesceu, em vez
Parque Estadual da Pedra Bran- os cariocas emporcalhem as la- Departamento de Meio Ambiente do Mi- de arrefecer. A Rio 92 é
ca, considerado a maior reserva goas e façam ocupação irregular nistério das Relações Exteriores, Luiz Al- ● Além do tema central da conferência, que considerada um marco im-
florestal urbana do mundo. Só e desmatamento — ressalta Bes- berto Figueiredo Machado, admitiu tam- será “Economia verde no contexto do de- portante nas discussões
que agora, ao contrário da época serman, admitindo, no entanto, bém que o encontro será o momento senvolvimento sustentável e erradicação da sobre mudança climática,
de Dom Pedro II, não mais com que a cidade é dona de “ativos oportuno para discutir uma nova gover- pobreza”, quais outros temas estarão no porque foi a primeira vez
ajuda de meia dúzia de escravos, naturais” de valor incalculável. nança internacional. centro das atenções? em que polos, até então
que fizeram o replantio da Flo- — O Rio é a própria expressão do MACHADO: Os europeus defendem a subs- vistos como opostos, se
resta da Tijuca junto com o desafio da Humanidade, porque, Liana Melo tituição do Pnuma por uma agência in- encontraram: o desenvol-
major Archer, o seu primeiro ao mesmo tempo que a cidade é ternacional. Os países em desenvolvimen- vimento econômico pas-
administrador — sucedido pelo um cartão postal de lagoas e O GLOBO: Lá se vão quase duas décadas to não concordam. O Brasil tem uma po- sou a ser discutido a partir
Barão Gastão d’Escragnolle. Ho- florestas, é uma metrópole de 12 desde a Rio-92. Como o senhor avalia a sição flexível nesta questão, ainda que de variáveis ambientais.
je, o reflorestamento virou ne- milhões de habitantes. evolução do tema nesses 20 anos? considere que a criação de uma agência Além da Agenda 21 —
gócio e vai envolver investimen- LUIZ ALBERTO FIGUEIREDO MACHADO: A resolve única e exclusivamente a questão um roteiro alentado em
tos de R$ 22 milhões ao ano, até Mudas e redução da miséria Rio-92 foi um grande marco conceitual na evo- ambiental. Defendemos a sinergia entre os prol do desenvolvimento
as Olimpíadas de 2016. no Parque da Pedra Branca lução do debate internacional sobre meio am- três pilares do desenvolvimento susten- sustentável —, aprovou-
Batizado com o sugestivo no- Ação coordenada pela pre- biente. Foi a primeira vez que a questão am- tável. Outro tema central é a questão da se a convenção Quadro
me de Parque de Carbono — feitura e pelo governo do es- biental se encontrou com o desenvolvimento governança internacional. A governança sobre Mudança Climática,
numa alusão à construção de tado, o Parque de Carbono con- econômico e social. Desde a conferência de precisa urgentemente ser aprimorada, seja além das de biodiversi-
uma economia de baixas emis- siste no reflorestamento de Estocolmo, que ocorreu nos idos dos anos 70, com a criação de algo novo ou com a dade e combate à deser-
sões de gases de efeito estufa —, 1.300 hectares, de um total de até a Rio-92, o tema ambiental vinha sendo reestruturação dos órgãos existentes. É tificação. Em 2002, foi a
o projeto será apresentado na 12.500 do Parque da Pedra Bran- discutido isoladamente. Foi na conferência do que não existe hoje qualquer tipo de pe- vez de Johannesburgo, na
conferência ambiental das Na- ca, que corta bairros pobres da Rio que se deu a ruptura, propiciando a sinergia nalidade. O tempo mostrou que a Comissão África do Sul. A Rio + 10
ções Unidas, a Rio + 20, que vai Zona Oeste da cidade. Ambien- desses três pilares. de Desenvolvimento Sustentável, órgão não teve desfecho tão fa-
ocorrer em junho de 2012. Seu talistas cariocas enxergam no criado na Rio-92, não funciona, assim como vorável e acabou virando
reflorestamento se enquadra projeto um resumo do escopo ● O objetivo é fazer um balanço de 20 anos? vários outros órgãos da ONU. “Rio menos 10”.
perfeitamente no tema da con- da Rio + 20, ao aliar reflores- .

ferência: “Economia verde no tamento à inclusão social.


contexto do desenvolvimento De acordo com o diretor de litros, que vão para fábricas de
sustentável e erradicação da po- Biodiversidade e Áreas Prote- sabão e biodiesel. Cada uma das
breza”. Seja porque vai amor- gidas do Instituto Estadual do 30 cooperativas ganham cerca
tizar as emissões de gases de Ambiente (Inea), André Ilha, a de R$ 200 mil anualmente. É uma
efeito estufa dos campos de tes- meta é reflorestar a vertente nor- pequena revolução verde.
te do pré-sal ou porque vai in- te da unidade de conservação — Afiliada da Michelin, a Re-
corporar mão de obra carente que vai de Vila Valqueire a Bangu ciclanip participará da UPP Ver-
do Morro da Babilônia, no Leme, — em cinco anos. A primeira de da Babilônia fornecendo as-
na Zona Sul do Rio. etapa, já em curso, consiste no falto-borracha para as ruas da
plantio de 204 hectares pela Pe- comunidade. A novidade é que a
Encontro terá 50 mil pessoas trobras, uma medida de com- nova pavimentação, feita a par-
e movimentará R$ 80 milhões pensação pelas emissões em tir da trituração de pneus in-
Ainda que não esteja sendo campos de testes do pré-sal. servíveis, tem uma camada com
convocada como uma reunião A segunda fase, a ser custeada MORADORES metade da espessura normal e
de chefes de Estado, como a Rio pelo BNDES, deverá abarcar mais REAPROVEITAM dura 40% mais que o tradicional,
92 — a primeira conferência 300 hectates. Outros 600 hec- embora as emissões de carbono
tares ficarão sob responsabili- a água da no processo de fabricação dos
mundial da ONU que tratou es-
pecificamente dos problemas de dade do Arco Metropolitano, já chuva para uso dois tipos seja a mesma.
biodiversidade e mudanças cli- que a exigência foi incluída como — O asfalto-borracha reduz o
condicionante para licenciar as doméstico. ruído e tem durabilidade de 20
máticas —, o encontro ocorre
num momento em que a crise obras. Os hectares restantes es- Alternativa que anos, o dobro do convencional
ambiental só se agrava. Mesmo tão sendo reflorestados com a — diz Glauce Ferman, respon-
ajuda de 42 moradores do Morro junta um sável por Relações Institucionais
que não consiga juntar 112 pre-
sidentes, como há 20 anos, o da Babilônia. O salário vai variar projeto verde à para a Michelin América do Sul.
presidente da Câmara Técnica de R$ 600 a R$ 1.400. Encarregado da manuten-
— Vamos chegar a 24 mi- redução da ção do telhado verde da Ba-
de Desenvolvimento Sustentável
da Prefeitura do Rio de Janeiro, lhões de mudas, o que é uma pobreza bilônia, o marceneiro Jorge Ri-
Sérgio Besserman, aposta an- meta perfeitamente exequível cardo Santos, de 47 anos, afir-
tecipadamente num sucesso. — afirma Ilha. tropical do mundo com vocação menos energia, à implementação que existe há dez anos. Até mes- ma que o reaproveitamento de
Sua expectativa é de que a Rio + econômica, baseada na riqueza de um horto comunitário — co- mo um telhado verde já foi ins- água já é uma realidade:
20 atraia 50 mil pessoas e mo- UPP Verde: Babilônia terá da sua biodiversidade”. meçam no próximo semestre. talado em cima de um colégio. — Além de tornar o refeitório
vimente R$ 80 milhões. A pre- projeto-piloto Em 2012, o Rio quer mostrar A favela foi a escolhida por — A Rio + 20 será a opor- da escola menos quente, o te-
feitura do Rio já manifestou o Sinônimo de florestas, o des- ao mundo que já desenvolve algumas razões. Além de ser uma tunidade de discutirmos os em- lhado verde armazena a água que
interesse em levar a conferência matamento será inevitavelmente projetos verdes de inclusão so- comunidade pequena, de cerca pregos verdes. Vamos mostrar usamos para lavar louças, regar
para o Cais do Porto. Mas a ONU debatido na Rio + 20, assim como cial. Chamado informalmente pe- de quatro mil moradores, foi a que o Rio está na dianteira de plantas. É uma alternativa ao
ainda não bateu o martelo. alternativas econômicas para a lo secretário estadual do Am- pioneira em um bem-sucedido várias iniciativas. Na Babilônia, amianto, nocivo à saúde. A água
— Espero que seja uma reu- região. Às vésperas do Dia In- biente, Carlos Minc, de “UPP Ver- programa de replantio de mudas teremos asfalto-borracha, ilumi- entra na terra, é filtrada, e vai
nião que influencie o pensamen- ternacional da Árvore, comemo- de”, o programa ecológico das da Mata Atlântica, e já possui nação ecológica, horto comu- para uma caixa d’água. Apren-
to da civilização — filosofa Bes- rado amanhã, o consenso entre Unidades de Polícia Pacificadora uma turma engajada em projetos nitário e programa de reuso do demos toda a tecnologia com o
serman, ao admitir que o mun- ambientalistas e até mesmo eco- terá seu projeto-piloto na Ba- ambientais — a Cooperativa de óleo de cozinha — planeja Minc. Instituto Tibá (em Bom Jardim,
do não está conseguindo res- nomistas, como Besserman, é bilônia. As intervenções no mor- Trabalhadores em Refloresta- — A coleta de óleo de cozinha Região Serrana) e agora cami-
ponder à altura os desafios que que a Amazônia tem tudo para se ro — que vão da instalação de mento e Prestação em Serviços no estado é um sucesso. Por nhamos com nossas próprias
a crise ambiental vem impondo transformar na “primeira área lâmpadas LED, que consomem da Babilônia (CoopBabilônia), ano, recolhemos seis milhões de pernas — comemora. ■

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