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Ligagdes Atémicas 10 LIGAGOES ATOMICAS 114. INTRODUGAO O comportamento de um material pode ser eficientemente previsto a partir da analise do mesmo acs niveis subatémico, atémico ¢ microscépico, Assim, toma-se necessario examinar 0 mesmo, no tocante aos atomos que constituem o material, bem como o comportamento eletrénico dos mesmos. A estrutura de qualquer material 6 diretamente dependente dos tipos de atomo envolvidos e das ligapbes atomicas que eles formam. 112. INTERAGOES ATOMICAS ‘A base de qualquer unidade estrutural em ciéncia e engenharia de materiais ¢ © tomo. O dtomo consiste basi ente de trés particulas subatémicas: protons, elétrons e@ néutrons. No centro do atomo localiza-se o nucleo, que tem diametro proximo a 10m. Este nucleo ¢ envolvido por uma nuvem de elétrons de densidade variével, que resulta em um diametro atémico final de 10“°m. No nucleo, onde residem prétons e néutrons, esté a quase totalidade da massa atémica. A massa de um proton 6 igual a 1,673x10™g e sua carga elétrica é de +1,602x10"" coulombs (C). © néutron 6 pouco mais pesado que o préton e tem massa igual a 1,675x10%g porém, ¢ eletricamente neutro. O elétron tem massa de 9,109x107%g e carga igual a - 1,602x10? coulombs. Portanto, a quase totalidade do volume atémico concentra-se na nuvem de elétrons, porém, esta colabora com apenas uma pequena parte da massa final do tomo. Os elétrons, particularmente os mais extemos, determina a maioria das caracteristicas elétricas, mecanicas, quimicas e térmicas do dtomos e assim, o conhecimento basico do mesmo é necessario no estudo dos materiais. A estrutura interna dos materiais é resuttado da agregagao de tomos obtida através de forgas de ligagéo interatémicas. Esta agregagdo, em fungao das caracteristicas de tais ligagdes, pode resultar nos estados sdlido, liquido e gasoso. Basicamente, os atomos podem atingir uma configuraggo denominada de estavel a partir de trés maneiras, quais sejam: ganho de elétrons, perda de elétrons ou compartilhamento de elétrons. A facilidade em ganhar elétrons caracteriza 0 atoro como elemento eletronegativo; a facilidade em perder elétrons o caracteriza como sendo um elemento eletropositivo. Existem também os dtomos que ndo apresentam facilidade em perder ou ganhar elétrons. Estas caracteristicas atémicas resultam na Ligacées Atémicas 11 existéncia de trés tipos de ligagdes atémicas, denominadas como primarias ou fortes, que s&o mostradas na tabela Il.1 ELEMENTO ELETROPOSITIVO + LIGAGAO IONICA ELEMENTO ELETRONEGATIVO ELEMENTO ELETROPOSITIVO + LIGAGAO METALICA ELEMENTO ELETROPOSITIVO ELEMENTO ELETRONEGATIVO. + LIGAGAO COVALENTE ELEMENTO ELETRONEGATIVO Tabela Il.1. Relag&o entre caracteristicas atémicas e ligagdes resultantes. 13. LIGAGOES IONICAS E 0 resultado da interagdo entre ions positives (cétions) e negatives (anions). Um exemplo que pode ser considerado classico de ligagao idnica acorre na formago do NaCl (sal de cozinha). A estrutura formada pelo NaCl é exibida na figura Il.1. ESTRUTURA DO Nacl C1- (VERTICES) © Cl (FACES) © Na + (INTERSTICIOS) 7, @ Figura II.1. Estrutura formada pelo NaCl. O sédio possui as duas primeiras camadas eletrénicas completas e a terceira com apenas um elétron. Isto mostra que o Na tem facilidade em perder um elétron {eletropositivo) para adquirir a configurago eletrénica estavel. Por outro lado, 0 claro apresenta em sua camada mais externa sete étomos ou seja, ele tem facilidade em Ligagbes Atcmicas 12 receber um elétron (eletronegativo) e tomar-se eletronicamente estavel. Quando o Na e Cl reagem, os elétrons extemos dos atomos de sédio transferem-se para os atomos de cloro, produzindo ions-sédio Na’ e os fons-cloretos CI, que sao mantidos juntos pela atracSo eletrostética de suas cargas opostas, formando o NaCl 1.4. LIGAGOES COVALENTES Quando dois elementos eletronegativos reagem entre si, nao é formada uma ligagao iénica, pois os dois tomes tém facilidade em receber elétrons. Neste caso, a configuragao estavel dos dois elementos ocorre por compartilhamento de elétrons. Como exemplo, pode-se citar a formagao da molécula de cloro Ch. Cada atomo de cloro compartilha um de seus elétrons com outro 4tomo. Dessa forma, um par eletrénico pode ser compartilhado igualmente por dois tomas e, cada dtomo, tem na sua camada mais externa, seis elétrons originalmente dele e um par compartilhado. Isto torna cada atomo eletronicamente estdvel, e 0 mesmo atinge @ configuragéo do gas nobre argdnio. Da mesma forma, a formagao da molécula de oxigénio envolve 0 compartihamento de quatro elétrons. Ligagdes covalentes podem ser observadas no Si, como mostra a figura II.2. Figura Il.2. Ligagdes covalentes encontradas em um cristal de Silicio. IL5. LIGAGAO METALICA Esse tipo de ligagao 6 normalmente encontrado em metais e envolve a interago de elementos eletropositives. A ligagéio metalica é resultado da ago entre Ligagbes Atémicas 13 elétrons livres (nuvem eletrénica) e ions positivos. Estes elétrons livres sao originarios da Utima camada de valencia, fracamente presos ao tomo, e que estao livres dentro da estrutura metalica. Através de tais elétrons pode-se explicar as altas condutividades elétrica e térmica dos metais. A figura IL3. Mostra as ligagées metalicas observadas em metais. Figura II.3. Ligagdes metdlicas (nuvem de elétrons) encontradas nos metais. Qs trés tipos de ligagdes primarias mencionados raramente ocorrem individualmente. Na verdade, um mesmo material pode exibir uma combinagdo destes tipos, formando materiais com ligagSes mistas. Um exemplo é 0 NaNOs (nitrato de s6dio), que apresenta ligagées covalente no radical nitrato NOs’ ¢ ligagdes iénicas entre os fons Nae NOs. Uma outra classe de ligagdes, denominadas de ligagSes fracas, pode ser encontrada em algumas substAncias. Estas ligagdes contribuem para a atragdo entre atomes e sdo classificadas como forgas de Van Der Walls. Tal classe de ligagdes permite explicar a condensagao dos gases nobres (He, Ne, Ar, Kr, Xe e Ra). Estes elementos apresentam orbitais perfeitamente completos (8 e 2 elétrons na ultima camada) e dessa forma tais atomos deveriam permanecer monoatémicos em qualquer temperatura. Entretanto, em temperaturas extremamente baixas, a existéncia das forgas de Van Der Walls pode provocar a uniao dos elementos nobres. 11.6. DISTANCIAS INTERATOMICAS Os dtomos constituintes de um material sdlido encontram-se em um estado de constante movimento vibrat6rio ao redor de suas posigdes de equilibrio. A intensidade de tal movimento vibratério depende da temperatura em que se encontra o material. Nos estudos das estruturas dos materiais sélidos, tal movimento pade ser considerado Ligagdes Atémicas 14 desprezivel ao se considerar que tal material 6 um agregado estatico de atomos interligados e localizados em pontos de equilibric de tais movimentos. Independente do tipo de ligagdo existente entre dois atomos do agregado atémico em questdo, seja ela ica, metalica ou ainda covalente, os pontos de equilibrio resuttam da interago de dois tipos de forga. O primeiro tipo 6 a forga de atragdo, que 6 resultante da ligag&o existente (iénica, metélica ou covalente) e é responsavel pela agregacao atémica. O outro tipo de forga a ser considerado 6 0 de repulsdo, que resulta da proximidade acentuada de nuvens eletrénicas dos atomos. Esta forca permite explicar a existéncia de "espacos vazios" no volume em tomo de um nucleo atémico. Tais vazios comprovam o movimento de néutrons dentro de determinados materiais utilizados na confeccdo de reatores nucleares. Os néutrons caminham através de muitos dtomos até colidirem com os niicleos. Este espaco interatémico € resultado da interagao entre forgas de repulsao com as de atragao dando origem a uma distancia de equillbrio entre os étomos, que € 0 ponto onde ambas as forgas s4o iguais. Em termos de energia, a distancia de equilibrio entre os atomos sera aquela em que a energia potencial tem valor minimo ou quando a forga de repulséo apresentar valor igual a de atragao. Para ilustrar a interagao de forgas pode-se tomar o caso de uma ligagdo iénica, ‘onde tais forgas podem ser determinadas mais facilmente. A forga de atragSo (Fa) neste caso é dada pela agdo de duas cargas pontuais noe “ ney onde Z; e Zp sao nUmeros de elétrons removidos ou adicionados aos atomos na formagao do ion, "e" € a carga do elétron, & é a permissividade do espago vazio (8,85x10*C7/Nm*) e "a" é a distancia interatémica. A forga de repulsao (Fr) em uma ligagéo iénica é encontrada experimentalmente como sendo inversamente proporcional a distAncia de separagao entre os fons e é dada pela equagao: (2) onde b e n sao constante, sendo que n vale entre 7 e 9 para a ligagao idnica no NaCl Assim, a forga resultante (Fras) 6 dada pela soma das forgas de atragao e repulsao Ligages Atémicas 15 _ ier) | FTotal 2 4ne ya (ll.3) A resistencia mecdnica de um material esta relacionada com a Frcia envolvida nas ligagées entre os atornos do mesmo. A forca resultante est4 associada a tensdo necesséria para separar dois tornos. Como conseqUéncia deste fato, forgas interatémicas elevadas apresentam energias de liga¢do absolutas também elevadas no porto de equilibrio, 0 que coresponde a materiais geralmente duros, como o diamante ou 0 silicio. Da mesma forma, o médulo de elasticidade do material, que 6 a medida de rigidez do mesmo, pode ser obtido pela derivagiio de Fraa em relagdo a distancia, em posigdes préximas ao ponto de equilibrio. A energia (E) associada a uma ligag&o iénica, como a encontrada no NaCl, é dada pela soma das energias envolvidas com a atrago € repulsdo dos ions. Esta energia de ligagao pode ser obtida pelo produto "forga x distancia", ou: a = , |- xe 228) - s+ laa (la) | 4nega ant que resulta em: 1 2) ob pe ize), & (is) Area al © termo relative @ energia de atragao corresponde a energia liberada quando os ions aproximam-se e 6 negativa devido ao produto de uma carga positiva por uma negativa (+Z; . -Z2). O termo ligado @ energia de repulsdo representa a energia absorvida quando os ions aproximam-se e € positiva. A soma destas duas energias tem seu ponto minimo quando os fons apresentam distancia de separacéo de equilibrio. A figura II.4 apresenta um diagrama esquematico das variagdes da forga total com a distancia de separa¢ao entre atomos. As ligagdes atémicas permitem que os atoms exibam o estado de agregagao sélido. Em fungao da natureza dessas ligagbes atomicas e da forma com que os tomes so arranjados no espago, € possivel prever propriedades, caracteristicas e 0 comportamento do material. Basicamente, pode-se classificar os arranjos atémicos dos materiais sdlidos em trés tipos de estruturas atémicas: estrutura cristalina, estrutura amorfa e estrutura molecular. Ligagaes Atomicas 16 traction Force Figura 1.4. Diagrama esquematico da interagao entre forgas de atragao e repuls4o no ponto de equillbrio. A estrutura cristalina caracteriza-se por arranjos atémicos ordenados espaciaimente. € a estrutura tipica dos metais. A estrutura amorfa caracteriza-se por apresentar arranjos atémicos desordenados e aleatérios, semelhante a estrutura do estado liquido. Entretanto, a estrutura amorfa pode exibir regides isoladas de ordenaggo atémica, sendo estas de curto alcance. A estrutura molecular se caracteriza pela existéncia de moléculas como unidade estrutural. Tais moléculas sao formadas por atomos arranjados de forma ordenada e pré-determinada. E 0 tipo de estrutura observada nos plasticos. EXERCICIOS IL1, Descreva sucintamente as ligagées atémicas primarias idnica, covalente e metalica. 1.2. Apos a ionizagao, por que um lon de sédio se tora menor que um atomo de sddio? 1.3. Apos a ionizag&o, por que um ion de cloro se torna maior que um atomo de cloro? Ligagdes Atémicas 17 11.4. Por que o diamante tem dureza muito elevada? 1.5. Por que os metais so bons condutores de calor e de eletricidade? 11.8. Calcule a forga de atrago entre o par iénico Na* e F’, quando os mesmos esto se tocando. Assuma que o raio idnico do Na* é 0,095nm e do F 6 0,136nm.

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