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A Era d. DTREITOS Deere de Celso Lafer f t f Inclui novo capitulo sobre os Direitos do Homem Hoje t ELSEVIER Editoraco Eletrénica: DTPhoenix Editorial Revisdo Grafica: Mariflor Brenlla Rial Rocha | Edna Rocha Elsevier Editora Ltda. Conhecimento sem Fronteiras Rua da Assembleia, n° 100 — 6° andar ~ Sala 601 20011-904 ~ Centro - Rio de Janeiro - RJ Av. Nagdes Unidas, n° 12995 - 109 andar 04571-170 - Brooklin - Sao Paulo - SP Servico de Atendimento ao Cliente 0800 026 53 40 atendimento1 @elsevier.com Consulte nosso catlogo completo, os tiltimos lancamentos e 05 servigos exclusives ao site www.elsevier.com.br NOTA Possamos esclarecer ou encaminhar a questado. Muito zelo e técnica foram empregados na edigdo desta obra. No entanto, podem ocorter erros de digitagao, impressao ou duvida conceitual. 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Titulo. 04-1016 CDD - 618.928917 CDU - 615.851.1-053.2 Digitalizado com Cam A ERA DOS DIREITOS Ao FAZ MUITO TEMPO, um entrevistador — apés uma longa conversa Nix as caracterfsticas de nosso tempo que despertam viva preocu- pagio para o futuro da humanidade, sobretudo trés, ofwumento cada vez maior ¢ até agora incontrolado da populagio, © aumento cada vez mais ripido e até agora incontrolado da degradagio do ambiente, © aumento cada mais ripido, incontrolado € insensato do poder destrutivo dos armamentos — perguntou-me, no final, se, em meio a tantas previsiveis ‘ wad gum sinal positivo. Respondi que sim, que via pelo menos um desses sinais: a crescente importéncia atribu(da, nos debates internacionais, entre homens de cultura ¢ politicos, em seminiirios de estudo e em conferéncias governamentais, a0 problema do reconheci- mento dos direitos do homem. O problema, bem entendido, nfo nasceu hoje. Pelo menos desde 0 inicio da era moderna, através da difusio das doutrinas jusnacuralistas, primeiro, e das Declaragées dos Direitos do Homem, inclufdas nas Consti- tuigdes dos Estados liberais, depois, o problema acompanha o nascimento, © desenvolvimento, a afirmagio, numa parte cada vez mais ampla do mundo, do Estado de direito. Mas € também verdade que somente depois da Segunda Guerra Mundial é que esse problema passou da esfera nacio- nal para a internacional, envolvendo — pela primeira vez na histéria — todos 05 poves. Reforgaram-se cada vi 2 dos direitos do homem, apresentados e comentados na “Introdugio geral causas de infelicidade, eu ais os trés processos de evolugiio na histéria 4 A antologia de documentos, «: ida por Gregorio Peces-Barba, Derecho positivo de los derechos humanos:' conversio em direito positivo, generali- io, internacion: 1. Sio varias as perspectivas que se podem assumir para tratar do tema dos direitos do homem. Indico algumas delas:filos6fica, histériea, ética, juridica, politica. Cada uma dessas perspectivas liga-se a todas as outras, mas pode também ser assumida separadamente. Para 0 discurso de hoje, escolhi uma perspectiva diversa, que reconhego ser arriscada, e talve: até pretensiosa, na medida em que deveria englobar e superar todas as outras: a perspectiva que eu s6 saberia chamar de filosofa da histria. Sei que a filosofia da histéria esta hoje desacreditada, particularmente no ambiente cultural italiano, depois que Benedetto Croce Ihe decretou a morte. Hoje, a filosofia da hist6ria € considerada uma forma de saber tipi- ca da cultura do século XIX, algo ja superado. Talve: a dltima grande tentativa de filosofia da histéria tenha sido a obra de Karl Jaspers, Vorn Ursprung send Ziel der Geschichte (1949),° que — apesar do fascinio que «emana da representagio do curso hist6rico da humanidade através de gran- des épocas — foi rapidamente esquecida e no provocou nenhum debate sério. Mas, diante de um grande tema, como o dos direitos do homem, dificil resistir a tentagio de ir além da histéria meramente narrativ De acordo com a opiniio comum dos toriadores, tanto dos « acolheram como dos que a recusaram, fazer filosofia da historia signific diante de um evento ou de uma série de eventos, por o problema do “sen tido", segundo uma concepgio finalistica (ou teleolsgica) da histéria (© isso vale no apenas para a historia humana, mas também para a histéria natural), considerando 0 decurso histérico em seu conjunto, desde suia origem até sua consumagio, como algo orientado para um fim, para um t#los. Para quem se situa desse ponto de vista, os eventos deixam de ser dados de fato a descrever, a narrar, a alinhar no tempo, eventualmente a explicar segundo as técnicas e procedimentos de investigagio, consolida- dos e habitualmente seguidos pelos historiadores, mas se tornam sinais ou indicios reveladores de um processo, no necessariamente intencional, no sentido de uma diregio preestabelecida. Apesar da desconfianga, ou até viyitalzauv Cul a diante da fils ‘ 4 na nartativa histcer Ihistdria, ser que poxtemos excluir mntetramente que cade 1 © historiador nto tenha plena consciéncta disso: Como pode um historiador do Ancien Régime ni quando wea os eventen do seu desenlace final na Grande Revol Como pode subtr nitdrios de uma meta preestabelecida ¢ j4 implicita neles? ralmente em fungio de finalidades proyetadas no futuro. Somente quando se leva em contaa fina inca que 0) st, andes eventos, oculta-se uma perspectiva deixar influenciar se.A tentagio de interprets-los como sinais premo- Ohomem é um animal teleolsgico, que atua lidade de uma ago € que se pode compreender o seu “sentido”. A pers pectiva da filosofia da historia representa a transposigio dessa (glo finalista da ago de cada indi to, como se a humanidade fosse um individu ampliado, ao qual atribut- mos as caracteristicas do individuo redusido, © que torna a filosofia da historia problemética ¢ precisamente essa transposigio, da qual no pode- ros fornecer nenhuma prova convincente. O importante € que quem ere oportuno operar essa transposigao, seja ela legitima ou no do ponto de vista do historiador profissional, deve estar consciente de que passa a se mover num terreno que, com Kant, podemos chamar de histéria proféti- a, ou seja, de uma histéria cuja fungio no € cognoscitiva, mas aconse~ Ihadora, exortativa ou apenas sugestiva. interpreta juo para a humanidade em seu conjun- 2. Num de seus tiltimos escritos, Kant pos a seguinte questo: “Se 0 género humano est em constante progresso para o melhor." A essa per- junta, que ele considerava como pertencendo a uma concepgio profética da historia, julgou ser poss(vel dar uma resposta afirmativa, ainda que com alguma hesitago. Buscando identificar um evento que pudesse ser considerado como um “sinal” da disposigiio do homem a progredir, ele o indicou no entusias- ‘mo que despertara na opiniio pablica mundial a Revolugio Francesa, cuja ‘causa s6 podia ser “uma disposigiio moral da humanidade”, “O verdadeiro entusiasmo — comentava ele — refere-se sempre ao que € ide: pPuramente moral (..),e nao pode residir no interesse individ a0 que & 2" A causa desse entusiasmo — e, portanto, 0 sinal premonitseio (signi prognosticum) da disposizio moral da humanidade — era, segundo Kant. o aparecimen- 10 dit hist6nia, do “diretto que tem um povo de ado ser impe- dido, por oureas forgas, de dar a si mesmo uma Constituiga boa”. Por “Constitu to, no cena jo civil que julia civil” Kant encende uma Constit Sjo em harmo- nia com on direitos seja, uma Constituigiio segun- ‘os que obedecem a lei devern também, reu Definindo o direito natura do a qual icdos, lewislar”.? como 0 direito que todo homem tem de obedecer apenas A lei de que ele mesmo é legtslador. Kant dava uma defi- niglo da liberdade como autonomia, como poder de legislar para si mes mo. De resto, no inicio da Metafisica dos costumes, excrita na mesma época, afirmara solenemente, de modo apoditico — como se a afirmagio nijo pudesse ser submetida a discussio que, uma ver entendide 0 direito como a faculdade moral de obrigar outros, o homem tem direitos inatos & audquiridos; € 0 nico direito inato, ou seja, transmitido a0 homem pela natureza e nio por uma auroridade constituida, independéncia em face de q) de do outro, ou, mais uma ve: a liberdade, isto & a quer constrangimento imposto pela vonta- a liberdade como autonomi Inspirando-me nessa extraordindria passagem de Kant, exponho a mi- nha tese: do ponto de vista da filosofia da histéria, o atual debate sobre os direitos do homem — ca mais amplo, cada vez mais intenso, tio amplo que agora envolveu todos os poves da Terra, to intenso que foi Posto na ordem do dia pelas mais autorizadas assembleias internacionais pode ser interpretado como um “sinal premonitério”(signum progmosticum) do progresso moral da humanidade. Nao me considero um cego defensor do progresso. A ideia do progres- $0 foi uma ideia central da filosofia da histéria nos séculos passados, depois do crepsculo, embora nao definitive, da ideia da regressio (que Kant chamava de terrorista) © dos ciclos, predominantes na época elissica € Pré-cristd. E, a0 dizer “definitive”, ja sugiro a ideia de que o renascimento continuo de ideias do passado, que em determinada época eram conside- tadas mortas para sempre, é jd pot si mesmo um argumento contra a ideia do progresso indefinido € irreversivel. Contudo, mesmo no sendo um defensor dogmético do progresso irtesistivel, tampouco sou um defensor ViyilallZauyv CUI 49 iuam we apeproyayut ap 2 oruawnaos ap operss op 9,4 OOnEM Py eH Ep ery -rpsuoo vp waosvu yeuUe opunus 6 woo aisunu0S wa “oUNY OLN P te}ouees eonszorer wun ops an “(jeu op opSeradns 9 ofSemun ‘ouSo1i09 w eed ‘sousw ojad no) wag 6 ead s0Ss0}89 $955 SOO ‘womoy op soxamp sp ogSoxd 9 oxvsunsayuos9 ‘ogeue pad soursnod a sop ‘somtaursous ap anta2s919 oss919001 © ‘ssyoed 2 soayij039 soruausaow so woo sruauETUN! 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Instrumentos e reg: tura’, contraposto a0 da “nat Encontrando-se num mundo hostil, tanto em face da natureza quanto: em relagio a seus semethantes, segundo a hipétese hobbesiana do homo omni lupus, o homem buscou reagit a essa dupla hostilidade inventando récnicas de sobrevivéncia com relagio a primeira, e de defesa com relagio: A segunda. Estas dltimas so representadas pelos sistemas de regras que reduzem os impulsos agressivos mediante penas, ou estimulam os impulsos lade através de prémios. » e de solidari as regras io essencialmente imperativas, negativas ou posi- wentos desejados ou a evitar os niio dese- tivas, e visam a obter comporta jados, recorrendo a sangies celestes ou terrenas. Logo nos vém & mente os Dez mandamentos, para darmos o exemplo que nos é mais familiar: eles foram durante séculos, ¢ ainda o sio, 0 cédigo moral por exceléncia do mundo cristio, a ponto de serem identificados com a let inserita no cora- glo dos homens ou com a lei conforme a natureza, Mas podem-se aducir ‘outtos intimeros exemplos, desde 0 Cédigo de Hamurabi até a Lei das doze tdbuas. © mundo moral, tal como aqui o entendemos — como o remédio 20 mal que o homem pode eausar ao outro —, nasce com a formulagio, a imposigio e a aplicagio de mandamentos ou de proibigles, e, portanto, do ponto de vista daqueles a quem sio dirigidos os mandamentos € as proibigles, de obrigagbes. Isso quer dizer que a figura dedntica originia € © dever, no o direito, 33 Ao duta, sucedem-se por séculos ecdigoe nirias, prope entio, de propenigses que c longo da histéria da moral entendida como conjunto de regras de lets (sejam estas consuetudi- 1 por sibios on impostas pelos detentores do poder) ou, igbes. O hers do Son. Masa admi- ragiio pelo legislador — por aquele que, “asumindo a iniciativa de fundat tuma nagio, deve sentir-se 21m en Jamentos ¢ pro mundo clissico € 0 grande legislador: Minos, Licur de mudar ar: humana” — chega até Rousseau. As grandes obras de moral sio tratados sobre 1s leis, desde ‘os Némoi[As lets] de Plata € 0 De letbus [Das leis] de Cicero até o Esprit des lois de Montesquieu. A obra de Platio comes corn as seguintes pa “Quem € que vocés consideram como o autor deus ou um homem?", pengunta 0 ateniense a Clinias: ¢ este tesponde: “Um deus, héspede, um deus.” Quando Cicero define a let natural, que caracterfsticas lhe atribui? Vetare et jubere: proibir e orcenar. Para Montes- quieu, © homem — mesmo tendo sido feito para viver em sociedade — Pode esquecer que existem rambérm os outros. “Com as leis politieas ¢ Civis, os legisladores o restituiram aos seus deveres.” De todas essa cit ies (mas infinitas outras poderiam ser aduzidas), resulta que a fungho Priméria da lei é a de comprimir, no a de liberar; a de restringir, nao a de ampliar, os espagos de liberdade: a de corrigit a drvore torta, niio a de deixé-la crescer selvagemente Com uma metafora usual, pode-se dizer que diteito e dever sio como © verso ¢ 0 reverso de uma mesma moeda. Mas qual é 0 verso e qual & 0 teverso! Depende da posicio com que olhamos a moeda. Pois bem:amoeda da moral foi tradicionalmente olhada mais pelo lado dos deveres do que pelo lado dos direitos. Nilo é dificil compreender as razdes. O problema da moral foi origina- Flamente considerade mais do Angulo da sociedade do que daquele do individuo. E no podia ser de outro modo: aos césligos de regras de condu- ta foi atribuida a fungdo de proteger mais o grupo em seu conjunto do que © inulividuo singular. Originariamente, a fungio do preceito “nao matar” ‘lo era tantoa de proteger o membro individual do grupo, mas a de impe- dic uma das razdes fundamentais da desagregagio do proprio grupo. A. melhor prova disso € 0 fato de que esse preceito, considerado justamente inseituigio das leis, um, ViyllallZauy CUL vam S4__ sens noe orneiros a omo um dos fundamentos da moral, s6 vale no interior do grupo: no smbros dos outros grupos vale em rl one passage 1 do e6digo ‘um modo, que me parece suficientemente claro) jos deveres para 0 céxligo dos direitos, era necessirio inverter a moe ations Ga moral devia ser considerado nto mais do ponto de vista ape nas da sociedade, mas também daquele do individuo. Era necesséria Oe verdadeira revolugo copernicana, se niio no modo, pelo menos nos efei- tos. Nao é verdade que uma revolugio radical s6 possa ocorrer necessa- riamente de modo revolucionsrio. Pode ocorrer também sradtvamente Falo aqui de revolugio copernicana precisamente no sentido kantiano, 10 inv do ponto de observa

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