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Colecao Didatica da Editora da UFSC procura tbelecer uma linha objetiva de contato entre os. nos, o professor, a atividade de ensino e a sala aula. Constitui-se de livros universitarios e tem 10 proposta um apanhado de contetido progra- tico resultante do aperfeigoamento de textos dos em sala de aula, que incluem exercicios e aonstracées, clareza de explicacao e abordagem. soisya oydawnssv oxaad oyor VYOILV1S3 ASVNO 3 VDILYLS3 INZDN4 VaVd OWSILANDVWOUL313 ELETROMAGNETISMO PARA ENGENHARIA ESTATICA E QUASE ESTATICA 3° edicdo revista 'UMPCAO BASTOS. ‘© 2004, 2008 Joto Pedro Assumpsdo Bastos Diregao editorial e capa Paulo Roberto da Siva Revisto: Heloisa Hibbe de Miranda Ficha Catalogrifica (Catalogagdo na forte pela Biblioteca Universita da ‘Universidade Fedral de Santa Catarina) B327e ___Bastos,Jolo Pedro Assumpeiio Eletromagnetismo para engenharia :estitica e quase estitica / Jol Pedro Assumpedo Bastos, 3. ed. rev. — Flerianépolis: Ed. da UFSC, 2012, 398p. «i. (Colegio Didatica) Incluibibliograiae indice 1, Eletromagnetismo. 2 Engenharia elériea — Matemitica. 3. Eletrostitica, 8, Método dos elementos fintos. Titulo. U: 337.8 “Toss os distosreservado. Nenhura pate dests abr poder set reprduzda, rquisada ou transmit por qualquer meio ou form sem préviapermissto por escrito do aulor ¢ da Editora da UFSC UFPE-CTG BIBLIOTECA Sumirio Prefici ‘Capitulo 1 — Nogies matemiticas preliminares, LAL Introd ug80 on 1.2 0 caréter vetorial 1.3 Derivagio vetoral. 1.3.1 Notagoes basicas 1.3.2 Operador Nabla V suse 1.3.3 Gradient Divergentee Rotacional através de V 1.4 Gradiente..... 1.4.1 Exemplo de gradiente .. 1.5 Divergent 1.5.1 Definigo de faxo. 1.5.2 Teorema da divergéncia.... 1.5.3 FUxo cOnserVatiVO ene 1.5.4 Exemplo de oes f 1.6 Rotacional. 5 1.6.1 Cireulagdo de um vetor. 1.6.2 O teorema de Stokes 1.6.3 Exemplo de rotacional 1.7 Operadores de segunda ordem 1.8 Operadores aplicados a duas fungdes, 1.9 Revisto sucinta de grandezas complexas.... 1.10 Coordenadas cilindricas e esféricas Capitulo 2 — 0 Eletromagnetismo a partir das equacies de Maxwell. 2.1 Introdugaio 2.2.1 As grandezas isi 2.2.2 As equagdes de Maxwell sob a forma local 2.2.3 As equagdes de Maxwell sob a forma integral.. 2.3 A aproximagao das equagdes de Maxwell... 2.4 Exemplos. 2.4.1 A lei de Ohm aplicada a um condutor retilineo 2.4.2 A equagdo da “continuidade elétrica”. 2.4.3 As equagdes de Maxwell no vicuo. : 2.44 As equagdes de Maxwell em meios com & € 4 2.4.5 As equagdes aplicadas a meios anisotrépicos quaisquer. 2.4.6 O potencial escalar el&ttiC0 2.4.7 O potencial vetor magnéiico 24.8 Corrente de deslocamento no capacitor de placas planas Capitulo 3 — Eletrostitiea 3.1 Introdugdo..... 3.2 0 caso da carga estitica.. 3.2.1.0 campo eléttic0 nen 3.2.2. forpa sobre uma carga .. 3.2.3 O potencial escalar elétrico V, 3.3. campo nao conservativo (fem) 3.4 A refragao do campo elétrico, 3.5 Cargas induzidas em condutores 3.6 A rigider dielétrica....... 3.7 0 efeito de pontas 3.8 0 efeito Corona.. 3.9.0 capacitor i 3.9.1 Definigto de capactincia. 3.9.2 A energia de um capacitor... 3.9.3 A energia do campo eletrostético conservativo.. 3.10 As equaydes de Laplace ¢ Poisson... 3.11 Exemplos, is fundamentais do Eletromagnetismo ... 3.11.1 0 fio infinito carregado.... 109 3.11.2 A meia casca esférica carregada ws 112 3.11.3 Tempo de acomodagiio de cargas livres num condutor Lo bbdis 3.11 4 Permissividade elétrica em dielétricos ¢ condutores... eat 3.11.5 Descargas atmosféricas 118 3.11.6 Ruptura de dielétrico no ar envolvendo uma esfera condutora carregada ...121 3.11.7 Cépia xerogrifica e impressora a laser 122 3.11.8 Ruptura de dielétricos.... 123 3.11.9 A vela para ignigdo de motores a explosio... 124 3.11.10 0 capacitor esf8tiC0 oon 125 B01 11 O capacise ction oma Gaia as Gat 126 3.11.12 A capacitincia da Terra. oe St 128 3.12 Exereicios. 129 Capitulo 4— Magnetostatien 141 4.1 Introdugao.. ‘ 141 4.2 Equagies de Maxwell na Magnetostitica.. 143 4.2.1 A equagio rofl = 143 4.2.2 A equagio divB = 0... 146 4.2.3 A equagto ror = 0 147 4,3 A lei de Biot-Savatt... 148 4.4 A refragaio do campo magnético 151 4.5 Os materiais magnéticos 154 4.5.1 0 diamagnetismo . 155 4.5.2 0 paramagnetismo 135 4.5.3 0 ferromagnetismo .. 156 4.5.3.1 Apresentagio ger x BA ttt oe gion 4.5.4 Os ims permanentes 4.5.4.1 Apresentagio geral dos materiais duros... 162 162 165 im 4.5.4.2 A energia associada a um 4.5.4.3 Os principais tipos de imais 4.5.4.4 0 funcionamento dindmico dos ims. 4.6 Analogia entre circuitos magnéticos e elétricos.. 4.7 Indutdncias e indutincias miituas.. 4.7.1 Definigao de indutancia egeens 178 4.7.2 A energia de um sistema linear... 179 4.7.3 A energia do campo magnético... 4.8 Exemplos. : 4.8.1 Céleulo de H e indutincia de um solenoide longo.. 48.2 Céllculo de H criado por uma espira circular 4.8.3 Campo criado no interior de um solenoide.. 4.8.4 Campo criado por uma espira retangular- 48.5 Céloulo do campo dentro de um fc 4.8.6 Céleulo da induténcia de um cabo coaxial 4.8.7 Campo criado por uma barra com corrente /.. 4.8.8 Calculo de um circuito magnético 4.8.9 Célculo de um circuito magnético saturivel 4.8.10 Circuito magnético comportando imais permanentes.. 4.8.11 Equivaléncia entre ima permanente e bobina de corrent 4.9 EXeTC§ CIOS. Capitulo $~ Magnetodinamica. 5.1 Introdugao eras oo Lag aaiakea 2 5.3 A penetragdo de campos em condutores nn 5.3.1 A equagdo de Heo 53.2 A equagiio de B 5.3.3 A equacio de E..... 5.34 A equagio de Jor. 5.3.5 A solugao das equagies... 5.4 A blindagem. 244 5.5 As perdas no cobre e no ferro 248 5.5.1 Perdas no cobre... 248, 5.5.2 Perdas no ferro: correntes de Foucault em léminas 249 5.5.3 Perdas no ferro: histerese. pan 23 setae pone Os) 5.5.4 As perdas andmalas ou excedentes f 256 5.6 Exemplos 256 5.6.1 Correntes induzidas por variagao de inducao, : ; 256 5.6.2 Correntes induzidas por variagio geométrica tbat 65 bh 5.6.3 Corrente induzida ¢ dissipagio num disco macigo eae 506) 5.6.4 Campo perpendicular a um bloco condutor.... 263 5.6.5 Cabo condutor cilindrico.... se 264 5.6.6 Movimento de um imi em relagio a placa condutora... 265 5.6.7 O transformador de tensdo em vazio... 267 269 2m 5.6.8 A bobina de Chattock-Rogowski... 5.7 Bxercicios, Capitulo 6 — Interagdo entre grandezas eletromagnéticas e mecnicas...... 283 6.1 Introdugao... 283 62 Forga sobre condutores ~ forga de Laplace... ou 284 6.3 Forga sobre cargas — forga de Lorentz 287 64 Forga obtida pela variagio de energia 289 6.5 0 vetor de Poynting 292 6.6 0 tensor de Maxwell. 296 6.7 Exemplos.... 304 67.1 Fore entre dois segmentos de condutor 6.7.2 Torque numa espira. 6.7.3 0 eftito Hall. : 6.7.4 0 motor e 0 gerador linear... 6.7.5 A atragdo de um corpo ferromagntico. 6.7.6 A repulsio de um corpo diamagnético, 6.7.7 Uma suspensio magnétiea nnn 6.7.8 0 freio magnético 307 308 3 314 316 e317 319 6.7.9.0 contator CA... pee Rar peels 331 6.8 Exercicios.... eit ' n 326 Capitulo 7 ~ Apresentagio sucinta do Método de Elementos Finitos........337 7.1 Introdugtio 72 A diseretizagao do dominio o elemento triangular Hiner. 7.3 A aplicagao do MEF ao problema fisico... 73.1 0 método LM. 731.1 Aplicagdo a Pletrosttica, 7.3.1.2 Aplicagao a Bletrocinética 73.13 Aplicagdo a Magnetostitica—potencialescaa 7.3.1.4 Aplicagao & Magnetostitica — potencial vetor 7.3.2.0 método residual de Galerkin 7.3.3.0 método Variacionel 713.4 Aspecios numéticos de implementagdo do MEF. 73.4.1 0 armazenamento dos termos maticiais no sistema global. 73.4.2 A insergao de condigdes de contorno. 7.3.43 A resolugo do sistema matricial 7.4 Um programa de Elementos Finitos 7.4.1 Listagem do programa 7.4.2 Exemplos de utilizagio 7.5 Consideragdes finais sobre o MEF. Referéncias t ‘ Apéndice A ~‘Tabelas de caracteristicas de materiais Aptndice B - Unidades MKS das grandezas eletromagnétcas Apéndice C — Solugdes dos problemas indice remissivo. UFPE-CTG BIBLIOTECA Preficio Este trabalho € uma extensio e atualizagio do livro Eletromagnetismo ¢ Célculo de Campos que publicamos, por esta editora, em 1989 em primeira edigdo, seguida de outras duas em 1992 ¢ 1996, ja esgotadas hé alguns anos. Nessas trés edigdes, excetuando algumas corregdes, 0 contetido foi mantido sem modificagbes. Neste livro o texto foi totalmente revisto e organizado utilizando recursos modernos de edigao. A motivago para este trabalho tem duas fontes basicas: a necessidade de um livro-texto para 0 nosso curso de Engenharia Elétrica bem como 0 ‘encorajamento ¢ incentivo para confecgao deste trabalho oriundo de varios colegas de outras universidades brasileiras, professores de Eletro- magnetismo (EM), que adotaram 0 trabalho de 1989 como livro-texto, O titulo foi mudado pois a parte relativa ao célculo de campos por métodos numéricos foi reduzida, dando-se énfase ao EM aplicado as Baixas Frequéncias, ou seja, a Estitica e Quase Estitica. Cabe observar que nds estendemos 0s contetidos de anélise numérica e os apresentamos em outros dois livros editados em lingua inglesa, pois, sendo um assunto mais utilizado em pesquisa, pareceu-nos que uma difusdo mais ampla fosse mais apropriada. Neste livro foram agregados textos relativos & experiéncia adquirida a0 longo dos anos do nosso trabalho como professor € pesquisador do Grupo de Concepgo e Anilise de Dispositivos Eletromagnéticos (GRUCAD/UFSC). Uma extensa segio de exercicios foi também agregada ¢ estes siio, em grande maioria, oriundos das provas aplicadas aos alunos de graduagao e de pés-graduacdo. ‘A didética seguida ¢ diferente da adotada na maior parte dos livros de Eletromagnetismo, pois partimos das equagdes de Maxwell. Cabe colocar a razio desta escolha: em nossa opinio, 0 EM muito mais facilmente assimilado neste enfoque. Historicamente, James Clark Maxwell trabalhou sobre as experiéncias ¢ leis j4 desenvolvidas por virios estudiosos da época, Riis Alias tasiies Lane ‘Gauss Laplace © outros. Fez uma cocregho, ‘apitulo 1 NOGOES MATEMATICAS PRELIMINARES _ 1.1 INTRODUCAO Veremos, neste capitulo, algumas nogdes de calculo que serio amplamente utilizadas nos capftulos vindouros. Assumiremos, no entanto, {que operagdes como derivacao, integragdo ¢ diferenciagao so conhecidas, bem como as nogdes elementares do calculo vetorial. contetido deste capitulo sera revisado de forma sucinta e, para tanto, selecionamos apenas os itens de interesse direto neste trabalho. Os Ieitores desejosos de aprofundar os conceitos mateméticos aqui contidos _ poderdio consultar livros dirigidos especialmente aos pontos em questo, evidenciando que aqui privilegiaremos a interpretagaio geométrica das nogdes a serem revisadas. Veremos, com particular interesse, as nogdes de divergente, gradiente, rotacional e circulagio, bem como os teoremas da divergéncia de Stokes. Estes operadores e teoremas so de fundamental importancia para a compreensio do Eletromagnetismo visto a partir das equagdes de Maxwell canforme deceiamos anresenta-lo neste trabalho. 16 Eletromagnetismo para engenhara:estitica e quaseesttica 1.2 O CARATER VETORIAL Muitas grandezas fisicas possuem um carter vetorial intrinseco as suas naturezas respectivas, Assim, por exemplo, a velocidade, a acelerac0 a forca stio grandezas is quais sempre associamos as nogdes de direco e sentido; ja outras, como a massa e © tempo, intuitivamente so dissociadas destas nogdes. Estas tiltimas sto chamadas grandezas escalares, Outro conccito importante & 0 de campo de vetores, ou campo vetorial. Uma forca aplicada a um ponto de um corpo é um vetor pontual. No entanto, a velocidade de um gas dentro de um tubo n&o é um vetor definido em apenas um ponto, mas sim em toda uma regio. Neste segundo caso, estamos em presenga de um campo de yetores. Este conceito seré particularmente atil neste trabalho, pois a maior parte das grandezas eletromagnéticas (como campo elétrico ou magnético, por exemplo) so campos vetoriais. 1.3 DERIVACAO VETORIAL 1.3.1 Notagées bisicas Utilizaremos algumas convengdes que sertio empregadas para todo o texto que segue. Sio elas: 4) Grandezas escalares: letra em itélico; por exemplo, # (tempo) € I (corrente); b) Grandezas vetoriais: letra em negrito; por exemplo, H_ (campo ‘magnético) ¢ n (vetor normal a uma superficie); ©) Produto escalar: através de =”; por exemplo, A-B; 4) Produto vetorial: através de “x”; por exemplo AxB; 1.3.2 Operador Nabla V Relembremos inicialmente que uma fungio escalar f, dependendo de mais de uma variével, por exemplo x, y © z, coordenadas do sistema cartesiano de eixos, é notada sob a forma f(x,y.2) Capitulo 1 — Nogdes matematicas preliminares 7 cujas derivadas parciais, se existentes, so notadas wee Ox’ dy’ & © operador Nabla V é um vetor que em coordenadas cartesianas possui os seguintes componentes: onde i, j e k so os vetores unitérios ortogonais do sistema de coordenadas retangulares ou cartesianas. Nabla & um operador matemético ao qual, isolado, ndo podemos associar nenhum sentido geométrico. na sua interagdo com outras grandezas que ele passard a apresentar algum sentido geométrico. 1.3.3 Gradiente, Divergente e Rotacional através de V Definamos uma fungdo escalar U(x, y, 2) possuindo derivadas de primeira ordem dependendo de um ponto M de coordenadas x, y ez ou ev eu eum vetor A de componentes 4,, 4y eA, que dependam também de x, ye 2, V, sendo um vetor, poderd interagir com um vetor ou com um escalar, sob a forma mostrada no esquema abaixo: 18 Eletromagnetismo para engenhara:esttica e quase esitica A {- produto escalar: V-A ou diva (escalar) v_ |(vetor) (Vetor)) yy (Escalar) - produto vetorial: VA ou ror. (vetor) = produto: VU ou gradU (vetor) Podemos calcular estas trés expresses as tor 8 afl divA=V an[ Sie 2 jo 2n) (abe gina) 6A. — LL ir ay Has ois aao tA =VxA=det|— — ie ax yy & Asahud 04,), (6 4, 2A, Oy +(e) eee ads Nea.) a) Vee) ae ed a ee ee (1.3) an wy 1.4 GRADIENTE Seja uma fungéo U(x, y, 2), possuindo derivadas parciais x. ee e % que depende de um ponto M de coordenadas x, y e z, notado sob a iz forma Mcx, y, 2). Capinulo 1 ~Nogdes mateméticas preliminares 19 Podemos calcular a variagdo dU de U quando passamos do ponto M(x, y, 2) a outro infinitamente préximo M'(x+dx, y+dy, 2+dz) através da expresso do diferencial total UU, aU de = Ma My Ue rr) Eno Tone: Ce Definamos 0 vetor dM = M'—M que possuiré os componentes dM = (dx,dy,dz) AU pode ser escrito sob a forma a(S 125 2a) (dei+ dy j+dck) ou seja: aU = (gradU)-aM (15) Quanto ao significado geométrico do gradiente, suponhamos que exista uma superficie de pontos como M(x, y, 2) tal que para todos estes pontos temos U =constante, conforme a Fig. 1.1. Portanto, para todo deslocamento de Ma M’ nesta superficie, teremos acréscimo dU = 0. Pela expressdo (1.5) acima gradU-dM=0 gradU Figura 1.1 ~Deslocamento de pontos no plano de U constante 20 Eletromagnetismo para engenharia:estitica e quase estitica Pela nogio de produto escalar, nota-se que os vetores gradU ¢ dM sto ortogonais, mas resta encontrar o sentido de gradU. Suponhamos ento que 0 deslocamento de Ma M’ seja na diregao dos U crescentes, conforme a Fig. 1.2, onde U, >U,. Figura 1.2—Deslocamento na direcdo dos U erescentes Neste caso, teremos dU >0,, ou seja, gradU-dM>0. Notamos entdio que os vetores gradUe dM formam um dngulo agudo. Podemos concluir que gradU € um vetor perpendicular a uma superficie onde U ¢ constante e que ele aponta para a diregdo dos U crescentes. Notamos também que gradU aponta para a diregio da maxima variagtio de U, pois dU = gradU-dM & maximo quando dM tiver @ mesma diregdo de gradU , conduzindo ao produto escalar maximo (dU maximo) 1.4.1 Exemplo de gradiente Seja a fungdo r, distancia de um ponto M(x,),2) a origem 0(0,0,0). Determinaremos 0 gradiente desta fungaio, As superficies de r= constante so esferas de raio re centro em O, cuja equagao ee conforme a Fig. 1.3 OM Capitulo 1 —Nogdes matematicas pretiminares, 21 Calculemos entio os componentes de gradr : or x ory a Pays? yr Obtemos entio: grad r= cujo médulo é: |grad \ee ty tz Quanto a diregiio de gradr , definamos o vetor OM = M-O, vi+zk Figura 1.3 ~ Direcio de grad r Notando que gradr=OM/r (sendo r a distincia escalar de Ma O), concluimos que gradre OM so vetores colineares e de mesmo sentido. Portanto, gradr aponta realmente para as superficies de r crescentes, ou seja, as esferas de raio superior a r, como enunciado formalmente acima. 2 letromagnetismo para engenharia:esttica © quase et 1.5 DIVERGENTE 1.5.1 Definicaio de fluxo Consideremos que na regidio de superficie ds proxima de um ponto Mexista um campo vetorial A, conforme visto na Fig, 1.4. ds a Figura 1.4— Campo vetorial A na regi préxima ao ponto M Na figura destacamos um vetor n no ponto M tal que seja um vetor unitério e normal a superficie ds. Definamos entio 0 vetor ds tal que ds=dsn que seré, portanto, perpendicular & superficie que ele define. Chamaremos “fluxo do vetor A através de ds” o produto escalar entre A e ds; sendo @ 0 Angulo que estes vetores formam entre si, temos d® = A-ds = Adscos0 (1.6) fluxo seré maximo quando o Angulo entre A e ds for nulo, ou seja, quando o campo vetorial A é perpendicular a superficie ds. Inversamente, © fluxo seré nulo quando A for paralelo a superficie ds. Sendo ds um vetor, ele possuiri trés componentes que se projetam nos planos do sistema Oxyz, conforme a Fig. 1.5. 23 Figura 1.5 ~ Projecio do vetor As nox planos do sistema Oxy= Seus componentes sto ds, =dydzi, ds, =dedej, ds, =dxdyk e A,j+A.k , temos d@ = A, dydz+ A, dzdx+ A, de dy (7) Observamos que 0 fluxo de A sé pode ser definido quando o sentido den for definido. Sendo ds uma superficie aberta, m pode ter duas orientagdes. No caso de uma superficie fechada, o vetor m sempre aponta para fora do volume englobado pela superficie. 1.5.2 Teorema da divergéncia Examinemos 0 caso da superficie de um paralelepi reds peas Sait lnhoe 145 1 Py 6 HE Gdllclor Be eee sistema cartesiano Oxyz, como mostrado na Fig. 1.6. A frea da face inferior PQRS vale dcdy © 0 vetor normal a mesma vale ds=(0,0,-dedy) i. og Figura 1.6 — Volume de dimensies ds, dy e de 24 Eletromagnetismo para engenhatia:estitica e quase esta Observando a Eq, (1.7), 0 fluxo da A através desta face vale 4, dedy (1.8) Na face superior P'Q'R'S' a expresso andloga é aplicada. Porém, a normal a esta face é positiva e 0 componente 4, do vetor A aumentou de dA, ; temos A,+dA, Ae ae 0 fuxo correspondente é entio 6A, (4 +a dcay (9) A soma dos fluxos relativos a estas duas faces & de dy = dv (1.10) onde dv € 0 volume do paralelepipedo. Fazendo um raciocinio andlogo para os outros dois pares de faces temos (1) ‘A expressao do fluxo é portanto d& = divA dy. Como, por definigaio d@ = A-ds, a integragdo sobre toda a superficie (correspondente a todas as faces) & Capitulo 1 —Nogées matematicas prliminares 25 © div dv (1.12) Pay Ait A igualdade das duas integrais acima significa que o fluxo do vetor A através de uma superficie fechada S(¥) é igual a integral do divergente de A no volume V envolto pela superficie S(¥). 1.5.3 Fluxo conservativo Consideremos um tubo de fluxo tal que 0 campo de vetores A definido no volume do mesmo ¢ tangente as superficies ou paredes laterais do tubo, como mostrado na Fig. 1.7. Figura 1.7—Tubo de fluxo conservativo 5, © S, sio superficies arbitrérias que secionam o tubo de fluxo. Chamemos A,, A,,© Ay os vetores A nas trés superficies S,, S, ¢ S,, espectivamente, sendo que a iiltima representa a superficie da parede lateral do tubo. Para facilitar a apresentagdo suponhamos que os vetores A, € n, estio na mesma diregdo, bem como A, e m, (ver Fig. 1.7). Podemos entdo calcular os diferentes fluxos d@, = A, -ds, =-A, ds, d®, = A, -ds, = A, ds, d@, = A,-ds,=0 Eo fluxo total seri 26 Eletromagnetismo para engenhara: esttica e quase estitica @=-f. Ads, +), Ads, Sendo S, © S, superficies arbitrérias, iremos aproximé-las. 5, tenderé a S, a0 passo que, simultaneamente, A, tenderd a A, . Notamos assim que o fluxo total da expresso acima sera mulo. Isto significa que 0 fluxo que entra no volume ©, (negativo) é idéntico em médulo ao fluxo ©, (positivo) que sti do mesmo. Utilizando o teorema da divergéncia, obtemos ® Acds=[ divAdv=0 Como 0 volume no € nulo, em consequéncia, div A = 0. Estas operagées nos conduzem & nogao de fluxo conservativo, ou seja, 0 fluxo que entra num certo volume é idéntico ao fluxo que sai do mesmo. Neste aso, o divergente do campo vetorial é sempre nulo. 1.5.4 Exemplo de divergente Consideremos um campo vetorial A de diregaio radial no ponto M da Fig. 1.8, assumindo que 0 médulo de A é constante para uma casca esférica centrada em M. ds M Figura 1.8—Campo vetorial radial Figura 1.9- A eds sao colineares: Calculemos 0 fluxo do vetor A através de uma casca esférica de raio R; neste caso ds ¢ A sio colineares ¢ de mesmo sentido, conforme a Fi 1.9, Temos assim. Capitulo 1 — Nogdes matematicas preliminares 27 =f. Ands= ds =AG. ds =42 RA Pelo teorema da divergéncia, se 0 fluxo de A ¢ diferente de zero, obrigatoriamente divA #0. Avaliemos agora outro campo vetorial A, ‘com apenas componentes tangenciais, conforme mostrado na Fig. 1.10. om c Figura 1.10 Campo vetorial \tangencial Fig. 11 ~ Vista frontal Examinando a vista frontal do campo vetorial (ver Fig. 1.11), notamos que os vetores A e ds so perpendiculares. Em consequéncia, 0 fluxo serd também nulo e, pelo teorema da divergéncia, temos div A = 0. Observando esses dois campos vetoriais acima, notamos que no primeiro caso o campo ¢ literalmente “divergente” em relago ao ponto M, pois s6 possui componentes radiais, Portanto, seu divergente nao é nulo, No segundo, o campo vetorial nos traz unicamente uma ideia de rotagao ou turbilhonamento e, portanto, nao havendo divergéncia, seu divergente é nnulo. Num exemplo mais préximo dos contetidos a serem apresentados, sabemos que uma carga elétrica cria em tomo de si um campo puramente radial, Isto significa que o divergente desse campo nao é nulo, 1.6 ROTACIONAL 1.6.1 Circulagéo de um vetor A circulagdo de um campo vetorial A ao longo de uma linha L do ponto P ao ponto Q, conforme Fig. 1.12 ¢ dada pela integral de linha ° pad (1.13) 28 Eletromagnetismo para engenharia:esttica e quase estitica Figura 1.12 Cirewlagao de A ao longo de L Nesta integral, dl é uma parcela elementar da linha orientada L. Pela propria nogao de produto escalar, se A e dl sio paralelos, conforme a Fig. 1.13a, a citculagdo é maxima. Se A e dl so perpendiculares, conforme a Fig. 1.13b, a circulagdo é nula. maxima C Py Figura 1.13a~ Cire, maxima: § paraleto a dl Figura 1.13b— Cire. nula Pode-se entender que, no primeiro caso, A “utiliza” ou “circula” pelo caminho 1 da mesma forma que, figurativamente, um automével “circula” por uma estrada. No segundo caso, 0 vetor nao “circula” pelo caminho, ou, com 0 mesmo exemplo, 0 automével apenas “cruza” a estrada, No caso em que A = grad U, temos @ [fa =|? grad U-Ah ‘Assumindo que dl seja dM, em equivaléncia com a Eq, (1.5), temos gradU -d=dU ea circulagio passa a ser ic = fp gradv- = [pau -U,-u, Capitulo 1 - Nogdes matematicas preliminares 29 Portanto, no caso onde A = grad U, a circulagio sé depende dos Pontos final Qc inicial P de L. Desta forma, se a integragio ¢ feita num ¢aminho fechado, quando O e P coincidem, a circulago correspondente é hula. Resta verificar se todo vetor pode ser igualado a um gradiente. Suponhamos que este possua os componentes GU/éx, U/ay e OU/az Podemos notar que ola) alg) ‘© que pode ser escrito como eu Gee Ody eu Fu ayae azdy Isto sempre ¢ valido para qualquer gradiente, Assim admitamos que BME, portsato, Ame, eg fee enComorvisto , nat Aci) Sgr men ‘acima, temos: Podemos notar que os trés bindmios acima so os componentes do rol A, conforme a Eq, (1.2). Portanto, concluimos que se A= gradU., obrigatoriamente ror A= 0. 1.6.2 O teorema de Stokes Suponhamos a existéncia de uma linha fechada que delimita uma superficie. Dividindo esta tiltima em pequenas parcelas S, examinemos um 30 Eletromagnetismo para engenharia: estitica e quase estitica retangulo infinitamente pequeno de lados dx ¢ dy paralelos aos eixos Ox € Oy, respectivamente, conforme mostrado na Fig. 1.14. Figura 1.14 Pequeno retdingulo paralelo ao plano Oxy Calculemos a circulagaoC, de um vetor A ao longo de L/S) que envolve S. Entre Pe 0 C= fl A= [OCA 144, J+ A Wye = 4, de assumindo que a distancia entre Pe Q é dr. Para o trecho entre Re S, 0 vetor A ter os componentes A(A,+d4,, 4, +dA,, 4, +d4,), onde, por exemplo, A,+dA,= A,+ desta maneira, a circulagao C, no caminho entre Re S(onde dl =—dxi) é obtida como Asoma de Ce C, é Capitulo 1 - Nogdes mateméticas preliminares, 31 Analogamente, a soma das circulagdes do caminho Se P_com a do caminho Oe Ré Oy se ae sup hes A circulacao sobre os quatro trechos (C,, ¢ C,,) sera denominada IG, € totaliza GA, 0A. 2, A) (SF Notamos que o bindmio da expressio acima é igual ao componente de rot A na diregio Oz. Estendendo este célculo para as circulagées nos caminhos relativos aos retingulos elementares paralelos a Oyz (C,) € Ozx (€,) chegamos a 04, au, Gs |ee ee y ( ) dea A circulagao total numa curva composta por estes trés. caminhos elementares & C=C,+C,+ (14) [rot -ds Porém a expressio acima foi obtida através do ealeulo da circulagzio de Ae chegamos igualdade ade Levando-se em conta que qualquer superficie pode ser decomposta ‘em superficies elementares como esta utilizada acima, a igualdade obtida é vilida para a globalidade gcométrica do problema. Concluimos, pelo exposto, que o fluxo do rotacional de A através de uma superficie aberta S € igual & circulagdo do vetor A ao longo do caminho L/S) que delimita S. (1.15) 32 Eletromagnitismo para engenharia: esttica e quase esttica 1.6.3 Exemplo de rotacional Consideremos um campo vetorial A conforme indicado na Fig. 1.15. Suponhamos que para uma distancia R constante do ponto M, o médulo de ‘A seja constante, observando também que este campo de vetores s6 possui componentes tangenciais. Definindo uma superficie $ como sendo 0 cfreulo de raio R, podemos calcular a circulagao de A ao longo de L(S). fh RANA % uh, a oe Figura 1.15 - Campo vetorial .com componentes tangenciais Como dle A so vetores colineares de mesmo sentido, temos $4,;4°4= Sendo a circulago de A diferente de zero, pelo teorema de Stokes podemos concluir que, neste exemplo, 0 ror A é também diferente de zero. Cabe também notar que sendo rot A oriundo do produto vetorial VA, € necessirio que A ¢ rofA sejam vetores perpendiculares. Com a forma adotada para o campo vetorial A, 0 posicionamento destes vetores & 0 mostrado na Fig. 1.16. Adl= Ag. di=22RA us) us Lys a Figura 1.16—Vetores Ke rot A Figura 1.17 — Campo de vetores radial Capitulo 1 — Nogdes matematicas preliminares 33 Por outro lado, examinemos 0 exemplo do campo vetorial da Fig. 1.17. Utilizando a mesma superficie S, observamos que C= A-d=0 us) pois dl e A sao perpendiculares. Como S nao ¢ zero e esta integral é nula concluimos, pelo teorema de Stokes, que rot A Efetivamente, neste segundo campo vetorial, a ideia de “rotaga nao existe e, portanto, 0 seu rotacional é zero. Por outro lado, a nogao de divergéncia é presente e, em consonincia com o que foi visto nos parigrafos acima, o divergente deste campo vetorial & diferente de zero. Noyamente adiantando os conteiidos dos préximos capitulos, indicamos {que 0 campo magnético criado por um fio infinito no espago é puramente tangencial. Desta forma, o rotacional desse campo é diferente de zero, ao ppasso que scu divergente ¢ nulo, Resta responder a uma questo: conhecendo 0 rotacional (ou o divergente) de um campo vetorial estaria 0 mesmo totalmente definido? Para responder a esta questo, examinemos o campo vetorial P da Fig. 1.18. Os ‘yetores P possuem um componente tangencial A ¢ um componente radial B. Calculemos a circulago de P ao longo da linha L/S), em semelhanga ao que foi feito para o campo A acima (Fig. 1.15). Temos entio: Figura 1.18 ~ Campo vetorial P com componentes radiais e tangenciais Cag, PeA=>, (A+B) A=§ A=, Ad! =20RA us)

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