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Ministério da Educagdo ¢ Cultura Ministro de Estado: Rubem Carlos Ludwig Secretaria da Cultura Secretirio: Marcos Vinicios Villoga As vinhetas deste livro so xilogravuras populares originalmente ‘empregadas na ilustragio de fothetos de comlel Abaixo relacio- ‘amos 0s seus autores: Falsa fotha de rosto: Marcelo Soares, Violeiros Borges, capa de fotheto de cordeL josé Costa Leite, capa de folheto de corde! bra Bezerra Batista, O Dragio e « Borboleta Pig. 107: Jota Barros, Pelejade Ortilia Soares com Jota Barros, capa de folheto. & x g N é ow Fass sF © RONAS Fe FUNDACAO CASA DE RUI BARBOSA Rio de Janeiro 1982 UNICAMP FUNDAGAO CASA DE RUI BARBOSA Rua So Clemente, 134 22 260 — Rio de Janeiro ~ RJ Presidente: Américo Jacobina Lacombe Diretor Executivo: Washington Luis Neto Diretor do Centro de Pesquisas: Homero Senna Chefe do Setor de Filologia Aariano da Gama Kury Revisho: Helena Christina R. Cavalcante de Lyra Rachel Teixeira Valenga Projeto grifico de Angelo Venosa ISBN 85-7004-052-0 Batista, Sebastido Nunes, Poéiice Popular do Nordeste, Rio de Janeiro, Fundagio Casa de Rui Barbosa, 1982, 124 P, (Literatura Popular em Verso, Estudos, nova série, 2) 1. Literatura popular ~ Brasil (Nordeste) ~ Poesia. L Fundagao Casa de Rui Barbosa. IL Titulo, IIL Série. DU 82-91(812/814) Ficha catalogrifica preparada pela Biblioteca da FCRB autor, B3Q. Qe Vo Be Tombo BC/I2313% oe a | . Anen7 ‘A meus filhos Hugolino e Salete de Sena Batista, ¢ aos meus ne- tos Roberto e Tiago Freire Batista ‘A minha mde Hugolina Nunes Batista (1888-1965) ¢ a meus ir- mis, parentes e amigos ‘A Luis da Camara Cascudo e Carlos Drummond de Andrade. ‘Em meméria = do glosador Agostinho Nunes da Costa (1797-1858), meu bisa- ‘ve, homenageando a todos os glosadores populares; = do cantador Ugolino Nunes da Costa (1832-1895), meu avé, em omenagem a todos os cantadores repentistas; = do poeta popular Francisco das Chagas Batista (1882-1930), ‘meu pai, ropresentando todos os poetas da literatura de corde = dos amigos: ‘Thiers Martins Moreira M, Cavalcanti Proenga Cicero Rodrigues de Carvalho ‘Théo Brandi = minha saudade, SNB. Sumario Apresentagio IX Introdugéo 1 Aspectos formais da Cantoria e da Literatura de Cordel 11 Notas 77 Apéndice Cantoriarecriada 83 Cantoria real 97 Elucidério 111 Bibliografia 121 Apresentacao A Poética popular do Nordeste revela aspectos surpre- endentes, aqui postos em relevo por Sebastifio Nunes Ba- tista, conhecedor como poucos, e incansavel pesquisador da Literatura de Cordel. Jé na Introdugdo, citando Camara Cascudo, antecipa- -nos a multissecular tradigdo dos “cantadores”, desde os aedos e rapsodos gregos aos menestréis e trovadores da Idade Média. Com sua origem ibérica incontestvel, a poesia sertane- ja do Nordeste adquire feigao peculiar, adaptando, recri- ando (e também criando) novas formas, to vivas ainda nos dias de hoje, Conservam-se denominagées, metros ¢ ritmos antigos introduzem-se novos. Vale ressaltar as numerosas cor respondéncias, acentuadas no quadro final da Introdugao, entre a Poética Trovadoresca e a Poética Popular do Nor- deste — num fendmeno talvez sem par nas literaturas oci- - dentais. Conforme nos diz 0 autor (verbete mourdo), “é evi- dente que na cantoria do Nordeste se encontram elemen- tos da tradigZo trovadoresca medieval, porém algumas denominagGes dos géneros cantados se relacionam dire- tamente com os elementos do viver do sertanejo”. Procurou o autor caracterizar devidamente os varios tipos de cantoria, subordinando muitas vezes as espécies a um mesmo género (vejam-se, por exemplo, os verbetes martelo, mourdo, quadréo). x ‘Algumas vezes se esclarece que a determinada forma (como ovilejo) no associam os poetas nordestinos um nome. Uma vez que as “leis” da Poética do Nordeste ainda nflo esto devidamente consolidadas — e este trabalho é ‘uma contribuigdo das mais valiosas para esse objetivo —, 6 leitor encontraré muitas vezes sinonimia e remissdes abundantes. A influéncia mitua poesia culta/poesia popular tem sido realgada em varios estudos, 0 mais recente dos quais = Jorge Amado e a Literatura de Cordel, de Mark J. Cur- ran — foi publicado hé pouco pela Fundagdo Casa de Rui Barbosa. E 0 proprio Sebastido Nunes Batista, que vem retocando um seu trabalho acerca da influéncia erudita na Literatura de Cordel, disso nos d4 aqui algumas amos- tras vilidas. Os verbetes, apresentados em ordem alfabética, tra- tam apenas do “‘aspecto formal” da cantoria, tendo-se deixado de lado a parte musical que acompanha numero- sas dessas formas, de que se dé apenas uma amostra no verbete martelo agalopado. Remetemos aqueles que desejem maiores informagdes, sobre 2 mésica simultinea a tantos tipos de cantoria 20 trabalho “A Miisica na Cantoria Nordestina”, de Dulce Martins Lamas, publicado no volume de Estudos, t. 1, da série Literatura Popular em Verso (Fundagao Casa de Rui Barbosa, 1973, paginas 233-270). Enriquece 0 trabalho a reprodugao, no final do livro, de uma “cantoria recriada” — a historica peleja entre Inécio da Catingueira e Romano do Teixeira, numa das suas verses mais raras —e de uma “‘cantoria real”, grava- da em fita magnética. x ‘Uma adverténcia final: a pontuagdo dos versos popula- res citados (alguns tirados de gravag6es) foi completada, com o fito de facilitar a lei ura. Adriano da Gama Kury Chefe do Setor de Filologia do Centro de Pesquisas da Fundagao Casa de Rui Barbosa. NOTA FINAL Sebastido Nunes Batista ndo péde ver publicado este seu livro: em plena atividade, no exerctcio daquilo que mais the aprazia — durante uma palestra sobre “O pre- conceito de cor na Literatura de Corde!” que pronuncia- va no VI! Encontro Cultural de Laranjeiras, Sergipe —, seu grande coragdo fraquejou. Em 9 de janeiro de 1982 ‘foi unir-se a seus maiores. De uma estirpe de cantadores e poetas populares — do bisaxd Agostinho ao avé Ugolino e ao pai Francisco das Chagas Batista —, ele mesmo folhetista, mas sobretudo estudioso dos mais sérios da Literatura Popular em Ver- 80, deixa Sebastiéo Nunes Batista um vazio impreencht- vel. Ninguém mais com a sua linhagem, vivéncia e conhe- cimento para orientar-nos nessa riquissima floresta — 0 fotheto de cordel, A SEBASTIAO NUNES BATISTA ‘a saudade imorredoura dos seus companheiros da Fundagdo Casa de Rui Barbosa. Introdugao © nosso Romanceiro Nordestino, também chamado de Literatura Popular em Verso, ou Literatura de Cordel, compreende o conjunto da poesia impressa nos folhetos de cordel, e 0 da oral improvisada nas cantorias dos re- pentistas. ‘A Literatura de Cordel, denominago que se deve a0 fato de os folhetos ficarem expostos a venda dependura- dos em barbantes ou cordéis, j4 nos veio de Portugal — onde anteriormente existiram as “folhas volantes” ou “folhas soltas” —, e se apresenta desde hd muito com ca- racteristicas peculiares & nossa realidade, conservando al- guns tragos dos tradicionais romances que nos trouxeram 0s colonizadores. Cantoria € 0 desafio em versos entre dois cantadores de improvisos, a0 som de viola, rabeca, pandeiro e ganz. 0 cantador — diz Luis da Camara Cascudo - é 0 des- cendente do aedo da Grécia, do rapsodo ambulante dos Hele- nos, de glee-man anglo-saxio, dos moganis ¢ metris arabes, do veldlice da fndia, das zen6ias da Finlindia, dos bardos armor canos, dos escaldos da Escandinavia, dos menestréis, trovado- res, mestres-cantadores da Idade-Média. Na poesia sertaneja do Nordeste, temos, ainda, o coquista, 0 glosador e 0 poeta popular, este, autor dos folhetos de feira, nos quais so reconstituidas pelejas imaginérias ou reais, como 0 Desafio de Jodo Fava com Juca Baiacu, de autoria de Paulo Nunes Batista, e a Peleja de Romano do Teixeira com Indcio da Catinguei- ra, realizada em Patos, na Paraiba, por volta de 1874, e 1 INTRODUGAO que foi escrita por Silvino Piraud de Lima, Ugolino do Teixeira, e outros. Os cantadores chamam o verso de pé, como nos tipos de estrofes “oito pés a quadrio” e “mourdo de sete pés”. A propésito, vale transcrever esta passagem de M. Ca- valeanti Proenga: E curioso que tenha ocorrido essa coincidéncia, pois a de- finigZo de pé, como intervalo ou medida, pode aplicarse com jjusteza 20 verso; pois, na verdade, é com a entonagio ascen- dente nos versos impares e descendente, nos pares, que a poe- sia popular obtém a quadra e a sextiha — as suas formas es- tréficas por exceléncia. Te6filo Braga, referindo-se a metrificagdo em seuestu- do “Poética Historica Portuguesa”, no Diciondrio de Ri- ‘mas, de Costa Lima, ao tratar da Acentuagao, diz. que podem equipararse os acentos azudo, grave e circunflexo (de intensidade) aos acentos de quantidade de longas e breves, considerando os acentos agudo, grave ¢ exdrizxulo na frase ou pé formado de duas, trés ou quatro silabas como oespondeu, 0 dactilo, 0 anapéstico, Mas nada resulta destes artificios, para 1 compreensfo da Poética moderna. Camara Cascudo, tratando dos modelos do verso ser- tanejo, em. seu livro Vaqueiros e Cantadores, informa que 08 antigos versos sertanejos eram as “quadras”. Diziam-nos “verso de quatro”. Subentendia-se “pés”, que para o sertane- jo nfo é a acentuagio métrica, mas a linha. Essa acepgio ain- da é portuguesa. “Um pé de verso e outro de cantiga” escre- via Frei Lucas de Santa Catarina (1660) no Anatémico Joco- 40 (p. 54, da ediglo tesumida, da Cia, Nacional Editora, Lis boa, 1889). ‘Mas nos parece que a origem de o cantador chamar 0 verso ou linha de “pé” e a estrofe de “verso” vem do tro- vador espanhol Juan del Encina (1469-1529), como escla- rece a Prof Cleonice Berardinelli em seu livro Estudos ‘Camonianos, publicado em 1973, pelo Departamento de Assuntos Culturais do MEC: Na falta de uma Arte de Trovar em verniculo, como a que se tinha para 0 lirismo dos velhos cancioneiros galaico-portu- INTRODUGAO _gueses, temos de socorrer-nos da Arte de Poesta Castellana, de Juan del Encina, onde diz que: ‘Toda la fuerza de trobar esti en saber hazer y conocer los pies, porque dellos se hazen las coplas y por ellos se miden, y Dues asi es sepamos qué cosa es pie. Pie no es otra cosa en el trobar sino un ayuntamiento de cierto nimero de sflabas: y Tamase pie porque por él se mide todo lo que trobamos, y Sobre Ios tales pies corre y roda el sonido de la copla; logo adiante: 10s latinos Ylaman verso & Io que nosotros lamamos pie: ‘hosotres podemos lamar verso a donde quiera que ay ayun~ tamiento de pies gue comunmente llamamos coplas, que quiere decir copula 6 ayuntamiento. E continua Cleonice Berardinelli citando trechos de En- cina, transcritos do Capitulo V (““De la Manera y Esami- nacién ce los Pies y de la Manera de Trobar”) da Anto- logia de Poetas Liricos Castellanos, organizada por Menén- dez y Pelayo; ‘Assim, pois, ao que a medida nova chamar (como os ls tinos), verso, chama Encina pé; 0 conjunto de pés, verso, ex- plicitando melhor: Podemos dezir que en una copla aya dos versos assi como si es de ocho pies y va de quatro en quatro son dos versos:6 si de nueve el'un verso es de cinco é el otro de quatro ésies de diez puede ser el un verso de cinco & el otro de otros cinco, & asi por esta manera podemos poner otros exemplos infinitos. ‘Vejamos ainda o que nos diz o saudoso Cavalcanti Pro- enga: ‘a denominagdo “trinta por de2™, que nos comunicou Téo Brandio, atribuida 4 décima em decassilabo, isto &, a0 “mar- telo 2galopado™. O decassflabo popular, como se sabe, consta, de tris segmentos ~ 3-34 — cada qual terminado por um acente ténieo. Se bem que os cantadores sejam incapazes de explicarem o porqué da denominagSo, ou talvez por isso mes- mo, s¢ torna curioso 0 registro uso do terme. E muito significativa esta observagdo do mestre Ma- nuel Cavalcanti Proenga, quando notamos, também, que no género “nove palavras por seis”, 0 termo “palavra” significa verso, como estd na Poética Fragmentaria, isto ¢, a Arte de Trovar, dos trovadores galaico-portugueses, apensa 20 Cancioneiro de Colocci-Brancuti ou da Biblio- 3 INTRODUGAO, teca Nacional de Lisboa. Na versificagao dos cantadores do Nordeste predomi- nam os versos de sete e dez silabas, havendo também 0 emprego de outros metros, como sejam os versos de cin- coe onze silabas. ritmo é fundamental na cantoria, para determinar a cadéncia do verso. O desafio dos cantadores nordestinos procede da ten- edo — espécie de cantiga, a tensd dos primérdios de poe- sia provengal, assim descrita na Poética Fragmentéria ane- xa ao Cancioneiro de Colocci-Brancuti: Outras cantigas fazem os trobadores que chamam tengéens, porque son feytas per maneira de rrazon que huum aia contra ‘outro, em que diga aquelo que por ben tever na prima cobra ¢ ‘© outro responda Ihe na outra dizendo o contrayro. Parece-nos que as estruturas das estrofes de poemas dos poetas eruditos tém sido aproveitadas na cantoria nordestina, 0 que em nada desmerece a poesia popular, pois, como diz Aristételes: ‘Ao que parece, duas causas, ¢ ambas naturais, geram a Poesia: © imitar & congénito no homem, e todos os homens se com- prazem no imitado... Sendo, assim, a imitagdo prépria da nos- sa natureza, a harmonia e 0 ritmo (0s metros si0 parte do rit- ‘mo) naturalmente se sentiram desde logo propensos a tais coisas, ¢ pouco a pouco deram origem a Poesia, procedendo desde os mais toscos improvisos.... (Geir Campos, Pequeno Dicionério de Arte Poética, 1960). Igualmente, a reciproca é verdadeira — muitos poetas cultos tém bebido na fonte da poesia popular. Pedro Jaime Martelo, professor de Literatura na Uni- versidade de Bolonha, diplomata e politico (1665-1727), inventou 0s versos martelinos ou martelos, de doze sila- bas, com rimas emparelhadas, tipo que nfo se adaptou em nossa literatura; mas o nome ficou na postica dos cantadores, significando estrofe de decassilabos, com acentuago nas sflabas 34 62 103 e cantados num mar- 4 iNTRODUGAO telar ininierrupto, como o ferreiro malhando a safra, * isto é, apontando as ferramentas do trabalho agricola. Estudando o martelo na sitira, Cavalcanti Proenga en- controu em 308 versos de Gregorio de Matos ~ 130 mar- telos agalopados; em 1744 versos de Lufs Gama ~ 883 martelos; e, em 840 versos de Emflio de Meneses, 307 martelos. Compare-se 0 ritmo destes versos de Castro Alves, em © Baile na Flor, com alguns versos de um “galope a beira- -mar” do cantador Dimas Batista: Castro Alves: Que belas as margens do rio possante, Que ao largo espumante campeia sem part... Ali das bromélias nas flores douradas Hi silfos e fadas, que fazem seu lar...(1) Dimas Batista: Que linda é a praia quando est em sota Coberta de fresco e vigoso verdume, Os peixes voadores saltando em cardume Evie altaneiro da linda gaivotal. . 2) Veiamos, também, a estrutura estréfica do poema “Napolefo”, de Fagundes Varela, na disposi¢ao dos ver- sos AAABCCCB, comparada com o géneto “oito pés a *£ muito comrente na terminologia dos cantadores do Nordeste ‘0 vocabulo “safra” (do arabe sabran) significando bigorna de fer- reir, como verios nos seguintes versos do cantador Silvestre Ho- nétio, glorando 0 mote “O fole: vuco-vu-yuco": Quando o ferreiro trabslha Todos gostam de espiar Modelando a sua obra, Um ferro bem encarnado, O ferro na safra dobra, Um ferreiro encarvoado Fogo faisca se espalha!_ Numa safra a martelar! O ferro eno se esbandatha So nao pode observar No martelo: tuco-tuco! ‘Algum doido, algum maluco, O ferreiro: puco-puco, (Ou algum velho caduco Com 2s duas maos no jogo! Que nao vé nem td ouvindo, Soltando raios de fog0, Omarielo retinindo 0 fole: vuco-vu-rucol Eo fole vuco-mu-vuco! *+* Ver no final. as notas numeradas. INTRODUCAO quadrdo”, cantado por Lourival Batista Patriota: Fagundes Varela: Sobre uma itha isolada, Por negros mares banhada ‘Vive uma sombra exilada, De prantos lavando o chio; E esta sombra dolorida, No frio manto envolvida, Repete com voz sumida: = Eu inda sou Napoled Lourival Batist Ocantador repentista, Em todo ponto de vista, Precisa ser um artista De fina imaginagio, Para dar capricho a arte, E ter nome em toda parte, Honrando o grande estandarte Dos oito pés de Quadro, (4) ‘Vejamos ainda a quase identidade ritmica destes ver- sos do I Juca Pirama, de Goncalves Dias com uma rara “carretilha de seis pés”, em redondilha menor, de poeta anénimo. G. Dias: Meu eanto de morte, Guerreros, ouvi: Sou fiho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreros, descendo Da tribo Tupi (5) Anénimo: Seu Gulino é forte, E rei cantador, Estrela do Norte, £ imperador Na vida e na morte E merecedor. (6) wonow>e> @ wanaw>>> A titulo de curiosidade observemos como, a exemplo INTRODUGAO, de Camées em seu belissimo poema Sébolos rios, um can- tador sertanejo soube tirar proveitos dos recursos seman- ticos da palavra pena. Cantava o alagoano Apolénio Belo Souto com outro colega, quando uma pena de galinha, trazida pelo vento, caiu na bandeja dos cantadores. O seu parceiro observou: ‘Uma pena de galinha Ji caiu no nosso meio. ‘Ao que Apolnio Belo, preso Asuperstieao de que uma pena de galinha, caindo no prato dos cantadores, dé azar, improvisou: Este pena agora veio Estiagar nosso festim, Eu tenho pena da pena Quevoa penando assim, Levando pena pro povo E deixando pena pra mim. (7) Evidentemente no estamos comparando a rusticida- de do improviso sertanejo com a beleza destes versos da lirica camoniana: «$e Amor assim 0 ordena Razio é que canse a pena De escrever pena tamanha. Poxém se, pera assentar O que sente 0 coragdo, ‘A pena jé me cansar io canse para voar ‘A meméria em Sifo. (8) Estamos apontando, apenas, que 0 cantador, na sua improvisagdo, também soube explorar a polissemia da palavra pena. No quadro a seguir resumimos as correspondéncias entre a arte poética dos trovadores e a dos cantadores e poetas populares. INTRODUGAO INFLUENCIA TROVADORESCA NA POETICA POPULAR DO NORDESTE ‘TROVADORES GAIA CIENCIA REGRAS DA CANTORIA (arte de fazer versos) (Literatura de Cordel: Cantoria) 1. TROVADOR 1. CANTADOR E POETA POPULAR 2. JOGRAL 2. VIOLEIRO 3. TENCAO 3. CANTORIA 4. PALAVRA 4. VERSO 5. PALAVRA 5. VERSO SEM RIMA PERDUDA. 6. COBRA. 6 OBRA 7. LEIXAPREN 7. DEIXA 8. REFRAO 8. MOTE OU TEMA 9, BARCAROLA 9. BEIRA-MAR OUGALOPE A BEIRA-MAR 10, JOGOS FLORAIS 10. CONGRESSO DE CANTADORES IL. CANCIONEIROS 11. ANTOLOGIAS DE CANTADORES 12. PE 12. PE 13. VERSO 13. VERSO 1, TROVADOR — poeta ambulante que cantava seus poemas ao som de instrumentos musicais (Menes- trel). 2. JOGRAL — intérprete de poemas e cangées de caré- ter épico, roméntico ou dramdtico. Cantor, improvi- sador. 3. TENGAO — cantiga dialogada. 4. PALAVRA — verso. 5. PALAVRA PERDUDA — verso branco. 6. COBRA (Talho, copla) — estrofe. 7. LEIXA-PREN — comegar estrofe com verso final de uma estrofe anterior. 8 REFRAO — estribilho. 9. BARCAROLA — composiga0 postica sobre cenas marinhas. CANTADORES E POETAS POPULARES inTRODUGAO 10. JOGOS FLORAIS — certame poético e literdrio, que vem da Idade Média. 11. CANCIONEIROS — conjunto de colegdes de antigos poernas portugueses ou espanhéis. 12, PE —verso ou linha (cf. Juan del Encina (1469-1529) in Arte de Trobar) 13. VERSO ~ Estrofe (copla) 1. CANTADOR E POETA POPULAR — cantor popu- lar que canta repentes a0 som de viola. Autor de fo- Ihetos de cordel. 2. VIOLEIRO — cantor de modinhas. Coquista ou Cantador de Coco de Emboladas. Embolador. Re- pentista que se acompanha de pandeiro. . CANTORIA — peleja entre dois repentistas. . VERSO — linha ou pé. . VERSO SEM RIMA — pé quebrado. . OBRA — estrofe. Ex.: “obra de seis pés”; pequeno poema. DEIXA —rimar 0 primeiro verso de uma estrofe com 0 iltimo da estrofe anteriormente cantada. . MOTE ou TEMA — estribilho; puxada. 9. BEIRA-MAR ou GALOPE A BEIRA-MAR — género da cantoria sobre assuntos do mar. 10, CONGRESSOS DE CANTADORES — reunides de cantadores e poetas populares da Literatura de Cor- del. 11, ANTOLOGIAS de cantadores ¢ da Literatura Popu- Jar em Verso ou Literatura de Cordel. 12. PE — verso, linha. Ex.: “Obra de seis pés” (sextilha), “Oito pés a quadrio” (estrofe de oito versos), etc. 13. VERSO — Estrofe. Essas correspondéncias apontadas no significam, evi- dentemente, equivaléncias; mas comprovam, sem davida, uma inegavel influéncia. aay ~ ey 9 Aspectos formais da cantoria e da literatura de cordel A.B C—O abecé é uma composic&o postica muito anti- ga, em que cada estrofe comega com uma letra do alfa- beto, ¢ cuja fonte mais remota est no Velho Testamen- to, onde no salmo 118 do Livro dos Salmos, cada letra Go alfabeto hebraico corresponde a oito versiculos. O abecé foi usado na Espanha pelo trovador Juan del Encing, e em Portugal por Luis de Cam@es. Os antigos, cantadores do Nordeste terminavam os abecés com 0 til, considerando-o como letra final do alfabeto. Exem- plos: a) ABC EMTERCETOS: ‘Ana quiseste que fosse Ovosso nome de pia, Para mor minha agonia. ‘Bem vejo que sois, Senhora, Extremo de formosura Pora minha sepultura. (9) b) ABC EM QUADRAS: Cama, cadeira, cabana, ana, cachaga, cutelo, aja, castanha, caju, Conde, condessa, castelo. Deus, divindade, donzela, Duque, dourado, dragio, Dario, drstico, Daniel, Doutor, dobrado, dobrio. (10) TY ABC EM SEXTILHAS ) ABC EMSEXTILHAS: Estranhando em minha vida Esta sina maviosa Guiava-me minha estrela Aurea fonte cuidadosa, Guiava-me o meu fado A puberdade amargosa. Foi no ano de oitenta e oito Depois de grande fartura, Muito leite, muito queijo, ‘Muita carne com gordura Que no meio do vexame Acode © Deus da Natura, (11) d) ABC EM SEXTILHA TERMINADO COM TIL: O til 6 letra do fim, Vai-se embora navegante, Me procure quem quiser Cada hora e cada instante, Me acharo sempre as ordens Jesufno Alves Brilhante. (12) O sinal grafico ti que nasala a vogal a que se sobre- Oe, era considerado figura de gramitica dos cléssicos. Jodo de Barros, um dos primeiros graméticos do idioma, tratando da“difinicam das leteras,e o numero dellas”, na Gramética da Lingua Portuguesa, escreveu: “E esta figura que € como aresta a que chamamos til”, etc. informa Joaquim Ribeiro in Folclore do Agiicar. Ja Camara Cascudo ao referir-se a0 til usado nos anti- g0s abecés esclarece: Nas velhas cartas de A B C depois da dltima letra havia o til. O sertangjo recitando o alfabeto nunca esquecta de citar 0 sinal que lhe parecia uma letra também. Todos os versos de A.B GC, por este motivo, incluem o ti Como néo é possivel arranjat-se tema com ele, aproveitam para um frase de ironia, ‘uma despedida, um motejo. E em nota de rodapé diz ainda o mestre Cascudo, no Vaqueiros e Cantadores: Meu pai guardava um dos “traslados” do professor piiblico 2 ACROSTICO da vila de Campo Grande, Augusto Severo, Joel Eldi Peixoto de Brito, com varios tipos de letra. Todos os abecedérios terminavam por um til Na Comédia Eufrosina, de Jorge Ferreira de Vasconcelos, edigdo dirigida por Francisco Rodrigues Lobo, Lisboa, 1616, folha ~ 116, verso, Ié-se: — sabei que ainda que queiram no passam: do i grego til Siio essas as razes logicas para o sertanejo considerar 0 til como uma letra do alfabeto, ABOIO — Melopéia plangente e mondtona com que os vaqueiros guiam as boiadas ou chamam os bois disper- sos. E secular, “de origem moura, berbere, da Africa Se- tentrional veio para o Brasil” — informa Luis da Cima- ra Cascudo, — Na literatura popular ocorre o chamado aboio em versos, — poema pastoril, com versos de me- tro irregular e sem esquema de rima fixo. E uma moda- lidade relativamente nova, e tem a mesma finalidade do aboio simplesmente cantado. O escritor J. Figueiredo Filho, em seu livro O Folclore no Cariri (1962), registra este exemplo cantado pelo vaqueiro “Birdo” — Joao Teixeira da Silva (Assaré, CE, 1914): Nunca vi carrizeixo Que no fosse aventureiro, Deixa as vacas de lit Leva o gado solteio. Bee boi E Ge boid Bora, peidl ACROSTICO — Composigdo poética na qual o conjunto das letras iniciais dos versos compée verticalmente uma palavra, geralmente o nome do autor. E um dos meios de identificagdo de autoria usado na literatura de cordel. ‘Acontzce por vezes, nas contrafagdes de folhetos, que © plagiador, com a intengao de disfarcar a fraude, modi- fica as palavras iniciais de alguns versos, desfigurando o acréstico, Eis um exemplo de adulteragao do acrostico de Leandro Gomes de Barros no final do folheto A Fi- tha do Pescador: 1B ADIVINHA 1, indos dias gozaram —_Belos dias que gozaram E mpaze doce harmonia. N a paz de doce harmonia, A filha do pescador A filha do pescador ‘Nunca uma vez julgaria Nunca uma vez julgaria D e passa tantos rgalos De passar tantos regalos R odeada de vassalos. ——-R_odeada de vassalos © nde pobre era outro dia. O nde pobre era outro dia Observamos que com a substituigdo do adjetivo lin- dos por belos, e da preposigao em pela contragao na, no inicio dos 19 e 20versos, o acréstico do autor LEAN- DRO foi adulterado para BNANDRO, descaracterizan- do a autoria do folheto A Fiha do Pescador, publicado em 1916. ADIVINHA — Enigma popular. O mesmo que adivinha- ¢o — proposi¢ao geralmente versificada, enunciada com ‘um prélogo interrogativo: “O queé, o que é?” Exemplo: Torto assim, mas assim torto roubo a vida ao mais direito. ‘Sem ser de veneno feito, quem me engole fica marto. Dou sustento, dou conforto, com mortifero aparato; dos mortos fago meu fato e tenho condigao tal que, solto, nio fago mal, ‘mas, quando estou preso, mato. Resposta: ~ é 0 anzol (Mota, Leonardo. Cantadores. Rio de Janeiro, 1921) AVE-MARIA — Composicao postica do tipo pé quebra- do, na qual cada quadra termina com as palavras da ora- Go do mesmo nome. 4 No dia da eleiclo, © povo todo corria, Gritava a oposicio: AVE-MARIA. ‘Viam-se grupos de gente ‘Vendendo notas na praca BRASIL-CABOCLO E auma dos governistas CHEIA DE GRAGA. Uns a outros perguntavam: © Senhor vota conosco? Um chaleira respondeu: OSENHOR E CONVOSCO. Eu via duas panelas Com mitidos de dez bois, Cumprimentei-a dizendo: BENDITA SOIS! Os sleitores com medo Das espadas dos alferes, ‘Chegavam a se esconderem ENTRE AS MULHERES. Os candidatos andavam Com um ameago bruto Po's voto pra eles é BENDITO O FRUTO. ‘Um mesitio do governo Pegava a urna contente E dizia eu me gloreio DO VOSSO VENTRE. ‘A oposicio gritava: Denés néo ganha vintém, Respondia os do governo: ANEM, AMEM. (13) BEIRA-MAR — V. Galope a beira-mar BEIRA-MAR MOURAO — V. Mouriio beiramar BRASIL-CABOCLO — Décima com versos de sete sfla- bas, na disposigfo ABBAACCDDC, em que as letras, iguais correspondem a rimas iguais, ou seja, rimando o 19 verso com 0 49e 0 59; 0 29com 0 39; 0 6°com 0 79 ¢ 0 102 e, finalmente, 0 89com o 99, formando este com 0 109verso o estribilho: “neste meu Brasil caboclo 1s BRASIL-DE-PALTOMAS | de Mae Preta e Pai Joao”, ou “Isso é Brasil de caboco | De Mae Preta e Pai Joa Herdamos do portugués A saudade © 0 sentimento Do negro, o abatimento, ‘A humildade, talvez! Do indio, por sua vez Veio a resignagio, Dessestrés, por geracao, Todos nés temos um pouco: Isso 6 Brasil de ‘caboco™ De Mie Preta e Pai Joao! (14) C BRASIL-DE-PAI-TOMAS — Décima na formula tradi- cional ABBAACCDDC, em que os versos 19 ¢ 59 sfo de quatro sflabas, sendo os restantes de sete. Os versos 69 € 89 terminam, obrigatoriamente, em ente e ais ou ds para rimar com 0 mote “No tempo de Pai Tomés / Preto Velho e Pai Vicente”, cantado em unissono pela dupla de repentistas. O género é inovagdo dos cantadores Ge- raldo Amancio Pereira (Cedro, CE, 1946) e Ivanildo Vi- la Nova (Caruaru, PE, 1945), autor desta estrofe: 19 OConselheiro 29° Foi de Quixeramobim 39 Cumprir a missdo sem fim 49 De beato e cangaceiro; 59 Odesespero 6° Tomava santas e crente 72 Morreu mais de um inocente 82 No fogo dos araiais 9° No tempo de Pai Tomas 10° Preto Velho e Pai Vicente, goanp>ue> opvlap eee CANGAO — Poema sem formula determinada e de me- tros variados, impresso em folhas soltas ou volantes, e cantado pelos violeiros nas feiras e radiodifusoras do in- terior. A seguinte cangdo — Despedida de um Vaqueiro — é de autoria de Manuel Soares Sobrinho, escrita no es- quema de rimas da sextilha ABCBDB. 16 CANCAO No ano que falta inverno no Nordeste brasileiro, é triste, triste, bem triste ouvirse a voz do vaqueiro se despedindo do povo na casa do fazendeiro. Diz o vaqueito: patrio, seu Ihe pego pelo nome de Deus que vossa exceléncia conta de seu gado tome que eu vou partir pra ndo ver seu gado morrer de fome. AA vaca rosa do prado se acha magra e cansada, urrando penosamente i noalto da chapada, como quem sente saudade do tempo da vaquejada. Magro também jf se acha omen cavalo Xexéu, mas You tirar seu retrato pra boté-lo em meu chapéu como verdadeiro emblema das vaquejadas no cfu You embora para Brasftia Mato Grosso ou Parand, ‘Go Faulo ou Rio de Janeiro, Vé seescapo por lé quando houver inverno 1no Norte eu volto pra cé. Se 4 no Sul do pais 1ndo morrer vosso vaqueiro quando houver um bom inverno no Nordeste brasileiro eu volto pra derrubar ‘barbatio gado ligeiro. 7 CANTORIA CARRETILHA Dou adeus a Carmelita, meu ‘grande amor verdadeiro, CARRETILHA, PARCELA, GALOPE MIUDINHO, estrela que ilumina MARTELO CURTO OU MARTELO MIUDINHO — Es- fobs ireqeeae trofe de dez versos de quatro ou cinco sflabas, na mes- do Nordeste brasileiro. ma disposigdo de rima da décima ABBAACCDDC, can- tados em toada muito répida. pets Sele die Dal Apresenta estas modalidades: adeus casa, adeus terreiro, | ‘deus gado, adeus curral, a) CARRETILHA DE QUATRO SILABAS deus adeu, aque Sou bananeira A do Nordeste brasileiro. « Sara z Quando Carmelita v8 por trincade A © seu amor ir embora ‘metoa madeira, a como um triste desvalido uct vol, ¢ vvagando de mundo afors, so me cons c quando o gado urra no campo, eae : Carmelita em casa chora, conn de pti as) 2 aren b) CARRETILHA DE CINCO SILABAS na casa do fazendeiro, toda bezerrama berra como aviso verdadeiro, que também sentem saudade Se eu der uma tapa ‘num negro de fama ele come lama do aboio do vaqueiro. dizendo que é papa, eu romposthe o mapa Ihe rasgo de espora, CANTORIA — Arte de cantar, a disputa poética cantada, ‘0 negro hoje chora © desafio entre os cantadores do Nordeste brasileiro, com febre ¢ com ingua, eu deixo-the a Ifngua com um palmo de fora. (16) c) CARRETILHA DE SEIS PES — Sextilha em redon- ovvanm>ew> sob varias formas e géneros como a Sextilha, o Mourdo, © Martelo e o Galope a Beira-Mar, entre muitos outros. V. Peleja, Desafio, Debate e Discussio. tha menor, na formula ABABAB, isto é, com rimas ceea trees Beas altemadas. Estd em desuso. Era cantada pelos antigos Em poueo tempo afuia Cada qual mais desejosa cantadores. De assistir a CANTORIA; ‘Seu Gulino é forte, A Cada um interrogava: E rei cantador, B Qual dos dois spenharia? E estrela do Norte, A (Peleja de Serra Azul com Azulio) cas a E merecedor. (17) 8 * UNICAMP ” cae d) CARRETILHA MIUDINHA — V. Parcela. CASTELO — V. Marco. CIENCIA — E 0 conhecimento que o cantador adquire da leitura de alguns livros de Gramatica, Geografia, Cigncias Naturais, Historia, etc. Antigamente os livros que penetravam no sertio eram, além da Biblia, a His- toria de Carlos Magno, o Lundrio Perpétuo, a Missio Abreviada, 0 Diciondrio da Fébula e 0 Manual Enciclo- pédico, entre outros. Alguns cantadores recorrem 2 ciéncia para embaragar parceiro na cantoria. O exem- plo que se segue é de uma peleja entre os cantadores Se- astiio Candido dos Santos, conhecido por “Azulfo”, pernambucano, nascido em 1890, ¢ o paraibano Roma- no Elias da Paz, nascido em 1901 ou 1903. Azuldo fomano, vamos mudar Esta nossa cantoria, Cantar-se um pouco em ciéncia, ‘Ver quem tem mais teoria, Com relagio a cantar Sobre a corografia. Romano: — Azulo, eu te exptico O que é corografia, E uma parte tirada Da nossa geografia, Assim dizem 0s corogrificos, Como na carta anuncia. COCO — Versos dispostos em estrofes varidveis, cantados pelos “‘coquistas” ou “‘cantadores de coco”, que, acom- panhados com pandeiros ou ganzés, revezam-se nos im- provisos e na estrofe-refrdo prefixada. De acordo com a forma do texto poético 0 coco pode ser em décima, co- co de oitava, etc.; ou ainda: “coco solto, balamento, pa- gode de entrega, coco amarrado em dez pés de glosa, pa- igode de gancho, samba trenado, coco voltado, ¢ coco de fundamento, conforme a maneira de cantar, disposi- 20 DecIMA go estréfica ou temética” (Camara Cascudo, Diciond- rio do Folclore Brasileiro, 1962). Denominase também Coco uma danca popular ritmada, com zabumba, pecu- liar das praias e do serto nordestino. COCO DE DOIS PES — V. Embolada de dois pés. COCO DE EMBOLADA. ~ V. Embolada. COLCHEIA OU DESAFIO EMENDADO — E uma qua- dra com setissilabos na formula ABAB, em que cada cantador repete 0 tltimo verso do parceiro, usando 0 recurso do “leixa-pren”, reminiscéncia dos trovadores galaico-portugueses, e que atualmente aparece na canto- ria nordestina com o nome de “ poe Hii dois tipos de décima: a medieval — composta de duas quintilhas, ¢ que era empregada desde a lirica tro- vadoresca até 0 século XVI, ¢ que se encontra no Cancio- neiro Geral, de Garcia de Resende, em Cam@es, ¢ outros poetas da época; e a clissica ou espinela — composta de uma quadra (ABBA) e uma sextilha (ACCDDC) em re- dondilhas maiores; esta é usada pelos cantadores nordes- tinos, vem do século XVII, como neste exemplo de Gre- gorio de Matos: “Levou um livreiro a dente / de alface todo um canteiro, / ¢ comeu, sendo livreiro, / desenca- demadamente. | Porém, eu digo que mente / a quem dis- so quer tachar; / antes é para notar / que trabalhou co- mo um mouro, / pois meter folhas no couro / também é encademar”. b) DECIMA COM DECASSILABOS. ‘A mulher como noiva 6 como a planta Que promete a melhor vegetagio; Como esposa a mulher é a floracao De onde o fruto da vida se alevanta; Come mie a mulher é uma santa, Como filha a mulher é o mesmo amor, Como irma a muther tem 0 olor Da angélica, do cravo e do jasmim, Este mundo cercado é um jardim Ea mulher dentro dele é uma flor. (20) ovunn> >a c) DECIMA COM RIMAS IDENTICAS- Estrofe em 2 DECIMA ez. pés, cuja consonancia se faz entre vocdbulos homé- grafos. 0 exemplo seguinte é do poeta popular Manuel Camilo dos Santos, que em carta nos afirmou que “era um novo ritmo de versos” por ele criado. Notem-se os recursos polissémicos que Camilo utilizou: Pode vender 0 meu ponto Com baledo, balanga e livro, que da questo eu o tivo E vou assinar seu ponto; Arzocho ponto por ponto, E aanco pena por pens, Embora que cause pena Maseu 36 fago direito Ehavendo leie direito ‘Vooé nio cumpre essa pena. A tespeito da rima idéntica, Melo Nobrega em seu li- vro Rima e Poesia mostra que ela jé era empregada pelos trovadores provengais, que perdurou na poética parna- siana, “embora Ducundut, em 1863, j4 as apontasse co- mo ridiculas”. Poetas como Cam@es, Sé de Miranda, D. Manuel de Portugal, Castilho, Joao de Deus, Antonio No- bre e Eugénio de Castro ~ também empregaram em seus poemas rimas com vocdbulos homénimos. 4) DECIMA CORRIDA ou DESMANCHA — Décima em que o primeiro cantador constréi ¢ o segundo des- mancha de diante para tris. im s6 Deus: 0 Pai dos pais. ois caminhos: bem e mal Trés dias de carnaval Quatro pontos cardeais Cinco langadas mortais Seis postos nos regimentos Sete grandes sacramentos Cito incelencas de pena Nove tergos de novena Dez divinos mandamentos. 19 cantador: ene 23 Q puvnarrpes> ‘29 cantador: Dez divinos mandamentos Nove tergos de novena DESAFIO, Oito inoelengas de pena ‘Sete grandes sacramentos Seis postos nos regimentos Cinco langadas mortais ‘Quatro pontos cardcais ‘Trés dias de carnaval Dois caminhos: bem ¢ mal Um s6 Deus: 0 Pai dos pais. (21) DESAFIO — “Disputa poética, parte de improviso e par- te decorada, entre os cantadores. E género que recebe- mos de Portugal e conhecido em todo o Brasil, mantido especialmente no Nordeste brasileiro, mais no sertdo, que na orla litordnea. Os instrumentos de acompanha- mento so a viola ¢ a rabeca no Norte, a sanfona, 0 vio- Io, no Sul, sem que se possam fixar preferéncias.” In- forma Luis da Camara Cascudo (op. cit. p. 275); que es- clarece a seguir: “Velhos cantadores do passado, como © negro Indcio da Catingueira, usavam 0 pandeiro. O de- safio 6 0 canto amebeu dos pastores gregos, duelo de im- provisago entre pastores, canto alternado, obrigando resposta as perguntas do adversdrio.” Os seguintes ver- sos sdo de um desafio entre Romano e Indcio da Catin- gueira, folheto de autoria de Leandro Gomes de Barros, publicado em 1910: = Romano: Inécio, eu sei que és duro, Mas é 14 na Catingueira, Para Mie-d’Agua onde moro Nao descambas a ladeira, Pode o diabo ir ao céu, Mas tu nao vais ao Teixeira. Inieio: Repare para o nascente, Veja se 0 dia amanhece, Se o sol nascer encarnado E ele que se oferece, ‘Um farol grande, bem claro, Mostra que o negro aparece. V. também Peleja. 24 DEZOITO-LINHAS DESAFIO EMENDADO — V. Colcheia DESMANCHA — V. Décima Corrida. DESPEDIDA — Trecho de cantoria em que 0 cantador se espede dos donos da casa ou da festa, como neste final do auto popular do bumba-meu-boi. Despedida, despedi despedida rigorosa: ‘vamos dar a despedida ‘como 0 cravo deu a rosa. DEZ A QUADRAO — V. Quadrio de Dez Pés. DEZ-DE-CARREIRAO — V. Embolada Dez-de-Carreirdo. DEZ-DE-QUEIXO-CAIDO — Décima com versos de sete silabas, na formula cléssica ABBAACCDDC, sendo os versos 6° e 79 com rimas em do, para rimar com 0 109 que é “nos dez de queixo caido”. Ouvi meu avé contar Ali no alto sertio Numa certa ocasiao Na sua casa chegar. Chegou na porta do lar E foi o maior alarido: Um cangaceiro atrevido Pulou no meio do terreiro Dizendo:eu quero dinheiro Nosdez de queixo caido. (22) ouvlom pee DEZOITO-LINHAS — Estrofe heterométrica e polirrimi ca, composta de dezoito versos com rimas emparelha- das de quatro em quatro até 0 120verso, e também o 169 € 0 179, e do 139 a0 159,estes ultimos com rimas em -inhas para concordar com 0 189 verso, que termina com a expresso “‘dezoito linhas”. E um género em de- suso. O seguinte exemplo é do cantador Vicente Evan- gelista. 19 No lugar que existe amor com certeza hd quem ame, 22 No luzar que existe pinho com certeza hd arame, 39 No lugar que existe médico com certeza ha exame. 49 Nio reclame pore 25 Discussko ‘52 A nossa programagio. {62 "No lugar que existe padre com certeza ha sermio, 79 No lugar que existe amante com certeza hi paix. 89 A instragio 92 Eleva muito 0 pocta. 109 No lugar que existe sibia com certeza hé analfabeta, 119 No lugar que existe jogo com certeza hé atleta. 129 0 profeta 130 Trouxe exenga ds frases minhas. 149. No lugar que existe reis com certeza hi rainhas, 152 No lugar que existe igrejas com certeza ha andorinhss. 162 Quem nfo versar do meu jeito 179 Morte ¢ no tem direito 189 De cantar DEZOITO-LINHAS. DEZ-PES A QUADRAO — V. Quadriéo de Dez Pés. DEZ-PES-LA-VAI — V. Mourdio de Vocé Cai. DISCUSSAO — F£ muito longa a relagao de folhetos de feira com o titulo de discusszo, como, entre outros: Dis cusséo de Dois Glosadores, Discuss de Dois Poetas, Discussio de José Duda com Jodo Ataide, Discussiio de Leandro Gomes com a Vetha de Sergipe, e A Discussio do Rico com o Pobre. —V. Debate ¢ Encontro. EMBOLADA — Oitava acompanhada de estribilho, geral- mente na disposig¢go ABCBDEEB ou ABCBDEEC ov ainda ABBCDAAC, em que 0 12¢ 0 4 versos tém qua- tro silabas e os demais tém sete. O nome é devido ao encadeamento dos versos. Eu sou caboco Natori i do sertao, Onde tem a rapadura, Onde tem 0 requeifio, ‘Acostumado Com este meu chaptu de couro ‘A bater no cabelouro De sujeito valentio. (23) O nome também se aplica a duas outras modalidades de cantoria. 26 ummougNOOOMEED wm DOm> ENCONTRO EMBOLADA DE DEZ VERSOS — V. Embolada Deo-de- Carreirtio. EMBOLADA DEZ-DE-CARREIRAO — Estrofe de dez decassilabos dispostos no esquema de rimas do Martelo agalopado, conforme o seguinte exemplo do cantador Antonio Correia: — Eu um dia cheguei na beira-mar Quando a maré se achava furiosa, Dei um grito na onda petuosa, Fiz a dgua com medo recuar; E depois entendi subir ao ar, ‘Transportei-me no ribombo dum trovio, Visitei toda aquela regio, ‘Com trés dias de [é voltei em paz; Istoeu fiz, vooé morre e nunca faz, ‘Com Correia cantando carreirio. EMBOLADA DE DOIS PES ou COCO DE DOIS PES — Distico ou quadra de setissflabos, cantado pelo solista, seguido de coro do mesmo metro. A quadra pode ser composta em disticos, permanecendo a mesma deno- minagdo de “dois pés”, isto é, dois versos ow linhas. Solsta ~ Benza-te Deus, moreninha, Benza-te Deus, teu olhar. Cor — A tranga do teu cabelo Fui eu que mandei cortar. Quadra Solsta~ O avido da viva A meiamnoite passou Com 0 corta-vento rodando, ‘Acelerando 0 mot Coro - 0 moté ia parado, © motorista no viu, Chegou no meio da mata O avido se sumiu. ou Solsta - O avifo da vitva 4 meia-noite passou Com 0 corta-vento rodando, acelerando 0 mots. Coro — 0 motd ia parado, o motorista nao viu ‘Chegou no meio da mata 0 avido se sumiu. (24) ENCONTRO — Descri¢do poética de uma luta verbal ou ra ESTRIBILHADO pessoal entre desafetos, nos folhetos de feira como: 0 Encontro de Dois Mentirosos, O Encontro de Zé Garcia com José de Sousa Ledo, 0 Encontro de Dois Errados, ete, V. Debate e Discussac ESTRIBILHADO — Variante da SEXTILHA, em que 0 glosador repete no fim da estrofe uma sétima linha, qua- se sempre proposta por terceiros para servir de MOTE, como neste exemplo do cantador Antonio Batista Gue- des (Bezerros, PE, 1880 — Guarabira, PB, 1918), glosan- do o tema Séo desventuras da vida. Amar-se sem ser amado, ‘Tersse uma esperanga perdida, Quererse bem a quem tem Uma amizade fingida; Pedir-se com preciso E ouvirse dizer um NAO! Sao desventuras da vida. FORTE ~ V. Marco. GABINETE — E outra denominacdo que os cantadores davam a0 Martelo agalopado, ou 20 Galope gabinete, com decassilabos, e que constitufa um género de elite da cantoria, “Cantar o martelo, improvisé-lo ou decla- mélo, respondendo a0 adversirio no embate do desa- fio, 6 0 titulo mais ambicionado pelos cantadores”, in- forma Camara Cascudo. Parece-nos que 0 vocabulo gabinete € usado em oposigdo a popular (poeta de ga- binete, poeta popular). Atualmente as modalidades de gabinete diferem do martelo, € entram na sua composigZ0 versos hetero- métricos: a) GABINETE RENOVADO-Grupo de quatro, cinco ou seis hendecassilabos monorrimos, antecedido de uma quadra e seguido de um terceto, setissilabos, rimando 0 Ultimo verso da estrofe com o grupo de rimas iguais. 0 terceto comeca com rimas emparelhadas e o seu segun- do verso termina obrigatoriamente com a palavra “‘ga- 28 GABINETE RENOVADO binete”. Este novo género da cantoria foi criado pelo cantador cearense Alberto Porfirio da Silva, autor do livro Poetas Populares e Cantadores do Ceard, do qual retiramos este exemplo: ‘A cidade e 0 sertdo Em luta sempre renhidat... Fazem movimentagao Para melhorar a vida. Sai o trem de carga li da capital Levanio a fazenda, 0 agiicar € 0 sal, Farinta de trigo, remédio, metal Ea ferramenta profissional, Linha, agulha e alfinete. Quem ndo canta 0 Gabinete Nao & cantador legal / “puxada”™ avunonoure> 29 GABINETE REPETIDO b) GABINETE REPETIDO-Estrofe que tem por base uma sextilha de setiss‘labos, na disposiggo ABBAAC, segui- da de versos de metros variados; o iltimo verso da sex- titha (C) tem a rima em-erm, repetida a seguir alternada- mente, e finda a estrofe com um terceto de sete sflabas, onde os dois tiltimos versos sZo:“Quem nJo canta gabi- nete / Nao é cantor pra ninguém” Desejando viajar, Dirigi-me a estagi Porque tinhe preciso De ira certo lugar, Entio tinha que comprar ‘Uma passagem também. En tirei um cartio Para embarcar no trem Sem cartio ninguém vai, Sem cartio ninguém ver, Nem vem nem Yai, Nem vai nem ver, E cartio ninguém da, E cartio ninguém tem, Nem tem nem da, Nem dé nem tem, Quem quiser viajar Faga assim também, Forro de sala é tapete, Quem nio canta gabinete Nao é cantor pra ninguém.(25) (C)-em \W/ Q37Q>Q>O>rOmOMOUAD DEED GALOPE — Sextilha composta de decassflabos dos quais 86 tém rima os de ordem par, segundo o esquema rimico ABCBDB. O exemplo que se segue é do cantador per- nambucano Joaquim Francisco Santana (1877-1917), também conhecido por Joaquim Francisco Sem Fim. Quero agora contar publicamente, Aqueles que apreciam minha loa, Descrevendo um trabalho que jé fiz, De um muro em derredor de uma lagoa, E com ele eu cerquei famosos sitios, Sendo a terra amurada toda boa. wowoE> 30 GALOPE GABINETE Também conhecido como martelo de seis pés. GALOPE A BEIRA-MAR — 1° tipo — Décima em que 0 primeiro, 0 sexto € 0 décimo versos so heptass‘labos, sendo os restantes da estrofe hendecassflabos. E uma variante do Martelo, cantado no ritmo do galope dos cavalos nas fazendas do sertio. O exemplo seguinte é do cantador Manuel Galdino Bandeira (1882-195), pa- raibanc de Patos. Mas vai Bandeirinha: No fuso, na prensa, na roda, no veio, Nalinha, na corda, no cabo e arreio, ‘Ameio, no eabo, na corda e na linha, Navosta, na tua, na dele, na minha, ‘Vamos é improvisar Na fortuna, na dita, na sorte, no azar, Nobaque, na queda, no muro, no soo, Naboiada, na lama, no carzo, no toco Dogalope @ beira-mart GALOPE A BEIRA-MAR — 2°tipo.— Estrofe de dez versos de onze silabas, na formula cléssica da décima ABBAACCDDC, com acentuagao tonica na 24, 54, 82 112 silabas, tendo obrigatoriamente o iiltimo verso a palavra “beira-mar”. A praia é uma virgem deifada na areia, Deothos abertos, contemplando a lua, Enquanto nas éguas a barca flutua, Lano firmamento Diana passeia. O sol com citime a praia incendeia, Com raiva da tua que néo quis casa. ‘A lua queixosa comeca a chorar, ‘Na cama do céu, coitada, desmaia! Derramando prantos de prata na praia. (Que coisa bonita na beira do mari(26) avgan>>oe> avvoomp we GALOPE ALAGOANO ~ V. Martelo Alagoano. GALOPE GABINETE ou MARTELO CRUZADO ~ Es- trofe de seis versos de dez sflabas, na disposi¢do ABA BAB, isto 6, rimando o primeiro verso com 0 3%e 0 5°, 3 GALOPE POR DENTRO DO MATO €0 22com 0 42e 0 69 No lugar onde 0 povo é generoso, ‘Nao recuso cantar qualquer momento; ‘No lugar onde o povo é orgulhoso, ‘Nio procuro afinar meu instrumento, Pois no quero que o bruto presungoso Me censure com seu atrevimento.(27) GALOPE MIUDINHO — V. Carretilha. GALOPE POR DENTRO DO MATO — Variante do galo- ped beira-mar, com o mesmo esquema métrico e esquema rimico, porém tratando de assuntos do sertdo. O género foi criado por Simplicio Pereira da Silva, cearense de Barreiras. Companheiro, eu do mar no conhego nada, Nunca fui i praia e menos 20 banho, Pois o mar é um lago pra mim to estranho, Que parece até um mistério de fada. Eu gosto bastante é de uma cacada, La no meu sertdo, muito embora que ingrato! Pra vocé nio pensar que estou com boato: ‘Uma meia hora vamos pélejar Pegue Id seu peixe por dentro do mar Que eu vou cagar peba por dentro do mato. GEMEDEIRA — Estrofe de seis versos de sete silabas, em que 0 cantador intercala entre 0 52 € 0 6°versos 0 estribilho “ai-ai, ui-ui”, em tom lamentoso. Tem a mes- ma disposigdo da sextilha ABCBDB. Geme 0 advogado Quando perde uma questo, candidato também, Quando perde uma eleigo, Eo sertanejo s6 geme Ai, ai, ui, Ui ‘Quando hé seca no sertdo. (28) w> we > w> avunoe poe CS GEMEDEIRA DE DEZ LINHAS — Estrofe de dezsetissi- labos, dispostos na ordem ABBAACCDDB, terminando 0 7° verso coma rimaem im, para concordar com 0 verso final “Gemer de dois é assim”. Entre 0s versos 9%¢ 109 32 JANEIRAS 6 intercalado 0 refro “Ai! Ai! Ui! Uil”, cantado em unissono pelos dois cantadores, juntamente com o tlti- mo verso da estrofe. thofer e 0 caminhdo A fo companheiros de estrada, B Sofrendo carga pesada, B Multa ¢ fiscalizagio. A Além disso a combustio. A Sobe igual a Zepelim, c Sem saber quando tem fim = C Esse pesadelo estranho, D Um sem carga outro sem ganho. D Ait Ait Uit Ui Gemer de dois éassim.(29) GLOSA — V. Mote. INVOCACAO — Apelo que o poeta dirige a uma di dade, no principio de sua obra. O peditério de inspira- do, apesar de muito antigo na poesia classica, deve ter aparecido na literatura de corde! na década de 1920. Os antigos poetas populares como Silvino Piraud, Leandro Gomes, Chagas Batista, Jodo Ataide, Jofo Melquiades, entre outros, nfo usaram em seus folhetos a invocacfo. O exemplo que se segue ¢ do poeta do povo Jogo Rodri- gues Torres, paraibano de Picuf, em seu folheto.A Pran- teada Morte do Dr. Jodo Pessoa, Presidente da Paraiba, ‘Oh! Santo Deus das alturas (Que minha musa entoa, Huminaime a meméria Pra fazer a obra bot Na Paraiba do Norte Quero descrever a morte Do Dr. Jofo Pessoa JANEIRAS — Cantigas populares no sertdo brasileiro re- lativas a0 Ano-Bom: Janeiro ve, janeiro vai: daquele que tem seu pail 33

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