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7 METODOS DE INVESTIGAGAO EM BIOMECANICA ABiomecanica é uma area de conhecimento que possui métodos de investigagao proprios para andlise do movimento. Nesta disciplina, destacaremos trés métodos: a cinemetria, a eletromiografia a dinamometria. 0 movimento humano pode ser estudado sobre diferentes aspectos ~ por exemplo, considerando sua velacidade de execugao, ou entéo visualizando os misculos participantes da ago, ou ainda medindo a forga externa (impacto) recebida do solo em um instante especifico do gesto motor. Para cada um desses aspectos citados é necessério entender: © Que instrumento permite seu registro? * A qual érea de investigagao da Biomecanica esse instrumento pertence? * Quais os fatores que podem comprometer o registro do movimento a ser analisado? O entendimento sobre a definiggo, os instrumentos usados ¢ os pardmetros do movimento que sio registrados e analisados em cada uma das éreas de investigacdo da Biomecinica permitem responder 05 questionamentos anteriores ¢ comoreender como cada detalhe do movimento humano pode ser estudado isoladamente e em conjunto para entender sua mecanica de execucao. 7.1 Cinemetria A cinemetria & a area de investigacao da biomecanica que estuda os parimetros cinematicos do movimento: deslocamento, velocidade ¢ aceleragao. Para tanto, o movimento ¢ filmado com cameras de video ou cémeras optoeletrénicas, eas informagdes captadas pela camera sao armazenadas ¢ analisadas, por softwares de computadores especificos (BAUMANN, 1995) No mercado ha uma grande variedade de cdmeras e softwares que permitem o registro cinematico do movimento. 0 meio mais simples de obter tais dados é usando uma camera de video caseira € realizando a anélise dos dados manualmente ou por meio de softwares de computadores, tais como Videopoint, SkillSpector e SAMAT. A forma mais robusta é adauirindo sistema de andlise cinematica completo com cameras de video ou optoeletrdnicas de empresas conhecidas, tais como Vicon € Motion Analisys. $$$ Ta UI | A grande diferenca entre os sistemas esta na: * automacdo para tratar ¢ analisar os dados: o sistema mais robusto crie de forma mais répida as tabelas e graficos para a discussao dos resultados do estudo; * velocidade de registro do movimento: o sistema mais robusto geralmente tem cdmeras mais rapidas que conseguem captar mais detalhes do movimento executado. Das diferengas citadas, a que interfere mais na captago dos detalhes do movimento € a velocidade de registro da cdmera. Esse é um fator limitante a ser considerado quando se pretencdle usar a cinemetria para estudo do movimento, A anélise de um chute do futebol ou uma cortada do voleibal s6 sera bem- feita quando se usa uma camera mais rapida, com maior velocidade de captacao. Por exemplo, uma cémera de 60 hz € capaz de dividir cada segundo do movimento registrado em 60 quadros; jé uma camera de 1,000 hz divide 0 mesmo segundo do movimento em 1.000 quadros. Portanto, usar uma cémera de 60 hz para analisar um chute do futebol ou uma cortada do voleibol limitard a visualizagao detalhada dos movimentos articulares, comprometendo a discussao e anilise desses gestos motores. Essa é uma importante informagao da area para se ter em mente no momento de selecionar artigos cientificos para leitura e estudo de movimentos analisados com a cinemetria, 0 ambiente usado pare registro do movimento também pode comprometer o resultado dos estudos cinematicos, no caso de uma preparacao inadequada. 0 ambiente de coleta € preparado considerando dois aspecto: * a fixagdo € 0 enquadramento da cémera, * a calibragao do ambiente, A cémera é fixada a um tripé, apés determinaco do enquadramento da filmagem, ¢ nao & movimentada a partir desse instante. 0 enquadramento da filmagem depende da visualizacdo de todas as partes relevantes do corpo do sujeito a ser filmado na coleta no visor da camera, Para efetuar esse juste, 0 sujeito se movimenta em frente a camera. No caso de movimentos dinamicos, como os da locomogéo, é preciso garantir que o sujeito execute de trés a quatro passos em frente 8 cémera para viabilizar 0 registro de um ciclo completo do movimento. Os detalhes sobre a caracteristica do ciclo da marcha ¢ da corrida sero discutidos a seguir. A calibracdo do ambiente depende da filmagem de um objeto de dimensdes conhecidas no exato local de realizacdo do movimento. As imagens obtidas na filmagem nao tém as mesmas dimensées das visualizadas no computador. Por exemplo, um sujeito com 1,70 m de altura visto pessoalmente tera ‘apenas 0,50 m de altura ao ser visto pela imagem da camera projetada na televisio. As proporcées entre a medida real e a medida obtida e projetada pela cémera na televisio ou em um computador sao diferentes. 0 objeto com dimensdes conhecidas servird para ajustar as proporgées de altura, comprimento. € profundidade entre os ambientes real ¢ virtual. ——______—- 0 objeto a ser filmado pode estar configurado no formato planar, bidimensional ou tridimensional, a escolha pelo uso de determinada caracteristica do objeto depende do objetivo da pesquisa. Caso haja interesse em analisar somente os movimentos no plano sagital, por exemplo, os movimentos de flexdo ¢ extensao das articulacdes no chute do futebol, um objeto planar na calibragao jé € suficiente para interpretar os dados coletados. No entanto, se o interesse do pesquisador for verificar os movimentos de supinacéo € pronagao do tornozelo em uma corrida, a interpretagdo dos dados ficaré mais completa mediante o uso de um calibrador tridimensional, porque esses movimentos do tornozelo envolvem os trés planos anatémicos em sua execucio ‘Apds a preparagéo do ambiente de coleta, deve-se preparar o sujeito para filmagem. Para tanto, marcadores reflexivos (que refletem luz) so usados em pontos especificos do corpo do sujeito. A determinacao dos pontos a serem marcados no corpo do participante da coleta depende novamente do objetivo do estudo. No caso, na andlise cinematica do movimento da marcha no plano sagital, deve-se entender que as articulagdes mais representativas (que mais se movimentam) para realizar esse gesto motor sao 0 tornozelo, 0 joelho € 0 quadril; portanto, marcadores reflexivos deverdo identificar 0 deslocamento dessas articulagdes na filmagem da marcha. No caso de uma analise bi ou tridimensional outros pontos anatémicos serao marcados no corpo do sujeito (veja a figura a seguir). Para correta marcacdo dos pontos anatémicos € para cdlculo de parametros biomecdnicos importantes para pesquisa, usam-se os modelos criados por Hatze, Zatsiorsky ¢ Hanavan Figura 83 -llustragéo dos pontas anatémices em coleta que veifca a ago muscular em exercicios com haste oscllatéria A mecanica de execugao do movimento é explicada de forma mais detalhada quando se vinculam 0s dados obtidos da cinemetria com os registrados pela eletromiografia. Para entender a importancia da eletromiografia na analise do movimento humano, esta area de investigagao da Biomecanica sera descrita a seguir Ta UI | 7.2 Eletror grafia A cletromiografia é a area de investigacdo da Biomecdnica que permite registrar a participagdo dos miisculos em determinado movimento. A ordem para o misculo participar ou nao do movimento & dada pelo sistema nervoso, ao enviar sinais elétricos conhecidos como potenciais de acdo. Os potenciais de agdo consecutivos emitidas pelo sistema nervoso sao captados pelo sensor conhecido por eletrodo. 0 eletrodo € conectado ao eletromiografo (veja a figura a seguir), que envia os sinais registrados para o computador com software especifico para armazenamento, tratamento € anélise dos dados (DE LUCA, 1997) Figura 84 ~ llstragéo do eletromigrafo EMG 1000 da Lyrx Tecnologia Eleténica Existem dois tipos de eletrodos bem conhecidos na area da Biomecdnica para estudo do movimento humano: o de superficie e o de agulha, Veja Figura 55 ~ Sensores que registrar os si cletromiagraficas ne movimento 0 eletrodo de superficie & posicionado na pele sobre o ventre dos miisculos que se pretende estudar na pesquisa cientifica. A figura a seguir ilustra o uso do eletrodo de superficie, colocado sobre o ventre do miisculo do quadriceps. 0 objetivo dos autores foi verificar 0 padréo de atividade muscular do complexo do quadriceps nos exercicios de cadeira extensora (veja a seguir a figura a) e de legpress (veja a seguir a figura b) de sujeitos com lesio de ligamento cruzado anterior, Para tanto, a participacéo do misculo nos diferentes movimentos foi registrada por meio da eletromiografia Figura $6 ~ ustragdo da colocagao do eletrodo de superficie sobre o misculo do quadriceps para andlise dos movimentos caira extersora a) ¢fegpress com apoio unipodal() Diferentemente do eletrodo de superficie, o de agulha € posicionado dentro do corpo do sujeito. 0 misculo profundo a ser acessado para registro tem a agulha espetada nele. A agulha € fixada com fita adesiva para se deslocar 0 minimo possivel na anélise do movimento. Por ser um método de medi¢éo muito invasivo e dolorido, so raros os estudos na Biomecdnica que usam o eletrodo de agulha para registrar 0 movimento. 0 procedimento para colocagdo dos eletrodos sobre os musculos é definido pela localizagao do seu ponto motor por um equipamento denominado eletroestimulador (veja a figura a seguir) ou por protocolos de localizacdo dos sensores com base em proeminéncias € estruturas dsseas, como 0 determinado pele Seniam (conforme veremos adiante). Esse & 0 primeiro passo do procedimento experimental para viabilizar a analise do movimento por meio dessa drea de investigagao da Biomecanica a = Figura 57 - llustvagdo do procedimento para identticagdo do ponto motor do musculo por eletroestimulagao $$ Ta UI | 0 eletroestimulador ilustrado na figura possui uma caneta que sera posicionada na superficie do ventre muscular, Essa caneta emite pulsos elétricos (choques de baixa voltagem) que estimularao 0 musculo, fazendo-o contrair. A voltagem ¢ a frequéncia do sinal sdo definidas em sequéncias de pulsos especificas para nao lesionar a pele dos sujeitos do estudo Quando 0 estimulador atinge 0 local no qual a contragdo muscular fica mais intensa, localiza-se 0 ponto motor. Portanto, 0 ponto motor & a area de maior inervacao muscular, e & através dela que o sistema nervoso central emite os impulsos elétticos para comandar a acao muscular no movimento, 0 protocolo de localizacdo de sensores definido pel Seniam tem o mesmo objetivo do eletroestimulador: padronizar o posicionamento dos eletrodos nos diferentes sujeitos que serdo analisados em um mesmo estudo. Este, no entanto, evita o desconforto para os participantes do estudo, que no receberdo pequenos choques como na técnica mostrada anteriormente. Alocalizagao do ponto motor dos misculos se da pela distancia entre regides anatémicas conhecidas nos segmentos do corpo. Abaixo estao alguns exemplos da descrigéo usada pelo protocolo Seniam para localizacdo do ponto motor e colocagao do eletrodo: ‘© Masculo tibial anterior: 1/3 de distancia entrea cabeca da fibula eo maléolo medial, considerando a cabega da fibula como ponto de origem. * Misculo gastrocnémio lateral: 1/3 de distancia da linha entre o calcanhar e a cabeca da fibula, considerando a cabeca da fibula como ponto de origem, ‘© Musculo do trapézio: metade da distancia entre a borda medial da escdpula e a coluna vertebral na altura da vertebra toracica 73 ‘© Masculos eretores da espinha: 2 cm de distancia lateral em relago ao proceso espinhoso da vértebra lombar L1 ‘* Misculo triceps braquial: metade da distancia entre o oleerano e a crista posterior do acromio. * Miisculo biceps braquial: 1/3 de distancia da fossa cubital entre o acrémio medial ea fossa cubital. Percebe-se, com o detalhamento das informagées vistas anteriormente, que o protocolo da Seniam se baseia na colocacao dos eletrados sem criar desconforto por aplicagao de choques nos participantes, do estudo e atinge o objetivo de padronizar a localizagao dos pontos motores entre os participantes de um mesmo estudo. Como a eletromiografia tem por objetivo estudar a participagdo dos musculos no movimento, a localizagao do ponto motor e a colocagao do eletrodo em relagdo a ele sao de grande relevancia para 0 procedimento experimental. Se 0 eletrodo estiver muito préximo do ponto motor, o sinal eletromiografico registrado sera mais intenso; quando mais afastado do ponto motor, o sinal eletromiogréfico serd menos intenso. Como as analises de movimentos dependem do registro de agdes musculares que ocorrem em mais de um sujeito, padronizar 0 posicionamento do eletrodo evita 0s erros de registro entre os sujeitos, ou seja, o misculo do quadriceps do sujeito A pode apresentar menor ativagdo do que o mesmo musculo do sujeito B, nao pelo fato de o eletrodo do sujeito A estar mais distante do ponto motor em relagao ao sujeito B, mas sim porque o misculo foi menos usado pelo sujeito A do mesmo movimento executado pelo sujeito B. Portanto, ao estudar um artigo cientifico sobre eletromiografia, deve-se verificar se 0 autor da pesquisa foi cuidadoso na padronizagao de colocagao dos eletrodos, caso contratio, o resultado do estudo pode nao ser tio confidvel em fungo de um erro humano na etapa de coleta do registro eletromiografico Aeescolha dos musculos a serem registrados pelos eletrodos depende do gesto motor que se pretende conhecereestudar. 0s movimentos da caminhada,corrida ou salto sao predominantemente realizados pelos masculos dos membros inferiores. Portanto, posicionar os eletrodos sobre os misculos tibial anterior, gastrocnémio lateral, reto femoral, vasto medial e biceps femoral, por exemplo, seria uma estratégia adequada para saber como eles se comportam para controlar 0 impacto nas articulagées do tornozelo, joelho e quadril. Qu ainda, pode-se verificar com a mesma anélise 0 comportamento desses musculos para acelerar 0 corpo para frente (marcha € corrida) ‘ou para cima (salto) por meio das mesmas articulagdes. Basta estudar as fases de desaceleragao € propulsao dos movimentos, respectivamente. No caso de um exercicio destinado a movimentar principalmente os membros superiores, tal como ‘0 movimento de elevacdo lateral, a escolha pelos miisculos que executam o movimento de abdugiio de ombro € dos que controlam a postura nesse movimento torna-se a estratégia mais adequada para analise do gesto motor. Nesse caso, misculos como deltoide acromial, peitoral maior, trapézio, latissimo do dorso, reto do abdome e obliquo externo seriam os mais indicados. Independentemente do objetivo do estudo e, por consequéncia, dos muisculos selecionados para colocacao dos eletrodos, ¢ importante compreender que a cletromiografia permite verificar a estratégia usada pelos musculos para coordenar 0 movimento em cada uma de suas fases. Para tanto, deve-se verificar qual musculo esta ativo em determinada fase do gesto motor ¢ por quanto tempo, De modo geral, os musculos que sio acionados no instante que @ maloria dos segmentos do corpo esta acelerando para baixo (a favor da forga da gravidade) funcionam para controlar a execucdo do movimento ou desacelerar 0 movimento articular, € normalmente atuam em contragao excéntrica. £ o caso da aterrisagem de um salto (veja a figura a seguir): para reduzir © impacto sobre 0 corpo, as articulagdes flexionam de forma controlada para o executor do movimento nao cair no chao. Esse movimento articular sé é possivel porque os musculos agem em contracao excéntrica, $$$ Ta UI | Figura 58 - Movimento de fexao das aticulagdes do tornozelo, etna e quattil na aterissagem de um salto vertical para registro da ago muscular Quando os musculos so acionados para acelerar 0 corpo para cima (contra a ago da gravidade), sua fungéo & a de gerar movimento ou acelerar 0 movimento articular, e normalmente atuam em contracao concéntrica. Um movimento que ilustra essa situagao é 0 do agachamento entre a fase principal do movimento (veja a seguir a figura a) e a fase ascendente do movimento (veja a seguir a figura b). Figura $9 —llustragdo das fases do agachemento: fase principal [a fase ascendente (4) Finalmente, quando os miisculos opostos em torno de uma articulagao ativam ao mesmo tempo no movimento, sua funcdo € a de gerar estabilizagdo articular para manter a articulagdo em uma postura SEE SEER estética. Para esta funcdo, 0 musculo & normalmente acionado em contragdo isométrica, A figura a seguir ilustra uma situagao de estabilizacao, obtida do estudo de Pandor e Vieira (2010), que analisaram a ago dos musculos reto do abdome e obliquo externo em exercicios de estabilizagéo de coluna com a bola suica fa ) Figura 60 - llustragda da analise eletromiogrfica dos masculosreto do abdome e obliquo externa no movimento de prancha ‘com apoio na bola suga ¢ os dois pés em contato com a soo (a) com 0 apoio na bola suga ¢ apoio unipodal () No instante da coleta, o sinal eletromiografico dos musculos atuantes no movimento pode ser visualizado na tela do computador por meio de um grafico. Em a, a figura a seguir mostra a forma desse sinal eletromiografico, conhecido por sinal eletromiografico bruto. Ele é nomeado dessa maneira por conter impurezas, ruldos de fontes elétricas externas, que néo representam o potencial de aco emitido pelo sistema nervoso central. Para entender o significado dos ruidos no sinal eletromiografico, lembre-se do que acontece quando se esta conectado a uma estacdo de radio e ela comega a captar informagdes de outra estacéo de radio ao mesmo tempo: as informagdes se unem e nao se tem clareza sobre o que esta send dito por nenhuma delas, 0 ruldo inerente ao sinal eletromiografico bruto é parecido com a interferéncla que ocorre entre as estacdes de radio. Como o sinal captado pelo cletromiografico é eletrico, todas as fontes externas movidas por eletricidade podem penetrar no sinal coletado pelo eletrodo, nao apenas os potenciais de acdo musculares. Entdo, a intensidade do sinal pode ficar mais forte ou perdurar por mais tempo nao porque o musculo estudado estava agindo dessa forma no movimento, mas porque havia um ruido externo que mudou 0 padrao do sinal eletromiografico coletado. Para minimizar esse ruido elétrico externo € mao atrapalhar 0 estudo do comportamento do sinal eletromiografico, o snal bruto passa por filtros que o transformam em um sinal conhecido por envoltério linear (veja a seguir a figura c) $$$ Ta UI | Sinal EMG (Brato) Amplitude (mv) Amplitude (nM Amolitude (mv) 18 Tempo (3) Figura 61 ~ llustragdo das curvas do sna eletromiografco apés aquisgdo do sinal brutoe tratamento ds dads registrados (a): sina retficado (be envoltrio linear fe) q Saiba mais Leia 0 artigo a seguir, sobre instrumentacao de eletromiografia, para melhor entendimento sobre procedimento experimental para uso da eletromiografia na andlise do movimento humano: MARCHETTI, P. H; DUARTE, M. Instrumentagdo em eletromiografia 2008. Disponivel em: . Acesso em: 17 nov. 2016. 0 envoltério linear € um grafico que mostra a intensidade de ativagao muscular em acordo com 0 tempo de execucio do movimento de forma mais clara. Nesse grafico, os filtros que minimizam o ruido do sinal eletromiogréfico bruto foram usados, portanto, esse & 0 sinal mais confidvel para andlise € discusso do comportamento muscular. oo —_—_—_§p. Um exemplo de discussio feita a partir da andlise de urna curva eletromiografica do tipo envoltério linear pode ser visto no estudo de Suda e Sacco (2011), no qual os autores compararam a atividade eletromiografica dos misculos de membro inferior de sujeitos com e sem instabilidade funcional de tornozelo no movimento de deslocamento lateral. A figura a seguir mostra o grafico de envoltério linear referente a atividade do misculo tibial anterior dos sujeitos sem (curva de circulos sem preenchimento) e com (curva de circulos com preenchimento) instabilidade funcional de tornozelo no movimento de deslocamento lateral. Ao estudar 0 formato das curvas do grafico, percebe-se que ha um pico de ativacdo muscular da ordem de 0,32 CVIM aos 20% do ciclo do movimento de deslocamento lateral para 0 grupo que nao tem lesdo de tornozelo € um pico de ativago do musculo tibial anterior menor (0,17 CVIM) aos 28% do ciclo do movimento de deslocamento lateral para o grupo que tem lesao de tornozelo. Portanto, é possivel perceber que o miisculo tibial anterior esté acionado no inicio do ciclo do movimento para ambos os grupos, mas a intensidade de ativagdo do misculo para 0 grupo saudavel & maior do que para o grupo lesionado. Bem como o tempo para atingir 0 pico de ativagéo muscular difere entre os grupos, no grupo lesionado o pico de atividade muscular do tibial anterior é mais tardio em relagdo ao grupo saudavel. 080. 055. Tibial anterior —O- Grupo controle a0 — Srpo com insta funcional de oraz ous gS 82 ovo BS ge Se 28 0 20 40 «0 0 100 Templo (do ciclo) Figura 62 llustragda do envoltrio linear referente &atvidade do masculo tibial anterior dos sujitos sem (curva de circu sem preenchimento} com [curva de circulos com preenchimento) instatilidade funcional de tornozelo rno movimento de deslocemento lateral Uma vez que se verifica no envoltério linear 0 comportamento da intensidade do sinal e do tempo de ocorréncia, podem-se discutir resultados e concluir fatos sobre a analise desse parametro do movimento humano. $$ $_____—. Ta UI | | 0 termo instabilidade funcional de tornozelo € usado para descrever a sensacéo subjetiva de ir adiante ou perceber grande instabilidade articular na tegido do tomnozelo depois de repetidos episddios de entorse por movimentos de inversdo excessivos. Essa sensacio de instabilidade & provocada por mudancas nas respostas eletromiogrificas para 0 controle do movimento. Alem do registro dos parametros cinematicos e eletromiagraficos do movimento, a Biomecdnica permite o registro dos pardmetros cinéticos do movimento pertencentes a area de investigagao da dinamometria 7.3 Dinamometria A dinamometria € a dltima area de investigagao da Biomecénica a ser discutida e caracterizada nesta disciplina. Com os equipamentos pertencentes a ela é possivel registrar as forgas internas € externas a0 corpo. As forgas internas so mais raras de serem registradas, porque tal procedimento experimental depende da implantagdo do sensor que as registra no interior do corpo do sujeito, conhecido por transdutor de forca, Trés estudos cléssicos da Biomecdnica usaram esse tipo de procedimento, No procedimento experimental do estudo de Komi, Jarvinen e Kokko (1987), houve a implantagéo de um transdutor de forca no tendao do caledneo para avaliar a forca interna dessa estrutura nos movimentos de marcha, corrida e salto. Esse sensor tinha um formato parecido com um clipe de escritério, que foi posicionado no tendao da mesma forma como 0 clipe € posicionado em uma folha de papel: 0 tendao ficava prensado no meio do transdutor de forca, Com a forga de atrito € a consequente dor gerada pelo material do transdutor sobre 0 tendao do calcdneo, especialmente na execucao dos movimentos propostos,a técnica dos gestos motores foi alterada de forma significativa, comprometendo © registro da real intensidade de forga interna produzida pelo tendao do caledneo nos movimentos da locomocdo. Dada 4 complexidade do uso desse procedimento experimental e da interferéncia dos valores de medida de forga que se pretende registrar, esse design cientifico de anslise de movimento nao € muito explorado na Biomecanica Nachemson (1976) € Wilke et a/. (1999) também desenvolveram um transdutor de forca em forma de agulha, conforme a figura a seguir, para ser inserido no disco intervertebral das vertebras lombares, ———______—o- Sensor de sinal ¢ f Sensor de presséo poténcia sem fio | AP f \o10 f tasede 212 20 5 f metal | O33 \ Tubode : : poimento |g ibe ne reaivomente tio Figura 63 - llustragdo do transdutor de pressio em forma de agulha que fol inserido no disco intervertebral entre as vércebras lambares L4€ LS para registro da pressio intradiscal A intengao dos autores foi medir a presséo sobre o disco intervertebral em diferentes posturas estaticas, como mostra 0 grafico: 500. EEA Witke ex at (1999) 450. (FE Nachemson (1970), 400. ze 4 FE on es $2 20. ? gE SE 20 P = 150: i 100. 50. Lh Figura 64 - Resultados do cegistra de pressio intradiscal com dinamémetro de agulha em diferentes posturas estaticas| Posigdes estaticas| Apesar do método invasivo dos procedimentos experimentais supracitados, os resultados ¢ discusses de ambos os trabalhos melhoraram o entendimento sobre as posigdes que podem minimizar as forcas compressivas aplicadas ao disco intervertebral, tais como a posigao deitado em decubito dorsal © a posigao sentado com encosto da cadeira inclinado entre 90 € 110 graus. Essas informagdes sio de grande importéncia na pratica profissional do professor de Educacio Fisica por permitir que ele escolha exercicios para fortalecimento dos musculos do abdome que nao sobrecarreguem os discos, intervertebrais de um aluno que tem hérnia de disco, por exemplo. $9 Ta UI | a Observacao A hétnia de disco € uma lesdo do disco intervertebral acasionada pelo rompimento parcial das fibras de cokigeno, que formam o anel fibroso. Essa alteragio estrutural favorece o escape do niicleo pulposo, que pode pingar 0s nervos localizados préximos 4 coluna vertebral. Exemplo de aplicagao Nachemson (1976) e Wilke et al. (1999) mostraram o comportamento das forcas de pressdo sobre 0 disco intervertebral em diferentes posicdes estaticas com e sem adigdo de implementos (pesos) Reflita sobre a relagdo entre o tamanho do braco de alavanca resistente na coluna, © aumento da atividade dos musculos estabilizadores de coluna e 0 aumento da pressao intradiscal nas diferentes posigdes estaticas com e sem implemento adicional. Outro tipo de forga que pode e é exaustivamente registrada e analisada na érea da Biomecanica € a forca externa, Para o registro dessa grandeza fisica, 0s equipamentos sio posicionados fora do corpo do sujeito, sobre a regio plantar, por exemplo, ou no ambiente do laboratério. Ao posicionar um equipamento na regido plantar para medi a forga que incide nessa drea, pretende- se medir a grandeza fisica conhecida por pressio, mais especificamente a pressio plantar. Os instrumentos usados na dinamometria para medir pressdo devem, portanto, ter uma area sobre a qual a forga seré imposta em determinada regido do corpo. Para isso, existem as palmilhas, os tapetes ¢ as plataformas, conforme as figuras a seguir, que medem a distribuicdo de pressio no aparelho locomotor. As palmilhas representadas na figura so muito usadas para verificar a pressao imposta sobre as Areas dos pés em movimentos de locomogio (caminhada, corrida e salto). Quando o pé € posicionado no solo, na caminhada e na corrida, por exemplo, mudamos o ponto de apoio da regido do caleanhar para a regido dos dedos, cada vez que trocamos pé que est no cho. Isso permite a transferéncia do peso corporal para propulsionar o corpo para frente. No entanto, para acorrer 0 deslocamento dessa forca sobre a regido plantar, nos instantes de colocacao ¢ retirada do pé do solo, a area de contato na qual a forga esta distribuida € menor, justamente pelo fato de os pontos de apoio estarem limitados ora nos calcanhares, ora sobre os dedos. Diminuir a drea de contato implica em aumentar a forca local, ou seja, a presséo, ————___—_—_\®o- | er A grandeza fisica conhecida por forca de pressio & definida pela formula Onde: P = Ea forca local ou pressao, cuja unidade de medida ¢ Newton (N) por metro quadrado (m2). F = Ea forca externa aplicada sobre a superficie de contato, A=Ea area de contato da superficie de contato sobre a qual a forca é distribuida. Perceba que as variivels pressio area de contato ficam em linhas diferentes na equagao que acabamos de descrever. |ss0 indica que o comportamento dessas duas varidveis € inversamente proporcional, ou seja, supondo que o valor da forca permanece igual, quando o valor da area de contato diminuir, a pressio aumentara, e quando o valor da area de contato aumentat, a pressao diminuird, Para garantir menor pressdo local, deve-se, portanto, ou diminuir a forca ou aumentar a area de contato na qual a forca incide, Considerando @ regido plantar, o controle da pressio local protege a pele, evitando lesdes tegumentares do tipo vermelhidao local, bolhas, feridas e calosidades. Por conta disso, a industria de calgado usa muito o instrumento de distribuigéo de pressao plantar para testar e aperfeigoar os materiais usados em palmithas ¢ solados. Se um calcado for construido com um solado duro e/ou uma palmilha com material pouco deformavel, principalmente nas regides de contato do pé com 0 solo, havera maior pressao local e o sujeito perceberd maior desconforto. Isso poderd comprometer a aceitagio € a vende do produto no mercado, Mais do que promover venda de produtos, a distribui¢do de forgas & de fundamental importancia para aperfeigoar a qualidade de vida de sujeitos com diabete neuropatica, cadeirantes ou pessoas inconscientes ¢ acamadas em hospitais Os diabéticos neuropatas, dferentemente das pessoas sem essa patologia, nao percebem as forcas externas aplicadas nas ateas das extremidades corporais, ou seja, eles ndo percebem @ magnitude das forgas de pressao em regides como as mos € os pés. A percepcio da magnitude dessas forcas € essencial para criatem estratégias de controle de forcas. $$$ Ta UI | Por exemplo, se um idoso sem neuropatia diabética esta caminhando em um parque ena camminhada entra uma pedtinha no seu ténis, imediatamente ele parard o exercicio fisico para remover a pedra, por perceber umn grande incomodo em uma regido do pé (maior pressao). No entanto, se essa mesma situagio for vivenciada por um sujeito com neuropatia diabética, o neuropata nao parara o exercicio para remover a peda, por ele nao perceber que hd pedra no tenis, 0 mecanismo de protegao do corpo contra a pressio local que a pedra criard no pé desse sujeito em exercicio € comprometido pela doenca, © que possivelmente provocard uma lesio tecidual, que para o diabético neuropata seré muito grave, haja vista que os diabéticos tém a capacidade de cicatrizagdo de lesdes teciduais afetada pela doenca. A importancia da dinamometria para o desenvolvimento de palmilhas e calcados esportivos ou de calgados de uso didrio para melhorar a qualidade de vida de sujeitos diabéticos neuropatas pode ser percebida apés estudar o exemplo que acabamos de apresentar. Cadeirantes ou sujeitos inconscientes ¢ acamados em hospitais também dependem dessa tecnologia da rea da dinamometria para o desenvolvimento de cadeira mais ergonémicas, que reduzem a pressio sobre a regio glitea, ou pata criagdo de almofadas antiescaras ou almofadas d'égua, que reduzem a pressao nas regides de apoio permanente vivenciada por sujeitos inconscientes ¢ acamados. 0 desenvolvimento de materiais também importantes para esses sujeitos dependem da anilise de distribuigao de pressao usando instrumentos em forma de tapetes, como ilustra a figura a seguir: tH crsorvrse ‘As escaras sio feridas que aparecem na pele quando a area corporal na qual essa pele se encontra fica exposta a forsa local (pressao) por longo periodo de tempo. A analise da distribuigao de pressdo em movimentos sem 0 uso do calgado ou com calcados de construcdo diferenciada, como no caso da sapatilha de ponta das bailarinas, pode ser feita por meio da plataforma de distribuigao de pressao, conforme ilustrado na figura anterior. Esse instrumento tem o mesmo principio de medida dos outros dois ja mostrados anteriormente: seus sensores medem a forca aplicada na area da plataforma quando esta suportar uma parte do corpo. Mas se é 0 mesmo principio de medida, por que uma plataforma, e nao uma palmilha? A palmilha deve ser ajustada ao tamanho do pé do sujeito analisado em movimento e colocada entre 2 palmitha do calgado que sera usado na coleta e a regido plantar. Na condigao descalco nao ha calgado, portanto, nao é possivel usar a palmilha por ndo haver a possiblidade de fixa-la na regido da planta do pé no movimento, dai a necessidade da plataforma de distriouigao de presséo. J na situagao da sapatilha de ponta, apesar de existir um calgado, quando uma bailarina sobe nas, pontas, 0 local de apoio nao € na regio da planta do pé, mas sim na regiao do dorso do pé, porcéo superior dos dedos. Entéo, analisar a pressdo na regido plantar nao faria sentido com o uso das sapatilhias de ponta. Quando a bailarina sobe nas pontas sobre a plataforma de pressio, verifica-se uma area em formato circular com cores mais fortes na parte sob a porcdo anterior dos pés, Por isso, as feridas, bolhas © calosidades se formam na porgdo superior dos dedos dos pés, jd que essa & a drea de maior contato entre pé e sapatilha de ponta e, portanto, a que recebe forcas de presstio de maior magnitude. Quando se pretende registrar apenas a forga imposta ao corpo sem importar em qual area essa forca incide, utiliza-se a plataforma de forca de reagao do solo, Esse instrumento pode ser fixado no solo ou montado em esteira, conforme demonstrado pelas figuras a seguir. 2, Figura 65 - llustragdo da plataforma de forga de reagdo do solo para registro do ehoque mecanieo no movimento Figura 66 ~ Plataforma de forga de reagdo do solo montada em esters ~ Sistema Gaitway Acesteira é usada principalmente para quantificar a forca de movimentos de locomosao, como a marcha ¢ a cortida. A grande vantagem ao usar esse instrumento é a possibilidade de registrar os valores de impacto de varios passos do movimento, de ambas as pernas, em segundos, Entretanto, somente a forga que incide na direcao vertical do corpo pode ser mensurada com esse instrumento, as forcas, horizontais nao sao registradas. Jé a plataforma de forca fixa no solo pode ser usada para quantificar o impacto em qualquer movimento no qual o pé a toca, como saltos, movimentos de mudanca de direc3o, marcha e corrida Ta UI | Outra vantagem é a possibilidade de medir as forcas que ocorrem em todas as diregdes do movimento, vertical, horizontal anteroposterior e horizontal médio-lateral. A desvantagem refere-se ao tempo de coleta. £ necessdrio registrar no minimo cinco movimentos validos de cada sujeito; para isso, 0 sujeito devera passar pela plataforma sem ajustar o movimento, pois se houver ajuste, a técnica do movimento mudard € nao representard a realidade. Ou seja, se 0 sujeito estiver caminhando em dirego a plataforma e perceber que o tamanho do passo que usou nao permitiré que ele pise com um dos pés sobre a plataforma, ele nao poderd diminuir ou aumentar a amplitude do passo para acertar a plataforma. Essa tentativa de registro deverd ser excluida e uma nova tentativa sera registrada. Entao, a ambientacao no local de coleta sera muito importante para o sujeito conseguir perceber © espago que possui para colocar o pé sobre a plataforma, Muitas vezes, essa ambientaco demanda tempo, entio a coleta de dados torna-se mais longa, o que caracteriza uma desvantagem, passivel de ser controlada, da plataforma de forca de reagdo do solo em relagéo a esteira instrumentalizade, Como o insttumento mede o impacto e € conhecido por plataforma de forga de reacao do solo, fica facil descobrir com base em qual conceito ele foi desenvolvido. A Terceira Lei da Fisica descoberta € escrita por Newton mostra que para toda acdo, existe uma reagdo de igual magnitude e direcdo € sentido oposto. fl Observasaio 0 calculo da forga é feito por melo da seguinte equacao: Femxa (N) Onde: F = E.a forca aplicada em um objeto ou superficie, cuja unidade de medida é o Newton (N} m = Ea massa do corpo ou objeto em deslocamento, a aceleragio do corpo ou objeto. Uma caracteristica muito importante da plataforma de forga de reagao do solo é que ela quantifica 2 forga dinémica, ou seja, toda vatiacdo de forca para mais ou para menos no movimento € registrada em forma de grafico. Um exemplo dessa medida pode ser observado na fiqura a seguir. ———___—__- Componente vertical da forga cde reagio do solo (Fy) Tempo (3) Figura 67 - Grafco qu iistra a contnuidade do registro da plataforma de forga de reagéo do Salo ao longa do tempo ‘do movimenta yt primero pic de forge da componente vertical da orga de eagdo da Solo, 2 € 0 segundo pica de forga 62 componente vertical da forga de reagdo do solo, AtFyl€o intervalo de tempo para aleangar Fy) 0 grafico dessa figura ilustra como a forca varia no movimento da corrida € mostra os principais valores que sao obsetvados para estudar esse movimento, tais como, os valores de forga maxima (picos de forgal, 0s de deplecdo de forea (queda da forca) e os de tempo de ocorréncia para as maiores e menores forcas no movimento, Se esse instrumento fizesse somente medidas estaticas, 0 resultado observado seria de apenas um nico valor que representaria a forca maxima do movimento, o que aconteceria antes ou depois desse valor maximo ficar desconhecido. Um exemplo de quantificagdo de forca estatica pode ser observado no dinamémetro estatico de preensio manual, que mede somente o valor maximo da forca de preensio imposta ao dinamémetro. Alem de representar 0 movimento na forma de grafico, ou seja, por meio de uma andlise dindmica, a Plataforma de Forca de Reacdo do Solo € capaz de dividir as Forgas nas suas trés componentes ortogonais: vertical, horizontal anteroposterior e horizontal médio-lateral (veja a figura a seguir). A componente vertical da forga de reacdo do solo, também conhecida por meio do simbolo Fy, representa a quantidade de impacto aplicado no aparelho locomotor em determinado movimento. Ela sofre grande influéncia da agao da forca da gravidade, por isso é a mais estudada na Biomecdnica. Veja: Ta UI | 18 ‘Componente vertical (Fy) Liha do Peso Corporal PC) Componente horizontal ‘mediolateral (2) ~~ comaonente horizontal antereposterior (Fx) 0 20 0 60 80 100 Cielo da marcha (98) Figura 68 ~llustracéo do grfico tridimensional obtido pele plataforma de forga de reagdo do Solo no movimento da marcha As curvas das componentes verticais da forca de reagdo do solo para os movimentos da marcha, da corrida e do salto estdo representadas nas figuras a seguir. Alem do formato da curva especifico de cada movimento, o conhecimento sobre a forma de controle do impacto por meio do controle da intensidade e da frequéncia das cargas externas é de fundamental importancia. Nesta disciplina, exploraremos a manipulacao do controle de cargas mecénicas para o movimento da marcha. A seguir, veja um grafico da componente vertical da forca de reagao do solo no movimento da marcha, onde 11 € 0 contato do calcanhar direito com o solo [inicio do apoio do pé direito), 12 ¢ 0 contato do caleanhar esquerdo com 0 solo (inicio do apoio do pé esquerdo), T3 é a retirada dos dedos do pé direito do solo (fim da fase de apoio do pé direito), 14 é a retirada dos dedos do pé esquerdo do solo (fim da fase de apoio do pé esquerdo) e PC é a linha que representa o valor do peso corporal do sujeito analisado. Componente vertical da forga de reagio da solo (Fy) Tempo (5) Figura 69 ~ Grafico da componente vertical da forga de reagdo do solo no movimento da marcha + —_\- Componente vertical da forga cde reagio do slo (Fy) Tempo (3) Figura 70 - Grafieo de componente vertical da forge de reagdo do solo no mavimenta da carrida reagdo do solo (Fy) Componente verte ds ose le a1 Tempo (3) Fgura 71 Grifico da componente vertical da forga de reagio da solo no movimento de aterissagem do salto Acomponente horizontal anteroposterior da forca de reaao do solo, abreviada por meio do simbolo Fx, informa sobre a eficiéncia do deslocamento horizontal de determinado movimento. Quando hé um movimento no qual é de fundamental importéncia propulsionar o corpo para frente, como no caso da marcha e da corrida, mensurar e estudar os impulsos de frenagem e de aceleragao para comparacao de seus valores & essencial. $$$ Ta UI | | O impulso é uma grandeza fisica definida pela férmula: IsFxt (Nxs) Onde | = £2 forca de impulso, cuja unidade de medida € Newton (N) por segundo (5) 2 forga aplicada ao objeto ou superficie no movimento © tempo de execucdo do movimento. Como a plataforma de forga de reagio do solo mede a forca em fungao do tempo, se uma rea abaixo da curva for calculada com o uso de um software de computador, esta caracterizard o valor do impulso. No caso de um movimento eficiente, o valor do impulso de aceleracdo devera ser maior do que © valor do impulso de frenagem, mostrando que o sujeito desacelerou pouco 0 movimento € acelerou mais, ou seja, foi eficiente no deslocamento horizontal. A componente horizontal médio-lateral, conhecida por Fz, é 2 dltima curva de forca registrada pela plataforma que identifica os movimentos de supinagdo € pronagdo do movimento da marcha e da cortida € a forca nos movimentos de deslocamento lateral e mudanca de direcao. Normalmente, no inicio do apoio da marcha e da corrida, 0 peso do corpo posiciona-se nas porgdes posterior ¢ lateral do pé, caracterizando um movimento de supinagdo. Em sequida, o peso corporal & transferido pata toda a regio plantar e, na sequéncia, o peso corporal fica na porcdo anterior ¢ medial do pé, movimento de pronacao. 0 movimento de transferéncia do peso corporal da borda lateral para a borda medial do pé outra estratégia do aparelho locomotor que favorece 0 controle de impacto sobre 0 corpo, por isso a analise da componente horizontal médio-lateral é importante. Apesar da importancia da andlise dessa forca, cla varia muito entre os diferentes sujeitos. Existem os pronadores tipicos, que ficam na maior parte do tempo apoiados na borda medial do pé; os supinadores tipicos, que ficam na maior parte do tempo apoiados na borda lateral do pé; ¢ os com pisada neutra, que realizam os movimentos de forma combinada, Dada essa variacdo, apesar da relevancia de tal forga, ela é dificil de ser caracterizada com um padrao, ———__—___—\6- q Saiba mais Assist aos videos que mostram a dindmica do uso dos instrumentos da dinamometria na analise da marcha no site a seguir: NOVEL. Product applications. (s.d_]. Disponivel em: , Acesso em: 18 nov. 2016. 8 ANALISE BIOMECANICA DA MARCHA 0s movimentos mais comuns do dia a dia dos sujeitos que vivem no meio terrestre si os da locomogéo, particularmente a marcha ¢ a corrida (NORDIN; FRANKEL, 2014; WINTER, 1981). Por serem tao comuns € por permitirem o deslocamento do homem em seu habitat, o conhecimento sobre a forma de execugdo pata otimizar seu uso € de grande importancia para a Biomecdnica, a fim de torné-los cada vez mais eficientes € econémicos, ou seja, tecnicamente perfeitos A descrigdo das fases dos movimentos da locomogio € 0 primeiro passo para conhecer sua forma de execugio, que se dé pelo uso da cinemetria FB ntret A cinemetria é uma das reas de investigacdo da Biomecénica que possui instrumentos especificos para registrar a velocidade, aceleracdo € deslocamento linear € angular do corpo todo ou partes dele, com 0 objetivo de entender a forma de execugao do movimento. O registro é feito, principalmente, por cémeras. ‘A marcha humana € caracterizada por um ciclo determinado por trés fases: apoio, balanco € duplo apoio (NORDIN; FRANKEL, 2014; WINTER, 1991). Para cada fase, existem subfases, que serao descritas a seguir. ‘A fase de apoio tem inicio quando o calcanhar toca o solo. Em seguida, toda a regido do pé € apoiada no solo, realizando 0 chamado aplainamento do pé. Com 0 apoio completo da regio plantar, 0 peso corporal é transferido para o antepé com a aceleragéo da perna para frente, caracterizando 0 apoio médio da fase de apoio. Apés a transferéncia de peso do caleanhar pata o antepé, o calcanhar é retirado do solo. Entdo, sobre os, cledos dos pés, 0 sujeito faz uma forga contra o solo para propulsionar 0 corpo para frente, Com isso, os dedos, perder o contato com o solo e a fase de apoio do cielo da marcha é finalizada (vejaa figura a sequit) A continuidade do ciclo da marcha acorre com a fase de balango da mesma perna que acaba de finalizar a fase de apoio, Essa perna, que perdeu contato com o solo, é inicialmente acelerada para cima e para frente para transpor @ perna contralateral (perna oposta que esta em fase de apoio), realizando a fase de aceleracao. Em seguida, ela desacelera € abaixa para se preparar para iniciar ——erreee®*m ero Ta UI | uma nova fase de apoio, em um novo ciclo da marcha, com o contato inicial do caleanhar no solo, conforme a figura a seguir. Normalmente, para completar um ciclo da marcha, um sujeito normal fica 60% do tempo em fase de apoio e 40% do tempo em fase de balango para cada pe. O conhecimento sobre esses valores normativos, de fundamental importéncia para verificar assimetrias na marcha Por exemplo, ao comparar um sujeito com artrose no quadril esquerdo, verificam-se diferencas entre os valores temporais do apoio da perna saudavel em relacdo 4 perna lesionada. A perna lesionada mantinhe 0 padrdo de apoio temporal igual ao do sujeito normal, 60% do ciclo em fase de apoio e 40% do ciclo em fase de balanco, J a petna saudavel teve o seu padrao temporal alterado para 80% do ciclo em fase de apoio € 20% do ciclo em fase de balanco. Percebe-se, com isso, que a perna saudavel, por fiear mais tempo apoiada no solo do que a perna lesionada, & mais sobrecarregada no movimento da marcha. Em longo prazo, 0 risco de lesio ma perna saudavel sera muito grande por conta do excesso de peso suportado pela estrutura no movimento, que é executado diariamente. Essas alteracdes de suporte de peso do corpo sao inconscientes, determinadas pelo comando € controle do sistema nervoso central, que tem como objetivo preservar o segmento lesionado. Resta aos profissionais da salide entenderem esse comportamento para fortalecer € estabilizar as estruturas dos segmentos do corpo, a fim de postergar o aparecimento de novas lesdes por compensacdo de movimentos. Dessceeragio aoe + Ke S 4 Aalainamento cope Fase de alango bad “ “ate y Fase de poo 60% / ¢ le Acderagio Faie de apoio médico PAW Retrada dos dedes (~~~) A 2 eta a caleanhar Figura 72 llustragdo dos aspectos temporais da cielo da marcha, fases de apaio e balango Existe um momento na marcha em que um pé estéfinalizando a fase de apoio sobre os dedos no mesmo instante em que o outro pé est’ iniciando a fase de apoio sobre o caleanhar (veja a figura a seguir), ou seja, 105 dois pés esto em contato com o solo, caracteristica de contato que determina a fase de duplo apoio da marcha, Essa € realmente a fase que define o movimento da marcha, tanto que se os atletas de marcha atlética no apresentarem a fase de duplo apoio em todo o percurso da competicéo, eles séo desclassificados por mudar o padrao da marcha humana (NORDIN; FRANKEL, 2014; WINTER, 1991) Tortato nical Pre-balango Tontstoineal—Pre-balango Contato rival Pre-balange cakanhar dete. esguend> calkanhar esquerdo dteto calanhar dieto.esquerdo 0% 15% 45% 60% 100% Fase de apoio crete (60%) Fase de balengo diteto (4096) feo cunif—Anoio simples cireito [poo dupe] Apoio simples esquerdo Rocio dup Aoi 55% 60m $59 100% Fase de balango esquerdo (0%) Fase de apoio esquerdo (60%) Figura 73 llustragio das fases de apoio, balango e duplo apoio da cicla da marcha ‘Alem da caracterizagéio das fases da marcha, é importante descrever e conhecer a importancia dos pardmetros espaciais do ciclo da marcha, do comprimento do passo e do comprimento da passada, conforme a figura a seguir. 0 comprimento do passo é medido do apoio do calcanhar no solo até o momento de retirada dos dedos do solo, portanto, determina a distancia percorrida pelo sujeito na fase de apoio do ciclo da marcha. Ja o comprimento da passada é medido do apoio do caleanhar no solo de um dos pés até um novo apoio do caleanhar no solo do mesmo pé, ou seja, compreende o valor de deslocamento horizontal de um ciclo completo do movimento da marcha. 1 ot Passo esquerdo 1 jpaio grapes (pers esquerda] ' —} : Agolo dup ——________+ pata simples perma deta) —y tee (ile da marcha: passada (70-820) Figura 74 -llustragéo das pardmetros temporas e espacais do cielo da marcha rr. Ta UI | Considerando os valores espaciais normativos de um adulto normal, o comprimento do passo vatia de 35.a 41 cm € 0 comprimento da passada, de 70 a 82 cm. Essa faixa de valores para cada varidvel € dependente do comprimento da pera, portanto, sujeitos mais altos tendem a ter comprimentos de asso € passada maiores do que os sujeitos mais baixos (WINTER, 1991) A mensuracao da distancia percorrida no movimento da marcha é de grande importdncia para verificar a eficiéncia do movimento. Caso o sujeito realize passos curtos, precisara de uma frequéncia de passos maior para se deslocar em uma determinada distancia. Usar a estratégia de aumentar 0 nimero de pasos, em vez de aumentar 0 comprimento do passo, faz com que o sujeito precise ativar mais vezes a musculatura responsavel pela marcha para alcancar a distancia de interesse. Portanto, com essa estratégia, 0 gasto energético sera maior, e 0 movimento torna- se menos eficiente. Casos de ineficiéncia do movimento so verificados em sujeitos com patologias, como a paralisia cerebral. Essa doenga neurolagica compromete os movimentos do corpo, podendo afeté-o de diferentes, formas. A hemiplegia ocorre quando um dos lados do corpo, membros inferiores e superiores do lado esquerdo ou membros inferiores e superiores do lado direito, tem sua movimentagao comprometida. A diplegia € caracterizada pela paralizagdo ou dos dois bragos ou das duas pernas. E a tetraplegia se da pela paralisia dos quatro segmentos corporais, bracos e pernas. A posture corporal na marcha de um sujeito com diplegia muda, os membros inferiores ficam com as articulagées do quadril ¢ joelho mais flexionadas, enquanto o tornozelo permanece o tempo todo estendido e em rotagéo. Esse posicionamento ocorre pelo fato de a doenca afetar o ténus muscular, deixando-o mais rigido. Tal rigidez altera o comprimento do passo e da passada desses sujeitos, deixando- os mais curtos, Vaughan etal, (1997] constataram diferencas nos valores do comprimento do passo entre 14 sujeitos com diplegia nos membros inferiores, 0,74 m, e 25 sujeitos normais, 1,14 m, no cielo da marcha Como ja discutimos, a reducao no tamanho do passo ¢ da passada no movimento da marcha torna-o menos eficiente, Para sujeitos com paralisia cerebral isso ¢ ainda mais custoso para o aparelho locomotor, porque com a rigidez muscular imposta pela doenga, a passada, além de curta, tera pouca energia eléstica armazenada pelo misculo para ajudar na propulséo do movimento. Isso tornaré o movimento da marcha do portador de paralisia cerebral menos eficiente Os movimentos das atticulagdes do tornozelo, joelho © quadtil no ciclo da marcha também séo passiveis cle mensuracdo € caracterizagao apds sua filmagem. A figura a seguir mostra as curvas dos movimentos das articulagdes dos membros inferiores no ciclo da marcha (0 a 100%) no plano sagital. A curva inferior do grafico representa os movimentos de flexao e extensto do tornozelo; a curva do meio, ‘08 movimentos de flexdo ¢ extensio do joetho; e a curva superior, os movimentos de flexdo ¢ extensdo do quadril Antes da interpretacdo do gréfico da figura a seguir, tenha em mente que os valores crescentes no eixo y das curvas indicam os movimentos de flexdo articular, e os decrescentes, os de extensao. Ja 0 exo x descreve o tempo no qual o movimento articular ocorreu no ciclo da marcha, sendo que de (0a 60% € a fase de apoio € de 60 a 100% é a fase de balanco. 20 L—_| 2047 10 vari 10 20 = 72 3 7 2 z 015 |s s |g | N\8 5 2 ole |f 2 | If = 2 3 O12 le = é 2 Zo4s |B 2 s = 2 s 2 3042 |e 3 |Z & a 2 248 |e 2 i 2 3 * 2045 e/\z z a8 z é 0 Joctho 10 ° Torozeto 10 0 0 1) 2 30 40 $0 4 7 8 90 100 Porcentagem do ciclo Figura 75 — Representagdo grfce dos movimentos articulates do tornozelo, joelho € quadril no ciclo da marcha No inicio da fase de apoio, quando o calcanhar toca 0 solo, a articulagdo do tornozelo estende. Esse movimento permitiré o aplainamento do pé no solo € ocorre em até aproximadamente 8% do ciclo da marcha, Apos esse periodo, 0 tornozelo flexiona ¢ amplia o movimento até os 45% do ciclo, o que permitiré a transposigéo da perna por cima do pé de apoio, garantindo a transferéncia do peso corporal do caleanhar para 0 antepé, Com o peso corporal concentrado no antepé, aos 46% do ciclo, o calcanhar € removido do solo com uma extensao de tornozelo, que fica cada vez mais ampla até a retirada dos dedos do chao aos 60% do ciclo da marcha, Essa ultima ago articular finaliza a fase de apoio da marcha (veja a figura anterior). Na fase de balango, o tornozelo flexiona e mantem-se assim para garantir a postura do pé. Se esse movimento nao ocorrer, 0 pé ficaré solto e poderd bater no chao, comprometendo a acao motora com um tropeco. Aos 90% do ciclo da marcha, o tornazelo volta a estender pata preparar o pé para um novo apoio, 0 movimento de extensio iniciado no final da fase de balango continua no inicio da fase de apoio, caracterizando a continuidade de um movimento ciclico como € o da marcha, o que pode ser visto na figura anterior. Ao verificar 0 movimento do tornozelo no ciclo da marcha € possivel perceber que essa articulagdo tem duas fungées importantes no movimento: a primeira, de aceleragdo, uma vez que na fase de apoio (0s movimentos esto condicionados para propulsionar o corpo para frente; € a segunda, de estabilizagao postural, ja que na fase de balango o tornozelo garante a postura correta do pé no ar pata o sujeito ndo tropegar e, na sequéncia, ajusta o posicionamento do pé para um novo apoio. $$$ Ta UI | A articulagéo do joetho também tem movimentos com funcdes caracteristicas no ciclo da marcha. Conforme indicado no grafico da figura anterior, no inicio da fase de apoio, o joelho j@ esté flexionado ~ observe que o inicio da curva do movimento articular do joelho mostra um valor inicial maior do que zero. Com a colocagao do calcanhar no solo, esse movimento de flexio aumenta até os 10% do ciclo da marcha A importancia da flexéo do joelho no inicio da marcha telaciona-se com o controle de impacto no movimento. Se 0 joelho estivesse estendido nesse instante, a carga externa suportada pelo corpo seria maior, por nao haver um amortecimento adequado gerado pelo movimento de flexao do joelho. Entio, ssa € a primeira fungdo importante a ser consideraca nessa articulacio. Para ajudar na transferéncia de peso do caleanhar para o antepé, entre 10% € 35% do ciclo da marcha, o joelho estende. Em seguida, como o caleanhar & retirado do solo, o joelho volta a flexionar, aumentando progressivamente a amplitude desse movimento ate atingir 0 pico méximo de flexio aos 70% do ciclo da marcha na fase de balanco. Na sequéncia, a perna deve acelerar em direcdo a0 solo para preparar 0 corpo para um novo apoio, portanto, uma nova extensio de joelho sera necessaria até (08 95% do ciclo da marcha, Nos 5% restantes do ciclo, verifica-se a preparacdo do corpo para recepcao da proxima carga externa, que ocorrera no contato do pé com o solo subsequente. Aarticulagéio do quadril executa dois movimentos amplos, de extensio e de flexdo, no ciclo na marcha. Um pouco antes do inicio do apoio (aos 88% do ciclo da marcha), a pera que esté em fase de balango deverd acelerar para baixo, dessa forma, o movimento de extenso de quadril serd necessirio. Apds 0 contato do pé com o solo, no inicio da fase de apoio, esse movimento de extensio de quadril continua e ‘tem sua amplitude aumentada até os 49% do ciclo da marcha, a fim de garantir a transferéncia de peso do caleanhar para o antepé, auxiliando na propulsio do movimento, Com a flexio da articulacdo do joelho € a retirada do calcanhar do solo, # coxa para de se deslocar para tras e comeca a se deslocar para frente, promovendo a flexdo da articulacao do quadril. Com a flexao do quadrl,a marcha transita da fase de apoio para a fase de balanco, e 0s 88% do ciclo o quadril volta a estender para um novo apoio. Os movimentos padrio do tornozelo, joelho ¢ quadril dos sujeitos saudaveis sio comparados aos de sujeitos com patolagia. Tal comparacdo permite identificar diferengas que podem comprometer a eficiéncia da marcha, mas, mais do que isso, possibilita desenvolver tratamentos que resultardo na melhora da qualidade de vida de um sujeito com marcha patolégica. Para ilustrar como a andlise cinemética dos angulos articulares da marcha pode ser muito importante para o professor de Educacao Fisica, os resultados e discussao do estudo de Yim et al. (2015) serao apresentados a seguir Com 0 objetivo de investigar os efeitos da velocidade ¢ da mudanca de diregao na cinemattica da marcha de sujeitos com rompimento do ligamento cruzado anterior, os autores Yim et al, (2015) filmaram o movimento da marcha de 35 sujeitos com ligamento rompido e compararam os movimentos articulares do joelho da perna lesionada com os da perna sem lesio (contralateral) A figura a seguir mostra o grafico da variagao angular da fase de apoio do movimento da marcha para ambas as pernas, com ¢ sem lesio. Sujitos sem rompimento do LCA — Sujeitos com rompimento do LCA a a a a a a) Cielo da marcha (a) Figura 76 -llustragéo da variago angular do joelno no movimento ds marcha de sueitas com {eurva vermelha)e sem (curva azullrompimento do igamento cruzado anterior A curva vermelha do grafico representa 0 movimento do joelho com ligamento cruzado anterior tompido € a curva azul do joelho sem lesao, ambas na fase de apoio da marcha. £ possivel verificar que 1 inicio do apoio os dois joelhos apresentaram o movimento de flexdo para controlar 0 impacto aplicado a0 aparelno locomotor, sem prejuizos ou diferencas na amplitude articular entre as pernas. 4 no final do apoio houve uma importante diferenga no movimento de extenséo do joelho para propulsionar 0 corpo; 0 joelho com ligamento cruzado anterior rompido diminuiu sua amplitude de extensio quando comparado a0 movimento do joelho sem lesdo (conforme a figura anterior) Esse comportamento do joelho lesionado pode ser explicado ao pensarmos na caracteristica da lesdo do ligamento cruzado anterior. Com o rompimento desse ligamento, a instabilidade do joelho aumenta na diregao anterior, isso porque a fungéo do ligamento cruzado anterior, de evitar a anteriorizagéo da tibia, esta prejudicada. Para realizar a extensio do joelho, o musculo do quadricens, que esta conectado, na porcéo anterossuperior da tibia, na tuberosidade tibial, encurta, Esse encurtamento provoca a tracdo da tibia para frente Sabendo que a estrutura passiva (ligamento cruzado anterior) que controla a anteriorizacao da tibia esté rompida, o sistema nervoso central impede a aco vigorosa do musculo do quadriceps no joelho que esta com ligamento cruzado anterior rompido no final da fase de apoio da marcha. Com isso, hd a protecdo da estrutura articular, pois com menor extensao da articulacdo do joelho lesionado, 0 deslocamento anterior da tibia seré minimizado. ‘Ao discutir © comportamento da articulagao do joelho, comandado pelo sistema nervoso central, para garantir a estabilidade no movimento da marcha de sujeitos com ligamento cruzado anterior rompido, percebe-se a importancia de controlar a velocidade e a amplitude do movimento de extensao do joelho na pratica de exercicio fisico para esses sujeitos, Um movimento articular mais amplo ou mais rapido nessa condigdo podera provocar uma lesdo mais grave na articulagao do joelho. —erCom-— Ta UI | Portanto, ao analisar e comparat as vatiagdes angulares de movimentos do cotidiano entre sujeitos saudaveis e com alteragées no aparelho locomotor, € possivel obter informacdes determinantes para aplicat na pratica profissional, o que mostra a importéncia da andlise cinematica para o profissional da area da saude. A garantia dos movimentos articulares da marcha ocorre devido & participagao dos musculos para conttolar € produzir 0 movimento. Entéo, para melhor entendimento do movimento, discutiremos as ages musculares na marcha a seguir. FE sentror As agdes musculares séo registradas por eletrodos posicionados na superficie do ventre muscular. Esse instrumento pertence & area de investigacao da Biomecénica conhecida por eletromiografia e possibilite observar se determinado musculo participa ou ndo do movimento e por quanto tempo se dé tal participagéo. Ao usar @ cinematica e a eletromiografia para analisar os movimentos articulares executados pelos musculos na locomoséo, € possivel compreender 0 padréo coordenativo do movimento para controle do impacto e acelerago do movimento. Para a movimentagao do tornozelo na marcha, os misculos tibial anterior e triceps sural trabalham no ciclo do movimento da forma representada nas duas préximas figuras, No inicio da fase de apoio, 0 movimento de extensio de tornozelo, que ocorre apds 0 contato do calcanhar com o solo, é executado pela acdo excéntrica do musculo tibial anterior. Com isso, toda regio plantar pode ser aplainada sobre 0 solo de forma controlada. Em seguida, 0 tornozelo flexiona para acelerar a perna para frente ¢ da continuidade ao deslocamento do corpo na marcha. Essa acdo é garantida pelo encurtamento do musculo tibial anterior com sua agao concéntrica. Do apoio médio da fase de apoio da marcha até a retirada do calcanhar do solo, o musculo triceps sural comeca a agit. Inicialmente ele realiza uma contragdo excéntrica para controlar a aceleragdo da perna para frente. Em seguida, 0 pé serd removido do solo, para isso, o musculo triceps sural agiré em contragao concéntrica, para estender o tornozelo e empurrar 0 chao, no instante em que os dedlos do pe estao apoiados no solo. Com essa agdo, o pé desprendera do solo e a fase de apoio finalizara (NORDIN; FRANKEL, 2014; WINTER, 1991). ———__—_+1_\6- Rab f apoio ta heel Intersidade do sinal EMG Cielo da marcha (98) Figura 77 ~ Grifico que representa o envoltéro linear da ativagéo muscular do tibial anterior no cielo da marcha hanks apoio ta hae Intensidade do sinal EMG Cielo da marcha (46) Figura 78 ~ Grafica que representa o envoltéro linear da ativagio muscular do gastracrémia lateral no ciclo da marcha Na fase de balango, 0 tornozelo é mantido em flexao. Esse movimento articular € feito pela acdo concéntrica do misculo tibial anterior para manter a postura do pé adequada nessa fase e evitar tropecos. Somente no final da fase de balanco € que se verifica o inicio da extensdo do tornozelo para preparar 0 segmento para um novo apoio, mostrando a continuidade e repetig’o do movimento do tornozelo no ciclo da marcha (NORDIN; FRANKEL, 2014; WINTER, 1991). $$ $$ $$_____—. Ta UI | Para a movimentagio do joelho na marcha, os miisculos do quadriceps apresentam picos de ativagéo nos seguintes instantes do ciclo do movimento (veja as duas préximas figuras}. A articulacéo do joelho na marcha, inicia com certa flexo e aumenta a amplitude desse movimento articular nos primeiros instantes do apoio do calcanhar com o solo, Tal agdo é garantida pelo alongamento do complexo do quadriceps, que controla 0 impacto no movimento, portanto, o misculo age em contracéo excéntrica, Em sequida, 0 joelho & estendido para acelerar 0 corpo para cima e para frente € 0 complexo do quadriceps gera esse movimento por meio de seu encurtamento, entao em aco concéntrica (NORDIN; FRANKEI, 2014; WINTER, 1991) Intensidade do sinal EMG Ciclo ea marcha (8) Figura 79 ~ Grafico que representa o envoltéro liner da ativagéo muscular do vast lateral na cielo da marcha BR RG 2 y, iN ¢ 1 apoio | EP tating |, Intensidade do sinal EMG Ciclo ca marcha (8) Figura 80 ~ Grifico que representa o envoltéro linear da ativagéo muscular cdo reto femoral na cicla da marcha ————_—_—_—_- Apds essa ago inicial no mlsculo do quadriceps, principalmente para 0 controle do impacto no movimento da marcha, os musculos vasto lateral, vasto medial e vasto intermédio nao participam mais do movimento até 05 90% do ciclo da marcha. Entretanto, ao visualizar o grafico da figura anterior, que informa a agéo do musculo reto femoral, verfica-se a participacao desse musculo na transigdo da fase de apoio para fase de balango da marcha, 0 misculo reto femoral & biarticular, faz a extenséo do joelho e participa da flexdo do quadril, Na transigdo da fase de apoio para a fase de balanco, o quadrilflexiona para remover a perna do solo; com isso, 0 misculo reto femoral € acionado em contracdo concéntrica para realizar esse movimento em conjunto com o complexo do iliopsoas. Quando o movimento do quadril na fase de balanco € alterado para extensio aos 9506 do ciclo da marcha, o misculo reto femoral, em contragao excéntrica, controla a aceleracio para baixo do segmento coxa-perna-pé, minimizando o impacto entre corpo e solo no apoio subsequente (NORDIN; FRANKEL, 2014; WINTER, 1991). Para a movimentagao do quadril na marcha, os musculos gliteo maximo e do complexo isquiotibial (biceps femoral, semitendineo € semimembranaceo) trabalham no ciclo do movimento conforme apresentamos anteriormente. No instante do apoio, a articulagéo do quadril néo pode ser flexionada em amplitude demasiada, para nao desequilibrar o corpo para frente. Entao, os musculos gliteo maximo € biceps femoral trabalham em contragao excéntrica para controlar 0 movimento de flexao do quadril. Logo em seguida,a articulagao do quadril precisa acelerar a perna para tras, € os musculos gliteo maximo € biceps femoral realizam a contragdo concéntrica para estender o quadril ¢ auxiliam na propulsao do corpo para frente. Intensidade do sinal EMG Cielo da marcha (96) Figura 81 ~ Grafico que representa o envoltéro linear da ativagao muscular do biceps femoral no ciclo da marcha $$$ Ta UI | Intensidade do sinal EMG Ciclo ca marcha 8) Figura 82 ~ Grifico que representa o envoltéro linear da ativagéo muscular do ghiteo maximo no cielo da marcha Aos 79% do ciclo da marcha, o misculo biceps femoral, que também atua na articulagao do joelho, €acionado em contracdo excéntrica para controlar a extensao do joelho na fase de balanco. A partir dal, ‘0s musculos que trabalhar no quadril estardo ativados para garantir a postura adequada da perna para um novo apoio (NORDIN; FRANKEL, 2014; WINTER, 1991) Os musculos que estabilizam o tronco, eretores da espinha € reto do abdome, também so muito importantes para o controle do movimento da marcha (veja as duas préximas figuras) Os eretores de espinha, conforme a figura a seguir, trabalham em contracao isométrica, evitando ‘os movimentos de extensdo e controlando os movimentos de flexdo de coluna, nos instantes do ciclo da marcha que o corpo pode oscilar mais (séo eles 0 apoio do caleanhar com o solo e a transigdo da fase de apoio para a fase de balango). No apoio do calcanhar com o solo, o corpo se choca com 0 chao, € um instante de frenagem do movimento da marcha, entao se os misculos eretores de espinha nao apresentarem uma acao importante nesse instante, a coluna tende a flexionar € o movimento tera seu equilibrio alterado, Na transigo da fase de apoio para a fase de balanco, verifica-se @ propulséo do movimento. Como 0 pé empurra o solo, ha a possibilidade de ocorrer a extensio de coluna, portanto, os misculos eretores da espinha agem em contragao isométrica para evitar oscilacdes entre as vértebras da coluna ———__—_____—o- Rab ta el Intersidade do sinal EMG Cielo da marcha (96) Figura 83 - Grifico que representa o envoltéro linear da ativagdo muscular ddos eretores da espinha no ciclo da marcha anh aihh f apoio ta hae Intensidade do sinal EMG Cielo da marcha (46) Figura 84 ~ Grafico que representa o envoltéro linear da ativagdo muscular ddo eto da aadome no cicla da marcha 0 musculo reto do abdome (veja a figura anterior) apresenta ativago, em contragao isométrica, em todo ciclo, Isso mostra a importéncia em selecionar exercicios com o objetivo de desenvalver forca muscular isométrica resistente com a coluna ereta. Em postura bipede, a agdo do reto do abdome € exigida constantemente, portanto, esse grupamento muscular deve ser muito bem treinado para evitar lesdes na coluna $$$ Ta UI | Como visto nos parametros cinematicos, os parametros eletromiograficos podem apresentar diferencas em sua ativacao ao considerar grupos diferentes. Sacco e Amadio (2000) verificaram pico de ativagao reduzido ¢ atraso na resposta eletromiografica dos mUsculos vasto lateral ¢ tibial anterior de diabéticos neuropatas comparados aos sujeitos sem patologia, 0 musculo tibial anterior apresentou ativagéo menor € atrasada no inicio do apoio do movimento da marcha, fato que favorece o descontrole do aplainamento do pé no solo, dada a funcao do musculo tibial anterior na marcha. A ocorréncia de Ulceras na regido plantar dos metatarsos foi associada ineficiéncia no controle do aplainamento do pé no solo, fendmeno este que pode ser um dos fatores contribuintes para tal lesdo 0 musculo vaste lateral também apresentou atraso e menor pico de ativacao no inicio do apoio do pé com o solo, conforme indicado por Sacco ¢ Amadio (2000). Nesse instante ¢ 0 caleanhar que entra em contato com 0 solo, regido do pé de diabsticos neuropatas também mais suscetivel a incidéncia de tlceras. Assim, novamente os autores discutem a possibilidade da falta de controle no amortecimento do segmento coxa-perna-pé no inicio do apoio, que pode facilitar a ocorréncia de ileeras na regido do caleanhar por falha de ativagao do musculo vasto lateral. Apesar de a eletromiografia trazer alguns indicadores da sobrecarga local na regio plantar dos diabéticos neuropatas,o instrumento que efetivamente mede a forca local é a palmilha ou plataforma de pressio plantar. Nazario, Santos ¢ Avila (2011) verificaram © padrao da distribuigdo de pressdo plantar, com a plataforma Emed, de cinco sujeitos normais, e mostraram que as areas com maior pico de presséo foram o caleanhar e 0 antepé. 0 outro grupo analisado pelos mesmos autores, com seis sujeitos, tina © pé plano, e por conta dessa alteracao estrutural no formato do pé, o grupo mostrou menores picos de pressio no calcanhar eno antepé e maior pico de pressao no médio-pé quando comparado ao grupo de sujeitos normais, Percebe-se que a pressio plantar pode sofrer influéncia em funcao do tipo de pé, dependendo do tamanho da area de contato que esta no solo, ¢ também em funcao de patologias. Nessa segunda condigao, além dos diabéticos neuropatas, sujeitos com a doenca de Parkinson também podem modificar 0 padrdo de distribuigao de pressao plantar devido aos disturbios neurais Kimmeskamp ¢ Hennig (2001) avaliaram a distribuigdo de pressio plantar de 24 sujeitos com Parkinson e compararam 0 comportamento dessa forca com 24 sujeitos normais. A figura a seguir mostra valores menores de pico de pressdo na borda lateral do caleanhar e maiores valores de pressdo na borda medial do médio-pé de sujeitos com Parkinson quando comparados aos sujeitos normais, Esse comportamento mostra que os parkinsonianos tendem a apoiar o pé com o tornozelo mais estendido no inicio da marcha, 0 entendimento do uso dessa estratégia pode ser explicado quando se discute 0 significado da compressao de uma area maior do pé no apoio para o controle de equillbrio. ————__—_- 1 Parkinsonianos: controle ee Pico de pressio plantar Figura 85 - Grafieo comparativo dos valores do pico de pressio plantar entre sujitos com mal de Parkinson e sujeitos sem patologia nas regides do retropé, médio-pé, antepé e dedos Na regigo plantar existem muitos mecanorreceptores que informam o sistema nervoso central sobre a condicao de distribui¢ao de peso corporal sobre o pé quando so comprimidos (HENNIG; STERZING, 2009). Essa informagao tanto serve para permitir o controle de cargas externas e evitar lesdes tegumentares como para identificar se 0 apoio esta seguro ¢ equilibrado ou nao. No caso dos parkinsonianos, a doenca compromete 0 controle de equilibrio; dessa forma, 0 apoio mais aplainado do pé no solo nos instantes iniciais comprime mais mecanorreceptores, que ajudam esses sujeitos @ controlarem melhor o equillbrio por identificarem como o peso corporal esta distribufdo na regido plantar. Kimmeskamp ¢ Hennig (2001) evidenciaram que essa estratégia adotada pelos parkinsonianos para controle de equilibrio é cada vez mais explorada com o avanco da doenca (veja a figura a seguir). Ao correlacionarem o estagio de desenvolvimento da doenga pela Escala de Webster com © pico de pressao na regido do calcanhar, os autores verificaram que os valores do pico de pressao no caleanhar diminuem com o aumento da gravidade da doenga (maiores valores da Escala de Webster). Isso indica que os parkinsonianos ajustam as respostas mecanicas quanto a distribuicao de presséo plantar para conseguir informacées mais eficientes para o controle do equilibrio. Quanto maior for 0 comprometimento do controle do equilibrio por meio do sistema nervoso central causado pelo agravamento da doenga, maior sera 0 uso do recurso de aumentar a area de contato no apoio inicial. Ta UI | Pico de pressio no caleanhar (kPa) ye 44 Lax r= 58 50- T T T T 2 4 6 8 @ 2 4 6 18 Escala de Webster Figura 86 - Grafieo que ilustra a correlagdo entre 0 pico de pressio plantar na regido do calcanhar com os valores da Escala de Webster, que indica o grau de comprometimento do corpo pelo mal de Parkinson 0 impacto no movimento da marcha é registrado pela plataforma de forca de reagéo do solo. Como discutido anteriormente, este é um instrumento pertencente a area da dinamometria, que tem duas caracteristicas fundamentais: registrar a forca em todo movimento, resultando em curvas que representam a variac3o da forca no gesto motor, ¢ analisar o movimento de forma tridimensional. A componente vertical da forga de reagéo do solo € conhecida por Fy € esta ilustrada para o movimento da marcha na figura a seguir. Ela apresenta um grafico da componente vertical da forca de reago do solo no movimento da marcha, onde T1 € 0 contato do calcanhar direito com o solo (inicio do apoio do pé dieito), 2 € o contato do caleanhar esquerdo com o solo {inicio do apoio do pé esquerdo), T3 € a retirada dos dedos do pé direito do solo (fim da fase de apoio do pé direito), T4 & a retirada dos dedos do pé esquerdo do solo {fim da fase de apoio do pé esquerdo), PC é a linha que representa o valor do peso corporal do sujeito analisado, Fy1 € o primeiro pico de forca da componente vertical da forca de reacdo do solo, Fy2 € 0 segundo pico de forca da componente vertical da forca de reacao do solo, AtFy1 € 0 intervalo de tempo para aleancar Fy1 e Fymin é a deplegéo da componente vertical da forca de reagio do solo. fy Componente vertical da forga de teagéo do Tempo ) Figura 87 ~ Grafica da componente vertical da forea de reagio do solo no movimento da marcha £ importante verificar que o grafico da Fy da marcha apresenta dois picos bem caracteristicos no inicio ¢ no final da curva ¢ um vale no meio para cada pé que produz forca sobre a plataforma de forga de reagéio do solo (conforme a figura anterior). 0 primeiro pico de forga € conhecido por Fy € representa o registro do impacto no instante de contato do pé com 0 solo. Esse € um parametro muito importante para ser analisado na marcha, porque se o corpo néo for eficiente para controlar a carga mecénica pelos movimentos articulares e pelos musculos, as estruturas passivas serdo mais solicitadas nesse instante do movimento e podem ser lesionadas em longo prazo. Existe um valor normativo para Fy1 no movimento da marcha, que varia de 1,2 a 1,5 vezes o peso corporal (PC). Em caminhadas mais lentas, cada vez que o pé € apoiado sobre o solo, o corpo tende a receber um impacto no valor de 1,2 PC; ja em caminhadas mais rapidas, préximas a uma corrida, 0 valor de Fy1 aumenta para aproximadamente 1,5 PC. Com isso, € possivel ter um pardmetro bastante interessante para o controle do impacto no movimento da marcha, que é a sua velocidade de execucio. Quanto mais rapida for a marcha, maior serd o impacto. Atentar para essa situagao é particularmente relevante, quando se pensa na forma como a marcha & usada por individuos sem o conhecimento adequado sobre o controle do impacto. Nao € dificil encontrar em parques piiblicos individuos com condicionamento fisico aquém do esperado praticando caminhada em alta velocidade para aumentar o gasto energético, no intuito de emagrecer mais rapido. Apesar da intengdo de melhorar a adaptagdo do corpo a um estimulo metabélico de maior intensidade, os pardmetras mecdnicos também devem ser considerados na pratica desse exercicio fisico; assim, usar © movimento mais veloz em uma condigao fisica ruim faciltara a ocorréncia de lesdo por excesso de estresse mecnico, o que torna o controle da velocidade da marcha fundamental no planejamento de sua pratica, Além do controle sobre a magnitude do impacto, que é obtido com o valor de Fy1, 0 controle da frequéncta do exercicio fisico também é de suma importancia para evitar lesdes por excesso de uso. No caso da marcha, cada vez que o sujeito iniciar um passo, ele recebera uma carga de magnitude equivalente velocidade adotada no movimento. Portanto, quanto mais passos forem executados em rer’=wnmav Ta UI | uma sessio de treino, maior serd o impacto. Com isso, além da velocidade de execugo da marcha, a distancia percorrida ou o tempo de pratica também sio fatores a serem considerados e controlados para determinar a intensidade do treino. Amortecer de forma adequada 0 impacto recebido no inicio do apoio do pé com o solo na marcha favorece a execucao correta do movimento e cria nova estratégia de controle de carga. A qualidade esse amortecimento € registrada pela plataforma de forca de reagao do solo pelo intervalo de tempo entre o contato inicial do calcanhar com o solo e Fy’. Essa variivel é conhecida com Atfy1. Quando as articulagdes, em especial a do joelho, flexionam no inicio do apoio do caleanhar com o solo na marcha, verifica-se a suavizacio do choque entre 0 aparelho locomotor € o solo. No grafico da figura anterior esse fendmeno pode ser observado com o aumento do valor de AtFy1, que indica um movimento com maior amortecimento, maior tempo para alcancar Fy1 As varidveis Fy e Atfy1 tém tanta importéncia para informar sobre o controle de choque mecénico que a razo entre elas também é estudada por meio da taxa de crescimento de Fy! tH crsorerse A taxa de crescimento da componente vertical da forga de reagéo do solo € definida pela férmula: aim (5) Onde: Tx= Ea taxa de crescimento da componente vertical da forca de reacao do solo, cuja unidade de medida € Newton (N) por segundo (s). Fy1 = E 0 primeito pico de forga da componente vertical da forca de reagdo do solo, Atfy1 = £0 intervalo de tempo entre o inicio do movimento ¢ Fy1 Uma marcha com impacto mais controlado é evidenciada quando a primeira parte do grafico possui uma inclinago da curva mais na diagonal do que na vertical, Neste caso, Fy serd menor e o AtFy1 sera maior, definindo uma Tx de valor menor. Essa é uma condigao de amortecimento étima na realizacao da marcha com grande controle de impacto. Apds Fy, verifica-se um vale na componente vertical da forca de reacdo do solo, que representa um instante de queda da forga na marcha, registrada pelo valor da variavel Fymin. Essa queda da fora ocorre devido a aceleragdo da perna de balanco para cima, aliviando parcialmente o peso corporal sobre a perna de apoio em cada passo do movimento. Considerando que em uma sesso de pratica de marcha um sujeito executa varios passos, ter, para cada passo, um instante em quea forca sobre o pé de apoio sofre uma queda é importante para o controle de carga mecénica total da atividade. Sabendo disso, o desenvolvimento de exercicios de flexibilidade ¢ forca, principalmente, para idosos é essencial, pois com essas capacidades fisicas comprometidas, a aceleragao da perna para cima & menor € o valor de Fymin € maior. Dessa forma, a quantidade total de carga mecéinica sustentada pela perna de um idoso no dia a dia ou em uma sessio de treino ser maior do que a de um adulto (SERRAO; AMADIO, 1994) Em seguida, verifica-se na curva da componente vertical da forca de reagio do solo (conforme a figura anterior) um segundo pico de forca, chamado de Fy2. Esse 0 instante de propulsio da marcha, portanto, quanto maior, melhor, ¢ mais eficiente serd o movimento. oS resume A Biomecdnica € uma area de conhecimento que possui métodos de investigagao préprios para andlise do movimento humano. Dentre eles destacam-se: a cinemetria (que analisa deslocamento, velocidade € aceleragao no movimento}, a eletromiografia (que analisa a coordenagao muscular no movimento) € a dinamometria (que analisa as forgas externas e internas no movimento). Coma cinematica da marcha é possivel caracterizara quantidade de fases do movimento (apoio, balanco ¢ duplo apoio), verificar quais movimentos articulares sao executados em cada fase e analisar os parametros espaciais temporais da caminhada. Como a marcha é bastante consistente em sujeitos que nao possuem patologias, ao ser comparada com a marcha patoldgica, & possivel verificar alteragdes cinematicas que podem ser melhoradas com intervencao de exercicio. Com a eletromiografia da marcha é possivel verificar a participacao dos misculos de forma coordenada no movimento. Os misculos tibial anterior, do complexo quadriceps e dos isquiotibiais eo misculo gliteo maximo tém, principalmente, a funcao de controlar o movimento. Por sua vez, os msculos do complexo triceps sural tém a funcao principal de propulsionar © corpo para o deslocamento horizontal. J4 0s musculos posteriores ¢ anteriores de tronco tém a fungéo de estabilizar a postura corporal no movimento. Com a dinamometria é possivel verificar como a pressio plantar é distribuida no movimento. 0 controle sobre a distribuigéo de pressao plantar na marcha evita a ocorréncia de lesdes tegumentares na sola do pe. Sujeitos com neuropatia diabética néo tém o controle de pressao plantar tao eficiente quanto os sujeitos normais, o que gera ulceragdes no tecido, Ta UI | Sujeitos com mal de Parkinson colocam o pé mais aplainado no solo para perceber melhor a pressao € controlar o equilibrio Através da dinamomettia pode-se também quantificar a magnitude do choque mecénico (ou impacto) sobre o corpo ao estudar a componente vertical da forga de reagdo do solo. Dessa curva verificam-se a faixa de valores do impacto na marcha e a importancia de controlar a velocidade de movimento na pratica do exercicio, bem como € possivel verificardiferencas entre adultos e idosos nos valores de Fymin, que indicam redugéo da forca e velocidade da marcha de idosos e aumento da sobrecarga total do movimento. a Exercicios Questo 1. (FUNRIO - MARICA-RJ) Com relagao aos estresses mecanicos desenvolvidos nos corpos submetidos as cargas externas, pode-se afirmar que A) Resultam da relago entre a carga externa e a resisténcia interna do corpo. B) Classificam-se em estresses de tracdo, compressao ¢ fricgdo. C) Resultam da relagdo entre a resisténcia interna e a carga externa aplicada no corpo. D) Classificam-se em estresses estaticos e dindmicos. £) Configuram respostas dolorosas e ou inflamatorias do tecido alvo da carga Resposta correta: alternativa B Analise das alternativas A) Alternativa incorreta Justificativa: a questao descreve uma lesdo causada por agresséo externa B) Alternativa correta Justificativa: a questo descreve mecanismos de lesdes musculoesqueleticas por agente externo. C) Alternativa incorreta. Justificativa: 0 estresse mecanico nao depende exatamente da resisténcia interna do tecido. Isso seria um fator se considerdssemos que haverd lesdo. Para haver o estresse mecénico, sem considerar se houve ou nao lesio, o principal fator é a carga externa. reer $$ ©- D) Alternativa incorreta Justificativa: é uma classificagao que busca diferenciar se houve ou néo movimento. Se pensarmos no membro acometido, podertamos até classificar como estitico ou dindmico, mas pensando no agente externo, que € o que a questéo aparentemente propde, s6 pode ser dindmico,jé que sem movimento un agente externo nao pode causar estresse. £) Alternativa incorreta. Justificativa: 0 erro € que nem sempre um estresse externo vai causar respostas dolorosas ou inflamatorias. Questo 2. (ENADE 2010) A eletromiografia de superficie é uma técnica bastante utilizada na drea de ciéncias biomédicas para analisar 0 movimento humano e mostrar, por meio do eletromiograma (EMG), a atividade elétrica do musculo, dada a somatéria dos potenciais de ago na area abaixo do eletrodo. Na realizacdo da eletromiografia de superficie, além das configuracdes técnicas do equipamento e do isolamento do sistema, a qualidade do sinal capturado depende: | - Do posicionamento € fixagdo dos eletrodos, considerando o trajeto das fibras musculares e a distancia entre os eletrodos. Il - Do modo de contragao (isométrico, concéntrico, excéntrico). Ill - Dos cuidados com a pele (tricatomia, abrasao € limpeza) para baixar a impedancia tecidual, IV = Da razao de tejeigdo de modo comum (RRMC) V = Da posigdo inicial do sujeito durante o teste. E correto apenas o que se afirma em: AL tell. B) I, WelV. Qi WVev. D) Ui ev. Bll Vev. Resolucdo desta questao na plataforma. $$$ FIGURAS E ILUSTRACOES. Figura 1 FREITAS, A. et al. Andlise da resisténcia mecdnica de fixagéo de fratura do colo femoral em osso sintético com DHS ¢ parafuso antirrotatdrio, Revista Brasileira de Ortopedia, 49(6), p. $86-92, 2014. p. 589. Figura 2 FREITAS, A. et al Andlise da resisténcia mecanica de fixacéo de fratura do colo femoral em osso sintético com DHS e parafuso antirrotatério. Revista Brasileira de Ortopedia, 49(6), p. 586-92, 2014. p. $90. Figura 3 HALL, S. Biomecénica bésica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabata Koogan, 2013. p. 28 Figura 4 LIMA, C.S.; PINTO, R.S. Cinesiologia e musculagdo. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 152. Figura 5 LIMA, C.S.; PINTO, RS. Cinesiologia e musculagdo. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 152. Figura 6 HALL, S. Biomecénica bésica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 354 Figura 7 A) FREITAS, A. et al Andlise da resisténcia mecéinica de fixagéo de fratura do colo femoral em oss0 sintético com DHS e parafuso antirrotatério. Revista Brasileira de Ortopedia, 49(6), p. 586-92, 2014. p. 590. Figura 7 B) NORDIN, M.; FRANKEL, V. H. Biomecanica basica do sistema musculoesquelético. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p. 28. Figura 8 NORDIN, M.; FRANKEL, V. H. Biomecdnica basica do sistema musculoesquelético, 4, ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p. 30. ——_—_____- Figura 9 NORDIN, M.; FRANKEL, V. H. Biomecdnica basica do sistema musculoesquelético. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. p. 37. Figura 10 HALL, S, Biomecénica bésica, 6, ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 97. Figura 11 HALL, S, Biomecénica bésica, 6. ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 267. Figura 12 WILKE, H. et al, New in vivo measurements of pressures in the intervertebral disc in daily life. Spine, 24(8), p. 755-62, 1999. p. 760. Figura 13 NORDIN, M.; FRANKEL, V. H. Biomecdnica basica do sistema musculoesquelético. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014. p. 95. Figura 16 HAMIILL,J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecdnicas do movimento humano. Barueri: Manole, 2008. p. 138 Figura 17 HAMIILL,J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecdnicas do movimento humano. Barueri: Manole, 2008. p. 137, Figura 18 HAMIILL,J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecdnicas do movimento humano. Barueri: Manole, 2008. p. 137, Figura 19 HALL, S. Biomecdnica basica. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. p. 190-1 Figura 20 HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecdnicas do movimento humano. Barueri: Manole, 2008. p. 154. $$

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