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Embora o entendimento das propriedades biomecdnicas dos tecidos biolagicos seja de fundamental importancia para a compreensio do movimento humano, tal conhecimento nao € suficiente Complementarmente, faz-se necessério conhecer como a Biomecénica contribui para o entendimento do movimento humano realizado pelo aparelho locomotor como um todo. Esse serd 0 foco de discussao deste tépico. Isso significa que € também necessério compreender, sob a ética da Biomecénica, como a estrutura anatémica interfere na capacidade do aparelho locomotor de realizar movimento. Adicionalmente, significa buscar entender e descrever os fatores biomecdnicos que contribuem para o movimento, bem como para a ocorréncia de lesdes, em determinadas estruturas. De forma a facilitar 0 estudo, 0 aparelho locomotor foi didaticamente dividido em: extremidade superior, extremidade inferior e coluna vertebral. A seguir, com base nos aspectos anatémicos, discutiremos os aspectos biomecanicos de cada uma dessas partes que compéem o aparelho locomotor. Em seguida, a estrutura muscular e 0s fatores que interferem na produgao de forga do movimento serio discutidos. 5 FISIOLOGIA ARTICULAR: BIOMECANICA DAS ARTICULAGOES SINOVIAIS 5.1 Extremidade superior ‘A extremidade superior apresenta ampla variedade e interessantes possiilidades de realizagao de tarefas motoras, com incriveis capacidades de realizagao de movimento. A cardter de exemplo, artemessadores de beisebol sao capazes de langar uma bola a 40 mis, enquanto ginastas conseguem executar 0 complexo "crucifixo” nas argolas Quais séo as caracteristicas anatémicas e biomecdnicas da extremidade superior que a permite ser dotada de tais capacidades ¢ obter tamanha capacidade de movimentos? Primeiramente, devemos lembrar que a extremidade superior é composta de algumas articulagdes/estruturas importantes, como: ‘ombro, cotovelo, punho e mao/dedos. Cada uma dessas estruturas apresenta diferentes caracteristicas biomecénicas que interferem em suas capacidades de realizarem movimento, Embora o movimento da extremidade superior seja resultado da atuagéo dessas estruturas em conjunto, cada articulagéo merece ser analisada separadamente. $$ La U1) 5.1.1 Articulago do ombro 0 ombro é 0 conjunto de articulacées responsavel por conectar a extremidade superior 2o tronco, sendo formado pelas articulagdes glenoumeral, acromioclaviculer, esternoclavicular e escapulotoracica (veja a figura a seguir), além dos misculos que agem sobre ele, garantindo dinamismo e mobilidade. Fstemoctavieular Escapulotoracica Acromiactavicular Glenoumeral Figura 16 - Demonstragia iustrativa das articulagSes que compdem © ombro A articulagdo esternoclavicular ocorre entre a clavicula proximal ¢ 0 mandbrio do esterno, sendo uma articulagéo sinovial deslizante, reforgada por ligamentos © muisculos, € que permite movimentos da clavicula, principalmente. Os movimentos da clavicula nessa articulagdo podem ocorrer em trés planos: nos sentidos superior inferior, em movimentos conhecidos como elevagao ¢ depressio, com amplitude de movimento de cerea de 30° a 40°; nos sentidos anterior e posterior, realizando, respectivamente, protragao ¢ retragdo, também com amplitude de movimento de, aproximadamente, 30°; ¢ rotagao anterior ¢ posterior ao longo de seu eixo longitudinal, por cerca de 40° a 50° A ligagdo entre 0 processo acromial da escdpula e a porgdo distal da clavicula forma a articulagdo acromioclavicular. Essa articulagao € responsavel pela maioria dos movimentos da scapula com relacio 4 clavicula. Por localizar-se acima da cabega do Umero, funciona como uma das principais restrigées aos movimentos realizados acima da cabega. £ também reforcada por uma cépsula densa e por ligamentos importantes, como o coracoclavicular, que funciona como um eixo de rotagdo, viabilizando movimentos da escépula. A escapula é capaz de realizar movimentos em trés diregdes nessa articulagao: no sentido anteroposterior em relagao ao eixo vertical, com movimentos conhecidos como protragao (ou abduco) €retragio (ou aducao), com amplitude de movimento variando entre 30° € 50%; no sentido médio-lateral no plano frontal, realizando rotagao para cima ¢ para baixo, com amplitude de movimento préxima 2 60"; € no sentido para cima/para baixo, com movimentos de elevagio e depressao ao longo de uma amplitude de movimento de 30", conforme a figura a seguir. Cumpre destacar que os movimentos da escipula sio dependentes da posicao e movimento da clavicula, ocorrendo em diregdes opostas. Iss0 ? significa, por exemplo, que quando ocorre elevagao na articulagéo acromioclavicular, uma depressao na articulago esternoclavicular € observada, € assim por diante. Rotagio pera cima Rotagéo para baixo Figura 17 ~ Movimentos escapulares em suas trés dregbes possves:elevagdo ¢ depress (a), adugao e abdugéo (b)e rotagao para cima e para baixo(c) Uma terceira articulagao que compée o ombro € a escapulotordcica, formada pela interface entre a escépula anterior e a parede tordcica. Devido a sua conformagéo, a articulagao escapulotordcica nao é considerada uma articulagéo comum, que conecta osso com osso, mas sim uma articulagao fisiolégica, j8 que, na verdade, a escépula repousa sobre dois musculos (serratil anterior e subescapular), que, por sua vez, ¢stéo situados no térax. Como o movimento da escapula ao longo do térax resulta das ages que ocorrem nas articulacdes acromioclavicular e esternoclavicular, isso Ihe permite uma amplitude total de movimento de 60° a 180°, sendo que 65% dessa amplitude é decorrente de movimento na articulagdo esternoclavicular, enquanto 35% € resultado de ages na articulagdo acromioctavicular. Para completar a composicao do complexo do ombro, temos a articulacdo glenoumeral. Essa & a principal articulacdo do complexo do ombro, na medida em que oferece amplitude de movimento € potencial de mobilidade dentre todas as articulacdes do corpo. Tal capacidade se dé devido & sua conformacéo: trata-se de uma articulacdo sinovial em formato de esfera, composta de cavidade glenoidal (local de encaixe da cabeca do dmero}, ldbio glenoidal (borda de fibrocartilagem), cépsula articular, bolsas (ou "bursas", que séo bolsas repletas de liquido localizadas em pontos estratégicos da articulagao a fim de reduzir o atrito existente entre as estruturas) € reforco ligamentar, tendineo € muscular. E exatamente essa composicao de quatro articulagées, € seus componentes associados agindo em conjunto, que confere a0 ombro mobilidade maior que a permitida por qualquer uma dessas La U1) articulagdes menores individualmente. Além disso, tal composi¢do estrutural permite ao ombro amplitude total de movimento bastante considerdvel, sendo a articulacao com a maior mobilidade dentre todas as articulagdes do corpo, e uma das poucas articulagées do aparelho locomotor capazes, de realizar movimento em trés planos anatémicos diferentes (ou seja, possui trés graus de liberdade de movimento). Veja: Flexéo horizontal 13 \\ feae 6 NA sxtensio \” horizontal f 1 Bi) tons “8 iy / \ — x | ws Hiperextensigh Hinersbo Figura 18 ~ Movimentos ealzadios pelo ombro e suas respectivas amplitudes No plano sagital, o ombro & capaz de executar movimento de, aproximadlamente, 180* de flexio a 60* de hiperextensao, sendo o movimento nesse plano limitado pela presenca de rotagao externa. Em caso de rotacio externa, a amplitude de movimento do ombro no plano sagital diminui significativamente. A abdugio € adugao séo os movimentos feitos pelo ombro no plano frontal. A amplitude da abdugéo & também de, aproximadamente, 180°. No entanto, essa aco articular é limitada pela presenga de rotagdo interna, podendo diminuir sua amplitude maxima para 60°. A aducao € realizada até a posi¢ao neutra (ou anatémica), podendo continuar como hiperaducao por cerca de 75°. Conforme jé apontado, o ombro é capaz de efetuar rotacdo interna ¢ externa, com uma amplitude de movimento total de 180° (sendo 90° o limite para cada tipo de rotacao) no plano transversal. Ainda nese plano, o ombro também possui a capacidade de realizar os movimentos de aducao (ou flexdo) ¢ abducao (ou extensao) horizontal, com amplitude de 135° e 45e, respectivamente. & Lembrete Os movimentos de flexdo e extenséo articular s4o visuelizados no plano sagital do movimento. Os movimentos de aduco e abducao das articulagdes sao visualizados no plano frontal do movimento. Os movimentos de rotacao das articulagées sio visvalizados no plano transversal do movimento A ampla mobilidade do ombro € extremamente importante por viabilizar a participagao em diversas atividades motoras € modalidades esportivas, como natacdo, ginéstica, esportes envolvendo ? arremesso, entre outtas. Porém, em algumas situagées o praticante & submetido a amplitudes extremas de movimento, o que, em longo prazo, com grande quantidade de carga e repeticdes, pode levar a0 desgaste das estruturas ¢ & frouxido dos elementos da articulagéo. Tal condi¢do pode se apresentar como uma adaptacao negativa a pratica ¢ como risco de lesdo ao praticante ou atleta, Para que o potenctal de mobilidade do ombro possa ser utilizado, diversos musculos localizam-se € trabalhiam nessa regio, sendo os principais musculos, e suas respectivas acoes, apresentados no quadro a seguir. Quadro 6 — Principais musculos do complexo do ombro ¢ suas respectivas ages a Peitoral me Anterior 20 tronco(superficial GE DEST UE Latissimo do dorso Posteriar ao troncosuperfcial Gripe Sager s borat Deltoide Lateral 4 cintura escapular/superficial pee peso eae seecnue Mriegacnccmiel Maree Supraespinhal Superior cintura escapularprofundo _ Abdugéo e rotagé lateral do ombro ‘Adugda horizontal ¢ rotagao lateral Infaespinhal _Pasteossuperior&eseépulafprofundo pa Si Redondo menor Posterolateral escépulafprofunda susie horizontal erotagéo lateral Aco no ombro: luda na flexdo, Biceps braguil Anterior a0 bacolsuperficial ado, adugo haizontal rotagdo redial eabdugao do oma ‘Teepsbraulal Posterior 0 bragosuperiial Agno ombro: extenséo do ombro Trapézio Posterior ao roncojsuperficial Levant, abana eaduz a eseépula 0 deltoide se apresenta como um importante e bastante solicitado mUsculo da articulagdo do ombro. Com trés porgées indenendentes (anterior, posterior e lateral), o deltoide € um dos musculos mais ativos dessa articulagdo e participa de quase todos 0s movimentos realizados pelo complexo do ombro. Por exemplo, cerca de 50% da fora muscular para 2 abducio ou flexio do ombro é gerada por esse misculo, com sua contribuigéo aumentando ainda mais & medida que a abdugo aumenta. Embora 0 deltoide seja mais ativo numa amplitude de movimento de 90° a 180, esse musculo apresenta maior resisténcia & fadiga em movimentos entre 45° e 90° de abdugéo. Durante os movimentos de adugao ou extenso dos ombros, os principais responsdveis por essas ac6es so os miisculos latissimo do dorso, redondo maior ¢ peitoral maior Um complexo composto de quatro misculos merece destaque: € 0 manguito rotador. Formado pelos misculos subescapular, supraespinhal, infraespinhal ¢ redondo menor, o manguito rotador contribui de forma importante para a rotagao do tmero e, ao mesmo tempo, forma uma cobertura colagenosa ao redor da articulacdo glenoumeral, circundando 0 ombro por quase todos os lados. Contudo, sua principal contribuigéo se da através da tracdo exercida pelos seus misculos sobre a cabeca I$ La U1) do Umero na ditegao da cavidade glenoide, contribuindo de maneira fundamental para a estabilidade dessa articulagdo. Embora seja um elemento protetor de relevante importancia, 0 manguito rotador tem sua capacidade de produzir forca reduzida em angulagées acima de 90° de flexio ou abducéo, situago que pode ainda ser piorada com a tealizagao simultanea de rotagio externa. Nessas condigdes, ‘0 manguito nao & capaz de cumprir adequadamente sua fungéo de promover a estabilidade articular e proteger o ombro, tornando a articulagao mais vulneravel e suscetivel a lesdes, 0s movimentos de rotagéo de ombro sio de suma importancia, ja que muitos esportes se utiizam dessas ages, como o belsebol e 0 handebol. A rotacao externa, especialmente com o braco acima de 90°, € executada pelos musculos infraespinhal ¢ redondo menor, com a atividade desses musculos aumentando medida que a amplitude da rotacdo externa aumenta, A rotacao interna é gerada pelos misculos subescapular, latissimo do dorso e redondo maior e por porcées do peitoral maior. 0 peitoral maior ea porcao anterior do deltoide sio as musculaturas que mais contribuem para a tealizagao da aducao horizontal, Jd a abducao horizontal ¢ gerada principalmente pelos musculos, infraespinhal ¢ redondo menor ¢ por porcao posterior do deltoide Cada ago articular efetuada pelo complexo do ambro é caracterizada por determinada capacidade de produzir forga. A maior capacidade de produzir forga pelo ombro se da em aducao devido & quantidade € as caracteristicas dos misculos envolvidos nessa ago. Em carater de exemplo, a forca de adugao dos miisculos do ombro é equivalente ao dobro da forga gerada pela abducéo.A segunda acéo articular capaz de produzir maior forga pelo ombro € a extenséo, possivelmente por utilizar grupamentos musculares semelhantes ao da adugao, Em seguida, temos a flexdo e a abdugao como agdes do ombro capazes de produzir grande forga. Se observarmos atentamente essas caracteristicas de forga dessa articulagao, podemos perceber que 0 ombro tem maior capacidade de produzir forga em movimentos ou fase de movimentos que envolvam abaixar o braco (aducdo ¢ extensao) que na elevacao do brago (abdugao ¢ flexdo), Cabe ainda ressaltar que as rotagées sao as agdes nas quais 0 ombro tem menor capacidade de produzir forca, especialmente rotacdo externa As articulagées que compdem o complexo do ombro, como ja apontado anteriormente, estdo interligadas e atuam ce maneira conjunta, funcionando como uma unidade Unica de sustentacio das cargas ¢ de absorgao de choque mecanico no ombro. Contudo, a articulagdo glenoumeral é a principal dese complexo articular por fornecer apoio mecanico direto ao braco. Logo, ela € responsdvel por sustentar cargas muito maiores do que as outras articulagdes que compdem 0 ombro. As caracteristicas anatémicas, funcionais ¢ biomecanicas do complexo do ombro acabam por gerar forcas elevadas na propria articulacdo, Para se ter dimensao da capacidade dessa articulacdo, o manguito rotador, composto apenas de pequena parte dos miisculos do ombro, é capaz de gerar uma forga de 9,6 vezes 0 peso do préprio membro, produzindo forcas maximas a 60* de abdugao e gerando carga sobre a articulacdo de, aproximadamente, 70% do peso corporal. 0 deltoide produz forca de cerca de 8 a 9 vezes ‘© peso do membro em abducdo de 90%, o que resulta, em média, em uma sobrecarga na articulagdo do ‘ombro equivalente a 40 ou 50%, podendo atingir 0 valor de 90%, do peso corporal. Tal variagao se da devido ao fato de que 0 torque gerado no ombro seré sempre o produto do peso do segmento pelo braco de alavanea (ou brago de momento) do membro na posicao articular adotada. Peso do antebrago = 15 Ny , «ot to 1 oo {4 i oa 1 “que nocontro ies! z noon & ona em ©. 1050 Nem Torque, ne ombro = (20.Ni(15 em) + (15 N20 en) = 50Nm “erques no omtro = @ONKIE en) + (1S (Sem) = 55m Figura 19 ~Torque gerado no ambro em diferentes pasigées da membro superior 0 conhecimento acerca da anatomia, funcionalidade ¢ caracteristicas biomecénicas do ombro € de suma importancia porque nos permite analisar e entender o movimento ou atividade de interesse; compreender os aspectos funcionais do movimento; identificar aspectos relevantes para 0 treinemento ¢ fortalecimento da articulagao, como os muisculos mais solicitados em diferentes, movimentos ¢ a forma como trabalham; e, consequentemente, entender os riscos ¢ mecanismos de lesao dessa articulagao. Como exemplo para aplicagdo desse conhecimento, trouxemos duas situages esportivas bastante conhecidas € nas quais o ombro apresenta grande participacao ¢ relevancta: o nado crawl o atremesso por cima da cabeca A natagéo € um dos esportes com maior solicitagéo da articulagéo do ombro, ja que a propulsao do corpo no meio liquido é bastante dependente da torcao gerada por essa articulagao. Focando-se mais especificamente no nado crawl, podemos dividir esse estilo de nado em duas fases basicas: propulsao ¢ recuperacao. £ observavel que na primeira fase forcas propulsivas sio geradas pelo ombro a partir do movimento do braco na agua a partir de movimentos de rotagao interna e adugdo. Estudos mostram que tais movimentos e, consequentemente, a geracdo de forca para a propulsao sao resultados do esforgo dos musculos latissimo do dorso, redondo maior ¢ peitoral maior, predominantemente. Por outro lado, a fase de recuperagao € caracterizada pela saida do braco para fora da agua por intermédio de rotagdo externa e abdugao, Para essa fase do movimento, supraespinhal, infraespinhal, deltoide médio serratil anterior so os musculos solicitados e que permite as acdes articulares necessérias, 0 arremesso realizado acima da cabega € outro movimento com grande envolvimento do ‘ombro. Ele implica grande tensdo nessa articulagao ¢ € caracteristico de muitas modalidades esportivas, como beisebol, atletismo, futebol americano © handebol. Esse tipo de arremesso La U1) geralmente pode ser dividido em trés fases: preparacdo, aceleracao e desaceleragao. Analisando- se biomecanicamente 0 movimento, € possivel observar que a fase de preparacao € mediada por uma abdugdo do brago em 90°, rotacao externa e aducio da escapula, o que exige a solicitagdo de grande parte dos misculos do ombro, como deltoide, supraespinhal, infraespinhal, redondo menor, subescapular, trapézio ¢ romboide. 0 fim da fase de preparacao é acentuado pela rotagdo externa maxima do ombro ¢ aumento da contribuigdo dos musculos latissimo do dorso € peitoral maior. Essa contribuicéo ocorte inicialmente de forma excéntrica, a fim de limitar a rotacdo externa, e posteriormente ocorre de forma concentrica para iniciar a segunda etapa do movimento, a fase de aceleragdo. Com excegao do deltoide, o restante dos misculos aumenta sua intensidade de ativagéo nesse momento, o que se reflete também em um aumento do trabalho dos ligamentos e cépsula articular. A fase de aceleracdo destaca-se pela realizacao combinada de rotacao interna com manutencao da abducdo a 90°, abducao da escapula ¢ flexao horizontal, sendo realizados usualmente de forma explosiva. Os musculos mais ativos nesta fase do movimento sio o latissimo do dorso, subescapular, redondo maior ¢ peitoral maior. Nao é por coincidéncia que esses mesmos miisculos iniciam sua ativagao, ainda que de forma excéntrica, jé na fase final da preparacao. A desaceleracao, ultima fase do movimento do arremesso, € marcada por solicitagao muscular semelhante & fase de preparacdo, porém viabilizada por acdes excéntricas, a fim de reduzir e controlar a velocidade do segmento no fim do movimento. Dadas as caracteristicas anatdmicas, biomecanicas ¢ funcionais da articulacdo do ombro ja discutidas previamente, é possivel perceber que determinadas situagdes e aces podem aumentar a vulnerabilidade da articulagdo durante a execugdo do movimento, aumentando também o risco de lesdes. 0 ombro é suscetivel a grande variedade de lesdes, cuja natureza pode ser traumatica ou por excesso de uso (overuse), sendo responsavel por cerca de 8-13% das lesdes relacionadas ao esporte. As lesées traumaticas ocorrem por meio de contato com o ambiente externo, geralmente com algum objeto ou outro individuo. Ja as lesdes por overuse estéo relacionadas ao excesso de carga ou, principalmente, ao excesso de agées articulares repetidas pelo ambro, gerando inflamagdes em estruturas biolgicas que a compdem, como ligamentos, tendaes ¢ misculos. Dentre as lesdes mais comuns no ombro, destacamos as luxagdes (ou subluxagdes), as lesdes no manguito rotador € rotacionais, a bursite ¢ a tendinite. As luxagées ou subluxagées séo deslocamentos de dois ou mais ossos que compoem a articulagéo em relagdo as suas respectivas posigdes originais. A articulagdo glenoumeral do ombro € a regio com maior incidéncia de luxagdes. Isso porque, além de apresentar caracteristicas anatémicas e biomecdnicas que predispdem essa articulagao a luxagdes, a articulagao glenoumeral apresenta frouxidao natural de suas estruturas para garantir grande mobilidade e amplitude de movimento, e embora existam diversos ligamentos com esse fim, a estabilidade nessa articulagdo € reduzida em comparacao as outras articulagdes, As luxagdes ocorrem comumente quando ha abdugdo somada a rotagdo externa do Umero, sendo as luxagées anteroinferiores e oriundas de traumas as mais comuns (95% dos casos), 0 manguito rotador € outra regido do ombro comumente acometica por lesbes. A principal delas & a sindrome de impacto do manguito rotador (ou sindrome de impacto do ombro), que tem origem em movimentos vigorosos realizados acima da cabeca envolvendo, geralmente, abdugéo ou flexio de ombro em conjunto com rotagdo interna. Dentre as atividades que apresentam essa caracteristica € podem tomar o ombro suscetivel a essa lesdo, podemios destacar os arremessos, especialmente aqueles que envolvem implementos com carga, como o atletismo, 0 saque no ténis, 0 saque € 0 ataque no Voleibol ea natagdo. Asindrome de impacto do manguito rotador é causada pela compresséo progressiva exercida sobre os tenddes dos misculos que compéem o manguito rotador por estruturas dsseas ¢ outras estruturas bioldgicas moles que compdem 0 complexo do ombto, resultando em inflamacéo dos tendées (tendinites) do manguito e das bursas (bursites) ou, até mesmo, no rompimento desses tenddes. Além da dor, os principais sintomas atribuidos a essa sindrome sao hipermobilidade da cépsula anterior, hipomobilidade da cépsula posterior, rotacao externa excessiva associada 4 rotacao interna limitada e frouxidao ligamentar generalizada, Possivelmente por apresentar aporte sanguineo mais predisposto a compressio, o misculo supraespinhal é geralmente o mais afetado. Sendo assim, apesar de apresentar a maior mobilidade do aparelho locomotor, essa caracteristica causa 30 ombro consideravel instabilidade e suscetibilidade a lesdes. Logo, 0 fortalecimento dos misculos, igamentos ¢ estruturas que formam 0 complexo do ombro é de suma importancia para a sustentacdo, estabilizacdo e protegao dessa articulagéo. 5.1.2 Articulagio do cotovelo 0 complexo do cotovelo é uma articulagéo consideravelmente estavel, bem estruturada € com boa sustentacdo ligamentar € muscular. Tem como principal funcéo viabilizar o movimento do antebraco, por intermédio de sua ligacdo ao braco, e é vital para auxiliar 0 ombro na aplicacdo de forca e no controle do posicionamento da mao no espaco. Para cumprir scu papel, 0 cotovelo é formado por trés, articulagdes: a umeroulnar, a umerorradial ¢ a radioulnar (veja a figura a seguir). As duas primeiras, so resporsdveis pelo movimento entre o antebrago ¢ brago, enquanto a tiltima tem como fungao os, movimentos entre o ridio € a ulna, Articulagdo Acclagsa umerorradial ir FT umeroulnar Articulagio raciulnar superior Figura 20 - Demonstragao istrative das articulagdes que compdem o complexo do cotovelo Em formato de dobradiga, a articulagdo umeroulnar situa-se entre o mero € a ulna, sendo a principal deste complexo, na medida em que é responsavel pela flexdo € extenstio do antebraco (principais movimentos da articulacdo). Forma-se a partir do encaixe reciproco da tréclea umeral na fossa troclear da ulna. 0 contato entre o processo coronoide da ulna com a fossa coronoidea do umero, La U1) na tegido anterior da articulagdo, impée limite & amplitude de movimento de flexéo. Por outro lado, na face posterior, o contato do oléerano da ulna com a fossa do olécrano do imero dita os limites de extensdo dessa articulacao A articulago umerorradial trata-se de uma articulago deslizante formada @ partir do contato do capitulo (epicéndilo umeral) com a extremidacle superior proximal do radio, contribuindo também para 2 flexio e extensio do antebraco. A terceira articulagdo deste complexo articular é a articulagao radioulnar, formada entre a ulna € 0 radio por intermédio de sindesmoses, € que permite o movimento do radio ao redor da ulna, ocorrendo pronagio ou supinacao, Diferentemente do ombro, 0 complexo do cotovelo possui mobilidade e amplitude de movimento mais limitada. Com apenas dois graus de liberdade, os movimentos do cotovelo restringem-se a flexiio e extensio, no plano sagital, e pronaco e supinacao, no plano transversal. A amplitude de movimento para flexdo ¢ extenso do cotovelo é de cerca de 170*. 0 angulo de maximo de flexao ativa € de 145, a0 passo que para a flexao passiva esse valor chega a 160*. Diversos fatores anatémicos determinam os limites da flexéo, como a cépsula articular, os muisculos extensores € 0 contato osso a ass0 na regio do proceso e fossa coronoide. Fatores relacionados 4 composi¢ao corporal, como hipertrofia muscular € concentrago de tecido adiposo na regido também podem contribuir para limitar a amplitude de movimento de flexdo de cotovelo. Devido as suas caracteristicas, anatémicas, o Angulo maximo de hiperextensio fica restrito a 5~10*, sendo limitado pela cépsula articular, pelos musculos flexores e pelo contato dos ossos na regido do olécreano. A maioria dos movimentos cotidianos e esportivos exige amplitude de movimento de flexio e extensio que varia entre 100" € 1402, Osmovimentosde pronacaoesupinago apresentamamplitudedemovimentode,aproximadamente, 70° e 85, respectivamente, Ambos os movimentos sao limitados peta cépsula articular, pelos ligamentos localizados nessa regido e pela musculatura antagonista de cada movimento. Apesar dessa limitacao, a tal amplitude atende adequadamente as exigéncias da maioria das atividades cotidianas e esportivas, que est em cerca de 50° de pronacao e supinacao. Para que os movimentos realizados na articula¢do do cotovelo sejam possives, diversos misculos cruzam essa articulago. Os masculos principais € de maior contribuigo para as ages no cotovelo sao apresentados no quadro a seguir Quadro 7 - Principais musculos do complexo do cotovelo € suas respectivas agdes se ied ma Biceps braquial Anterior ao brago/superfcial Ago no cotovelo:flexéo e supinagao de cotovela Braquial Anterior 0 bragolprofundo Flexdo do cotovelo Braquiorradial Lateral a0 bragofsuperficial Flexdo do cotovelo Triceps braquial Posterior ao bracolsuperfcial ‘Agio no cotovelo: extensio do cotovelo 9.

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