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Neste pequeno sao lisamente fala 0 tempo abraca. E isto é feito (...) através de uma escrita Primorosa que cativa o leitor, que 0 atrai ds vezes po ir e de Scorsese, as vezes pari rragédic indlogos criticos perseguidos pelo nazismo. As urgéncias postas pela brutalidade: dos: sistemas penais contemporiineos fazem do presente. 9 ceniro de gravidade do trabalho, ¢ isso deixa sinais predominancia do presente histérico na narrative Pouco dessa histéria “foi”, quase tudo ainda “é”. Do Prefacio de Nilo Bat Vera Malaguti Batista INTRODUCAO CRITICA A CRIMINOLOGIA BRASILEIRA Vera Matacurt Barista rofessora Vibitant de criminologia da Faculdade de Direito da UERJ Seeretiria-Geral do Instituto Carioca de criminologia InrRopugAo critica A CRIMINOLOGIA BRASILEIRA. tee ean ar arrestin xaos | : Editora Revan I i | Coppsight © 2011 by Vor Maas Batis, “Todos of dios sserados no Basil pela EaStoa Revan Lia, Nera pare deta pablcaio poder ser repro, sea poe sor mecnico eerrieoe ou vin pia Suogrificy som a autorzapia pia decor, Roberto Teen Vanessa Shia Inpro (Ee ppl fae 5 ape pga sane pe Gaon 1/15) Divito Gries de Faors Reveo (C1P-Brsit, Calogagioms Fonte ‘Seto Nacional dos Editors ds Livos RI 4 meméria viva de Simon, Lagi ¢ Abadia a |SBN OTE. 85-7106-4201 1. Ceiminclogs Brash 2. Ditto pal - Beta Tis. ms136, eDp 364 cous saat sant zs642 SUMARIO Preficio insubstimivel /9 Introdugio /13 Capitulo I~ Pensando a questio criminal /15 Capitulo II — Criminologia e politica criminal /2 | Capitulo III — Genealogia da criminologia /3 Capitulo IV ~ Positivismos /41 | Capitulo V—A criminologia cos saberes psi /51 Capitulo VI~ A sociologia na criminologia /65 Capitulo VII —O romalacionismo ea criminologia liberal /73 Capfeulo VIII -O marxismo e a questio criminal /79 Capitulo IX —Enfim, a criminologia exitica /89 Capitulo X—O grande encarceramento /99 Epilogo: historias tistes /113 Referéncias bibliogrificas /116 PREFACIO INSUBSITIULVEL Relutei em aceitar 0 convite da Prof Verinha Malaguti Batista para que fizesse uma soresentsio deste sen novo tabaho. Dentro eu sexia.0 tltimo entre of iniimeros colegas habilitados a prefaciar a Tera ced rnin bar ee ea eccevea paz eu lo que pode contabuir para qualificar o debate entxe aés. E chocaate 0 tie de desinformasso (uese € escreiignorinci) com o qual a exSnica midiitica wata a questio criminal. Plot ainda é a nada inocente simpli- ficasio das posgses tericas qu, segundo tal crénica, se dghadiam. ZAFFARONI Eugenio Ral. Bla dla mina Aa proferida no Progen de Mestado en Dito /OCAM-Ceatra. Rio de ani: mimeo, 200. 18 classes”. © capital preciso sempre de um grande projeto de assujeitamento coletivo, de corpo e alma. A culpa e a culpabilidade, propostas pela Igreja Catdlica e pelo Estado, constitaicam-se nos alicerces fundamentais da subjetividade e das priticas da pena por isso que todas as definicdes da criminologia sio aos discussivos, atos de poder com efeitos concrctos, nfo sio neutros: ‘08 métodos, dos paradigms as politicas criminais. Aqui reside o enigma central da questio criminal. Talvez seja essa a ligio principal do inspirador livro de Pavatini®: para entender 0 objeto de criminologia, temos de entender a demanda por ordem de nossa formagio econémica e social. A criminologia se xelaciona com 2 luta pelo poder e pela necessidade de ordem. A marcha do capital e2 construc do grande Ocidente colonizador do mundo e empreendedor ds barbitie precisaram da operacionalizacio do po- der punitivo para assegurar uma densa necessidade de ordem. Es- petamos tentar aprofundar essa refleso daqui do lado selvagem. 1 PAVARINI, Massimo. Contraly Davinci: hora imieligar barges reyes ‘egooni, Mésico: Siglo Veinteone Ealtoes, 1983. Capfruto IT (CRIMINOLOGIA E POLITICA CRIMINAL Sempre comeco meus cursos de ctiminologia tentando desconstrvit 0 conceito de crime como algo ontoligico, que teria ‘aparecido na natureza como os peixes, 05 abacates © as esmeraldas Entender 0 erime como um constructo social, wm dispositive, é 0 primeito passo para adentrarmos mais além da superficie da ques- tio criminal ‘Nilo Batista a0 falar sobre “a grande criminalidade econémi* co-financeisa”, prope um giro axial no objeto de reflexio: ‘“Promoverei, intencionalmente, uma alteragio no objeto da ‘eflesio, proposte como “a grande criminalidade econémico- financeira", Hé diversos motivos para efetuar tal alteracao. Em incl 1hé muito tempo — sob 0 inflaxo das tendéncias se considerarmos a eu reflexo na cha- expressio “criminalidade”. B, de f seletvidade operativa dos sistemas p. sada cifza oculta, a “csiminalidade” ~ entendida como 0 s0- smatéxio das conduts infeacionais que se manifestam ns reali ade socal ~ é sempee um incognoscivel, do quil ao temos como nos aprosimar sudo citsios metodologicaente tornam a incorporacio dos dados dos ing) contrassenso em colisio direta com a presunglo Sse que poderiamos nos satisfazer com os indicado- 1€s das estatieticas policias, en Ihe respondieria desde logo que a taiamos tratzado da “ctiminalidade registrada”, ‘ctiminalidade” simplesmeate, esse conceito sugestivo de uma falsa totalidade que, no obstante, cumpre no discurto politico-ctiminal tacefas ideologicamente importantes. Mas, sobretudo, eu fentaria convenct-lo de que é muito mais verda- porque 2 seletividade operativa do sistema penal, modelando ualitativa ¢ quantitativamente o resultado final da criminaliza- ‘fo secundicia —isto é quem e quantos ingressario nos zegis- faz dele um procedimento configurador da realidade Podemos acreditar ou nio que o miimero de carzos que ‘ltrapassaram a velocidade permitida (“csiminalidade”) €idén- ‘ico 20 niimero de malta impos motivo, peas 2u- ; ss0es, Por que afasti-lo das condi- (ges sociais concretas aas quais & produzido (riminaleeyi), para atribuirlhe uma pretensio de objetividade tio falea quanto a totlidade que tenta sepresentar?"™ Comecemos, entio, pela observacio Fundamental de Massimo Pavarini: neguemos que 0 nosso objeto, a cximinologia, tenha senti- necessidade de ordem numa perspectiva de luta de classes. tenha a Unido Europeia proserito 0 conceito de luta de el verdade é que nunca cla foi tio visivel e palpével como ‘conflitividade social do dia a dia do capitalismo de barbatie: garotos mozendo ou matando por um boné de marca. A eximinologia como racionalidade positiva € uma resposta politica as necessidades de "BATISTA, Nila Tera mo XI Conroe Interaoional wparad. 1 Congr Itrsasional de Dine Ca Rio be Jaci, 27 de setembeo de 2006. mimeo. 1 PAVARINI, Massino, Contry Domina, it ordem que vio mudando no processo de acumulagio de capital, Para compreender o seu léxico, seu vocabulitio, sua linguagem, te- ‘mos de ter a compreensio da demanda pot oxdem. ‘A politica criminal também estd historicamente subordinada a essa demanda. Nilo Batista trabalha a politica criminal como 0 con- junto de principios e recomendacées para a reformna ou transfor ‘macio da legislagio criminal e dos Srgios encarregados de sua cagio.” conceito de politica csiminal sbrangeria a politica de se~ _guranca pablica, a politica judicfsia e a politica penitenciéria, mas estaria intrinsecamente conectado & ciéncia politica. ‘A partic da critica das exposices globais articuladas entze cximi- nologia, dteto penal e politica criminal em von Liset, a ctiminologia jé ao estaria em busca das causas da delinguéacia e dos meios para pre~ vveni-la, ea politica ctiminal nlo se reduritia & angio de “conselheita da sancio legal” lastreada na accitagio legitimante da ordem legal. ‘A partir de Foucault, Zaffasoni trabalha a ctiminologia como ‘uma questio politica que provém do século XITL, da conjuntura do inicio do processo de centralizagio do poder da Igreja Catdlica edo Estado, do processo de acumuilacio de capital ¢ de poder punitive aque comeca operar a traducio da contflitiridade ¢ da violéneia no sentido “do criminal” criminal se relaciona entio com a poticio de poder 's de ordem de uma determinada classe social. As- gia e a politica criminal surgem como um eixo ¢5- sim, a pecifico de racionalizagio, um saber/poder a servico da acumula- ‘clo de capital, A histéria da criminologia esti assim, intimamente ligada & histéria do desenvolvimento do capitalisme. E nessa cadéncia, nesse bail de Marx com Foucault, que a ‘ctiminologia critica, em especial a de Zaffaroni, trabalha 0 século “XIII como um marco na mudanca das relagdes de poder." inven- DRATISTA, Nia lori ian on at peal ras Rio de Jane: Revan, 1990. TQUCAULT, Michel Faire a ssaaidade Ia rotate de br Rio de Janezo 18 ZAFFARONI, Eugenio Ras BATISTA, Nilo otal Dire Pal Brasilia I: Tear el do das pasl, Ved. Rio de Jancico: Revs 23 ‘40 da pena puiblica supde o confiseo do conflito da vitima, que se tora apenas uma figura secundéria na reconfiguracio do poder unitivo. Esse processo politico institai um método para a busca da verdade, que tituisé numa permanéneia subjetiva do Oci- téenicas de apuracio da “verdade”. ‘Estamos pensando, historicamente, na categoria da longa du- sasio da escola francesa dos Amak. Quando pensamos, dos séculos ‘XIII so XVIIL, até chegar ao XIX, queremos entender as projegdes, para o foturo, a permanéncia historica desse método de busea da verdade. A objetifiario do “herege” ou da “bruxa” pressupusha ‘uma possibilidade técnica de dominio: técnicas de interrogatério, di- agnéstico, construgdes da identidade “criminal” e incorporacio de identidades “cziminosas”, Foi o histosiador italiano Carlo Ginzburg quem propés 0 método indiciisio para desvelar entre os discursos dos vencidos, dos pesseguidos pelos procestos inquisitorais, os frag- mentos de uma outta verdade: a dos titos pagios demonizados pelos ‘movimentos de centralizacio do poder da Igzeja Catdlica.* ‘Também na categoria da longa duragio, do sé XVIII Jean Delomeau vai trabalhar a utilizagio do constnisio de uma mentalidade obsidional na Europa. dda pelas pestes, na conjuntura da expulsio dos mouro ‘08 movimentos do cisma e das reformas na Igreja ‘ctiminologia corre o risco de ser “saber e arte de despejar discursos pexigosistas”, conhecer 0 eixo dos medas é tragar o camninho das criminalizagdes ¢ identificar os csiminalizéveis. 1 GINZBURG, Cala Hise wturna. Sao Paolo: Companhia das Letras, 1991 ‘ST DELUMEAU Jean, Hist do nad mo Ocidet (1300-1800). Sio Paulo: Companhia as Letas, 1983. 2 Entio, entre os séculos XII ¢ XVII, artculam-se as técnicas ‘da Inquisicio com o surgimento das cidades, a apaticio da ideia de ‘contrato, o fortalecimento da burguesia ¢ 0 absolutismo, configuran- doo Estado moderno e suas estruturas penais. Mais especifieamente ‘entre o século XIV ¢ o XVIII, a acumnlagio de capital que impulsio- nati o mercantilismo, a manufatura ¢, logo, a Revolugio Industrial forjani uma sociedade de classes através da lua para o disciplinamento de contingentes de mio de obra para o wabalho™ O disciplinamento dos pobses para a extracio de mais-valia, energia viva do capital, vai precisar da idcologia, da racionalidade utlitarista a legcimas as sela- es cas téenicas de dominio dos homens ¢ da natureza. A violéncia a barbirie fazem parte desse cenirio, produsidas pelo excesso de ivilizacio, ¢ nao pela sua antitese.”” A part do século XVII, o processo histérico de fortalecimen- to do contrato social determina outeas necessidades de ordem. As execugies publicas vio se tornando petigosas com o protagonismo ‘da mukidio que vai produzir a critica do absclutisme. A revoligio ‘bate ds portas da Fiuropa, com suas multidées de pobres a produziz © Grande Medo: cabecas cortadas, dria Glauber Rocha® © poder punitivo vai precisar de novas propostas e novas ‘tGenicas para dar conta da eGncentracio de pobres que o processo de acumnulacio do capital provocou. E pobres, agora, com uma pers- pectiva revolucionétia. E nessa conjuntura que na critica do absolutismo surge 0 dliscurso jutidico de principios. Ressalta Nilo Batista que, historica- meate, o dircito penal surge para limitar 0 poder punitivo do. Anti- go Regime. Aparecem as idelas de legalidadee de outras guzantias, ¢ 18 Sugizo aos crimindlogoe que seinteressam palo tema que apeofundem a letwrat de Karl Marx sobre 2 produglo de muis-vaia e de Edwacd Thompaon sobre 0 28C FOUCAULT Mikel gor eps Pipi Vores 1977 RUDE, Georges Arlo nr cs trite Pr Iga (130- 1848}, Rio de Jacizo: Campos, 1991 25 1s conceitos chave de delito e pena. Sio estabelecidos limites para o mérodo moderno de organizacio da verdade: punir em vez de vin- gat c estabelecer uma gestio seletiva das ilegalidades populares. A ascensio da burguesia contra a figura do monarca absoluto vai ‘ensejar novos discursos criminolégicos, aovas insti politicas, a partir do enquadramento cartesiano ¢ iluminista do mundo. A prisio, subordinada & fébrica, se converte na principal pena do mundo ocidental. O delito passa 2 ser definido jusdica- mente. A Revolueto indastial precisa denovos dispositivos de con- fome e exploragio sem limites da mio de obra na velha Londres. nese sentido que as luzes produzem um aprofundamento da racionalidade das técnicas de dominio do capital: como dixia Marildo Menegat, o olho da barbirie espreita a Europa. No século XIX, a Furopa jd péde produzit grande internamento iniciado no XVIII sobre os in dustrial de seserva. A sociedade disciplinar cria ;, manicémios, internatos e asilos, E nesse mo- es totais Hum disousso que surge das prOprias agéacias do poder sobre o “objeto” estudado. Sea maiotia dos presos é pobre, o paradigma etiol6gico iri conclu, atza- ‘vés da legitimagio do discurso médico, que a causalidade criminal sth reduzida i figura do autor do delito. A prépaia descxicto /classi- ficagio bioldgica do sujeito ceiminalizavel seca a explicacio do seu crime ¢ de sua “tendéncia” 4 “criminalidade”. Passa a reinar uma racionalidade falsamente autonomizac do politico que produaisi um recuo do duminismo, que se imaginava haver superado 0 absolutis- mo punitivo, Na criminologia, o positivism transfere 0 objeto do Aelito demarcado juridicamente para a pessoa do delinguente. Conta 26 os petigos revolucionérios da ideia de jgualdade, nada melhor do que ‘uma legitimacio “cientifica” da desigualdade. O cximinoso, agora bi- ologicamente ontolégico, vai demandar mais pena, mais poder puni- tivo indeterminado: corrigir a natureza demanda tempo. ‘Enquanto isso, o capital vai intensificando o dominio utilitisio da natureza, produzindo novas tecnologias e novos dispositivos No século XX, as guecras vao inctementar as ctises ciclicas com as prati- cas de destruigio do outro. Enquanto o nazifascismo vai ocupando a Europa ocidental de corpo ¢ alma, os Estados Unidos produzem, junto com a extica a0 laisesyfare, uma nova ruptura na criminologia. A luts contra a depressio eco tas €a construsio do Welter System vai repolitizar a “questio A sociologia e as ciéncias humanas vio avancar do smo segregador para tum funcionalismo integrador. A cximi- nologia estadunidense vai se apoderar do conceito de anomia de Durkheitn, reciclado na perspectiva de Merton. O comportamento desviante passa a fazer parte da estruturn social, compre fungies integmadorzs. O limite do desvio é a anomia, a ruptura da coesio “pactuada”. Os intelectusis estadunidenses da sociologia ¢ da crimi- nologia esto buscando safdas para a profunda conflitividade socal decourente da concentiagio urbana heterogiaea, composta de gro pos de migrantese imigrantes culuralmente diferencia é mais um fenémeno natural, é uma de €-consegue enxergar as relagdes entre o gueto ¢a “crimina- lidade”, As instituigdes de controle social passam a ser objeto de es- tudo, bem como as freas segregadas com concentracio de imigrantes pobres, ¢ as formas de controle social. Surge uma criminologia fancionalista, funcional is novas demandas do capital, mas que se distingue do correcionalismo positivista euzopeu. Foi essa ctiminologia estadunidense, revigorada pela constru- lo do Welfare System, que conduzin & ruptura do rotulacionismo (labeling approact), que n0 cruzamento com a teosia psicanalitica e 0 marxismo péde produzit, junto com a ebulicio politica dos anos 60 © 70, a ctiminologia ctitica como teoria de longo alcance. Embora 2 no tenha sido um pensama ziu avancos generos0s nai bérm na busca de paradigma: apostavam na dor, na repres O firm do século XX de barbirie aprofundada 3 de: opoliea ctiminal que nio no dogma da pena. Ibotes do XI constituem cenixio festejado fom do sorizlima (talvez estejamos apenas comesando) abriu espaco pata uma hegemonia do capital e do mercado que violéacia no mundo. O dominio tes, nem aqueles impostos pela socialismo, foramse também o estado previdenciétio ¢ as redes coletivas de seguranga. Incéndio na floresta, diria Leonel Brizola. produz cada vez mais subjetividades punitivas. A pena torna-se eixo dliscursivo da diteta e de grande parte de esquerda, pata dar conta da confliividade social que o modelo gera. Loic Wacquant demons- cada vez mais da prisio, de condutas cotidianas 6 ‘a terapéutica ete.) e mais a tra rete penal doin. ificados como Eixo do Mal, teeitérios a secem ocupados a legitimagio produ- zida por duas categorias fantasmiticas: 0 traficante e o terrorista. BL WACQUANT, Lote. Pun ov Pobre « mo guide de misia ns Baader Unset, “Tradupio de Sérgio Lamaria Rio de Janeieo:Instuto Caroes de eximinologa/ Revan, 2003. 2. ZAFFARONILE. Rail Iningy no Dini Pel Rio de Jneco: Reva, 2007. 28, ‘vio fazer parte da “nova econo- ‘empresas que os exploram integram o indice se refexiu Nils século XXI. A que ordem servis? Na periferia do capitalismo, eno Brasil em part vai se agregar a0 genocidio colonize- ‘Para 0s que estio na nossa trincheira, lembremo-nos das indi- cagies. cemwtaice de politica criminal do imprescindivel Alessandro, “1 no sedi a politic de transformasio socal & poliica penal; arte da sua natureza; pela aboligio da pena privativa de liberdade; 4) teavar a batalha cultural e subjetiva contra 2 legitimacio do dlscito desigual asavés das campanhas de lie ordem. ta contra a prisio do: no dia a dia, como estamos vendo, 28 coisas podem sempre pioras: 2 BARATTA, Alessandra “Defesa dos drctos humanos e politics eiina!’ a Discaroe Sadie ~ Crime, Dirt Soe, soo 2, n° 3. Rio de Jancto: Instituto Carioca de edininologi, 1997. 29 Carituto TT GENFALOGIA DA CRIMINOLOGIA “ans aan Sa aa pafat oii i : I, de s atra- és de ie deli rigo que ins- fos 6 i a ante apres i re peindda no # i ea or iaaa p coletive, O ano da sua instituigac 7 én 0 guia ‘ eee : E zado, arti a fico-juridicas, produziu 0 6 tio discutido na criminoh ie. le ex- ; ae ‘ " iio A pes po “profissional” pc aa mate do jutidico com 6 religioso. Ninguém comenta melhor essa gestio do que Louk Huslman ao afirmar que no ha Fonts peed ‘coma escolistice 126 FOUCAULT, Michel. Hite da senate it BCE RLIAGITENT Castine LATOVIERE, Dai Sole a Tepe te Visine ‘Pace Albin Miche, 2007 at do que o ditcito penal A diferenga perversa estasia no fato de no hhaver possiblidade de parsiso no discurso punitive E natural também que esse poder, agora exercido por experts, ecessite de criar 0 seu “outro”, 0 objetiticivel, o corpo humano, para 0 qual convergiré 0 método. As br resentando as ten tativas de controle dos titos de fertilidade, os pattos, enfim, o poder feminino, estar no processo de objetificacio, como estiveram as, dos hereges. As pugnas pela hegemonia ¢ centrali- acho da Igreja Catdlica vio tratar de primeizo desumanizar os he- reges eas bruxas, para depois demonizé-los. E pot isso que Zaffaroni ttabatha a Inquisigio como o primeiro discusto eximinoligico mo- derno: serio estudadas as causas do mal, as formas em que se apre- senta e também o método para combaté-lo. O importante é seguir ‘© éurso dos discutsos para observar as permanéncias dessa manei- 12 de pensar ¢ agir até a ctiminologia dos dias de hoje. Naca mais pparecido com a figura do herege do que o /raficante que quer dispor da alma das nossas criangas, como disse Nilo Batista. Mas o poder punitivo em formasio nio ontolégico. Ble se relaciona intimamente com 0 mulaczo de capital em curso: a crise do sistema de exploracio feu- dal, a expulsio dos camponeses, o crescimento das cidades e mer- cados, novas e crescentes necessidades de renda, de produtos espe ciais, de armamentos ¢ mercadorias para a empresa guerrcra, buro- scracias nascentes, manufaturas, comércio. A ideia de controle dos indesejaveis vai oscilar entre dois modelos, descritos por Foucavle: © do leprosisio, segregativo ¢ excludente; ¢ 0 da peste, disciplinar ¢ inelusivo. Ao longo da histéda, iremos observar as oscilagSes em tomo desses dois modelos, bem como suas sincronias fortuitas. Todo esse movimento material, magistralmente estudado por Braudel,” vai fazer cmergir uma nova classe social, a burguesia, com- BATISTA, No Mette ds sema pena brn Ri dean Testo Cavoea de rminoogsRevan, 200 2 CE BRAUDEL, Femand, Cm atria mini tain ~ si XV. XVII, Sto Tales Mares Fontes 196 ‘EL Mei Bon “Medierom ne Eps te Fele I ie: Fedo Cala Boonies, 1987 32 i E i : | centralizagio do poder. A civilizacto e 0 progr causa e consequéncia de um novo método cientifico ender 0 dominio do homem pelo homem, ¢ também da naturezs. Como disia Marildo Menegat, é ai que se wai esprsiar 0 alho da batbitie, no uso instrumental do saber cientifico, na expansio béli- ca das cruzadas, viagens, descobrimentos.”* 1Nés, na nossa margem, conhecemos essa empreitada, o imen- so genocidio inicindo na colonizagio, aprofundado no escravismo ¢ eternizado pelo capital, Sio us nossas veias abertas, homens ani- mais, mercadotias ou mercadorias animais, Esti ki, em Galeano ¢ ‘em Darcy Ribeiro: a cada ciclo econémico da colonizacio corres- ponde um moinho de gastar gente. O capital precisa de cozpos para extrair mais-valia, que se realiza na exproptiagio da encrgia vital que emana do trabalho do komme. ‘avetan Todorov deseseveu como, na conguists da Amési- 2,0 encontto da civilizacio europeia com 0 “outro” exteti- a repudia gen “ou- tro” intetios, na vitdria sobze of mouros e aa expulsfo dos judeus. O genoeidio da populasio aativa americana ¢ a libe- tagdo total da erueldade obedecem 2 um duplo movimento de desqualificagio do “outro” ¢ da subordinagio de todos cos valores ao desejo de eariquecer, simbolo da modernidade, 9 fetiche do ouro, Na Europa Ocidental, o alvo das campa- has ¢ politicas de exclusio € controle sto os grupos ‘minositirios, ena Amésica 0 processo de exclosfo é gener lizado & populagio nativa, Com a descoberta da América, a Buropa expulsa a heterogencidade e a introduz irremedia- 28 MENEGAT, Matldo, Dios db Fin do Mody, ct 3B met : ' velmente. A pulsio do dominio co sentimento de superiori- dade produzem douttinas de desigualdade” ‘Ou seja,o capital precisa do “Tugar politico do outro” para exer cera sua unidade politics. O prdprio Dehumeau analisa como omedo secala sobre os enouros,judeus, os hereges, as bruxas, os leprosos, 08, loucos, as mulheres em geral. O poder punitivo ia nessas pegadas construindo dispositivos formais ¢ informais de controle social, te- cendo discursos e priticas, diagndsticos e politicas criminais. Anitua aponta como nesse percurso historico veremos cumi- ‘thos distintos, da ciéncia ps ‘Maguiavel a0 con- senso lupino de Hobbes, Mas as utopias estiveram sempre presen- tes em Campanella, Morus, Rabelais, Bacon e Descartes. O mundo das ideias, depois do geande cisma, se dividiu entre os pensadores a Reforma (Lutero, Calvino, Swingli) cos da Contcarreforma, como Inicio de Loyola.” em torno da propriedade. Em surgiri a nogio moderna de lei e de contrato transforma-se na grande metifora -omo solugio € como Hema Solselo porserem fonte de gras de ques tats € problema porque nio podem fugir ou sair do controle, precisa see sujeitados de mil formas visiveis e invisives. (Os Estados absolutiscas que aparecem nessa conjuntura raci- ‘onalizaram o sistema de castigo ¢ adestraram intelectuais e fiancio- nirios para esses misteres: aprimoraram o controle da populacio, as técnicas de goyerno, o utlitarismo social e econémico. No camm- po da criminologis, Anitua situa ai o comeco da ideia de prevsngda, associada a uma averiguacio da motivacio eulpével, que pode sex 2 BATISTA, Vera Malaguti. O Mido ma Cidade de Rio de Jas: ‘sii. Rio d Janeiro: Instieao Casioea de eiminclogia/ Reva, 50CE. ANITUA, GabyielIgncio, Hira dr Pencaentns Criminal 34 conseguida através da tortura, com o objetivo final da confiseao, Anitua cita uma passagem do diério de um dos componentes da familia dos verdugos da France. Em 1688, o verdugo dizia-se feliz € cestivel, na nica profissio certa: a de cortar cabegas. Muitos que hhaviam condenado acabaram perdendo a propria cabest: 0 impor- tante é que 0 mecanismo se sempre funcionanda A propriedade tornou-se o eixo central da teotia e da pris politica na crise do estado absolutista. © pensamento Uberal de Locke, Hobbes, Rousseau e Spinoza vai engendrar o jusnaturalismo moder ‘no, que buscava produzir uma distineio entre morale direto ‘Ao engendrar novas relagdes sociais, novos conflitos € novas necessidades de ordem, a acumulacio de capital vai produzis, entre 0 séculos XIV e XVI, a repressio a vadiagem, as leis de expropti- agio de terras comuns, as primeiras dis de pabres(como a de 1601, na Inglaterra: Anitua trabalha com a assustadora cifia de 72.000 la- dees executados pela forca de Henrique VII). ¥ nesse momento «que Foucault situa a uniao das técnicas contra a lepra com as técai~ ‘medicina social mais adiante: narido. Comega a surgir a figue , que permitick separar 0 pobre ino- ra do “sequestro ccente do pobre culpado. 4 Anieua também que nos apresenta a ideotogia da Raspbuis hholandesa que, em 1612, instituia o wabalho obtigatério “para jo- vvens que tenham escolhido 0 eaminho equivocado, pelo que mar- cham até a forca, e para que possam ser salvos desse patibulo € tenham um oficio e trabalho honesto realizado em temor a Deus”. "Nada mais parecido com a ideologia profissionalizante dos dias de hoje, ou com a afirmacio de um prefeito do Rio, em conjuntura eleitoral, 20 propor “cadeia ou vala” para a juventude em disputa pelo mercado de drogas. SCE ANITUA, 9. cit, p. 66—“as aovas casas de uabalho mamufeturciro reebiam ‘© nome comam de Raitinis— oa ‘casa de raspagem’~ posto que a aGvidade que ‘desenvolviam era a de rspar madeira importada do Bras.” 35 O certo é que até entio o encerramento ou internamento niio constitufa pena. Ea parti do século XVI queiisso comeca a aconte- cet em larga escala. Junto com a sua expansio, as primeiras criticas, como 0 longo relatério Howard.” Este documento vai demonstrar ‘que, historicemente, a prisio foi e sempre ser depésito infecto de pobres ¢ indeseféveis, A conjuntura revolucionatia entee os séculos XVII e XVII pressupunbha exfticas e acdes contea o¢ rigores punitivos do absolu- tismo. Para pensarmos nas rupturas apresentadas no periodo, para ‘compreender o iuminismo e © liberalismo jusidico, é fundamental compreender a nova estratégia epistemoldgica fundada pela Enowlopedi, aquela tempestade do século XVII” A Engelopedie como méquina de guerra estabeleceu uma racionalidade baseada na necessidade da cassificacio como exercicio de poder. Os esquemas de classificacio seriam aces sociais que fluiriam através de feontei- ras: “estabelecer categoria e policié-las &, portanto, assunto sério” Darnton afirma que foi no séeulo XVI que o debate sobre 0 étodo ea disposisio correta na organizagio do conhecimen- to comega a acontecer,impondo uma tendéncia a mapear, de- linear e espacializar segmentos do conhecimento. Diderot e D'Alembest, a partic da érvore do conhecimento de Bicon € iprimonam a versio ominist da enciclopédia ou itico da ondem ¢ concatenasio do conhecimen- DiAlembert desceeveria a encilopédia como uma cespécie de mapa do mundo, Os autores da encielopédia sub- meteram 2 religito & Slosofia, foi um proce como se alguém pudesse chegar a0 conhecimento de Deus SE HOWARD, Joba. The Stee of te Prine, Londres: M, Dent & Sons, 1929 38 DARNTON, Robert. O grande masare de gates, Rio de Janeiro: Graal, 1988, 3 Op.cit, p 281 36 ronnie construinde com sensagdes ideias cada vez mais complexas © ”. Para Darnton, auma mistura de ética com “DrAlembert tomara uma sora lockeana para um Deus cartesiano”, Numa época de embates floséficos entce as in- 23 escolisticas, cartesianas e lockeanas, seu discurso des- Tava de un lingongem pasa out, (Os fil6ésofos, para D'Alembest, analiseriam 4 natucezs, sam seus fenémenos 20s seus principios, recoastruindo- tematicamente, Trabalhava assim as ciéncias cronologicamente passando pela bistia, gramitica, geografia etc, até construie a evore enciclopédica: waa visto ger, rtalizante. O empre- endimento enciclopédico, “a moderna Summa, modelava 0 conbecimento de til manera que o tira do cero e colocava- ‘onas mit de intelecrasis comprometidas com 0 ihuminismo”. Para Darnton, éno séenlo XTX que ess estratégiatrunfa, com 6 surgimento das modernas disciplines escolares ea seculatza- fo da educagfo. Mas, pars o autos, o grande embate deu-se.aa década de 1750, “quando os eaciclopedistasreconheceram que ‘conhecimento era poder e, mapeando o universo do saber, par ficam para sua conquists”* B importante compreender a ideologia da razdo que 0 absolu- tismo ilusteado e racionalistaaplicaria fs leis. A visio da le transfor ‘ma-se em algo racional e equitativo, estabelecendo limites do Bsta- o 20 poder punitivo ilimitado da soberania despética. No bojo das revolugdes iberais da Europa e da América, surge a ideia da legali- dade, da protegio dos direitos, enfim, de uma teora limitadora do poder punitivo, embora justificadora dele, como é até hoje o Hbera- ismo garantista Por tris de tantas racionalizages estava 0 medo das massas revolucionétias, da multidéo, desse novo protagonista. Os princfpi- ‘08 revolucionérios iluministas — liberdade, igualdade ¢ fratemnidade 3S BATISTA, Vera Malaguti: Orden cidade do Riad Jair, ci, p 148, 37 — seriam transportados, além dos seus limites, nas revolucdes perie féxicas e magicas, como a do Haiti, que tanto medo propagou entre (08 senhores brancos das Américas Para Foucault, 03 séculos XVI ¢ XVIII, a partir da estratégia epistemoldgica da Engwicpediee das demandas do capital, vio pro- duzir a tecnologia disciplines: técnicas ¢ dispositivos de poder, centzados no corpo do homem, para enquadré-lo c hierarquizé-lo. No século XVIII, Foucault aponta a emergéacia de uma outra tecnologia de poder dirigida ao homem espécie, a biopolitica. Esse controle, agors demogrifico, dirige-se As populacdes, is multidées que deverio ser vigiadas, treinadas punidas. Nao podemos deixar de imaginas, na nossa margem, que, entre os séeulos XVI e XIX, 0 proceso civilizatério empreenden o grande genocidio colonizador. © capital comesava a classficer povos inteiros, de acordo com a sua incorporagio petiférica. Esse liberalisino “isciplinador” na ‘nossa mazgem convivia com a truculéocia escravocrata co extermi rio das civilizacdes indigenas. Fica a questio: seria o Hberalismo ‘uma atualizacio requintada da Inquisicio em confortivel convivéncia com o absolutismo? A objetificacio do corpo do herege reaparece- ta na incapacidade das racas classficadas na base inferior da ordem mercanti A literatura de Alejo Carpentier empreende essa discus- sho para a periferia do capitalismo em pelo menos trés romances: No reno dese mado, O Séeuo das Lasse Passos peridos: Voltando as marcas do liberalismo no mundo do direito, pen- semos naquilo que Alessandro Baratta denominou de Escola Clis- sica. Seus principais expoentes scriam Bentham, na Inglaterra, Feuerbach, na Alemanha, e Beccaria, na Tullis. O dieito penal seria um iastrumento de defesa da sociedade, sex limite, sua necessidade uiilidade, jf que nese momento no se trabalhava com a ideia de que a pena fosse corretiva. O principio da legalidade vai ser a linha de forca do iluminismo contra os excessos punitivos do. Anaem Re- ___ Foi Marqués de Beccaria que em 1764.— nessa primeira edi- so, sem subscrever sua obra produziu a primeira exposisio glo- bal earticulada entre politica criminal, ditelto penal e processo pe~ nal, em sea livzo Dar diltre das penas. Tendo © contratualismo como base ideolégica, € 0 contrato social ¢ 0 utiltatismo como pressa- postos, Beccaria faz uma defesa da coexisténcia, do Estado sem conflto, presente na mancira de pensar de Hobbes, Locke ¢ Rousseau, com todas as suas nuances. A pena, aqui, se contrapoe a0 sacrificio da liberdade. O juiz deverd subordinar-se i lei eno 20 soberano, A ideia de dano social e de defesa social Gacdlumes até cs dias de hoje) so elementos findamentais dessa teoria “S Foucault quem aponta a critica das Luzes 20 modelo inquisitorial através dos conceitos de oficialidade, impascialidade, presteza e publicidade. O utiltarismo vai propor utilidade e eficién- cia. As codificages deverio ser limitadoras fundamentadoras, © castigo vai set racionalizado ¢ 0 objetivo néo é vingar, nem punir ‘menos, mas punir melhor. Bentham seri o grande intelectual orgi- nico do poder punitivo burgués, militante em varias areas do co- nhecimento, splicando o industrialismo 4 prisio ¢ a0 eastigo. O Panopticam, analisado por Foucault, seria uma espécie de simbolo maximo dessa maneira de pensa. ‘Mais adiante, em 1859, Carrara vai trabalhar com a ideia de que o delito nao é um ente de fato, mas um ente jusidico, caracteri- zado pela “infracio da lei do Fstado, promulgada para proteger a seguranga dos cidadios, resuitante de um ato externo do homem, positivo ou negative, moralmente imputivel e politicamente dano- 50”. Talvez a ideia mais importante, que vitia a set desconstruida pelo positiviemo, fosse aquela em que a definigio do delito seria 0 limite e 0 fundamento para o legistador.* Nessa visio da questio criminal, entio, 0 objeto seria 0 ex me, ¢ nio o criminoso. A questio criminal setia atravessada pela ideia de livre-atbitsio e pelo consenso attificiosamente conduzido pelo contiato social. A delimitacio do crime pela definigio do deli- to seria enfim uma desnaturalizagio ¢ uma politizagio #6 possivel 56 CARRARA, Francesco. Prarannes def Cove di Dirt Crile § 33, 36,53 6 pastin : Sa pela compreensio das necessidades de ordiem da passagem do mercantilisino absolutista para os engenhos urbanos da Revolugio Tadustrial, A atirude critica, de toda manciza, sesia para relegitimar minou de “o grande internamento”. CarituLo TV PosrrtvisMos © positivismo é uma grande permanéncia no pensamento social brasileiro, se na criminologia, na sociologia, na psicologia ou no diteito, Muito mais do que uma escola de pensamento, cons- naguilo que Gizlene Neder denominou de liberalismo radic ‘contrainio das oligarquias associadas 20 poder da Igzcja Catélica.” A csquerda e & direita encontratn-se positivismos. ‘Unna das principals icdes de Anita fo compreendero positivismo ‘como uma ideologia surgida do medo das revolugdes populares, diigidas ‘a deaquulifcacio da ela deigualdade. As cassificacdes hieranquizantes serviam para ordenar os problemas locais (pobres ¢ indesejéveis) ¢ 08 ‘problemas gras (nagées ¢ culturas peciféicas). Pensamento do século "XIX, s6 poderia swugir do grande internamento. Todo 0 movimento aque desezevemos brevernente no capiilo anterior fer com que o siste- sma penal aparecesse como sisterna. E nesse momento histérico que = piisio convertew-se na pena mais importante do mundo ocidental. ‘A revolugio industrial, a todo vapor, demandava a explozagio constituem para 0 controle punitivo da mio de obra, contra as movimentagdes, sedicdes ¢ revoltas populares. A propria ideia de policia surge como policia médica, na perspectiva biopolitica de uma governabilidade das populagdes, que vai engendear o higienismo. A concentracio de pobres na cidade vai ser lida por sua patologizacio, elas pretensdes corretivas e curativas. O controle punitivo vai se estender da prevengio As reabilitagdes. O ideal reabilitador vai se utilizar do trabalho como medida ressocializadors. Os tratamentos vio dar conta dos seres humanos recuperaveis ¢ tratar de neutrali- zat os irrecuperdveis. A humanidade divide-se agora entre 0s nox. ais © 08 anormais, a loucura ¢ o cxime serio alvo de terapéuticas sociais. Se pensarmos que, hoje, a justica tezapéutica constitui-se em “novidade” para a questio das deogas, perceberemos quio pro- fandas sio as permanéncias histérieas do positivismo. Da caligraia, A criminologia, o controle social das populagdes se dard através das estratégias disciplinares. Se 0 racismo foi uma invengio da colonizagio, segundo Foucault,” a partir do século XIX ele vira discurso cientifico. As teorias de Darwin, que em 1830 buscavam o ao perdido em nosso continente, naturalizavam a inferioridade, p svar sua trans- osicio pata as ciéncias sociais como fez Spencer, inspirando 0 onceito de degenerescéncia é fundamen- 10 nossa mesticagem iia ocupar “natural 08 andates infetiores na evolugio humana. Entre 1812. 1819, a frenologia de Gall e Spurtzheim jé nha ‘como objeto de estado 0 “espicito” localizado no cérebro. Em seu aff de observar, medie e compara crinios, eles buseavam localizar as fangdes fisicas no cérebro, bem no paradigma metodolégico ins- taurado pela Engelpedie. Glauber Rocha nos mostrou as cabecas cortadas que Tonga exporia na pirimide do Louvre para retratar as Luzes. Gall pesquison a “anatomia” do centro da razio durante 20 ‘anos, usando muitas cabecas, buscando a comprovagio da superio- Fidade da raga brance caucisica. Anitua expe as 27 fasuldades en- 88 FOUCAULT, Miche, Em Dafa de Sodedade Sto Paulo: Martine Fontes, 1999. contradas por Gall em suas pesquisas: amor fisico, amizade, defesa, asticia etc. As deficiéncias cerebrais povoaram o sul da Europa, 03 animais ¢ 0 resto do mundo. Determinadas éreas das neurociéncias retomam hoje, nesses tempos dificeis, a tarefa fundamental para o capital de naturalizar 0 crime e 0 criminoso. Na frenologia (como em certa medida nas neurociéncias) a delnguénia seia determinada biologicamente. Nesse ponto ela foi precussora para a passagem do objeto da criminologia. Se o delito era 0 centzo das atengies no pensamento liberal, o objeto que se impde agora € 0 delinquente. As ciéncias naturais ajudatiam a de- tectar € cortigie os anormais. Esse grande discurso contra 0 igualitarismo se baseava na demonstracio centifica das desigualda- des. E é dbvio que os incorrigiveis, os de natureza irrecuperivel iriam provocar aumentos na demanda por pena, que se transforma- Ho em penas indeterminadas pelas politcas crisinais de inspiragao positivist Em 1823, surge a sociedade frenologica na Inglaterra, em 1832, ‘na Franea. Spurtzheim vai para os Estados Unidos prestar seus ser~ ‘vigos para a construgio do apartheid estadunidense, abrindo expa- 0 pata novos trabalhos como os de Samuel Morton (Crania Ameri- ‘aa, 1839, © Breves comentérias sobre as diferengas das rayas burmanas, ex 1842)* ou os de Josiah Clark Nol, ue em seu Das lier de Fitéria Natural sobre as ragas negrase cauéricas legitimava a annbiéncia racista que o escravismo ¢ o pés-escravismo necessitavam na Amética do Norte. A ideia do criminoso mato desenvolvida mais tarde por Lombroso se mutre dessa ambiéncia cientifica ¢ politica. ‘A fisiognomia do suigo Johann Kaspar Lavater buscava na anilise dos rostos 2 identificagio da alma. E Gbvio que 0 impressionismo da superficie ¢ da spaséncia vai agugar ¢ solidificar 18 preconceitos. No nosso adminivel mundo novo, essa técnica tem sido explicitamente utilizada na seguranga dos acroportos. Em 1855, foi instalada a primeira citedra de anteopologiafisica de Pacis. Nes- se mesmo periodo, Joseph de Gobineau assessorava o Impér $OCEANTTUA, op. cit, pp 70 8 coed sileio para uma concepcio eugenista da populacio brasileira. EA cuz para o medo branco, “esse discurso do século XIX permitiia ‘gus, na virada para 0 XX, o ex-esceavo bratileito Fosse transforma- 40 de objeto de trabalho em objeto de ciéncia”.* Enfim, esse saber constituin-se a servigo da colonizacto, do csoravismo e da incorporacio petifézica a0 processo de acumula. io do capital Ao contritio do lberalismo das revolugdes burgue- 485, a ciéncia buscava a expansio e « legitimasdo do poder punitive contra 08 petigos do proletariado e do lampen. Desses discursos entificos surgiram as propostas de eliminagio de Laponge e do asianismo de Chamberlain. Os conceitos de degenerescéncia, aravismo e eugenia justificavam os genocidios. Zaffaroni sempre bra que 0 genocidio é com feequéncia precedido de um discurso legitimante da eliminacio. E ai que se funda a ctiminologia como disciplina, como “citn- cia”. Esse saber se findou na observacio e medicio dos encarcers- dos pelo grande internamento. O século dos manieémios era wm. bbém o século das prises e dos aslos. A ctiminologia transforma-se ‘pum diseurso autonomizado do juridico, despolitizado e agora ge- "ido pelo saber/poder médica. Como na Inquisi¢io, “criminoso” sexi objtificado, agora, com o deslocamento do religioso para o cientfico, no combate a0 mal que ameaga. A ctiminologia seguiré sex pereuso acumulando eanalizando méiodon Alessandro Baratta entende a escola postivsta como aquela que produs a explicagio patoldgica da cximinalidade."* Essas teori- 4s patologizantes trabalham as carnctersticas biopsicotégicas dos “criminosos”; a humanidade passa a softer um grande corte entre notmais ¢ anormais. Afinal, as classficagées sio operagSes politi- as, ‘machines ds gue’, instramentos de conquista geopolitica para © proceso de acumulacio do capital. Esse determinismo biolégico 1 BATISTA, Vera Malaguti, O modo as sade dp Ri de Jest: desta de ama Bite, ce, 158. 2CEBARATTA, Alestandeo, Crimielag era e rte de dint pera, cit, pp. 38 nega € se contrpée a um dos pilares do ilnminismo jutidico, 0 conceito de fare-arbitrio. A novidade metodolégica seria 0 eaciter cientifico, a individualizagio dos sinais antropoldgicos a pattic da observacio dos individuos nas instituigSes totais produzidas pelo ¢gtande interamento, O objeto desloca-se do delito para o delinguente, a deinguénca tem causas individuais determinantes, atavessadas pelo conceito de degmaressinia. Esse determinismo pressupde pritic cas para sua modificagio ou corregio; surgem 2s estratégias do correcionalismo. Talvez uma das pincipais permanéncias dessa racionalidade positivista esteja no paradigma ctiolégico, nessa ma- neira de pensar através das causas,estabelecendo uma mecanicidade organicista e sem saida, Contra 0 conceito abstrato de individuo surge um complexo de causas biopsicolégicas Baratta aponta trés vertentes europeias dessa criminologia inaugural Gabsiel Tarde na Escola Sociolégica francesa, von Liszt na Rscola Social alema ¢ Lombroso, Ferri e Garofalo da Escola na Itlis, O liveo fandacional dessa coztente seria O boner delinguente escrito por Lombroso em 1876. Através de mensuragies ficagoes realizadas com a populacio encarcerada nas relax ‘© médico italiano inaugura a tautologia do laborat6rio prisional: a ‘causalidade do comportamento criminal € atribufda & propria des- crigio das caracteristicas fisieas dos pobres c indesejéveis conduci- No positivismo, 0 delto é um ente natural (paradigma atualt zado pelas neurociéncias ¢ suas publicagoes apologéticas). O ‘determinismo bicl6gico se contrapde 3 ideia liberal de responsabili- dade moral. O importante é “estudar” 0 autor do delito e classifci-lo, jiiqueo delito aparece aqui como sintoma da sua personslidade pato~ Téa, causada pelos mesmos fitores que produzem a degenerescéncia Se 0 liberalismo revolucionésio tratava de limitar o poder punitive absolutist, aqui a pena encontrasé um caudal de sazdes para expan- ir-se; as esteatégias conecionalstas se revestirio de caracteristicas ccarativas, reeducativas, ressocializadoras, as famigeradas ideologias “re”. naturegs criminal fad com que eas tambérn se expandam tem- 45 poralmente, voltem a ter indeterminadas. Afinal, 0 fenémeno ctimi- nal seria um dado ontol6gico pré-constitido. Apesar das rupnuras apresentadas com selagio 20 pensamento liberal que o antecedeu, 0 Positivismo também aposta na nogio da pena como defesa social, fu vis tone da socilads abate eas roni nos fala fo da critninologia positivist “om fandanenton of diurosuralment deton eens Jum estereétipo que se estendeu pelo mundo central 2 partir de uma Petspectiva puramente etiol6gica, que teve um grande sentido racista e {qv fol incorporando matizes puso, sem nunca questionaraleg- ‘imidade mais ou menos natual da sclatvidade do siserna penal”. 80 traneplan 20 dria Roberto Bergall. Ele analisa histrica ¢ polticamente 2 conjuntura dessa recepcio ‘nos remete a uma pergunta bisica: por que interiotizamos tio peo~ fandamente uma ideologia tio destruidora de nossos povos, denossa cultura? Como nos deisamos aprisionar tio intensamente por um guadro teérico que nos conduziu a nos coastituirmos em tersitéxio degredo, campos de rio sem limite? O p. Latina em gigentsce inst concentracio de povos “degenetados” e indessjves:aficanos, inion judeus, moweos ¢ ctiminosos natos da Europa. Maximo Sozzo analisa o nascimento da criminologia na Amé- rica Latina como uma colossal tradugio do positivismo, uma im- portasio cultural que configuraria racionalidades, programas © tecnologias governamentais sobre a questio criminal ‘8 ZAFEARONI, Eugenio Ral Crinieicgranae dda ma Bagot Temis, 1988, p. 169. ae SEBERGALLL,Robano wa E/ Paine Cyl Cini d pois insiavligice. Bogotd: Temis, 1983. ate SSZAFFARON Digi Tail EB PPR doc Ro, 9 4 C# $0720, Mosina "Tatar sane Tadeo ingens aioe tc peated cna en Ares Lame at Coa Das rips Prd a VI. 13 Bocce res A Hoe Vie Wee 206 46 Rosa Del Olmo tabalhou como ninguém a ideia de controle social d entes 2 disciplina do sistema” na criminologia lati- rno-americana. O positivismo aparece na estesa da difusio ideols- gica dos paises hegemSnicos. Ela rslaciona o positvismo italiano ¢ 0s primeiros esforeos latino-americanos surgidos sinvultaneamente ‘na Argentina, no Brasil e no México.” ‘Lola Aniyar de Castro denuncia a metodologia positvista como fundamental conteibuicio is presungSes de “neutralidade cientii- ca” na criminologia, pretendendo descobrie “eis gerais, que defini- riam a realidade do mundo fisico parcelamento da realidade, jf que o seu objeto de estudo é apenas a sealidade oficial © importante & compreender como essa grande tadusio, denunciada por Sozz0, produziu wma matriz discursiva comum, uma ‘dentidade, que gerou no s6 um determinado olhar sobre a ques- ‘do criminal, mas também uma determinada policia e um determi- nado projeto penitencisrio.” Ou scja, 0 positivismo configurox, modelou 0 poder punitivo e suas racionalidades, progeamas ¢ tecnologias governamentais na América Latina. ‘Nina Rodrigues funda no e6 a cximinologia, como a medic- raclegal e a antzopologia no Brasil numn processo profundamente analisado por Mariza Correa.” Rail Zaffaroni sempre se pergunta como a tradugio de Lombroso pode florescer tio intensamente na Bahia africana de Nina Rodrigues. Nina Rodrigues escreveu um astigo iatitulado “Os negcos ‘maometanos no Brasil”, n0 Jornal do Commer do Rio de Janci- 10 de 2 de movembro de 1900, em que se refere & rebelifo es- © OLMO, Rosa Del A Amiri Latina ¢ sna oiminslgia Rio de Janeizo: Revan/ ee eee eee tga: ee a eee ee CORREA, Masiza. Ar Hues de Liberdude. Braganga Paulista: Edusf, 1998. 4 ‘cava na Bahia de 1835. O seu surpreendente trabalho revela a rofunds ambiguidade da sua produgio intelectual: foi ele quem fundou, 20 lado da Medicina Legal e da Antiopologia brasilei- 11, escola positivist, com suas tradugbese ineorporages do omnbrosiznismo e do social-darwinismo. No entanto, tinha uma ‘espicie de cuiosidade apaixonada pela vida africana no Brasil. Sus trajetdsia reflete um pouco essa grande contradicio brasi- Iisa com celagio a sua aftcanidade: perceber intensamente 4 © sua forea, tratando sempre de domiad-la. No, seu caso, trbalhando a teozia da hierazquizacio das ragas, ‘oprestv se justificatiam entZo pelo discurso cieatifieo ‘Mas o positivismo no foi apenas uma mancira de pensat, profundamente entaizada na ineligentria e nas priticas sociais e po- liicasbrasileras ele foi principalmente uma maneisa de sntiro povo, sempre inferiorizado, patologizado, discriminado e, por fim, cciminalizado. Funcionou, funcio da violencia e da desigualdade caraci oragio da nossa margem ao capit Todo brasileizo fem delet Os sorties, de Buclides da Cunha (¢ se oder, assistic aos Serféts de Zé Celso Martinez Corréa). Euclides ‘comega sua viagem pelo Brasil profundo trabalhando com os ins- ‘rumentos racistas do positivismo. Seu encontro com a chacina fandacional da Repiiblica nao deixa peda sobre pedi das etiologias, determinants: Canudos ai icas do processo de incor- central readeu, Exemplo tinico em toda a Histocia, completo. Expugnado palmo a do termo, cai no dia 5, 20 seus iimos defensozes, que todos morreram. Exam quatro apenas; wm velho, dois homens BATISTA, Vera Malaguti O me a cidade do Ri de Jamir: dis tepas de ume ita, ci, pp. 225-226, palmo, na precisio feitos e uma crianga, na fzente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.* Sobre a descoberta do cadiver de Anténio Conselheito: “Trouxeram depois para o literal, onde deliravam multidées em festa, aque czinio, Que a ciéncia dissesse altima palavra. Ali estavam, no releva de cizcunvolugées expressivas as linhas es- senciais do exime e da loucura..° ‘Concluamos este capitulo, essa “pagina infeliz da nossa histé- iv”, com Zé Celso Martinez Corrés: Olivo Or erie foo primeizaataque ao escandalo de dois Brass desgus, com a epressio do propio Estado Dati, masse ceindo, degolando sea proprio povo. Eucldes foi inspiado por todas as linguas de fogo do Eapiit Santo, Bscito em todas as aguas, nguagens,céncas,poesias, comesou a intespretac ata ‘és do crime praticado pela atconsldade,o préprio Basi, par. ‘a6 mesmos brusleiros e pars todo mundo 5 CUNHA, Budides da. Os See. Sto Palo: Colt, 1973, p 392. 3, so Marines. In: Ot Sense irigandegoyando Conuio, progsana do espeticeo da AseodiagSo Testo Ofcina, Uzyna Uzona, patrocinado Fela Petrobras c encenado em Canudos, na Bahis, de 28 de novembeo a 2 de ‘Sczembro de 2007. CarituLo V A CRIMINOLOGIA E OS SABERES PST ‘A psicologia e a psiquiatria positivistas foram disciplinas fun- damentais para 0 controle social ao longo do século XIX Como vimos anteriormente, a prépsia criminologia surge, historicamente, «a patie da psiquiatsia criminal, com seus antecedentes histéticos de cestudos do eézebro. O importante é compreender a “individualizacio dos sintomas” como momento do determinismo biolégico que itia fornecet argumentos para esse discurso legitimador de desigualda- de e neutralizador dos movimentos liberatérios € revolucionésios que assombraram 0 mundo das elites europeias. O positivismo criminolégico que se instanra na segunda metade do século XIX é da Viena findesiee, que insinuava tanta riqueza intelectual ¢ estéti- ca. ponto de eclipsar 0 ovo da serpente que se gestava silenciosa- mente na Europa. A obra de Freud, judeu na Austria do ascen dente nazismo, desenvolveu-se no momento hegeménico do positivismo, o que nos conforta ao pensar que nem sempre o pen samento hegemédnico é 0 que sobreviverd ao tempo: o positivismo ‘csiminol6gico é hoje um argumento tisivel (embora reciclado pelas 55 Um pouco dessa hintra e seus efeitos ma periferia etio em meu estado O mete 1g bade d Ri de Joni, cit, pp. 146 86 5S Pasa conhecer melhor essa ambinca ver SCHORSKE, Cael E. Viena fir-de= sitcle: polite ears Sko Paslee Compaahia das Letes/Ed. Unicamp, 1988; ¢ 0 flme de Ingmar Besgman, O ev de spent (1970) Bt neurociéncias) ¢ a psicanilise ¢ suas criticas vivem intensamente ‘como importante legado intelectual do Ocidente” A passagem no método freudiano da nanureza para a coleara permitiu uma ruptara com 0 paradigma etiol6gico, abrindo cami- hos para a substituicio do método causal-explicativo para uma interpretacio subjetiva da questio criminal. Para Alessandto Baratta, 4 obra de Freud foi um elemento decisivo na inversio da perspecti- ‘ya ctiminolégica. Essa inversio foi fundamental para a constituicio do pensamento cxtico, se pensarmos que 0 foco saiu do fendmeno ¢ ditigin-se para a reacio social 20 desvio.** lguns textos de Freud sio fundamentais para 2 nico e nessa perspectiva da reacio social 20 desvio que seria incorporada pela Escola Critica que analisaremos mais adiante. Fatre 1912 ¢ 1913, Freud esereve Totem ¢ Tabu, ensaio antropol6gico “da- tado”, mas que fornece outra metodologia para a interpretacio do interdito nas sociedades que ele chama de “primitivas”. Em 1916, ele escreve 0 Delite por sentimento de culpa, no qual a culpa é anterior 20 delito, que dela procederia, Entre 1920 e 1921, aparece Pricolgia das macsaseandlise do egy, que se contzaporé a0s positivismos como 0 de Gustav Le Bon, que trabalhava com a ideia de Mui simine- sa? Entre 1925 e 1926, o texto Inbisto,sintonta e angitia vai teatar dos fendmenos da repressio, do medo e da exigéncia punitiva. A Anclise big (on profena), de 1926, enseja win debate jutidico, prova- velmente com Hans Kelsen, sobre a anilise realizado por um saber io médico, Entre 1929 ¢ 1930, na dolorosa conjuntura do enteeguetras, Freud ird publicar um texto seminal: O malastar na

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