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Porto Editora COMO AUMENTAR A AUTOESTIMA DAS CRIANCAS Guia pratico para educadores, psicdlogos e pais met a wa. Pw NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS COMO AUMENTAR A AUTOESTIMA DAS CRIANCAS Guia pratico para educadores, psicdlogos e pais Deborah M. Plummer COLECAO NECESSIDADES Ge Porto EDUCATIVAS ESPECIAIS Editora | Contetidos Agadecimentos ietrodugao Parte 1 - Enquadramento Teérico 1 Imagética, trabalho com imagens e processo de mudanca 6 2 Compreender a autoestima 3 Trabalhar com os programas escolares 4 Acrianga com problemas de fala e de linguagem 5 Linhas de orientagao para os faciltadores Parte 2 - Instrugdes para Atividades de Autoestima 4 Comegar (ESTRELAS ¢ ESMERALDAS) 2 Quem sou eu? (RUBIS) 3. Amigos e sentimentos (PRATA) 4. Sentirme bem como sou (OURO) 5 Tomar conta de mim mesmo {PEROLAS) 6 Mais do que uma simples conversa (SAFIRAS) 7. Resolver problemas (ARCOS-IRIS) 8 Estabelecer obetivos (RAIOS DE LUAR) Parte 3 - Fichas de Trabalho ESTRELAS © ESMERALDAS (Comegar) RUBIS (Quem sou eu?) RATA (Amigos e sentimentos) (OURO (Sentir-me bem como sou) PEROLAS (Tomar conta de mim mesmo) SSAFIRAS (Mais do que uma simples conversa) ARCOS-IRIS (Resolver problemas) AIOS DE LUAR (Estabelecer objetivos) 9 16 19 Pry 4 30 36 a a 5 54 87 61 1 86 109 121 136 154 166 Parte 4 ~Trabalhar com os Pais Introdugao Sessao 1 Comecar ‘Sess 2 Alicerce: autoconhecimento ‘Sesso 3 Alicerces: 0 proprio € 0s outros ea autoconsciéncia Sessio 4 Alcerce: autoaceitacao Sessio 5 Alicerce: autossuficiéncia Sessao 6 Alicerces: autoexpresséo e autoconflanga ‘Sessio 7 Fazer de conta, brincar e contar histérias ‘Sesso 8 Revisdo do curso e objetivos para o futuro AnexoA 0 iceberg da baixa autoestima ‘AnexoB Guido para relaxamento ‘Anexo C —Instrugdes para o exercicio de respirago de relaxamento 179 183 190 196 203 208 212 216 219 221 222 223 41 | Agradecimentos Algumas das ideias aqui apresentadas poderio ser -the familiares, uma vez que se baseiam em estratégias bem conhecidas para a promogao da autoestima. No entanto,a maioria surgiu durante sessdes de terapia ou durante perfodos de preparacio e de conclusio com alguns dos muitos grupos de criangas e em workshops de pais que orientei enquanto terapeuta da fala. ‘A minha principal fonce de inspiragao foi o traba- Iho com imagens, pelo qual devo agradecer a Dina Glouberman, Os seus cursos criativos e inigualaveis, o seu apoio constante e o apoio dos meus colegas que também trabalham com imagens foram absoluta- mente magicos! (© meu profundo agradecimento vai para todas as ctiangas que tealizaram estes exercicios de forma to - entusiasmada, para todos os pais que me ensinaram = tanto (em especial sobre a realidade de tentar encaixar “trabalhos de casa” na preenchida agenda de uma = familia) e para a minha sobrinha Alice Harper, que pacientemente redesenhou todas as ilustragdes para esta edigao apenas alguns dias antes de ir trabalhar para um orfanato no Nepal. Finalmente, os meus agradecimentos 4 equipa da Jessica Kingsley Publishers, em especial aos editores Stephen Jones e Lyndsey Dodd. Introdugao Esta € a segunda edigao de um livro que continuaa ser essencialmente um recutso pritico para ajudar as criancas a explorar a sua capacidade imaginativa e a sumentar a sta autoestima, A seco tedrica, embora renha sido atualizada e alargada, permanece, ainda assim, relativamente breve, constituindo-se como um enquadramento para as atividades e uma base de tra- balho para os profissionais que queiram investigar qualquer um destes aspetos com maior profundidade. As Partes 2 ¢ 3 do livro sto dedicadas & aplicagio de ideias, Na esséncia, a estructura destas secgdes perma- nece inalterdvel, mas existem acréscimos substanciais 4 Parte 2 (Instrugdes para Atividades de Autoestima) e outras alterages nas fichas de trabalho. Estas ativida- des so centradas na crianga e assentam numa combi- nagdo de abordagens terapéuticas, em particular no abalho com imagens (ver Capitulo 1) e na teoria dos constructos pessoais (por exemplo, Kelly, 1991). O material fotocopiavel é adequado para criangas dos 7 aos 11 anos e poderd ser utilizado como um curso ou como um recurso pontual a adaptar, caso tal seja necessério. Isto permite uma certa flexibilidade na forma de utilizar o material, permitindo aos terapeu- «as, professores, assistentes sociais, profissionais dos servigos educativos, enfermeitos, psicélogos e outros profissionais utilizar as forocépias e as sugesties de atividades com individuos e grupos numa variedade de situagdes. No meu trabalho, usei as ideias aqui apre- sentadas com criangas que gaguejam, criangas que tém transtormos ligeiros da fala e criangas que nao revelam nem transtornos da linguagem nem da fala, mas que no atingem os resultados esperados na escola ou que apresentam poucas competéncias sociais Também usei muitas das ideias num formato adaptado para criangas ligeiramente mais velhas. Em vez de utilizar 0 conceito de recolher tesouros a medida _ que completavam as fichas de trabalho, as criancas so encorajadas a ver estas atividades como passos para descobrirem e desenvolvetem as suas “competéncias de vida”, Da mesma forma, em vez. de utilizar a magia € os magicos, falamos sobre o poder das suas préprias mentes e a sensacdo de controlo e de autodirecao que podem atingir ao compreender a forma como pensam e como isso afera os seus sentimentos ¢ aces. O prin- cipio permanece 0 mesmo em todas as idades: a utili- zac3o ativa da imaginacao promove uma compreensio mais plena de nds proprios e encoraja uma autoavali ‘sdo realista, capacidade de resolugao criativa de pro- blemas ea fixacdo de objetivos realistas. Desde a primeira edigao deste livro em 2001, tive a felicidade de ser convidada para organizar workshops para uma ampla variedade de alunos e profissionais. Grupos tio diversos como assistentes sociais, profis- sionais no ambito da terapia familiar, terapeutas da fala eda linguagem e agentes da policia que trabalham com testemunhas vulneréveis acabaram por confir- mar quo central o tema da autoestima parece ser para aqueles que trabalham com criangas. Esses workshops também conduziram a incluso de uma seccéo “trabalhar com os pais” nesta edi¢io (Parte 4), A influéncia de adultos importantes para a crianga 6, obviamente, um fator essencial na constru- cdo e manutengdo de uma autoestima saudavel nos ‘mais novos. Nao nascemos com autoestima; é algo que se desenvolve ao longo do tempo, com raizes na pri- meira infancia e uma forte ligago as nossas primeiras expetiéncias. Por isso, a Parte 4 deste livro apresenta aos pais formas de apoiar a autoestima emergente ou de ajudar as criangas a construir autoestima nos casos em que jé existam dificuldades identificadas. Referéncias bibliogréficas *Kelly, G, A. (1991), The Prychology of Personal Constructs, Vol. 1:A Theory of Personality, Londres: Routledge, em par- ceria com Centre for Personal Construct Psychology. Leituras adicionais *Dalton, P. e Dunnett, G. (1992), A Psychology for Living: Personal Construct Theory for Professionals and Clients. Chichester: Wiley. + Fransella, Fe Dalton, P.(eds.) (1978), Personal Construct Counseling in Action. Londres: Sage. * Glouberman, D. (2003), Life Choices, Life Changes: Develop Your Personal Vision with Imagework (edicao revista. Londres: Hodder and Stoughton. Imagética, trabalho com imagens e processo de mudanca Este capitulo oferece uma breve explicacdo sobre o trabalho com imagens e explora az ideia de ajudar as criangas a utilizar a sua capacidade imaginativa natural para fazerem = escolhas positivas no futuro. 10 que sao as imagens? ‘As imagens, independentemente da sua tipolo- gia, sio uma parte natural das nossas vidas ¢ sio 0 primeiro meio de que dispomos para compreender 0 mundo. Formam a base do nosso conhecimento sobre nés préprios, sobre os outros e sobre © nosso ambiente, muito antes de sermos capazes de comu- nicar através de palavras. Muitas das nossas imagens orientadoras surgem na primeira infncia, numa altura em que a imagética é (© modo de pensamento dominante, e guiam no apenas 0s nossos pensamentos como também 0 funcionamento do nosso corpo e toda a nossa forma de ser. (Glouberman, 2003, p. 44) ‘Ao longo da nossa vida, construimos um banco de imagens que reflete as interpretacdes tinicas e pessoais das nossas experiéncias e interagdes. Enquanco mui- tas destas imagens podem ser facilmente evocadas, existem muitas outras que transitam para 0 nosso inconsciente, guardadas em “coftes” ¢, no entanto, ainda assim, so capazes de influenciar as nossas vidas quotidianas. Por vezes, influenciam-nos de forma tio intensa que podemos sentir que nao temos poder de escolha sobre os nossos sentimentos, atitudes ou ages. De facto, Carl Jung chegou ao extremo de des- crever o inconsciente como “uma entidade psiquica viva que parece ser relativamente auténoma e que se comporta como se fosse uma personalidade com intengdes proprias” (Jung, 1990, p. 17). No entanto, Jung também retratou 0 incons- ciente como sendo muito mais do que um mero repositdrio do passado: Do inconsciente podem emergir pensamentas total mente novos ou idelas crativas — pensamentos que ‘nunca antes foram conscientes. Crescem das profun- dezas escuras da mente como uma flor de lotus € formam uma parte muito importante da psique subli- mminar. (ung, 1978, p. 17) A exploragao da imagética pessoal € a base de muitas formas de térapia e aconselhamento, uma vez que o facto de termos mais consciéncia de como as nossas imagens afetam 0 nosso pensamento ¢ comportamento poder ajudar-nos a tomar decisdes mais informadas na vida. A riqueza e a criatividade da mente inconsciente também significam que é possivel criarmos novas imagens. Estas podem subs- tituir ou cornar-se mais importantes do que aquelas formadas através de experiéncias passadas, que jé nio tém utilidade para 0 nosso autodesenvolvi- mento. Este tiltimo aspeto constitui a base do traba- Tho com imagens neste livro. [0 que é 0 trabalho com imagens? Otermo “trabalho com imagens” foi criado por Dina Glouberman para descrever uma forma especi- fica de trabalhar com a imagética, mas a ideia de interagir com imagens pessoais nao é, obviamente, nova. O proceso conta ja com varios séculos e teve um papel importante nas tradigdes de cura de mui- tas culturas primordiais. No século XIX, Jung desenvolveu a ideia de “ima- «ginaglo ativa” e encorajou os seus pacientes a usarem este conceito como uma ferramenta de autoajuda. A imaginagao ativa assenta na premissa de que o {LN Do ere em ings, "magevor. Snconsciente tem a sua propria sabedoria; assim, embora a pessoa participe de forma ativa no proceso, permite que a sua imaginagéo flua livremente, para epois trabalhar com as imagens que surgirem. A ima- Snacio funciona, portanto, como um “ponto de excontro” entre 0 consciente e o inconsciente, um “errit6rio neutro onde ambos se encontram em igual- ade e, em conjunto, criam uma experiéncia de vida gue combina elementos de ambos” (Johnson, 1989, 140). Johnson sugere que, ao falarmos com as ima- gens e a0 inceragirmos com elas desta forma na nossa smaginacio, descobriremos inevitavelmente que “nos sem coisas que nunca saberiamos conscientemente © expressam pensamentos que nunca formulariamos conscientemente” (Johnson, 1989, p. 138). James Hillman recorda-nos que as imagens nao ecisam de interpretacio (ver, a titulo de exemplo, “Imaginal Practice” em Moore, 1990). Sugere que nao ecisamos de interpretar as imagens que surgem, mas que a imagem por si s6 é mais importante, mais clusiva e mais complexa do que aquilo que possa- mos ter a dizer sobre ela. Precisamos da imagem, nao 2 explicagio, para nos ajudar no nosso percurso. Por outras palavras, as imagens requerem res- peito e no andlise! £ importante que nos lembre- mos disto quando estamos a ajudar criangas a stilizar a sua imaginacio. Podemos encorajé-las a Salar sobre as suas imagens e a falar com as suas ima- gens, mas devemos resistir a qualquer tentacao de oferecer as nossas préprias interpretagdes sobre aquilo que as imagens possam significar. De uma rma geral, as imagens sio muito pessoais para individuo. Deverdo ser vistas em fungdo de onde, suando e como foram criadas e de acordo com a perspetiva em que cada crianga vé o mundo. Esta unicidade das imagens significa que quer as imagens armazenadas, quer as imagens recém-criadas, surgem de diferentes formas. Algumas pessoas con- seguem ver as coisas de forma clara na sua imagina- fo; outras podem ter uma “sensagao” da imagem, em vez de uma reprodugao exata. Algumas pessoas 8m, na maior parte dos casos, imagens auditivas, outras tém, na maior parte dos casos, imagens cines- sicas (sensagdes). Nao existe uma forma correta ou ecrada de perceber uma imagem e mesmo que duas pessoas tenham a mesma imagem, podem sentila de = forma diferente. eee iy ] Sd [0 trabalho com imagens e a autoestima As criangas com uma baixa autoestima parecem ter padrdes muito fortes de imagens negativas. Como ja sugeri anteriormente (Plummer, 2007), estes padrdes de imagens contribuem para (ou tal- vez formulem) a “historia” que as criangas contam a si préprias sobre quem sao. Por exemplo, a imagem que uma crianga poderé ter de falhar numa determinada situagio esta interli- gada com uma série de outras imagens, até que a crianga acaba por se ver como “alguém que falha”. Nesse momento, parte da sua histéria poderd ser: “Nao presto; nao consigo fazer nada to bem como o resto da turma, Ninguém quer ser meu amigo. Toda a gente pensa que sou estipido..” Estas imagens de uma pessoa “que no presta”, initil, de quem ninguém gosta, irdo influenciar a maneira como esta crianga sente, aprende ¢ se relaciona com os outros, ndo ape- nas no momento em que conta a histéria a si prépria, mas também no futuro, porque, se contar a histéria muitas vezes, as imagens irdo ficar impressas no seu inconsciente. Desta forma, mesmo que tenha nogdes de si propria que nao correspondam & realidade, essas sao verdadeiras para a crianga, porque ela acredita que sio verdadeiras num nivel muito profundo. Infelizmente, muitas criangas ouvem e apreen- dem estas historias pela primeira vez através de adultos importantes nas suas vidas; isto constréi e reforga estes padrdes de imagens negativas desde a sua primeira infincia e afeta profundamente o sen- tido emergente do eu logo no inicio da sua vida. [ Reconstrugao imaginativa £ possivel ajudar uma crianga a alterar este padrio de imagens negativas? Felizmente, sim, embora seja necesséria alguma criatividade da nossa parte e aceitar © ponto de partida da crianca. Sera indubitavelmente dificil se a sua experiéncia de vida tiver sido sistematicamente prejudicial. Também temos de ter consciéncia de que poder haver um desfasamento até que o modo como a crianga inte- rage com os outros “apanhe” a nova versio da sua historia interna, (Embora, em algumas situagdes, 0 contrario também possa ser verdade - a crianga pode desenvolver determinados mecanismos de forma a encobrir 0 seu verdadeiro sentimento de baixa 1 eee 81 autoestima; nesse caso, so os sentimentos que tém de se aproximar do comportamento.) Isto significa que nem sempre podemos confiar apenas no comportamento que observamos para obter uma indicacdo dos niveis de autoestima (ver pp. 184-185 e 0 Anexo A). Por outro lado, os adultos devem estar conscientes do seu papel vital em ajudar as criangas nao apenas a desenvolver a autoestima, ‘mas também a manter uma autoestima saudavel face aos desafios e vicissitudes da vida Existem muitas abordagens para ajudar as crian- asa trabalhar com as suas imagens de forma cons- teutiva, Inicialmente, comecei por utilizar imagens no ambito de viagens guiadas ou de histérias, enco- rajando as criangas a interagir com as personagens e com os objetos que encontravam e a criar as suas préprias imagens para representar problemas, dile- mas e questées (Plummer, 1999). Rapidamente, tor- now-se evidente que muitas das criangas com quem trabalhei desta forma também beneficiavam com a utilizagdo de exerefcios com imagens mais reduzidas e atividades de expanso, de modo a facilitar a tran- sigio das imagens internalizadas para a aplicagao pratica de competéncias na vida quotidiana (a base das atividades neste livro).. Claro que também podemos ajudar as criangas a mudar o seu comportamento exterior (terapia com- portamental) ou podemos ajudé-las a mudar a his- t6ria que elas contamasi préprias (terapia cognitiva). Mas, independentemente da abordagem utilizada, as alterages numa dimensio terao repercussoes nas outras dimensées - nao é possivel mudar apenas um aspeto sem influenciar os outros, j4 que todos estao intrinsecamente ligados. Por isso, e a titulo de exem- plo, quando uma crianga altera a hist6ria que esta contar a si propria, altera de forma gradual as ima- gens inconscientes que influenciam 0 seu comporta- mento e comegara a agir de forma congruente com 6 seus novos pensamentos e crencas. ‘Ao dotar as criangas de mecanismos capazes de acolher 0 uso criativo da sua imaginacao, podemos ajudé-las a construir um sentido unificado dos seus mundos interiores ¢ exteriores; ajudé-las a ver os acon- tecimentos, os problemas e os desafios de um ponto de vista diferente e permitir-lhes encontrar a forma mais adequada de avangar de acordo com as suas necessidades individuais. A capacidade resultante de fazer escolhas de vida mais informadas ira, certamente, produzit um sentimento de controlo e iré contribuir para niveis saudaveis de autoestima, para uma apren: dizagem mais eficaz e relages mais frutiferas. Se decidir seguir este caminho com uma crianca ou com um grupo de criancas, tenho a certeza de que descobriré que as estratégias assumem um papel secundério e rapidamente estar a encorajar as crian- casa “construir imagens” a partir de problemas, deci- s0es, dilemas e sentiments. Também poderd oferecer imagens se tal Ihe parecer adequado - “Quando esta- vas mesmo zangado com o Paulo, ainda hé pouco, vi esta imagem de um tigre magoado. Foi assim que te sentiste?” ou “Este problema parece-me um rochedo ~ parece que simplesmente nao o conseguimos mudar de sitio, O que podemos fazer com este rochedo?” As criangas que esto habituadas a esta forma de explo- rar as imagens esto muicas vezes mais do que dispo- niveis para nos corrigir e sugerir as suas prOprias imagens, se julgarem que ainda ndo capturamos totalmente a esséncia daquilo de que esto a falar: “Nao, é antes um grande pintano..!” Falar de ima- gens desta forma pode permitir a crianca ver solugdes ou pode ser suficiente para produzir uma mudanga de perspetiva, quando antes tal parecia impossivel Referéncias bibliograficas + Glouberman, D. (2003), Life Choices, Life Changes: Develop Your Personal Vision with Imagework (edigio revista) Londres: Hodder and Scoughton, Johnson, R. (1989), Inner Work: Using Dreams and Active Imagination for Personal Growth. Nova lorque: HarperSanFrancisco. sJung, C. G. (ed.) (1978), Man and His Symbols. Londres: Pan Books. Jung, C. G. (1990), Preficio em E, Neumann, Depth Poychology and a New Ethic. Boston and Shaftesbury: ‘Shambhala. (EdigZo original publicada em 1949). + Moore, T. (1990), The Essential James Hillman: A Blue Fie. Londres: Routledge. + Plummer, D. (1999), Using Imagework. with Children Walking onthe Magie Mountain, Londres: Jessica Kingsley Publishers. +Plummer, D. (2007), SelfEsteem Games for Children Londres: Jessica Kingsley Publishers. Leituras adicionais sBettelheim, B. (1978), The Uses of Enchantment Harmondsworth: Penguin. + Tyrell, J. (2001), The Power of Fantasy in Early Learning Londres e Nova lorque: Routledge. Ce CUS PRUE) Este capitulo apresenta alguns dos conhecimentos atuais sobre as origens da auto- estima, o conceito de modelos multidimensionais de autoestima e as varias implicagoes das descobertas feitas por investigagdes recentes. Como acontece com qualquer outra estratégia de intervengao, as atividades neste livro serao mais eficazes se os facilitadores conhecerem estas teorlas. Isto permite ajustes criativos nos materiais, de acordo com as necessidades dos individuos e dos grupos, embora se continue a trabalhar num enquadramento reconhecido. Apoiar as criangas na construcdo da autoestima torna-se, entdo, uma ‘atitude e uma abordagem" (Gurney, 4988, p. 126); é uma forma de ser e de estar, em vez de ser um procedimento para obter um produto final ou algo que fazemos as criancas para “as fazer sentir melhor © que € a autoestima? Como a medimos? Como E que se desenvolve? © que acontece quando a auto- estima € baixa? Estas quest6es tém vindo a ser abor- !as em indimeros artigos cientfficos, manuais ambiente envolvente: “nao ha castigo maior do =22 0 desprezo por si préprio” (Bandura, 1971, p.28). Consequéncias para a avaliagao e a intervengao Todos estes fatores deverdo ser tidos em conta qeando estamos a estruturar intervengdes adequa- e quando consideramos a avaliagio dos niveis de atoestima. Temos de estar conscientes de quais as sceas da autoestima que estamos a apoiar ea forma 1 estas poderio afetar as outras areas; temos de excar conscientes de possiveis diferencas entre géne- cose culeuras e devemos estar atentos As nossas pré- peias interagdes com as criangas e em prestar apoio aos pais neste processo. ‘0 que respeita as avaliagbes, a énfase atual na dos resultados e na pritica baseada em pro- sss que tanto aplicamos no nosso trabalho, poder ‘nos a utilizar questiondtios e listas de verifica- Zo que também tém as’suas limitagdes. Talvez a sscureza complexa da autoestima desafie a quantifi- casio. Talvez, na propria acio de avaliar a autoestima, scramos 0 risco de ser avaliadores e de destacar areas se preocupam as criangas. Nao estou a sugerir que utilizemos estes instrumentos tal como estéo Ssponiveis, mas devemos usé-los com integridade. Wer “Leituras adicionais” no final deste capitulo.) Os alicerces de uma autoestima saudavel As minhas observagdes e a experiéncia clinica Sdicam que existem sete elementos que formam os cerces para o bem-estar social e emocional e que Juzem & autoestima saudavel. A medida que crianga cresce e se desenvolve, alguns destes ele- =Sentos podem tornar-se mais centrais nos seus sen- encos de autoestima e de competéncia do que ezros, mas todos eles so necessérios até uma certa sSedida. A interagdo 6 recfproca — niveis saudaveis de zezocstima iro conduzir a consolidagio e cresci- = mento destes sete elementos - e 0 processo é conti- = suo e perpetua-se por si s6. Os elementos sio os tes: ‘Avtoconhecimento Trata-se de descobrir quem sou “eu” e qual € 0 meu lugar no mundo social & minha volta. Implica: *compreender as diferengas e semelhaneas - por exemplo, a forma como sou diferente dos outros no meu aspeto e personalidade ou quais os inte- resses que tenho em comum com os outros; saber que, por vezes, me comporto de forma diferente, de acordo com a situagdo em que me encontro e que envolve muitos aspetos na minha personalidade; + desenvolver e manter os meus valores pessoais; +desenvolver um sentido para a minha historia pessoal - a minha propria “historia”, Eve os outros Implica: + compreender as alegrias € os desafios dos rela~ cionamentos: aprender a cooperar com os outros, ser capaz de ver as coisas a partir do ponto de vista de outras pessoas e compreender como estas me podem ver, aprendendo a res- peitar e tolerar os pontos de vista dos outros; + desenvolver e manter a minha propria identi- dade como um individuo, enquanto reconhego a interdependéncia natural das relagdes e desenvolvo um sentido para a minha “histéria” cultural/familiar; *compreender as minhas emogdes e ter conscién- cia da forma como as expresso. Para uma auto- estima saudavel, precisarei de desenvolver um nivel de resisténcia emocional, para que nao seja esmagado pelas minhas emogdes e para que consiga tolerar a frustragao, Precisarei de saber que posso escolher a forma adequada de expres- sar emogées, em vez de as negar ou reprimir ou agit de forma inadequada. Da mesma forma, preciso de saber reconhecer as emocSes das. outras pessoas e ser capaz de distinguir os meus sentimentos dos sentimentos dos outros. Autoaceitagao Implica: *conhecer as minhas forcas e reconhecer dreas em que sinto dificuldades e em que poderei querer empenhar-me mais, Isco inclui aceitar las que é normal cometer erros e que, por vezes, os erros so a melhor forma de aprender; + sentir-me bem com o meu corpo fisico. ‘Autossufciéncia Implica: + saber tomar conta de mim mesmo, quer fisica, quer emocionalmente, e compreender que a vida é por vezes dificil mas que existem muitas coisas que eu posso fazer para me ajudar ao longo deste caminho; “construir um grau de independéncia e auto motivacdo: ser capaz de automonitorizar e adaptar as minhas ages, sentimentos e pensa- mentos de acordo com avaliagées realistas do meu progresso, acreditando que tenho con- trolo sobre a minha vida e que posso superar os. desafios quando e conforme surgirem; *reduzir a minha dependéncia das opinides e avaliagbes de terceiros. 14] Autoexpressdo Implica: + compreender a forma como as pessoas comuni- cam entre si incluindo aprender a “ler 0s sinais” que esto para lé das palavras, para que possa compreender 0s outros com sucesso e também expressar-me de forma plena e congruente; “desenvolver a criatividade da autoexpressio ¢ reconhecer ¢ celebrar as formas tinicas e dife- rentes que cada um de nés tem para expressar quem somos. Autocontianga Implica: saber que as minhas opinides, pensamentos e ages tm valor e que eu tenho o direito de os expressar; +desenvolver os meus conhecimentos e capaci- dades a fim de poder experimentar diferentes métodos para resolver problemas ¢ para ser suficientemente flexivel paca mudar de estraté- gla, se tal for necessario; «ser capaz de aceitar desafios e de fazer escolhas; ser suficientemente seguro para conseguir lidar, com sucesso, com o inesperado. Autoconsciéncia A autoconsciéncia é a ancora das avaliacées rea listas. Envolve: +desenvolver a capacidade de concentra¢ao no “aqui e agora”, em vez de permanecer absor- vido em pensamentos negativos sobre o pas- sado eo futuro; + aprender a ouvir o meu corpo e as minhas emo- bes, para que eu esteja consciente dos meus sentimentos quando estes surgirem; *compreender que as mudancas emocionais, mentais e fisicas so uma parte natural da minha vida e que eu tenho poder de escolha sobre 2 forma como posso mudar ou desenvolver-me Certos aspetos de cada um destes sete alicerces sero tratados nas Sec¢des II-VIII das atividades para criangas na Parte 3 deste livro, mas estas divisdes sio, de certo modo, arbitrérias, uma vez que, na rea- lidade, todas as areas estao interligadas. Por exem- plo, nao ha nenhuma seccio de atividades para 2 “autoconsciéncia”, visto esta ser parte integral de todas as outras secgdes. (Ver também as anotagdes para cada elemento nos tépicos relevantes de cada sessio para os pais na Parte 4). Podemos fazer muita coisa para ajudar as criangas a construirem e manterem uma autoestima saudével face aos enormes desafios da vida e para ajudar crian- ‘cas cujo frdgil sentido de autoestima esteja ja ferido. Em casos mais extremos, os efeitos fisiolégicos de negligéncia ou de falta de relacdes carinhosas durante a primeira infincia iro, sem duivida alguma, afetar setiamente a recuperagio. A tarefa de ajudar criancas to percurbadas a recuperar a autoestima ou a cons- truir a aucoestima (onde nenhuma existe) é, como tal, um empreendimento complexo e abrangente. ‘Ao mesmo tempo, nfo devemos subestimar 0 impacto que um adulto carinhoso, capaz de “estar 14” e de owvir a sua histéria com aceitacao, empatiae sabedoria, poderd ter na vida de uma crianca. No papel de facilitadores (¢ aqui incluimos os pais), podemos apoiar as criancas: + tendo curiosidade sobre o seu monélogo interno {as suas teorias sobre si prépria); +demonstrando carinho e respeito genuino por elas enquanto individuos tinicos; +cendo perfeita consciéncia da forma como as nossas ages e palavras afetam o autoconceito de cada crianga e, em consequéncia, os seus niveis de autoestima; +ajudando-as a desenvolver a autoconsciéncia e a consciéncia de como o seu comportamento afeta terceiros; +ajudando-as a desenvolver a capacidade de fazer autoavaliacées realistas; +ajudando-as a compreender que a autoestima pode mudar em forma e intensidade, de acordo com diferentes fatores, mas que isso é normal e que nao tem de afetar negativamente o seu sen- ido global de “eu” e de “valor proprio”. Nio é uma tarefa facil, de maneira nenhuma; =ss ser uma tarefa infinitamente compensadora 2 aqueles que interiorizarem esta forma de ser 2s suas interagdes didrias com criangas. éncias bibliograficas insworth, M. D.S., Bell,S. M. V.e Stayton, D. J. (1971), dividual differences in Strange Situation behaviour of one-year olds”, in H.R. Schaffer (ed.), The Origins of sman Relations. Nova lorque: Academic Press. Bandura, A. (1971), Social Learning Theory. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall. Bandura, A. (1977), “Selfefficacy: Towards a unifying theory of behavior change’, in Prychological Review 84, 191-215. Bandura, A. (1989), “Perceived self-efficacy in the exercise of personal agency”, in The Psychologist: Bulletin of the British Peychological Society 10, 411-24, + Bowlby, ]. (1969), Attachment and Los Volume I: Attachment. Londres: The Hogarth Press e The Institute of Psychoanalysis. = Bunard, P, (2008), Counselling Skills for Health Profesionals ‘4 Edicdo). Cheltenham: Nelson Thornes Ltd. ~Burns, RB. (1979), The Self Concept in Theory, Measure ‘ment, Development and Behaviour. Nova lorque: Longman. ~Coopersmith, $. (1967), The Antecedents Self-Esteem. 10 Francisco, CA: WH. Freeman and Company. + Eliot, L. (1999), What’s Going on in There? How the Brain and Mind Develop in the First Five Years of if. Nova lorque: Bantam. *Gerhardt, S. (2004), Why Love Matters. How Affection Shapes a Baby's Brain. Londres: Routledge. + Greenier, K. D., Ketnis, M. H. e Waschull, S. B. (1995), “Nor all high (or low) self-esteem people are the same. Theory and research on stability of self-esteem”, in M. H. Kerns (ed.), Efficacy, Agency, and SelfEsteem. Nova orque e Londres: Plenum Press. + Gurney, P. (1988), Self-Esteem in Children with Special Educational Needs. Nova Torque e Londres: Routledge. “+ Harter, S. (1999), The Construction the Self. Nova lorque: Guilford Press. * Main, M. e Solomon, J. 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(2005), “Self esteem/self concept scales for children and adolescents: A review”, in Child and Adolescent Mental Healt 10, 4, 190-201. «Plummer, D. M. (2007), Seif Esteem Games for Children. Londres: Jessica Kingsley Publishers. Contactos Para mais informagdes sobre o programa ‘Massagens nas Escolas, no Reino Unido, consulte, por favor: ;www.massageinschoolassociation.org.uk 118 16 Trabalhar com os programas escolares Durante as décadas de 80 e 90 do século XX, em paralelo com o crescente nimero de publicacées sobre a natureza da autoestima, registou-se um extraordinario interesse em criar uma atmosfera na sala de aula que apoiasse este aspeto vital do desenvolvimento das criangas. Este capitulo sugere formas de integrar as atividades de autoestima com outros aspetos da aprendizagem. Se o seu interesse neste livro provém do facto de ser um educador, entio o mais provavel 6 jé cer lidado com criangas com baixa autoestima. Algumas destas criangas parecem atribuir muito pouco valor as suas capacidades e, muitas vezes, negam os seus sucessos. Tém dificuldade em fixar objetivos e em resolver problemas. Muitas desistem de tentar e, em consequéncia, tém um desempenho muito inferior As suas capacidades académicas e so: crengas limitadoras transformam-se numa profecia que se concretiza inevitavelmente. Também existem muitas criangas que concreti- zam o seu potencial académico, mas que tém um medo constante de falhar e uma necessidade de pro- curar a perfeicao, o que podera prejudicar a criativi- dade e a experimentacao. Tais criangas podem fixar objetivos pessoais irrealisticamente elevados, confir- mando, dessa forma, que “nao prestam” de cada vez que passam por um revés. As investigacdes nesta 4rea no encontraram uma resposta definitiva questio sobre qual nasce primeiro - se a autoestima saudavel, se os feitos aca- démicos. Os dois aspetos esto, sem divida alguma, interligados e a relacao poder4 ser reciproca: ‘Alguns autores olham para a autoestima como uma varidvel de patamar... ou seja, poderé nao ser téo forte nem tao signficatva para 0 desempenho aca- ‘démico quando se encontra num nivel médio ou ‘acima da média, mas inibe de forma grave a persis- téncia, a confianga e 0 desempenho académico ‘quando @ crianga tem uma autoestima baixa. Assim, considera-se que, independentemente dos pressu- postos sobre a relagéo causal entre baixa autoestima € feitos académicos, no caso de uma autoestima extremamente baixa, deve-se procurar aumentar a primeira antes de encetar quaisqueratividades esco- lares de recuperagdo. (Gurney, 1988, p. 57) Susan Harter sugeriu que poderd ser pertinente distinguir entre 0 objetivo do aumento da autoes- tima e 0 alvo das intervengdes. Considera, em con- junto com outros profissionais, que as intervencdes assentes em competéncias que estimulam o sucesso criativo podem, como se se tratasse de um deri- vado, produzir uma autoestima mais elevada mais estavel: Embora 0 aumento da autoestima possa ser um objetivo, as estratégias de intervengao deverdo ter ‘como objetivo os seus determinantes. Por exemplo, as tentativas de aumentar a autoestima global deverdo primeiro identificar as causas especificas da autoes- tima global percecionada, uma vez que, & luz das intervengdes para melhorar estas causas, a pessoa deverd aumentar a sua autoestima global. (Harter, 1999, p. 311) Como mencionei no Capitulo 2, também ha quem tenha argumentado que a relevancia dada melhoria de autoestima poderé obscurecer outros aspetos do desenvolvimento infantil e do cuidado das criancas, podendo ser um fator de distragao para os educadores que pretendam ensinar competéncias especificas e assim negar aos alunos a excitaco das

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