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A ANTIGA RETORICA, Apostila A expos a seguir 6a tansericdo de um seminirio Iministrado na “Boole pratique des hautes érudes” [Escola Pritica de Aloe Estudos}, em 1964-65, Na origem ~ ox no hhorizonte—desse seminario, como sempre, havi 0 texto mo~ demo, isto €: 0 texto que wnda nao exist. Uma via de abor- daagem desse feo novo & saber a partir de que contra que ‘le se busca e, portano,confromtar a nova semitica da es- ‘rita com a antiga pritica da linguagem literéria, que du rant séeles se chamou Retrice. Dal aideia de wn semind- a sobre a antiga Retrica: antiga ndo quer dizer que haja hoje uma nova Retirca: antiga Retérica se opde antes a es- “se novo que talvez no esteja ainda realizado: 0 mundo est incrivelmenterepleto de antiga Retrica. “Tamas eter acetado publica estas nots de rabatho se exstsce um lisro, wm manual, um memento, fosse qual ose, que apresentasse um panorama cronolégica esistemd= tiew dessa Retiria antiga eclisica Inflizmente, pelo que sei, nada asin exist (pelo menos em francés). Ful pos obri- ‘nado a constrain ex mesmo o meu saber «60 resultado dessa ropedéutea pessoal que agai se publica: eis agui a apostia 4 AavExToRa SeMIoLOGICA «qe eu bem que gosaria de er encontrado quando comecei arinterogar-me sobre a morte da Retirica. Nada mas, por- tanto, a no ser um sistema elementar de informagées, 0 Aprenizado ce cero rimer de trmos ede clasfcngbes— que no significa que no decurso deste trabalho ew nao ton sido mua vezestomado de exctagtoe de admiragao lane da forca eda sutlezadexse antigo sistema retdrea, dla modernidade dessa ou daquela de suas proposis. Por inflcidade, ete to de saber ndopasso mais (por rsies praticas)autentcar-the as referencias: teno de re~ digi esta apastla, em part, de meméria. Minha desculpa que se tata dew saber banal a Retirica é mal conhect- tae, no entata,conhecéLando implica nenhuma tare de terudio:tada gene poderi char vem difteuldade ds refe- rencas iblografeas que fltam aqui. O que end reenido (por vezes, aves at, sob forma de liagbesinoluntrias) provém essenciaiment de alguns tritadas de retrica da “Anigsdadee do classciano: 2. das indus erat os soles da colo Guillow Bue: 3. de dots los fend mena es cde Curie de Baldi; 4 de alguns arias espe ctalzades,princpalmente no que di reset Ide Média; Se alguns ros usuas, dene os quis o Dicionaie de thetorigue de Morena Histoire dela langue frangaise de F Brunt eo lo de R. Bray sobre a Formation dela doctrine classique en France 6 de algunas lias adjacent, elas rips lacunosasecontingees Kojve Jeg) 1 Eat Cm eran pone te Moen dea Ps i PUR, 86 sadn do lens pu ants pr Bron I ‘Grr Sawin, Ans Rte od act npr fo Re sue Wert Caner Ma), eter Sih 159 (re 905) Me ‘Gta id Pa 40 lad ro Rpt Mrs ‘Ghose ac PS 19590 190). -LEMENTOS 5 0.1 As priticas retéricas A retorica de que se trataré aqui 6 essa metalinguagem (caja linguagem-objeto foo “diseurso") que reinou no Oci- dente da século V aC até 0 século XIX oC. Nao se taba Thard com experiéncias mais Tonginguas (india, II) e, no que diz respeito a0 Ocidente mesmo, tomar-se-o como lc mites Atenas, Roma ea Franca Essa metalinguagem (dis- ‘curso sobre o discurso) comporton virisspritias,presen- tes simultinea on sucessivamente, Segunda 88 épocas, na “Retrie 1. Uma séenica, isto &, uma “are, no sentido clssco 4a patava rte da persuaso,conjunto deregras, de recetas ‘aja aplicagto permite convencer o ouvinte do dscurso(@ mas tarde, letor da obra), mesmo quando aguile de que se deve persuadi-lo seja “also” 2. Um ensinamenio: arte reread inicio transmit a por vas pessoais (um retore seus isipulos, seus elen- tes), inseri-se rapidamente em insiuigdes de ens nas escola, foemou.oessencial do que e chamaria hoje de segun- do cielo secundirio e ensino superior; transformouse em matésia de exame (exereicios, ies, pros). 3. Uma etncia, ou, em todo caso, uma protocéaca, ito 4: um campo de observag aurdnom delimitandocertos fendmenos homogéneos, a saber, 0 “efeitos” de linguagem: ‘uma clasificagia desses fendmenas (ej marca mai o- nbecid € ist das “figuras” deretrica) - uma “operacao” RE atin de dein gr nrc PN 5 AAPENTURA SE;OLOGICA 20 sentido jelmslvian, ito 6 uma metalinguagem, con mo de rtd de ei, cj mata ou igafondo 6m linguagen-objt (a linguagem arguments co fingsger “igus 4, Uina moral: endo um sistema de “rea” retri cn sti penetada da ambiguade da pla: € 30 meso ‘tipo um maa! de ects, or una tials pri, eum Codigo, um corpo de preseges morse fing € vii (isto & pert ema) es “ons de lnguagsm psi 5. Una prc scat Retric & esa tenia piv legiada (pis qu € precio pagar pare ad) gu for ile cases digo arnt para ss propre to la Sen a ingingom um poder eis fs eps Seletas de aces sess padeconstiindoa em pce Gina ean pra agus que no sen lc tb ‘tind uma nits dispense nside M2 S00 avec proceso de roca, eine se ogame maracas Sd “retra,cmsgrguo niin da cathe 6. Uma price dca: consttndo ods es pi um oom saa tien epee eam dir he oma qe dea doe aun arc “nege”(spln deers ens) ope paris, lst eras ou bsconas plas de to 2, Nueces th cee oct (ved se ors de sami) qu sa mein sats es de ia es “Ee empezo sepa com snes ‘nia ipo nrc nase cece aco ac! dame do gent "Mas ekenen, Ai is ‘plea ge mend come abrimer ss mek ‘ma hen) uae seg de Venu o bomen oe ee (ave sont) nar, ght mee Cao S13}; th msn forma, Clr, mente a sahe a sxeMexTos 7 toda uma pritica de garotos (que ainda esti por explorar€ constitur em cédigo cultura) 0.2. 0 império retérico “Todas esas pitas test a ample do ato re sco ~ nto que entant andr no de naj a nehuma Sits import nesta inerpetato Mista Talvee Sei porge etic (lem do tabu ge esa sobre ae gen, verde peri vaieasenzdoque Shalqur impli polio, por suns dents, por su ‘Belo oppo quate duciéncin a reflex hie this,» pom declare queso propia itr, palo mene como estamos acsturados «tail, 0 Fanglae de obrigaraconeber glo qu se pe cher ara dena shi muon dese fico ga etc prsparis, ps, dessa eusa gr Creare lipids, ester a nese, ena, sue a ein ~ jam ais orem as “ariagSsiterngs do sitna elo no Osdente date {his mien emelo, de Giri» Napaleo Imagine se {ado aul qu, util, impel «como gue moral tha via mc pn esaparecer som ecomever es se Slr a Jomotncl seis, sens epeis a Repl a Romana opévio Romano, os genes iva, dhpmo, a Renate, a mona a Revolve France: “ines va vita on plate“ ame rao de anor ‘Serer ap ary ane a cn se ths pone tv Sabo cn que sede Kloot emo teres acl urs stot oom gues a ipa Nem in an cl a en ica Ent len cmprsso ergo data So emba iag- femeodarn, 8 A AVENTURA SEMIOLOCICA dligeri regimes, religides, civilize; maribunda desde a Renascenc, leva ts séculos para morrer ainda nf & cero ‘que ela esteja morta. A rerica di acesso ao que se pode chamar de sobrecivilizagio: «do Ocidente, histrio © geo- tnifico: ela fo inca pritica jumtamente com a gramitcs, nascida depois) através da qual nossa sociedadereconheceu a linguagem, sua soberenia (urs, como diz Gérgias), que ‘rs também, socalmente, una “senboralidade"; a classifi ‘ago que ela The imps ¢ 0 dinico tago realmente eomum ~ Pea (seculos V-VI), depois Grammatica (séculos VII-X), eis a Logica (aéculos XIEXV) que dominon a sus irmis, felegadas a condigio de parents pobres. Rhetoriea ‘A.6S, Rhetorica como suplemento A retricn aig tna sobevivdo nasties de ‘gums escolesromanas da Galia e em alguns retresgauleses, tlentre os quais Aus6nio (310-93), grumamaticus © hetor fem Bordeaux, ¢ Siddnio Apolnario (420-84), bispo da Al- ‘ini. Carlos Magno insereveu as figuras de etrza em sua {eforma do ensino, depois que Beda, o Venerivel (673-733) {i tinh eristianizado completamente a retéica(trefaini- Cada por Santo Agostino e por Cassiodoro), mostrando que ‘propria Biblia estérepleta de “figuras”. A retérica no do- ‘lina por muito tempo; fea logo “espremida” entre a Gram- Imatica e « Logica: €a parento sem sorte do Trivium, desti- ‘nada apenas a uma bela ressureicho quando puder reviver ‘sob as expécies da “Poesia” e, de modo mais ger sob © nome ‘de Belas Letra, Esa raqueza da ReGria, apequenad pelo triunfo das linguagenseastrdora, grams (lembremo-n0s. ddalima eda facade Mariano Capella) e 1g, est liad tl- ‘er ao fito deca fica inteiramentedeportada para 0 dominio 30 A AVENTURA SEuUOLOSICA Reece ee a ees eaten eae eee ees ee ae ere eee ee Serameday ener eee ae (oar ie eee Cece ope Chae ores rhetorici) ou, em seguida, artes poéticas (artes versifi- rig ea cranes Sa eee eens Sn eee ees ee sata ates ee eae re Sootimeterome aesgerneersis Sonate enema ‘Setone par emalgum pe sn do ue hore oe ‘memo cnc, dee os gts Kerman ee Pe rere entero Si oaicaa a eeeeas _ficeston eee rete tence acide estes Geirgieas roe ote eis aera ‘edna past te = sor te Tigra: Maite pete a on pi a ‘oes cas meee ee pxewenros: aL A.66. Sermtes, dictamen, artes pottieas (0 dominio da Rhetorica engloba tes cinones de regras, tus artes. I. tes sermonicand: so as artes oratras em etl (objeto da retria propriamente dts, quer dizer ent, tessencalmente,o8 sermies ou discursos paenéticos (exor- tando a vide); os sermbes podem ser eseitos em duas linguas; sermones ad populun: (para © povo da parbquia), ccritos em lingua vernicula,e sermoney ad clrum (para 10s sinodos, as escola, os mostiros),escritos em ltim; en- fretanto, tudo € preparado em ltim; 0 vernculo no passe de uma tradi; 2. Artes dictand, ars ditaminis, atte epis- ‘ola: crescimmento das repartces publics, pari de Carlos “Magno, acarreta uma eotia da correspondéncia administra tiva: 0 dictamen (sata-se de dita cartas); 0 dictator € uma prafisso reconhecda, que se ensina; © madelo € 0 dicta- nen da chancelara papel 0 shu romans ten toa primazia; sSnge ume nogio estlistca, o cursus, qualidade de Muéacia do texto, captida por meio dos crits de ritmo ede acen- ‘nage; 3, Artes poeticae:inicialmente a poesia faz pate do dictamen (a oposigio prosa/poesia fea frouxa durante muito tempo}; depos as arte poeicaeassumem o rythmicum, bus cam na Grammaticao verso latino e comeyam a vsar a “li- teratura” de imaginaglo. Dé-se inicio a um remanejamento estrutual que rd opor, no fim do século XV, a Primeira Re- ‘rica (ou retiica geal) & Segunda Retrca (ou rerca pos- tica), de onde sario as Artes Potice, como a de Ronsard. Grammatica ‘4.6.7. Donato e Prisciano Depois das invasdes, os lideres da cultura sio celts, ‘ngleses francos;tém de aprender a gramitica latina; 08 a A AVENTURA SeMIOLOGICA Carotingios consagram a importincia da gramética pelas célebres escolas de Fulda, de Sant-Gall ede Tous; a gram’ ic inicia &edueago geral, poesia, litugia, s sagradas Eserituras; ela compreende, a0 lado da gramétiea propria. ‘mente dita, a poesia, amétrene certs figures, ~ As das gran. es autoridades gramaticais da [dade Média si0 Donato & Prisiano, 1. Donato (por volta de 350) prouz uma gram fica sucinta (aes ninor que trata das vito pares do discurso, Sob forma de pergunias erespostas, © uma gramitca desen” volvida (ars major). A fortuna de Donato & enorme; Dante

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