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Géneros textuais Os géneros textuais, segundo Bakhtin, apresentam-se como géneros do discurso, séo tipos relativamente estéveis de enunciados produzidos pelas mais diversas esferas da atividade humana (1992, p. 279). Afirma-se serem relativamente estéveis, pois podem sofrer modificagdes de acordo com a situagao comunicativa na qual stio empregados. Um académico, por exemplo, utilizaré uma linguagem mais elaborada no e-mail que enviar a0 seu professor do que no e-mail que enviar ao seu colega. A natureza dos géneros ¢ variada, ¢ estes recebem diversas designagdes, como carta pessoal, reccita culinéria, bula de remédio, romance, conto, re- portagem, noticia, editorial, resumo, resenha, esquema, redagdo de vestibular, edital de concurso, inquérito policial, piada, hordscopo, cardapio de restaurante, sermao, conferéncia, aula expositiva, conversacdo, reunido de condominio, entre outros. Pode-se mesmo dizer que sio ilimitados, visto que também sao infinitas as situagdes comunicativas que requerem sua utilizagao. Na vida didria, a interagao social ocorre por meio de géneros textuais especificos que 0 usuario utiliza, disponiveis num acervo de textos cons- tituido ao longo da histéria pela pratica social, ¢ no simplesmente por meio de tipologias textuais, como a narragdo, a descri¢ao ou a dissertacao. Aeescolha do género textual depende da inteng&o do sujeito e da situagao sociocomunicativa em que esté inserido: quem ele é, para quem escreve, com que finalidade e em que contexto histérico ocorre a comunicago. Imagine o cotidiano de uma executiva. Ao acordar, cla deixa um bilhete para o filho que ainda esta dormindo ¢ uma lista de compras para a empre- gada, que se atrasou, Chegando ao escritério, na sua rotina didria, escreve e-mails e cartas comerciais, dé telefonemas e organiza reunides. Todos esses textos que ela produz, orais e escritos, so géneros textuais (bilhete, lista de compras, e-mail, telefonema, carta comercial e reuniao). Segundo Marcuschi, os géneros surgem emparelhados a necessidades atividades socioculturais e na relagio com as inovagées tecnoldgicas. A intensidade do uso das novas tecnologias ¢ sua interferéncia nas atividades comunicativas dirias motivam a explasio de novos géneros ¢ novas for- mas de comunicagao, quer na oralidade, quer na escrita (2002, p. 19-34). Por exemplo, o site, 0 blog, 0 chat, 0 e-mail e as aulas virtuais sio géneros recentes advindos da presenga marcante de um novo suporte tecnolégico na comunicagdo: a internet. Os géneros textuais exercem um papel fundamental no processo de in- teraedo entre os individuos. De acordo com Bakhtin, “se nao existissem os géneros do discurso e se nao os domindssemos, se tivéssemos de crid-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicagao verbal seria quase impossivel” (1992, p. 302). Por isso, existem tantos géneros orais ou escritos quantas so as situagdes sociais em que o individuo esté inserido. Conforme Bronckart, os géneros textuais constituem ages de linguagem que requerem do produtor uma série de decisées. A primeira é a escolha que deve ser feita a partir do rol de géneros existentes, ou seja, ele optard por aquele que Ihe parecermais adequado ao contextoe a intengo comunicativa; a segunda decisio é a aplicaco, na qual o produtor poder acrescentar algo a0 género escolhido ou recrié-lo (1999). Isso significa que o produtor pode valer-se dos géneros que circulam socialmente e modificé-los conforme a situaggo de comunicagdo em que serdo utilizados, ou até mesmo criar um novo género a partir de um jé existente. Por exemplo, 0 género textual e-mail pode derivar do bilhete, da carta pessoal ou da carta comercial. Em virtude da extrema heterogeneidade dos géneros, produto da diversi- dade de relagdes sociais que se estabelecem na vida humana, Bakhtin (1992) os agrupa em dois tipos: primérios (simples) e secundérios (complexos). Na visdo do autor, os géneros textuais primérios emanam das situagdes de comunicagao verbal esponténeas, nfo elaboradas, Pela informalidade que os diferencia, ja que so produzidos em situagdes simples, pode-se afirmar que eles mantém uma relagdo mais imediata com a realidade existente. Isso ‘corre nos enunciados da vida cotidiana, como em didlogos com a familia, cartas, bilhetes, reunides de amigos ¢ diarios intimos. Por sua vez, ainda conforme Bakhtin, os géneros secundérios surgem nas condigdes da comunicagaio cultural mais complexa, organizada e prin- cipalmente escrita. Ou seja, trata-se de uma forma de uso mais elaborada da linguagem. O género funciona como instrumento para construir uma ago verbal em situagdes de comunicagiio que se constituem nas esferas sociais mais {ETTURA E FRODUGAO TEXTUAL romance, 0 editorial, a tese, a palestra, 0 antincio ¢ o texto instrucional, 1.1. Agrupamento dos géneros textuais ages (2004, p. 60-61). Observe a seguir: diario, reportagem, crénica esportiva, biografia etc). romance, fabula, apélogo etc.) de opinio, discurso de defesa, carta do leitor etc.). palestra, entrevista de especialista ete.) ‘manual de instrugdes, regulamento, regras de jogo etc.) | 1.2 Producao de géneros textuais e niveis de linguagem formalizadas ¢, relativamente, mais evoluidas: artistica, cultural e politica. Os géneros secundarios absorvem e modificam os primarios (1992, p. 281). Entre os géneros secundérios, citam-se como exemplos 0 livro didético, 0 Schneuwly, Dolz e colaboradores agrupam os géneros textuais a partir das capacidades de linguagem dominantes dos sujeitos nas seguintes ordens: relatar, narrar, argumentar, expor e descrever ages ou instruir/prescrever a) Relatar: volta-se A documentago e memorizagao de agdes huma- nas. Mostra experiéncias vividas, situadas no tempo (relato, noticia, b) Narrar: representa uma recriaco do real. [sso pode ser visualizado na literatura ficcional (conto, conto fantéstico, conto maravilhoso, ¢) Argumentar: diz respeito & discussio de problemas controversos. que se busca ¢ a sustentagio de uma opinio ou sua refutagio, tomando uma posigio (debate, editorial, carta argumentativa, artigo 4) Expor: refere-se & apresentacdo e construc de diferentes formas dos saberes (texto explicativo, artigo cientifico, verbete, seminirio, e)Descrever agbes ouinstruir/preserever agées: dizrespeito asnormas que devem ser seguidas para atingir algum objetivo (instrugdes prescrigdes). Indica aregulago miitua de comportamentos (receita, Paraa produgdo deum género, oautor pode valer-se de diferentes niveis, de linguagem, como a linguagem familiar, comum, cuidada ou oratoria. A LEITURA z PRODUGAO TEXTUAL escotha do nivel depende da intengo do produtor ¢ da condiigdo sociocultural do interlocutor. Veja os niveis, de acordo com Vanoye (1996, p. 30-32): a) Linguagem familiar: corresponde a um nivel menos formal, mais cotidiano dalingua. O vocabuldrio obedece relativamenteas normas ¢gramaticais, Utliza-se esse nivel delinguagemnos génerosoriundos de situagdes mais informais, como em conversas familiares ou com amigos, em cartas familiares, bilhetes, entre outros. ) Linguagem comum: emprega um conjunto de palavras, expresses ¢ construgdes mais usuais, comuma sintaxeacessivel ao itor comum, ou seja, é simples, mas segue a norma padrio da lingua escrita. Eusadaem artigos de opinio, editoriais, antincios publicitrios, noticias ete c) Linguagem cuidada: usa um vocabulério mais preciso e raro, com ‘uma sintaxe mais elaborada que a comum. Emprega-se em cartas comerciais, editais, artigos cientificos, entre outros generos. 4) Linguagem oratéria: cultiva os efeitos sintiticos, ritmicos ¢ sono ros; também usa imagens. Utiliza-se esse nivel de linguagem em sermées, discursos etc. (© papel dos géneros textuais tem sido reconhecido como fundamental na interagio sociocomunicativa e, em vista disso, eles passaram a nortear censino da lingua, especialmente o trabalho com andlise, interpretaga0 e pro- dugdo de textos. Essaabordagem favoreceo desenvolvimento dacompeténcia Jinguistica e discursivae, consequentemente, ampliaa participaro social do individuo. Por isso, os Parametros Curriculares Nacionais (1999) preconizam co ensino da leitura e produgo de textos a partir de géneros textuais. {EITURA E PRODUGAO TEXTUAL

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