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v BRUXARIA E FEIT : TAXONOMIA pane DINAMICA! orggnizadores de Witchcraft and . . WINTER. 1953) 0 grande mérode enn dez relatos sistematicos que consti omado bruxaria em sociedades da Africa Central e todos os professores de antropologia mas socioculturais relacionados 20 ‘itorial permissiva estimulou uma rica ¢ apresentagies, mas fica-se com a ‘Monica Wilson em favor de uma andlise s “chaves para a compreensio da i ume resposta totalmente satisfatéria. se deve 20s colaboradores altamen- dros de referéncia estrutural e de “ana- s os organizadores (p. 9) esperam cativas que podem englobar os fatos Entretanto, “os fatos” mudaram durante deve mudar com eles. Os antropélogos 2 preocupados em exibir “estruturas” Se valores, qmas agora eles tendem a ver s4o tanto produtos quan- vocabulario de “devir” 0 conflito af s tanto repetitivos quanto mutaveis. Precisa estimar os efej_ Scones nos subsistemas locais pelos processos politicos de tos pr .m sistemas mais abrangentes. Tais desenvolvimentog larga esca ja © meotda método de caso extenso, que estuda as vicis. resultaram © mas sociais especificos ao longo do tempo através de situdes de siste nidos de caso, tratando cada qual de uma grande crise uma séric Ce ‘do ou em partes dele. Os dados oferecidos por este no sistema sco! mitem apreender nao apenas os principios estruturais método nos pert também varios tipos de processos, inclusive aquele. do sistema, ne aril O material dos casos deve, é claro, ser anali- de mudanga est 4o intima e constante com a “estrutura” social, tanty sadoem oe jnstitucionalizados, quanto nos estatisticamente nos seus Sead novos “fatos” no substituem, mas complementam, normativos. os antigos. s ; «temas sociais afticanos, crencas © acusagoes de bruxaria ‘thy ue ae dos que exigem um tratamento tedrico dinamico, Os classes es - de Witchcraft and Sorcery in East Africa Tessaltaram Se ON; WINTER, 1963, p. 18) que “no ciclo de desenyo ea de uma linhagem ou de uma familia, acusagées de Magia podem ser feitas entre diferentes categorias de Pessoas em estigios distintos do ciclo, e tais acusagdes indicam as areas de mais forte tensio”. No entanto, nenhum dos ensaios do livro explora as possibi- lidades dessa abordagem que exige o método de caso extenso para sua utilizagio satisfat6ria, Isto é bastante surpreendente uma vez que um dos organizadores, o professor Middleton, fez um uso exemplar deste método no seu recente livro (1960). Por outro lado, a preocupagao com 0 ciclo de desenvolvimento de um grupo — 0 qual est4 em via de ajuste interno — as vezes tendea desviar a atencao de outros tipos de processos. Entre estes podem set ane s ee de adaptacao ao meio social e ao ambiente es ae teconhecido 0 quao estao inte mottalidade que oe na bruxaria ¢ as altas taxas de morbida i morbidade, como a ra a maioria das sociedades vio ; zada. As anélises sien uma distribuico fortemente lo i esaisticas locais de de Tuxaria deveriam, no futuro, ve 5 sibita ¢imprevsivel de dosneae ort Com cotteza a inch tariter maligno, injustificado Snes, Ue Parcialmente expl {0s da bruxaria? Mencions © € arbitrario atribuido a muitos a? nO esta quest: i ‘40 aparentemente dbvi# 160 y cortegdo ao otimismo do que D 0 ouglas, num i i Witchcraft and Sorcery in East Africa, chamou de'“visto obaenh , cha a stétri- 1a visio, ta ém estreit Esta visio, também estreitamente baseada em um estudo de cick A 7 ‘iclos ca de desenvolvimento aldefio da Africa Central, foi ex; ais persuasiva pel essi 7 ral, posta da forma He Cosi Si cae ane Re 1952, p. 120-135, 215- jntoleravelmente te » “as crengas na bruxar fe eersen ani iniyeras relagées que se fornaram redundantes”; elas “implodem as parte dilapidadas da estrutura social, c limpam o terreno para as nova (Que tipo de estrutura, nos sentimos impelidos a perguntar, abstragio forcada ou concretude reforgada?). Douglas de cujo ensaio foi retirada a citacdo de Marwick, ponderadamente incor- nora Seu comentario de que as — de bruxaria “mantém a virilidade da estrutura social nativa” por permitir “redistribuigdes pe- gdicas de forcas estruturais” (MIDDLETON; WINTER, 1963, p. 233). Contra essa visio “obstétrica”, argumenta que para os Lele de Kasai a broxaria é“um agravante de todas as hostilidades e medos, um apstaculo a cooperagao pacifica”. Esta afirmagao € adequada a todas as sociedades afligidas por doengas, onde a maioria das mortes é atribuida & bruxaria. A doenga atinge indiscriminadamente grupos em todos 0S estégios do seu ciclo de desenvolvimento, aldeias cheias de tens4o € comunidades harmoniosamente integradas. Com efeito, algumas poucas mortes sibitas em uma aldeia feliz podem provocar uma firia mais severa € agudizar as acusagoes de bruxaria entre os membros do grupo do que a morte ocorrida em um grupo ja conflituoso no qual, por assim dizer, ages misticamente danosas séo esperadas. Uma das caracteristicas principais das crengas em buxaria, como Evans-Pritchard (1937) demonstrou de forma tao memordvel, 6 que elas sao tentativas de explicar o inexplicavel ¢ controlar o incontrol4vel em sociedades que possuem apenas capacidade tecnolégica limitada para lidar com um meio ambiente wa Se as crengas em bruxaria fossem somente 0 produto de a aoe sociais, elas revelariam asua origem tendo forma ‘ohonos Poe marcadamente racionais. A exposigéo constante “idamente mee e 4 morte sibita, ea necessidade de se adaptar Srengas horriy elas, com certeza contribuiu para a formacao dessas : eis e irracionais. Uma vez formadas, essas crengas oalimeny Want tam 0 processo social, gerando tensdes tio freqiientemente 48 “tefletem” tar esses rumores ¢ acy. ria que surgem em referéncia a ocasides relativament, sem importincia de doenga e, ainda assim, langadas com rancor i assiduidade, aos estigios finais, ¢ mais marcados de tensdes, do clo de crescimento do grupo. Aqui vamos encontrar com freqtiéneig grupos no ponto de fissio, radicalmente divididos em facgges opos. tas. Em tais casos, 0 ajuste interno mais qu laptacao aos Meing __ pibtico ou social parece ser 0 processo dominante, Em resumo, cada exemplo ou grupo de acusagées tem de ser cxami. nado dentro de um contexto total de p “AS Sociais que inclyj 4 operagio de processos bidticos, ccoldgicos ¢ intergrupais, bem como, descnvolvimentos intragrupais. E necesséria uma profundidade tem. poral consideravel para tomar adequadamente compreensivel © padrig ca motivagao das acusagdes em uma dada area da vida social, Estas especificagdes podem ser satisfeitas apenas por um estudo de caso extenso. Em Witchcraft and Sorcery in East Africa, varios autores (especialmente Beattic, Beidelman e La Fontaine) documentaram seus ensaios com material empirico, mas, das 299 paginas do livro, ape- nas 49 sao ocupadas com casos empiricos e suas respectivas anilises, A maioria dos casos é colocada no texto sem comentario, como ilus- tragdes de uma ou outra caracteristica “estrutural”, Comumente, a atengao € concentrada na distingao entre as categorias de Parentes, afins, vizinhos e coisas do género, entre as quais as acusagées sio “mais freqiientes”. Marwick (1952), que usou essa abordagem, do- cumentou-a ao menos com dados numéricos meticulosamente coletados e apresentados. Os nimeros sao poucos e dificeis de achar nesse simpésio e, para mim, sua prépria abordagem é enganadora. A questao importante sobre um dado tipo de acusacao nao é que seja fejta por alguém contra um certo tipo de parente, mas que seja for- julada em um certo contexto empirico. Este contexto incluiria nio apenas a estrutura do grupo ¢ dos subgrupos aos quais 0 acusador eo acusado pertencem, mas também a sua divisio em aliangas e facgdes transit6rias baseadas nos interesses imediatos, ambigGes, aspiragdes Morais ¢ coisas afins. Deveria também incluir a histéria desses gru- Pos, subgrupos, aliangas e facgdes, na medida em que fosse Considerada televante para a compreensio da acusagiio feita pelos atores principais no contexto empirico, Deveria incluir ainda, quan: do Possivel, dados demograficos sobre subgrupo ¢ flutuagoes faccionais ao longo do periodo de tempo relevante, juntamente co™ 162 informagées sobre os fatores DIOIOBICOS € sociold, fluenciaram, como epidemias, crescimento e dec]; mortalidade ¢ natalidade, migragio laboral, guerr: sim, 0 fato de que A tenha acusado B nao apareceria exemplo da “tensio existente entre agnatos da mesma como um entre “parentes uterinos homens de geragdes adjacentes” ne° ou o produto de uma relagéo complexa entre Processos e oe eee os quais as normas que governam 0 comportamento entte me’ a de uma tinica categoria de parentesco Constituiriam ape; id ca(e possivelmente irrelevante) classe. O Status de ten ne ser aqui apenas “fenotfpico”: © fator “genotipico” mae Led pertencimento a facgdes opostas na comunidade local i ae terra, autoridade, prestigio, ou riqueza mével, 0 pertenci: aa tos religiosos opostos, as simpatias e antipatias das figuras mnie : cr, ou combinagoes de todos ou alguns destes, ou uma verledade dea tros fatores localmente significativos. Quais sao a8 te oe significativas em situages especificas ¢ como elas sio combinadse resultard da exploracao do método de casos detalhados? ay da ao recolhimento de dados estatisticos com base nas pistas ue ele levanta. Em situagdes de mudanga radical, em que a “estnutusa” esta se desintegrando, as normas tradicionais de parentesco oferecem pouca orientagao. Mesmo nos sistemas repetitivos ou “ciclicos” é apenas apos determinarmos a totalidade do campo de agéo que poderemos dizer com alguma seguranga por que A acusou um “irmao da mae” B e ainda assim encontrou sélido apoio entre os “irmaos da mae” C, De E. Nos seus ensaios sobre os Kaguru e os Mandari, doutor Beidelman e doutor Buxton apresentaram um tipo de material empirico detalhado que tornaria este tipo de andlise possfvel, mas, uma vez que muitas varidveis tem de ser isoladas e entéo consideradas na sua indepen- déncia e interdependéncia, cada caso detalhado teria de ser precedido pela apresentacao de um constructo do seu campo de agio. Tal constructo teria necessariamente todos os problemas de qualquer modelo. Como Max Black (1962, p. 223) ressaltou, citando Durkheim e Braithwaite, o uso de modelos tem sido visto por alguns fil6sofos como um mero “apoio para mentes fracas” ou um atalho convenien- dutivos. Pode haver alguma utilidade ie: i de waliacdo de sistemas 0 e pincrns aa do “campo” (da ago social) como um modelo analégico, uma espécie que, segundo Black, que nao nega completa- 0; > Sgicos que 0s in. ino Nas taxas de aS € Vinditas, As. 163 i, mente 0 scu valor teérico, “compartilha com o original nao um con. junto de caracteristicas ou uma proporcionalidade idéntica de a nitudes mas, de forma mais abstrata, a mesma estrutura ou pa. aa de relagoes”. Uma vez que a analogia estrutural € compative] na vasta variedade de contetidos, existem os riscos esperados, con ee Black, da “inferéncia falaciosa a partir das inevitaveig eentevaincas distorgées no modelo”. Madelos analdégicos forne- tem “hipstes : siveis , eno provas”. Porém, 0 nosso constructo do campo pratico nio & estritamente falando, um modelo te6rico, mas apenas uma tentativa de reproduzir tao cuidadosamente quanto possivel @ estrutura ou “ rede de relagoes' presente nos dados observaveis. Para tanto, um certo recurso a ‘elementos visuais” é um, pré-requisito. ‘Assim, no caso perfeitamente detalhado, apresentado or Beidelman (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 81), do subchefe Isaak dos Kaguru, nossa compreensao dos eventos teria sido am- pliada ainda mais por um diagrama que demonstrasse as principais propriedades da subchefia que ele governa. Na narrativa do CaSO, por exemplo, ficamos sabendo que nas subchefias existem “clas domi- nantes”, e que Isaak “deve 0 seu poder politico ao cla do seu pai” (¢ este simples fato levanta interessantes problemas em uma sociedade matrilinear). Tal diagrama poderia incluir a distribuigéo dos mem- bros do cla dominante pelas aldeias pertencentes A subchefia de Isaak e as subchefias vizinhas. Outra “propriedade” importante do campo de aco é que “um Kaguru sente que pode contar com o seu préprio [matri-]cla acima de todos os parentes”. Necessitamos, em seguida, de uma genealogia da aldeia, apresentada de modo a revelar as rela- ces entre os principais atores neste caso. Somos informados de que Isaak 6 0 lider de uma aldeia bem como um subchefe e, assim, ocupa posicdes de comando em dois grupos de relagoes estruturais. As prin- cipais intersegGes desses grupos ou “subsistemas” poderiam ter sido mostradas através de diagramas. Na aldeia de Isaak, existem duas facg6es, uma liderada pelo proprio Isaak, ¢ outra, por uma mulher idosa solteira. Ambas as liderancas, ¢ muitos dos seus seguidores, sneide pont a mesmo “[matri-]cla”. Nenhuma genealogia é ote precisamente peter totalmente em termos visuais oa : eae Hl pie das facgdes sao relacionadas umas as a mae aes oe lores. Os Parentes matrilineares de Isaak so : guns deles praticam ae contigio de subchefe quanto de hee u de uma divisao da ald 'idades ilegais que embaragam Isaak. Amen ae aldeia [village] em “aldeotas” [hamlets] enfati7? 164 necessidade de um mapa das cabanas que mostre a distribuica cial dos atores principais, Finalmente, pode-se pensar em um diagrema que mostre a sobreposicio ¢ a interpenetracao das redes de aiienge ¢ clivagens faccionais politicas ¢ de parentesco no campo socioes| acial constitufdo por subchefia, aldeia ¢ agrupamento. P O caso apresentado por Beildeman demonstra que a abordagem das s de bruxaria bascada nas “categorias de parentesco” é jnsatisfatéria. Ele mostra que os Kaguru acreditavam que as criancas. naaldcia ficavam doentes ¢ morriam “pela exposigao ao fogo cruza- do da bruxaria” de Isaak ¢ de duas mulheres da facgao rival. ‘Acusadores, acusados ¢ vitimas nos exemplos que ele cita sao todos parentes ou afins uns dos outros, pertencendo, em boa parte, as mes- mas categorias. A pergunta “quem acusa quem?” é parcialmente respondida pelos papéis que eles desempenham na luta faccional. Embora ele va mais longe que muitos escritores que tratam sobre pruxaria no sentido de colocar as acusag6es no contexto metodolégico do estudo de casos, na minha opiniao, Beidelman nao avanga o sufi- ciente. O método de caso detalhado, que a riqueza dos seus dados lhe pemmitiria usar, teria colocado o seu caso “Isaak” em uma série tem- poral mais longa e talvez em um contexto empirico mais amplo e mais complexo. Poderfamos através dele talvez entender a génese da luta faccional na aldeia de Isaak e, estudando os rumores e acusagdes de bruxaria em perfodos de tempo prolongados, teriamos obtido um conhecimento extenso do fenémeno na sua variedade Kaguru. O método que estou defendendo nao exclui do seu universo tedrico fatos culturais, como crengas, simbolos, valores, regras morais ¢ con- ceitos legais, na medida em que estes constituem influéncias determindveis que inclinam pessoas ¢ grupos A aco no contexto empirico. al desta critica, pois pode se per- Isso nos traz para o ponto essenci: ode s étodo de andlise sociolégica no guntar “Que importancia tem 0 mi lise socio estudo de crengas de bruxaria?”. A resposta seria, primeiro, que 0s préprios organizadores do livro encontraram importancia pour ca na distingao cultural, entre “bruxaria” e “feitigaria » f em a que pela sua propria natureza 0 estudo de caso detalhado a ma rede mais fina para capturar as nuangas das crengas Gam ane que estas sao invocadas pelos atores nas crises oa) ° A pl aentrevista mesmo do mais dotado dos informantes long! 165 ‘oS que cnvolvem crengas em bruxaria Sao dr, s suas fases de desenvolvimento 0 recuyee adivinhos para determinar a culpa ¢ estabclecer inocéncia, A obs vagio da pritiea dos adivinhos e 0 estudo do seu aparato revela 7 que nas sociedades africanas as crengas podem Cnvolver y, a jade de tipos de agentes misticos maléficos, que ossuc ampla variedade de manciras de causar prejuizos Misticos, Een variedade das crengas € gerada, em uma certa medida, pela diverse dade das circunsténcias concretas nas quais 0 infortgnie’, misticamente “explicado”. A tendéncia de multiplicar as Crengas ¢ obviamente, acelerada nas presentes condigées de mudanga Socig| em que os membros de varias tribos estao se encontrando e se misty. rando. Campos mais amplos de ago social estéo em Proceso de formacao, e eles tendem a conter crengas oriundas de muitos lugares e, além disso, sincretismos e formulagées totalmente novas, Ascren. gas em bruxaria néo podem mais — se é que alguma vez Puderam _ ser agrupadas de forma titil em duas categorias contrastantes, bruxa. ria (no seu sentido estrito) e feitigaria. Quando Evans-Pritchard (1937, p. 21) fez pela primeira vez esq dis. tingdo, queria claramente limité-la 4 cultura Zande: Os Azande acreditam que algumas pessoas sio bry. xas ¢ podem prejudicé-los em virtude de ung qualidade inerente. Uma bruxa nao realiza tito at gum, nao pronuncia encantamento algum e nip possui pogio alguma. Um ato de bruxaria € um ato psfquico. Eles também acreditam que feiticeirs os fazem doentes ao realizarem ritos magicos ‘com po- es daninhas. Ele afirmou ainda que a bruxa Zande tem um poder inerente de fazer o mal, talvez desconhecido até para ele préprio. Este poder deriva da presenca no corpo da bruxa de um 6rgao ou substancia herdada cha- mado mangu, cuja presenga ou auséncia pode ser determinada por autdpsia. A bruxaria, em resumo, pode ser inconsciente e involuntiria, embora seja freqtientemente intencional, herdada e inerente. A feiti- Garia € sempre consciente e voluntéria, é ensinada e freqiientemente comprada. A bruxaria pera diretamente, e a feiticaria indiretamen- te, através de encantamentos, ritos e pogées. Essa dicotomia, verbalizada ¢ explicita entre os Azande, nao ocorre em muitas s0- Ciedades. Em vez disso, estas Possuem um amplo espectro de crengas 166 sobre tipos de pessoas que procuram prejudicar seus préximos por meios néo-empiricos. Uma breve revisio de parte da literatura re- cente que lida com tais crengas esclareceré isso. Num bem documentado estudo sobre um surto recente de “casos de bruxaria” trazidos diante dos tribunais em Barotseland, Zambia, Barrie Reynolds (1963, p. 14-47), curador de etnografia dos Museus Na- cionais de Zambia, fez um minucioso levantamento das evidéncias citadas nos tribunais e da literatura etnografica relativa a bruxariana Africa Central. Ele descobriu que em Barotseland © mesmo termo muloi era usado para todos os agentes do mal, quaisquer que fossem as formas de maleficio creditadas aos mesmos. Pensava-se que al- guns matavam através de “familiares” em forma humana (‘zumbis” ou bonecos), por “familiares” animais e néo-humanos (na forma de caranguejos monstruosos, cobras ou por elefantes, hipop6tamos etc. magicamente ctiados), Por siposo, a projegio da magia sob a forma de um proj étil invisivel, pela “introdugao ou tentativa de introdugio de qualquer pé venenoso ou Supostamente venenoso, ou substancia similar, no est6mago, pulmées ou carne da vitima com 0 objeto cau- sador da sua morte ou doenga”, enterrando amuletos no caminho freqiientado pela vitima escolhida ou sob a sua soleira, sugando a “respiragao ou espirito” do corpo da vitima através de um bambu 0co, € por meio de muitos outros mecanismos. Uma vez que estas técnicas séo reais ou imagindrias, que, segundo dizem, podem ser ensinadas ou vendidas, € possivel classificd-las como “feitigaria” segundo o protétipo Zande. A questio da heranga, entretanto, surge a propdsito de certos “familiares”, conhecidos como tuyebela ou vandumba entre os povos Luvale, Luchazi e Lunda, no Protetorado. Estes supostamente parecem homens em miniatura e sfio herdados matrilinearmente pelas mulheres. Isso levanta a questao do que se designa por “heranga”. Certamente, entre os Lunda Mwinilunga, descobri que, quando uma muloji (cognato com muloi) morre, diz-se que os seus “familiares” procuram uma das suas parentas matrilineares proximas que esteja residindo perto dela, na época, e se fixam nela, forgando-a no final a deixd-los matar uma das suas parentes matrilineares mais jovens. Os Lunda dizem que quando uma mulher conhecida como sendo uma muloji MOTTE Ras) suas) parentas wn da sua vizinhanga para evitar serem adotadas matrilineares fogem Z » ido dit “heranga” em um sentido diferente Ia. Ora, isto € pelos = 1 an cia da bruxaria entre os Azande. A bruxa Lunda Ti 67 _— ©. a bruxal _ A é “imposta a Cla, ¢ ou Luvale nae may vida. Segundo creng tribal, também, ane eral eat nlc cor sciente do que Ihe aconteccu, mas, por temer - eat vida, nao pode resistir As demandas letais dos seus ina ! ontra os seus parentes. Oo bruxo 7: nde, por ae lado, rr pvar 0s poder mae enlados Posi. Depo disso, pensam os Azanede, : je pode ficar tentado a Ainda, entre oS Lun s tribos Bantu Centro-Ocidentais oria improprio distinguir dos outros agentes do mal, » as mulheres com “familiares” tuyebela, 08 quais se jem” “familiares” a partir de “pogées” ou esculpam mindides. Esses “familiares” deliberadamente los também fazem exigéncias irresistiveis aos scus donos € 0S forgam a matar 0S seus parentes proximos. Assim, a intengdo, a consciéncia ¢ a posse de “familiares” sao comuns a bala; homens e mulheres. Chamar os homens de “feiticeiros” ¢ as mulhe- res de “bruxas” seria usar erroneamente a distingao de Evans. Pritchard, O que é crucial nao é se a bruxaria € “jnerente” ou “herda- da” (que sao dois atributos diferentes, uma vez que uma pessoa pode ser maliciosa, musical ou amistosa de forma inata, sem ter herdado essas capacidades de nenhum dos pais), mas que a bruxaria age dire- tamente através de mecanismos nao-empiricos, a0 passo que a feiticaria opera através da mediacio de encantos, ritos e substancias nocivas. Mesmo esta classificagéo nao serviria para 0 caso de Barotseland. Pois ao mesmo tempo em que se acredita que 0 baloi homem cria os seus “familiares” através da pogio, uma vez criados, “familiares” como 0 ilomba, a cobra invisivel, e nkala, 0 carangue- jo-monstro, tém uma existéncia independente (eles sao vistos como recipientes do princfpio vital dos seus donos, logo se o “familiar” é ferido ou morto, o dono adoece ou morre). Eles matam para os seus donos por meios que podem ser descritos apenas como “nio- empiricos” ou “misticos”, quer dizer, sem a intervengao de pocdes. usa-lo, relacionadas, como “bru acredita que ¢ animem bonecos ho! produzidos ¢ adquirid Examinemos agora como os participantes em Witchcraft and Sorcery in East Africa usam os termos ptesentes no titulo do livro e como 0s oe usaram a distingdo na andlise sociolégica comparati- ea 29), propondo traduzir a palavra Nyoro burogo como = fae que “aqui ... a tradugdo envolve um certo gra que eset ie Burogo (.) € uma técnica; as pessoas 0 fazem por im decidem e ele é aprendido, e nao inato” (EVANS 168 37, p. 29). | pret ors bose ae path também mencio is amadas ee i nterram € comem caine mam “pes. som 108 campos & noite, € causam a morte daquele: eS, dancam 1035 7 uns Nyoro dizem que (...) eles nascem a: S que as véem I z im: 0 aoe no e busezi podem ser aprendidos EVAN Outros dizem q purog' rs . Fi OO ee peice eD, ois 0S adivinhos nunca atribuem doengas ou infortinios 0S basezi, i oro nao tém, assim, bruxas inconscientes e inv ales, Os jydicam aS pessoas “em virtude de uma qualidad Oluntétias que pre- : ype le inerente”, jcantes de magia maléfica aprendem como usé-la, ante - Os seus > tier zendo € (..) 0 fazem de propésito” sabem 0 que oa, p.30). Beattie os chama de feces” ae HARD, te falta de definigao sobre a terminologia, Beidelman oe a epruxas” para pessoas que sao “totalmente conscientes de seus as a yuxaria” (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 64), que ec propésito “por vingan¢a, malevoléncia, inveja, ou desejo de poder”. Esses wahai “tém varias substancias animais e vegetais que acredi- ta-se que produzam abruxaria” (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 65). “A maneira mais simples de tornar-se bruxa é comprar uhai de uma bruxa reconhecida” (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 67). Tal “bru- yaria” nao € herdada, nem € inata, uma vez que para realmente ativa-la oseu dono deve “cometer incesto e/ou matar € devorar um ser huma- no, as vezes mesmo um parente” (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 67). Como os Nyoro, os Kaguru reconhecem bruxas excepcional- mente terriveis (wakindi), sobre as quais se diz que, como as suas similares interlacustres, “dangam nuas na clareira diante da casa da vitima e so necréfagas”. Estas “exercem seus poderes meramente manifestando sua malevoléncia”, mas os adquirem e nao os herdam. Como os basezi Nyoro, essas “bruxas que dangam 4 noite” diferem das outras apenas em grau & nao em género. A primeira vista pareceria que as “pruxas” Mandari, descritas por Buxton, correspondem ao paradigma Zande, Blas trabalham “com um poder hereditério” (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 101), eaque- las que causam dano através do mau-olhado agem diretamente sobre as suas vitimas. Entretanto, fica claro no texto de Buxton (EVANS- PRITCHARD, 1937, p. 100, 106) que oS Mandari acreditam que ss bruxas querem e sabem 0 que estao fazendo. Além disso, one ee formadcs (SVANS-PRITCHARD, 1937, p. 102) 0 0 ses pode ser usada pelas bruxas” sob @ forma de imprecagoes ¢ 109 ' ita-se que as bruxas treinem suas criangas na dat medica Ayan PRITCHARD, 1937, p. 100). : iad notu (1963, P- 220-258), no seu livro sobre os Lele, ¢ no sey 9 tempo todo 0 termo “feiticciros’ ‘Para as pessoas acusa. ws Og scus préximos com doengas ¢ infortdnio. “A feiticaria acdes ¢ uma f6rmula de palavras (...) tinha que ‘ada ¢ usada com 0 consentimento do vendedoy” ser compre 1963, p. 220). Ela é, assim, consciente e voluntaria. (DOUGLAS frida ¢ usada. Acredita-se que, como os baloi de mente ada? feiticciros Lele usem muitos meios para fazer mal 45 and, Sncluindo o uso de “familiares”, de diversas pogies, a fo de raios € tempestades de areia. Como as “bruxas” Kagury os. “feiticeitos” Lele sao necréfagos. Doug! artigo, das de requeria m: ateri ¢ Mandari, ssor Gray escreveu que entre os Mbugwe de Tanganyika acredita-se que as bruxas sao constitucionalmente diferentes das outras pessoas, mas a diferenca é uy trago adquirido em vez de herdado. A arte da bruxa. ria é normalmente transmitida para as criangas pelo paie pela mae, que sio eles prOprios bruxos, em um tito de iniciagdo secreto. (...) Teoricamente, uma pessoa aceita voluntariamente a iniciacao na bruxa- ria (...) Supde-se que as bruxas Mbugwe sio totalmente conscientes na execugao dos seus atos maldosos, e podem assim ser responsabilizadas por qualquer (...) dano que elas possam causar (MIDDLETON; WINTER, 1963, p. 161). O profes Nos termos da definicio de Evans-Pritchard (1937), as “bruxas” Mbugwe so claramente “feiticeiras”. No entanto, em relagao a cet- tos modos de aco usados por elas, como prejudicar através do mau-olhado, as “bruxas” Mbugwe entram na definigao Azande. Conforme avangamos de autor em autor, aumentam as dificuldades encontradas em manter “puro” o modelo bruxa-feiticeiro dos Zande. Como vimos entre os Mbugwe, os meios magicos de provocat dano eee te) e nao biologicamente herdados. Acredita-se que % ne aia a serem bruxas. Parece que a feitigaria, “herdadas” nos stingio Zande, assim como a bruxaria podem sé! grupos de parentesco, No seu artigo sobre bru nar “uma dstinghe¢ xaria Nandi, Huntingford é franco a0 con®’, Mtificial de termos como “bruxa’ ou ‘feiticell® 170 (EVANS-PRITCHARD, 1937, p.175). Os Nandi usam apenas um nome para aqueles que tém o poder de matar ou prejudicar 2s pes- soas através de encantamentos. Este termo, ponik, que ele traduz como “bruxas”, € derivado de pan, um verbo que significa “proferir um encantamento”. “A bruxaria” é “feita através do discurso direto ou do discurso indireto acompanhado de objetos materiais. Entretan- to, logo se torna evidente que os Nandi também reconhecem na do mau-olhado algo que € muito parecido com a ‘bruxaria’ Zande”, pois tem “uma qualidade inata que faz o seu possuidor prejudicar os outros simplesmente olhando para eles, embora possa nio ter nenhum desejo ou intengao de feri-los” (EVANS-PRITCHARD, 1937. , 175). Como o que Hutingford chamou de “bruxaria” é semelhante 4 “feitigaria” Zande, parece que ainda nao saimos da floresta (ou selva) terminoldgica. La Fontaine, no seu ensaio sobre os Gisu de Munt Elgon em Uganda, decidiu, com bastante sensibilidade, referir-se a “todos os ataques sobrenaturais como bruxaria”, limitando 0 termo “feiticaria” aos “poderosos encantamentos que possuem os especialistas em ia” (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 192). Com efeito, nao eae nhuma justificativa na tradicao européia para restringir a bruxaria a poderes misticos inatos ou herdados para fazer o mal. Acredita-se que as bruxas se tornam tais ao compactuarem com o Diabo e ao fazerem ritos e pronunciarem encantamentos para “conjurar” os ou- tros. A sua associac4o com sapos e gatos pretos, que supostamente encarnam os seus deménios “familiares”, deriva do pacto que fize- ram voluntariamente e que nao foi herdado através do parentesco. Os Gusii do sudoeste do Quénia, segundo LeVine, distinguem assim entre a “bruxa” (omorogi) € 0 “feiticeiro” (omonyamosira): A bruxa é“uma pessoa com uma tendéncia consciente e incorrigivel de ma- tar ou aleijar os outros por meios mégicos” (EVANS-PRIT' ‘CHARD, 1937, p. 225), Trata-se de “uma arte adquirida e, embora passada de pais para filhos, outros podem aprendé-la também (EVANS- PRITCHARD, 1937, p. 228). As bruxas operam através oe magico de venenos, de partes de cadaveres retiradas dos da pele de suas vitimas” (EVANS-PRITCHARD, ae P. ee Abruxa atua em segredo, mas 0 fet agicamente abruxa que ticante conhecido, cujas tarefas si0 ~ a lente © sua mili esté prejudicando o seu cliente ¢ proteg ems Enquan 8 mais bruxaria” (EVANS-PRITCHARD, : TA bruxas tendem a ser mulheres, os feiticeiros sio invariavelmente homens, mas existe uma “linha perigosamente ténue” entre a feiticg. tia profissional ¢ a bruxaria (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 236), Acredita-se que nao sao apenas as bruxas que 0s feiticeiros matam, mas também pessoas inocentes que despertaram a sua ira oua sua inveja. O uso que LeVine faz dos termos “bruxa” e “feiticeiro” g parece com o de La Fontaine e tem muitos méritos. Bruxos sio todos aqueles que se acredita que prejudiquem os outros, direta ou indire, tamente, com meios misticos, por meio de técnicas magicas oy poderes inatos, com ou sem a ajuda de espiritos “familiares”, Qs feiticeiros so combatentes profissionais de bruxas. Como se acredj- ta que eles matam outras pessoas, é em larga medida uma questao de perspectiva estrutural se eles também siio vistos como “bruxos” ou nao — os parentes proximos das vitimas os chamariam assim de qual- quer modo. Os feiticeiros nao sao “curandeiros-bruxos”, pois nao realizam ritos ptblicos ou lideram sessoes de caga as bruxas. Eles agem privadamente a pedido dos seus clientes particulares, Pareceria, assim, a partir dos varios usos que discuti,* que existe pouco consenso geral nos critérios que distinguem a feitigaria da bruxaria, Em seu ensaio Witchcraft and Sorcery in East Africa, 0 professor Middleton encontrou algo entre os Lugbara de Uganda que se apro- xima do modelo Zande. “As bruxas tém um poder inerente capaz de prejudicar os outros, enquanto os feiticeiros usam pogées que adqui- rem de outras pessoas.” Entretanto, Lugbara Religion (MIDDLETON, 1960, p. 245) nos ensina que “a habilidade e 0 desejo de envenenar as pessoas através da feitigaria pode ser herdado, especialmente da mae”. Emoutras palavras, a feitigaria é herdada entre os Lugbara, a0 que parece geneticamente. Ela parece também ser inerente, pois con- taram ao professor Middleton sobre uma certa mulher, considerada uma feiticeira, cujo “coragao nao fica com os outros, ele é mau”. Por outro lado, o professor Middleton (1960) nao nos diz se e como a bruxaria é herdada. Na verdade, os proprios Lugbara acham dificil distinguir entre mortes provocadas por bruxaria e por “invocagao de fantasmas” pelos anciaos contra jovens sistematicamente desobe- dientes. Considera-se que ambas sdo metivadas por um sentimento que os Lugbara chamam de ole (MIDDLETON; WINTER, 1963, p. 38; MIDDLETON, 1960, p. 239). No contexto da bruxaria, ole pode ser traduzido como “inveja (um sentimento injustificado) €, no contexto da invocagao de fantasmas, como “indignagio M2 EE wi justificada”. O rico material empirico de Middleton mostra que a i ‘te pode ser interpretada pelas diferentes facgdes como uma coisa ou outra, segundo a perspectiva estrutural dos intérpretes. bém o fato de que tanto “pruxas” quanto “feiticeiros”, segundo uso de Middleton (1960, p. 245), podem ser chamados de oleu (um derivado de ole) torna evidente que o que € considerado como ideo- Jo Lugbara € a crenga na existéncia de Jogicamente importante pe uma ampla classe de pessoas que podem prejudicar outras usando isticos independentemente do motivo. B apenas no mecanismos mi contexto do campo de agéio que as alegacdes do uso deste ou daquele mecanismo sao feitas pelas partes jnteressadas. Uma vez que quase todas as sociedades reconhecem uma tal variedade de técnicas misti- ente errneo impor-lhes uma camente prejudiciais, pode ser realm classificagao dicotémica. Seu nome é legido, sua forma protéica,° ela simples razao de que a maldade individual € caprichosa, 0 agen- te corrosivo em {iltima instancia da estrutura € da racionalidade. E por isto que nao me satisfaz totalmente o termo “¢nversao” usado por Middleton e Winter (1963) como sendo a caracteristica fundamental do comportamento das bruxas. O comportamento das bruxas na maio- ria das sociedades nao € de forma alguma 0 “exato oposto” daquele das outras pessoas, Como afirma Winter (MIDDLETON; WINTER, 1963, p. 292). Com certeza, apresenta algumas caracteristicas “in- vertidas”, mas também tem outras que sao, na verdade, caricaturas do comportamento nortnal. O mundo da bruxaria, tal como surge nas crengas tribais, nao € o mundo “estrutural” invertido ou numa imagem especular. Ele é um mundo de decomposigao, onde tudo que é normal, saudavel e ordenado é reduzido ao caos € a0 “Jodo original”. Ele € “anti”-estrutura € nao estrutura invertida. Winter, no seu ensaio sobre os Amba do oeste de Uganda , considera justa sua andlise das crengas deles na bruxaria em termos que se aproximam do modelo Zande. Nao ha uma correspondéncia completa, pois j4 verno-lo classificando como “pruxas” nao apenas aquelas que nascem como tais, mas também aquelas que ‘foram ini- ciadas na comunidade secreta das bruxas” (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 280). ‘Winter se afasta ainda inais do modelo Zande quando afirma que OS feiticeiros € bruxas Amba tém motivagoes diferentes: feiticeiros t¢m motivos inteligiveis para prejudicar os outros, como inveja, citime © 6dio”, enquanto as bruxas tém uma malignidade imotivada ou matam apenas para satisfazer “seu desejo anormal por mesma mor! O professor 173 carne humana” (EVANS-PRITCHARD, 1937, p. 281). Acredita. que as bruxas Zande, por outro lado, matem devido & inveja ou 6 i A sentimentos que ativam a substancia da bruxaria que existe nelag. Winter ¢ Middleton (1963), os organizadores, talvez estejam mai engajados que os outros participantes no estabelecimento de un clara clivagem dicot6mica entre “bruxaria” e “feiticaria”, pois inten: taram uma andlise estrutural comparativa bastante ambiciogy, tomando esta disting4o como a principal ferramenta conceitual. yr mos, baseando-nos principalmente nos dados extraidos do Préprig simpésio, como as caracterfsticas atribufdas 4 “bruxaria” por um antes sao atribuidas 4 “feiticaria” por outro ~ em resumo, ainda nao existe um uso padronizado destes termos. Nossos organizadores, no entanto, imperturbaveis diante desse mag. no problema, arriscam-se galhardamente e apresentam uma hipétese segundo a qual, entre sociedades que, para fazer acusagGes especifi- cas, utilizam ou bem as crengas na “bruxaria” ou bem as crencas na “feiticaria”, mas nao ambas, ha certas diferengas estruturais signifi. cativas. Crengas em bruxaria sao entdo utilizadas em socie- dades nas quais princfpios de parentesco unilinear so empregados na formacio de grupos residencizis ocais maiores que a unidade doméstica, enquanto crengas em feitigaria tendem a ser similarmente uti- lizadas quando princfpios unilineares néo sao usados assim (MIDDLETON; WINTER, 1963, p. 12). Os Lugbara e os Nyoro sio citados como ilustragoes dessas respecti- vas diferengas, mas duas andorinhas nao fazem verao € dois exemplos no confirmam uma generalizacio. De qualquer modo, nao é de for- ma nenhuma evidente que os Lugbara acusem uns aos outros apenas de bruxaria, j que em Lugbara Religion (MIDDLETON, 1960, Pp. 163, 175, 178) certas pessoas, isto 6, Okavu e Olimani, sao as vezes suspeitas (se nao abertamente acusadas) de serem feiticeiros (nos termos da definig&o de Middleton). Middleton e Winter (1963, p. 15) tem mais consisténcia quando ¢x#& minam as condigées nas quais acusagées especificas de “magi sao feitas contra mulheres e concluem que estas “ten apenas nas sociedades patrilineares caracterizadas pela pres complexos domésticos de propriedade”. Eles basearam esta cones 174 1m um amplo leque de estudos etnogréficos de qualidade ¢ nio sao ¢1 le uma distingéo terminolégica sentiram a necessidade de se valer d arbitraria e artificial. a concluir que uma abordagem holistica ou blemas de definicdo discutidos neste artigo pro- m a pesquisa do estudo do comportamento real | empirico para uma obsessio com 0 arranjo icas nas prateleiras da “bruxaria” ou da Aticas magicas anti-sociais tem uma > ou “atributos” e operam em um sem nimero de “niveis” socioculturais, como mostraram os nossos autores. Uma abordagem que reconhega plenamente o cardter componencial desses fendmenos provavelmente se adaptar4 melhor ao estudo das sociedades africanas como seqiiéncias temporais, nas quais pessoas ¢ grupos se dividem € combinam segundo interesses, valores ¢ quest6es situacionalmente mutaveis, do que aquela tradi- cionalmente usada. Muitas sociedades africanas reconhecem 0 mesmo espectro de component tes: habilidades de prejudicar e matar; “ina- tas”, “adquiridas”, “aprendidas”, » “herdadas”; poder de matar jmediatamente e poder criado por pogdes; 0 uso de “familiares” visi- veis ¢ invisiveis; a introjecio mégica de objetos nos inimigos; magia hostil diurna e noturna; invocagao de fantasmas por meio de uma maldig&o; e assim por diante. No entanto, em diferentes sociedades e, com freqiiéncia, em situagées distin Somos forgados “rotulagéo” dos pro! yavelmente desviariai em um contexto social correto das crengas © prati “feitigaria”. Crengas © pre multiplicidade de “componentes” tas em uma tnica sociedade, estes componentes so diversamente agrupados e separados. Hip6- teses sobre oS seus agrupamentos segregagdes poderao ser encontradas se as sociedades forem analisadas em termos da teoria processual. A andlise componencial em nivel cultural é 0 contraponto natural da dinamica social. NOTAS 1 Publicado pela primeira vez em Africa, XXXIV, N. 4 (outubro, 1964). 2 No original, extended ~ ease method (N. do T]. i “ ites ou armas anim: 3 Definidos por Reynolds (1963) como “agentes ou! vitima € vealizat ‘Miarefa estabelecida pelo Mestre” + Assi ros na literatura desde 2 publicagio de Witcheraft, Oracles and Magic Assim como ow por exemplo a definigio Wo deutor Kuper de bruxaria entre 0s Swart aon, the) cnvolve a “inoculagio” do ‘iho da bruxa com “as pogées especiais da 1947, P- ida de adas capazes de procurar & 10 “treinamento” ideliberado nas questées da bruxaria. bruxaria”, S¢8" : 7 5 Referente a Proteus, divindade greco-romana cuj . uja forma est4 em constant ist Si igh ¢ transformagio, © Eles propdem o termo tanto para “bruxaria” quanto para “feitigatia”, Uma vez folclore inglés um mago é visto comumente coma a equivalente masculine da been ee tum pouco estranho falar de “masas”. FUR, soa REFERENCIAS BLACK, Max. Models and archetypes. In: . Models and metaphors. 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