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2 Setting e contrato terapéutico Aliteratura a respeito do contrato terapéutico nao é consen- sual ou univoca. Existem divergéncias ¢ convergéncias a tes- peito de como devem ser formulados os elementos que cons- tituem esse instrumento (Neubern, 2010; Levisky ¢ Silva, 2010), sendo essas divergéncias mais relativas 4 adequagao do contrato terapeutico As concepgdes epistemolégicas dessas abordagens € aos novos contextos de atuagio do psicotera- peuta que ao entendimento acerca da necessidade do estabe- lecimento do contrato, de sua fungao e da necessidade de monitoré-lo durante 0 processo terapéutico. O exame dos elementos e das condigdes constituintes do contrato terapéutico numa perspectiva gestiltica foi anterior- mente examinado por Lima Filho (1995), Aguiar (2014 Miller-Granzotto e Miiller-Granzotto (2007), Rosa (2008) e D’Acri (2009). A fundamentagao das elaboraces sobre o set- ting e 0 contrato terapéutico, da forma como aqui as apresen- to, tem como referéncia a leitura desses e de outros autores da ‘lini, arelagao psicoterapéutca © o manejo em Gestat-terapia Gestalt-terapia, mas também diz respeito a minha experiéncia clinica de pouco mais de 20 anos, que envolve atividades como psicoterapeuta, supervisor clinico e docente em que os diversos elementos do contrato foram esquadrinhados, con- trastados com a literatura e com a pratica clinica, a fim de que © contraste de figura/fundo permitisse a emergéncia da plura- idade de sentidos. Observo também que utilizarei neste artigo o termo “pa- ciente” para me referir ao usuario do servigo de psicoterapia, assim como indistintamente os termos “terapia” e “psicotera- pia”, a despeito da interminavel polémica que se pode fazer em relago aos diversos sentidos evocados por esses e por ou- tros vocdbulos, em fungio de nao ser este o lécus para reali- zar ¢ aprofundar a discussdo desses sentidos. Aqui me interes- sa identificar 0 usuario e o servigo de psicotcrapia, em que 0 entendimento desse campo de trabalho remete inexoravel- te A clinica, condigao essa vinculada intrinsecamente a na nogao de psicopatologia ¢ de terapéutica clinica. De inicio, o tema pode ser mais bem compreendido me- te 0 entendimento do que é cortrato, a distingao entre 0 contrato terapéutico dos demais contratos ¢ as implicagdes ¢ © levam a também surgir como ferramenta o eracional: indrio do latim ‘a “trato com”. Ou seja, 0 trato que se esta- loce entre duas ou mais pessoas, em determinada ocasiao e vobre determinado objeto, a lan Meyer Frat e Karina Okajima Fukumisu (orgs) Com base nas incontaveis possibilidades de tratos estabe- lecidos entre os seres humanos e até mesmo no uso cotidiano: do termo, pode-se entio falar em miiltiplos entendimentos de contrato, sendo mais frequente seu uso na area juridica € no senso comum, No senso comum seu uso diz respeito a um. acordo (trato com, conforme a etimologia mesma aponta) en- tre duas ou mais pessoas que transferem entre si algumn direito ou surgimento resultante de uma obrigagao. Na area juridica, contrato é efetivamente um negécio jusidico (espécie de ato jurfdico) bilateral que tem por finalidade gerar obrigagSes en- tre as partes. E utilizado por pessoas fisicas e juridicas, reco- nhecidas institucionalmente, para regular uma relagio de obrigatoriedade de direitos e deveres. ‘Aqui nos interessa 0 aclaramento do contrato conforme aparece na Area psicolégica, sobretudo na Gestalt-terapia, mesmo considerando que seja, nesse campo, uma derivagio das nogées ja citadas. Assim, podemos entender que 0 contra- to terapéuticoé também “um acordo entre duas [terapeuta ¢ cliente] ou mais pessoas [gcupo, casal, familia etc,|, para a execugio de alguma coisa [psicoterapia], sob determinadas condigées [cléusulas do contrato|” (D’Acri, 2009, p. 43). Segundo Lima Filho (1995, grifo do autor, p. 77}, um con- trato define-se como “um trato que se faz. com, de onde se de- duziria que cliente e psicoterapeuta estariam definindo em co- rum acordo as regras e responsabilidade recfprocas que irio reger seu trabalho”, Nesse sentido, acredita-se que 0 aspecto diferencial entre contratos na abordagem gestiltica ¢ nas de- mais é a énfase no fazer com o cliente, “em comum acordo”. Verifica-se que sua intengao é regular os direitos e deveres de uma relagao de trabalho ~ no caso, a psicoterapéutica ‘clinica, a relasdo psicoterapéutica eo manejo em Gestaltterapia No entanto, jé é reconhecido pela pratica terapéutica ¢ confirmado pela literatura (Neubern, 2010) que, no caso do contrato em psicoterapia on clinica de forma geral, nao se trata apenas de regular a relagio de trabalho. O contrato te- rapéutico tem duplo dimensionamento, atendendo ao mesmo tempo: 1) & necessidade de regulagdes objetivas do trabalho terapéutico, em que devem ser contempladas as necessidades do terapeutas 2) as necessidades de engajamento tanto de tra- xallo quanto emocional do paciente. Dessa forma, questées referentes & adesao e ao sucesso do tratamento dependem da habilidade no estabelecimento ¢ no manejo do contrato por parte do psicoterapeuta, especificamente por sua construgao ser perpassada pela formulagao do chamado vinculo ~ na lin- suagem gestaltica, concato ou relagdo entre terapeuta e clien- Relagao essa em que aspectos como acolhimento, pertinén- cia das técnicas a problemética apresentada, respeito consideragao efetiva das demandas devem ser positivamente percebidos pelo paciente, sendo fundamentais para seu enga- mento efetivo no processo terapéutico. Some-se a isso que, subjacentes as bases contratuais estabelecidas pelo terapeuta, esto a visio de homem e a de satide psiquica que embasam sua conduta profissional, ¢ ambas se diferenciam em cada mia das abordagens. Nesse sentido, os elementos contratuais, \lém de ter coeréncia interna, devem ser coerentes também com as concepgdes filoséficas ¢ epistemolégicas da aborda- n psicoter4pica em que esto insertos, Essas consideragées so suficientes para particularizar o contrato em psicoterapia, denominando-o entdo ndo apenas contrato, na acepg4o comum do termo, mas de contrato terupéutico, conforme j4 amplamente examinado pela litera- 33 Litlan Meyer Frazdo e Karina Okajima Fukuiitsu (orgs) tura psicolégica. Tal particularidade se traduz sobretudo pela cfetiva tensio, mencionada por Hycner (1995), entre a dic mensio objetiva ¢ subjetiva pertinente a psicoterapia. Segundo esse autor, constitui-se como esséncia da pratica psicoterapéutica a forte evocagao de polatidades opostas, de maneira que muitas vezes se sente que iro dilacerar a sensi bilidade do terapeuta, fazendo que o trabalho de psicoterapia constitua 0 terapeuta no campo vivo de batalha dos parado- xos inerentes a pratica dessa profissio, Tais paradoxos, em que a tensio entre a dimensio objetiva e subjetiva exige inte- gracao equilibrada por parte do psicoterapeuta, fazem do contrato terapéutico outro elemento de integragio paradoxal. Ele deve ter a objetividade pertinente ao método psicoterapi- co e a0 treinamento do terapeuta, ao mesmo tempo que deve considerar as necessidades e ansiedades do humano, colocan- do o terapeuta como um “outro” que se posta diante do abis- mo desnudo da existéncia humana apresentada pelo paciente ~ que o remete, quer queira, quer no, quer identifique, quer Go, a0 abismo colossal de sua propria existéncia. Esta €a missio do contrato terapéutico que o particulari- za diante de todos os outros possiveis contratos celebrados pelo ser humano: deve integcar e manter a objetividade que justifica sua execugao, ao mesmo tempo que considera todos 6s elementos subjetivos que também o justificam, permeiam e constituem, imiscuidos nas diversas necessidades e possibili- dades de aceitacao, confirmagao, refutagio e também sabota- gem de sua prépria celebragao ¢ do processo terapéutico in tencionado, Diferentemente de outros contratos, fazem parte de sua constituigao — explicita para o psicoterapeuta - todos 68 aspectos subjetivos que podem contribuir para seu sucesso ‘clinica, 2 reas psicoterapeutia eo manejo em Gestalt-erapla insucesso, os quais devem ser considerados ¢ integrados no proceso terapéutico. Assim, 0 contrato terapéutico revela a condicio intersub- tiva do psiquismo em que a epistemologia do profissional de psicoterapia se sustenta ¢ se equilibra, ELEMENTOS NORTEADORES DO CONTRATO TERAPEUTICO tindo da especificidade do contrato terapéutico, abordarci os elementos norteadores da psicoterapia, em referéncia a0 que assicamente se chamou de enquadre ou setting terapéutico, Com efeito, aquilo a que se denomina setting ou enquadre dira respeito as diversas dimensdes da ago psicoterdpica, as qut sto explicitas e fundamentais para a efetivagao da psicoterapia. Fago aqui uma mudanca na denominagao por entender ue ha no termo “enquadre” um procedimento de confor- idade de comportamento por parte do cliente, forcando-o a enquadrar-se” passivamente em um modelo psicoterépico, como se nao tivesse opgio de questionar, solicitar esclareci- mentos € mudangas, procedimento do qual a Gestalt-terapia iio compartilha Por certo, elementos cruciais para 0 funcionamento da psicoterapia - como os papéis — ndo podem ser alterados, pois implicam a nao efetivagao do proceso psicoterépico. Porém, tais elementos norteadores, se ndo se configuram como cons- titutivos, so fundamentais para que se efetive a psicoterapia Tendo como fungao gerar a compreensao consciente do mo- mento em que terapeuta e paciente decidem se ¢ como ocor- rerd © processo terapéutico, eles so apresentados ao cliente na forma de contrato terapéutico. 35 in Meyer FreaBo e Karina Okajima Fukunvtsu (orgs) Aqui serio explanados os principais elementos do con- trato, referentes & dimensao temporal (inicio e término, dura- Gio de cada encontro ¢ do tratamento, periodicidade, inter rupgio e férias, bem como faltas e atrasos), & dimensao espacial (0 local ¢ suas caracteristicas) e A dimensao relacional (sigilo, valor dos honorérios, forma de pagamento ¢ sua pe- riodicidade, reajustes ¢ funcionamento do proceso rerapéuti- co). A exposigio dessas dimensdes permite compreender a necessidade de celebragio do contrato terapéutico e de seu sentido, assim como a necessidade de manejo dele ao longo da psicoterapia, Como jé vimos (Neubern, 2010; Lima Filho, 1995), quando nao hé contrato ou quando este nao é suficien- temente esclarecido, surgem implicagdes negativas, como au- séncia de adesio e/ou abandono da psicoterapia e confusdes sobre papéis ¢ fungGes, além da dificuldade de wtilizar mani- festagdes sobre elementos contratuais para promover a am- pliagao da awareness do paciente. Uma observacio importante diz respeito ao fato de que, no momento de realizagao do contrato, este tem uma dimen- sio mais objetiva c norteadora da relagio, devendo assim ser tratado — sobretudo no que se refere as necessidades do tera- peuta de caracterizar o campo psicoterdpico ¢ suas condiges de trabalho. No entanto, ao longo do processo terapéutico, a grande maioria das manifestagdes sobre 0 contrato ~ senio todas ~ estard carregada da dimensao relacional, ou seja, do padrao relacional do paciente e da forma como ele estabelece relagio com 0 mundo e, em consequéncia, com o terapeuta, torando entio legitimas e particulares as ocorréncias relati- vas a tempo e espago. Dessa maneira, tais manifestagdes deve- Go ser entendidas de acordo tanto com a histéria de vida do 36 clinica a rlagio psicoterapés cliente quanto com a histéria ou 0 teor da relagio cliente- -terapeuta, colocando-se tais conexdes & disposigao do cliente quando de sua conveniéncia. E claro que manifestagdes relacionais também acontecem no momento de estabelecer o contrato e podem se imiscuir n dimensdo temporal ow espacial, como o sentimento, por parte do paciente, de que os valores cobrados pelo terapeuta so injustos ou deveriam ser modificados como uma forma de be- nevoléncia para consigo, mesmo tendo ele condigdes de arcar com 0s valores solicitados. Tais manifestagdes, medida que possam ser expressas ou percebidas, devem ser checadas em sua dimensio relacional e também colocadas a disposigio do paciente, mesmo que ocorram no momento de estabeleci- mento do contrato. Outro aspecto a ser mencionado é que aqui estamos fa- lando de pacientes organizados, sem transtornos mentais gra- ves tais que necessitem de mediagio institucional ou familiar. Se assim o fosse, 0 teor do contrato seria modificado substan- cialmente. Haveria, assim, duas fases distintas do processo: uma fase abrangendo as questdes formais, com a familia ou a instituicao; e outra com o paciente, abarcando questdes for- mais ¢ relacionai Na dimensao temporal esto os elementos que dizem res peito ao tempo cronolégico: inicio, duracao e término do pro- cesso terapeutico periodicidade e duragdo dos encontros, assim como as diversas formas de interrupgio que podem ocorrer durante o tratamento, Nunca é demais lembrar que 0 ato hummano contém a his- toricidade do agente (Rehfeld, 1992). Assim, pasado, presen- te ¢ futuro (histéria) esto condensados em cada uma das re- 37 lagdes estabelecidas: ser é relacionar-se, e quando ha relagao hg tempo. Nao o tempo cronolégica ¢ vulgarmente tomado, mas como horizonte possivel de toda e qualquer compreensio do ser (Heidegger, 1993). Embora se constituam como efeti- vamente distintos 08 projetos filos6ficos e psicoldgicos, inex- tricdveis, clegem a compreensio como ato fundamental do empreendimento psicoterdpico. Assim, em relagio ao inicio do processo terapéutico, cabe Perguntar quando cle comega e, portanto, quando deve ser ce- Iebrado o contrato terapéutico, visto que ele nao pode ser fir mado de mancira imediata, como se fosse um item automatico a0 surgimento do paciente. Ao contrario, demanda condigdes suficientes para sua ocorréncia, Como vimos no Capitulo 1, 0 exame do que o paciente busca quando procura a psicoterapia pode contribuir par esse entendimento, posto que para o paciente leigo em psico- logia e psicoterapia a busca de ajuda pode ser apenas uma sondagem; derivar de problemas em determinada Area de sua ida que 6 fagam procurar orientacao; advir de um momento de crise que demanda alguma forma de altvio (conselhos, orientagdes, remédios) para essa condic&o. Talvez 0 paciente conelua que precisa reestruturar aspectos relacionais de sua vida, a0 que a psicoterapia atende como modo privilegiado de acesso a essa mudanga. Dado o desconhecimento da populagdo sobre a atuagao do psicélogo ¢ suas especialidades, so menos frequentes as buscas devido a altima condi¢do mencionada, mas pode-se concluir que 0 paciente nem sempre tem certeza ou esti deci- dido acerca do inicio do processo terapéutico ~ sobretudo se nunca se submeteu ao processo psicoterapico, desconhece 0 sicoterapeutica @ o manejo em Gestalt-terapa funcionamento da psicoterapia ¢ ignora a necessidade de seu ‘empenho pessoal. Logo, a busca do processo nao se constitu Por parte do paciente no inicio do processo psicoterapéutico, podendo ter um carater muito mais investigativo e de necessi- dade de alivio que de empenho em mudar. Faz parte do trabalho do terapeuta distinguir nesse movi- mento aquilo que é passivel de ser investigado e explicitado, além de estabelecer uma impressio diagnéstica sobre a expo- ico do paciente e de sua demanda, e sobre a concordéncia dele em iniciar a psicotera Dessa maneita, considero que o inicio do proceso psicote- rapéutico seja constituido por varios momentos a que nio se pode submeté-lo rigidamente, mas passiveis de ser identificados: * Exposigao e investigacao — implica exposigao e conhe- cimento miituos. © terapeuta se deixa sentir ¢ ver pelo paciente, ao mesmo tempo que este sente, investiga e es- tabelece uma compreensio de sua queixa, culminando na compreensio diagnéstica, De forma mais ctiteriosa, 0 te- rapeuta yerifica a viabilidade do proceso terapéntico com base na qualidade do contato, ow scja, se este é suficientemente positivo para dar inicio a um processo terapéutico e se as demandas apresentadas pelo paciente nserem-se em sua competéneia clinica. * Exposicio da compreensao psicodiagnéstica — consiste nna tradugo para o paciente de sua condigao em linguage clara e acessivel, de forma que ele perceba positivamente a existéncia de respeito © consideragio cfetiva acerca das ss demandas, a0 mesmo tempo que o terapeuta solicita confirmagio acerca da compreensio exposta, 39 n Mayer Frazlo Karina Okajima Fukumitsu (orgs) * Acordo terapéutico ~ zefere-se A declaragao do tera- peuta de sua intengio ¢ possibilidade de ajudar o pacien- te, quando isso for efetivamente verdadeiro, com a inda- gacio sobre o interesse do paciente no inicio ou na continuidade da psicoterapia. Havendo concordancia, estio estabelecidas as condigdes para a celebragio do contrato terapeutico. + Contrato terapéutico — corresponde a fase final do ini cio da psicoterapia e 3 inicial do processo psicoterspico. Formalmente anunciado e celebrado, o contrato permane- ce dependente do cumprimento das condigdes anteriores. Segundo a visio gestaltica do processo terapéutico, como uma miisica que comporta diversos tons ou estilos, a ordem € a profundidade dessas fases podem variar, devendo ser nota- das pelo psicoterapeuta, com o consequente registro de que 0 paciente: 1) sentiu-se considerado e respeitados 2) entende que 0 terapeuta compreende sua queixa e sente-se em condi Ses de ajudé-lo; 3) concorda e, com o terapeuta, quer a rea- lizagio da psicoterapia. Assim, respondendo & pergunta inicial acerca do momen- to de realizacao do contrato terapéutico, em geral é necessiria mais de uma sesso de psicoterapia a fim de que esses elemen tos sejam claramente identificados pelo psicoterapeuta. A quantidade nao é fixa, pois depende da vivéncia relativa a0 contato com cada paciente, mas posso afirmar que a realiza- gio do contrato é posterior ao acordo terapéutico, em que se podem gastar até quatro sessdes. Na minha experiéncia, con- tratos realizados na primeira sesso sio prematuros e colo- cam em risco 0 inicio do processo terapéutico pelos seguintes 40 iia, arelacdo psicoteraputica eo manejo em Gestl-terapia motivos: 0 paciente talvez ainda nao tenha se decidido pelo inicio do processo; a primeira sesso pode nao ter sido sufi- ciente para que 0 paciente se sinta incluido e confirmado (Bu- ber); a compreensio diagnéstica talvez ainda no tenha sido estabelecida pelo psicoterapeuta, est pouco clara ow necessi- ta de melhor consideragiio; por motivos diversos, o rerapeuta precisa de mais informages objetivas que ndo foram forneci- das na primeira sesso. ‘As sess6es de psicoterapia duram em geral 50 minutos no caso de atendimento individual ¢ 90 minutos no caso de aten- dimento a grupos, casais e familias. Essa delimiagao atende & necessidade profissional de estabelecer quantos pacientes 0 te- rapeuta pode atender em um turno de trabalho e & demarcagao de intervalos regulares para arendimento a outras necessidades ppessoais. Fsse tempo € considerado suficiente para abordar de- terminado tema, examiné-lo de forma minuciosa e fazer corre lagGes € intervencées técnicas possiveis © necessdrias. Caso 0 terapeuta perceba que 0 paciente tem necessidade de diminuir ‘ow estender 0 tempo, precisa analisar as dimensdes objetivas disso e seus efeitos no processo terapéutico. Além da pertinén- cia técnica, o tempo da psicoterapia deve fornecer condigdes de disponibilidade do psicoterapeuta, que delimitagées longas ou superiores a 50 minutos podem nao propiciat Cumpre lembrar que as atuagies de Perls com grupos ti- nham caréter mais demonstrativo que de psicoterapia proces- sual (no A toa se denominavam workshops}. Além disso, 0 campo da psicoterapia estava ainda em construcio. Hoje, a de- limitagao temporal do trabalho com grupos atende a critérios especificos (Kaplan e Sadock, 1996), relativos & heterogenci- dade dos participantes, das psicopatologias ¢ ao scu contexto de a Lilian Meyer Frazdo e Karina Okajima Fukumiteu (orgs) insergéo. Porém, estando o psicoterapeuta ciente das diversas intercorréncias relativas a esses aspectos, pode optar pelo encer ramento antes do fim cronolégico da sesso, desde que disposto a entrar no terreno pantanoso que isso pode ocasionar. Da mesma forma, sessdes predeterminadas com duracio inferior a 50 minutos podem nao permitir intervengées satis- fatorias concernentes ao surgimento de um tema (Gestalt), a seu exame € pos ressignificaciio. Embora o tempo efetivo sempre seja 0 do vivido, a cronologia tem carter organiza- dor, de regulagao da ansiedade e de acolhimento da angistia. A angtistia no atende a relégios, mas saber que alguém dis- ponibiliza um tempo em sua agenda para o acolhimento ton se, por si mesmo, um alivio, até mesmo para aquelas, igia prov Discutivel — seno suspeita — é a pratica instituida por angistias que a propria cron a. planos de satide que delimitam aprioristicamente o tempo da sessio psicoterépica em 20 a 30 minutos, tentando assim jus- tificar: os bi issimos valores pagos ao profissional convenia- do; a necessidade de imposigio de eficdcia psicorer4pica, im- pelindo os psicoterapeutas a adogio de abordagens ¢ técnicas que aspiram a resultados no menor tempo possivel; a necessi- dade de atendimento a0 maior niimero possivel de convent dos, desconsiderando a qualidade do servico correlato; 0 mero atendimento as leis gover mentais que os obrigam a custear servigos de saiide que no absolutamente médicos. Quanto ao agendamento e & periodicidade das sessGes, recomendo que sejam mantidos 0 mais estéveis possivel, tan- to em relagio A fixagio do hordrio quanto ao niimero de ses- s6es semanais. A estabilidade atende a um cardter objetivo operacional ~ possibilitar aos pacientes organizar a agenda a ealago psicaterapeutia eo mangjo em Gestal serindo 0 proceso psicoterépico na rotina ~ e a um carater ersubjetivo ~ fornecer ao pacicnte relativa certeza de aco- imento, de trabalho terapéutico e de organizacdo emocio- |, confirmando a compreensio de um psiquismo que se rea- iza € se sustenta na relagao com o mundo. A estabilidade de indo e a psiquica no so meras dimensGes didéticas, visto nessa compreensio se constituem mutuamente se re- ‘oalimentam, tornando-se assim indissociaveis. Por certo, dependendo da necessidade, equacionada pela gravidade do caso, por fatores emergenciais tais como crises ou por outros acontecimentos importantes, a frequéncia das sessdes (semanall e sua durago (50 minutos) costumeiramen te delimitada pode ser alterada para duas ow trés vezes sema- is ou até mesmo inicialmente estabelecida nessas condi ‘em que se pesem também fatores financeiros ¢ de tempo, por parte do paciente. De uma perspectiva menos cronolégica e mais vivencial, diferentemente de encontros amorosos ou por amizade, a relagdo terapéurica é marcada pela finitude (Bucher, 1989, p. 155) - ou, numa pardfrase da existéncia humana, é uma relago que intenciona o fim como corolirio de seu aconteci mento, Nao tem na morte o indicativo de sua interrupcio, como poderia ser em relagdes de amizade ou amorosas, mas a constatagao do bem-estar alcangado como indicativo da deci- so de rompimento ou separagio. Ou seja, é marcada pelo fim antecipado como prémio relativo ao alcance dos cialmente propostos, tema que seré explanado sobre términos ¢ interrupgdes neste mesmo volume. A liberdade para interromper a psicoterapia antes da consecucao de seus objetivos precisa ser contratualmente rea- Lilian Meyer Frazdo e Karina Okajima Fulumitsu (ores) firmada para o paciente como um elemento possivel e real, a despeito da discordancia ou concordancia do terapeuta. A dimensao espacial diz. respeito ao local ¢ a suas carac- teristicas, que devem ser relativamente estveis ou fixas ~ as sess6es ocorrem sempre no mesmo local geogrifico e na mes- ma sala, Tal estabilidade é fundamentada numa fungao tanto operacional quanto psiquica. Também é importante informar © paciente, no momento da celebragao do contrato, que 0 consultério é o local privilegiado para abordar quaisquer questdes relativas ao processo terapéutico do paciente, ressaltando-se que outros espagos nao sio prioritérios, salvo questdes especiais, as quais precisam ainda ser consideradas quanto a seus efeitos na relacio terapéutica e no processo te- rapéutico do paciente. A dimensio relacional diz respeito a sigilo, valor dos ho- norarios, forma de pagamento ¢ sua periodicidade, reajustes, nao comparecimento as sessdes ¢ atrasos, bem como ao fun- cionamento propriamente dito do proceso terapéutico. A Gestalt-terapia é uma abordagem que tem no contato um de seus principais conceitos; na relagao dialégica buberia- na a tradugao dessa nocio ¢ sua operacionalizacao para 0 processo terapéutico; na fenomenologia e no existencialismo a fundamentagio da nogao dialdgica, de homem e de mundo (Karwowski, 2005). Dessa maneira, instaura a troca, a intel dependéncia € 0 entre como elementos primordiais para 0 desdobramento da psicoterapia. Sendo o contrato também uma forma de relagao, um tipo de contato, manifestagées de ajustamento funcionais e disfuncionais esto presentes na ce- lebragéo deste (Rosa, 2008), sendo possivel verificar a predo- mindncia das formas de contato: confluéncia, introjegio, pro- 44 ria, arelagso psicoterapeutica e o manejo em Gestal-terapia jegdo, retroflexdo, deflexdo e egotismo. A verificagao de tais clementos procede a necessidade de checar até que ponto eles contribuem para um contato de qualidade ou aparecem como formas de evitagdo deste. No segundo caso, © apontamento desse procedimento é facultado ao psicoterapenta, ¢ 0 uso de clementos do contrato como forma de minimizar a ansiedade é bem-vindo. Também no contrato terapéutico deve ser assegurado ao paciente o sigilo profissional que resguarda a si e ao seu pro- cesso terapéutico contra qualquer tipo de exposigao, seja ela a familiares, interessados ou nio no bem-estar do paciente (pais, irmaos, cnjuges e outros) ou a instituigdes. Garante-se ainda que as informagées obtidas no sejam utilizadas em pesquisas ¢ estudos teéricos. Nesses casos, 0 uso das informa- ges deve ser expressamente consentido pelo paciente por meio de autorizagdes escritas. Nos casos em que o paciente corre algum tipo de risco grave, faz-se necessirio contato com os familiares e/ou responsdveis, ¢ também nessa situacdo, sempre que possivel, o paciente deve dar seu consentimento. Além do sigilo e entre os elementos relacionais menciona- dos esto os honoririos, item que inclui valor de cada ses- sio, a periodicidade do pagamento (se antes ou depois de cada sesso; se quinzenal ou mensal) e se ele sera realizado diretamente ao profissional ow & secretéria, quando houver. Esse item do contrato terapéutico parece gerar angistia sobretudo no terapeuta iniciante, levando a uma série de difi- culdades — tanto no estabelecimento dos valores como na abordagem referente a valores nao pagos ou “esquecidos”, a seus reajustes ou quaisquer outras manifestagées que The se- jam concernentes. Na maioria das vezes, a inseguranca do te- 45 Lilian Meyer Fra2o e Karina Okajima Fukuritsu (orgs) rapeuta em estabelecer e/ou abordar questdes relativas a ho- norarios esté ligada ao entendimento de sua atividade como psicoterapeuta, a forma como valoriza e entende que sera va- lorizado pelo outro, além da prépria nogio de merecimento em fungao do trabalho realizado. E importante ressaltar que a psicoterapia 6 e precisa ser entendida como profissio, mesmo que nio conste da relagio de profissdes brasileiras. Isso significa que o terapeuta deve intencionar viver dessa profissio ¢ também realizar-se, tanto vocacional como economicamente. Como em qualquer outra profissio liberal, o valor dos servigos oferecidos em psicotera- pia precisa ser acordado entre terapeuta ¢ paciente, sendo fungio do profissional deliberar o valor que quer receber por seu tempo de trabalho e sua flexibilidade para o fornecimento de desconto ou de negociagiio, quando for esse 0 caso. E importante que o terapenta tenha bem estabelecidos para si proprio 0 valor que considera adequado ao seu trabalho ea margem de negociagio com o cliente, ou seja, se fara ou nao um desconto ou procederé & negociagao de valo- res, Deve também saber que fornecer desconto significa dimi nuir uma quantia do montante, a fim de oferecer alguma faci- lidade ao paciente. Por outro lado, o termo “negociar”, comumente utilizado como sindnimo de desconto em psicote- rapia, implica um tipo de relagao na qual tanto paciente como terapeuta tém perdas e ganhos, de forma que se chegue a uma condigio em que ambos perderam um pouco para que ambos possam também ganhar juntos. £ fundamental também con- siderar os efeitos dessa pratica no proceso terapéutico. Evidentemente, a negociagao tem implicagdes na relagio terapéutica. Nela, nunca 6 demais lembrar, o dinheiro tem 48 |Aclinia, a relagso psicoterapautica¢ 0 manejo em Gestalt-terapia valor simbélico e representa, ao mesmo tempo: a forma de retribuigio do paciente para com o servigo prestado pelo te- rapeuta; a necessidade de obtenco de ganhos por parte des- te; a forma como o paciente estabelece suas trocas, se relacio: na com 0 poder; a valorizagao efetiva de si mesmo ¢ do processo terapéutico. Assim, descontos, negociacdes, auséncia de pagamentos ¢ outras intercorréncias econdmicas precisam ser confrontados com a simbologia do dinheiro ¢ traduvidos para o paciente quando as condigdes técnicas assim o permitirem. Quanto as formas de pagamento, variam de terapeuta para terapeuta, As mais conhecidas so as que acordam o pa- gamento em dinheiro ou cheques hé também os que optam por pagamento com boleto bancério. O recebimento apos cada sesso, seja em espécie seja em cheque, permite a0 pro- fissional equacionar melhor 0 pagamento de seus compromis- sos ¢ seu faturamento, ao passo que a op¢ao pelo boleto ban- cétio implica a possibilidade de aplicagao de multa e cobranga de juros, entendendo que esses procedimentos possam objeti- vamente desencorajar os atrasos ou a auséncia de pagamento. No entanto, o problema nao é constatado de imediato, o que pode prejudicar a compreensao do paciente sobre as jé men- cionadas questdes simbélicas ligadas ao dinheiro. Embora se possa afirmar que 0 pagamento no realizado diretamente ao profissional implique dificuldades — niio por parte do paciente, mas do psicoterapeuta ~ de lidar com a dimensio representativa do dinheiro, revelando assim aspec- tos neuréticos seus (Lima Filho, 1995), entendo que tal fato ‘cm muitas cigcunstdncias seja verdadeiro, mas chamo a aten- Gio para que nao seja rigidamente compreendido, sob o pre- a in Meyer Frazdo © Karina Okajima Fukumitsu (orgs) juizo de ferir a flexibilidade caracteristica da Gestalt-terapia. © acompanhamento cuidadoso dos pagamentos por parte do terapeuta, sua confrontagéo com a dinamica relacional do pa- ciente ¢ a opedo pela abordagem dessas questées constituem também carefa do psicoterapeura. Se 0 processo terapéutico nao for de curta duragao (Ri- beiro, 19995 Pinto, 2009), ou seja, se nao estiver inserto em uma modalidade de atendimento terapéutico que restrinja 0 tempo de duragdo da psicoterapia, pode perpassar um perfo- do de tempo superior a um ano ou atingir perfodos coinciden- tes com o de férias tanto do terapeuta quanto do paciente. No caso de coincidéncia de férias, ambos acordam um breve periodo de interrupeao do processo, raramente superior 4 30 dias. Periodos superiores a esse deverio ter preparagio minuciosa antes da interrupgao, pois seus efeitos no proceso terapéutico sero significativos, devendo sua possibilidade ser sempre mencionada no momento do contrato. £ importante para psicoterapeuta adotar um indice de reajuste realista e comunicé-lo ao paciente no ato do contrato terapéutico, a fim de evitar surpresas ou insatisfagdes quando se fizcrem necessirios, Em geral, 0 reajuste € vinculado ao fndice Nacional de Pregos ao Consumidor (INPC), a variagao inflacionaria ou a outro indice semelhante ¢ ndo abusivo. Em relagao as faltas ocorridas dentro do processo tera- péutico, farei a seguir uma consideragio mais detalhada pelo fato de elas terem efcitos relacionais, temporais e econdmicos, Raramente antes do estabelecimento do contrato tera- peutico o paciente tem consciéncia da psicoterapia como um proceso global, com elementos inter-relacionados. Assim, pode entender que: a) se no esteve presente, nao utilizou 0 48 ‘clinica, arelaedo psicaterapéutia eo manejo‘em Gestalt-terania setvigo de psicoterapia ¢, portanto, nao precisa pagar pela sesso; b) e dessa maneira pode faltar pelo menos uma vez por més, manipulando assim o preco cobrado pelo terapeuta, pois estaria sempre pagando menos; c) pode avisar com antecedéncia, ¢ entio se desobriga economicamente; d) se houve motivo justo para faltar, também nio precisa pagat, afinal a auséncia nao foi voluntaria, mas por elementos alheios & sua vontade. Em minke prética clinica, no momento do contrato tera- péutico e na referéncia As faltas, deixo claro para 0 paciente que 0 nao comparecimento, por qualquer motivo alegado, considerado falta e deverd ser pago. Esse procedimento esta alicergado no fato de que a simbologia econdmica diz respeito a0 reconhecimento do processo psicoterapico, bem como a sua valorizagio e ao comprometimento com ele, além do re- conhecimento das necessidades do psicoterapenta de manter sua atividade e honrar seus compromissos financeiros. Faltas que no so cobradas pelo terapeuta podem, even- tualmente, implicar 0 descompromisso do paciente com a psi- coterapia. Este pode achar que se trata de um proceso pontual, ignorando seu cardter amplo. Além disso, a dficuldade de defi- nir 0 que sejam “motivos justos” para a falta ¢ outro problema. £ importante distinguir sesso desmarcada de falta & ses- sio. Considero falta qualquer no comparecimento que néo scja avisado ou seja avisado com pouca antecedéncia. A des- marcagao ocorre quando o paciente avisa sobre seu nao com- parecimento, devendo ser estabelecidos critérios para esse procedimento ~ por exemplo, comunicasao com pelo menos cinco horas de antecedéncia (D’Acri, 2009). Nessas situagbes, pode-se disponibilizar outro hordrio para 0 cliente, a9 Lian Meyer Frazt0 e Karina Okajima Fukuritsu (orgs) ressaltando-se que tal procedimento apenas seré adotado se for possivel dentro da agenda do terapeuta. Caso nao seja vigvel no periodo de 15 dias seguintes & desmarcagio, ela seré configurada como falta e nao seré reposta. Em minha pratica, © pagamento da sessiio nao fica condicionado a reposigio: deve ser feito na sesso regular seguinte, caso ela ocorra de- pois da data de reposigao prevista, ou no momento da reposi- Go, caso seja antes da sessio regular. Se houver atrasos no inicio da sesso ~ que com certeza acontecerao -, em geral se procede assim: se forem significa- tivos, os atrasos do terapeuta so repostos e, se necessario, computados para uma sesso extra, a fim de nio ferit 0 hordrio do paciente seguinte. Os atrasos do paciente normal- mente no sdo repostos, mesmo com aviso, visto que o tera- peuta estava a sua disposicéo sem ocupar o horario, £ sempre bom lembrar que o paciente paga ao terapeuta por seu tempo, nao pelo seu servigo ou por qualquer tipo de atividade que se imagine pertinente & psicoterapia. Por seu carter tinico, a psicoterapia foge a precificagdo dos bencfi- cios pretendidos ou obtidos. Ainda assim, é muito importan- te lembrar a flexibilizagdo do terapeuta em as vezes estender um pouco mais seu tempo quando o paciente se atrasa inin tencionalmente e quando ha disponibilidade hordria de sua parte para tanto. Outra questéo aludida no contrato diz respeito aos pa- péis no proceso psicoterapico. Frequentemente abordada como assimetria terapéutica (Bucher, 1989), trata-se da dife- renga, condicao imprescindivel para 0 contato. Em Gestalt -terapia, a esséncia da relagio é a separagao (Rchfeld, 1992). Ou seja, é condigao para um contato efetivo, legitimo e preg- ‘clinica, a rlacao psicoterapéutica eo manejo em Gestlt-terapia nante que cada um dos envolvidos na relagéo saiba quem é individualmente e como se faz a partir dessa e nessa relagio em curso. A consciéncia da separagdo se da pela consciéncia da diferenca: a diferenga de quem busca ajuda e de quem vai ajudar; da prioridade da exposigdo no encontro; da apropria- cio e do uso de técnicas e saberes; da permissio para a inter- vengdo e de quem intervém. £ papel do terapeuta (Fagan ¢ Shepherd, 1973) a intervengao, a condugio do proceso, a espera paciente ¢ firme pela exposigio do paciente e de seu mundo, a aceitagao de uma autorizagio para mudancas que 0 paciente atribui ao terapeuta, com a sistemética devolugao gentil dessa autoridade ao paciente. Embora se possam consi- derar esses aspectos 6bvios, eles precisam ser abordados no contrato a fim de delimitar a diferenga e, jd em si mesmos, como intervengio terapéutica. Caso no se consiga a constatagao dessa diferenga, men- cionada no contrato terapéutico ¢ reafirmada vivencialmente durante a psicoterapia, paciente e terapeuta se perdero numa relagao confluente, talvez prazerosa, talvez nao, mas que esca- pard aos propésitos psicoterdpicos, assemelhando-se a rela- ges do lugar comum, em que o compromisso de ajuda ¢ mu- danga nao seré considerado. Uma diltima consideragao faz-se importante no que se re- fere & validade legal do contrato psicoterépico, visto ser ele realizado de forma verbal. A esse respeito, D’Acri (2009) apresenta 0 contrato terapéutico como um mecanismo de au- torregulagio do psicoterapeuta, ou seja, que deve atender a suas necessidades. Assim, em fung&o de sua histéria de vida, ¢ da solicitagao de determinado paciente, essa autora passa a fazer 0 contrato escrito, que é lido e assinado por ambos. Lian Meyer Frazso e Karina Okajima Fukmiteu (orgs) Tradicionalmente em psicoterapia os contratos so ver= bais e no escritos, embora nao haja impeditivos para sua realizagao formal. Alguns psicoterapeutas que trabalham com ctiangas tém 0 costume de assiné-lo com os pais, a fim de que eles tenham maior ciéncia da estrutura do processo terapéuti co (Aguiar, 2014), Porém, muitos profissionais ficam em diivi- da ¢ podem até sentir-se inseguros, diante de pacientes com formagio em Direito, sobre o valor juridico do contrato tera- péutico. A esse respeito nos esclareee Ramos (2010) 0 Cédigo ci vontade nao depender de for prevé no art. 107 que a validade da declaragao de especial, exceto quando a uma Lei exigit. Portanto, é livre a forma [com] que se faz um negécio is 0 contrato verbal em sua esséncia, que po- dra ser demonstrado pelo simples aceite ou manifestagao da von- tade das partes. O contrato escrito ismo) busca trazer se seja licito e fade das par- A setiedade do contrato nao é conferida pelo fato de ser formal ou verbal, mas por ser conjuntamente aceito ¢ adota- do de forma livre e igualitaria, sem que nenhuma das partes sinta-se ludibriada ou obrigada, Manifestagdes rel bre o contrato terapéutico acontecerdo independentemente de ele ter sido formal ou verbal, e devem ser expostas ao pacien- te como elemento esclarecedor sobre seu funcionamento ¢ como promotor de awareness. erapia Considero que contestagdes ou manifestagdes negativas sobre a nao formalidade do contrato terapeutico precisam ser compreendidas & luz da hist6ria do paciente, de seu com- ‘ometimento mental e da relago que estabelece com o psi- coterapeuta, a fim de que seu sentido seja esclarecido e inse- urangas ou auséncia de confianga, checadas, Talvez sua -orréncia indique a necessidade de exame mais aprofundado a qualidade do contato e de sua suficiéncia para inicio do abalho psicoterapico FERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ian, L. Gestaltterapia com cf MULLeR-Granzorro, M. J terspia. Sho Pau Nevaray, M.S. ep ‘Acesso cm: 2 dea, 2014

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