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ao? Rhy a VY YV VV VV VV Y Dh UN PONT, a a Ri. ps a Leap WAS li ~~ Sa ‘ on CK \ ZA CNY a CAAA AY AY PO a ~ MEMORIA E PATRIMONIO ENSAIOS CONTEMPORANEOS Prec REGINA ABREU * MARIO CHAGAS i Peay A arena do patriménio cultural no Brasil esta Dien RU Menu: cet feet ei tec Saeed ee Oe re tere nc moe OMSL TT CSCO Td Perea eres ote ge rs eae 200 e cal - igrejas, fortes, pontes, chafarizes, pré- Creetiecnfuleettenremi ieceaet tet Fea eeeetne Mice Cg eeemen steerer Utero Re Terto Leyes OST MeL ee onto 2000, que instituiu 0 inventario e o registro Creare emer ee Murr Reem rau Seon cei Mic Mt ee ceo cou a alteragdo radical da antiga corelacao evra Lette Coe lane tare eM Url) ite-To ieee Waet siete eect Peat semicon sociedade civil (detentores de saberes tradi- cionaise locais) associados a profissionais no reuse eusnensreCORG entice desaberes especificos) poem em marcha um Morente ore ites irene tribuindo social e politicamente para a cons- truco de um acervo amplo e diversificado de expressées culturais em diferentes dreas: linguas, festas, rituais, danas, lendas, mitos, De eee Coe aay ace ecm Pe rea ere eee ee eae Pome uexeU Me Mae ce ate nham um novo cenario. Essa redefinicao pas. sa inclusive pelo campo do biopatriménio Pater Unease tcom ine en Counts olhares para a relagao entre natureza e cul- ura, € facilitando a compreensiio da nogao Pee Cane ty etn r Tine Renter Cen eea rae Uru COMiaeaeNCMe ny 0) tae Tes Nate eee ooo Liat Ue atle Cees Lao Sn aaeie Tee uso cao Fou Eo Coaeectte eee seal eC tanto, nunca se arquivou tanto, nunca tantos Pree Mie rio ECU CUM Mu Petuiulon tenures Dre an eee eo ou ce eee Tura CCN Nok ite Pt GomecU eGR iceiecucnant oa Eres erence oe etary CeCe Memeo ees mem Core PREC een COR Car Moers Pee tere) REGINA ABREU & professora do Programa de Pés- Rete te OR ue rer koe ct to de Filosofia Ciéncias Sociais da Universidade Fee Sn a eum Mon doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pés-Graduacio em Antropolagia Social (PPC Centos ole ene Cir ir RoR de Janeiro (UFRJ). RCS Ne eRe ne ma en ae fete eet a uc Sora Sr Ene eo a oe A lees EC ico CO ee Ree Re ee (UniRio), doutor pelo Programa de Pés-Graduacao em Ciéncias Sociais da Universidade do Estado do ome ue en Ores ee ccm en Dore eee NM estene aeons one Ppa coirek eu ciee Ms cater Tc MEMORIA E PATRIMONIO ENSAIOS CONTEMPORANEOS Meméria e patriménio: ensaios contemportieos Regina Abreu; Mario Chagas (orgs.) 1, ed. (2003). Rio de Janeiro: DP&A © Lamparina editora Revisaio Michelle Strzoda (1. ed.) Angelo Lessa (2. ed.) Projeto grdj Priscila Cardoso co, diagramucito ¢ capa Imagem da capa Pintura corporal ¢ arte gréfica wajapi. Seni Wajapi/20c0. texto deste livro foi adaptado ao Acordo Ortogrdfico da Lingua Portuguesa, assinado em 1990, que comecou a vigorar em + de janeiro de 209. Proibida a reprodugao, total ou parcial, por qualquer meio ou processo, seja reprogra- fico, fotografico, grafico, microfilmagem etc. Estas proibicgdes aplicam-se também as caracteristicas grdficas e/ou editoriais. A violacao dos direitos autorais é punivel co- mo crime (Cédigo Penal, art. 84 ¢ §§; Lei 6.805/80), com busea, apreensfo e inde- nizagées diversas (Lei 9.610/98 ~ Lei dos Direitos Autorais ~ arts. 122, 123, 124 € 126) Catalogagao-na-fonte do Sindicato Nacional dos Editores de Livros M487 aed Memoria e patrimnio: ensaios contemporaneos / Regina Abreu, Mario Chagas (orgs.) ed. ~ Rio de Janeiro: Lamparina, 2009. Tnelui bibliografia ISBN 978-85-98271-59-0 . Patriménio cultural — Protecao — Brasil. 2. Meméria — Aspectos sociais — Brasil. 1 Abreu, Regina. II. Chagas, Mario 98-1519. CDD: 363.692981 CDU: 351.853(81 Lamparina editora Rua Joaquim Silva, 98, 2° andar, sala 201, Lapa Cep 20241-110 Rio de Janeiro RJ Brasil Tel./fax: (21) 2232-1768 lamparina@lamparina.com.br lamparina MEMORIA E PATRIMONIO ENSALOS CONTEMPORANEOS ORGANIZADORES REGINA ABREU * MARIO CHAGAS CLAUDIA CRISTINA DE MESQUITA GARCIA DIAS. JAMES CLIFFORD JOSE REGINALDO SANTOS GONGALVES JOSE RIBAMAR BESSA FREIRE LUIZ FERNANDO DIAS DUARTE MARCIA SANT'ANNA MARIA CECILIA LONDRES FONSECA MYRIAN SEPULVEDA DOS SANTOS. RUBEN GEORGE OLIVENs VERA BEATRIZ SIQUEIRA 2%edicao OS AUTORES CLAUDIA CRISTINA DE MESQUITA GARCIA DIAS Ghefe da divisao de pesquisa da Fundagao do Museu da Imagem e do Som e doutora pelo Programa de P6s-Graduagao em Histéria Social do Instituto de Filosofia e Ciéncias Sociais (IFCS) da Uni- versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). JAMES CLIFFORD Professor do Programa de Histéria da Consciéncia da Universida- de da California (Santa Cruz, Estados Unidos). JOSE REGINALDO SANTOS GONGALVES Professor de Antropologia Cultural do Programa de Pés-Graduagao em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciéncias Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor pelo Departamento de Antropologia da Universidade da Virginia (Estados Unidos). Jost RIBAMAR BESSA FREIRE Professor do Programa de Pés-Graduagao em Meméria Social e do Departamento de Filosofia e Ciéncias Sociais da Universidade Fe- deral do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) e coordenador do Pro- grama de Estudos dos Povos Indigenas (Pré-{ndio) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) LUIZ FERNANDO DIAS DUARTE Professor do Programa de Pés-Graduagao em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional — Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — e doutor em Antropologia Social pelo PPGAS do Museu Nacional (UFRJ). MARCIA SANT/ANNA Diretora do Departamento de Patriménio Imaterial do Instituto do Patriménio Histérico ¢ Artistico Nacional (Iphan) e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). MARIA CECILIA LONDRES FONSECA Consultora da Secretaria do Patrimonio, Museus e Artes Plasticas do Ministério da Cultura e doutora em Sociologia da Cultura pela Universidade de Brasilia (UnB). MARIO CHAGAS Professor do Programa de Pés-Graduagdo em Memoria Social e do Departamento de Estudos e Processos Museolégicos da Universi- dade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), doutor pelo Programa de Pés-Graduacgao em Ciéncias Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador técnico do Depar- tamento de Museus do Instituto do Patriménio Histérico e Artistico Nacional (Iphan). MYRIAN SEPULVEDA DOS SANTOS Professora do Departamento de Ciéncias Sociais e do Programa de Pés-Graduagao em Ciéncias Sociais (PPCIS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e Ph.D. em Sociologia pela New School for Social Research (Nova York). REGINA ABREU Professora do Programa de Pés-Graduacéio em Meméria Social e do Departamento de Filosofia e Ciéncias Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) ¢ doutora em Antro- pologia Social pelo Programa de Pds-Graduagao em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional — Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). RUBEN GEORGE OLIVEN Professor titular do Departamento de Antropologia e do Programa de Pés-Graduagao em Antropologia Secial da Universidade Fede- ral do Rio Grande do Sul (UFRGS). VERA BEATRIZ SIQUEIRA Professora de Histéria da Arte do Instituto de Artes da Universi- dade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e doutora pelo Programa de. Pés-Graduagao em Histéria Social do Instituto de Filosofia e Ciéncias Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UER]). APRESENTACAO A SEGUNDA EDIGAO Anatureza interdisciplinar, caracterfstica do Programa de Pés-Gra- duagao em Meméria Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGMS/UniRio), foi um dos vetores que move- ram os professores ¢ pesquisadores Regina Abreu e Mario Chagas a organizar 0 livro Meméria e patriménio: ensaios contempordneos. Muito nos alegra que esta obra, que jé se tornou um classico na campo de estudos da Meméria Social, chegue agora 4 sua segunda edigao. O |eitor encontraré aqui trabalhos de autores consagrados na temdatica especifica de Memoria e Patriménio, uma das linhas de pesquisa de nosso Programa de Pés-Graduagao. A interdisciplinaridade é hoje um espaco privilegiado de criagdo de conhecimentos que nos convoca a articular, transpor e gerar novos conceitos, teorias e métodos. Ultrapassando os limites das tradi¢écs disciplinarcs, sem contudo negar as contribuicdes espe- efficas de cada campo, temos procurado estabelecer pontes entre diferentes formas de producao do conhecimento. E um caminho de construgdo epistemoldgica pleno de tensées e conflitos, mas também repleto de intersegdes e convergéncias. Seis anos se pas- saram desde a primeira edigdo deste livro, mas as reflexdes ncle contidas mantém-se profundamente atuais. Convido, pois, o leitor a nos acompanhar neste percurso. Diana de Souza Pinto Coordenadoru clo Programa de Pés-Graduagdo em Meméria Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGMS/UniRio) SUMARIO Introducdo. REGINA ABREU E MARIO CHAGAS Kusiwa, atte grafica wajdpi: patriménio cultural do Brasil Certificado 1, PATRIMONIO, NATUREZA E CULTURA QO patriménio como categoria de pensamento JOSE REGINALDO SANTOS GONGALVES Aemergéncia do patrimGnio genético e a nova configuragéo do campo do patrimonio REGINA ABREU A face imaterial do patriménio cultural: 98 novos instrumentos de reconhecimento e valarizagao MARCIA SANTANNA, Para além da pedrae cat: por uma concepcao ampla de patrim6nio cultural MARIA CECILIA LONDRES FONSECA Patrimdnio intangivel: consideragGes iniciais RUBEN GEORGE OLIVEN “Tesouros humanos vivos” ou quando as pessoas transformam-se em patrimdnio cultural - notas sobre a experiéncia francesa de distingdo do “Mestres da Arte” REGINA ABREU O pai de Macunaima e 0 patriménio espiritual MARIO CHAGAS 13 19 35 34 49 39 80 97 1, MEMORIA E NARRATIVAS NACIONAIS, Museu Imperial: a construgao do Império pela Republica MYRIAN SEPULVEDA DOS SANTOS Meméria politica e politica de memoria MARIO CHAGAS Ill. MEMORIA E NARRATIVAS URBANAS Os museus e a cidade JOSE REGINALDO SANTOS GONCALVES, Espelhos urbanos: ordenacao temporal na colecdo Castro Maya VERA BEATRIZ SIQUEIRA Atrajetoria de um “museu de fronteira”: acriagdo do Museu da Imagem e do Som e aspectos da identidade carioca (1960-1965) CLAUDIA CRISTINA DE MESQUITA GARCIA DIAS IV, MEMORIA E ETNICIDADE A descoberta do museu pelos indios JOSE RIBAMAR BESSA FREIRE Museologia e contra-historia: viagens pela Costa Noroeste dos Estados Unidos JAMES CLIFFORD V. MEMORIA E REFLEXIVIDADE Memiéria e reflexividade na cultura ocidental LUIZ FERNANDO DIAS DUARTE 173 199 27 254 305 INTRODUGAO REGINA ABREU E MARIO CHAGAS A arena do patriménio cultural no Brasil estd vivendo um momento especialmente fértil. Com a aprovacao do Decreto 3.551, de 4 de agosto de 2000, que instituiu o inventério e o registro do denomi- nado “patriménio cultural imaterial ou intangfvel’, descortinou-se um panorama que alterou radicalmente a correlacao de forgas até entao vigente. Se durante décadas predominou um tipo de atua- $40 preservacionista, voltada prioritariamente para 0 tombamento dos chamados bens de pedra e cal — igrejas, fortes, pontes, chafari- zes, prédios e conjuntos urbanos representativos de estilos arqui- teténicos especificos ~, o referido decreto pds em cena uma antiga preocupagao de alguns intelectuais brasileiros, entre os quais se destacou Mario de Andrade, qual seja, a de valorizar 0 tema do intangivel, contribuindo social e politicamente para a construgao de um acervo amplo e diversificado de expressées culturais, em diferentes areas: Iinguas, festas, rituais, dangas, lendas, mitos, mii- sicas, saberes, técnicas e fazeres diversificados. Essa antiga preocupagao havia ecoado nos grupos de discuss4o0 da Area cultural durante a Constituinte de 1988, tanto assim que os artigos 215 e 216 da Constituicado Federal referem-se, de modo explicito, as responsabilidades do “poder publico, com a colabo- racdo da comunidade”, na promogao e na protecdo do patriménio cultural brasileiro, compreendido como os “bens de natureza mate- rial e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referéncia a identidade, agdo, 4 memoria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”. No entanto, entre a lei no pa- pel e sua ago, parecia haver se estabelecido o proverbial fosso de sempre. Por isso mesmo, é com atencHo e vivo interesse que 14 MEMORIA E PATRIMONIO. observamos e acompanhamos a retomada dessas discussées, agora com ancoras no terreno das praticas e com indicagées nitidas de que diferentes grupos sociais esto se mobilizando e se organizan- do, em torno dessa nova agenda patrimonia] Assim, parece-nos justo afirmar que se processa uma revolugao silenciosa, quando segmentos da sociedade civil, detentores de sa- beres tradicionais e locais, associados a profissionais no interior do aparelho de Estado, e possuidores de saberes especificos, colocam em marcha um novo conceito de patriménio cultural. Seminérios regionais, nacionais e internacionais tém sido rea- lizados; antropélogos, educadores, socidlogos, musedlogos e uma gama diversificada de profissionais da area das Ciéncias Sociais € Humanas vém sendo requisitados pelo poder pablico para formu- lar novas metodologias de pesquisa e novas estratégias de aco, capazes de dar conta da recente concepgdo patrimonial; segmen- tos sociais diversos reivindicam lugar de destaque para manifesta- Ses culturais distintas. Os exemplos multiplicam-se nos ambitos federal, estadual e municipal, passando pelos poderes Executivo, Legislativo e Judicidrio. Efeito da disseminagao do conceito antro- poldgico de cultura, no qual a ideia de diversidade consolida-se como forga motriz, em oposicao ao conceito iluminista de cultu- ra como civilizagao e erudigao, lugar a que poucos tém acesso? Talvez. O fato € que, sem desprezar a importancia de dar continuidade a uma atuacdo norteada por politicas piiblicas nas 4reas do tomba- mento e da preservagao dos chamados bens materiais ou tangiveis, as novas forcas desencadeadas pelo debate sobre patriménio cultu- ral intangfvel desenham um cenirio distinto. Essa redefinicao pas- sa, inclusive, pelos campos do “biopatriménio” e do “patriménio genético”, propondo novos olhares para a relagdo entre natureza e cultura e facilitando a compreensdo da nogao de patriménio natu- ral como uma construgdio que se faz a partir do intangivel. No setor dos museus, por sua vez, constata-se a revitalizagao de novas préticas discursivas e de colecionamento, bem como o desenvolvimento de estudos em sintonia com a realidade con- wTRODUGKO temporanea. Nunca se colecionou tanto, nunca se arquivou tanto, nunca tantos grupos se inquietaram tanto com os temas referentes a meméria, patriménio e museus. Paradoxalmente, os gestos de guardar, colecionar, organizar, lembrar ou invocar antigas tradigdes vém convivendo com a era do descartavel, da informagao sempre nova, do culto ao ideal de juventude. Os intelectuais passaram a se preocupar com um tema que an- tes era marginal nas Ciéncias Humanas: os chamados “lugares de meméria’”, na feliz expressfio de Pierre Nora. Uma sindrome de mu- seus € de prdticas de colecionamento estaria expressando o sinto- ma de um mundo sem meméria, rompido com o passado, em que as fronteiras séo cada vez mais fluidas e moveis. O desmapeamento do individuo, que se tornou valor e medida para todas as coisas, vem impulsionando regressdes e buscas por anterioridades. E no espaco constituido a partir da relago entre memoria e pa- triménio que vicejam as praticas de colecionamento e as narrativas museais nacionais, regionais e locais. Observa-se, no entanto, que, gradualmente, as grandes narrativas nacionais e épicas deixam de exercer a primazia de outrora, quando alicercaram as praticas dis- cursivas dos grandes museus, para entrarem em cena novos vetores, expressdes de uma sociedade cada vez mais polifénica. Sao as narra- tivas urbanas, regionais ¢ locais, nas quais esté em jogo a construgdo de uma identidade especifica, capaz de articular outras tantas nar- rativas, em fungao de um cixo arbitrariamente construfdo. Esse eixo ordenador quer também exercer um papel de mediagao em relagao ao local, nacional e global. Ao focalizarmos as chamadas narrativas regionais e urbanas, privilegiamos os estudos que se debrucam sobre praticas colecio- nistas cariocas e, ao tratarmos das narrativas locais, sublinhames o papel das experiéncias museais com acentuado carater étnico, desenvolvidas no Brasil e no Canad por grupos sociais que, tra- dicionalmente situados em lugar de alteridade nas grandes narra- tivas nacionais, assumem o lugar de sujeitos em novas prdticas de colecionamento, desenvolvendo novas experiéncias museograficas e museolégicas, caracterizadas pelo exercfcio do direito 4 voz, a meméria € a constituigao do patriménio cultural. 1% 16 MEMORIA E PATRIMONIO. Mem6ria e patriménio: ensaios contemporaneos redne um con- junto expressivo de capitulos, divididos em cinco blocos temé- ticos: {. Patriménio, natureza e cultura; Il. Memoria e narrati- vas nacionais; Il]. Meméria e narrativas urbanas; TV. Memoria e etnicidade; V. Meméria e reflexividade. O leitor interessado encon- trard neste livro reflexdes instigantes e atualizadas, desenvolvidas por um grupo variado de autores que, jé hé alzum tempo, vém conversando sobre o assunto em semindrios, congressos, bancas e encontros informais. Alzumas dessas ideias foram produzidas em seminérios realizados pelo Programa de Pés-Graduagao em Mem6- ria Social e pelo Centro de Ciéncias Humanas da Universidade Fe- deral do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), cujos corpos docentes os idealizadores e organizadores deste livro, Regina Abreu ¢ Mario Chagas, integram. Outras séo verses de comunicagdes apresen- tadas na 26* Reunido da Associagao Nacional de Pés-Graduagiio em Ciéncias Sociais, especialmente durante a mesa-redonda “Pa- triménios emergentes e novos desafios: do genético ao intangivel”, ocorrida a 23 de outubro de 2002 € coordenada pela professora Re- gina Abreu. O capitulo “Memoria e reflexividade na cultura ociden- tal’, do professor Luiz Fernando Dias Duarte, apresenta, na {ntegra, a aula inaugural do Programa de Pés-Graduacaio em Meméria So- cial do ano de 2000. Com a presente publicagao, reconhecemos a posigado de cen- tralidade ocupada pelo tema “meméria e patriménio” no debate contemporaneo, de modo especifico, no que se refere As Ciéncias Sociais e Humanas. De nossa parte, com esses ensaios, esperamos contribuir para esse debate, que apenas alvorece. Cabe destacar a oportunidade em divulgar algumas belas ima- gens da arte kusiwa — pintura corporal e arte grafica dos indios wajépi do Amapé. A arte kusiwa constitui o primeiro registro no Livro dos saberes do Instituto do Patriménio Histérico e Artistico Nacional (Iphan), tendo recebido o titulo de “Patriménio cultural do Brasil” nessa mesma obra. E para nés de extrema relevancia contribuir para a valorizagao da linguagem grafica dos indios waja- pi, sistema de representagao que sintetiza seu modo particular de conhecer, conceber e agir sobre 0 universo.

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