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RESUMO
No Brasil, o seu emprego está limitado a poucas unidades, geralmente operadas por serviços
autônomos municipais ou pela Fundação Nacional de Saúde, sem eficiente monitoramento dos
parâmetros de qualidade das águas bruta e tratada. Somente 2% do volume de água
distribuída no Brasil utiliza formas não convencionais de tratamento, e deste, apenas parcela é
purificada por filtros lentos.
O perfil de distribuição por tamanho dos municípios brasileiros (mais de 80% possuem menos
de 20.000 habitantes), o déficit de atendimento (mais de 30% dos brasileiros não possuem
abastecimento de água) e a adequabilidade em termos de custos e simplicidade operacional da
tecnologia a pequenas comunidades a torna instrumento fundamental à universalização do
atendimento por água potável no país.
processo biológico atuante na filtração lenta, incrementando a sua eficiência em relação a países
de clima temperado; b) os custos de implantação e manutenção podem ser vantajosos em
relação ao tratamento convencional para pequenas comunidades; c) a filtração lenta vem sendo
subutilizada; d) possui evidentes vantagens em relação aos processos convencionais sob
determinadas condições e e) pode configurar-se em uma alternativa simples e economicamente
viável para o tratamento de águas de abastecimento em comunidades de pequeno porte.
INTRODUÇÃO
A filtração em areia talvez se constitua em um dos mais antigos métodos de purificação da água
para o consumo humano de que se tenha notícia. Constitui uma forma extremamente
simplificada de tratamento, desenvolvida a partir de uma analogia estabelecida com a
percolação de águas naturais através do solo até os aqüíferos e de lá para as fontes, de onde
jorravam adequadas às exigências estéticas e sanitárias do homem.
Nascia assim o Filtro Lento, ilustrado na Figura 1, constituído de leito filtrante de areia,
suportado por camada de seixos rolados e sistema de drenagem. A primeira unidade conhecida
para abastecimento de toda uma população foi construída em 1804 na cidade de Paisley-
Escócia ( VALENCIA, 1981 ).
M
B Água Sobrenadante
Ventilação
H
Schmutzdecke
C Leito Filtrante
Sistema de Drenagem
G
A. Extravasor
B. Válvula de controle do afluente E F
C. Válvula de drenagem da água sobrenadante D
D. Válvula de drenagem da água intersticial G. Válvula de Água tratada
E. Válvula para preenchimento do filtro com água tratada H. Vertedor para "inundação" do leito
F. Válvula para reservação de água de lavagem M. Medidor de vazão
Figura 1 Filtro lento convencional - Corte longitudinal (PYPER & LOGSDON, 1991).
As principais variantes do filtro lento convencional são o filtro lento de fluxo ascendente e o
filtro dinâmico, que implicam em maiores custos estruturais e maior demanda de água bruta
respectivamente, compensados por uma redução dos trabalhos de operação e manutenção.
Por ser um processo unitário de purificação extremamente simples, eficiente, natural e não
poluente, difundiu-se muito rapidamente pela Europa e América. Entretanto, sua expansão foi
refreada pelo desenvolvimento de outras técnicas de tratamento e pela deterioração da
qualidade da água dos mananciais, já que tem a sua aplicabilidade limitada pelas características
físico-químicas das águas brutas.
O desenvolvimento dos filtros lentos logrou uma expansão dos limites de sua aplicabilidade
através do tratamento prévio da água bruta por pré-filtros, que promovem com o fluxo em
pedregulho uma melhoria na qualidade do afluente, aliviando a ação do filtro. Também podem
ser utilizadas mantas sintéticas no topo do leito para auxiliar o processo de clarificação e facilitar
a manutenção.
O presente trabalho, nessa perspectiva, pretende trazer à tona a discussão sobre o processo,
revisando aqueles aspectos relacionados com a sua aplicabilidade, apresentando-o como uma
alternativa simples, eficiente e economicamente vantajosa para o tratamento de águas de
abastecimento em pequenas e médias comunidades no Brasil, e discutindo criticamente as suas
vantagens comparativas e suas limitações.
Existe um consenso no meio técnico internacional de que a filtração lenta se constitui em uma
alternativa de imenso potencial de aplicabilidade em pequenas comunidades dos países em
desenvolvimento. A esta tecnologia são atribuídas características como facilidade operacional,
baixos custos de implantação e operação e grande eficiência na remoção de organismos
patogênicos. Outro aspecto interessante na filtração lenta é a ausência de resíduos tóxicos,
como na filtração convencional. O lodo gerado pode ser utilizado na agricultura e na
piscicultura. No Brasil, apesar das condições propícias à utilização do processo,
paradoxalmente ele tem sido preterido em relação aos processos convencionais de tratamento.
Pelas Figuras 2 e 3, pode-se notar que apesar da filtração lenta ser utilizada em 14% dos
serviços autônomos e pela FNS, dentre os sistemas onde há tratamento, apenas 2% do volume
distribuído no Brasil utiliza formas não convencionais de tratamento, excluída a simples
desinfecção.
100
40
16
20 Tratamento
2 4
Convencional 78%
0
Conven. Outros Somente Sem Trat.
Desinf.
Figura 3: Distribuição de
Figura 2: Processos de Tratamento da
modalidades de tratamento adotados
água empregados no Brasil, por
em sistemas administrados pelos
volume.
Municípios ou pela FNS Fonte:
ASSEMAE (1995).
Há registros de utilização da tecnologia em níveis crescentes tanto em países em
desenvolvimento, como Colômbia e Índia, quanto em países desenvolvidos, como Holanda,
Inglaterra e Estados Unidos.
Nos Estados Unidos, onde a utilização dos filtros lentos ocorre predominantemente em
comunidades cuja população é inferior a 10.000 habitantes, conforme pode-se visualizar na
Figura 4, delineia-se uma tendência clara de incremento de sua utilização, face às novas
regulamentações de potabilidade da água (LAY & ALLEN, 1992). Configura-se, assim, sua
vocação para pequenas comunidades, que é reforçada pelo estudo de custos efetuado pelo
NEERI (1983), demonstrando custos menores que os de estações convencionais para estas
localidades. Entretanto, essa tendência não elimina a sua aplicabilidade em grandes sistemas,
como os de Amsterdã, Denver, Paris e
Londres. Distribuição dos Municípios por
47,6% Tamanho
50%
Distribuição da 35,7%
40%
População
10-100
30%
21% 20%
Pop.x 9,7%
>100 10% 3,5% 3,0% 0,5%
3%
0%
0-10 < 5 mil 5-20 20-50 50-100 100- >500
76% Pop. (x mil) 500
Pode-se notar pelo gráfico da Figura 5, que mais de 80% dos municípios brasileiros possuem
menos de 20.000 habitantes. Se se considera o número de localidades, incluindo vilas,
povoados e comunidades rurais, e que mais de 30% dos brasileiros não possuem
abastecimento de água, pode-se ter uma noção do déficit de estações de tratamento e do
potencial de aplicabilidade dos filtros lentos no país. Todavia, nota-se ainda que ao longo das
últimas décadas vem se delineando uma tendência de redução na utilização desta tecnologia no
país.
A Figura 6 mostra a evolução do atendimento populacional em termos de distribuição de água,
ao longo da década de 80. Pode-se visualizar que permanece o déficit de cobertura acima de
30%.
100
População servida (%)
80
60
40
20
0
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991
Ano
? ASPECTOS ECONÔMICOS
Ao filtro lento são atribuídos baixos custos de construção e manutenção, que podem ser
ilustrados pelas estatísticas a seguir:
No estudo efetuado por BERG, et al. (1991), o custo médio de construção para taxa de
filtração igual a 4,8 m/dia foi de U$ 920,00/m2. Considerando-se um consumo diário de 150
litros por habitante, tem-se um custo de instalação de U$ 28,75 por habitante.
Para mesma taxa, e consumo per-capita, tem-se na Índia custos de instalação menores ou
iguais a U$ 7,50 por habitante (Figura 8).
10000 Filtros lentos sem cobertura 10000 Filtros lentos com cobertura
Campo
Custos de construção (US$ x 1000)
1000 1000
Campo
MP
CWC
ETAs Convencionais
100
100
0 2000 4000 6000 8000 10000
0 2000 4000 6000 8000 10000
Vazão (m3/dia) Vazão (m3/dia)
Além de financeiramente vantajoso, o filtro lento demanda gastos com água de lavagem que
variam de 0,2 a 0,6% do total filtrado, muito inferiores aos gastos no tratamento convencional,
que varia de 3 a 5% do volume filtrado.
Os baixos custos relaciona dos à construção, operação e manutenção do filtro lento, podem ser
fundamentais para a viabilização de projetos sanitários que compreendam investimentos em
abastecimento público de água potável em países em desenvolvimento.
Águas superficiais
? QUALIDADE DA ÁGUA Exclusão
NÃO
BRUTA NÃO
Distribuição sem
tratamento,
Turbidez < 1 NTU preferencialmente com
Verminoses
E.Coli NMP < 10/100 ml cloração
esquistosomose
Não há um consenso no meio SIM
endêmicos Filtração lenta,
NÃO SIM preferencialmente com
técnico quanto aos limites de cloração
Filtração lenta,
serem bastante dispersas, NÃO precedida por pré-tratamento;
prefererencialmente com
SIM
Turbidez < 150 NTU
chegando a tolerar valores de E.Coli NMP 10-10.000/100 ml
cloração
Filtração lenta,
turbidez para funcionamento em NÃO
precedida por pré-tratamento e
SIM
Turbidez < 150 NTU seguida por desinfecção
regime e sem pré-tratamento da E.Coli NMP > 10.000/100 ml
Filtração lenta,
ordem de 50 UNT NÃO precedida por pré-tratamento,
incluindo reservação e/ou
(HESPANHOL,1987, e ELLIS, Turbidez < 1.000 NTU
SIM
coagulação e floculação e
E.Coli NMP < 100.000/100 ml Cloração
1985), nota-se uma clara
NÃO Filtração lenta,
tendência de se adotar para estas Turbidez > 1.000 NTU
precedida por reservação e pré-
SIM
tratamento químico, seguidos
condições, o valor limite de 10 E.Coli NMP > 100.000/100 ml por desinfecção
1000 50
Concentração de sólidos afluentes 45
40
funcionamento (Dias)
Duração das carreiras
Sólidos suspensos
100 35
Tempo de
30
(mg/l)
25
20
10 15
10
5
1 0
Figura 11: Relação entre concentração de sólidos suspensos afluentes e duração das
carreiras de filtração para filtro lento. Adaptado de (GALVIS & VISSCHER, 1992).
Valores ideais para concentrações de ferro e manganês seriam 0,3 e 0,05 mg/l
respectivamente, sendo aceitável o valor de 1,0 mg/l para o ferro (CLEASBY, 1991).
Reduções expressivas nas concentrações destas substâncias podem ser conseguidas com pré-
filtração em pedregulho (DI BERNARDO, 1993) e aeração prévia (HESPANHOL, 1987).
A redução de níveis de contaminação fecal também pode ser conseguida por meio de pré-
tratamentos, conforme pôde comprovar GALVIS et al. (1992) em diversas comunidades que
utilizavam sistemas constituídos por pré-filtros seguidos de filtros lentos (Figura 12).
10000
Coliformes fecais
1000
(UFC/100 ml))
100
10
0,1
Ceylan Restrepo Colombo Retiro Javeriana
? QUALIDADE DO EFLUENTE
Especial atenção tem sido dedicada na comunidade científica nesta última década à Giardia
lamblia e ao Cryptosporidium, que são organismos patogênicos de transmissão associada à
ingestão d'água, principalmente depois da contaminação de 400.000 pessoas em Milwaukee,
EUA, em 1993 pelo Cryptosporidium. São protozoários flagelados e esferóides encontrados
em estágio de cisto e oocisto na água, respectivamente, e que apresentam uma elevada
resistência à cloração, ao menos em concentrações compatíveis com o consumo humano. A
cryptosporidíase tem como principal sintoma a diarréia, mas pode ser fatal em indivíduos com
baixa resistência imunológica.
A filtração tem sido apontada como mais efetivo meio para a eliminação de cistos e oocistos do
que o tratamento convencional. A remoção de cistos de Giárdia pela filtração lenta é bastante
PARÂMETROS DE PROJETO
ASPECTOS CLIMATOLÓGICOS
Levando-se em consideração que grande parte dos municípios brasileiros possui graves
carências de mão de obra especializada para operar complexas estações convencionais, pode-
se afirmar que a solução mais adequada, nestes casos, seria necessariamente um sistema
simplificado, que pudesse ser operado e mantido pela própria comunidade.
A operação do filtro lento resume-se à limpeza periódica, por raspagem da superfície do leito,
ao controle da vazão e à eventual cloração do efluente. Esta é uma forte razão para o incentivo
ao seu emprego em localidades com baixa capacidade operacional e obviamente, onde as
carcterísticas da água bruta o indica.
CONCLUSÕES
11. GALVIS, G.; FERNANDEZ M. J. E.; VISSCHER, J.T., Slow sand filtration back in
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