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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental II - 085

A FILTRAÇÃO LENTA EM AREIA COMO ALTERNATIVA


TECNOLÓGICA PARA O TRATAMENTO DE ÁGUAS DE
ABASTECIMENTO NO BRASIL

Ney Albert Murtha (1)


Engenheiro Civil (UFMG, 1994). Pesquisador da FAPEMIG - Mestrando
em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos -UFMG - ex-
Professor do Depto. de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos -
UFMG.
Léo Heller
Engenheiro Civil (UFMG, 1977). Mestre em Engenharia Sanitária (UFMG,
1989). Doutor em Epidemiologia (UFMG, 1995) - Professor Adjunto do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG. Pesquisador
da FAPEMIG e do CNPq.
Marcelo Libânio
Engenheiro Civil (UFMG, 1987). Mestre em Engenharia Sanitária (UFMG, 1991). Doutor em
Hidráulica e Saneamento (USP, 1995). Professor Adjunto do Depto. de Engenharia Hidráulica
e Recursos Hídricos da UFMG. Pesquisador da FAPEMIG e do CNPq.

Endereço(1): Rua Alabastro - 380 / 404 - S. Família - Belo Horizonte - MG - CEP: 31030-
080 - Brasil - Tel/Fax: (031) 461-5196 - e-mail: murtha@mandic.com.br.

RESUMO

Ao longo da história, a filtração lenta em areia vem se constituindo em uma alternativa


tecnológica atraente para países em desenvolvimento, posto que possui reduzidos custos de
instalação e manutenção, aliados à facilidade operacional e à dispensa da utilização de produtos
químicos. Paradoxalmente, esta tecnologia encontra-se mais disseminada em países de regiões
desenvolvidas como Europa e América do Norte.

No Brasil, o seu emprego está limitado a poucas unidades, geralmente operadas por serviços
autônomos municipais ou pela Fundação Nacional de Saúde, sem eficiente monitoramento dos
parâmetros de qualidade das águas bruta e tratada. Somente 2% do volume de água
distribuída no Brasil utiliza formas não convencionais de tratamento, e deste, apenas parcela é
purificada por filtros lentos.

O perfil de distribuição por tamanho dos municípios brasileiros (mais de 80% possuem menos
de 20.000 habitantes), o déficit de atendimento (mais de 30% dos brasileiros não possuem
abastecimento de água) e a adequabilidade em termos de custos e simplicidade operacional da
tecnologia a pequenas comunidades a torna instrumento fundamental à universalização do
atendimento por água potável no país.

O trabalho sistematiza informações dispersas na literatura sobre a filtração lenta, no intuito de


demonstrar sua aplicabilidade. a) as condições climatológicas do país favorecem a catálise do

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processo biológico atuante na filtração lenta, incrementando a sua eficiência em relação a países
de clima temperado; b) os custos de implantação e manutenção podem ser vantajosos em
relação ao tratamento convencional para pequenas comunidades; c) a filtração lenta vem sendo
subutilizada; d) possui evidentes vantagens em relação aos processos convencionais sob
determinadas condições e e) pode configurar-se em uma alternativa simples e economicamente
viável para o tratamento de águas de abastecimento em comunidades de pequeno porte.

PALAVRAS -CHAVE: Filtração Lenta, Tratamento Biológico, Remoção de


Microorganismos, Pequenas Comunidades e Custos.

INTRODUÇÃO

A filtração em areia talvez se constitua em um dos mais antigos métodos de purificação da água
para o consumo humano de que se tenha notícia. Constitui uma forma extremamente
simplificada de tratamento, desenvolvida a partir de uma analogia estabelecida com a
percolação de águas naturais através do solo até os aqüíferos e de lá para as fontes, de onde
jorravam adequadas às exigências estéticas e sanitárias do homem.

Assim, foram desenvolvidos, principalmente na Grã-Bretanha, os filtros de areia,


experimentados com várias taxas de aplicação superficial, sendo constatada maior eficiência na
remoção de particulados para reduzidas taxas.

Nascia assim o Filtro Lento, ilustrado na Figura 1, constituído de leito filtrante de areia,
suportado por camada de seixos rolados e sistema de drenagem. A primeira unidade conhecida
para abastecimento de toda uma população foi construída em 1804 na cidade de Paisley-
Escócia ( VALENCIA, 1981 ).

M
B Água Sobrenadante
Ventilação
H
Schmutzdecke

C Leito Filtrante

Sistema de Drenagem
G
A. Extravasor
B. Válvula de controle do afluente E F
C. Válvula de drenagem da água sobrenadante D
D. Válvula de drenagem da água intersticial G. Válvula de Água tratada
E. Válvula para preenchimento do filtro com água tratada H. Vertedor para "inundação" do leito
F. Válvula para reservação de água de lavagem M. Medidor de vazão

Figura 1 Filtro lento convencional - Corte longitudinal (PYPER & LOGSDON, 1991).

As principais variantes do filtro lento convencional são o filtro lento de fluxo ascendente e o
filtro dinâmico, que implicam em maiores custos estruturais e maior demanda de água bruta
respectivamente, compensados por uma redução dos trabalhos de operação e manutenção.

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Convém ressaltar que o emprego da modalidade convencional, de fluxo descendente, tem


predominado sobre as demais.

Por ser um processo unitário de purificação extremamente simples, eficiente, natural e não
poluente, difundiu-se muito rapidamente pela Europa e América. Entretanto, sua expansão foi
refreada pelo desenvolvimento de outras técnicas de tratamento e pela deterioração da
qualidade da água dos mananciais, já que tem a sua aplicabilidade limitada pelas características
físico-químicas das águas brutas.

O desenvolvimento dos filtros lentos logrou uma expansão dos limites de sua aplicabilidade
através do tratamento prévio da água bruta por pré-filtros, que promovem com o fluxo em
pedregulho uma melhoria na qualidade do afluente, aliviando a ação do filtro. Também podem
ser utilizadas mantas sintéticas no topo do leito para auxiliar o processo de clarificação e facilitar
a manutenção.

Pode-se considerar que existe atualmente um adequado conhecimento teórico do processo,


envolvendo os mecanismos de transporte e aderência que se verificam no meio filtrante, bem
como a natureza da atividade biológica que prevalece. Existe também um razoável
conhecimento acumulado sobre os limites para a sua aplicabilidade e sua eficiência na remoção
de diversos componentes da água, embora este domínio tecnológico não tenha ainda se
traduzido em recomendações definitivas sobre parâmetros de projeto e situações onde deva ser
empregado. Estas talvez sejam as principais lacunas científicas e tecnológicas atuais do
processo, as quais se associam à necessidade de uma maior disseminação da tecnologia junto
ao meio técnico, visando ao seu resgate e à sua popularização.

O presente trabalho, nessa perspectiva, pretende trazer à tona a discussão sobre o processo,
revisando aqueles aspectos relacionados com a sua aplicabilidade, apresentando-o como uma
alternativa simples, eficiente e economicamente vantajosa para o tratamento de águas de
abastecimento em pequenas e médias comunidades no Brasil, e discutindo criticamente as suas
vantagens comparativas e suas limitações.

PANORAMA NACIONAL E MUNDIAL

Recentes pesquisas impulsionaram o ressurgimento da filtração lenta, permitindo o domínio do


processo, que se desenvolve de forma natural e sem consumo de produtos químicos, mas
requer um bom projeto, uma apropriada operação e cuidadosa manutenção para se obterem
bons resultados (VARGAS,1992).

Existe um consenso no meio técnico internacional de que a filtração lenta se constitui em uma
alternativa de imenso potencial de aplicabilidade em pequenas comunidades dos países em
desenvolvimento. A esta tecnologia são atribuídas características como facilidade operacional,
baixos custos de implantação e operação e grande eficiência na remoção de organismos
patogênicos. Outro aspecto interessante na filtração lenta é a ausência de resíduos tóxicos,
como na filtração convencional. O lodo gerado pode ser utilizado na agricultura e na
piscicultura. No Brasil, apesar das condições propícias à utilização do processo,
paradoxalmente ele tem sido preterido em relação aos processos convencionais de tratamento.

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Pelas Figuras 2 e 3, pode-se notar que apesar da filtração lenta ser utilizada em 14% dos
serviços autônomos e pela FNS, dentre os sistemas onde há tratamento, apenas 2% do volume
distribuído no Brasil utiliza formas não convencionais de tratamento, excluída a simples
desinfecção.

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100

Volume Distribuído (%)


78
80 Filtração Direta
Ascendente 8%
Filtração Lenta 14%
60

40
16
20 Tratamento
2 4
Convencional 78%
0
Conven. Outros Somente Sem Trat.
Desinf.
Figura 3: Distribuição de
Figura 2: Processos de Tratamento da
modalidades de tratamento adotados
água empregados no Brasil, por
em sistemas administrados pelos
volume.
Municípios ou pela FNS Fonte:
ASSEMAE (1995).
Há registros de utilização da tecnologia em níveis crescentes tanto em países em
desenvolvimento, como Colômbia e Índia, quanto em países desenvolvidos, como Holanda,
Inglaterra e Estados Unidos.

Nos Estados Unidos, onde a utilização dos filtros lentos ocorre predominantemente em
comunidades cuja população é inferior a 10.000 habitantes, conforme pode-se visualizar na
Figura 4, delineia-se uma tendência clara de incremento de sua utilização, face às novas
regulamentações de potabilidade da água (LAY & ALLEN, 1992). Configura-se, assim, sua
vocação para pequenas comunidades, que é reforçada pelo estudo de custos efetuado pelo
NEERI (1983), demonstrando custos menores que os de estações convencionais para estas
localidades. Entretanto, essa tendência não elimina a sua aplicabilidade em grandes sistemas,
como os de Amsterdã, Denver, Paris e
Londres. Distribuição dos Municípios por
47,6% Tamanho
50%
Distribuição da 35,7%
40%
População
10-100
30%
21% 20%
Pop.x 9,7%
>100 10% 3,5% 3,0% 0,5%
3%
0%
0-10 < 5 mil 5-20 20-50 50-100 100- >500
76% Pop. (x mil) 500

Figura 4: Distribuição da população


Figura
abastecida por 5: Distribuição
Filtros de municípios
Lentos nos EUA por brasileiros por
porte dastamanho (SIMS ?
(CABES, 1994).
comunidades
SLEZAK,1991).

Pode-se notar pelo gráfico da Figura 5, que mais de 80% dos municípios brasileiros possuem
menos de 20.000 habitantes. Se se considera o número de localidades, incluindo vilas,
povoados e comunidades rurais, e que mais de 30% dos brasileiros não possuem
abastecimento de água, pode-se ter uma noção do déficit de estações de tratamento e do

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potencial de aplicabilidade dos filtros lentos no país. Todavia, nota-se ainda que ao longo das
últimas décadas vem se delineando uma tendência de redução na utilização desta tecnologia no
país.
A Figura 6 mostra a evolução do atendimento populacional em termos de distribuição de água,
ao longo da década de 80. Pode-se visualizar que permanece o déficit de cobertura acima de
30%.
100
População servida (%)

80

60

40

20

0
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991
Ano

Figura 6: Evolução da cobertura populacional por serviços de distribuição de água (CABES,


1994).

AVALIAÇÃO COMPARATIVA DA APLICABILIDADE DA FILTRAÇÃO LENTA

As grandes desvantagens da filtração lenta em relação ao tratamento convencional são a grande


demanda de área, além da limitação das características da água bruta, notadamente a
concentração de sólidos. Estas desvantagens são compensadas em pequenas localidades pelo
baixo preço da terra e pela existência de mananciais relativamente preservados nestas regiões,
geralmente distantes dos centros urbano -industriais, além da possibilidade de utilização de
processos complementares no sistema de tratamento.

? ASPECTOS ECONÔMICOS

Ao filtro lento são atribuídos baixos custos de construção e manutenção, que podem ser
ilustrados pelas estatísticas a seguir:

No estudo efetuado por BERG, et al. (1991), o custo médio de construção para taxa de
filtração igual a 4,8 m/dia foi de U$ 920,00/m2. Considerando-se um consumo diário de 150
litros por habitante, tem-se um custo de instalação de U$ 28,75 por habitante.

Para mesma taxa, e consumo per-capita, tem-se na Índia custos de instalação menores ou
iguais a U$ 7,50 por habitante (Figura 8).

A Figura 7 ilustra a relação entre capacidade de tratamento das estações e custos de


construção das unidades de tratamento convencionais; filtros lentos cobertos e não cobertos
nos Estados Unidos. Os dados foram transcritos para gráficos a partir de equações descritas
por BERG, et al.(1991), produto de estudos conduzidos por CULP/WESNER/CULP

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Engenheiros consultores (CWC); MALCOM PIRINE (MP); e BERG, et al. - dados de


estações recentemente implantadas - (Campo). Os valores descritos para estações
convencionais foram adaptados de gráfico transcrito por VALENCIA, (1987), tendo como
referência a EPA.
Convém ressaltar que os custos de implantação podem ser mais elevados em países
desenvolvidos, devido a altos custos de mão de obra e de áreas, o que não ocorre nos países
em desenvolvimento, onde além dos custos de mão de obra serem inferiores, ocorre a
participação comunitária nas áreas rurais, podendo tornar os investimentos menores que de
sistemas mais sofisticados de tratamento (VAILLANT,1982). Isto explica porque os custos
de filtros lentos cobertos praticamente coincidirem com os de estações convencionais em dois
estudos, apesar de serem significativamente superiores que os dados de coletados em 15
unidades instaladas recentemente nos EUA.

10000 Filtros lentos sem cobertura 10000 Filtros lentos com cobertura
Campo
Custos de construção (US$ x 1000)

Custos de construção (US$ x 1000)


MP
CWC
ETAs Convencionais

1000 1000

Campo
MP
CWC
ETAs Convencionais

100
100
0 2000 4000 6000 8000 10000
0 2000 4000 6000 8000 10000
Vazão (m3/dia) Vazão (m3/dia)

Figura 7: Custos de implantação de Filtros Lentos e Estações Convencionais nos EUA.

Segundo estudo realizado no Estado de Nova Iorque, os custos de operação e manutenção


variam entre US$ 0,0013/m3 e US$ 0,0172/ m3 , tendo como valor médio US$ 0,0077/m3 .
3
Levando-se em consideração que o valor médio da tarifa no Brasil é de US$ 0,63/ m
(CABES,1994) pode-se verificar o reduzido valor representado pelos custos operacionais da
filtração lenta. Na Figura 9 têm-se valores aferidos por SIMS ? SLEZAK (1991).
US$/hab

10,0 Filtros lentos


Tratamento convencional 13.19- > 26.39
26.39 4%
8,0
10%
6,0
2.64-
13.19
4,0
23%
População (x 1.000)
2,0 0.26-2.64
6,7 10 13,3 20 26,7 33 46,7 63%

de construção de Figura 9: Custos operacionais do filtro


NEERI (1983) para lento em centavos de dólar por m3 nos
ita de 150 l/dia. EUA segundo SLEZAK ? SIMS (1991).

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Devido à simplicidade e facilidade operacionais, e à ausência de consumo de produtos


químicos, os custos anuais dos filtros lentos são consideravelmente inferiores que de outras
alternativas, com as mesmas segurança e eficiência (VAILLANT,1982). Modificações
efetuadas em uma unidade de tratamento convencional na periferia de Cali, Colômbia,
transformando-a em uma unidade de filtração lenta, permitiram uma redução de cerca de 90%
nos seus custos de operação e manutenção (GALVIS & VISSCHER,1986).

Além de financeiramente vantajoso, o filtro lento demanda gastos com água de lavagem que
variam de 0,2 a 0,6% do total filtrado, muito inferiores aos gastos no tratamento convencional,
que varia de 3 a 5% do volume filtrado.

Os baixos custos relaciona dos à construção, operação e manutenção do filtro lento, podem ser
fundamentais para a viabilização de projetos sanitários que compreendam investimentos em
abastecimento público de água potável em países em desenvolvimento.
Águas superficiais
? QUALIDADE DA ÁGUA Exclusão
NÃO

BRUTA NÃO
Distribuição sem
tratamento,
Turbidez < 1 NTU preferencialmente com
Verminoses
E.Coli NMP < 10/100 ml cloração
esquistosomose
Não há um consenso no meio SIM
endêmicos Filtração lenta,
NÃO SIM preferencialmente com
técnico quanto aos limites de cloração

aplicabilidade da filtração lenta e Turbidez < 10 NTU


Filtração lenta, sem pré-
SIM tratamento;
E.Coli NMP 10-1.000/100 ml
suas variantes, em função da preferencialmente com cloração

qualidade da água bruta. NÃO


Filtração lenta,
preferencialmente com pré-
Turbidez < 50 NTU
ou > 50 NTU por poucas tratamento;
semanas no ano prefererencialmente com cloração
Apesar das recomendações E.Coli NMP 10-1.000/100 ml
SIM

Filtração lenta,
serem bastante dispersas, NÃO precedida por pré-tratamento;
prefererencialmente com
SIM
Turbidez < 150 NTU
chegando a tolerar valores de E.Coli NMP 10-10.000/100 ml
cloração

Filtração lenta,
turbidez para funcionamento em NÃO
precedida por pré-tratamento e
SIM
Turbidez < 150 NTU seguida por desinfecção
regime e sem pré-tratamento da E.Coli NMP > 10.000/100 ml
Filtração lenta,
ordem de 50 UNT NÃO precedida por pré-tratamento,
incluindo reservação e/ou
(HESPANHOL,1987, e ELLIS, Turbidez < 1.000 NTU
SIM
coagulação e floculação e
E.Coli NMP < 100.000/100 ml Cloração
1985), nota-se uma clara
NÃO Filtração lenta,
tendência de se adotar para estas Turbidez > 1.000 NTU
precedida por reservação e pré-
SIM
tratamento químico, seguidos
condições, o valor limite de 10 E.Coli NMP > 100.000/100 ml por desinfecção

UNT, admitindo-se valores da Figura 10: Guia para seleção de sistema de


ordem de 200 UNT tratamento de água, incorporando a Filtração Lenta,
para funcionamento esporádico segundo Van Dijk ? Oomen (1978).
por poucos dias. Para
mananciais com turbidez mais
elevada, é recomendada a utilização de unidades de pré-tratamento. DI BERNARDO (1993)
recomenda para valores de turbidez entre 25 e 100 UNT, a pré-filtração seguida da filtração
lenta. VAN DIJK E OOMEN (1978) apresentam parâmetros físicos, biológicos e variáveis
temporais para a seleção, conforme fluxograma da Figura 10.

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O tamanho e a distribuição das partículas pode influir significativamente na escolha da tecnologia


de tratamento (DI BERNARDO, 1993) e na duração das carreiras na filtração lenta. Quando
o conteúdo de sólidos suspensos é elevada, a colmatação do leito filtrante é mais rápida, com o
acréscimo da perda de carga e a conseqüente redução da carreira de filtração, conforme pode-
se verificar na Figura 11.

A pré-filtração em pedregulho, além de promover uma melhoria considerável em diversos


parâmetros de qualidade da água, atua diretamente na expansão dos limites de aplicabilidade
do filtro, uma vez que reduz drasticamente a turbidez da água bruta, principal fator limitante. O
International Reference Center for Waste Disposal reporta o exemplo de unidades no Sudão
onde foram registradas reduções dos níveis de turbidez de 1000 UNT para valores entre 5 e
20 UNT (GALVIS & VISSCHER, 1986).

1000 50
Concentração de sólidos afluentes 45
40

funcionamento (Dias)
Duração das carreiras
Sólidos suspensos

100 35

Tempo de
30
(mg/l)

25
20
10 15
10
5
1 0

Filtros lentos Taxa= 2,4 m3/m2 . d

Figura 11: Relação entre concentração de sólidos suspensos afluentes e duração das
carreiras de filtração para filtro lento. Adaptado de (GALVIS & VISSCHER, 1992).

Valores ideais para concentrações de ferro e manganês seriam 0,3 e 0,05 mg/l
respectivamente, sendo aceitável o valor de 1,0 mg/l para o ferro (CLEASBY, 1991).
Reduções expressivas nas concentrações destas substâncias podem ser conseguidas com pré-
filtração em pedregulho (DI BERNARDO, 1993) e aeração prévia (HESPANHOL, 1987).

A redução de níveis de contaminação fecal também pode ser conseguida por meio de pré-
tratamentos, conforme pôde comprovar GALVIS et al. (1992) em diversas comunidades que
utilizavam sistemas constituídos por pré-filtros seguidos de filtros lentos (Figura 12).

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100000 Água Bruta Efluente do Pré-filtro Efluente do Filtro lento

10000

Coliformes fecais
1000

(UFC/100 ml))
100

10

0,1
Ceylan Restrepo Colombo Retiro Javeriana

Figura 12: Remoção de coliformes totais em pré-filtros e filtros lentos em diversas


estações (GALVIS et al., 1992).

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? QUALIDADE DO EFLUENTE

A filtração lenta apresenta uma grande eficiência na otimização de parâmetros físico-químicos e


bacteriológicos da água, o que a torna um processo que alia simplicidade operacional, boa
eficiência e redução da utilização de produtos químicos para desinfecção.
Uma vantagem significativa da filtração lenta é sua eficiência na remoção de microorganismos,
muito superior à dos tratamentos com coagulação química. CLEASBY et al (1984),
observaram remoção de coliformes totais de 92,6-100,0% em filtros lentos após os dois
primeiros dias de operação, e de 85,0-99,0% em filtração direta descendente, após o período
de 1 hora de carreira. BELAMY et al.(1985), operando filtros-piloto, constataram uma
eficiência de 100% na remoção de cistos de Giárdia, muito superior a encontrada na filtração
rápida.
Tabela 1: Eficiência da filtração lenta
(VISSCHER,1990).
A cor verdadeira não é bem removida pela
Performance do Filtro Lento
filtração lenta (HUISMAN, 1982),
apresentando um patamar típico de Parâmetro Efeito do Filtro Lento
remoção nos principais experimentos, em Cor Redução de 30-100%
torno de 25% (CLEASBY, 1991), Turbidez Redução para < 1 UNT
podendo atingir o patamar de 39% Coliformes Redução 95-100 % até
(BELLAMY, 1985). A remoção de cor Fecais 99-100%
verdadeira pode ser incrementada com a Cercarias Virtual remoção de
utilização de processos de pré-filtração Cercarias de Schistosoma,
(GALVIS et al., 1992). cistos e ovos
Vírus Virtual completa remoção
Valores de turbidez da água filtrada são via Matéria 60-75% de redução
de regra inferiores a 1 UNT, rotineiramente Orgânica
inferiores a 0,35 UNT para turbidez afluente Ferro e Largamente removidos
inferior a 10 UNT (FOX et al., 1984). Manganês
Experimentos conduzidos por CLEASBY et Metais Pesados 30-95% de redução
al. (1984) registraram valores inferiores a 1
UNT, mesmo quando o afluente atingiu picos iguais a 10 e 20 UNT. Nesses
experimentos, a filtração lenta apresentou uma eficiência média na remoção de turbidez de
97,8%. Remoções percentuais superiores a 90% são freqüentes na literatura.

Especial atenção tem sido dedicada na comunidade científica nesta última década à Giardia
lamblia e ao Cryptosporidium, que são organismos patogênicos de transmissão associada à
ingestão d'água, principalmente depois da contaminação de 400.000 pessoas em Milwaukee,
EUA, em 1993 pelo Cryptosporidium. São protozoários flagelados e esferóides encontrados
em estágio de cisto e oocisto na água, respectivamente, e que apresentam uma elevada
resistência à cloração, ao menos em concentrações compatíveis com o consumo humano. A
cryptosporidíase tem como principal sintoma a diarréia, mas pode ser fatal em indivíduos com
baixa resistência imunológica.

A filtração tem sido apontada como mais efetivo meio para a eliminação de cistos e oocistos do
que o tratamento convencional. A remoção de cistos de Giárdia pela filtração lenta é bastante

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elevada, conforme demonstrou BELLAMY (1995') se aproximando de 4 logs (99,99%), com


virtual remoção completa. TIMMS et al. (1995) reportam uma remoção superior a 4,5 logs
(99.997%) de oocistos de Cryptosporidium em filtros-piloto.

Estações convencionais de tratamento apresentam uma eficiência na remoção de oocistos da


ordem de 2,25 logs (99,44%) para estações, sendo que a remoção de cistos de Giardia foi
sempre superior, em 0,3 a 1,0 logs NIEMINSKI & ONGERTH (1995).

PARÂMETROS DE PROJETO

Tabela 2: Critérios de projeto (P & LOGSDON, 1991).


O sucesso do processo de
filtração lenta depende em larga Critérios de Projeto ____Recomendações______
escala de um adequado projeto, Huisman ? Wood / Visscher
que leve em consideração a et al.
adaptabilidade da unidade a Período de operação 24 h/d 24 h/d
características locais, como Taxa de Filtração (m/h) 0,1-0, 4 0,1 - 0,2
características da água bruta e Profundidade do leito
suas variações sazonais, (m) 1,2 0,8 - 0,9
climatologia local, materiais Inicial 0,7 0,5 - 0,6
disponíveis e aspectos Mínimo
econômicos. Tamanho específico da 0,15 - 0,35 0,15 - 0,30
areia (mm)
Os principais parâmetros de Coef. de uniformidade < 3, Prefer. < 2 < 5, Prefer. <
projeto para o filtro lento são a 3
profundidade do leito filtrante, a Profund. do meio - 0,3 - 0,5
distribuição granulométrica do suporte, inclusive
material, a taxa de filtração e a drenos (m)
altura da camada sobrenadante Lâmina sobrenadante 1 - 1,5 1,00
(HUISMAN, 1982), sendo (m)
apresentadas na Tabela 2
recomendações de duas
diferentes referências.

ASPECTOS CLIMATOLÓGICOS

As condições climatológicas do país são favoráveis à catálise do processo biológico atuante na


filtração lenta. A Tabela 3 apresenta algumas evidências de que a temperatura ambiental é
fator condicionante da eficiência do filtro lento em relação a microorganismos, o que parece
óbvio pela preponderância de mecanismos biológicos no processo.

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Tabela 3: Efeito da temperatura na eficiência de filtros lentos (HAARHOFF &


CLEASBY, 1991).
Estudo Parâmetro Remoção
Poynter & Slade (1977) Vírus 17?C : 99,997 %
Pyper (1985) Cistos de Giardia 9? C : 99,9 %
2? C : 99,5 %
Bellamy et al. (1985) Coliformes fecais 17? C : 97 %
5? C : 87 %
Bellamy et al. (1985) Bactérias (contagem em placas padrão) 17? C : 99,9 %
2? C : 90 %
Williams (1987) Coliformes fecais Verão : 99,8 %
Inverno : 99,1 %

As temperaturas elevadas e a grande insolação predominantes no Brasil favorecem a cinética


das reações químicas e físico-químicas da purificação, além de acelerar a atividade metabólica
dos organismos intervenientes no processo. Esta assertiva é demonstrada por BELAMY,
HENDRIX E LOGSDON (1985), em experiência que comprova ser a remoção de bactérias
(contagem por placas) cem vezes maior com temperatura igual a 27?C do que a 2?C ; e uma
remoção de coliformes de 97% a 17?C e de 87% a 5?C.

TECNOLOGIA APROPRIADA A PEQUENAS COMUNID ADES

Levando-se em consideração que grande parte dos municípios brasileiros possui graves
carências de mão de obra especializada para operar complexas estações convencionais, pode-
se afirmar que a solução mais adequada, nestes casos, seria necessariamente um sistema
simplificado, que pudesse ser operado e mantido pela própria comunidade.

A estes fatores, soma-se a necessidade de envolvimento da comunidade nos processos de


planejamento, implementação e gerenciamento das unidades, fortemente recomendados pelo
International Reseach Center, em seus manuais e projetos de demonstração em países como
Jamaica, Colômbia, Índia, Tailândia e Sudão. A participação comunitária pode se dar através
de doações e trabalho, que pode responder em alguns casos por 30 % da mão de obra
utilizada (GALVIS & VISSCHER, 1986). Convém ressaltar que o envolvimento comunitário é
de fundamental importância não apenas para a viabilização do abastecimento de água, mas para
sua valorização, difusão de hábitos higiênicos, sua manutenção auto-sustentável e até mesmo
para a preservação dos mananciais utilizados.

A operação do filtro lento resume-se à limpeza periódica, por raspagem da superfície do leito,
ao controle da vazão e à eventual cloração do efluente. Esta é uma forte razão para o incentivo
ao seu emprego em localidades com baixa capacidade operacional e obviamente, onde as
carcterísticas da água bruta o indica.

Os indicadores sanitários do país mostram que parcelas significativas da população residente


em zonas rurais e pequenas comunidades não têm acesso a serviços de saneamento, o que
agrava consideravelmente os problemas de saúde pública nessas regiões. A busca de

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alternativas tecnológicas de baixo custo e adequadas à realidade é indispensável a qualquer


esforço para melhorar os indicadores sanitários regionais e nacionais. Vasta literatura classifica
o filtro lento como tecnologia capaz de satisfazer estas condições.

CONCLUSÕES

? O filtro lento vem sendo subutilizado no país.


? Pode se configurar em uma alternativa simples e economicamente viável para o tratamento
de águas de abastecimento para comunidades de pequeno porte no Brasil.
? Possui vantagens em relação aos processos convencionais nos quesitos: custo de
implantação, operação e manutenção; facilidade operacional e redução da utilização de
produtos químicos.
? Ainda há carências de pesquisas em relação aos limites de aplicabilidade do processo e aos
parâmetros de projeto.

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