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Cariruto Tres D Resumo pa Se¢do: Farores Que Arena a Carscipabe Da Mamonia Dé Trapatsio 41, O tempo de prontinciaexerce um efeio importante no riimero de itens que podem ser armazenados na me- riéria de trabalho; de maneira geral, as pessoas conse- guem lembrar o ntimero de itens que so capazes de pronunciar em um segundo e meio, 3s efeitos do tempo de prontincia tém sido confirma- dos para estimulos como consoantes, nomes de cores, palavras sem sentido e nomes de paises; além disso, 0 span da meméria para niimeros & maior quando a lin- ‘gua falada pela pessoa tem mimeros de uma tinica sila- ba em vez de niimeros polissilabicos. 8. O significado das palavras também pode influir na lem- branga de itens armazenados na meméria de trabalho; quando a categoria seméntica muda entre provas vizi- has, lembranga aumenta, A ABORDAGEM DE BADDELEY SOBRE MEMORIA DE TRABALHO Conforme observamos no inicio deste capitulo, os pesqui- sadores durante as décadas de 1950 e 1960 exploraram com entusiasmo as caracteristicas da meméria de curto prazo. Porém, ninguém havia desenvolvido uma teoria abrangen- te para esse tipo de meméria de curta duracio. Na segéo anterior, mencionamos rapidamente a abordagem de Bad- deley. Agora que voc# estéfamiliarizado com os fatores que influem na capacidade da meméria de trabalho, podemos analisar a abordagem de Baddeley com mais detalhes. ‘Alan Baddeley (1999) ecorda o que o inspirou no desen- volvimento de uma abordagem alternativa para a idéia da ‘meméria de curto prazo durante o inicio da década de 1970. He e um colega, Graham Hitch, tinham recebido um finan- ciamento de tés anos do Britsh Medical Research Council pate pesquisera relacdo entre a meménia de curto prazo e a ‘meméria de longo prazo. Conforme escreve Baddeley, Em um almogo, tomando café, comesamos a discutir algu- ‘mas de nossas dlvidas sobre o campo de pesquisa da me métia de curto prazo naguela época, Ele estava passando ppor um pico de popularidade: os periddicos em psicologia Circuito fonol6gico stavam eepletos de experimentossebze o tema, empregan doum leque desconceranterente amplo de técnica e pre sentando ur conjunto pertrbadoramente grande de mo- delos explicatvos. Um Gnico livre publicado em 1970, por exemplo, nia weze colaboradores diferentes, cada um ex ppondo um modelo dfeente da meméria de euro prazo. B claro que nem todos podeniam estar certos! # natal que os modelos contivessem muitos elementoe em comum. Mes- mo assim, sensiamo-nos dscoafortavelmenteparecidos com osflésofosercolirtcosmedievai, quepareavam otempo di cutindo quantosanjs cbiam na ponta de um alee. (p. 45) Enquanto refletiam sobre esse dilema, Baddeley e Hitch compreenderam que precisavam concentrar-se em uma Questo importante: 0 que a meméria de curto prazo real- ‘24 para os nossos processos cognitivos? Acabaram por con- cotdar em que sua fungio principal é reter varios bits de informagéo inter-telacionados na mente da pessoa, todos a0 mesmo tempo, de modo que possam ser manuseados € processados. Por exemplo, se vocé estiver tentando com- preendera frase que esta lendo exatamente agora, precisaré ‘manter na mente as palavras iniclais até saber como a frase Bloco de esboco visuoespacial Fig. 3.5 Modelo de meméria de trabalho de Alan Baddeley, mostrando os trés componentes —0 circuite fonclégico, « bloco de ceshogo visuoespacial eo executivo central —_bem como sua interagdo com a meméria de longo prazo, vai terminar. (Pense no seguinte: vocé realmente guardou a palavras inicials na memoria até chegar & palavra term- nar) Baddeley e Hitch compreenderam que esse tipo de meméria de trabalho seria necessirio para um amplo leque de tarefas cognitivas, como célculo mental, raciocinio eso- lugio de problemas. ‘De acordo com a abordagem de Baddeley, a meméria de trabalho é um sistema tipartido que conserva e mani- pula temporariamente as informagées enquanto executa- ‘mos tarefas cognitivas. A fig. 3.5 ilustra a estrutura basica do modelo, apresentando o circuito fonol6gico, o bloco de desenho visuoespacial e 0 executivo central. A perspectiva de Baddeley destaca que a meméria de trabalho nfo é ape- nas um arquivo passivo, com muitas prateleiras para man- terem informagées parcialmente processadas até elas pas- sarem para outro local, provavelmente a meméria de longo prazo (Smyth etal, 1994) Bm vez disso, a Enfase na mani- ppulagéo da informacdo significa que a meméria de trabalho mais como uma bancada de trabalho onde o material estd constantemence sendo manejado, combinado e transforma do. Além disso, essa bancada de trabalho contém tanto 0 material novo quanto o antigo que vocé extrait do armaze- ramento (meméria de longo prazo). Repare que a fig. 85 ilustra como o executivo central tem acesso a meméria de longo prazo. ‘Vamos comecar nossa anélise da pesquisa considerando em primeiro lugar por que Baddeley viu-se compelido a concluir que a meméria de trabalho nao é unitéria, Em se- uida, vamos estudar cada um dos trés componentes —o ‘Circuito fonolégico, o bloco de esboco visuoespacial e 0 ‘executivo central. Depois, em nossa seco “Em Profundi- dade’, consideraremos vatias habilidades importantes as- sociadas is diferencas individuais na meméria de trabalho. Coneluiteras com uma répica avaliagao da abordagem de Baddeley a respeito da meméria de trabalho, EvipeNcias DE COMPONENTES COM CAPACIDADES. INDEPENDENTES Um estudo importante realizedo por Baddeley ¢ Hitch (1974) forneceu evidéncias convincentes de que a meméria de trabalho nao é unitéria. Esses pesquisadores apresenta- ram uma série de némeros aleatsrios a participantes instru {dos a ficar repetindo-os em ordem. A série de nimeros variava em extensio de zero a oito itens. Em outras pala- vras,a lista mais longa aproximava-se do limite superior da meméria de curto prazo, de acordo com a proposta 7 +2 de Miller (1956). Ao mesmo tempo, os patticipantes tam- bbém executavam uma tarefa espacial de raciocinio. Essa ta refa exigia que eles opinassem se certas afirmacées sobre a ordem das letras exam corretas ou incorretas. Por exernplo: quando as duas letras B4 apareciam, os participantes deve- ram responder a afirmagio “A vemn depois de B" apertando ‘um botio “sim, Se BA fosse acompanhado da afirmacao “B vem depois de 4’, os participantes deveriam apertar 0 botio “nao" Memoria DE TRABALHO 61 Imagine que vocé mesmo esté executando essa tarefa Nao pensaria que isa levar mais tempo e cometer mais e 10s na tarefa de raciocinio se tivesse de continuar a repetr coito ntimeros em vez de um apenas? Para surpresa de todos — inclusive dos participantes no estudo —, as pessoas exe- ccutaram 0 procedimento de maneira notavelmente répida ¢ exata nessas duas tatefas simultineas. Baddeley Hitch descobriram que as pessoas precisavam de menos de um segundo a mais na tarefa de raciocinio quando eram ins- truidas a repetir oito niimeros, em contraste com uma ta- tefa que nio exigia repeticdo alguma. © que impressiona ainda mais é que o indice de erros permaneceu em cerca de 5%, no importando quantos niimeros os participan- tes repetissem! ‘Osdados do estudo de Baddeley e Hitch (1974) contradi- iam claramente a opinio de que o armazenamento tempo- srio tem somente cerca de sete divisses, como Miller (1956) havia proposto. Em vez disso, a meméria de curto prazo parece apresentar diversos components que podem agir de ‘maneita parcialmente independente uns dos outros. O que esse estudo sugeria, na verdade, é que as pessoas podem cexecutar duas tarefas simultineas: uma tarefa que requeira repetigio verbal e outta que requeirajulgamentos espaciais (Os tedricos da meméria concordam hoje em que a meméria de trabalho nao pode ser unititia (Miyake & Shab, 1999). Portanto, como jé descrevemos, Baddeley e colabora- dotes propuseram trés componentes para a meméria de tra- balho: um circuito fonolégico, um bloco de esboco visuoespacial e um executivo central Baddeley, 1986, 19922, 1992b, 1999; Gathercole & Baddeley, 1993; Logie, 1995). ‘Vamos examinar cada tum desses componentes. © Circurro FonoLocico De acordo com 0 modelo da meméria de wabalho, o cit cuito fonolégico armazen um némero limitado de sons por um periodo curto. Susan Gathercole e Alan Baddeley (1998) argumentam que as pesquisas sobre o tempo de pro- niincia sobre o qual vocé aprendeu na Demonstragéo 3.3 pode ser explicado pelo espaco limitado de amazenamen- to no circuito fonolégico (Gathercole 1997; Gathercole & Baddeley, 1998). Vocé consegue pronunciar nomes de pa‘- ses como Cuba e Japao razoavelmente répido, podendo assim repetir depressa um ntimero grande deles. Em con- taste, vocé s6 consegue pronunciar um ntimero limitado de nomes mais longos, como Afeganistio ¢ Nicardgua. ‘Quando vocé tem um ntimero maior desses nomes longos ppara repetir, alguns deles inevitavelmente se perderio do armazenamento fonol6gico. Outnas Pesquisas sobre 0 Circuito Fonolégice. Estudos adi- cionais sobre o circuito fonol6gico tém examinado confu- sBes auditivas. Observamos que 0 circuito fonolégico = ‘mazena informagGes em questio de segundos. Portan:o ‘esperariamos encontrar confusées auditivas nos erros lembranca das pessoas. Tais confusées foram relatadas e dois estudos clissicos. QU 62 Captruto Tres Ha Procure um amigo que possa ajudar vocé neste breve estudo. Leia para ele as instruges que se seguem: ‘Vou ler para vocé vérias ists de itens. Cada lista incluird tanto letras como ntimeros. Depois que et ler uma lista, quero que vocé escreva todas os itens que conseguir lembrar ¢ na ordem correta. Esté bem? Vamos comecar. [Alids, use uma tégua ou folha de papel para ajudar vocé a ler cada fila com mais exatidio.] 2° NE Sener a Bos Get eee 5 A) eee 6 8. eee v2! SNe ieee ea 3 K NS 8X47 9 ORF ye a T Soa Se nfo conseguir um amigo que queira tentar esse estudo, pode restara si pr6prio, descobrindo uma linha de tens fe depois cobrinda-a novamente e tentando lembrar os tens na ordem. Porém, essa variacéo da demonstracio pode ser menos eficaz, porque os itens no sero apresentados em voz alta. De algum modo, € provivel que vocé codifique a maioria deles em seu circuito fonolégico, mas poderia confundir alguns itens com itens visualmente similares, em vez de itens acusticamente similares Primeiro, consideremos a situacio apresentada na De- -monstragio 3.4. Assim que pucer, procure alguém que possa ajudé-lo a experimentar essa demonstragio. Ela se baseia em um estudo cléssico de Wickelgren (1968). Apresentou- se uma fita de gravador contendo uma lista com oito itens aalguns participantes. Cada ista consistia em quatro letras quatro ntimeros em ordem aleat6rie, como as listas da demonstracao. Assim que a fita chegava ao fim, as pessoas tentavam lembrar lista na mesma ordem. Os participan- tes eram testados dessa maneira com uma série de cto lis- tas contendo, cada uma delas, cto itens. Wickelgren interessava-se em especial pelos tipos de substituigao feitos pelas pessoas. Por exemplo: se ndo lem- foravam corretamente o Pro final da primeira lista de tens na Demonstracio 3.4, 0 que lembravam no lugar dele? Wickelgren descobriu que as pessoas tendiam a substituir por um item acusticamente similar. Por exemplo, poderiamn substituir 0 P por, C, D, G, Q, Tou V, todas as letras que se pronunciam com som de *é”. Além disso, se colocassem tum niimero em lugar do P, provavelmente seria o ntimero. 6, Quando vocé experimentar a Demonstragio 3.4, obser ve se seu amigo apresenta um padrao semelhante de subs- tituigdo acistica de estimulos similares. Ele, ov ela, tam- bbém confundem M com N? Essa pessoa € razoavelmente exata ao lembrar o W/na segunda prove? Afinal nenhuma letra ou ntimero é acusticamente similar a0 W. Em um segundo estudo clissico, os participantes foram instruidos a ler listas de palavras inglesas que continham, pares de homénimos (Kintsch & Buschke, 1969). Os ho- ‘ménimos sio duas palavras similares em som, como so ¢ sew, por exemplo.” Uma lista tipica nesse estudo poderia conter a seguinte seqiéncia: racks, s0, buy, owe, ted, sew, tax, by, tide, oh (Os partictpantes eram instruidos a decorar cada lista de palavras na ordem. Depois que 0 material era apresentado, 10s pesquisadores citavam uma palavra da lista, por exem- plo, a palavra escrita so. Os participantes eram instruidos a citar a palavra seguinte da lista; neste caso, a tesposta cor- reta seria fuy. Kintsch e Buschke descobriram que, quando as pessoas erram, tendem a citar a palavra que vera depois do homénimo. Neste exemplo, poderiam citar 2 palavra tax (que vem depois de sew). Hssas confusées tinham maior probabilidade de ocorrer no final da lista. Esse padrao faz sentido porque os itens finais da lista tm a probabilidade de estar na meméria de trabalho, onde é provvel ocore- rem confuses actisticas para itens verbais, Dois Componemes do Circuito Fonolégico. De acordo com ‘progressos mais recentes da abordagem da meméria de a batho, o circuito fonolégico contém dois componentes dis- tintos (Gathercole & Baddeley, 1998). Um dos componen- tes, 0 armazenamento fonolégico, conserva uma quanti- dade limitada de informagSes em um cédigo actistico que eclina depois de alguns segundos. O segundo componen- Em poruguts eriamos seqioe sesso, (not do wadutr) te, 0 processo de repeticao subvocal, permite que a pes- 0a repita em siléncio para si mesma as palavras do arma zenamento fonol6gico. Esse processo ajuda a conservar os ‘tens no armazenamento fonolégico. De fato, quando pessoa é impedida de repeti subvocalmente, os itens no armazenamento fonolégico desaparecem gradualmente em poucos segundos (Healy & McNamara, 1996). A repeticio subvocal também é usada para tadurir palavrasimpressas, _gravuras e outro material nao auditivo era forma fonoléglca, de modo que podem ser mantidos no armazenamento fonolégic. A Base Biclégica do Circuito Fonolégico. Estudos recentes também tm sido realizados com técnicas de imageamento jerebral. De maneira gera, esses estudos demonstram que ‘as tarefas fonol6gicas ativam o hemisfério esquerdo do cé- ‘ebro (Gazzaniga etal, 1998). Essa descoberta faz sentido, como vocé pode ter visto em outras disciplinas em psicolo- gia. Compatado ao hemistério direito do cérebro, o hemi fério esquerdo é mais propenso a procescar informagSes amento cerebral sugerem que o armazenamento fonolégico estd associado ao lobo parietal do cértex (veja fig. 2.1). Além disso, o pracesso de repeticdo subvocal esté associado a0 lobo frontal, em particular as regiées do lobo frontal que lidam com a fala Smith & Jonides, 1997, 1998, 1995), Outros Empregos do Circuito Fonoligico. © circuito fonolégico desempenha um papel importante na nossa vida, quotidiana, além de seu papel evidente na meméria de tra- balho (Baddeley, 1999). Procure contar o niimero de pala- vras contidas na frase anterior. Vocé consegue ouvir sua ‘voz interna’ pronunciando os mtimeros em siléncio? Agora pro- cure contar o ntimero de palavras na mesma frase, dizendo depressa a palavra de enquanto esté contando. Quanda seu circuito fonolégico estd preocupado em dizer de, vocé néo consegue executar nem mesmo uma simples tarefa de con ‘agen! O circuito fonol6gico também desempenha um pa- pel importante na leitura, como veremos no Cap. 8. Diga a verdade: vocé consegue ler uma palavra longa como {ovolégio sem pronuncié-la em siléncio? Observe como esses usos do circuito fonolégico ilus- tram 0 Tema 4 deste livro: 0s processos cognitivos estio inter-telacionados uns com os outros; nfo agem isolada- ‘mente. Algumas trefas de solugdo de problemas (veja Cap. 10), por exemplo, exigem o circuito fonolégico da memé- tia de trabalho a fim de nao perder de vista os niimeros ¢ otras informagSes. As habilidades de letura (veja Cap. 8), ‘que ocupam um lugar to central em muitas tarefas cogni- tivas, também dependem demais do circuito fonol6gico. BLoco bE EsBo¢o VisuoEsPAciAL ‘Um segundo componente do modelo de Baddeley da me- miéria de trabalho € o bloco de esbogo visuoespacial, que armazena informagoes visuais ¢ espaciais. Esse bloco de es- bogo também amazena informacées visuais codificadas a relativas a linguagem. Pesquisas mais detalhadas de image- ° MEMORIA DE TRABALHO 63 partir de estimulos verbais (Baddeley, 1999; Lozie, — 00 caso de quando um amigo conta uma histéria se pega visuelizando a cena. Casualmente, 0 bloco de « bogo visuoespacial tem sido conhecido por vitios nom diferentes, como bloco de rascunho visuoespacial wera trabalho vswoespacial. Voce pode encontrar esses terms alte nativos em outs fontes sobre a meméria de tabalho. ‘Ap comecara ler sobre o bloco de esboco visuoespacial, Jembre-se das pesquisas de Baddeley e Hitch (1974) que discutimos antes. As pessoas podem trabalhar simulkanea- ‘mente em uma tarefs verbal fepetindo um néimero) ¢ em. uma tarefa espacial (emitindo opini6es sobre a posigio re- Iativa das letras A e B) Conttido, como 0 circuito fonolégico, a capacidade do bloco de esbogo visuoespacial é limitada (Baddeley, 1999; Frick, 1988, 1990). Lemioro-me de ter dado aula de geome- ‘tia a uma aluna do ensino médio. Quando trabalhava so- Zinha, muitas vezes ela tentava resolver os problemas geo- métricos em um pedaco pequeno de papel. Como voce pode imaginar, 0 espaco restrito fazia com que ela cometesse imiitos eros. De modo semelhante, quando entram itens por demais na sua meméria de trabalho visuoespacial, voc no consegue representé-los com exatidio suficiente para serem recupetados com éxito. ‘Alan Baddeley (1999) descreve uma experincia pessoal ‘que o fez avaliar como uma tarefa visuoespacial pode inter- ferir em outra, Como cidadao brinico, ficou muito fasci- nado com o futebol americano ao passar um ano nos Esta dos Unidos, Em certa otasifo, resolveu ouvir uma partida de futebol enquanto dirigia er uma auto-estrada da Cal- fémia, A fim de entender o jogo, julgou necessério formar ‘imagens claras e detalhadas da cena e da acéo, Porém, en- ‘quanto criava essas imagens, descobriu que o carro come- cou a desviar da pistal Baddeley considerou que era impossivel executar uma tarefa que exigla uma imagem mental — com componen- tes visuals ¢ espaciais— ao mesmo tempo que executava ‘uma tarefa espacial que exigia manter 0 carro dentro de fronteiras estabelecidas. Baddeley chegou & concluséo que tinha de ligar 0 r4dio em um programa de miisica a fim de ditigir com seguranga. Como voc? pode imaginar, a expe- éncia que Baddeley teve de uma tarefa dual inspirow al- ‘gumas pesquisas de laboratério. Essas pesquisas conti maram a dificuldade de executar duas tarefas visuoes- ppaciais ao mesmo tempo (Baddeley, 1999; Baddeley etal. 1973) De maneira geral, tim-se conduzido menos pesquisas sobre 0 bloco de esbogo visuoespacial do que sobre o cir. ccuito fonolégico (Engle & Oransky, 1999; Healy & McNNa- ‘mara, 1996). Contudo, no Capitulo 6 examinaremos alguns ‘6picos relacionados, em especial, as manipulagSes men- tis que executamos nas informacées visuoespaciais. Ne: ta presente discussio, vamos considerar um estudo sobre codificacao visual e um outro sobre a codifcagio espa ‘Também veremos rapidamente algumas pesquisas impo tantes sobre imageamento cerebral, LAT 64 Cartruto Tres Codifcago Visual na Meméria de Trabalho. Os alunos de disciplinas como engenharia, pintura e arquiteture usam com freqiiéncia a codificagéo visual e 0 bloco de esboco vvisuoespacial em seus estudos académicos. Talvez seja mais, seguro dizer que 0s alunos dos cursos de psicologia e ou- tas ciéncias sociais so mais propensos a usar a codifica- glo verbal/auditivae o cretio Fonol6gico. Em nossas atividades quotidianas nao académicas, a codificagio auditiva também parece ser o mesmo mecanis- ‘mo padrio para codificar itens na meméria de trabalho. Porém, quando essa opsdo auditiva nlo esta dispontvel, os itens podem ser codificados segundo suas caracterfsticas ‘vsuais, Vamos examinar as pesquisas realizadas por M. A. Brandimonte e colaboradores (1992), que evidenciam que, 2s pessoas usam a codificagdo visual quando a codificagao, auditiva é suprimida. fi Em particular, vamos comparar 0 desempenho de dois grupos de participantes em um dos estudos de Brandimon- te, Em uma condigio, que chamaremos de grupo de con- tole, as pessoas viam uma sétie de seis Figuras de objetos, como os que levam o titulo “Figura original” na fig. 3.6. ‘Durante a Tarefa 1, a série era repetida até que os particl- ppantes decorassem a ordem das figuras. ‘Na Tarefa 2, pedit-se aos participantes do grupo de con- trole que ctiassem uma imagem mencal de cada figura da série € que retirassem uma parte especificada de cada ima- gem. Pedia-se-lhes, entio, que dessera um nome imagem resultante. Pot exemplo: suponha que eles criaram a ima- ‘gem mental do bombom na fig. 3.6 e que depois retiraram. 4 parte especificada. Observe que eles deveriam terminar descrevendo a imagem resultante como um peixe. De ma- neira semelhante, 0 cachimbo menos a parte especificada deveria ser descrito como uma tigela. Os participantes nes- sa condigao de controle tiveram éxito em dar nomes comre- } tos a ume média de 2,7 tens somente, em um maximo de 6,0 itens. Durante a Tarefa 1, haviam provavelmente usado a codificacao auditiva para aprender os nomes dos estimu- Jos; ou seja, repetiam em siléncio os nomes “bombom’, “cachimbo"e assim por diante, Normalmente nao criavam, um cédigo visual para os estimulos. Como resultado, em. sgeral ndo tinharf qualquer imagem visual da qual podiam retirar a parte especificada na Tarefa 2. Sem uma imagem. visual, a Tatefa 2 era tao desafiadora que eles respondiam, comretamente a menos de metade dos itens. (Os participantes no segundo grupo desempenharam a ‘maioria das mesmas tatefas que os do grupo de controle Contudo, havia uma excegio; enquanto estavam decoran- doa lista original de figuras na Tarefa 1, eram instruidos @ repetir um som sem importincia (lé1é-lé"). Observe que essa repeticio bloquearia a representagdo auditiva de cada figura, criando a supressao verbal. Voeé no consegue di- zer“bombom e “cachimbo” para si mesmo se estiver can- ‘tando “lé-6-16" em voz altal Qual foi o éxito dos participantes no grupo de supres- so verbal na Tarefa 2, a0 identificarem a imagem criada pela setizada da parte especifica? Como se revelou, eles t- vveram um desempenho signficativamente melhor do que as pessoas na condigao de controle. De fato, deram nomes comretos 3,6 itens em média, Como a codificacio auditiva tinha sido diffe, havia mais probabilidade de usarem a co- dificagao visual. Como resultado, na tarefa de retirada de parte da figura tiveram pouca difculdade para retirar uma parte da imagem visual. Codiicagao Espacial na Memsia de Trabalho, Assia que puder, solicite a varios amigos para experimentarem a De- monstragdo 3.5. Veja se os amigos que fecharam os olhos constroem a matriz de manera mais exata Figura original Parte especificada Imagem que para ser subtraida da deveria resultar imagem mental depois da subtragio box q KO OF = © Fig. 3.6 Dois estimulos empregados om estudo realizado por Brandimonte e colaboradores. Fonte: Basoado om Brandon etal, 1862 MEMORIA DE TRABALEO 65 Para esta demonstragao voce precisaré seunir vérios amigos que possam fazer o teste em grupo. Comece cobrindo as instrucSes. Mostre ao grupo somente a matriz de quadrados na parte inferior da demonstragao. Chame a aten- sfo para a estrela que ha em um dos quadros ediga-thes que devem procurar visualizar essa matriz, com a estela, enquanta seguem suas instrugbes. Depois de lhes haver mostrado a matnz, digarlhes que voce vai ler uma lista de frases. Hes deverdo procutar visualizar a matriz comegando com o quadrado que tem a estrela, e depois seguir as instugdes com bastante cuidado. Peca a uma metade do grupo para fechar os olhos ¢ & outa metade para olhar para um objeto especitico no comodo. Enzo lela em voz alta as seguintes frases: ‘No quadrado coma estrela, coloque um 1 No quadrada logo & direita, coloque um 2. No quadrads logo direita, coloque um 3. ‘No quadrado logo abaixo, coloque um 4, ‘No quadrado logo & esquerda, coloque um 5. No quadrads logo abaixo, coloque um 6 ‘No quadrado logo & esquerda, coloque um 7. No quacrado logo acima, coloque um 8. Nlo quaclrada logo a esquerda, coloque um 9. No quacrado logo abaixo, coloque um 10. Finalmente, entregue a cada aluno uma matriz em branco (da qual vocé deve ter feito cOpias de antemiic) ¢ peca- Ihes para colocar o néimero adequado no quadrado adequado. Quando todos tiverem acabado, recolha os paptis e conte o timero de algarismos colocados comretamente pelo ‘grupo que estava de olhos fechados e pelo grupo que estava de olhos abertos. (Vocé encontraré a resposta no final deste capitulo) A Demonstragdo 8.5 baseia-se em um estudo feito por ‘Toms e colaboradores (1994). Eles solicitaram aos partici antes da pesquisa que executassem uma tarefa espacial como essa, sob quatro condigées, Duas delas tinham inter feréncia visual mnima: os partcipantes ficavam de olhos fechados ou olhavam para um monitor com a tela em bran- co. As duas outzas condigdes envolviam interferéncia visu- al: 0s patticipantes olhavam para um quadrado branco na tela ou para um padrdo, também na tela, que mudava con- tinuamente de azul para branco. Como vocé pode ver na Tabela 3.2, as pessoas se safam consideravelmente melhor nas duas condigGes sem inputs visuais que interferissem, em sua meméria visuoespacial de trabalho. Toms e colaboradores também solicitavam a outros participantes que executassem uma tarefa verbal. Essa tarefa exigia que eles lembrassem frases sem sentido que no contivessem quaisquer informagées espaciais. Nel as palavras up [pare cima], down [para baixo], lef [3 es- querdal ¢ right [a direita] foram substituidas pelas pale- vzas good [born], Had [ruim], slow (lento] e quick [répido) Assim, uma amostra de frase poderia ser “In the nex= square to the quick, put a 2° [No préximo quadzado, 66 Caniruto Tres (Ohta TARHPA VISUAL E RAMA TARHEA VEREAL. ‘Média do percentagons do respostas corretas por prova em cada condigao thos Fechados ‘Tela em Branco ‘Quadrado Padréio ‘Tareia espacial 85% eam 0% 69% ‘Taota verbal 7% 10% - 2% 80% répido, coloque um 2], Estes participantes ouviam essas frases sem sentido sob as mesmas quatro condigdes usa- das na tarefa espacial. Contudo, como faltavam as pala- vras espaciais, € possivel que sua meméria visuoespacial de trabalho ficasse inativa Conforme mostra a Tabela 32, 0 segundo grupo de par ticipantes lembrava a mesma percentagem de frases em to- das as quatro condicées da tarefa verbal. Provavelmente, essa tarefa verbal empregue o circuito fonolégico e, porisso, «@ input da tela do monitor nao fomneca interferéncias de importéncia. Como enfatiza a abordagem da meméria de’ trabalho, 0 bloco de esbogo visuoespacial ¢ 0 circuito fonolégico trabalham independentemente. Além disso, 0 inputvisual interfere no bloco de esbogo, mas nfo tem qual ( quer efeito no circuito fonolégico Base Biolégjca do Bloco de Esbogo Visucespacial. De ma- neira geral, as pesquisas sobre imageamento cerebral suge- rem que as tarefas visuais e espaciais tendem a ativar o he- isfério direito do cértex, e nfo o hemisfério esquerdo (Awh & Jonides, 1999; Gazzaniga et al, 1998; Smith & Jonides, | 1997). Esses estudos devem ir ao encontro de informacées que vocé provavelmente recebeu em outros cursos — 0 hemisfétio direito é responsavel em geral por tarefas espa- ciais, no verbais, ‘As tarefas visuaise espaciais muitas vezes ativam vérias partes diferentes do cértex. Por exemplo: as tarefas da me- méria de trabalho com um componente visual forte nor- maelmente ativam a regido occipital, parte do cérebro res- pponséve pela percepeao visual (Smith &Jonides, 1997) (veja novamente a fig. 2.1). Além disso, diversas regides do cor tex frontal estio ativas quando as pessoas trabalham em, tarefas visuats e espacials (Cabeza & Nyberg, 1997; Courtney et al., 1998; Smith & Jonides, 1996). Pesquisas recentes sobre a meméria espacial de trabalho também su- gerem que as pessoas repetem mentalmente esse material deslocando a atencéo seletiva de um local para outro em sua imagem mental (Awh et al, 1998). Como resultado, essa repetico mental ativa dreas nos lobos frontal e pacie- tal. So as mesmas éreas do cértex associadas & atensao, conforme discutimos no Cap. 2 ) Executivo CENTRAL / De acordo com o modelo da memérla de trabalho, o exe \ cutivo central integra informagdes que vém do circuito ) Fonolégico e do bloco de esboco visuoespacial, bem como da meméria de longo prazo. O executivo central também desempenha um papel importante na atencéo, planejando estratégias ¢ coordenando 0 comportamento Baddeley, | 1992b; Gathercole & Baddeley, 1993; Healy & McNamara, | 1996). Além disso, 0 executivo central é responsével pela _suptessio de informagSes nao pertnentes (Engle & Conway, 1998). Em nossas atividades diarias, nosso executivo cen- tral auxiliaa decidir o que fazer em seguida, Também auxi- lia a decidir 0 que ndo Fazer, de modo a ndo nos afastarmos (do objetivo inicial. A maioria dos pesquisadores considera que o executivo ‘central planeja e coordena informacGes, mas ndo as arma- ‘zena (Richardson, 19962, 19966). Como voce sabe, tanto 0 Circuito fonol6gico quanto o bloco de esboco visuoespacial | detém sistemas especializados de armazenamento. ‘Fegue um relogio com ponteiro de segundos, Sua tarefa é produzir uma seqiéncia de niimeros aleatsrios. Em pazticulr, verifique se sua lista contém uma proporgéo aproximadamente equivalente dos niimeros que vao de 1a 10, Verifique também se a lista nao mostra qualquer repetiedo sistemnética na seqliéncia, Por exemplo: o ni- mero 4 deveré ser seguido com a mesma freqiiéncia por cada um dos niimeros de 1 a 10. Cada vez que © ponteiro de segundos avancar um segundo, acrescente outro niimero 8 seqiiéncia. (Diga o niimero em voz alta, se nao houver mais ninguém no ‘cémodo; caso aj, diga o ntimero para simesrio,) Con- ‘tinue executando essa tarefa por cerca de cinco minu- tos. Se comeroua devaneat, reparou que nesse momen- to voc# nfo se esforgou tanto quanto antes na producao de uma verdadeira sequéncia aleatotia de nimeros? Em comparagiio com os outros dois sistemas, é mais di- ficl estudar 0 executivo central empregando téenicas con- troladas de pesquisa, Porém, ele exerce importante papel nas funges gerais da meméria de wrabalho, Como Badde- ley (1986) frsa, se nos concentréssemos, digamos, no cir caito fonologico, a situacdo se pareceria com uma anélise critica do Hamlet que enfocasse Polénio — personagem ‘menos importante — e ndo tomasse conhecimento algum do principe da Dinamarcal Baddeley (1986, 1999) propde que o executivo central twabalha como supervisor executivo em uma organizacao, De acordo com essa metéfora, 0 executivo decide quais os assumtos que merecem atenco e quais os que seriam igno- rados. O executive também seleciona estratégias, calculan- do como manejar um problema, Examinaremos 0 assunto da selecao de estratégia de modo mais completo no Cap. 5, ‘em conexo com a metacognicéo. Como qualquer executivo em uma organizacio, 0 exe-! cutivo central tem capacidade limitada para executar tare- fas simultneas; nosso executivo cognitive nao consegue ‘tomar muitas decisSes 20 mesmo tempo. Além disso, como qualquer supervisor competente, o executivo central reine informagées de diversos tipos de fontes. Para continuar com ssa metéfora, o executivo central na meméria de trabalho sintetiza as informacSes que vem de dois assistentes, o cir cuito fonol6gico e a meméria visuoespacial de trabalho, e/ também da grande biblioteca conhecida como meméria de longo prazo. No préximo capitulo examinaremos as carac- teristicas desse admirével armazém. Em contraste com as. capacidades restitas do citcuito fonolégico e da meméria visuoespacial de trabalho, a meméria de longo prazo ndo tem limites, © Bxecutivo Central eo Pensamento Independente de Es- tirulo, Neste exato momento vocé pode estar envolvido em um pensamento independente de estimulo, uma ex- Pressdo bem mais elegante para designar a atividade lige- aments embaragosa que costumamos chamar de "deva- 2eio". De modo mais formal, os pensamentos indepen- dentes de estimulo sio correntes de peasamentos ¢ inna- gens ndo relacionados ao input sensorial que estd em fluxo de proceso nos seus receptores sensoriais. Por exemplo: agora mesmo, vocé pode estar pensando em um comenté- #0 feito ontem por um amigo ou naquilo que vocé estard fazendo na préxima semana, io O interessante é que esses pensamentos independentes de estimulo exigem esforcos do executive central; Vejamos um estudo de Teasdale e colaboradores (1995). Esses pes- quisadores examinaram duas tarefas que, supuseram eles, siam competir pelos recutsos limitados associados a0 exe cutivo central. Experimente a Demonstragio 3.6 para ilus- ‘uaruma dessas tarefas, chamada taref de geragio de mimeros -leatbis, Como sugere o nome, os participantes foram ins- ssuitos para fornecer um niimero por segundo, obedecen- doa faixade 1a 10, em proporgées aproximadamente iguais cemseqiiéncia aleatéria. A tarefa é desafiadoral A cada dois. MEMORIA DE-TRABALHO 67 ‘minutos, mais ou menos, o pesquisador interrompia a tare- fa e pedia ao participante para anotar qualquer coisa em: que pensasse. Os pesquisedores entio examinaram as provas em que os participantes relatavam que haviam pensado sobre os niimeros, ou entfo, que nada haviam pensado de especial Nesses testes, os resultados mostraram que os participan- tes tinham conseguido produzir com éxito uma seqdénciz aleatéria de ntimeros. Em contraste, quando relatavam pen- samentos independentes de estimulo, os resultados mos- tavam que suas seqiiéncias de miimeros estavam longe de serem aleatéris. Aparentemente, seus devaneios ocupavam tantos recursos do executivo central que eles nao consegui- / am criar uma seqiiéncia de fato alcatéria de ntimeros. A Base Biolégica do Executivo Cental. De maneita ger 0s pesquisadores sabem menos sobre o fundamento biol ico do executive central do que sobre os outros dois com- ponentes da meméria de trabalho. As pesquisas sobre ima- geamento cerebral mostram claramente que o lobo frontal do cértex é a porcio mais ativa do cérebro quando as pes- s0as tabalham em vétios tpos de tarefa do executivo cen- tual (Smith & Jonides, 1997). Contudo, os processos execu- ( tivos nio parecem estar confinados a quaisquer locais es- Pecificos dentro do lobo frontal Beardsley, 1997) ‘Até certo ponto, essa incetteza sobre a atividade do lobo frontal se deve ao fato de que o executive central na verda de lida com um grande nimero de tarefas distintas (Smith & Jonides, 1999). Suponha, por exemplo, que vocé esti redigindo um trabalho para seu curso de psicologia cogni- tiva, Enquanto faz isso, seu executivo central pode inibir vvocé de prestar atencdo a alguma pesquisa que nao tenha importéncia para a sua abordagem. Também pode ajudé-lo a planejar a ordem dos t6picos a serem comentados. Além disso, ele 0 guia enquanto vocé planeja o cronograma de tedacao do trabalho. Cada uma dessas tarefas do executiva central parece sez qualitatamente diferente, embora todas sejam desafiadoras. Talvez tenhamos respostas mais defi- nitivas sobre os correlatos biolégicos do executivo central quando tivermos classificagées mais nitidas dos tipos de tarefas por ele executadas. Novos RuMos Para AS PESQUISAS SOBRE MeMOrIA DE TRABALHO. Na década de 1960 e no inicio da de 1990, a maioria das Pesquisas sobre a meméria de trabalho concentrava-se no diteuito fonolégico, Pesquisas mais recentes tém examina- do a meméria visuoespacial de trabalho e 0 executivo cen- tual. Estas pesquisas tém demonstrado que a meméria de trabalho é to flexivel como estratégica. As perspectivas atuais sio muito diferentes da visio que se tinha durante as décadas de 1950 e 1960 de que a memaéria de curto prazo ra relativamente rigida e de capacidade fixa, Um dos progressos mais recentes nessa drea é pesquisadores estio procurando examinar a mem 12 08 68 Cartruto Tris ) wabalho a partir da perspectiva do processamento distibu- {do paralelo, a nova teoria de destaque mencionada no Cap, 1 (Logie, 1995; Schneider, 1999). Outro caminho dessas pes- quiss tem sido relacionar a meméria de trabalho a outros sistemas cognitivos. Carlson e colaboradores (1998), por exemplo, tim estudado como as informagies que vémn da ‘memoria de wabalho se coordenam com as informacées que vim da percepgio. Além disso, outros pesquisadores estio investigendo o modo como amazenamos conceitos na me- ‘méria de trabalho (Potter, 1999; Safran & Martin, 1999) ‘DirreNcas INDIVIDUAIS NA MEMORIA DE TRABALHO Os psicélogos cognitivistas geralmente realizam pesqui- sas que enfocam habilidades humanas especificas. Por exemplo, os pesquisadores interessados na percep¢io podem admitir que as pessoas podem diferir umas das ‘outas na habilidade em zeconhecer fsionomias ou na ‘exatidao em executar uma tarefa de atengio dividida. | Contudo, suas pesquisas e teorias dio énfase a regras | _getais que podem ser aplicadas ao sistema visual hurma- no, Uma excecao notavel sdo as pesquisas sobre as dife- | rengas individuals na meméria de wabalho. Considere- | mos estas tés perguntas a respeito das diferencas indi- viduais: 1. Como a capacidade da memoria de trabalho esti selacionada as habilidades de linguagem? 2. Como a capacidade da meméria de trabalho esté relacionade & capacidade de leitura? 8. Como pode a teoria da meméria de trabalho ex plicar as capacidades extracrdindrias de memoria que algumas pessoas tém? Menta de Trabalho « Habiidades de Linguagen. Virginia Rosen e Randall Engle (1997) conjecuraram que a capacidade da meméria de wabalho estara zlaciona- a.a.uma forma especifica de habilidade, a saber, onivel gerade fuéncia verbal das pessoas. Pense em algumas pessoas extremamente fuentes. Els falam sem hesita- 0, parecendo capazes de buscar na meméria, com ppoucsdificuldade, uma grande variedade de palavras; ‘outa falam de maneita mais hestante etém vocabuli- io mais imitado, Rosen e Engle projetaram um teste de meméria de trabalho que enfocava especialmente o executivo cen ‘eal, Esse teste est ilusrado na Tarefa 1 da Demonstra- slo 8.7. Observe que € uma tarcfa desafiadora porque énige @ coordenasio da capacidade de resolver proble- | mas (a srefa de aritmética) com o circuito fonol6gico (a tarefa de meme), Rosen e Engle aplicaram o teste a | um grupo de unbeaten apetcatmdo moukos as EM PROFUNDIDADE (Outros psicélogos esto procurando expandiro modelo ‘da meméria de trabalho. Berz (1995) destaca que o modelo ‘ni explica a meméria musical. Em alguns casos, podemos ouvir mtisice instrumental sem perurbar o desempenho de outras tarefas auditivas. E ainda hé psicGlogos que comegaram a examinar as di- ferencas individuais na meméria de trabalho. Essa area de pesquisa mostrou-se especialmente produtiva durante a ttima década e, por isso, vamos examiné-la na segio “Em Profundidade’. a fim de obserem uma medida fidedigna da meméria de trabalho. Os universitirios dente 05 25% com escore | ais elevado do grupo (escore elevado em meméria de | trabalho) ¢ os universitérios dentre 05 25% com escore | ‘mais baixo (escore baixo em meméria de trabalho) fo- | ram convidados a paricipar da segunda pare do estu- | do. Essa segunda parce assemelhava-se &Tarefa? daDe- | monstragio 3.7, exceto pelo fato de que os participantes produziam ncmes de animais durante um total de quin- 2 minutos. O ntimero total de nomes diferentes de ani- mais foi usado como medida de fuéncta verbal Allg. 37 compare a flugncia verbal média dos uni- versitrios que obtiveram escore elevado com a dos que dobtiveram escore baixo, Como se pode notar, os dois | s1upos diferem mesmo durante o primeiro minuto do teste de fluéncia verbal. Antes do fim do periodo de quin- ze minutos, os estudantes com escore elevado de me- éria de tabalho tinham listado cerca de 50% a mais de nomes de animais do que os estudantes com escore baixo. Lembre-se também de que Rosen e Engle testa- ram somente alunos universitirios. Uma amostra de Partcipantes que incluisse uma populagéo mais geal, sem divida, mostrar uma difezenca ainda maior na flu éncia verbal entre as pessoas com escore alto e baixo no teste de meméria de trabalho, © estudio de Rosen e Engle (1997) ilusta que o con- ceito de meméria de trabalho esté mesmo relacionado Ashabilidades de linguagem. As pessoas que conseguem lembrar uma lista de palavras em ordem, enquanto exe- cutam um eéleulo mental, séo capazes de demonstrar fluéncia verbal, buscando na meméria um grande nii- ‘mero de palavras imporantes. | Hapesquisas que tim abordado um outro aspecto das habilidades de inguagem:a capacidade de aprender ovo- cabulirio de uma lingua esaangeira. Atkins e Baddeley (1996) testaram o span da meméria verbal tanto para le- ‘bas quanto para niimeros. As pessoas com escore eleva o acertaram mais do que as que apresentaram escore teaixo na aprendizagem dos pazes de palavras em inglés- finlandés. Nesse caso, pois, 0 circuito Fonolégico da me- rétia de trabalho ajuda as pessoas a associarern uma pa- Javra familiar @ uma palavra de lingua estrangeira. £inte- MEMORIA DE TRABALHO 69 i] Tarefa #2 Sua primeira tarefa é uma medida da meméria de trabalho que enfoca 0 executivo central. Voce precisard executar ima série de problemas aritméticos enquanto conserva algum material na meméria. Supo- nha, pot exemplo, que voc# est vendo o seguinte iter: @x4—2=102 ARVORE. Primeiro, responda “sim" ou “nao” ao problema atitmético (neste caso, “sim’). Olhe entio a palavra que vem depois do ponto de interogacio e guarde essa palavra Agora pegue um pedaco de papel em branco e recorte uma “janela” para expor um item de cada vez. Passe- a rapidamente pela lista, mas procure ser exato. Quando termina, feche o livo e lembre as seis palavras na orden. Seu grau de exatido nesta tarefa de meméria é a medida da meméria de trabalho empregada por Rosen e Engle (1997) 6x3) 44=172 LIVRO (6x2-3=" FLOR @x3)—4=21 CADERA @x4+6=22 SAPO Gx9-8=18 PAPEL @xs-2 ‘Lembre agora as palavras na ordem cometa. 322 CAMISA Tarefa 2. Agora pegue tum relégio. Durante 05 préximos dois minutos, escreva todos os nomes de animals que puder. Procure néo repetir nenhum. Esta é a medida da fluéncia verbal empregada no estuco de Rosen Engle. 140. 6 Escore elevado de meméria de trabalho ‘© Escore baixo de meméria de trabalho ie 120+ i ‘Média de palavras acumuladas S33 4S T T T T 12345678 9 2 4 15 Minatos gastos na tarefa Fig.3.7. Mimoro médio de nomes de animais fomecidos por pessoas com memérla de trabalho elevada ¢ com meméria de trabalho baixa, Esta figura mostra lembcangas acumuladas, Fouts Rooen & Bogle, 1997 70 Captruto Tass ressante notar, no entanto, que o span da memoria visuoespacial nio estava relacionado a aprendizagem de ‘um vocabulirio estangeiro. Em outras palavras, 0 bom desempenho da memoria fonolégica — mas no 0 bom desempenho da meméria visuoespacial — esta especifi- camenteligado ao aprendizado elicaz de novo material verbal Meméia de Trabatho e Habilidades de Leitura. Vi os pesquisadores tém demonstrado que a meméria de trabalho esté relacionada a medidas da capacidade de Ieitura. As pessoas com grandes spans de meméria de trabalho so particularmente hébeis em adivinharo sig- nificado de palavras incomuns com base no coatexto da frase (Daneman & Green, 1986). Ao que parece, seu gran- de span de meméria permite que clas sejam eficientes | na leitura, de modo que ficam com mais atengio “so- brando* para lembrar as pistas contextuais importantes. | A meméria de trabalho também desempenha um papel na decodificacio de frases. Miyake e colaborado- res (1994) solicitaram que algumas pessoas lesser fra- ses como esta Since Ken relly liked the boxer, he took a bus to the nearest pet store to buy the animal, [Como Ken gostava realmente do boxer, ele tomou um dnibus até a lja de animais mais préxime para comprar © animal) Observe que, de inicio, a palavra foxer € ambigua: esta~ ‘mos falando de um atleta ou de um cao? Os leitores que tinham grande capacidade de meméria de trabalho exam ‘bastante capazes de ativar ambos 0s significados da pa~ lavra boxere manté-los na mente até a ambigilidade ser resolvida. Por sua vez, os leitores com pouca capacidade de meméria de trabalho, tinhamn dificuldade para ler 2 frase quando clase referia ao sentido menos comum da palavra ambigua (como neste exemplo). Tudo indica que esses leitores inicialmente construiram somente uma ‘inica interpretacio para boxer ¢ tiveram de lutar para construir o significado altemativo. Meméria de Trabalho ¢ Experts da Meméria. X. Anders Ericsson tem estudado os experts da meméria por cerca de vinte anos. Vejamos um estudo clissico de dois dividuos capazes de expandir de mancira impressio- ante sett span de meméria (Chase & Ericsson, 1981). Como voe# sabe, muitos de nds somos capazes de lem- ca de sete ntimeros seguidos, Um homem cha- mado S. E, porém, conseguia alcangar o extraordinario 4, Aabordagem de Baddeley sugere quea meméria de ta- balho nio é um armazém passivo; ao contrétio, se pare- ce com uma bancada de trabalho onde o material est continuamente seado combinado ¢ tans-formado, span de meméria de cerca de oitentaitens. 5. Endo re- cebia treinamento no aprimoramento da meméria nem | instrugéo sobre isso. Ele, no entanto, era um bomcone- | dor de longa distincia e logo comegou a codificar os riimeros dos tempos gastos em diversas conidas. Con- | seguia lembrar, por exemplo, a seqiéncia 3492 como “8 minutos e 49,2 segundos, pr6ximo do recorde mundial de corrida de uma milha’. Ele construiu cédigos seme- | Ihantes para outros ntimeros nas séries. | ‘Mais recentemente, riesson e seu co-autor PeterDe-_ | Janey desenvoiveratn uma teoria para explicar 0 excep- | ional desempenho de meméria de individuos como S. | E Como oct sabe, a meméria de trabalho ter capaci- | dades limitadas de armazenamento; por isso, omodelo | padrio de tués componentes de Baddeley da meméria de trabalho no pode explicar como alguém como S. E consegue lembrar uma lista extensa de nimeros. Para | abordar esse assunto, Brisson e Delaney (1998, 1999) | ropdem que os individuos altamente habeis podem ul- trapassar a capacidade limitada da meméria de trabalho cempregando habilidades que lhes permitem armazenar ‘material importante na meméria de longo prazo. Con- tudo, eles tém um acesso rapido a esse material porque as pistas especificas de recuperagao conectadas a cle sfo | conservadas na meméria de trabalho. Em termos espe- | cffcos, otermo meméria de trabalho de longo prazo | € definido como um conjunto de estratégias adquizidas | que pemnitem aos exens expandirem seu desempenho de meméria em certos tipos de material dentro dos do- | inios da percia (experts). "A perica de S. E em velocidades de corrida, junta- mente com as estratégias por ele adquiridas para seg | mentar a seqiiéncia de némeros, permitivlhe desenvol- | ver uma meméria de trabalho de longo prazo. Outros | exper de meméria desenvolvem suas formas pessoais de meméria de trabalho de longo prazo em areas espe- Cificas. Esses expen incluem tanto um gargom que de- cora até vinte pedidos completos de jantar, um enxa- drista que joga diversas partidas simultineas de xadrez (ede athos vendados!) quanto médicos que avaliam com rapidez diagnésticos alternatives para uma enfermidade | (Ericsson, 1985; Ericsson & Delaney, 1999). A pericia & hoje um assunto palpicante na psicologia cognitiva que | continuaremos a examinar em todo 0 livro. © Cap. 4, | por exemplo, detém-se em outros aspectos da pericia de meméria €o Cap. 10 discute os experts em resolugdo de | problemas. BD Resumo pa Secho: A ABoRDAGEM DE Bappetey sare MEMORIA DE TRABALHO 2, Em um estudo elissico, Baddeley ¢ Hitch (1974) de- ‘monstraram queas pessoas conseguiam executar simul taneamente uma tarefa verbal e uma tarefa espacial com ‘um minimo de reducdo em velocidade e exatidéo. a = Na teoria de Baddeley o circuito fonolégico armazena ‘um némero limitado de sons, como foi demonstrado pelas pesquisas de tempo de prontincia; pesquisas pos- terlores mostram que os itens armazenados no circuito podem ser confundidos com outros itens de som se- melhante. . Levidente que o circuito fonclégico possui dois com- Ponentes: 0 armazenamento fonolégico (associado 20 cOrtex parietal) eo processo de repeticéo subvocal (as- sociado ao lobo frontal. . Um segundo componente da abordagem da memeéria de twabalho é 0 bloco de esbogo visuoespacial, que armaze- na informagoes visuals e espacias. A capacidade dessa caracterstca é também limizada, eas pesquisas demons- ‘warm que duas tarefas visuoespacias irdo interfer urna na outta se forem executadas simultaneamente. Aaativacio do bloco de esboco visuoespacial esté asso daa diversas regides do cértex, inclusive a regio occipital (para tarefas visuais) a regio frontal ea regio parictal. © executivo central integra informagées que chegam do cireutto fonolégico e do bloco de esboso visuoespa- 8 9. 10. ‘MEMORIA DE TRABAL cial, bem como da meméria de longo prazo. O exe: tivo central é também importante na atengio, sale nando estratégias fazendo planos. © executive central ndo pode executar duas tarefas, desafiadoras simultaneamente — 0 devaneio, por exemplo, interfere na producéo de uma seqiiéncia de niimeros aleatérios. O executive central ativa princi palmente o Iobo frontal ‘Novas reas nas pesquisas sobre a meméria de traba- Iho incluem o desenvolvimento de uma abordagem do processamento de distribuigSo paralela para a memé- tia de trabalho, determinando como a meméria de tra- balho se coordena com outros processos cognitivos € expandindo o modelo a fim de incluir outros tipos de componentes da meméria de trabalho. Quiro desenvolvimento novo importante examina as diferencas individuais na meméria de trabalho. E esse tipo de pesquisa gira em tomo da relagéo entre a me- rmérla de trabalho e as habilidades de inguagem, entre a meméria de trabalho e as habilidades de leicura e 0 ‘magnifico span de meméria dos expers de memeéria EXERCICIOS DE REVISAO DO CAPITULO Descreva a nogio cléssica de Miller sobre © magico niimezo 7. Por que os agrupamentos sio importantes para essa noglo? Como a idéia da meméria limitada fj incorporada no modelo de Atkinson e Shifftin? © que é 0 efeito de posigio serial? Por que esse efeito esté relacionado 3 meméria de curto prazo? Discuta também dois outros métodos cléssicos de mensura¢do da meméria de curto prazo. © que demonstram as pesquisas sobre o tempo de pro- niincta a respeito dos limites da memoria de trabalho? ‘Que aspecto espectfico do modelo de Baddeley tem maior probabilidade de estar relacionado ao tempo de proniincia? Suponha que vocé acabou de ser apresentado a cinco alu- nos de outra faculdade, Usando as informacées sobre o tempo de prontincia e a similaridade seméntica, por que ‘vocé acharia dificil embrar os nomes deles assim que for sam apresentados? Quaisas vardveis que iriam aumentar a probabilidade de voot lembrar seus nomes? . De acordo coma discussio da abordagem de Baddeley, a ‘meméria de tabalho ndo é um arquivo passivo; em vez disso, € como uma bancada de trabalho onde o material ‘std continuamente sendo mangjado, combinado e wans- formado, Explique por que a metéfora da bancada de tra- balho & mais exata para 0 modelo de Baddeley do que pata o modelo de Atkinson-Shiffrn, Por que as pesquisas de Baddeley e Hitch (1974) sobre a lembranca de niimeros a execugio de uma tarefa Te 8 9. 10. ‘espacial de raciocinio sugerem que um modelo de ‘memétia de trabalho precisa ter dois locais separados de ammazenamento? Por que as pesquisas de Toms (1994) — sobre a lembranga de némeros em uma ma. ‘riz — também sugerem que a meméria de trabalho precisa ter dois locais separados de armazenamento? Cite algumas tarefas que vocé realizou hoje e que exi- giram o emprego do circulto fonol6gico. Bm cada caso, descreva se 0 armazenamento foncl6gico ou. proces- s0 de repeticdo subvocal foi importante. [Nas pesquisas de Brandimonte e colaboradores (1992), as pessoas em um grupo foram impedidas de usar mé- todos verbais para codificar diversas formas. Geralmen- te pensamos ser itil descrever algo em palavras. Por que esse estudo sugere que as palavras podem na verdade iminuit a exatidao em algumas tarefas? (Que faz 0 executivo central? Por que a metéfora de um executivo de negécios € uma mexéfora exata quando se discute o seu papel na meméria de trabalho? Nossa discussdo acerca das diferencas individuais na meméria de trabalho examinou trés reas em que es- sas diferencas poderiam ter destaque. Descreva esses teés éreas. Com base no conhecimento que vocé tem a respeito da meméria de tabalho, que outras reas seri- am tteis pare examinar a presenca de diferencas indi- viduais? Que tipos de profissdo conviriam a pessoa ‘que apresentam capacidades que se destacam ez uma dessas éreas?

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