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Arg. Apadec, 5(2): jul. dez,,2001. 21 ACAO DO CAFE DA CAFEINA NO ORGANISMO Marli Santos dos Reis*; Ana Paula Peron**; Veronica Elisa Pimenta Vicentini*** REIS, M.S dos; PERON, A. P.; VICENTINI, VP Acio do café e da cafeina no organismo. Arg. Apadec, 5(2) 21-27, 2001. RESUMO:A cafefna é a droga mais consumida em todo o mundo. Gostamos tanto, que uma de nossas refeigoes difrias foi nominada em sua homenagem (café-da-manha). Esta droga pode ser encontrada no café, cha, chimarrao, refrigeran- tes e no chocolate. A grande maioria dos brasileiros adultos consome doses didrias de cafeina superiores 1 300 mg, ¢ tmiuitos sio viciados. A cafeina éa 1,3,7-trimetilxantina, um p6 branco cristalino muito amargo. Na medicina,a cafeina € utilizada como um estimulante cardiaco e um diurético. Ela também produz um “boost” de energia, ou um aumento no estado de alerta, por isso motoristas ¢ estudantes tomam litros de café para permanecerem acordados. A cafefna é uma droga que causa dependéncia fisica e psicol6gica. Fla opera por mecanismos similates is anfetaminas ¢ & cocaina. Scus efeitos, entretanto, si0 mais fracos do que estas drogas, mas ela age nos mesmos receptores do sistema nervoso central, Sevocé sente quie “nio funciona” sem um copo de café, é porque vocé jé esté viciado em cafeina. A cafefna pode ser letal, se ingerida em grande quantidade. Para um adulto de cerca de 80 Kg, seria necessério 0 equivalente a algo como 150 xicaras de café. Felizmente, ainda podemos continuar tomando nosso cafezinho, com moderacio... PALAVRAS-CHAVE: cafeina; café; consumo de café. INTRODUCAO A cafefna é um alealdide encontrado em virias espécies de vegetais como 0 ché, cacau, café € guaran. Os grios de café encerram de 0,5 a 1,7% de cafeina e apresenta um certo valor nutri- tivo, devido aos seus hidratos de carbono. A ca- feina é um excitante do sistema nervoso, sendo desaconselhavel a pessoas nervosas ¢ excitiveis, beber café. Hi, comercialmente, tipos de café, em que, através de um processo especial, extrai- sea cafeina. © extrato da cafeina (fluido) é eficaz contra virios distirbios de satide, mas deve ser receitado pelo médico. A frmula quimica da ca- feina é C,H,,O,N,H,O (ESTADAO, 2000). Café, a bebida que era proibida para menores, pode elevar © QI da garotada. “Por en- quanto, j4 existe a certeza de que o habito do cafezinho facilita o aprendizado ¢ a pratica de es- portes”, estimou o professor Darcy Lima, da UFRJ, na reportagem da revista Super Interes- sante de agosto de 1994. Exagero? Pode parecer que sim. Mas, representantes de alguns dos la- boratérios do mundo concordaram com ele, pois hi estudos que derrubaram a sua velha fama de vilio, provando que, em doses controladas, 0 café no prejudica o organismo de criangas, a0 contré- tio, s6 faz bem. Tanto assim, que no Japio, diver- sas escolas estio incluindo o café na merenda (OLIVEIRA, 1994). + Especialista em Cigneias ¥* Bidloga A cafeina, em quantidades moderadas, diminui os riscos de formagio de célculos biliares nos homens, segundo um novo estudo realizado por cientistas americanos. Estes resultados foram obtidos gracas a uma ampla pesquisa sobre 46 mil casos, a0 longo de 10 anos, realizada por estudio~ sos da Universidade de Harvard, Os. especialis- tas observaram uma queda de 40% das probabili- dades de se desenvolverem célculos biliares em homens que ingeriam de duas a trés xicaras de café didrias, © de 45% com a ingestio de quatro ou mais xicaras, Segundo o estudo publicado no periddico Jama, o efeito benéfico da cafeina se obtém apenas com 0 consumo de café, No en- tanto, os especialistas no se arriscam em sugerir © aumento deste consumo, em fungio do perigo desta substincia poder provocar outras compli- cages (HEALTH YOU, 2000). O café provoca um aumento de secre- gio do suco gistrico, 0 que favorece a digestio, Devido a isso, para muitas pessoas, cle € bem- vindo apés as refeicées. Ao passar pelos miscu- los, estimula os nervos, aumentando a coordena- io motora pois, a cafeina induz a produgio da noradrenalina, substancia que ativa o estado de alerta (OLIVEIRA, 1994). No Brasil, 0 médico Darcy Lima, estu- dou a acio do cafezinho e descobriu um segredo importante: o porque de todo fumante ter mania de tomar café enquanto traga um cigarro. “Nos *+* Professora do Departamento de Biologia Celular ¢ Genética - UEM 22 pulmées, a cafefna relaxa determinados miiscu- los, dilatando os bronquiios, € com isso, ela com- pensa tanto a contracio provocada pelas crises asmiticas como a causada pelo tabaco”. Daf a as- sociagio entre o prazer do cafezinho e o cigarto. Entre os dependentes de t6xicos, por sua vez, os apreciadores de um bom cafezinho, apelam para as drogas com menos freqiiéncia, A mesma re- portagem cita que os médicos do Hospital John Hopkins dos Estados Unidos estio usando pas tilhas de cafeina concentrada no tratamento de drogados (OLIVEIRA, 1994). Segundo a reportagem, no ano de 1990, cientistas australianos notaram uma molécula, diferente da cafefna, que atua nos receptores opidides, espécies de fechaduras nas células cere- brais. Quando algo se encaixa nesses receptores € como se fosse apertada uma tecla no cérebro, ativando sensagdes de prazer ¢ saciedade. Exis- tem receptores opidides especificos para “por- ges" de maconha, de cocaina, de dlcool e de ni- cotina, entre outras. A misteriosa “porcio” do café porém, encaixa-se em todos eles, como uma cha- ve mestra, Resultado, nas poucas horas em que permanece no cérebro, antes de ser degradada, cla literalmente, ocupa © lugar da droga, freando (0 desejo de consumi-la (OLIVEIRA, 1994) Em 1994, o Instituto de Estudos Farmacolégicos de Milio apresentou dados capa- zes de tranqitilizar os consumidores mais receo- sos, sobre ser o café o causador de infarto. Se- gundo os cientistas italianos, pessoas cardiacas podem tomar até 250 mg de cafefna por dia (apro- ximadamente cinco “xicrinhas” de café, das conven- cionais). Acima desta dosagem, a substincia pode, de fato, agravar os casos de hipertensio. Os adultos sadios podem tomar até 600 mg de cafeina por dia (cerca de doze xicaras de café). J4, as criangas devem tomar doses menores (OLIVEIRA, 1994). ‘A cafeina tem aces estimulantes sobre 0 fancionamento do sistema nervoso. Ela ajuda a manter a vigilia ¢ a atengio da pessoa. No entanto, na concentragéo em que esté presente nos cenergéticos (1 xicara de café expresso) seus efeitos sio limitados. A acio da cafefna também varia bas- tante de pessoa para pessoa ¢ algumas tem maior sensibilidade A substincia. Em doses maiores do que 1g (10 a 15 xicaras de café), a cafeina pode atingir niveis téxicos (OLIVEIRA, 1994). Segundo Jiilio Tirapegui, professor do Departamento de Alimentos ¢ Nutrigio Experi- mental da Faculdade de Ciéncias Farmacéuticas da USP, em reportagem para 0 Jornal Folha de ‘Sio Paulo de 09/11/1997, a pessoa que ingere muito Arg. Apadec, 5(2): jul. dez.,2001. café pode sentir ansiedade, irritagio, taquicardia, mal-estar, e os especialistas afirmam que a cafef- na em excesso pode até matar, sendo a dose letal de cerca de 3,5 g. Neste trabalho, objetivamos fazer uma breve revisio sobre os dados do consumo huma- no do café, sobre os seus diferentes modo de, preparo € os seus vérios componentes. DESENVOLVIMENTO CONSUMO DE CAFE O consumo de café no mundo esti au- mentando. Embora, analisando os dados de le- vantamentos feitos nos EUA, Japio e Alemanha, no perfodo de 1980-1991, parece que o ntimero de consumidores de café, reduziu de 2-5% nos trés paises, enquanto que, o consumo de café em termos do néimero de xfcaras/ consumidor/ dia, aumentou em cada pafs. Nestes trés paises 0 con- sumo de café diminuiu na populacio mais jovem, enquanto que, o consumo de refrigerantes au- mentou em 13,7% nos grupos dos EUA. Em gru- pos de pessoas mais velhas, foi verificado que o consumo de café per capita permaneceu estivel (NEHLIG & DEBRY, 1994). Os métodos de preparacio do café, bem como o tamanho da xicara, variam excepcional- mente de acordo com o pafs. De fato, 0 café pode ser fervido, filtrado, percolado ou preparado como expresso, café grego/ turco ou café solivel. Aextracio eficiente da cafeina difere para cada tipo de preparacio e varia de 75 a 100%, en- quanto que 0 tamanho das xfcaras variam de 30 a 190 ml. © contetido de cafeina por xicara varia de 19. 160 mg, de acordo com 0 tipo de café, tama- nho da xicara e pafs. Uma xicara de tamanho mé- dio (150 ml) de café cafeinado, contém em geral, por volta de 90 mg de cafeina para café fervido filtrado, e 63 mg de cafeina para café soltivel ins- tantinco. O mesmo volume de café descafeinado contém 3 mg de cafeina, enquanto que o conte! do de cafeina atinge 32-42 mg em 150ml de cha e 16 mg em 150 ml de bebidas do tipo cola. O con sumo difrio de cafeina na populagio em geral va- ria de 202 a 283 mg de cafeina, 0 que representa 2,7-4,0 mg/ kg/ dia em homens e mulheres de 20-75 anos de idade (NEHLIG & DEBRY, 1994). COMPOSIGAO DO CAFE ‘A composigao do café é bastante com- plexa ¢ depende da espécie e variedade do café verde. Mas, também, para uma mesma qualida- Arg. Apadec, 5(2): jul. dez.,2001 de de café, dependem os métodos de cultura, maduragio dos graos secos e estocagem dos grios verdes. Os procedimentos tecnolégicos para pre- paragio ¢ tratamento industrial dos grios verdes, bem como o modo de preparacio do café, modi- ficam os niveis de seus varios constituintes O café representa um tipo de alimento cujo aleance de produtos formados durante o tra- tamento industrial é muito grande. De fato, por causa de numerosos e diferentes procedimentos analiticos, ndo h4 um real consenso sobre a exata composigao do café. As Tabelas 1 ¢ 2 mostram valores para diferentes variedades de café Arabica (Coffea arabica) e Robusta (Coffea canephora, varie~ dade robusta), verde ¢ torrado, para café soldvel instantineo em p6, bem como a porcentagem da extracio de cada componente pela égua fervente (NEHLIG & DEBRY, 1994). Em adicdo aos varios componentes listados nas Tabelas 1 € 2, 0 café também pode conter contaminantes de origem exégena ou endégena, Os contaminantes de origem exdgena sio, principalmente, os pesticidas, as micotoxinas €. parafina, Os pesticidas sio usados para prote- ger o cafezal contra parasitas, destruidos pela torrefacio ¢ estio quase totalmente ausentes no café, As micotoxinas podem aparecer durante a 23 estocagem dos grios de café em condicées inade~ quadas. A contaminagio por acratoxina A c aflatoxina B, é excepcional, mas, pode ser encon- trada nos gros verdes ou no café instantineo. Os pesticidas e as micotoxinas s4o destruidos pela torrefacio. Finalmente, a parafina pode contami- nar os gros de café durante a sua estocagem em sacos de juta. As concentragoes de parafina de 230 mg/Kg ¢ de 100-150 mg/Kg tém sido detectadas em grios de café verde ¢ torrado, respectivamen- te. No café instantineo, elas estio abaixo de 2 mg/ Kg (NEHLIG & DEBRY, 1994). Os contaminantes endégenos sio for- mados durante os varios procedimentos de pre- paragio e torrefagio do café. Estes sao hidrocarbonetos policiclicos arométicos, aminas heterociclicas, nitrosaminas e algumas outras subs- tincias, Os hidrocarbonetos policiclicos aromat cos sio formados durante a torrefagio ¢ sua quan- tidade em diferentes tipos de café é de 0,01-4,4 mg/Kg. O 3,4-benzopireno, as _aminas heterocfclicas ¢ as nitrosaminas foram detectadas no café torrado no instantineo. Radicais livres também tém sido encontrados no café, como 0 perdxido de hidrogénio que pode ser gerado du- rante 0 procedimento de torrefacio do café (NEHLIG & DEBRY, 1994). Tabela 01. Composigio dos grios de café verde, segundo NEHLIG & DEBRY (1994) COMPONENTES COMPOSIGAO MEDIA % DE PESO SECO ARABICA ROBUSTA CAFEINA 12. 22 TRIGONELINA 10 97 MINERATS 41% Potissio e 4% Fosfor 42 4a AcIbos Clorogénico (total) 65 100 Ailiftico 10 10 Quinino of 04 AGUCARES Sucrose 80 40 Aeucares reduzidos on 04 POLISSACARIDEOS (Manose, Galactose, Glucose, Arabinose) 0 500 LIGNINA 20 20 PECTINA 30 30 PROTEINAS 110 110 AMINO ACIDOS 05 08 LIPIDEOS (leo do Café) 160 100 24 ‘Arg. Apadec, 5(2): jul. dez.,2001. ‘Tabela 02. Composicio dos grios de café torrado e do café instantineo, segundo NEHLIG & DEBRY (1994). COMPONENTES COMPOSICAO MEDIA % DE PESO SECO ARABICA ROBUSTA cane COM AGUA INSTANTANEO. conkeus CAFEINA 13 24 45-51 75-100 TRIGONELINA, 10. 07 09-17 85-100 MINERAIS 45 47 9:10 0 ACIDOS Glorogénico (residual) 25 38, 20-40 100 Alifitico 16 16 35-108 100 Quinine 08. 10 e 100 AGUCARES Sucrose 00 00 13-86 100 ‘Agdcares reduzidos 03 03 100 POLISSACARIDEOS 33,0, 37,0. 65 10 LIGNINA. 20 20 = au PECTINA| 30 30 - - PROTEINAS 100 100 16-21 15.20 AMINO ACIDOS 00 00 00 = LIPIDEOS (Gleo do Café) 17,0. 11,0 005 1 PROD. CARAMELIZADO MALANOIDINA 20 225 EB 20-25 SUBSTANCIA VOLATIL (nio dcido) 01 O41 ‘Tragos 40-80 AGAO DO CAFE E DA CAFEINA © Café (Coffea; familia Rubiaceae) é 0 esteio da economia de varios paises tropicais. Nao obstante, é muito suscetfvel a algumas doengas de fungos. Embora seja da Africa a maioria das espécies comerciais, principalmente a C. arabica da Eti6pia, a ilha de Madagascar tem aproxima- damente 50 espécies selvagens de Coffea. Algu- mas destas espécies podem se tornar importan- tes para o cultivo comercial, nao apenas por sua resistencia em potencial a infeccdes de fungos, mas também porque elas produzem grios com pouca ou nenhuma cafeina (WILSON & PETER, 1997). Trabalhos extensivos tém sido feitos para determinar se o café e a cafeina possuem potencial mutagénico ou genot6xico, Muitas re- visdes tém considerado os efeitos mutagénicos de altas doses de café e de cafeina. Esses efeitos tém sido claramente estabelecidos ¢ revistos em varios sistemas biol6gicos, tais como as bactérias ¢ leveduras, fungos, plantas, insetos como Drosophila ¢ em culturas de células de mamiferos (KIHLMAN, 1977; TIMSON, 1977; NEHLIG & DEBRY, 1994). © café tem mostrado ser clastogénico pela inibigio dos mecanismos de re- paro seguido de excisio pela fotoreativacio, pés- replicagio, diminuigio do tamanho do replicon ¢ inibigio da elongacio ¢ formacio de intervalos do DNA transformante (NEHLIG & DEBRY, 1994) Cafeina pode provocar mudancas no eérebro ‘Tomar café, ch4 ou um reftigerante que contém cafefna nao serve apenas para manter al- guém acordado. Essa substincia de origem vege- tal pode também causar mudangas fisicas no pré- prio cérebro da pessoa. Mas nao hi motivo para preocupacao. Ao contririo, pode até ser que a cafeina ajude a meméria a longo prazo. Dois pes- quisadores do Instituto Weizmann de Ciéncia, de Rehovot, Israel, descobriram 0 efeito da cafeina ‘em pequenas estruturas das células nervosas do cérebro chamadas espinhas dendriticas. Os dendritos s4o os prolongamentos ramificados da célula nervosa que recebem impulsos ¢ os trans- mitem para 0 corpo celular. A pesquisa foi feita por Menahem Segal e seu colega E. Korkotian, do Departamento de Neurobiologia do ‘Weizmann, e esta publicada na revista cientifica “Proceedings of the National Academy of Arg. Apadec, 5(2): jul. dez.,2001. Sciences”. Os cientistas, jé h4 algum tempo, as- sociavam eventuais mudangas na forma dessas estruturas cerebrais com variag6es nos impulsos nervosos relacionados com a meméria de longo prazo. Gracas as novas técnicas desenvolvidas pelos pesquisadores, foi agora possivel acompa- har, durante varias horas, os dendrites ¢ detec tar mudangas depois de exposicdo a cafeina. Os ientistas descobriram que a cafeina causou, em média, um aumento de 33% no tamanho das es pinhas dendriticas. Notou-se também que, quanto mais alta a densidade de espinhas, e quanto mais finos os dendritos, mais provével que a cafeina causasse 0 alongamento € 0 crescimento de no- vvas espinhas (FOLHA DE SAO PAULO, 2001). Pesquisas basicas como essa ajudam os cientistas a descobrir como funciona em detalhe © mecanismo de transmissio de impulsos nervo- 805 no cérebro e como a meméria é armazenada, A longo prazo, podem ajudar a desenvolver me- dicamentos para problemas neurolégicos ligados 4 meméria e ao aprendizado. Cafeina e estresse fazem pressio sangiiinea subit Pessoas que tém pressio sanguinea alta devem tomar cuidado em relagio a0 consumo de cafeina quando enfrentam situagdes de estresse, alertaram meédicos citados pelo American Journal of Hypertension, de junho de 2000. Os pesqui- sadores descobriram que a cafefna fez a pressio sanguinea subir em 31 estudantes do sexo mas- culino testados. A cafeina também elevou os ni- veis de cortisol, um horménio liberado pelo or- ganismo em ocasides de estresse (ESTADAO, 2000). Cafeina para dor de cabeca Um estudo feito por cientistas dos Es- tados Unidos e publicado na revista Clinical Pharmacology and Therapeutics revela que uma dose de café pode ajudar a tratar da dor de cabeca comum, motivada por tensio emocional. No tra- balho, feito com 301 pessoas que padeciam de dor de cabeca, os investigadores constataram que uma combinagio de ibuprofeno (antipirético) e cafet- na alivia a dor melhor que o firmaco isolado. Os 80% dos pacientes que receberam a combinacio observaram que melhoraram notavelmente stia dor em seis horas, frente aos 67% dos que rece- beram apenas ibuprofeno ¢ os 61% que s6 toma- ram cafeina e os 56% dos que tomaram placebo (sustincia sem valor medicinal algum). Além dis- 50, 0s pacientes que tomaram ibuprofeno e cafe- 25 ina tiveram alfvio da dor uma hora antes do que 0s que s6 tomaram ibuprofeno. Segundo eymour Diamond, coordenador do estudo, a combinagio de cafefna e ibuprofeno também foi ‘itil para as c6licas menstruais (CORREIO WEB, 2000). Acio da cafeina sobre o sistema ner- voso A ligagio da adenosina, um neurotransmissor natural aos seus receptores di- minui a atividade neural, dilata os vasos sangui- neos, entre outros. A cafeina se liga aos recepto- res da adenosina e impede a agio da mesma so- bre o sistema nervoso central (SNC). A cafefna estimula a atividade neural ¢ causa a constrigio dos vasos sanguincos, pois bloqueia a agio da adenosina, Muitos medicamentos contra a dor de cabeca, tal como a Aspirina Forte, contém cafef- na ¢, se o individuo estiver sofrendo de uma dor de cabega vascular, a cafeina ird contrair os vasos sanguineos ¢ aliviar a dor. Com 0 aumento da atividade neural, a glandula supra renal (localiza da sobre os rins) “pensa” que algum tipo de emer- géncia est ocorrendo e libera grandes quantida- des de adrenalina, que causa uma série de efeitos no corpo humano, como a taquicardia, aumento da pressio arterial, abertura dos tubos respiraté. rios (por isso muitos medicamentos contra a asma contém cafeina), aumento do metabolismo ¢ contragio dos miisculos, entre outros (QMCWEB, 2000), Um outro modo de agio da cafeina é 0 bloqueio da enzima fosfodiesterase, que decom- poe 0 AMPeiclico (sinalizador), o segundo men- sageiro para alguns dos sistemas de transmissio neural, entio os sinais excitat6rios da adrenalina persistem por muito mais tempo. A cafefna tam- bém aumenta a concentracio de dopamina no san- gue (assim como fazem as anfetaminas ¢ a coc na), por diminuir a recaptagio desta no SNC. A dopamina também é um neurotransmissor (re- lacionado com o prazer) ¢ suspeita-se que seja justamente este aumento dos niveis de dopamina que leve ao vicio da cafefna (QMCWEB, 2000). O médico Miguel Lemos, especialista em farmacologia, cita, ainda, ins6nia, inquiietagio, sudorese nas maos ¢ taquicardia como efeitos do consumo da cafeina. A substincia deve ser evita~ da também por pessoas hipertensas e mulheres gravidas (O GLOBO, 1998). Estudos indicam que 0 consumo de ca~ feina durante a gravidez pode ser prejudicial para © feto, porém os cientistas garantem que os ma- 26 les $6 aparecem se o consumo for exagerado. A dose necesséria para matar 50% de um certo gru- po de individuos (LD-50) & de 75mg/kg. Evento quase impossivel de ser realizado (QMCWEB, 2000). Cafeina ¢ 0 sono A cafefna, em curto prazo, impede que © individuo durma porque bloqueia a recepgio de adenosina; Ihe di mais “energia”, pois causa a liberagéo de adrenalina, e Ihe faz sentir melhor, pois manipula a produgio de dopamina. O problema do consumo de cafefna s6 aparece a longo prazo. O mais importante ¢ 0 efeito que a cafeina tem sobre 0 sono. A recepcio de adenosina é muito importante para 0 sono, principalmente para o sono profundo, O tempo de meia-vida da cafeina no organismo é de 6 ho- ras. Portanto, se vocé beber um xicara de café (200 mg de cafeina) por volta das 15:00h, cerca de 100 mg de cafeina ainda estario em seu corpo ld pelas, 21:00h. Vocé ainda estar apto a dormir, mas pro- vavelmente nao ird usufruir dos beneficios do sono profundo. No dia seguinte, vocé precisard mais cafefna para se sentir melhor ¢ este circulo vicioso continua, dia apés dia. Se vocé tentar pa- rar de consumir cafeina, ir se sentir deprimido ¢, algumas vezes, com uma terrivel dor de cabe- @, causada pela excessiva dilatacio dos vasos san- guineos no cérebro. Estes efeitos negativos 0 for- gam a correr de volta para 0 consumo de cafefna, Esta € a principal razdo que leva os fabricantes de refrigerantes a adicionar cafeina aos seus produ- tos, pois o consumidor se torna viciado e as ven- das aumentam! (QMCWEB, 2000), Bebida com cafeina é a nova mania dos jovens Bebidas ricas em cafeina tém agitado os jovens, causado preocupacio a pais, médicos ¢ nutricionistas ¢ j4 virou caso de justiga. Flying Horse, Blue Jeans, Red Bull e Flash Power sio alguns dos energéticos vendidos em latas, apreci ados como acompanhante de bebidas alcodlicas, como uisque, vodea e cachaca (O GLOBO, 1998). Em abril de 1998, 0 entio secretério municipal de Governo do Rio de Janeiro, Rodrigo Maia, decidiu pedir 4 Secretaria da Satide que fi- zesse uma anilise dos energéticos, depois de re- ceber deniincias de que o produto estava sendo utilizado como excitante, O superintendente de Controle de Zoonoses e Fiscalizacéo Sanitéria do municipio, Oswaldo Luiz de Carvalho decidiu proibir a venda ¢ a distribuicio dos energéticos. Arg. Apadec, 5(2): jul. dez.,2001. A proibicio deixou de fora o Blue Jeans, que con- seguiu registro do Ministério da Agricultura como refrigerante (0 GLOBO, 1998). © médico Jodo Curvo, especialista em nutrigio, alertou que consumo difrio de cafet- na nio pode exceder a trés xicaras grandes de café, porque ela diminui a absorcio de ferro e cilcio pelo organismo. Quando misturada com Alcool, provoca desnutricio e deficiéncia muscular. “Uma crianga que ingere cafeina tem o crescimento pre- juudicado, e as mulheres com mais de 40 anos tm agravado o problema da osteoporose” (O GLO- BO, 1998). A nutricionista Marise Rosangela Martins, especializada em nutrigio desportiva, desaconselha o uso de energéticos por atletas. “Os atletas tém de obter energia com alimentos ¢ boas noites de sono. Na verdade, esses energéticos sio estimulantes ¢ excitantes. Queria lembrar que a cafeina em excesso é considerada doping” (O GLOBO, 1998) Cafeina em refrigerantes A maioria das pessoas que consomem refrigerantes similares 4 Coca-Cola nio sio capa- zes de dizer se os mesmos contém, ou nao, cafe- ina, de acordo com um estudo da Johns Hopkins. “Isto vai contra a afirmacio dos fabricantes, que dizem que adicionam a cafeina puramente pelo sabor”, afirma 0 psico-farmacéutico Dr. Roland Griffiths, que desenvolveu uma pesquisa onde envolveu 25 consumidores de refrigerantes a base de cola. Descobriu-se que 8% deles eram capazes de detectar a cafeina em concentragées de 0,1 mg/ ml, a mesma concentracio encontrada na Coca- Cola clissica e na Pepsi. O restante do grupo nio foi capaz de notar a diferenga entre as colas que continham ¢ as que nfo continham cafeina, até que os niveis desta fossem elevados muito acima daqueles aprovados pela FDA. O artigo foi pu- blicado na edigéo de agosto da revista Archives of Family Medicine. ‘A indiistria de bebidas insere uma droga que, brandamente, leva ao vicio ¢ al- tera o animo das pessoas, a qual ainda é respon- sével pelo maior consumo de refrigerantes cafeinados”, diz Griffiths. Cerca de 70% dos re~ frigerantes americanos contém cafeina, As ver- sbes descafeinadas da Coca-Cola ¢ da Pepsi re- presentam apenas 5% da vendas. “Como esses refrigerantes sio agressivamente vendidos as cri- angas, os produtores deveriam explicar a razio da presenca da cafefna”. “Sabe-se que adultos ¢ cri- angas podem se tornar fisiolégica e psicologica- mente dependentes de refrigerantes cafeinados, Arg. Apadec, 5(2): jul. dez.,2001. apresentando sindrome de abstinéncia se deixa- rem de consumi-los (dor de cabega e letargia por um dia ou dois)”, diz Griffiths. “A maioria dos adultos pode se informar e enfrentar a situacio, a qual € mais problemética para criangas”, complementa (ARCHIVES OF FAMILY MEDICINE, 2000). CONSIDERAGOES FINAIS Como podemos ver, a cafefna é um po- deroso estimulante do sistema nervoso central, a droga mais popular do mundo, sendo um dos ingredientes dos refrigerantes do tipo “cola”, do café ¢ dos chis. Pode apresentar os efeitos inde~ sejiveis da desidratacao, aumento do apetite, taquicardia, irritabilidade e problemas do sono. No entanto, o café, que é uma palavra érabe que significa “dar forca”, através de certos mecanis~ ‘mos, causa sensagio de revigoramento. Penetran- do na corrente sanguinea atinge o cértex sensorimotor, diminuindo a fadiga. Uma simples xicara de café forte, tomada em jejum, pode pro- duzir em poucos minutos, um aumento da acuidade mental ¢ sensorial, além de elevar 0 nf- vel de energia, tornando a pessoa mais alerta ¢ proporcionando bem-estar. A sensibilidade aos efeitos da cafeina, varia entre as pessoas, depen- dendo da tolerancia, grau de absorcio ¢ metabolizacio da cafeina, da idade, caracteristicas da personalidade e fatores psicolégicos do mo- mento. Portanto, a melhor maneira de se usar a cafeina é de forma ocasional ¢ moderada. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ARCHIVES OF FAMILY MEDICIN. Cafeina em reftigerantes nao € questio de sabor. 2000. Disponivel: httpy/ Kicksaude.comy/not2000/00ago14jhmi-cic-cafeina.shtm|. Acesso: 14/08/2000. CORREIO WEB. Cafeina para dor de cabega. 2000. Disponvel:pdAvan2.corteiowcb com bricw/2000-11-03/ ‘mat_15398.htm. Acesso: 03/11/2000. ESTADAO. 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