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EM ANÁLISE EM ANÁLISE

Como o
Benfica chegou
à liderança
Quando no título deste tra-
balho se fala em chegar à
liderança, a ideia não é a de
chegar ao primeiro lugar,
como aconteceu com a equi-
pa principal de futebol do
Benfica esta época no cam-
peonato nacional. É mais do
que isso, é a de chegar a um
nível em que se pode dizer
claramente que existe no
futebol do clube uma ver-
dadeira liderança. E é essa
liderança que permite, depois,
ganhar campeonatos. Quatro
profissionais de recursos hu-
manos, todos eles benfiquis-
tas, ajudam-nos a perceber o
que esteve na base da grande
transformação que o Benfica
registou esta época.
© Sport Lisboa e Benfica
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Texto: António Manuel Venda

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EM ANÁLISE – COMO O BENFICA CHEGOU À LIDERANÇA EM ANÁLISE

Carlos Perdigão Maria Vieira


«O que mais me impressionou foi a coesão do gru- não têm limites. A estrutura dirigente trabalhou no
po e o seu grau de motivação.» sentido de formar uma equipa altamente competitiva «A minha relação com o Benfica é de espectadora curiosa desde há muitos anos.
Não sendo adepta acérrima de futebol, gosto no entanto de apreciar certos jogos,
A primeira opinião que ouvimos sobre a grande trans- e todas as decisões que tomou nesse sentido prima- o comportamento dos jogadores dentro e fora do campo, os treinadores e a sua ca-
formação do futebol do Benfica esta época foi de Car- ram pela excelência. Os jogadores que reforçaram o pacidade de gerir uma equipa e conseguir que atinjam os objectivos. Além disso, é
los Perdigão, actualmente a exercer advocacia mas plantel são de excepcional qualidade e a escolha interessante ver como uma equipa se move em campo e como consegue estar foca-
com uma longa carreira profissional ligada à gestão do timoneiro não poderia ter sido mais conseguida, da. No fundo, tem muito a ver com as empresas e podem criar-se paralelismos muito
engraçados. A motivação para uma meta ambicionada há muito tempo, ser campeão
de recursos humanos. O advogado fala da mudança porque Jorge Jesus é um treinador de recursos abso- nacional. A criação de âncoras fortes e símbolos duradouros, pois o Benfica é uma
que o Benfica conheceu esta época em termos de re- lutamente confirmados. E Rui Costa soube estabilizar instituição que vai além fronteiras, sendo o maior clube nacional em número de só-
sultados desportivos da equipa principal de futebol e disciplinar o futebol profissional do clube. Este é o cios. Depois, temos os jogadores e o treinador. Este campeonato foi a prova de que
da seguinte forma: «O Benfica percebeu uma coisa grande mérito da liderança de Luís Filipe Vieira, uma um bom clube tem de ser a envolvência perfeita entre os jogadores e o líder. Foi
possível com determinação, focalização e muita motivação fazer um campeonato
relativamente simples – com uma grande equipa de liderança carismática, reflectida na interacção com os excelente, com poucas falhas e sempre com a força de se acreditar, o que anima os

© Fernando Piçarra
futebol e com o apoio associativo de que dispõe, sem seus pares e na forma como é seguido e respeitado adeptos e a equipa em si. Foi ainda possível ver que cada jogador teve um papel
paralelo em qualquer parte do mundo, as ambições dentro da organização.» fundamental no trabalho de equipa e que houve mais coesão entre todos – só um
Carlos Perdigão afirma que o que mais o impressionou grande líder consegue potenciar as características positivas de cada um e eviden-
ciá-las de modo a todos beneficiarem disso mesmo.»
ao longo da época, «para além da qualidade dos es-
Carlos Perdigão pectáculos produzidos, foi a coesão do grupo e o seu
grau de motivação». Cita mesmo uma frase que alguém to de grandes dificuldades e está a colocá-lo a um ní- Maria Vieira
«Vem dos tempos da escola primária e dos campeões europeus da década de 1960 a minha relação
com o Benfica, e cedo se tornou numa imensa paixão. Aos 18 anos ingressei no quadro redactorial do disse, com graça, «o êxito para um novo treinador sig- vel que há bem pouco tempo se julgava impossível. É «Esta liderança foi mais estável, mais determina-
jornal do clube, pela mão de Paulino Gomes Júnior (dirigente histórico e autor do hino do Benfica) e de nifica manter os cinco jogadores que o odeiam afasta- um visionário e um gestor de alto calibre. E percebeu da e menos sujeita a influências externas.»
Vasco Santos (então chefe da redacção do jornal), ambos já falecidos. Foi uma relação que perdurou
dos dos seis que ainda não decidiram odiá-lo», para que tinha em mãos o destino de uma colectividade Outra especialista com quem falámos foi Maria Viei-
muitos anos, 10 dos quais (1973/ 1983) com grande intensidade e com uma presença semanal muito ímpar, capaz de empresas impossíveis, constituída ra, que integra a consultora Ideias & Desafios, sendo
significativa nas páginas do jornal. Foi um tempo de muitas amizades e tertúlias e de uma vivência depois referir que «ao longo da época viu-se um grupo
única nos meandros do clube, em particular do seu futebol. Na altura, o enviado especial do jornal muito unido, coeso e motivado e esse é um crédito que por gente de uma dedicação e de uma generosida- aí a ‘partner’ responsável pela área de Dinamização
seguia na comitiva com dirigentes e jogadores. A relação que então pude estabelecer com muitos dos deve ser reconhecido a Jorge Jesus e a toda a estrutura de sem limites. A forma com que devolveu o clube Empresarial. Apaixonada pela leitura de livros de
grandes vultos do futebol do Benfica foi especialmente estreita. Tive o raro privilégio de transportar
do futebol liderada por Rui Costa, sem esquecer que aos sócios e potenciou esse capital de esperança e ‘marketing’, gestão e motivação pessoal, tem partici-
muitas dessas vivências para os livros sobre o historial do clube em que participei e que são hoje de emoção fazem dele um líder de forte carisma e pado em acções de formação com personalidades
geralmente reconhecidos como o melhor que se produziu em termos da bibliografia do Sport Lisboa e as opções foram assumidas pelo presidente Luís Filipe
Benfica. Continuo a colaborar com o clube sempre que a minha contribuição pode ser útil. Tenho lugar Vieira». Nesse sentido – conclui –, «são muito notórias grande interacção com a massa associativa. Rui Cos- como Jay Levinson, Anthony Robbins, Jake Canfield
cativo no estádio; aliás, vivo a escassos minutos da ‘Catedral’ (uma opção que não aconteceu por mero as diferenças em relação ao passado recente». ta serenou e estabilizou o Departamento de Futebol e Jeffrey Guitomer. Lidera programas de Dinamização
acaso...). O Benfica tem-me proporcionado alguns dos momentos mais empolgantes da minha vida.
Como pontos fortes da actual liderança do futebol Profissional, onde há muito não se via um sector de Empresarial que apoiam a performance de empresas
Para citar Artur Portela Filho, é de facto uma das raras solidariedades possíveis.» prospecção com os méritos do actual. Jorge Jesus fez e equipas.
do Benfica, Carlos Perdigão destaca a coesão, a mo-
tivação, o respeito, a lealdade e a cooperação. «Tudo aquilo por que há muito os benfiquistas ambiciona- Para Maria Vieira, na mudança que o Benfica conhe-
num contexto de muito maior exigência, rigor e profis- vam e que era adiado de ano para ano: formou uma ceu esta época em termos de resultados desportivos
sionalismo. A administração da Sociedade Anónima equipa e colocou-a no relvado a exibir um futebol de da equipa principal de futebol, o papel da liderança
Desportiva (SAD) assumiu publicamente que, con- alta qualidade e extremamente competitivo, ilustrado «foi decisivo, pois com a sua dinâmica, a estabilidade
cluído o período de construção das infra-estruturas por resultados excepcionais.» e a persistência deu aos jogadores a capacidade de
desportivas e de consolidação do Grupo Benfica, Uma última pergunta que colocámos teve a ver com acreditarem e de não se desmotivarem». A actual li-
a prioridade ia por inteiro para o relançamento do o nome que vem imediatamente à cabeça quando se derança, em paralelo com aquilo que existia no clube
futebol. E os resultados não se fizeram esperar.» Já fala em líder, em futebol e em Benfica. Carlos Perdigão em épocas anteriores, é vista pela consultora como
no que diz respeito a pontos que poderão ainda ser diz que «seria fácil, neste momento, responder Jorge «mais estável, mais determinada e menos sujeita a
desenvolvidos, o seu comentário é de que se atingiu Jesus», mas ainda assim julga «dever prevalecer o influências externas», o que levou a que a equipa de
«um patamar que é preciso manter, sendo que essa nome de Luís Filipe Vieira». Afinal, «é ele, em última futebol estivesse «mais coesa, enfrentando os adver-
manutenção constitui por si só um enorme desafio». instância, o responsável pela contratação de Jorge Je- sários de uma forma muito mais consistente em ter-
Ou seja: «É necessário que o Benfica consolide a sua sus e pelo desenho organizacional do futebol profis- mos de performance», sendo que «as vitórias foram
posição no panorama do futebol português, mas é sional do Benfica». Na opinião do advogado, «o que contagiando os jogadores e os adeptos e o título foi
também necessário que o clube regresse aos bons merece ser sublinhado é o espírito de grupo reinante, sempre uma certeza e não um talvez».
velhos tempos na Europa. Nesta década já esteve nos porque ninguém ganha nada sozinho, por muito forte Persistência, determinação e não se deixar abalar por
quartos-de-final da Liga dos Campeões e em idêntica que possa ser a sua liderança». Daí concluir que «o nada são os pontos fortes referidos por Maria Vieira,
fase da Liga Europa, obteve mesmo os dois últimos compromisso, a partilha de responsabilidades e o es- que acha que pode haver melhorias ao nível da co-
melhores registos de equipas portuguesas em provas pírito de lealdade e cooperação que foram instituídos municação, nomeadamente «ser mais fluida com os
da UEFA, mas há que ser mais ambicioso e procurar ir foram a chave do sucesso». ‘media’ por parte do treinador e haver mais empatia
mais além. Nesse aspecto, o discurso de Jesus é muito Carlos Perdigão é advogado da LCA – Abalada Matos, com o público».
avisado e assertivo.» Lorena de Sèves, Cunhal Sendim e Associados. Pós- Maria Vieira fala também dos papéis de Jorge Jesus,
Os três principais rostos da liderança no clube, Jorge -graduado em Direito do Trabalho pela Universidade Rui Costa e Luís Filipe Vieira, assinalando que são
Jesus, Rui Costa e Luís Filipe Vieira (treinador, director Lusíada de Lisboa e pela Universidade de Salamanca, «obviamente de relevo» e fazendo notar que «existe
de futebol e presidente, respectivamente) são vistos integra os corpos sociais da Associação Portugue- uma grande sinergia entre os três, o que ajuda não só
© Fernando Piçarra

da seguinte forma pelo jurista: «Luís Filipe Vieira já sa dos Gestores e técnicos dos Recursos Humanos os jogadores mas também os adeptos a estabelece-
(APG). Desempenhou cargos de topo em várias em- rem um elo ainda mais forte com o clube». Quanto a
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está, por mérito próprio, entre os grandes presidentes
da história do clube. Relançou o Benfica num momen- presas, em gestão de recursos humanos. um nome que lhe venha imediatamente à cabeça ao

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falar-se-lhe em líder, em futebol e em Benfica, a con- grupo, necessária para assimilar as orientações e para de uma boa liderança o reconhecimento pelos lide- entende-se que o Benfica tem de encarar todas as
sultora refere outra pessoa que não estas três: Eusé- as mesmas serem cumpridas; incutir disciplina, rigor rados de que o treinador sabe o que está a fazer, sabe provas como potencial candidato, o que provavel-
bio. Na sua opinião, o Pantera Negra é «um ícone do e rotinas desenhadas conforme as capacidades dos tirar 100% de rendimento de cada um, maximizando mente exige sacrifícios acrescidos e uma gestão dife-
futebol nacional e obviamente do Benfica» que, «sem jogadores; conseguir uma atitude competitiva, de não as suas capacidades no terreno, tornando-se respei- rente da equipa.»
nunca ter sido treinador e por isso sem nunca ter sido desistência, de luta, de ambição, o que só se conse- tado quer na cabine, quer nos treinos, quer durante Pensando nos papéis de Jorge Jesus, Rui Costa e Luís
um líder em funções, é um líder de motivação e uma gue com uma dinâmica muito orientada para a vitória os jogos». Já em relação a pontos que poderão ainda Filipe Vieira, nos cargos que desempenham, Rodolfo
imagem extremamente positiva do clube». e com uma forte motivação; obtenção de rendimento ser desenvolvidos, alonga-se um pouco mais: «Apesar Begonha não tem dúvidas de que Jorge Jesus é «de
por parte dos jogadores, em alguns casos com mais da inquestionável vitória no campeonato e das ines- momento o astro, por tudo o que já se disse e se com-
Rodolfo Begonha polivalência, outros ajustando-os a lugares onde pos- quecíveis exibições do Benfica, há sempre acertos preende». Quanto a Rui Costa, «pelo seu passado e
«Uma lagarta com pouco fôlego, feia e lenta transfor- suem maior rendimento, outros ainda conseguindo que têm de ser levados a cabo, e avaliando a época no pelo reconhecimento do profundo amor ao Benfica,
mou-se numa fantástica borboleta que soube voar.» desempenho acrescido, outros refreando tendências seu conjunto apercebemo-nos de certas fragilidades é uma figura muito querida e geradora de uma certa
A frequentar um doutoramento, o gestor Rodolfo Be- individualistas e colocando as suas capacidades com que exigem melhorias. Além disso, há que ter em con- sensação de estabilidade e credibilidade, exigindo-
gonha assinala vários aspectos que condicionam os sucesso ao serviço da equipa; os jogadores cumprem sideração que ocorrerão sempre saídas e entradas de -se que consiga gerir com equilíbrio a sua posição, o
resultados e a mudança, incluindo «a gestão, toda a a sua missão durante todo o jogo, dando a ideia de jogadores, pretendendo-se que apesar disso subsista que nem sempre se afigura como fácil». Já Luís Filipe
máquina profissional que tem de estar bem oleada e o fazerem com gosto, no fundo eles jogam; a equipa um conjunto harmónico e com a mesma atitude luta- Vieira «tem estado a trabalhar para esta vitória, que
obviamente a política de contratações, entrando aqui está entrosada, acerta passes, faz jogadas, joga bem, dora. Julgo que poderão ser ainda tratados profissio- obviamente também é dele». Rodolfo Begonha acha
inequivocamente o treinador, que influencia de for- marca golos, conquista os adeptos e enche o está- nalmente alguns aspectos mais relacionados com a que o presidente «tem procurado melhorar a gestão
ma determinante a liderança e a mudança». Vê Jorge dio, situação que não se verificava». Posto isto, ser área psicológica, nomeadamente no eixo treinador/ do seu nível de envolvimento no futebol e a sua es-
Jesus como «uma força da natureza que instituiu uma campeão foi «um corolário lógico para a época que jogadores. Esta ideia ganhou maior intensidade na tratégia de comunicação», salientando que «seria in-
relação muito especial com a equipa do Benfica» e a equipa fez». minha mente após a análise que efectuei das derrotas justo esquecer que é necessário acertar na selecção
considera que «a liderança protagonizada pelo trei- Tendo presente o que aconteceu noutras épocas, Ro- do Benfica em Liverpool e em casa do Futebol Clube de novos jogadores que possam assumir-se como
nador foi fundamental», sobretudo pelos seguintes dolfo Begonha diz que agora se afigura como básico do Porto.» Exemplos de problemas a equacionar são reforços, que é fundamental saber negociar e tomar
aspectos: «certificar-se de que a comunicação é bem que «a liderança é um aspecto decisivo, que se com- os seguintes: «actuar sobre possíveis excessos de as decisões certas, conseguindo ainda angariar o im-
entendida, recorrendo se necessário em momentos preende perfeitamente atendendo aos resultados confiança individuais e colectivos; agir ainda sobre prescindível suporte financeiro para tal». No fundo,
cruciais a alguma dureza em nome dos objectivos; obtidos pelo Benfica e à mudança fundamental da algumas réstias de nervosismo dos jogadores; reflec- «são actos de gestão que não podem ser esquecidos
obtenção da legitimidade da liderança por parte do performance, incluindo jogadores que já integravam tir acerca da enorme emotividade do treinador e da e que integram todo um processo», diz, trazendo à
o plantel». Metaforicamente, arrisca dizer que «a lide- forma como a mesma se processa em campo durante liça um exemplo do rival Futebol Clube do Porto, que
rança proporcionada pelo timoneiro Jesus proporcio- momentos de crise, com alguma possível desorienta- «comparativamente se reforçou pior do que o Benfi-
Rodolfo Begonha nou uma metamorfose, que transformou uma lagarta ção e potencial contágio da equipa; a filosofia de não ca, considerando as saídas de jogadores importantes,
com pouco fôlego, feia, lenta, sem se coordenar, sem contenção e de contínuo jogo ofensivo, esquecendo e que além disso poderá não ter havido rendimento
«Recordo ainda os finais da carreira do fantástico Eusébio, em tem-
pos cintilantes do Benfica, mas ‘cinzentos’ do nosso país. Tornei- se acertar, sem resultados, numa fantástica borbole- que em certos momentos deve haver alguma frieza imediato das novas aquisições».
-me conscientemente benfiquista quando comecei a frequentar o ta que soube voar, com graciosidade, com velocida- estratégica e contenção muito racional de jogo, que Quanto a um nome que lhe venha imediatamente à
antigo Estádio da Luz, partilhando com o meu avô materno uma de, com ritmo, simultaneamente com força e beleza, exige muita auto-disciplina e concentração, pode ter cabeça quando se fala em líder, em futebol e em Ben-
cadeira no camarote número 83, teria eu talvez oito anos. Depois, efeitos perversos que são clássicos (por um lado gera fica, tendo até em conta o que afirmou e também «os
conquistando a assistência como há bastante tempo
fui acompanhando sempre as evoluções do clube como apoian-
te incondicional, com maior ou mais distanciamento conforme a não ocorria». Destaca ainda que «o público corres- enorme satisfação na assistência e pode ser coroada resultados desportivos e as transformações visíveis
vida académica, profissional e/ ou pessoal foram permitindo. Mui- pondeu muito positivamente e constitui-se como de êxito se os golos aparecerem, todavia as coisas operadas no Benfica, e observando o clima de festa
tas alegrias e algumas decepções histórias marcam a minha vida reforço do bom clima gerado e que qualquer crítico podem correr mal e a equipa pode ser apanhada de que se vive neste momento», Rodolfo Begonha des-
de adepto e de sócio número 12.676 (há mais de 30 anos).» surpresa e sofrer golos); se fixarmos o prestígio do taca «incontornavelmente o treinador Jorge Jesus».
mais ou menos isento reconhecerá a metamorfose
verificada, porque se trata de um processo que salta à clube e os decisivos interesses económicos em jogo, Rodolfo Begonha é director-adjunto da Gradiva Pu-
vista». E acaba por deixar duas perguntas: «Não será
uma possível prova disso o facto de eu ter recebido
felicitações – devidas em face da recente vitória – de
amigos que são adeptos do Futebol Clube do Porto?
Apesar do excelente e surpreendente desempenho
do Braga, ficarão dúvidas quanto à justiça da vitória
do Benfica?»
Sobre os pontos que se destacam na actual liderança,
o gestor opta por aquilo que classifica como «peque-
nos e simples exemplos», que devem ser entendidos
em sintonia com o que anteriormente focou: «a for-
mulação de grandes expectativas leva a uma onda
motivadora e a grandes resultados, por oposição à
falta de ambição; a liderança é legitimada pelos li-
derados, tendo em vista aquilo que vêem, aquilo que
sentem, tendo pela frente um treinador firme, com
© Fernando Piçarra

carácter forte, com ideias determinadas, mas que já


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trazia um bom trabalho no seu currículo e que a nível
técnico sabe de futebol; contribui para a afirmação

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blicações. Tem quatro livros editados e é doutorando papéis, sem que se atropelassem», sendo que «a co-
em Sociologia Económica e das Organizações, mestre erência e a consistência nos discursos e nas acções
em Sistemas Sócio-Organizacionais da Actividade consequentes fizeram acreditar que era possível cum-
Económica e licenciado em Gestão de Empresas (com prir o sonho», e depois «a realidade encarregou-se de
especialização em Gestão de Recursos Humanos). fazer o resto». Ou seja, «a diferença para as épocas
anteriores esteve nos líderes», mesmo que dois deles
Helder Figueiredo já viessem de trás. Nesta nova liderança, o consultor
«Foi muito importante ter uma liderança com visão.» destaca «a visão, a consistência, a emoção, a organi-
Finalmente, Helder Figueiredo, que dirige actualmente zação, o planeamento, a acção, o espírito de equipa
a consultora Smart-LMI, depois de durante vários anos e a gestão do talento». Quanto a pontos que podem
ter sido director de recursos humanos na FNAC e no ainda ser desenvolvidos, socorre-se de uma perso-
Grupo Construtora do Tâmega, além de ter trabalhado nagem do filme «Toy Story» [«é o defeito de ter tantos
como consultor de recursos humanos na Accenture filhos e ver demasiados filmes infantis», desculpa-se]:
(ex-Andersen Consulting) e de ter sido docente do Ins- «o Buzz diz ‘para o infinito e mais além’, e é isso, é
tituto Português de Administração e Marketing (IPAM) preciso desenvolver em cada um dos jogadores e na
e ainda formador. equipa no seu todo a capacidade de superação», algo
Para o sucesso do futebol do Benfica, Helder Figuei- que «transformará o Benfica para ser ainda melhor,
redo acredita que «foi muito importante ter uma li- com capacidade para vencer a Liga dos Campeões na
derança com visão, mas também uma liderança que próxima época».

© SLB

© SLB

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conseguiu transmitir aos jogadores e aos adeptos a Sobre os papéis de Jorge Jesus, Rui Costa e Luís Filipe
visualização do que seria voltar a ter ‘um Benfica à Vieira nos respectivos cargos, Helder Figueiredo acha
Benfica’». Essa visualização positiva «foi fundamen- que «cada um soube ocupar o seu lugar», algo que 20
tal para, numa equipa que na sua componente central considera ter sido «fundamental para o equilíbrio e a
era a mesma do ano anterior, fazer de forma diferen- paz de espírito que se viveu ao longo do ano dentro
te», afirma, frisando que desde o primeiro jogo que da organização Benfica, no seu todo, entre os adeptos
não duvidava que o resultado fosse a vitória no cam- e na relação entre ambos». O mesmo, diz, acontece 15
peonato. «Venceu a persistência e a consistência na com as empresas, aí este também é «um aspecto mui-
forma de encarar cada jogo. Viu-se alegria a jogar e no to importante, cada um saber exactamente qual é o Os três protagonistas do Benfica
essencial uma equipa e não estrelas individuais. Ao seu papel e saber interpretá-lo».
longo da época, o discurso de todos foi sempre ‘nós’, Para acabar, um nome que lhe venha imediatamente à São indiscutivelmente os três protagonistas da liderança do Sport Lisboa e Benfica:
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Luís Filipe Vieira – 16


o presidente Luís Filipe Vieira, o director do futebol Rui Costa e o treinador Jorge
‘a equipa’, ‘estou disponível para ajudar a equipa’… cabeça quando se fala em líder, em futebol e em Ben- Jesus. Pedimos aos quatros entrevistados deste trabalho para pontuarem de zero
Viver este tipo de discurso faz toda a diferença.» fica? Acaba por se sair com dois, primeiro Jorge Jesus, (sem importância) a cinco (máxima importância) o contributo de cada um deles para

Jorge Jesus – 19
Sobre a liderança do clube, e sobretudo da equipa escolha óbvia, pelo que foi dizendo; e a seguir lembra- a mudança operada na equipa de futebol do Benfica ao longo da presente época.

Rui Costa – 16
principal de futebol, Helder Figueiredo defende que -se, imagine-se, de José Mourinho. «Também regressa- Nos resultados que obtivemos nota-se uma tendência para repartir os méritos pelos
rá à Luz, não por dinheiro, mas por orgulho. E se ele é 5 três responsáveis e atribuindo-lhes pontuações elevadas. De qualquer forma, Jorge
«cada um dos líderes, Luís Filipe Vieira, Rui Costa Jesus acaba por destacar-se, quase atingindo o máximo possível (que seria 20 pon-
e Jorge Jesus, soube interpretar os seus diferentes orgulhoso…» tos). Luís Filipe Vieira e Rui Costa ficam um pouco abaixo, os dois ao mesmo nível.
Nas justificações para as pontuações atribuídas acaba por ser recorrente a ideia de
haver a necessidade de destacar o papel do treinador nos resultados obtidos pela
Helder Figueiredo 0 equipa principal do Benfica. MSA

«Lembro-me da ideia de ser


benfiquista aí pela idade da
escola primária. Não sendo
sócio, faço parte dos outros
seis milhões de adeptos. Vi-
bro com os jogos e sofro o
suficiente pelo Benfica para
saber discutir sobre o tema
mais universal de todos. Ain-
da há cerca de um mês estive
num congresso mundial da
nossa empresa, nos Estados
Unidos, e o tema que serviu
de base à maior parte das
conversas com colegas de
todo o mundo foi o inevi-
tável futebol… E o Benfica,
que é muito grande. Os meus
heróis têm nomes como Cha-
© Fernando Piçarra

lana, Nené, Bento, Carlos


Manuel, Shéu… Foi essa a
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geração de futebolistas que
comecei a acompanhar.»

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