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Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio de Janeiro
7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro
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SENTENÇA
I – RELATÓRIO
FATO 02: ARTHUR SOARES pela prática do crime de corrupção ativa, previsto
no art. 333 do CP.
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
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Cooperação jurídica internacional com ANTÍGUA E BARBUDA; (Eventos 6, 7, 8, 9 e 10) 5.
Documentação complementar apresentada por RENATO CHEBAR (Evento 8 e 9); 6. RJ 08 -
ITEM 50 - BLOCO VERDE - AA 456.2017 (Eventos 10 a 14); 7. RJ 08 - MBA - AA 456.2017
- OFICIOS E MEMO SETEC (2) (Evento 15 e 16); 8. Report – Nuzman (Evento 17); 9.
Depoimento prestado por LEONARDO GRYNER (Evento 18); 10. Fotos da festa "Farra dos
Guardanapos" (Evento 19); 11. OFÍCIO nº 818/2017/ACRIM/SCI/PGR (Cooperação Jurídica
internacional com a França) (Evento 20); 12. Cooperação Jurídica internacional com a França
(mídias 1 e 2) (Evento 21); 13. LAUDO_1833_17 (D) (mídia 3) (Evento 22); 14. Relatório de
Informação de Pesquisa e Investigação RJ20170019 (Evento 24 a 28); 15. Depoimento prestado
por ERIC MALESON (Evento 29); 16. Relatório de Pesquisa 3199/2017 (Evento 30); 17.
Relatório de viagens – LEONARDO GRYNER (Evento 31); 18. RJ 01 - 2ª FASE - ITEM 01 -
E-MAILS - PASTA VERDE - AA 520.2017 (Evento 32); 19. Relatório da RFB LEONARDO
GRYNER (Evento 33); 20. RJ 08 - ITENS 9, 10 e 11 - PASSAPORTES - AA 456.2017 (Evento
34 a 39); 21. Resposta – Ministério do Esportes (Evento 40); 22. Lista de Convênios (Evento
41); 23. Decreto Estadual 41.839-09 (Evento 42); 24. Report – Whatsapp (Evento 43); 25.
Depoimento prestado por MARIA CELESTE DE LOURDES CAMPOS PEDROSO (Evento
44); 26. REL 010 – UNFAIR PLAY – NUZMAN – RJ 08 – PORTUGAL (Evento 45); 27.
Contratos – COMITÊ ORGANIZADOR DOS JOGOS RIO 2016 (Evento 46); 28. Depoimento
prestado por ADRIANA PINTO DA SILVA PENA (Evento 47); 29. Contrato: LSH BARRA
EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A. (Evento 48); 30. Contrato de rescisão: LSH
BARRA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A. (Evento 49); 31. Contrato:
CONSÓRCIO RIO DE TRANSPORTES (Evento 50 a 52); 32. RJ 08 – itens 44 – AA 456.2017
– AGENDAS (Eventos 53 a 79); 33. Depoimento judicial prestado por RICARDO
PERNAMBUCO JÚNIOR (Evento 80); 34. Relatório de Pesquisa n.º 3484-2017 (Evento
81); 35. RJ 08 - ITEM 40 - AA 456.2017 - PASTAS DOC. DIVERSOS: ANEXO I
- PLANILHA DA EVOLUÇÃO PATRIMONIAL DE CARLOS ARTHUR NUZMAN (Evento
82), ANEXO II - DECLARAÇÕES DE IRPF DE CARLOS ARTHUR NUZMAN (Evento 83);
DIVERSOS (Evento 84 a 89) ; 36. Depoimento prestado por EDINA DOS SANTOS RUFINO
(Evento 90); 37. Depoimento prestado por ROGÉRIO ALVES (Evento 91); 38. Report -
Whatsapp – 31.07.2017 (Evento 92); 39. TCU, acórdão n.º 3162/2016 (Evento 93); 40.
Relatório de Inteligência Financeira nº 27233.3.3182.4893 do COAF (Evento 94 a 96); 41. RJ
01 - 2ª FASE - ITEM 1 - CONTRATO - AA 520.2017 (Evento 97); 42. RJ 08 - ITEM 48 -
CART PRETA - AA 456.2017 (Evento 98); 43. Ofício nº RJ20170106 – RFB – CopeiEspei07
(Evento 99); 44. IPEI RJ20170055 (Evento 100); 45. HOST CITY CONTRACT (Evento 101);
46. Demonstrativo Financeiro COB 2016 (Evento 102); 47. Mídia n. 06 (Evento 103); 48.
Ofício nº 13043/2017 – IPL 0079/2017-11 SR/PF/RJ – DELECOR (Evento 104).
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Folha de antecedentes criminais de CARLOS ARTHUR NUZMAN (Evento 132).
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“ocultado” a origem ilícita da verba “recebida” como propina, pelos mesmos motivos e para os
mesmos fins”; (ii) a conexão instrumental (artigo 76, III do CPP) entre este feito e o autuado
sob o n. 0507524-26.2017.4.02.5101, que se encontra na mesma fase, é evidente e justifica a
reunião de ambos num só feito. Por fim, arrola as mesmas testemunhas/colaboradores
apontados na denúncia, ressalvando a necessidade de eventual substituição.
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- 29/05/2018: oitivas das testemunhas de defesa Luiza Helena Inácio Trajano
Rodrigues e Manoel Félix Cintra Neto.
- 05/06/2018: oitiva das testemunhas de defesa Luiz Inácio Lula da Silva, Maria
Elizabeth da Silva Lula, Edson Arantes do Nascimento.
Homologada as desistências das seguintes testemunhas: (i) Edina dos Santos
Rufino, arrolada pela defesa de SERGIO CABRAL (Evento 196); (ii) Bernard Rajzman e
Marco Aurélio Costa Vieira, arroladas pela defesa de Carlos Arthur Nuzman (Evento 234); (iii)
s Thomas Bach, Jacques Rogge, Príncipe Albert II de Mônaco, Rei da Holanda S.A.R. Le
Prince D´Orange, Syed Shadid Ali, Raja Randhir Singh, Nicole Hoevertsz, Luiz Alberto
Moreno, Alex Gilady, John Coates, Christophe Dubi, Lana Haddad, Paquerette Girard Zappelli
e Pere Miró, arroladas pela defesa de Carlos Arthur Nuzman (Evento 391); (iv) Mário Cilenti,
Sidney Levy, Luiz Henrique Alcoforado, Christophe de Kepper, Kipchoge Keino, Jacqueline
Barret e Gilbert Felli, arroladas pela defesa de Carlos Nuzman (Evento 414); (v) Sidney Levy e
Scott Givens, arroladas pela defesa de Leonardo Gryner.
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O MPF juntou o relatório extraído do celular de CARLOS ARTHUR NUZMAN,
apreendido na cautelar de busca e apreensão de autos n.º 0507224-64.2017.4.02.5101 (Evento
280), destacando as conversas travadas entre Edson Menezes Figueiredo e Carlos Nuzman, que
demonstram a sua relação de amizade.
Certidão emitida pela Secretaria deste Juízo (Evento 317) informando que a mídia
fornecida pelo MPF e acautelada no Evento 303, encontra-se vazia de conteúdo de armazenado,
ou seja, sem arquivos gravados. Posteriormente, o MPF corrigiu o equívoco e entregou nova
mídia, conforme certidão emitida no evento 319.
Decisão chamando o feito à ordem para tornar sem efeito o despacho anterior que
abriu vistas ao MPF para requerimento de diligência, tendo em vista que, por equívoco, tal
determinação ocorreu antes do interrogatório dos réus (Evento 448).
MPF junta aos autos informações fornecidas pela Secretaria Municipal da Casa
Civil do Rio de Janeiro (Evento 456), demonstrando a celebração de convênio firmado com o
Município do Rio de Janeiro em que este compromete-se a repassar para a RIO 2016 o valor de
até R$ 150.000.000,00 (cento e cinquenta milhões de reais), ou seja, mais uma vez, resta
comprovado o repasse de verba pública à RIO 2016 “para despesas de infraestrutura do evento”
(Jogos Olímpicos de 2016).
MPF junta aos autos faturas de cartões de crédito fornecidas pelo Banco
Bradesco, referente ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016, em resposta ao
ofício n. OFI.0044.001613-4/2017 (Evento 462), cujas mídias encontram-se acauteladas sob o
n. 611/2018 (Evento 464).
MPF junta aos autos faturas de cartões de crédito fornecidas pelo Banco Itaú,
referente aos acusados Carlos Arthur Nuzman, Eliane Pereira Cavalcante e Arthur Soares Filho,
em resposta ao ofício n. OFI.0044.001560-6/2017 (Evento 462), cujas mídias encontram-se
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acauteladas sob o n. 610/2018 (Evento 466).
MPF junta aos autos informações fornecidas pela Microsoft, acerca do e-mail
investigado lp@protalento.com.br , acompanhado da mídia acautelada sob o n. 650/2018
(Evento 496).
MPF junta aos autos informações fornecidas pelo Ministério das Relações
Exteriores relacionadas às viagens realizadas por integrantes da Rio 2016 e do COB, em
campanha para o Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016, no interesse das
investigações realizadas no âmbito do PIC 1.30.001.002621/2017- 80, conforme solicitado por
este órgão ministerial, por meio do Ofício nº 7553/2019/PRRJ/GAB/ERGE (Evento 598).
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Requerimento da defesa de LEONARDO GRYNER pugnando pela concessão de
acesso à mídia acautelada sob o n. 619/2019, e posterior abertura de prazo para as alegações
finais.
Alegações finais da defesa de SERGIO CABRAL (Evento 692) em que alega,
preliminarmente: (i) necessidade de conversão do feito em diligências com a finalidade de
oficiar ao ao exmo. Min. Edson fachin para obter cópia da decisão que homologou o acordo de
delação premiada celebrado entre o acusado e a polícia federal; (ii) incompetência do juízo; (iii)
cerceamento de defesa em razão da formação de maxiprocessos; (iv) inépcia formal e material
da denúncia quanto ao pedido de reparação dos danos; (v) existência de bis in idem em relação
ao crime de corrupção; (vi) falta de interesse de agir do estado para a condenação do acusado
em razão do atingimento do grau máximo pela continuidade delitiva, na forma do art. 71 do
Código Penal.
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Decisão convertendo o feito em diligências (Evento 644) a fim de conceder prazo
para as defesas complementarem ou alterarem as alegações finais, em razão da juntada dos
documentos pelo MPF.
O réu Sérgio Cabral apresentou aditamento às suas alegações finais (Evento 692).
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As Defesas de Leonardo Gryner (Evento 698) e Carlos Arthur Nuzman
(Event699) reiteram as alegações finais apresentadas.
É o relatório. DECIDO.
II – FUNDAMENTAÇÃO
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II.2 - DAS PRELIMINARES
Em que pese a questão ter sido analisada na Decisão do Evento 157, reitero os
argumentos expostos anteriormente e transcrevo:
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artigo 157, §1o do Código de Processo Penal.
Saliente-se que não há que se confundir irresignação dos réus com a decisão do
Juízo com causa que enseja a nulidade do feito.
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Rejeito, portanto, a preliminar arguida.
Vê-se que, no caso dos autos, os requisitos estabelecidos no referido artigo foram
atendidos. O Ministério Público descreveu, na exordial acusatória, os fatos supostamente
criminosos de forma satisfatória, os períodos de sua ocorrência, a conduta e o modus operandi,
bem como a relação existente entre os crimes praticados e os denunciados, permitindo aos réus
a exata compreensão da amplitude da acusação, além de possibilitar aos ora acusados a
formulação de diversos questionamentos ao longo de toda fase instrutória, garantindo-lhes,
assim, a possibilidade de exercer o contraditório e a ampla defesa.
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Note-se que a expressão “com todas as suas circunstâncias” contida no dispositivo
deve ser interpretada teleologicamente como todas as circunstâncias relevantes para o caso
penal, ou seja, aquelas circunstâncias que podem alterar a tipificação, a ilicitude, a
culpabilidade do agente ou quaisquer outros elementos de relevo para a situação em debate; não
sendo necessário que o acusador faça menção a todo e qualquer detalhe, sobretudo os
considerados irrelevantes à imputação e ao deslinde do caso sob exame.
Desse modo, é impróprio exigir-se, até para não comprometer a imparcialidade que se espera do
órgão julgador, uma análise aprofundada da procedência da pretensão punitiva.
Assim, em relação aos FATOS 01 e 02, a exordial narra que, no período compreendido entre
agosto e setembro de 2009, SÉRGIO CABRAL, CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER, de
forma livre e consciente, solicitaram e aceitaram promessa de vantagem indevida de ARTHUR
SOARES, consistente no pagamento a LAMINE DIACK, por intermédio do seu filho, PAPA
DIACK, no valor de ao menos USD 2.000.000,00 (dois milhões de dólares americanos), com o
intuito de garantir votos para o Rio de Janeiro como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
Em razão da promessa, ARTHUR SOARES foi beneficiado com a contratação da empresa LSH
EMPREENDIMENTOS pelo Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, além da abertura de uma
imensa janela de oportunidades para exponenciar os seus contratos com o Estado e com o
Município do Rio de Janeiro e com o próprio Comitê Organizador.
A respeito das investigações, revela o MPF que o Ministério Público Financeiro Francês
apresentou pedido de cooperação internacional com o intuito de obter elementos probatórios que
pudessem auxiliar a investigação envolvendo a Associação Internacional das Federações de
Atletismo.
Isso porque estava sendo apurado naquele país esquema de corrupção nas apurações de
dopagem. Entretanto, para além desse esquema, que já contava com a participação de LAMINE
DIACK, presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo, e seu filho PAPA
DIACK, foi vislumbrado um outro, muito mais amplo, ao redor desses mesmos personagens,
envolvendo a designação de cidades para sediar as maiores competições mundiais.
Nesse sentido, houve o testemunho espontâneo do atleta brasileiro e ex- membro do COB Eric
Maleson perante o Ministério Público Francês (e posteriormente ao MPF) de que houve ajustes
e efetivo pagamento a membros africanos do COI para a escolha do Rio de Janeiro como cidade-
sede das Olimpíadas de 2016.
Somado a isso, a análise da movimentação financeira de PAPA DIACK realizada naquele país
apontou a transferência de dois milhões de dólares a favor deste, realizada pela empresa
Matlock Capital Group Limited, de propriedade de ARTHUR SOARES.
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Já foi narrado na denúncia anterior que Renato Chebar, na condição de operador financeiro de
SÉRGIO CABRAL, abriu a conta MATLOCK no Banco EVG, cujo beneficiário final era o
denunciado ARTHUR SOARES, tendo sido proveniente dessa conta os recursos repassados aos
DIACK.
Afirma também o MPF que CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER participaram como
figuras centrais nessa negociação, trazendo a lume os e- mails trocados com PAPA DIACK.
Nesse ponto, expõe o MPF a qualidade de CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER como
funcionários públicos por equiparação, uma vez que o COB é, segundo seu estatuto, uma
associação civil de natureza desportiva, de utilidade pública e sem fins lucrativos.
Demonstra o MPF o repasse de verbas públicas ao COB, com fiscalização pelo TCU, destacando
que o desporto é uma atividade típica de Estado, cabendo ao COB, por força da Lei 9615/98, a
representação do país nos eventos internacionais pertinentes. Tanto que CARLOS NUZMAN
recebeu passaporte diplomático.
Dessa forma, os acusados se enquadrariam no conceito do art. 327, § 1o, 2a parte, do CP, tendo
o MPF apresentado ainda os diversos convênios firmados entre o Ministério dos Esportes e o
COB.
Não ignoro a discussão acerca do tema, todavia, embora não seja o momento de formar e
afirmar minha convicção, reconheço plausível a tese apresentada pelo MPF para fins de permitir
o prosseguimento da acusação.
No que tange ao FATO 03, a denúncia relata que, pelo menos entre agosto de 2009 e 05 de
outubro de 2017, CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER, além de outras pessoas (ou já
denunciadas por integrarem a mesma organização criminosa, ou ainda a serem processadas), de
modo consciente, voluntário, estável e em comunhão de vontades, promoveram, constituíram,
financiaram e integraram, pessoalmente, uma organização criminosa que tinha por finalidade a
prática de, entre outros, crimes de corrupção ativa e passiva em detrimento do Estado do Rio de
Janeiro, do Comitê Olímpico Brasileiro e do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, bem como
a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses crimes.
Com o fito de embasar suas alegações, o Parquet colacionou aos autos inúmeros documentos
que revelam intenso contato e intimidade com outros membros da organização criminosa,
descrevendo os elos entre eles.
Afirma o MPF que a realização dos Jogos Olímpicos foi uma das melhores estratégias de
capitalização financeira e política da ORCRIM, uma vez que atrairia grandes investimentos para
o Rio de Janeiro para realizar mais obras e contratações de serviços – que seriam
superfaturadas - e, consequentemente, aumentaria as oportunidades para solicitar e receber
mais propina, evidenciando o esquema win-win para todos os membros da ORCRIM.
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Em relação aos FATOS 04 e 05, afirma o MPF que CARLOS NUZMAN, entre julho de 2014 e
setembro de 2017, ocultou e dissimulou a origem e a propriedade de 16 quilos de ouro, no valor
de R$ 1.495.437,63, provenientes de atividade ilícita, mediante aquisição e manutenção não
declarada em cofre na Suíça, bem como por promover sua conversão em ativos lícitos entre os
dias 15 e 20 de setembro de 2017, mediante retificação de suas declarações de imposto de
renda.
Narra que, com os recursos provenientes de atividades ilícitas, CARLOS Nuzman adquiriu, em
julho de 2014, 16 barras de ouro, pesando 1 Kg cada uma, no valor total declarado de USD
678.080,00 (correspondentes a R$ 1.495.437,63), tendo mantido esses ativos em cofre na cidade
de Genebra/Suíça.
Descoberta sua existência na diligência de busca e apreensão na sua residência, Carlos Nuzman
tentou regularizar sua situação, retificando suas declarações de imposto de renda entre os dias
15 e 20/09/2017.
Observo, portanto, que o órgão ministerial expôs com clareza os fatos criminosos e suas
circunstâncias, fazendo constar a qualificação dos denunciados e a classificação dos crimes, o
que atende os pressupostos contidos no artigo 41 do CPP e afasta a incidência do inciso I do
artigo 395 do CPP.
Dessa maneira, não verifico qualquer mácula que atinja a peça acusatória, que
permitiu o pleno exercício do direito de defesa e do contraditório pelos denunciados.
A defesa de SERGIO CABRAL pugna que seja oficiado o Supremo Tribunal
Federal para que envie a cópia da decisão que homologou o acordo de colaboração premiada
celebrado entre Sergio Cabral e a Polícia Federal
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A questão encontra-se superada, tendo em vista que, em resposta ao ofício nº
JFRJ-OFI-2020/00817 (Evento 265 da ação penal nº 0039777-90.2018.4.02.5101), o Ministro
Edson Fachin, Relator da Petição nº 8.482, encaminhou a decisão homologatória do acordo de
colaboração premiada de Sérgio de Oliveira Cabral Santos Filho, conforme consta da certidão
do evento 933.
Alega a Defesa, em síntese, que: (i) os autos deveriam ido à livre distribuição,
tendo em vista que a ação penal Calicute teve sentença proferida antes do recebimento da
denúncia dos presentes autos; e (ii) competência seria da Justiça Estadual, em razão da ausência
de lesão a bens, interesses e serviços da União.
Em 16.6.2016, por força da decisão exarada pelo saudoso Ministro Teori Zavaski nos autos da
PET no 5998/DF foram compartilhados com este Juízo (autos no 0506152-76.2016.4.02.5101) os
termos dos acordos de colaboração de alguns executivos da empreiteira ANDRADE
GUTIERREZ INVESTIMENTOS EM ENGENHARIA S/A, os quais foram homologados pela
Suprema Corte em 5.4.2016. As declarações dos colaboradores mencionavam expressamente a
contratação irregular de obras públicas no Estado do Rio de Janeiro, com possível envolvimento
do ex- governador Sergio Cabral. Assim, o feito foi distribuído por dependência à Representação
Criminal no 0802315-42.2013.4.02.5101 (IPL no 409/2012 - Operação Saqueador), que aqui
tramitava.
Na denúncia da Operação Saqueador, recebida em 28.6.2016 (ação penal no 0057817-
33.2012.4.02.5101), o MPF descreve que o esquema criminoso seria comandado pelo ex-
governador Sérgio Cabral, o qual teria beneficiado a empresa DELTA CONSTRUÇÕES S/A
mediante a prática dos crimes de cartel, fraude a licitações e corrupção de agentes públicos em
obras das quais a empreiteira participou, em especial a reforma do Maracanã, narrado na
denúncia como crime antecedente à lavagem de dinheiro. Referida ação penal trata
especificamente de grande esquema de lavagem de dinheiro pelas empresas DELTA e ANDRADE
GUTIERREZ.
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obras públicas no Estado do Rio de Janeiro e lavagem internacional de dinheiro, fatos esses que
foram objeto das Operações Calicute e Eficiência, respectivamente, além de outros delitos ainda
sob investigação.
Nestes autos, apresenta o MPF elementos que indicam outros atos de corrupção pela indigitada
ORCRIM, praticados também por novos personagens, embora guardem semelhança com a forma
de execução e características de outros tantos fatos inquinados como ilícitos em diversas ações
penais em curso neste Juízo.
No ponto específico que trata do suposto pagamento de vantagem indevida na eleição da sede
das Olimpíadas de 2016, não há dúvida de que o projeto político de candidatura da Cidade do
Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, para o qual atuaram conjuntamente
União, Estado e Município do Rio de Janeiro, era de primordial interesse da União. Foi projeto
de interesse nacional, em que a União fomentou, também através do Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC e de financiamentos específicos, a realização de inúmeras obras públicas de
grande porte, as quais já foram sobejamente referidas.
Aliás, em razão da realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, a União destinou
no ano de 2016 o auxílio financeiro emergencial de R$ 2.900.000.000,00 (dois bilhões e
novecentos milhões de reais) ao Estado do Rio de Janeiro, nos termos da Medida Provisória no
736 de 2016, convertida na Lei no 13.343 de 5 de outubro de 2016.
Portanto, deve ser reconhecida de plano a competência federal, isso porque tanto em relação às
obras fomentadas em razão dos eventos esportivos em questão, quanto pela alocação direta de
recursos da União para o evento, o que atrai a competência federal, consoante artigo 109, I,
Constituição Federal.
1. Não havendo dúvidas de que os delitos supostamente cometidos estão relacionados com
verbas sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas da União, conforme admitido pelo próprio
recorrente, é competente a Justiça Federal para o processamento e julgamento da causa.
Precedentes.
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2. O sistema de repasse previsto no programa de resposta aos desastres e reconstrução, tem por
finalidade específica o atendimento da população desabrigada por situações de calamidade
pública e resulta em termo de compromisso assinado pelos entes federados com o Ministério da
Integração Nacional. Estando o ato sujeito à verificação e fiscalização do Governo Federal, é de
se ter como presente o interesse da União e, portanto, a competência da Justiça Federal, nos
termos da aplicação analógica do Enunciado n. 208 desta Corte (CC n. 114.566/RS, Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, DJe 1o/2/2011).
3. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a
prestação de contas perante órgão federal (Súmula 208/STJ).
(STJ – Sexta Turma, Ministro Sebastião Reis Junior, RHC 66133 / SC, DJe 21/06/2017)
Cumpre destacar ainda que as obras relacionadas às Olimpíadas de 2016 foram objeto de
fiscalização pelo Tribunal de Contas da União, justamente pelo emprego de recursos federais,
conforme se depreende do site do órgão (www.portal.tcu.gov.br, processos no TC 012.890/2013-
8, TC 004.185/2014-5; TC 027.981/2015-0).
Nesse contexto, esse Juízo Federal especializado encontra-se prevento para o julgamento desta
causa. Isso porque há aparente coincidência de esquemas criminosos entre os fatos já objetos
das ações penais em curso neste Juízo, antes referidas, e os episódios aqui narrados de repasses
de recursos indevidos entre membros da Organização Criminosa sob investigação pelos novos
personagens ora representados.
Além disso, os supostos pagamentos de vantagens indevidas para a escolha da Cidade do Rio de
Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos em 2016, através de aparente movimentação ilegal de
recursos no exterior por membros da mesma ORCRIM, e com a finalidade de assegurar
pagamentos de vultosas propinas na contratação de obras as quais já são objetos de ações
penais em trâmite neste Juízo, realizadas tanto pelo Estado como pelo Município do Rio de
Janeiro, é mais uma evidência de ocorrência do fenômeno processual da conexão (art. 76, I e III,
CPP – “A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações,
houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; ...
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir
na prova de outra infração”).
Daí minha observação, na decisão cautelar proferida nos mencionados autos no 0505149-
52.2017.4.02.5101, de que “não parece demasiado supor que, pelos relatos trazidos aos autos, o
que se veicula como sendo a ORCRIM DO SÉRGIO CABRAL (referência à posição de liderança
que se imputa ao ex-governador do Estado do Rio de Janeiro) seria na verdade uma ORCRIM
DE MEMBROS DO PMDB/RJ, considerando ainda que, não por acaso, por muitos anos tanto o
Estado do Rio de Janeiro quanto o Município do Rio de Janeiro foram comandados por esse
mesmo grupo político”, pois como observou a colaboradora Luciana Salles Parente, da Carioca
Christiani-Nielsen Engenharia S/A, nos mesmos autos à fl. 149: “... o pagamento de vantagens
indevidas a representantes do Governo do Estado do Rio de Janeiro e do Município do Rio de
Janeiro era uma prática usual e comum no mercado”.
Dessa feita, a não reunião dos processos relativos aos mesmos delitos, praticados por uma
determinada Organização Criminosa que, aparentemente, dominava a política e os setores
públicos do Rio de Janeiro desde os idos de 2007 até os dias atuais, poderia ensejar aberrações
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jurídicas, com flagrantes discrepâncias no julgamento de diversas ações penais. Sobre o tema,
cabe colacionar os ensinamentos de Eugênio Pacelli, em seu Curso de Processo Penal (17a
edição, Editora Atlas):
“Na hipótese do artigo 77, I, a reunião dos processos para a unificação do julgamento é
absolutamente indispensável, como meio de impedir a divergência judicial sobre um único e
mesmo fato criminoso, funcionando, então, como estratégia de controle de efetividade e eficácia
da jurisdição penal. Nesse passo, o expediente da unidade de processo e de julgamento assume
dimensão não só jurisdicional, mas até de política criminal, sem falar no princípio geral da
igualdade com que devem ser tratados todos os cidadãos.
E reunião dos processos conexos e/ou continentes determina, assim, a unidade de processos,
para o fim de instrução simultânea, e a unidade de julgamento, para o mais completo
aproveitamento dos atos processuais realizados em um e outro”.
Noutro giro, por todo o explanado, resta refutada qualquer alegação a respeito da livre
distribuição do processo. Isso porque, diante da evidente ocorrência de conexão entre este feito e
as ações penais que já tramitam perante este Juízo, mostra-se obrigatório o julgamento da causa
pelo mesmo juiz natural, razão pela qual afirmo a competência desta 7a Vara Federal
Criminal.”
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Sustenta ainda que “os Termos de Acautelamento que na verdade refere às mídias
físicas (CDs ou DVDs) que trazem importantes informações que não chegam aos olhos dos
defensores, têm natureza bancárias, fiscais, telemáticas, dados em geral que devem estar
prontas para o uso da defesa”.
Dessa forma, nos termos do art. 387, IV, do CPP, incumbe ao juiz criminal fixar
na sentença condenatória penal o valor mínimo para fins de reparação dos danos causados pela
infração penal, desde que haja pedido expresso na inicial acusatória, o que ocorreu no caso.
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Sustenta a Defesa de SERGIO CABRAL, em síntese, que o acusado já responde
perante esse juízo há mais de trinta ações penais, todas tratando de fatos encadeados, a partir da
assunção do governo do Estado do Rio de Janeiro, no dia 1o de janeiro de 2007 e que todos os
processos criminais se referem a prática do crime de corrupção passiva, descrito no artigo 317
do Código Penal.
Aduz a Defesa, portanto, que haveria um único crime de corrupção, ainda que
com divisão de tarefas entre os agentes e demais partícipes. No entanto, ausente alteração dos
fatos na denúncia, mas valoração diferente deles e o seu enquadramento em um único crime de
corrupção e não vários, o que obriga beneficiar o ora acusado diante de uma posição que se
considera mais correta.
Nessa lógica, sustenta a defesa, que “este magistrado já condenou o réu, pela
prática do crime de corrupção passiva, alcançando-se a fração legal máxima para a
continuidade delitiva (dois terços), bem como que a prática do fato delituoso ora imputado ao
réu se deu em condições semelhantes de tempo, lugar e modo de execução, houve o
exaurimento da pretensão punitiva estatal”. Assim, deveria ser reconhecida a ausência de
interesse de agir na pretensão acusatória, para extinguir o feito em relação ao réu.
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Este é o teor do magistério jurisprudencial do C. Superior Tribunal de Justiça:
I - Nos termos do art. 82 do CPP, após ser proferida sentença definitiva, a unidade dos processos
só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.
I - Nos termos do art. 82 do CPP, após ser proferida sentença definitiva, a unidade dos processos
só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.
II - Compete ao juízo da Execução proceder à unificação de penas (art. 66, inciso III, "a", da
LEP) acaso constatada a configuração de continuidade delitiva entre delitos apurados em
processos distintos (Precedentes desta Corte e do Pretório Excelso). Inviável tal exame na via
eleita por demandar aprofundado exame de material fático-probatório.
III - A deficiência de instrução dos autos, em razão da ausência das cópias das rr. sentenças
condenatórias, impede o conhecimento do presente habeas corpus quanto à análise da
dosimetria das penas. 'Habeas corpus não conhecido.
(HC 319.282/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 15/03/2016, DJe
29/03/2016 – sem grifo no original).”
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Juízo de Execuções Penais, caso o paciente seja também condenado nos autos da segunda ação
penal, adequar a pena, no que couber, ao art. 71 do CP, nos termos do art. 66, inciso III, alínea
a, da Lei 7.210/84. 5. Ordem denegada.
Além disso, é importante salientar que a ação penal na qual o réu alega ter sido
condenado e, com isso, atingido o patamar máximo da continuidade delitiva ainda não transitou
em julgado, motivo pelo qual sequer é possível afirmar, na hipótese de se reconhecer a
continuidade delitiva, se o réu atingiu efetivamente o patamar máximo.
III – DO MÉRITO
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Feitas essas breves considerações, passo à análise das imputações feitas aos
ora acusados.
Em relação ao FATO 01, narra a denúncia que, entre agosto de 2009 e 29 de
setembro de 2009, SÉRGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO, CARLOS
NUZMAN, Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro – COB e LEONARDO
GRYNER, diretor de operações e marketing do COB, em razão do cargo de governador do
Estado do Rio de Janeiro que o primeiro ocupava e dos cargos que o segundo e o terceiro
ocupavam no Comitê Olímpico Brasileiro, de modo consciente e voluntário, solicitaram
diretamente a ARTHUR SOARES e aceitaram promessa de vantagem indevida para outrem,
consistente no pagamento de, ao menos, USD 2.000.000.00 (dois milhões de dólares
americanos) para LAMINE DIACK, por intermédio de seu filho PAPA MASSATA DIACK,
no intuito de garantir votos para o Rio de Janeiro na eleição da cidade-sede dos Jogos
Olímpicos 2016.
A votação é feita por membros ativos do COI, com exclusão dos membros
honorários, cada um com direito a um voto. Membros de países com cidades candidatas não
podem votar enquanto a cidade não for eliminada. O processo final é repetido quantas vezes for
preciso até que uma cidade atinja a maioria absoluta dos votos. Se isso não acontecer na
primeira rodada, a cidade com menos votos é eliminada e uma nova rodada começa. Em caso
de empate no último lugar, uma rodada extra ocorre para desfazê-lo, com a vencedora se
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classificando para a rodada seguinte. A cada rodada, o nome da cidade eliminada é anunciado.
Após o anúncio final, a cidade-sede eleita assina o "Contrato de Cidade-sede" com o COI, que
delega as responsabilidades de organizar os Jogos ao país e ao seu respectivo comitê
organizador.
“(...) QUE NUZMAN achava que havia a possibilidade de o Brasil disputar as eleições “para
valer”; QUE o interrogado concordou em preparar um dossiê para a candidatura; QUE em
2008 disputaram sete cidades: PRAGA, BAKU, DOHA, MADRI, TÓQUIO, RIO DE JANEIRO e
CHICAGO; QUE a primeira fase foi fruto de uma reunião do Comitê Olímpico em 08 de junho
de 2008, e foi um fato inédito para o Rio de Janeiro; QUE o então prefeito CÉSAR MAIA,
NUZMAN e o interrogado estavam presentes em ATENAS; QUE após esta ocasião, passaram de
sete para quatro cidades finalistas; QUE para a montagem do Comitê realizador da campanha
foram estabelecidos valores para os governos municipal, estadual e federal, além do orçamento
do Comitê Olímpico; QUE os recursos utilizados estavam na ordem de 8 a 10 milhões por ente
federativo; QUE NUZMAN coordenava este processo e prestava contas para o interrogado;
QUE CARLOS ROBERTO OSÓRIO participou do processo de apresentações em Istambul; QUE
em 2009 participaram de vários eventos internacionais; QUE NUZMAN agendou várias
reuniões bilaterais com membros do COI; QUE membros do COI disseram que não votariam no
Rio de Janeiro na primeira volta, mas que o fariam em uma eventual segunda volta; QUE estava
inseguro pela primeira volta de votação; QUE após um evento em Roma, no início de agosto,
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recebeu ligação de CARLOS NUZMAN perguntando se poderia recebê-lo em caráter de
urgência; QUE NUZMAN chegou com seu executivo de marketing, LEONARDO GRYNER;
QUE os dois disseram ao interrogado que LAMINE DIACK se abriria para
vantagens indevidas; QUE GRYNER fez contato com o filho de LAMINE, que falava em nome
dele; QUE haveria uma garantia de 5 (cinco) a 6 (seis) votos; QUE LAMINE e seu filho queriam
$ 1.500.000,00 (um milhão e meio de dólares); QUE NUZMAN garantiu que ele venderia estes
votos e que não os comprar seria o risco de não passar para a segunda fase; QUE NUZMAN
disse que a partir da segunda fase conseguiriam obter os votos; QUE os votos vinham de alguns
membros africanos e atletas eleitores do COI; QUE NUZMAN e GRYNER garantiram que
SERGUEI BUBKA recebeu propina; QUE o russo ALEXANDER POPOV recebeu propina; QUE
de 15 a 23 de agosto ocorreu, em Berlim, o mundial de atletismo, cujo anfitrião era LAMINE
DIACK; QUE NUZMAN precisava do “ok” anterior do interrogado para durante esse período
em Berlim combinar com LAMINE DIACK e garantir as tratativas das vantagens indevidas em
troca de cinco ou seis votos; QUE o valor de $ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil
dólares) seria pago na primeira fase; QUE o interrogado disse que confiaria em
NUZMAN; [grifado] (...)”.
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Assim, a partir do interrogatório do réu SÉRGIO CABRAL, é possível verificar
que a intermediação entre PAPA e LAMINE DIACK e SÉRGIO CABRAL e ARTHUR
SOARES foi feita por CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER, que buscaram o
patrocinador junto a SERGIO CABRAL e intermediaram os pagamentos a PAPA e LAMINE
DIACK.
De acordo com as provas juntadas aos autos, foi possível verificar que os
pagamentos foram feitos através da empresa MATLOCK CAPITAL GROUP LIMITED
diretamente para as contas de PAPA MASSATA DIACK (Russia Diack Papa Massata BSGV –
Ilyinka Street) na sua conta (00173152) na SOCIETE GENERALE VOSTOK, bem como para
a sociedade PAMODZI CONSULTING.
“Que criou o Banco EVG a partir de uma ideia dada por Dario Messer; que o banco foi sediado
em Antígua; que foi apresentado aos irmãos Chebar por Dario Messer; que os irmãos Chebar
tinham uma carteira de clientes; que a conta MATLOCK foi aberta a pedido dos Chebar; que
nunca conversou com o proprietário da conta matlock, Sr. Arthur Soares; que funcionários do
banco EVG conversaram com funcionários de Arthur Soares; que Arthur tinha uma empresa
offshore com o mesmo nome da conta; que não se recorda de cabeça do período de duração da
conta MATLOCK; que algumas transações da MATLOCK chegaram a ser proibidas, mas não se
lembra o motivo; que não sabia da relação de Arthur com Sérgio Cabral; que não teve contato
com Carlos Miranda; que a conta MATLOCK era movimentada pelos irmãos Chebar; que
Arthur Soares poderia movimentar a conta, por meio de assinatura dele; que a maior parte das
transferências para a conta no EVG eram da offshore MATLOCK; que havia compliance sobre
as transferências de recursos e algumas foram negadas pelo banco EVG; que não se recorda de
destinos específicos dos recursos transferidos da conta MATLOCK, mas os dados foram
entregues ao Ministério Público (depoimento de ENRICO MACHADO)”
“Que o Banco EVG foi criado no ano de 2006; que era um banco sediado em Antígua com base
operacional no Uruguai; que foi trabalhar no Uruguai a convite do Sr. Enrico Vieira Machado;
que o banco lidava com investimentos de clientes de alta renda; que a maioria dos clientes do
banco EVG era apresentada por Enrico e Dario Messer; que a relação com os irmãos Chebar
foi normal como dos outros clientes do banco; que os irmãos eram clientes muito ativos; que a
abertura da conta MATLOCK foi feita com um cliente nos Estados Unidos, diretamente com a
secretária (Sra. Ana Paula Santiago) do proprietário da conta, Sr. Arthur Menezes; que os
irmãos Chebar tinham autorização integral para movimentar a conta MATLOCK; que não
havia qualquer informação desabonadora sobre o Sr. Arthur à época; que a própria MATLOCK
fazia as movimentações de entrada de recursos de outras contas; que a movimentação dentro do
banco EVG era feita por Renato Chebar; que nunca tratou pessoalmente com Arthur Soares;
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que não havia necessidade; que não sabia do relacionamento de Arthur Soares com Sérgio
Cabral; que nunca tratou com Carlos Miranda; apenas os irmãos Chebar movimentavam a
conta no banco EVG; que não se lembra de movimentações específicas da conta MATLOCK ;
que Dario Messer não tinha participação formal no EVG; que Messer tinha uma ascendência
grande sobre Enrico; que a gestão do EVG a partir do Uruguai ocorreu porque naquele país a
mão de obra era melhor; que não sabe da participação de Messer nos procedimentos de criação
do banco EVG em Antígua. (Depoimento de LEONARDO ARANHA).”
O Ministério Público Federal acostou aos autos diversos e-mails que corroboram
essa afirmação, nos quais há a comunicação entre PAPA MASSATA DIACK e CARLOS
NUZMAN.
“Nós estamos na sexta feira, 11 de dezembro de 2009, e meu banco Societe General de Senegal
ainda não recebeu nenhuma transferência SWIFT de sua parte. Eu tentei falar com LEONARDO
GRYNER diversas vezes mas não houve resposta. Você poderia verificar com ele [LEONARDO
GRYNER] se ele pode confirmar 100% que as transferências foram feitas a meus endereços em
Dacar ou em Moscou (BSGV) [Banque Societé General Vostok)”
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MASSATA refere-se ao compromisso assumido em Copenhagen, em clara alusão aos acertos
realizados em Copenhagen, local em que ocorreu a votação para a cidade-sede dos Jogos
Olímpicos de 2016.
Por fim, em janeiro de 2010, PAPA MASSATA envia e-mail a Maria Celeste
confirmando o recebimento do pagamento dos valores de USD 50,000.00 e outra de USD
60,000.00.
“Que trabalhou no Comitê Olímpico Brasileiro e depois no Comitê da Rio 2016 a convite de
CARLOS ARTHUR NUZMAN; que acompanhou várias viagens pela campanha para a
candidatura dos Jogos Olímpicos; que teve contato com PAPA DIACK porque ficava disponível
no lobby das reuniões que ocorriam; que NUZMAN era o líder do grupo, que trabalhava como
os outros integrantes do grupo brasileiro em prol da candidatura; que lembra de uma reunião
com PAPA DIACK em Berlim, no mundial de atletismo; que não participou desta reunião; que
não presenciava as reuniões; que PAPA DIACK ligou algumas vezes para a depoente dizendo que
não conseguia falar com CARLOS NUZMAN; que acha que foi em dezembro de 2009; que
passava o recado para NUZMAN, que dizia que não sabia do que se tratava; que nos e-mails de
PAPA DIACK não se sabia do assunto a ser tratado; que, considerando que não se sabia do
assunto, não sabe dizer porque NUZMAN dizia que o assunto não era com ele; que PAPA ligava
em horas impróprias por causa do fuso-horário; que a depoente imprimiu um e-mail de PAPA
DIACK sobre uma conta bancária na Rússia e valores em dinheiro; que NUZMAN mandou
entregá-lo ao setor financeiro; que então PAPA DIACK parou de ligar para a depoente; que
achava que era uma cobrança para ajudar o esporte na África; que PAPA DIACK informou duas
contas bancárias na Rússia; que acha que PAPA DIACK era Secretário-Geral da Federação de
Atletismo; que EM apenas uma ligação PAPA DIACK mencionou as contas bancárias; que o e-
mail de DIACK dizia que ele não havia recebido o pagamento e que queria falar com o Dr.
NUZMAN; […]”
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O envolvimento de CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER foi
confirmado pelo corréu SERGIO CABRAL em seu interrogatório:
“(...) QUE após um evento em Roma, no início de agosto, recebeu ligação de CARLOS
NUZMAN perguntando se poderia recebê-lo em caráter de urgência; QUE NUZMAN chegou
com seu executivo de marketing, LEONARDO GRYNER; QUE os dois disseram ao
interrogado que LAMINE DIACK se abriria para vantagens indevidas; QUE GRYNER fez
contato com o filho de LAMINE, que falava em nome dele; QUE haveria uma garantia de 5
(cinco) a 6 (seis) votos; QUE LAMINE e seu filho queriam USD 1.500.000,00 (um milhão e
meio de dólares); QUE NUZMAN garantiu que ele venderia estes votos e que não os comprar
seria o risco de não passar para a segunda fase; QUE NUZMAN disse que a partir da segunda
fase conseguiriam obter os votos; QUE os votos vinham de alguns membros africanos e atletas
eleitores do COI; QUE NUZMAN e GRYNER garantiram que SERGUEI BUBKA recebeu
propina; QUE o russo ALEXANDER POPOV recebeu propina; QUE LEONARDO GRYNER era
quem tratava com DIACK; QUE LEONARDO GRYNER tratava com ARTHUR SOARES; QUE
LEONARDO GRYNER e CARLOS NUZMAN repassavam informações ao interrogado; QUE
ARTHUR SOARES nunca pediu nada e que não houve contrapartida; QUE ARTHUR SOARES
só realizou débito no crédito do interrogado; QUE foi convidado pelo COI a participar dos
Jogos Olímpicos como membro do Comitê Olímpico Internacional; QUE houve dificuldade no
repasse de valores a PAPA DIACK; QUE LEONARDO GRYNER reportava as cobranças de
PAPA DIACK ao interrogado por e-mail e telefone; QUE o interrogado não sabe dizer quantos
votos foram garantidos pelos DIACK na primeira fase; QUE o interrogado não queria ficar em
dúvida e decidiu comprar os votos; QUE o interrogado tinha certeza que após a primeira fase, a
política desenvolvida teria resultados; QUE membros do COI que apoiavam outras cidades
diziam ao interrogado que seus segundos votos era do Rio; QUE não sabe a forma como o
dinheiro foi transferido pelas empresas de ARTHUR SOARES para a empresa ou o próprio PAPA
DIACK; QUE sabe que ARTHUR SOARES utilizou contas no exterior; QUE houve um
questionamento por parte de banco vinculado a ARTHUR SOARES acerca de simulação de
contrato com PAPA DIACK; QUE foram utilizados contratos fictícios para pagamento de
propina; QUE o interrogado não tem mais créditos com ARTHUR SOARES; QUE ARTHUR
SOARES delegou para os irmãos CHEBAR a administração dos recursos pertencentes ao
interrogado; QUE isso ocorreu mediante conta criada no banco EVG; QUE foram transferidos
USD 10.000.000,00 (dez milhões de dólares) ao banco EVG; QUE esse era o valor que o
requerente possuía com ARTHUR SOARES; QUE os CHEBAR tinham conta em
LUXEMBURGO; QUE os CHEBAR falavam em GENEBRA, LIECHTENSTEIN e
LUXEMBURGO; QUE só tinha contas com os irmãos CHEBAR, com exceção da conta que
possuía no Israel Discount Bank, a qual foi transferida para os irmãos CHEBAR; Que ficou
preso junto a CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER em Benfica; Que chegaram a
conversar formalmente sobre o assunto da ação penal; Que era uma conversa de quem quer
fugir da verdade; Que NUZMAN dizia que ia negar tudo e LEO GRYNER dizia para o
interrogado, como já disse aqui, que era um patrocínio; Que LEO GRYNER veio com essa
história de que era um patrocínio, que foi solicitado e tudo mais; Que essa versão ficou
combinada lá em Benfica a pedido do LEO GRYNER para ele, que disse que ia falar (…)”
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A compra de votos, de acordo com a documentação constante dos autos, ocorreu
durante a primeira fase de votação, ocasião em que não havia garantia de que o Rio de Janeiro
seria a cidade vencedora. O Ministério Público Federal apurou que, na primeira rodada de
votação, o Rio de Janeiro avançou com apenas 6 votos de diferença em relação a Chicago.
(...) QUE NUZMAN agendou várias reuniões bilaterais com membros do QUE membros do COI
disseram que não votariam no Rio de Janeiro na primeira volta, mas que o fariam em uma
eventual segunda volta; QUE estava inseguro pela primeira volta de votação; QUE após um
evento em Roma, no início de agosto, recebeu ligação de CARLOS NUZMAN perguntando se
poderia recebê-lo em caráter de urgência; QUE NUZMAN chegou com seu executivo de
marketing, LEONARDO GRYNER; QUE os dois disseram ao interrogado que LAMINE DIACK
se abriria para vantagens indevidas; QUE GRYNER fez contato com o filho de LAMINE, que
falava em nome dele; QUE haveria uma garantia de 5 (cinco) a 6 (seis) votos; QUE LAMINE e
seu filho queriam $ 1.500.000,00 (um milhão e meio de dólares); QUE NUZMAN garantiu que
ele venderia estes votos e que não os comprar seria o risco de não passar para a segunda fase;
QUE NUZMAN disse que a partir da segunda fase conseguiriam obter os votos.”
Assim, de acordo com as provas contidas nos autos, é possível concluir que, na
semana de 4 a 10/8/2009,NUZMAN e GRYNER encontram-se com SÉRGIO CABRAL, nos
termos afirmados pelo próprio CABRAL, e acertam o pagamento a LAMINE DIACK. Em
seguida, já em Berlim, NUZMAN, GRYNER e CABRAL acertaram pessoalmente com
LAMINE DIACK a compra de votos para a eleição da cidade-sede para os Jogos Olímpicos de
2016.
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“DEFESA DE CARLOS ARTHUR NUZMAN: Tenho algumas perguntas. O senhor falou um
pouco sobre o período após a candidatura, algumas obras públicas foram realizadas. Eu queria
saber do senhor se em algum momento o Nuzman recebeu algum tipo de vantagem indevida,
de propina? O senhor deu dinheiro para ele após a organização das Olimpíadas? Ele
pessoalmente, pessoa física...
DEFESA DE CARLOS ARTHUR NUZMAN: A denúncia aqui fala que o senhor Nuzman, ele
mantinha algumas barras de ouro no exterior, isso quando ele esteve aqui ele explicou, que eram
recursos que ele já tinha desde a década de oitenta e que ele tinha isso nos bancos, mas próximo
as Olimpíadas foi determinado a ele que fechasse a conta, um advogado tributarista recomendou
que ele colocasse esse dinheiro em barras de ouro, porque era um valor seguro, enfim. O senhor
algum dia entregou essas barras de ouro para ele? DEU DINHEIRO PARA ELE?
SÉRGIO CABRAL: Nunca.”
O tipo penal previsto no art. 317 do Código Penal tipifica a conduta de quem
solicita ou recebe direta ou indiretamente vantagens indevidas tanto para si, quanto para
outrem. No caso em questão, a solicitação de vantagens indevidas ocorreu para pessoas diversas
do condenado CARLOS ARTHUR SOARES, com a finalidade de tornar a cidade do Rio de
Janeiro a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.
“MINISTÉRIO PÚBLICO: O senhor afirmou que nessa reunião que teve com a delegação
africana, o senhor conversou com os africanos dizendo o seguinte é necessário que eles
apoiassem a candidatura brasileira porque me algum momento poderia ter a realização das
olimpíadas também em algum país do continente africano. O senhor... houve alguma tentativa de
troca de favores nessa reunião?
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LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: NÃO TEVE TROCA. MINISTÉRIO PÚBLICO: Em troca
de apoio à candidatura brasileira? O Brasil apoiaria a candidatura africana?
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: Veja, A ÁFRICA APOIAR O BRASIL ERA QUASE QUE
UMA COISA ÓBVIA. Presta atenção numa coisa, Procuradora, o Brasil era o país mais
próximo da África. Eu era considerado primeiro presidente negro da África, eu viajei 34 vezes
para África, visitei 29 países na África, abri 19 embaixadas na África, levei Embrapa pra
África, sabe... isso dava aos africanos quase que uma irmandade com o Brasil e sempre foi
assim. Acabei de falar, o Brasil não tem contencioso, então, eu brigava para que os continentes
pobres tivessem direito de sediar olimpíadas. Porque se a gente não brigar, se os países do
terceiro mundo não se unificar pra ser... a África nunca vai ser porque a África tem muito negro,
tem muito pobre e eu acho que deveria ter no Brasil, deveria ter na África, poderia... a mesma
briga que eu fiz para as olímpiadas, eu fiz para o conselho de segurança na ONU, porque que a
África não pode ter um representante no conselho de segurança? Então... eu trabalhei e vou
trabalhar se a África um dia concorrer... África não porque tem que ser um país não pode ser um
continente, pode estar certo que se eu estiver de bengala, eu vou... aonde tiver influência, eu vou
pedir um votozinho pra África ser sede das olimpíadas.”
No entanto, tais depoimentos não são suficientes para comprovar que o esquema
não existiu, mas tão somente que essas pessoas não tinham conhecimento da existência do
esquema criminoso, que se encontra fartamente comprovado pelas demais provas colacionadas
aos autos.
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Assim, a instituição do COMITÊ GESTOR DOS JOGOS OLÍMPICOS E
PARALÍMPICOS DE 2016, por força do Decreto de 13 de setembro de 2012, posteriormente
revogado pelo Decreto 9.512/18, bem como a criação das AUTORIDADES PÚBLICAS
OLÍMPICAS (APO) pela lei 12.396/11, consórcio público firmado entre Governo Federal,
Estado e Município do Rio de Janeiro, não tem condão de afastar o caráter público das
funções exercidas pelo COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO.
Portanto, diante do farto conjunto probatório constante dos autos, composto por
declarações dos colaboradores, depoimentos das testemunhas, corroboradas por e-mails e
mensagens trocadas entre os acusados, além de documentos enviados por Bancos localizados
no exterior, considero que o tipo legal reportado no artigo 317 do Código Penal
(corrupção passiva) se encontra devidamente configurado em relação a SÉRGIO
CABRAL, CARLOS ARTHUR NUZMAN e LEONARDO GRYNER.
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Narra o MPF que, à época da solicitação e da aceitação da promessa de vantagem
indevida, ARTHUR SOARES, era um dos maiores contratados pelo Estado na área de prestação
de serviços. Em 2009, ano em que atendeu ao pedido de SÉRGIO CABRAL, CARLOS
NUZMAN e LEONARDO GRYNER, foi beneficiado com dezenas de contratos firmados com
o Rio de Janeiro, dependendo de atos de ofício direta ou indiretamente a cargo do então
Governador.
Em que pese não haver um ato de ofício praticado que corresponda a cada
pagamento realizado, é possível afirmar que os valores ilícitos visavam uma “boa vontade” na
concessão de contratos ao empresário ARTHUR SOARES.
“Que quando questionado se o projeto Olímpico criou oportunidade para contratações que
geraram vantagens indevidas, respondeu que sim, porque as obras foram feitas, e como havia
essa relação indevida com as empresas, a realização de obras promoveu vantagens indevidas em
contratos; Que cita como exemplo o contrato do Maracanã, mas que o Maracanã nem tanto, pois
já estava pronto para a Copa do Mundo, mas que o metrô, que foi uma importante obra para o
Estado; Que este teve vantagens indevidas, que nas obras do BRT, embora o interrogado não
tenha participado, sabe que houve vantagens indevidas; Que em todas as obras relativas à
infraestrutura necessária houve pagamento de vantagens indevidas”
No entanto, em que pese o hotel LSH BARRA (Trump Hotel) não ter ficado
pronto a tempo dos Jogos Olímpicos, não houve a imposição da multa prevista em contrato,
ocasião em que o COI-2016 e a LSH BARRA acertaram um acordo para o não pagamento da
multa prevista, além do desconto no valor que a empresa deveria para ao COI-2016 no
percentual de 30% (trinta por cento) do valor acordado inicialmente.
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Ainda que não se possa dizer que para o pagamento tenha correspondido um ato
de ofício específico, é correto concluir que a prática desses atos funcionais, sobretudo os que
foram descritos na denúncia, ocorreram com desvio de finalidade, já que pautados pelo efetivo
recebimento de indevida vantagem econômica, o que é suficiente para configurar a
qualificadora prevista no artigo 317, § 1º do Código Penal.
A Lei nº 12.850/ 2012, em seu art. 1º, § 1º, define organização da seguinte forma:
“Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que
sejam de caráter transnacional.”
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Narra a denúncia que CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER atuaram
juntamente aos demais integrantes da organização criminosa para atingirem o objetivo comum,
que era a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, e que traria – e
efetivamente trouxe – grande volume de investimentos nas esferas pública e privada para o
Estado do Rio de Janeiro, potencializando os ganhos dos integrantes da organização
criminosa.
Ressalte-se que, embora a associação criminosa objeto dos autos tenha se iniciado
antes de 2013, ano em que entrou m vigor a Lei 12.850/13, que previu o crime de Organização
Criminosa, inexiste embaraço para sua tipificação aos réus da ação penal sob análise, dada a
natureza permanente o referido delito e a sua consumação ao menos até outubro de 2017.
Dito isso, vê-se que, com o aprofundamento das investigações, foi possível
estabelecer os contornos de uma organização criminosa complexa, em que os agentes
envolvidos possuíam estrutura sólida, com tarefas definidas aos integrantes e com a finalidade
específica de praticar crimes.
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II.2.3 Dos atos de lavagem de ativos e evasão e divisas envolvendo CARLOS
ARTHUR NUZMAN (FATO 04 e 05)
De acordo com o MPF, a compra dos votos para a eleição do Rio de Janeiro como
cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 multiplicou exponencialmente o repasse de recursos
públicos para o Comitê Olímpico Brasileiro e para o Comitê Organizador dos Jogos, e,
consequentemente, o orçamento sob a gestão de CARLOS ARTHUR NUZMAN, na
qualidade de Presidente das referidas entidades.
Além disso, no período de 2007 a 2017, ou seja, nos últimos 10 dos 22 anos de
presidência do COB, CARLOS NUZMAN ampliou seu patrimônio em 457%, não havendo
indicação clara de seus rendimentos.
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Ainda que assim não fosse, no caso em questão, existem provas robustas de
crimes antecedentes de corrupção passiva (art. 317, do CP) e de pertinência a organização
criminosa (art. 2o da Lei 12.850/2013), ora imputados a CARLOS NUZMAN.
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Assim, constatou-se que das 16 barras de ouro de 1kg cada, depositadas na Suíça,
declaradas à Receita Federal do Brasil, apenas 13 barras de ouro foram localizadas, além de
USD 36,000.00 (trinta e seis mil dólares) em espécie.
Além disso, por manter depositadas em cofre na Suíça, entre os anos de 2014 e
2016, divisas não declaradas à repartição federal competente, consistentes em 16 quilos de ouro
em barras, no valor de USD 678.080,00, CARLOS ARTHUR NUZMAN, incorreu no tipo
previsto no art. 22, parágrafo único, segunda parte, da Lei no 7.492/86.
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IV. DISPOSITIVO
1. CARLOS ARTHUR NUZMAN à pena total de 30 (trinta) anos, 11 (onze)
meses e 8 (oito) diasde reclusão e pagamento de 1344 (mil trezentos e quarenta e quatro)
dias-multa, pela prática dos crimes previstos no art. 317, caput e § 1o c/c os §§ 1o e 2o do
art. 327; art. 2o, caput, c/c § 4o, II, do mesmo art. 2o, ambos da Lei 12.850/2013; e art. 1o,
caput, c/c §1o, I, ambos da Lei no 9.613/98, na forma do art. 71 do CP, na forma descrita
abaixo;
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Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade do
agente.
Agravantes e Atenuantes:
Diante da causa de aumento de pena prevista no art. 317, § 1o, do Código
Penal (1/3), uma vez que restou comprovado que CARLOS NUZMAN infringiu dever
funcional e deixaram de praticar ato de ofício, conforme demonstrado na fundamentação
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acima, a pena será aumentada para 11 anos 10 meses e 6 dias de reclusão, e 444(quatrocentos
e quarenta e quatro) dias-multa.
Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena ser o fechado.
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Negativas são também as consequências do crime pelo qual CARLOS
NUZMAN é condenado, contribuindo e favorecendo com a ampliação e aprofundamento das
práticas criminosas que vêm frustrando os interesses de toda a sociedade, prejudicando
desastrosamente os cidadãos e a coletividade, uma vez que reverbera sobre as finanças públicas,
e, consequentemente, sobre a qualidade de vida da população.
Agravantes e atenuantes:
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
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A conduta social é altamente reprovável. Noto que o condenado utilizou a sua
grande influência na área pública com a finalidade de obter vantagens pessoais. O condenado
dedicou sua carreira pública para tornar o Rio de Janeiro cidade-sede das Olimpíadas, no
entanto, apesar de tamanha responsabilidade social optou por agir contra a moralidade e o
patrimônio públicos,razão pela qual valoro em seu desfavor a conduta social.
Atenuantes e agravantes:
Não há que se falar na aplicação da atenuante genérica prevista nos artigo 65, inc.
III, "b" do Código Penal, tendo em vista que o condenado não procurou, por sua espontânea
vontade, minorar as consequências do ato delitivo, pois apenas quando na iminência de uma
provável condenação procedeu à repatriação dos valores ocultos no exterior, circunstância que
descaracteriza o arrependimento posterior e a atenuante contida no art. 65, III, b, do CP.
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
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terceiros que fecharam contratos milionários com o Estado do Rio de Janeiro.
Atenuantes e agravantes:
Não há que se falar na aplicação da atenuante genérica prevista nos artigo 65, inc.
III, "b" do Código Penal, tendo em vista que o condenado não procurou, por sua espontânea
vontade, minorar as consequências do ato delitivo, pois apenas quando na iminência de uma
provável condenação procedeu à repatriação dos valores ocultos no exterior, circunstância que
descaracteriza o arrependimento posterior e a atenuante contida no art. 65, III, b, do CP.
Concurso material:
Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena será o fechado.
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a. Crime de corrupção passiva - art. 317, §1º c/c art. 327, §2º
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
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para dois mandatos consecutivos de governador do Estado do Rio de Janeiro protagonizou
gravíssimo episódio de traição eleitoral, em que se mostrou capaz de menosprezar a confiança
em si depositada por milhões de pessoas. Ainda que não se possa afirmar que o comportamento
deste condenado seja o responsável pela excepcional crise econômica vivenciada por este
estado, é indubitável que os episódios de corrupção tratados nestes autos diminuíram
significativamente a legitimidade das autoridades estaduais na busca para a solução da crise
atual.
Agravantes e Atenuantes:
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
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Regime de cumprimento da pena:
Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena ser o fechado.
Saliente-se que, nos autos da Pet. 8.482, o Supremo Tribunal Federal, por maioria,
decidiu invalidar o acordo de colaboração premiada firmado entre o acusado SERGIO
CABRAL DOS SANTOS FILHO e a autoridade policial. Na ocasião, o STF decidiu pela
impossibilidade de a Polícia Federal firmar acordo de colaboração premiada sem a anuência do
MPF.
3. LEONARDO GRYNER
a. Crime de corrupção passiva - art. 317, §1º c/c art. 327, §2º, do CP
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
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Negativas são também as consequências dos crimes pelos quais LEONARDO
GRYNER é condenado, pois, além do prejuízo monetário causado aos cofres do Estado do Rio
de Janeiro e da União, o condenado agiu de forma a beneficiar a si e a terceiros que fecharam
contratos milionários com o Estado do Rio de Janeiro.
Agravantes e Atenuantes:
Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena ser o fechado.
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
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Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade do
agente.
Agravantes e atenuantes:
Concurso material:
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cinco) dias-multa, ao valor unitário de 1(um) salário-mínimo, que reputo definitivas
para LEONARDO GRYNER.
Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena será o fechado.
Vale ressaltar que o ordenamento pátrio prevê, ainda, o instituto do arresto, com
vistas à retenção de quaisquer bens do indiciado ou réu, com o fim de evitar que o acusado ou
réu se subtraia ao ressarcimento do dano, mediante dilapidação de seu patrimônio. Por
conseguinte, qualquer bem pode ser objeto de arresto.
O perdimento dos bens e produtos do crime é o meio pelo qual o Estado visa
impedir que o produto do crime enriqueça o patrimônio do criminoso, sendo assim o objeto do
“confisco” é tudo aquilo que represente ao agente alguma vantagem, direta ou indireta do delito
praticado.
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
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apreensão, até o limite de R$ 3.800.000,00 (três milhões e oitocentos mil
reais), correspondente ao montante cobrado e recebido a título de propina em favor de
outrem, considerando a cotação do dólar do dia 29 de setembro de 2009, data da notícia do
último fato criminoso de corrupção, de forma solidária entre os condenados SÉRGIO
CABRAL, CARLOS ARTHUR NUZMAN E LEONARDO GRYNER.
Esclareço que o valor do dano moral tem, neste caso, relação com o valor do
produto do crime, que é claramente mensurável, compatível com o parâmetro utilizado para
fixação do dano patrimonial.
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DECRETO ainda a interdição do exercício de cargo ou função pública de
qualquer natureza, pelo prazo de 8 (oito) anos, aos réus condenados pelo crime de
pertinência a organização criminosaCARLOS ARTHUR NUZMAN E LEONARDO
GRYNER, consoante determina o art. 2º, § 6º, da Lei 12.850/2013.
V – DISPOSIÇÕES FINAIS
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Intimem-se.
Documento eletrônico assinado por MARCELO DA COSTA BRETAS, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da
Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência da
autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico https://eproc.jfrj.jus.br, mediante o preenchimento do
código verificador 510006614895v12 e do código CRC 8c72aa8e.
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