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Poder Judiciário
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio de Janeiro
7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro
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AÇÃO PENAL Nº 0196181-09.2017.4.02.5101/RJ


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: CARLOS ARTHUR NUZMAN
RÉU: SERGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO
RÉU: LEONARDO GRYNER

SENTENÇA

I – RELATÓRIO

Trata-se de denúncia oferecida pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em


desfavor de    SÉRGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO, ARTHUR CÉSAR DE
MENEZES SOARES FILHO, CARLOS ARTHUR NUZMAN, LEONARDO GRYNER, PAPA
MASSATA DIACK e LAMINE DIACK, qualificados na denúncia (Evento 1, OUT2 e OUT3),
atribuindo-lhes a prática dos seguintes crimes:

FATO 01: SÉRGIO CABRAL, CARLOS NUZMAN, LEONARDO GRYNER,


PAPA DIACK e LAMINE DIACK pela prática do delito de corrupção passiva, previsto no art.
317 do Código Penal. 

FATO 02: ARTHUR SOARES pela prática do crime de corrupção ativa, previsto
no art. 333 do CP. 

FATO 03: CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER pela prática do crime


de pertinência a organização criminosa, disposto no artigo 2º, §4º, II, da Lei n° 12.850/13. 

FATO 04: CARLOS NUZMAN pela prática de crimes de lavagem de dinheiro,


previstos no art. 1º, caput, c/c § 1º, I, da Lei 9.613/98, na forma do art. 71 do CP. 

FATO 05: CARLOS NUZMAN pela prática do crime de evasão de divisas,


previsto no artigo 22, parágrafo único, 2ª parte, da Lei 7.492/86.

Em cota, o MPF pugnou pelo desmembramento do feito em relação a  PAPA


MASSATA DIACK e LAMINE DIACK,  por serem residentes no Senegal e na França,
respectivamente.

Na petição do Evento 4, o MPF apresenta correção material constante à fl. 100 da


denúncia, trazendo aos autos a imagem correta que trata da multa devida pela empresa  LSH
PATRIMONIAL ao COMITÊ ORGANIZADOR DOS JOGOS RIO 2016.

Acompanham a denúncia os documentos constantes dos Eventos 5 a 104:  1.


Termo de depoimento de RENATO CHEBAR (Evento 6); 2. Termo de depoimento de ENRICO
MACHADO (Evento 6); 3. Termo de depoimento de LEONARDO ARANHA (Evento 6); 4.

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Cooperação jurídica internacional com ANTÍGUA E BARBUDA; (Eventos 6, 7, 8, 9 e 10) 5.
Documentação complementar apresentada por RENATO CHEBAR (Evento 8 e 9); 6. RJ 08 -
ITEM 50 - BLOCO VERDE - AA 456.2017 (Eventos 10 a 14); 7. RJ 08 - MBA - AA 456.2017
- OFICIOS E MEMO SETEC (2) (Evento 15 e 16); 8. Report – Nuzman (Evento 17); 9.
Depoimento prestado por LEONARDO GRYNER (Evento 18); 10. Fotos da festa "Farra dos
Guardanapos" (Evento 19); 11. OFÍCIO nº 818/2017/ACRIM/SCI/PGR (Cooperação Jurídica
internacional com a França) (Evento 20); 12. Cooperação Jurídica internacional com a França
(mídias 1 e 2) (Evento 21); 13. LAUDO_1833_17 (D) (mídia 3) (Evento 22); 14. Relatório de
Informação de Pesquisa e Investigação RJ20170019 (Evento 24 a 28); 15. Depoimento prestado
por ERIC MALESON (Evento 29); 16. Relatório de Pesquisa 3199/2017 (Evento 30); 17.
Relatório de viagens – LEONARDO GRYNER (Evento 31); 18. RJ 01 - 2ª FASE - ITEM 01 -
E-MAILS - PASTA VERDE - AA 520.2017 (Evento 32); 19. Relatório da RFB LEONARDO
GRYNER (Evento 33); 20. RJ 08 - ITENS 9, 10 e 11 - PASSAPORTES - AA 456.2017 (Evento
34 a 39); 21. Resposta – Ministério do Esportes (Evento 40); 22. Lista de Convênios (Evento
41); 23. Decreto Estadual 41.839-09 (Evento 42); 24. Report – Whatsapp (Evento 43); 25.
Depoimento prestado por MARIA CELESTE DE LOURDES CAMPOS PEDROSO (Evento
44); 26. REL 010 – UNFAIR PLAY – NUZMAN – RJ 08 – PORTUGAL (Evento 45); 27.
Contratos – COMITÊ ORGANIZADOR DOS JOGOS RIO 2016 (Evento 46); 28. Depoimento
prestado por ADRIANA PINTO DA SILVA PENA (Evento 47); 29. Contrato: LSH BARRA
EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A. (Evento 48); 30. Contrato de rescisão: LSH
BARRA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A. (Evento 49); 31. Contrato:
CONSÓRCIO RIO DE TRANSPORTES (Evento 50 a 52); 32. RJ 08 – itens 44 – AA 456.2017
– AGENDAS (Eventos 53 a 79); 33. Depoimento judicial prestado por RICARDO
PERNAMBUCO JÚNIOR (Evento 80); 34. Relatório de Pesquisa n.º 3484-2017  (Evento
81);  35. RJ 08 - ITEM 40 - AA 456.2017 - PASTAS DOC. DIVERSOS:  ANEXO I
- PLANILHA DA EVOLUÇÃO PATRIMONIAL DE CARLOS ARTHUR NUZMAN (Evento
82), ANEXO II - DECLARAÇÕES DE IRPF DE CARLOS ARTHUR NUZMAN (Evento 83);
DIVERSOS (Evento 84 a 89) ; 36. Depoimento prestado por EDINA DOS SANTOS RUFINO
(Evento 90); 37. Depoimento prestado por ROGÉRIO ALVES (Evento 91); 38. Report -
Whatsapp – 31.07.2017 (Evento 92); 39. TCU, acórdão n.º 3162/2016 (Evento 93); 40.
Relatório de Inteligência Financeira nº 27233.3.3182.4893 do COAF (Evento 94 a 96); 41. RJ
01 - 2ª FASE - ITEM 1 - CONTRATO - AA 520.2017 (Evento 97); 42. RJ 08 - ITEM 48 -
CART PRETA - AA 456.2017 (Evento 98); 43. Ofício nº RJ20170106 – RFB – CopeiEspei07
(Evento 99); 44. IPEI RJ20170055 (Evento 100); 45. HOST CITY CONTRACT (Evento 101);
46. Demonstrativo Financeiro COB 2016 (Evento 102); 47. Mídia n. 06 (Evento 103); 48.
Ofício nº 13043/2017 – IPL 0079/2017-11 SR/PF/RJ – DELECOR (Evento 104).

Termo de acautelamento das mídias juntadas pelos MPF (Evento 108).

Decisão  de recebimento de  denúncia  (Evento 106)  em  19 de outubro de


2017. Ocasião em que determinei o desmembramento do feito em relação a PAPA MASSATA
DIACK e LAMINE DIACK, residentes no exterior.

Decisão de desmembramento do feito em relação a ARTHUR CÉSAR DE


MENEZES SOARES FILHO, residente no exterior (Evento 128).

Folha de antecedentes criminais de LEONARDO GRYNER (Evento 130).


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Folha de antecedentes criminais de CARLOS ARTHUR NUZMAN (Evento 132).

Resposta à acusação de CARLOS ARTHUR NUZMAN (Evento 133), em que: (i)


argui nulidade dos procedimentos por não ser típica a conduta de corrupção privada no Brasil;
(ii) sustenta pelo reconhecimento da inidoneidade do delator; (iii) afirma ser inepta a denúncia
por não descrever, quanto ao crime de corrupção, fatos típicos, já que não narra quando, onde e
de que forma o acusado teria solicitado e aceitado promessa de vantagem indevida para outrem;
(iv) sustenta que o réu não poderia ser equiparado a funcionário público; (v) alega que o
acusado não participou da concessão do desconto contratual concedido ao hotel LSH tido por
ato de ofício, já que nunca participou de qualquer reunião do Comitê de Dissolução; (vi) aduz
serem descabidas as imputações previstas nas leis 7.492/86 e 9.613/98; (vii) propugna pela
absolvição sumária do réu, nos termos do artigo 397, III, do Código de Processo Penal ou, no
mínimo, pela rejeição da denúncia, por falta de justa causa, pois a acusação não se sustenta, não
tem lastro nem arrimo, decorrendo apenas de conjecturas incompatíveis com a realidade dos
fatos. Requer ainda a produção de provas no exterior, bem como a expedição de ofício ao
Comitê Olímpico do Brasil para que encaminhe documento oficial sobre a gestão de CARLOS
ARTHUR NUZMAN frente ao COB e a evolução do esporte olímpico nacional durante este
período, assim como para que “envie a relação de voos do seu ex-Presidente Carlos Arthur
Nuzman em viagens internacionais entre os anos de 2005 e 2009, mercê de requisição oficial
para tanto”. 

Resposta à acusação de LEONARDO GRYNER (Evento 135), em que sustenta,


em síntese, que (i) é inepta a denúncia tendo em vista que os fatos narrados pelo Ministério
Público, quanto ao crime de corrupção passiva, não configuram o tipo penal; (ii) “exercer a
função de diretor de operações e de marketing não constitui crime” e “as funções exercidas por
ele eram desempenhadas exclusivamente em entidade essencialmente privada, o que afasta a
elementar “funcionário público” do tipo penal de corrupção”; (iii) a denúncia não individualiza
a conduta do acusado quanto ao crime de pertencimento à organização criminosa e “o
Ministério Público utiliza-se de narrativas atinentes a outros crimes para tentar narrar
pertencimento à organização criminosa”, não descrevendo fatos que configurem os elementos
típicos do crime em comento; (iv) a denúncia narra condutas que não constituem crimes; (iv)
“não há elementos mínimos capazes de amparar a acusação, tornando carente de justa causa o
exercício da ação penal”; (v) o Ministério Público aplica analogiain malam partem ao equiparar
o acusado à funcionário público na narrativa acusatória; (vi) no direito Penal pátrio não se
tipifica o que se pode chamar de corrupção privada. Por fim, propugna pela improcedência do
pedido de fixação do valor de um bilhão de reais para reparação dos danos morais formulado
pelo Ministério Público e arrola testemunhas, sendo duas a serem ouvidas por carta rogatória
por residirem em território estrangeiro. 

Resposta à acusação de SERGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO


(Evento 151), propugnou pelo acolhimento das preliminares arguidas, sustentando, em síntese,
que (i) este Juiz encontra-se impedido de processar e julgar o feito nos termos do art. 252, II, do
Código de Processo Penal, já que “as premissas fáticas para a configuração típica dos fatos
investigados no processo em apreço foram todas concebidas e fixadas” na sentença proferida
nos autos da ação penal n. 0509503-57.2016.4.02.5101 (CALICUTE) e os fatos tratados nestes
autos “teriam se passado no ano de 2009, portanto, em lapso temporal açambarcado pela
primeira sentença, em que os réus, de acordo com a acusação, teriam, mediante ação comum,
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“ocultado” a origem ilícita da verba “recebida” como propina, pelos mesmos motivos e para os
mesmos fins”; (ii) a conexão instrumental (artigo 76, III do CPP) entre este feito e o autuado
sob o n. 0507524-26.2017.4.02.5101, que se encontra na mesma fase, é evidente e justifica a
reunião de ambos num só feito. Por fim, arrola as mesmas testemunhas/colaboradores
apontados na denúncia, ressalvando a necessidade de eventual substituição. 

Manifestação do MPF sobre as preliminares arguidas pelas defesas em suas


repostas preliminares (Evento 155).

Decisão que analisou e afastou as seguintes preliminares arguidas nas respostas à


acusação, nos termos do art. 397 do Código Penal  (Evento  157):  (i) inépcia da denúncia e
ausência de justa causa; (ii) inidoneidade do colaborador; (iii) impedimento deste Juízo por ter
proferido sentenças condenatórias em feitos conexos; (iv) reunião de processos e continuidade
delitiva. Bem como analisou os requerimentos de diligências feitos pelas defesas de CARLOS
ARTHUR NUZMAN e LEONARDO GRYNER.

Juntado aos autos o instrumento de mandato da defesa de CARLOS ARTHUR


NUZMAN (Evento 162).

Audiências de instrução e julgamento realizadas nos dias:

- 09/04/2018: oitiva dos colaboradores Renato Hasson Chebar e Marcelo Hasson


Chebar (Evento 173);

- 24/04/2018: oitiva dos colaboradores Leonardo Aranha, Enrico Machado, e das


testemunhas da acusação Maria Celeste de Lourdes Campos Pedroso e Rogerio Alves (Evento
197);

- 14/05/2018: oitiva da testemunha de acusação Eric Walter Maleson prejudicada


por problemas técnicos (Evento 267);

-  16/05/2018: oitiva  da testemunha de acusação Eric Walter Maleson  e das


testemunhas de defesa  Christian Cananea Lopes e Ana Paula Terra, arroladas pela defesa de
Carlos Arthur Nuzman (Evento 289);

- 21/05/2018: oitiva das testemunhas de defesa  Leonardo da Cunha e Silva


Espínola Dias, Fernando Dionísio, Edson Figueiredo Menezes,  Mario Andrada, Ana Paula
Pessoa  e Alberto Guimarães, arroladas pela defesa de Carlos Arthur Nuzman; Paulo Fischer,
arrolada pela defesa de Leonardo Gryner; Sibney Levi e Renato Ciuchini, arrolados pela defesa
de Carlos Nuzman e Leonardo Gryner (Evento 322);

-  28/05/2018: oitivas das testemunhas de defesa Deputado Estadual Carlos


Roberto Osório, José Antonio do Nascimento Brito, Christian Cananea Lopes e Fernando
Dionísio (Evento 366);

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- 29/05/2018: oitivas das testemunhas de defesa Luiza Helena Inácio Trajano
Rodrigues e Manoel Félix Cintra Neto.

- 05/06/2018: oitiva das testemunhas de defesa Luiz Inácio Lula da Silva, Maria
Elizabeth da Silva Lula, Edson Arantes do Nascimento.

- 13/06/2018: oitiva das testemunhas de defesa Rebecca Virginia Villagra Lima e


Maurílio Biaggi Filho (Evento 403);

- 19/06/2018: oitiva das testemunhas de defesa Nawal El Moutawakel, Eduardo da


Costa Paes, Márcia Lins e Orlando Silva de Jesus (Eventos 413 e 417);

- 05/07/2018: oitiva da testemunha de defesa Lassana Palenfo;

- 09/08/2018: interrogatório dos réus Leonardo Gryner e Sérgio de Oliveira


Cabral Santos Filho (Evento 487);

- 22/08/2018: interrogatório do réu Carlos Arthur Nuzman (Evento 495);

- 04/07/2019: reinterrogatório do réu Sérgio Cabral (Evento 592).

Juntada do ofício n.343/2018 encaminhado pelo Comitê Olímpico Brasileiro


(COB) em resposta ao ofício OFI.0044.000501-5/2018, apresentando as informações requeridas
(Evento 174), acompanhado da mídia acautelada sob o n. 236/2018.

Instado a se manifestar, a defesa de CARLOS NUZMAN esclareceu as dúvidas


apresentadas pelo Comitê Olímpico Brasileiro (Evento 195).

No requerimento do evento 364, o Comitê Olímpico Internacional apresentou os


esclarecimentos requeridos, acompanhado de mídia digital, acautelada sob o número 442/2018
(Evento 372).

Homologada as  desistências das seguintes  testemunhas: (i)  Edina dos Santos
Rufino, arrolada pela defesa de SERGIO CABRAL (Evento 196);  (ii)  Bernard Rajzman e
Marco Aurélio Costa Vieira, arroladas pela defesa de Carlos Arthur Nuzman (Evento 234); (iii)
s Thomas Bach, Jacques Rogge, Príncipe Albert II de Mônaco, Rei da Holanda S.A.R. Le
Prince D´Orange, Syed Shadid Ali, Raja Randhir Singh, Nicole Hoevertsz, Luiz Alberto
Moreno, Alex Gilady, John Coates, Christophe Dubi, Lana Haddad, Paquerette Girard Zappelli
e Pere Miró, arroladas pela defesa de Carlos Arthur Nuzman (Evento 391); (iv) Mário Cilenti,
Sidney Levy, Luiz Henrique Alcoforado, Christophe de Kepper, Kipchoge Keino, Jacqueline
Barret e Gilbert Felli, arroladas pela defesa de Carlos Nuzman (Evento 414); (v) Sidney Levy e
Scott Givens, arroladas pela defesa de Leonardo Gryner.

Despacho proferido em audiência, indeferido a oitiva da testemunha Ana Paula


Pessoa, por ser investigada nos autos n. 0507121-57.2017.4.02.5101, cujos fatos são vinculados
à presente ação penal. 

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O MPF juntou o relatório extraído do celular de CARLOS ARTHUR NUZMAN,
apreendido na cautelar de busca e apreensão de autos n.º 0507224-64.2017.4.02.5101 (Evento
280), destacando as conversas travadas entre Edson Menezes Figueiredo e Carlos Nuzman, que
demonstram a sua relação de amizade. 

MPF requer a juntada do termos de acordo de colaboração premiada de CARLOS


EMANUEL DE CARVALHO MIRANDA e dos termos de colaboração referentes aos fatos
narrados no presente ação penal (Evento 299), bem como a mídia contendo a gravação em
audiovisual dos depoimentos do colaborador (Evento 303).

Certidão emitida pela Secretaria deste Juízo (Evento 317) informando que a mídia
fornecida pelo MPF e acautelada no Evento 303, encontra-se vazia de conteúdo de armazenado,
ou seja, sem arquivos gravados. Posteriormente, o MPF corrigiu o equívoco e entregou nova
mídia, conforme certidão emitida no evento 319.

Em fase de diligências,  nos termos do art. 402 do Código de Processo Penal, o


MPF requereu (Evento 445): (i) a juntada dos vídeos das audiências de interrogatório dos réus e
colaboradores CARLOS MIRANDA, MARCO ANTONIO DE LUCA e SERGIO CABRAL,
ocorridas nos autos n.  º 0504938-16.2017.4.02.5101 (Operação Ratatouille) e nº 0503870-
31.2017.4.02.5101 (Operação Fatura Exposta – Corrupção), cujo compartilhamento foi
autorizado por este Juízo; (ii) a juntada do PIC 1.30.001.002621/2017-80, instaurado para
apuração de eventual corrupção na compra de votos para escolha do Rio de Janeiro como sede
dos Jogos Olímpicos de 2016, assim como a juntada do material entregue pelo Comitê
Olímpico Brasileiro – COB. 

Mídia que acompanhou a petição do MPF acautelada sob o n. 597/2018 (Evento


452).

Decisão chamando o feito à ordem para tornar sem efeito o despacho anterior que
abriu vistas ao MPF para requerimento de diligência, tendo em vista que, por equívoco, tal
determinação ocorreu antes do interrogatório dos réus (Evento 448).

MPF junta aos autos informações fornecidas pela Secretaria Municipal da Casa
Civil do Rio de Janeiro (Evento 456), demonstrando a celebração de convênio firmado com o
Município do Rio de Janeiro em que este compromete-se a repassar para a RIO 2016 o valor de
até R$ 150.000.000,00 (cento e cinquenta milhões de reais), ou seja, mais uma vez, resta
comprovado o repasse de verba pública à RIO 2016 “para despesas de infraestrutura do evento”
(Jogos Olímpicos de 2016). 

MPF junta aos autos faturas de cartões de crédito fornecidas pelo Banco
Bradesco, referente ao Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016, em resposta ao
ofício n. OFI.0044.001613-4/2017 (Evento 462), cujas mídias encontram-se acauteladas sob o
n. 611/2018 (Evento 464).

MPF junta aos autos faturas de cartões de crédito fornecidas pelo Banco Itaú,
referente aos acusados Carlos Arthur Nuzman, Eliane Pereira Cavalcante e Arthur Soares Filho,
em resposta ao ofício n. OFI.0044.001560-6/2017 (Evento 462), cujas mídias encontram-se

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acauteladas sob o n. 610/2018 (Evento 466).

MPF junta aos autos informações fornecidas pela Microsoft, acerca do e-mail
investigado  lp@protalento.com.br  , acompanhado da mídia acautelada sob o n. 650/2018
(Evento 496).

Em fase de diligências,  nos termos do art. 402 do Código de Processo Penal, o


MPF requereu (Evento  522)  a juntada de diversos documentos, cujas mídias encontram-se
acauteladas sob o n. 751/2018 (Evento 531).

As diligências requeridas pelo MPF foram deferidas (Evento 524), ocasião em que


determinei a suspensão do curso da ação penal até a chegada  da resposta ao ofício de
Cooperação Internacional n. 12294/2018/MPF/PR/RJ. 

Na petição do evento 561, o MPF apresenta os documentos encaminhados pelas


autoridades Suíças acerca dos ativos pertencentes a Carlos Arthur Nuzman. Em consequência,
foi determinado o prosseguimento do feito (Evento 562).

No despacho proferido em 19 de junho de 2019, determinei o reinterrogatório do


réu Sérgio Cabral, bem como deferi o compartilhamento da prova oral produzida pelo acusado
nas ações penais n os 0503870-31.2017.4.02.5101, 0505914-23.2017.4.02.5101, 0505915-
08.2017.4.02.5101 e 0231415-52.2017.4.02.5101 (Evento 570).

Em sede de diligências, as defesas apresentaram as petições constantes dos


Eventos 569, 571 e 572.

Decisão que analisou as diligências requeridas no art. 402 do CPP proferida no


Evento 589.

MPF junta aos autos informações  fornecidas pelo Ministério das Relações
Exteriores relacionadas às viagens realizadas por integrantes da Rio 2016 e do COB, em
campanha para o Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016, no interesse das
investigações realizadas no âmbito do PIC 1.30.001.002621/2017- 80, conforme solicitado por
este órgão ministerial, por meio do Ofício nº 7553/2019/PRRJ/GAB/ERGE (Evento 598).

Alegações finais do Ministério Público Federal (Evento 599) em que requer a


condenação de SÉRGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO, CARLOS ARTHUR
NUZMAN e LEONARDO GRYNER, na forma na denúncia, pelos crimes de Corrupção
Passiva, art. 317 do Código Penal, Pertinência a Organização Criminosa, previsto no art. 2o da
Lei 12.850/13, Lavagem de Ativos, previsto no art. 1º, caput, c/c, §4º, da Lei 9.617/98; Evasão
de Divisas, previsto no art. 22, parágrafo único, da Lei 7.492/86.

Requerimento da defesa  de CARLOS ARTHUR NUZMAN  (Evento 605) em


que roga que o réu Sérgio Cabral, por ter adotado uma “postura colaborativa”, se manifeste em
alegações finais antes dos demais réus.

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Requerimento da defesa de LEONARDO GRYNER pugnando pela concessão de
acesso à mídia acautelada sob o n. 619/2019, e posterior abertura de prazo para as alegações
finais. 

Despacho indeferindo o requerimento de Carlos Arthur Nuzman para que o corréu


Sergio Cabral apresente alegações finais antes dos demais réus, e deferindo a concessão do
mesmo prazo do MPF para apresentação das alegações finais (Evento 606).

Despacho indeferindo o requerimento da defesa de Leonardo Gryner (Evento 615)


em que solicita a conversão do julgamento em diligência a fim de que  se realize Cooperação
Jurídica com os Estados Unidos da América para que se tenha acesso a um suposto acordo de
colaboração premiada que teria sido celebrado com ARTHUR SOARES (Evento 616).

Alegações finais da defesa de CARLOS ARTHUR NUZMAN (Evento 617) em


que requer,  preliminarmente:  (i)COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL
SOLICITADA PELO GOVERNO FRANCÊS,  QUE INVESTIGAVA SUPOSTA
CORRUPÇÃO PRIVADA;  (ii)  FLAGRANTE VIOLAÇÃO DE SIGILO BANCÁRIO  e
consequente  NULIDADE DA PROVA E CONTAMINAÇÃO DO PROCESSO;  (iii)
cerceamento de defesa em razão do indeferimento de pedido de compartilhamento de provas
com a Justiça; (iv) nulidade do feito em razão da ordem de apresentação das alegações finais
pelo réu Sérgio Cabral.

Alegações finais da defesa de LEONARDO GRYNER (Evento 621) em


que  alegar,  preliminarmente: (i)  Inépciada Denúncia  em razão da violação ao artigo 41 do
Código de Processo Penal e ao artigo 5o, inciso LV, da Constituição da República; (ii) Nulidade
do feito em razão do indeferimento das diligências requeridas pela defesa Violação aos artigos
402 do Código de Processo Penal; 7o, §2o, da Lei no 12.8250/13; e 5o, inciso LV, da
Constituição Federal; (iii) nulidade do feito em razão do indeferimento do pedido de
cooperação internacional para acesso aos anexos do acordo de colaboração premiada firmado
por Arthur Soares, com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que tratam da suposta
compra de votos Violação ao artigo 5o, inciso LV, da Constituição Federal.

Alegações finais da defesa de  SERGIO CABRAL  (Evento  692)  em que  alega,
preliminarmente: (i)  necessidade de conversão do feito em diligências com a finalidade de
oficiar ao ao exmo. Min. Edson fachin para obter cópia da decisão que homologou o acordo de
delação premiada celebrado entre o acusado e a polícia federal; (ii) incompetência do juízo; (iii)
cerceamento de defesa em razão da formação de maxiprocessos; (iv) inépcia formal e material
da denúncia quanto ao pedido de reparação dos danos; (v) existência de bis in idem em relação
ao crime de corrupção; (vi) falta de interesse de agir do estado para a condenação do acusado
em razão do atingimento do grau máximo pela continuidade delitiva, na forma do art. 71 do
Código Penal. 

O Ministério Público Federal juntou aos autos documentos encaminhados


pela  Secretaria de Cooperação Internacional – SCI/PGR, com informações fornecidas pelas
autoridades francesas com relação ao pedido de Cooperação Internacional em Matéria Penal
Brasil/França (Evento 638). O Parquet Federal juntou também aos autos documento consistente
nas apurações realizadas no IPL de autos n. 5009788- 80.2020.4.02.5101 (Evento 643).

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Decisão convertendo o feito em diligências (Evento 644) a fim de conceder prazo
para as defesas complementarem ou alterarem as alegações finais, em razão da juntada dos
documentos pelo MPF. 

Requerimento da defesa de LEONARDO GRYNER pugnando pelo


sobrestamento da ação penal, tendo em vista que apresentou petição perante o STF a fim
de  obter acesso a eventuais anexos do acordo de colaboração premiada firmada por Sérgio
Cabral que tratem dos fatos em apuração nesta ação penal (Evento 657).

Certidão que informa a homologação do acordo de colaboração premiada de


SÉRGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO pelo Supremo Tribunal Federal
(Evento 659) e esclarece: 

“Certifico que, em resposta ao ofício nº JFRJ-OFI-2020/00817 (Evento 265 da


ação penal nº 0039777-90.2018.4.02.5101), o Ministro Edson Fachin, Relator da Petição nº
8.482, encaminhou a decisão homologatória do acordo de colaboração premiada de Sérgio de
Oliveira Cabral Santos Filho, tendo sido autuada sob sigilo, conforme sua determinação.
Certifico que, a fim de manter o sigilo imposto pelo STF mas, ao mesmo tempo, cientificar as
partes do alcance da colaboração premiada de Sérgio Cabral, este juízo determinou a
reprodução dos seguintes trechos da decisão homologatória: "não surtindo quaisquer efeitos
nas ações penais em que o colaborador já foi denunciado ou eventualmente condenado, sem
prejuízo de que eventual comportamento colaborativo seja avaliado pelas respectivas
autoridades judiciárias competentes, à luz do que preceitua o § 2º do art. 4º da Lei
12.850/2013" "reconhecimento de que o acordo de colaboração premiada ora em comento não
produz efeitos em relação aos crimes que já são objeto de ação penal movida pelo Ministério
Público" Certifico que o juízo determinou ainda que a presente certidão seja juntada nos autos
0039777-90.2018.4.02.5101 e em todas as ações penais em trâmite neste juízo em que Sérgio
Cabral figure como réu, dando-se ciência às partes.”

Decisão que indeferiu o requerimento da defesa de LEONARDO GRYNER, com


o objeto de sobrestar o feito, com fundamento no teor da certidão do Evento 659.

Manifestação da defesa de Carlos Arthur Nuzman, informando que nada tem a


acrescentar às alegações finais já ofertadas (Evento 666).

Manifestação da defesa de SERGIO CABRAL em que requer a juntada dos


atestados de colaboração premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (Evento 671).

Decisão do Evento 672 em que converte o feito em diligências e indefere o


requerimento de dilação do prazo formulado pela Defesa de Sérgio Cabral, determinando a
abertura de prazo improrrogável para que a Defesa do réu apresenta as alegações finais, bem
como a abertura de prazo sucessivo para as demais defesas que não firmaram acordo de
colaboração premiada para aditarem ou apresentarem novas alegações finais.

O réu Sérgio Cabral apresentou aditamento às suas alegações finais (Evento 692).

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As Defesas de Leonardo Gryner (Evento 698) e Carlos Arthur Nuzman
(Event699) reiteram as alegações finais apresentadas. 

Na petição do Evento 703, a Defesa de Carlos Arthur Nuzman pugna pela


prolação urgente da sentença.

Procuração apresentada pelos novos patronos da Defesa de Sérgio Cabral (Evento


705).

Em seguida vieram os autos conclusos.

É o relatório. DECIDO.

II – FUNDAMENTAÇÃO

II.1 – DA CONTEXTUALIZAÇÃO DOS FATOS

Segundo narra a denúncia, as operações Calicute e Eficiência tiveram como


escopo inicial desmantelar a Organização Criminosa liderada pelo ex-governador do Estado do
Rio de Janeiro SÉRGIO CABRAL, responsável pela prática de crimes de corrupção, lavagem
de capitais, cartel e fraude a licitações envolvendo contratos celebrados para a realização das
mais importantes obras de infraestrutura do Estado, tendo desviado dos cofres públicos mais de
USD 100 milhões de Dólares, mediante engenhoso processo de envio de recursos oriundos da
propina para o exterior.

Ainda segundo a acusação, ao tomar posse como chefe do executivo estadual, em


01/01/2007, SÉRGIO CABRAL instituiu como regra o percentual de propina de 5% sobre o
faturamento dos principais contratos de obras civis celebrados,  bem como de  empresários de
outros setores de atividade estatal como  saúde,  alimentação,  serviços
especializados e transportes públicos.

Na presente denúncia, o  Parquet  afirma que  ARTHUR SOARES  integra o


núcleo econômico, sendo responsável pelo repasse de propina à organização criminosa chefiada
por  SÉRGIO CABRAL,  obtendo como contraprestação  a  prática de atos de ofício pelos
gestores do Estado do Rio de Janeiro para garantir a hegemonia de suas empresas no setor de
contratação de serviços terceirizados. 

De acordo com MPF, apurou-se que, no período de 23 de março de 2012 a 21 de


novembro de 2013,SÉRGIO CABRAL  recebeu de  ARTHUR SOARES  a quantia de  USD
10.474.460,00 (dez milhões, quatrocentos e setenta e quatro mil, quatrocentos e sessenta
dólares) por meio do operador financeiro RENATO CHEBAR.

Contextualizados os fatos, passo à análise das preliminares arguidas pelas partes,


e, em seguida, das imputações.

 
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II.2 - DAS PRELIMINARES

(i)  nulidade da  Cooperação  Jurídica  Internacional solicitada pelo governo


francês e consequente nulidade do feito.

Sustenta a Defesa  de CARLOS ARTHUR NUZMAN, em síntese,  que a


cooperação jurídica internacional que deu origem às investigações que culminaram na
propositura da ação penal é nula na sua origem.

Em que pese a questão ter sido analisada na Decisão do Evento 157, reitero os
argumentos expostos anteriormente e transcrevo:

“No tocante às alegações de que são nulos os procedimentos a partir da


cooperação internacional firmada com Estado francês, já que este país prevê o crime de
corrupção privada não previsto no Brasil, também não merecem acolhida. O encerramento da
ação penal nessa fase embrionária só seria possível se ficasse evidenciada a invalidade de todo
o material trazido pela acusação como lastro da denúncia. No caso, os elementos trazidos aos
autos não se circunscrevem a informações obtidas em trâmite de cooperação jurídica
internacional com o Estado francês. Como bem salienta o Ministério Público em sua
manifestação, as investigações procedidas em território nacional, realizadas pela Força Tarefa
da Lava Jato no Rio de Janeiro obtiveram vasta documentação, colaborações premiadas, e
dados obtidos por meio de quebras de sigilos bancário, telefônico e telemático.”

Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(ii) Flagrante violação de sigilo bancário e consequente  nulidade da prova e


contaminação do processo

Aduz a Defesa de CARLOS ARTHUR NUZMAN que o Relatório de Inteligência


Financeira elaborado pelo COAF foi enviado diretamente ao Ministério Público Federal, sem
autorização judicial, em afronta à Lei Complementar n. 105/2001.

Conclui a Defesa, portanto, que todas as medidas cautelares pleiteadas com base


no RIF n. 27233.3.3182.4893 foram deferidas por este Juízo sem atentar-se que as informações
prestadas pelo COAF eram sigilosas e não poderiam ser fornecidas diretamente ao Ministério
Público Federal, sem antes passar pelo crivo do Judiciário. 

Acerca da matéria, a Defesa menciona a recente decisão do Ministro Dias Toffoli,


Presidente do Supremo Tribunal Federal, nos autos do Recurso Extraordinário 1.055.941/SP, na
qual determinou a  suspensão de todos os processos judiciais que versem sobre dados
compartilhados pelo COAF com informações financeiras detalhadas.

Por fim, pugna pelo  reconhecimento da ilicitude dos relatórios de inteligência


financeira que embasaram a denúncia e os pedidos de quebra de sigilo fiscal, bancário e busca e
apreensão, com a decretação de nulidade, por derivação, de tudo que se sucedeu, na forma do

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artigo 157, §1o do Código de Processo Penal. 

A questão encontra-se superada em razão da decisão final proferida pelo Supremo


Tribunal Federal no Recurso Extraordinário n. 1055941:

Ementa Repercussão geral. Tema 990. Constitucional. Processual Penal.


Compartilhamento dos Relatórios de inteligência financeira da UIF e da íntegra do
procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil com os órgãos de persecução penal
para fins criminais. Desnecessidade de prévia autorização judicial. Constitucionalidade
reconhecida. Recurso ao qual se dá provimento para restabelecer a sentença condenatória de
1º grau. Revogada a liminar de suspensão nacional (art. 1.035, § 5º, do CPC). Fixação das
seguintes teses: 1. É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência
financeira da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil -
em que se define o lançamento do tributo - com os órgãos de persecução penal para fins
criminais sem prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das informações
em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional; 2. O
compartilhamento pela UIF e pela RFB referido no item anterior deve ser feito unicamente por
meio de comunicações formais, com garantia de sigilo, certificação do destinatário e
estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e correção de eventuais desvios.

(RE 1055941, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 04/12/2019,


ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-243 DIVULG 05-10-2020
PUBLIC 06-10-2020)

Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(iii) cerceamento de defesa em razão do indeferimento de diligências

Assevera a Defesa de CARLOS ARTHUR NUZMAN, em sede de preliminares,


que  restou configurado manifesto cerceamento ao direito de produzir provas quando foram
indeferidas todas as diligências requeridas na fase do artigo 402 do Código de Processo Penal,
especialmente  o  pedido de compartilhamento pelas autoridades francesas do processo
criminal em curso naquele País  para apurar a pretensa compra de votos para a escolha da
cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. 

Já a Defesa de LEONARDO GRYNER afirma que houve violação aos artigos 402


do Código de Processo Penal; 7o, §2o, da Lei no 12.8250/13; e 5o, inciso LV, da Constituição
Federal, em razão do indeferimento das diligências requeridas na fase do art. 402 do Código de
Processo Penal.

Os pedidos de realização de diligências foram analisados e refutados na Decisão


proferida no Evento 589, a qual reitero nesta oportunidade.

Saliente-se que não há que se confundir irresignação dos réus com a decisão do
Juízo com causa que enseja a nulidade do feito. 

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Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(iv) nulidade do feito em razão da ordem de apresentação das alegações finais


pelo réu Sérgio Cabral.

A  Defesa de CARLOS ARTHUR NUZMAN sustenta ainda a nulidade do feito


em razão da apresentação das alegações finais pelo colaborador SÉRGIO CABRAL antes dos
demais réus.

A questão encontra-se superada, tendo em vista que, nos termo da


Decisão proferida no Evento 672, determinei a conversão do feito em diligências determinando
a abertura de prazo improrrogável para que a Defesa do réu  Sérgio Cabaral  apresentasse  as
alegações finais  antes das demais Defesas, ocasião em que determinei  a abertura de prazo
sucessivo para as demais defesas que não firmaram acordo de colaboração premiada  para
aditarem ou apresentarem novas alegações finais.

Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(v)  Inépcia da Denúncia  em razão da  Violação ao artigo 41 do Código de


Processo Penal e ao artigo 5o, inciso LV, da Constituição da República.

Sustenta a Defesa de LEONARDO GRYNER que,  no tocante ao crime de


corrupção, a denúncia nãodescreve de que maneira satisfatória a conduta imputada ao réu e de
que maneira teria sido efetivada a promessa de pagamento. 

Da mesma forma, em relação ao crime de pertinência à organização criminosa, a


denúncia  seria  também inepta, tendo em vista que apresenta  narrativa deficiente e carente de
circunstâncias essenciais à adequada descrição das condutas. 

Não merece prosperar a pretensão defensiva.

Dispõe o artigo 41 do Código Penal que:

“A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas


circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-
lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas”.

Vê-se que, no caso dos autos, os requisitos estabelecidos no referido artigo foram
atendidos. O Ministério Público descreveu, na exordial acusatória, os fatos supostamente
criminosos de forma satisfatória, os períodos de sua ocorrência, a conduta e o modus operandi,
bem como a relação existente entre os crimes praticados e os denunciados, permitindo aos réus
a exata compreensão da amplitude da acusação, além de possibilitar aos ora acusados a
formulação de diversos questionamentos ao longo de toda fase instrutória, garantindo-lhes,
assim, a possibilidade de exercer o contraditório e a ampla defesa.
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Note-se que a expressão “com todas as suas circunstâncias” contida no dispositivo
deve ser interpretada teleologicamente como todas as circunstâncias relevantes para o caso
penal, ou seja, aquelas circunstâncias que podem alterar a tipificação, a ilicitude, a
culpabilidade do agente ou quaisquer outros elementos de relevo para a situação em debate; não
sendo necessário que o acusador faça menção a todo e qualquer detalhe, sobretudo os
considerados irrelevantes à imputação e ao deslinde do caso sob exame.

Tal questão foi analisada na decisão de recebimento de denúncia proferida em


19/10/2017 (Evento 106), na qual consignei:

“Com efeito, no recebimento de denúncias há mero juízo de delibação, cabendo ao órgão


jurisdicional apenas examinar a peça acusatória no que tange ao preenchimento dos requisitos
do artigo 41 do Código de Processo Penal, bem como verificar se há algum motivo para rejeitá-
la, na forma do artigo 395, ou para absolver sumariamente o acusado, na forma do artigo 397,
ambos do mesmo diploma legal. 

Desse modo, é impróprio exigir-se, até para não comprometer a imparcialidade que se espera do
órgão julgador, uma análise aprofundada da procedência da pretensão punitiva. 

Assim, em relação aos FATOS 01 e 02, a exordial narra que, no período compreendido entre
agosto e setembro de 2009, SÉRGIO CABRAL, CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER, de
forma livre e consciente, solicitaram e aceitaram promessa de vantagem indevida de ARTHUR
SOARES, consistente no pagamento a LAMINE DIACK, por intermédio do seu filho, PAPA
DIACK, no valor de ao menos USD 2.000.000,00 (dois milhões de dólares americanos), com o
intuito de garantir votos para o Rio de Janeiro como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. 

Em razão da promessa, ARTHUR SOARES foi beneficiado com a contratação da empresa LSH
EMPREENDIMENTOS pelo Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, além da abertura de uma
imensa janela de oportunidades para exponenciar os seus contratos com o Estado e com o
Município do Rio de Janeiro e com o próprio Comitê Organizador. 

A respeito das investigações, revela o MPF que o Ministério Público Financeiro Francês
apresentou pedido de cooperação internacional com o intuito de obter elementos probatórios que
pudessem auxiliar a investigação envolvendo a Associação Internacional das Federações de
Atletismo. 

Isso porque estava sendo apurado naquele país esquema de corrupção nas apurações de
dopagem. Entretanto, para além desse esquema, que já contava com a participação de LAMINE
DIACK, presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo, e seu filho PAPA
DIACK, foi vislumbrado um outro, muito mais amplo, ao redor desses mesmos personagens,
envolvendo a designação de cidades para sediar as maiores competições mundiais. 

Nesse sentido, houve o testemunho espontâneo do atleta brasileiro e ex- membro do COB Eric
Maleson perante o Ministério Público Francês (e posteriormente ao MPF) de que houve ajustes
e efetivo pagamento a membros africanos do COI para a escolha do Rio de Janeiro como cidade-
sede das Olimpíadas de 2016. 

Somado a isso, a análise da movimentação financeira de PAPA DIACK realizada naquele país
apontou a transferência de dois milhões de dólares a favor deste, realizada pela empresa
Matlock Capital Group Limited, de propriedade de ARTHUR SOARES. 

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Já foi narrado na denúncia anterior que Renato Chebar, na condição de operador financeiro de
SÉRGIO CABRAL, abriu a conta MATLOCK no Banco EVG,  cujo beneficiário final era o
denunciado ARTHUR SOARES, tendo sido proveniente dessa conta os recursos repassados aos
DIACK. 

Afirma também o MPF que CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER participaram como
figuras centrais nessa negociação, trazendo a lume os e- mails trocados com PAPA DIACK. 

Impende destacar ainda o depoimento da secretária de CARLOS NUZMAN, Maria Celeste de


Lourdes Campos Pedroso, relatando as cobranças de PAPA DIACK. 

A CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER, imputa ainda o MPF a causa de aumento de


pena prevista no art. 317, § 1o, do CP, tendo em vista o desconto de 30% (trinta por cento)
concedido pelo Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, do qual CARLOS NUZMAN e
LEONARDO GRYNER são presidente e membro, respectivamente, à empresa LSH Barra
Empreendimentos Imobiliários, de ARTHUR SOARES, sobre o valor que esta teria que devolver,
em virtude do descumprimento do contrato firmado com o referido Comitê, além de não aplicar a
multa contratual. 

Nesse ponto, expõe o MPF a qualidade de CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER como
funcionários públicos por equiparação, uma vez que o COB é, segundo seu estatuto, uma
associação civil de natureza desportiva, de utilidade pública e sem fins lucrativos. 

Demonstra o MPF o repasse de verbas públicas ao COB, com fiscalização pelo TCU, destacando
que o desporto é uma atividade típica de Estado, cabendo ao COB, por força da Lei 9615/98, a
representação do país nos eventos internacionais pertinentes. Tanto que CARLOS NUZMAN
recebeu passaporte diplomático. 

Dessa forma, os acusados se enquadrariam no conceito do art. 327, § 1o, 2a parte, do CP, tendo
o MPF apresentado ainda os diversos convênios firmados entre o Ministério dos Esportes e o
COB. 

Não ignoro a discussão acerca do tema, todavia, embora não seja o momento de formar e
afirmar minha convicção, reconheço plausível a tese apresentada pelo MPF para fins de permitir
o prosseguimento da acusação. 

No que tange ao FATO 03, a denúncia relata que, pelo menos entre agosto de 2009 e 05 de
outubro de 2017, CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER, além de outras pessoas (ou já
denunciadas por integrarem a mesma organização criminosa, ou ainda a serem processadas), de
modo consciente, voluntário, estável e em comunhão de vontades, promoveram, constituíram,
financiaram e integraram, pessoalmente, uma organização criminosa que tinha por finalidade a
prática de, entre outros, crimes de corrupção ativa e passiva em detrimento do Estado do Rio de
Janeiro, do Comitê Olímpico Brasileiro e do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, bem como
a lavagem dos recursos financeiros auferidos desses crimes. 

Com o fito de embasar suas alegações, o  Parquet  colacionou aos autos inúmeros documentos
que revelam intenso contato e intimidade com outros membros da organização criminosa,
descrevendo os elos entre eles.

Afirma o MPF que a realização dos Jogos Olímpicos foi uma das melhores estratégias de
capitalização financeira e política da ORCRIM, uma vez que atrairia grandes investimentos para
o Rio de Janeiro para realizar mais obras e contratações de serviços  –  que seriam
superfaturadas - e, consequentemente, aumentaria as oportunidades para solicitar e receber
mais propina, evidenciando o esquema win-win para todos os membros da ORCRIM. 

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Em relação aos FATOS 04 e 05, afirma o MPF que CARLOS NUZMAN, entre julho de 2014 e
setembro de 2017, ocultou e dissimulou a origem e a propriedade de 16 quilos de ouro, no valor
de R$ 1.495.437,63, provenientes de atividade ilícita, mediante aquisição e manutenção não
declarada em cofre na Suíça, bem como por promover sua conversão em ativos lícitos entre os
dias 15 e 20 de setembro de 2017, mediante retificação de suas declarações de imposto de
renda. 

A fim de clarificar os crimes antecedentes, explora o MPF o exorbitante aumento patrimonial de


CARLOS NUZMAN após 2007, quando SÉRGIO CABRAL assumiu o governo do Estado, e a
gestão promíscua do COB (objeto de outra investigação). 

Narra que, com os recursos provenientes de atividades ilícitas, CARLOS Nuzman adquiriu, em
julho de 2014, 16 barras de ouro, pesando 1 Kg cada uma, no valor total declarado de USD
678.080,00 (correspondentes a R$ 1.495.437,63), tendo mantido esses ativos em cofre na cidade
de Genebra/Suíça. 

Descoberta sua existência na diligência de busca e apreensão na sua residência, Carlos Nuzman
tentou regularizar sua situação, retificando suas declarações de imposto de renda entre os dias
15 e 20/09/2017. 

Observo, portanto, que o órgão ministerial expôs com clareza os fatos criminosos e suas
circunstâncias, fazendo constar a qualificação dos denunciados e a classificação dos crimes, o
que atende os pressupostos contidos no artigo 41 do CPP e afasta a incidência do inciso I do
artigo 395 do CPP. 

A presença dos pressupostos processuais e condições da ação penal repele a ocorrência do


disposto no inciso II do mesmo artigo.”

Dessa maneira, não verifico qualquer mácula que atinja a peça acusatória, que
permitiu o pleno exercício do direito de defesa e do contraditório pelos denunciados.

No mais, afasto a alegação de que a denúncia teria se baseado apenas nas


declarações dos colaboradores, pois da análise dos autos verifica-se que é farto o arcabouço
probatório, com documentos obtidos a partir de acordos celebrados e de pesquisas realizadas
pela acusação, bem como e-mails enviados pelos condenados, depoimentos de testemunhas e
interrogatórios dos corréus. as quais se prestam a corroborar as declarações dos colaboradores.

Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(vi)  necessidade de conversão do feito em diligências com a finalidade de


oficiar ao  ao  Exmo. Min. Edson fachin  para  obter cópia da decisão que homologou o
acordo de delação premiada celebrado entre o acusado Sergio Cabral e a Polícia Federal

A defesa de  SERGIO CABRAL  pugna que seja oficiado o Supremo Tribunal
Federal para que envie a cópia da decisão que homologou o acordo de colaboração premiada
celebrado entre Sergio Cabral e a Polícia Federal

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A questão encontra-se superada, tendo em vista que, em resposta ao ofício nº
JFRJ-OFI-2020/00817 (Evento 265 da ação penal nº 0039777-90.2018.4.02.5101), o Ministro
Edson Fachin, Relator da Petição nº 8.482, encaminhou a decisão homologatória do acordo de
colaboração premiada de Sérgio de Oliveira Cabral Santos Filho, conforme consta da certidão
do evento 933.

Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(vii) incompetência do juízo

De plano, rejeito a alegação  de incompetência da Justiça Federal para


processamento e julgamento do feito suscitada pela defesa de  SERGIO DE OLIVEIRA
CABRAL SANTOS FILHO.

Alega a Defesa, em síntese, que: (i) os autos deveriam ido à livre distribuição,
tendo em vista que a ação penal Calicute teve sentença proferida antes do recebimento da
denúncia dos presentes autos; e (ii) competência seria da Justiça Estadual, em razão da ausência
de lesão a bens, interesses e serviços da União.

A competência foi analisada na Decisão do Evento 14, dos autos da medida


cautelar de prisão n. 0505679-56.2017.4.02.5101, ocasião em que consignei expressamente:

“Inicialmente, cabe fazer uma breve contextualização a fim de demonstrar a  competência da


Justiça Federal, bem como deste Juízo especializado para o caso em tela. 

Em 16.6.2016, por força da decisão exarada pelo saudoso Ministro Teori Zavaski nos autos da
PET no 5998/DF foram compartilhados com este Juízo (autos no 0506152-76.2016.4.02.5101) os
termos dos acordos de colaboração de alguns executivos da empreiteira ANDRADE
GUTIERREZ INVESTIMENTOS EM ENGENHARIA S/A, os quais foram homologados pela
Suprema Corte em  5.4.2016. As declarações dos colaboradores mencionavam expressamente a
contratação irregular de obras públicas no Estado do Rio de Janeiro, com possível envolvimento
do ex- governador Sergio Cabral. Assim, o feito foi distribuído por dependência à Representação
Criminal no 0802315-42.2013.4.02.5101 (IPL no 409/2012 -  Operação Saqueador), que aqui
tramitava. 

Na denúncia da  Operação Saqueador, recebida em  28.6.2016  (ação penal no 0057817-
33.2012.4.02.5101), o MPF descreve que o esquema criminoso seria comandado pelo ex-
governador Sérgio Cabral, o qual teria beneficiado a empresa DELTA CONSTRUÇÕES S/A
mediante a prática dos crimes de cartel, fraude a licitações e corrupção de agentes públicos em
obras das quais a empreiteira participou, em especial a reforma do Maracanã, narrado na
denúncia como crime antecedente à lavagem de dinheiro. Referida ação penal trata
especificamente de grande esquema de lavagem de dinheiro pelas empresas DELTA e ANDRADE
GUTIERREZ. 

O aprofundamento das investigações revelou a existência de uma Organização Criminosa que


seria responsável por desvio milionário (talvez bilionário) dos cofres públicos, ainda além
daqueles fatos investigados inicialmente na Operação Saqueador, envolvendo outras importantes

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obras públicas no Estado do Rio de Janeiro e lavagem internacional de dinheiro, fatos esses que
foram objeto das Operações Calicute e Eficiência, respectivamente, além de outros delitos ainda
sob investigação. 

No decorrer das verificações da Operação Calicute, foram celebrados novos acordos de


leniência, dentre eles, o da  Carioca Christiani-Nielsen Engenharia S/A, homologado perante
esse juízo em 02.08.2016, nos autos do processo n° 0506972- 

95.2016.4.02.5101. A empresa era integrante de vários consórcios para as obras realizadas no


Rio de Janeiro, principalmente àquelas relacionadas justamente à Copa de 2014 e às Olimpíadas
de 2016.  Em tal acordo, foram colhidos depoimentos indicando  que o esquema de corrupção
existente na Secretaria de Estado de Obras (vide caso Maracanã – Operação Saqueador) havia
sido replicado em obras executadas pela administração do Município do Rio de Janeiro
(Secretaria Municipal de Obras).

Nestes autos, apresenta o MPF elementos que indicam outros atos de corrupção pela indigitada
ORCRIM, praticados também por novos personagens, embora guardem semelhança com a forma
de execução e características de outros tantos fatos inquinados como ilícitos em diversas ações
penais em curso neste Juízo. 

No ponto específico que trata do suposto pagamento de vantagem indevida na eleição da sede
das Olimpíadas de 2016, não há dúvida de que o projeto político de candidatura da Cidade do
Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, para o qual atuaram conjuntamente
União, Estado e Município do Rio de Janeiro, era de primordial interesse da União. Foi projeto
de interesse nacional, em que a União fomentou, também através do Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC e de financiamentos específicos, a realização de inúmeras obras públicas de
grande porte, as quais já foram sobejamente referidas. 

Aliás, em razão da realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, a União destinou
no ano de 2016 o auxílio financeiro emergencial de  R$ 2.900.000.000,00  (dois bilhões e
novecentos milhões de reais) ao Estado do Rio de Janeiro, nos termos da Medida Provisória no
736 de 2016, convertida na Lei no 13.343 de 5 de outubro de 2016. 

Portanto, deve ser reconhecida de plano a competência federal, isso porque tanto em relação às
obras fomentadas em razão dos eventos esportivos em questão, quanto pela alocação direta de
recursos da União para o evento, o que atrai a competência federal, consoante artigo 109, I,
Constituição Federal. 

Colaciono o seguinte aresto do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema: 

RECURSO EM HABEAS CORPUS. CONCUSSÃO. FRAUDE EM PROCESSO LICITATÓRIO.


CALAMIDADE PÚBLICA. RECONSTRUÇÃO. DESTINAÇÃO DE BENS PELA UNIÃO AOS
ESTADOS. REPASSE OBRIGATÓRIO. MALVERSAÇÃO DE VERBA PÚBLICA.
FISCALIZAÇÃO DO MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS.
COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL. SÚMULA 208/STJ. INCIDÊNCIA. INTERESSE DA
UNIÃO.

1.  Não havendo dúvidas de que os delitos supostamente cometidos estão relacionados com
verbas sujeitas à fiscalização do Tribunal de Contas da União, conforme admitido pelo próprio
recorrente, é competente a Justiça Federal para o processamento e julgamento da causa.
Precedentes. 

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2. O sistema de repasse previsto no programa de resposta aos desastres e reconstrução, tem por
finalidade específica o atendimento da população desabrigada por situações de calamidade
pública e resulta em termo de compromisso assinado pelos entes federados com o Ministério da
Integração Nacional. Estando o ato sujeito à verificação e fiscalização do Governo Federal, é de
se ter como presente o interesse da União e, portanto, a competência da Justiça Federal, nos
termos da aplicação analógica do Enunciado n. 208 desta Corte (CC n. 114.566/RS, Ministra
Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, DJe 1o/2/2011). 

3. Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a
prestação de contas perante órgão federal (Súmula 208/STJ).

4. Recurso em habeas corpus improvido.

(STJ – Sexta Turma, Ministro Sebastião Reis Junior, RHC 66133 / SC, DJe 21/06/2017) 

Cumpre destacar ainda que as obras relacionadas às Olimpíadas de 2016 foram objeto de
fiscalização pelo Tribunal de Contas da União, justamente pelo emprego de recursos federais,
conforme se depreende do site do órgão (www.portal.tcu.gov.br, processos no TC 012.890/2013-
8, TC 004.185/2014-5; TC 027.981/2015-0). 

Nesse contexto, esse Juízo Federal especializado encontra-se prevento para o julgamento desta
causa. Isso porque há aparente  coincidência de esquemas criminosos  entre os fatos já objetos
das ações penais em curso neste Juízo, antes referidas, e os episódios aqui narrados de repasses
de recursos indevidos entre membros da Organização Criminosa sob investigação pelos novos
personagens ora representados. 

Além disso, os supostos pagamentos de vantagens indevidas para a escolha da Cidade do Rio de
Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos em 2016, através de aparente movimentação ilegal de
recursos no exterior por membros da mesma ORCRIM, e com a finalidade de assegurar
pagamentos de vultosas propinas na contratação de obras as quais já são objetos de ações
penais em trâmite neste Juízo, realizadas tanto pelo Estado como pelo Município do Rio de
Janeiro, é mais uma evidência de ocorrência do fenômeno processual da conexão (art. 76, I e III,
CPP – “A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações,
houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; ...
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir
na prova de outra infração”). 

Daí minha observação, na decisão cautelar proferida nos mencionados autos no 0505149-
52.2017.4.02.5101, de que “não parece demasiado supor que, pelos relatos trazidos aos autos, o
que se veicula como sendo a ORCRIM DO SÉRGIO CABRAL (referência à posição de liderança
que se imputa ao ex-governador do Estado do Rio de Janeiro) seria na verdade uma ORCRIM
DE MEMBROS DO PMDB/RJ, considerando ainda que, não por acaso, por muitos anos tanto o
Estado do Rio de Janeiro quanto o Município do Rio de Janeiro foram comandados por esse
mesmo grupo político”, pois como observou a colaboradora Luciana Salles Parente, da Carioca
Christiani-Nielsen Engenharia S/A, nos mesmos autos à fl. 149: “... o pagamento de vantagens
indevidas a representantes do Governo do Estado do Rio de Janeiro e do Município do Rio de
Janeiro era uma prática usual e comum no mercado”. 

Dessa feita, a não reunião dos processos relativos aos mesmos delitos, praticados por uma
determinada Organização Criminosa que, aparentemente, dominava a política e os setores
públicos do Rio de Janeiro desde os idos de 2007 até os dias atuais, poderia ensejar aberrações

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jurídicas, com flagrantes discrepâncias no julgamento de diversas ações penais. Sobre o tema,
cabe colacionar os ensinamentos de Eugênio Pacelli, em seu Curso de Processo Penal (17a
edição, Editora Atlas): 

“Na hipótese do artigo 77, I, a reunião dos processos para a unificação do julgamento é
absolutamente indispensável, como meio de impedir a divergência judicial sobre um único e
mesmo fato criminoso, funcionando, então, como estratégia de controle de efetividade e eficácia
da jurisdição penal. Nesse passo, o expediente da unidade de processo e de julgamento assume
dimensão não só jurisdicional, mas até de política criminal, sem falar no princípio geral da
igualdade com que devem ser tratados todos os cidadãos. 

E reunião dos processos conexos e/ou continentes determina, assim, a unidade de processos,
para o fim de instrução simultânea, e a unidade de julgamento, para o mais completo
aproveitamento dos atos processuais realizados em um e outro”.

Noutro giro, por todo o explanado, resta refutada qualquer alegação a respeito da livre
distribuição do processo. Isso porque, diante da evidente ocorrência de conexão entre este feito e
as ações penais que já tramitam perante este Juízo, mostra-se obrigatório o julgamento da causa
pelo mesmo juiz natural, razão pela qual  afirmo a competência desta 7a Vara Federal
Criminal.”

Em reforço, cumpre repisar que os fatos denunciados estão intimamente ligados


aos delitos perpetrados pela organização Criminosa, supostamente, liderada pelo ex-governador
Sergio Cabral. Com efeito, a denúncia oferecida em desfavor dos excipientes é mais um
desdobramento das operações em trâmite nesse Juízo, que desbaratou complexa organização
criminosa instalada no Governo do Estado do Rio de Janeiro, que seria chefiada pelo ex-
governador Sergio Cabral.

Diante dos argumentos expostos, não merece prosperar a alegação da Defesa de


que a prolação da sentença na ação penal n. 0509503-57.2016.4.02.5101 (Operação
Calicute)em momento anterior ao oferecimento da denúncia nos presentes autos ensejaria a
livre distribuição do feito. Como demonstrado, a conexão não decorre exclusivamente da
Operação Calicute, mas de todo o esquema instaurado por Sérgio Cabral no seio da
Administração Pública do Estado do Rio de Janeiro que ensejou a propositura de diversas
outras ações penais perante este Juízo.

Por conseguinte, rejeito as alegações de incompetência do Juízo.

(viii) cerceamento de defesa em razão da formação de maxiprocessos 

A defesa de  SERGIO CABRAL  alega que “não há documentação


disponível para visualização e consulta pelo sistema e-Proc de todos os processos e medidas
cautelares relacionado aos fatos”.

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Sustenta ainda que “os Termos de Acautelamento que na verdade refere às mídias
físicas (CDs ou DVDs) que trazem importantes informações que não chegam aos olhos dos
defensores, têm natureza bancárias, fiscais, telemáticas, dados em geral que devem estar
prontas para o uso da defesa”.

Não assiste razão à defesa.

Como venho registrando exaustivamente em minhas decisões, o acesso aos


processos vinculados sigilosos é feito mediante cadastro feito pela Secretaria através do nº do
CPF do advogado, e as mídias estão disponíveis em Secretaria para gravação, mediante
requerimento por petição eletrônica nos autos, indicando as folhas e/ou o termo de
acautelamento em que se encontra a mídia desejada, devendo ser fornecida mídia nova e
lacrada, tendo a Secretaria o prazo mínimo de 24 horas para a sua entrega.

Inclusive, diante da complexidade da presente ação penal, concedi dilação de


prazo para os réus, inclusive SERGIO CABRAL. 

Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(ix) inépcia formal e material da denúncia quanto ao pedido de reparação dos


danos 

A defesa de SERGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO sustenta a


inépcia da denúncia em relação ao pedido de reparação dos danos, tendo em vista que “deixou
de descrever qualquer conduta do acusado quanto ao eventual dano causado ao erário, de
modo a autorizar o pedido de reparação dos danos deduzido na denúncia”.

Não assiste razão à defesa.

Como venho salientando nas minhas decisões, tanto no tocante ao perdimento de


bens para reparação do dano quanto em relação ao arbitramento do valor mínimo indenizatório,
deve se ter em mente o escopo de evitar-se o enriquecimento ilícito do agente criminoso, assim
como o de desarticular organizações criminosas e seus integrantes, que se sustentam e
facilmente se desenvolvem e atuam na medida dos valores que angariam e movimentam.

Dessa forma, nos termos do art. 387, IV, do CPP, incumbe ao juiz criminal fixar
na sentença condenatória penal o valor mínimo para fins de reparação dos danos causados pela
infração penal, desde que haja pedido expresso na inicial acusatória, o que ocorreu no caso.

Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(x) existência de bis in idem em relação ao crime de corrupção

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Sustenta a Defesa de SERGIO CABRAL, em síntese, que o acusado já responde
perante esse juízo há mais de trinta ações penais, todas tratando de fatos encadeados, a partir da
assunção do governo do Estado do Rio de Janeiro, no dia 1o de janeiro de 2007 e que todos os
processos criminais se referem a prática do crime de corrupção passiva, descrito no artigo 317
do Código Penal. 

Aduz a Defesa, portanto, que haveria um único crime de corrupção, ainda que
com divisão de tarefas entre os agentes e demais partícipes. No entanto, ausente alteração dos
fatos na denúncia, mas valoração diferente deles e o seu enquadramento em um único crime de
corrupção e não vários, o que obriga beneficiar o ora acusado diante de uma posição que se
considera mais correta. 

Não assiste razão à Defesa. 

Em que pese se tratarem de fatos conexos e praticados no seio da Administração


Pública Estadual quando o condenado ostentava a posição de Governador do Estado, as
imputações delitivas diversas.

Nestes autos são tratados fatos relacionados ao pagamento de propina a dirigentes


africanos com a finalidade de assegurar a votação em favor da cidade do Rio de Janeiro para
sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Tais fatos não foram objeto de apreciação por este Juízo em
nenhuma outra ação penal.

Rejeito, portanto, a preliminar arguida.

(xi) falta de interesse de agir do estado para a condenação do acusado em


razão do atingimento do grau máximo pela continuidade delitiva, na forma do art. 71 do
Código Penal 

A defesa de SÉRGIO CABRAL aduz que o acusado já responde há mais de 30


ações penais perante este Juízo, todos tratando de fatos encadeados, a partir da assunção do
governo do Estado do Rio de Janeiro. Assim, sustenta a defesa que trata-se de aspectos de um
mesmo fato, configurando, portanto, um único crime de corrupção, em continuidade delitiva.

Nessa lógica, sustenta a defesa, que “este magistrado já condenou o réu, pela
prática do crime de corrupção passiva, alcançando-se a fração legal máxima para a
continuidade delitiva (dois terços), bem como que a prática do fato delituoso ora imputado ao
réu se deu em condições semelhantes de tempo, lugar e modo de execução, houve o
exaurimento da pretensão punitiva estatal”. Assim, deveria ser reconhecida a ausência de
interesse de agir na pretensão acusatória, para extinguir o feito em relação ao réu.

No ponto, ainda que fosse possível reconhecer a ocorrência da continência,


conexão ou continuidade delitiva entre o presente feito e as demais ações penais as quais o réu
responde, esclareço que cabe ao Juízo das Execuções Penais, nos termos do art. 66, III, a, da
Lei n. 7.210/84, reconhecer a continuidade delitiva para fins de soma ou unificação das penas.

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Este é o teor do magistério jurisprudencial do C. Superior Tribunal de Justiça:

“PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. UNIFICAÇÃO DE PROCESSOS. RECONHECIMENTO DA

CONTINUIDADE DELITIVA. INVIABILIDADE DE PROCEDER-SE A TAL EXAME NA VIA


ELEITA. DOSIMETRIA. ALEGADA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DAS SENTENÇAS.
INSTRUÇÃO DEFICIENTE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.

I - Nos termos do art. 82 do CPP, após ser proferida sentença definitiva, a unidade dos processos
só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.

Este é o teor do magistério jurisprudencial do C. Superior Tribunal de Justiça:

“PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA A


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. UNIFICAÇÃO DE PROCESSOS. RECONHECIMENTO DA

CONTINUIDADE DELITIVA. INVIABILIDADE DE PROCEDER-SE A TAL EXAME NA VIA


ELEITA. DOSIMETRIA. ALEGADA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DAS SENTENÇAS.
INSTRUÇÃO DEFICIENTE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.

I - Nos termos do art. 82 do CPP, após ser proferida sentença definitiva, a unidade dos processos
só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas.

II - Compete ao juízo da Execução proceder à unificação de penas (art. 66, inciso III, "a", da
LEP) acaso constatada a configuração de continuidade delitiva entre delitos apurados em
processos distintos (Precedentes desta Corte e do Pretório Excelso). Inviável tal exame na via
eleita por demandar aprofundado exame de material fático-probatório.

III - A deficiência de instrução dos autos, em razão da ausência das cópias das rr. sentenças
condenatórias, impede o conhecimento do presente habeas corpus quanto à análise da
dosimetria das penas. 'Habeas corpus não conhecido.

(HC 319.282/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 15/03/2016, DJe
29/03/2016 – sem grifo no original).”

No mesmo sentido é o magistério jurisprudencial emanado do E.Tribunal Regional Federal da 2ª


Região, como ressai do ilustrativo precedente:

"HABEAS CORPUS. LAVAGEM DE DINHEIRO. CONDUTAS CONEXAS. UNIFICAÇÃO DOS


FEITOS. FACULTATIVA. TUMULTO PROCESSUAL. DESNECESSIDADE. CONTINUIDADE
DELITIVA. JUÍZO EXECUÇÃO. ART. 66. III, •A–, LEI 7.210/84. AUSÊNCIA NULIDADE. 1. Os
elementos trazidos aos autos demonstram que há conexão entre os fatos narrados nas denúncias
que deram origem às ações penais nº 2008.51.01.803732-7 e nº 2008.51.01.815684-5, pois os
crimes apontados como antecedentes são os mesmos e decorrem das mesmas operações
policiais. 2. O artigo 80 do CPP dispõe que a conexão dos feitos nos termos do art. 76 do CPP é
facultativa, posto que a mesma deve ocorrer para facilitar a apreciação da prova pelo Juiz e
evitar decisões conflituosas. Pode o Juízo, assim, manter os feitos separados se assim julgar
conveniente. 3. No caso concreto, a reunião dos feitos traria lentidão e confusão à marcha
processual ao invés de garantir a celeridade e a economia processual, tendo em vista que se
encontravam em momentos processuais diversos. Além disso, o grande número de denunciados
na segunda demanda representava um inconveniente para o processamento conjunto. 4. Cabe ao

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Juízo de Execuções Penais, caso o paciente seja também condenado nos autos da segunda ação
penal, adequar a pena, no que couber, ao art. 71 do CP, nos termos do art. 66, inciso III, alínea
a, da Lei 7.210/84. 5. Ordem denegada.

(TRF-2 - HC: 201102010059641, Relator: Desembargadora Federal LILIANE RORIZ, Data de


Julgamento: 09/08/2011, SEGUNDA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação:
18/08/2011 sem grifo no original).”

Além disso, é importante salientar que a ação penal na qual o réu alega ter sido
condenado e, com isso, atingido o patamar máximo da continuidade delitiva ainda não transitou
em julgado, motivo pelo qual sequer é possível afirmar, na hipótese de se reconhecer a
continuidade delitiva, se o réu atingiu efetivamente o patamar máximo. 

Desta forma, descarto a alegação de falta de interesse processual e REJEITO  a


preliminar.

III – DO MÉRITO

III.1 – Da contextualização dos fatos

Segundo narra a denúncia, as operações Calicute e Eficiência tiveram como


escopo inicial desmantelar a Organização Criminosa liderada pelo ex-governador do Estado do
Rio de Janeiro SÉRGIO CABRAL, responsável pela prática de crimes de corrupção, lavagem
de capitais, cartel e fraude a licitações envolvendo contratos celebrados para a realização das
mais importantes obras de infraestrutura do Estado, tendo desviado dos cofres públicos mais de
USD 100 milhões de Dólares, mediante engenhoso processo de envio de recursos oriundos da
propina para o exterior.

Ainda segundo a acusação, ao tomar posse como chefe do executivo estadual, em


01/01/2007, SÉRGIO CABRAL instituiu como regra o percentual de propina de 5% sobre o
faturamento dos principais contratos de obras civis celebrados,  bem como de  empresários de
outros setores de atividade estatal como  saúde,  alimentação,  serviços
especializados e transportes públicos.

Na presente denúncia, o  Parquet  afirma que  ARTHUR SOARES  integra o


núcleo econômico, sendo responsável pelo repasse de propina à organização criminosa chefiada
por  SÉRGIO CABRAL,  obtendo como contraprestação  a  prática de atos de ofício pelos
gestores do Estado do Rio de Janeiro para garantir a hegemonia de suas empresas no setor de
contratação de serviços terceirizados. 

De acordo com MPF, apurou-se que, no período de 23 de março de 2012 a 21 de


novembro de 2013,  SÉRGIO CABRAL  recebeu de  ARTHUR SOARES  a quantia de  USD
10.474.460,00 (dez milhões, quatrocentos e setenta e quatro mil, quatrocentos e sessenta
dólares) por meio do operador financeiro RENATO CHEBAR.

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Feitas essas breves considerações, passo à análise das imputações feitas aos
ora acusados.

III.2 Da materialidade e da autoria dos delitos de corrupção passiva (FATO


01 )

Em relação ao  FATO 01, narra a denúncia que,  entre agosto de 2009 e 29 de
setembro de 2009,  SÉRGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO,  CARLOS
NUZMAN,  Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro – COB e  LEONARDO
GRYNER,  diretor de operações e marketing do COB, em razão do cargo de governador do
Estado do Rio de Janeiro que o primeiro ocupava e dos cargos que o segundo e o terceiro
ocupavam no  Comitê Olímpico Brasileiro, de modo consciente e voluntário, solicitaram
diretamente a ARTHUR SOARES e aceitaram promessa de vantagem indevida para outrem,
consistente no pagamento de, ao menos, USD 2.000.000.00 (dois milhões de dólares
americanos) para LAMINE DIACK, por intermédio de seu filho PAPA MASSATA DIACK,
no intuito de garantir votos para o Rio de Janeiro na eleição da cidade-sede dos Jogos
Olímpicos 2016.

Diante do desmembramento dos autos da ação penal em relação a  ARTHUR


SOARES,  LAMINE DIACK  e  PAPA MASSATA DIACK, residentes do
exterior, respondem neste processo pelo FATO 01 os denunciados SÉRGIO DE OLIVEIRA
CABRAL SANTOS FILHO, CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER.

Antes de adentrar o esquema criminoso em si instaurando no seio do Comitê


Olímpico Brasileiro, é importante esclarecer como se faz processo de escolha da cidade-sede
das Olimpíadas.

O processo de eleição da cidade-sede é composto por duas fases. Na primeira, que


começa após o fim do prazo de inscrições, as cidades postulantes respondem a um questionário
que reúne temas importantes para realização dos Jogos. Essas informações permitem ao Comitê
Olímpico Internacional (COI) analisar a capacidade de organização das cidades, bem como os
pontos fortes e fracos dos seus projetos. Após um estudo detalhado dos questionários e dos
projetos, o Comitê Executivo do COI seleciona as cidades classificadas para a fase
seguinte.  Nasegunda fase, as cidades candidatas respondem a outro questionário, mais
detalhado. Esses documentos são estudados pela Comissão Avaliadora,  que faz inspeções de
quatro dias em cada uma das cidades candidatas, nas quais verifica os locais de competição
planejados e conhece detalhes dos projetos. O grupo comunica os resultados de suas inspeções
aos membros do COI cerca de um mês antes da Sessão em que vai ocorrer a votação. 

A votação é feita por membros ativos do COI,  com exclusão dos  membros
honorários, cada um com direito a um voto.  Membros de países com cidades candidatas não
podem votar enquanto a cidade não for eliminada. O processo final é repetido quantas vezes for
preciso até que uma cidade atinja a maioria absoluta dos votos. Se isso não acontecer  na
primeira rodada, a cidade com menos votos é eliminada e uma nova rodada começa. Em caso
de empate no último lugar, uma rodada extra ocorre para desfazê-lo, com a vencedora se

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classificando para a rodada seguinte. A cada rodada, o nome da cidade eliminada é anunciado.
Após o anúncio final, a cidade-sede eleita assina o "Contrato de Cidade-sede" com o COI, que
delega as responsabilidades de organizar os Jogos ao país e ao seu respectivo comitê
organizador. 

Dentro do esquema criminoso, coube a CARLOS ARTHUR NUZMAN e


LEONARDO GRYNER, na qualidade de integrantes do Comitê Olímpico, mediarem o
pagamento de propina aos dirigentes africanos com a finalidade de garantir o Rio de Janeiro
como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Por outro lado, coube a SÉRGIO CABRAL
buscar na sua rede de contatos o empresário ARTHUR SOARES FILHOS, um dos grandes
empresários contratados pela Administração Pública do Estado do Rio de Janeiro, os valores
necessários para o pagamento dos dirigentes africanos.

Em seu  interrogatório, SERGIO CABRAL confirmou  a prática do ato de


corrupção para compra de votos que garantissem a eleição do Rio de Janeiro como sede dos
Jogos Olímpicos de 2016. De acordo com SERGIO CABRAL, a iniciativa de procurá-lo para
tratar da realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro partiu de CARLOS ARTHUR
NUZMAN, que juntamente com LEONARDO GRYNER, o informou que LAMINE DIACK,
membro do COI, estaria disposto a receber vantagens indevidas em troca de conseguir 5 ou 6
votos na primeira fase. Na ocasião, CARLOS NUZMAN manifestou que não comprar os votos
seria correr o risco de não ter o Rio de Janeiro escolhido como cidade-sede.

Saliente-se que realizar as Olimpíadas na cidade do Rio de Janeiro era um


objetivo e projeto pessoal de CARLOS NUZMAN, que se dedicou durante anos para que o
evento acontecesse na cidade carioca. Além do que, garantiria para os empresários do setor o
fechamento de grandes contratos decorrentes da realização dos Jogos Olímpicos na cidade.
Consequentemente, permitiria a SERGIO CABRAL e aos membros da sua organização
criminosa o auferimento de vantagens indevidas decorrentes da cobrança de percentuais desses
contratos a título de propina.

De acordo com CABRAL:

“(...)  QUE NUZMAN achava que havia a possibilidade de o Brasil disputar as eleições “para
valer”; QUE o interrogado concordou em preparar um dossiê para a candidatura; QUE em
2008 disputaram sete cidades: PRAGA, BAKU, DOHA, MADRI, TÓQUIO, RIO DE JANEIRO e
CHICAGO; QUE a primeira fase foi fruto de uma reunião do Comitê Olímpico em 08 de junho
de 2008, e foi um fato inédito para o Rio de Janeiro; QUE o então prefeito CÉSAR MAIA,
NUZMAN e o interrogado estavam presentes em ATENAS; QUE após esta ocasião, passaram de
sete para quatro cidades finalistas; QUE para a montagem do Comitê realizador da campanha
foram estabelecidos valores para os governos municipal, estadual e federal, além do orçamento
do Comitê Olímpico; QUE os recursos utilizados estavam na ordem de 8 a 10 milhões por ente
federativo; QUE NUZMAN coordenava este processo e prestava contas para o interrogado;
QUE CARLOS ROBERTO OSÓRIO participou do processo de apresentações em Istambul; QUE
em 2009 participaram de vários eventos internacionais; QUE NUZMAN agendou várias
reuniões bilaterais com membros do COI; QUE membros do COI disseram que não votariam no
Rio de Janeiro na primeira volta, mas que o fariam em uma eventual segunda volta; QUE estava
inseguro pela primeira volta de votação; QUE após um evento em Roma, no início de agosto,

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recebeu ligação de CARLOS NUZMAN perguntando se poderia recebê-lo em caráter de
urgência; QUE NUZMAN chegou com seu executivo de marketing, LEONARDO GRYNER;
QUE os dois disseram ao interrogado que LAMINE DIACK se abriria para
vantagens indevidas; QUE GRYNER fez contato com o filho de LAMINE, que falava em nome
dele; QUE haveria uma garantia de 5 (cinco) a 6 (seis) votos; QUE LAMINE e seu filho queriam
$ 1.500.000,00 (um  milhão e meio de dólares); QUE NUZMAN garantiu que ele venderia estes
votos e que não os comprar seria o risco de não passar para a segunda fase; QUE NUZMAN
disse que a partir da segunda fase conseguiriam obter os votos; QUE os votos vinham de alguns
membros africanos e atletas eleitores do COI; QUE NUZMAN e GRYNER garantiram que
SERGUEI BUBKA recebeu propina; QUE o russo ALEXANDER POPOV recebeu propina; QUE
de 15 a 23 de agosto ocorreu, em Berlim, o mundial de atletismo, cujo anfitrião era LAMINE
DIACK; QUE NUZMAN precisava do “ok” anterior do interrogado para durante esse período
em Berlim combinar com LAMINE DIACK e garantir as tratativas das vantagens indevidas em
troca de cinco ou seis votos; QUE o valor de $ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil
dólares) seria pago na primeira fase; QUE o interrogado disse que confiaria em
NUZMAN; [grifado] (...)”.

Assim, narra SERGIO CABRAL QUE, seguindo as instruções de NUZMAN,


concordou em realizar a compra de votos para garantir o Rio de Janeiro como cidade-sede das
Olimpíadas. Nesta ocasião, procurou o empresário ARTHUR SOARES, grande empresário do
ramo de prestação de serviços ao Estado do Rio de Janeiro, para que ele realizasse o
pagamento:

“(...)  QUE o interrogado contactou um empresário para viabilizar o pagamento da propina;


QUE o interrogado chamou ARTHUR SOARES para sua casa e expôs a necessidade do dinheiro
para obter os votos; QUE ARTHUR SOARES disse que não haveria problema; QUE afirma que
tal valor foi debitado do crédito que tinha com ARTHUR SOARES; QUE o interrogado pagou a
propina; QUE o interrogado deu o telefone de LEONARDO GRYNER para ARTHUR SOARES, e
que os dois combinaram a operação junto a PAPA DIACK; QUE não conhecia PAPA DIACK;
QUE conheceu LAMINE DIACK em Berlim, durante reunião formal; QUE os assuntos de
propina eram tratados por ARTHUR SOARES, LEONARDO GRYNER, CARLOS NUZMAN,
LAMINE DIACK e PAPA DIACK; QUE na sala de eventos do hotel Bristol em Paris foi chamado
por GRYNER e NUZMAN; QUE GRYNER e NUZMAN disseram ao interrogado que DIACK
conseguiria de oito a nove votos por mais $500.000,00 (quinhentos mil dólares); QUE o
interrogado garantiu o pagamento do valor; QUE ARTHUR SOARES estava em Paris; QUE
pediu a ARTHUR SOARES para que se reunisse com LEONARDO GRYNER para arrumar o
valor; QUE o valor deveria ser pago antes do dia 03 de outubro para que fossem garantidos os
votos, conforme aviso de PAPA DIACK; QUE estas conversas ocorreram no dia 14 de setembro;
QUE no dia 29 de setembro, ARTHUR SOARES confirmou ao interrogado, via BBM, que estava
“tudo certo, tudo tranquilo” (sic); QUE o interrogado não sabia se os votos de LAMINE DIACK
eram necessários, mas que precisava ter a garantia dos votos; QUE a campanha na primeira
fase foi séria e bem feita, mas que houve o elemento de compra de votos para  garantir o
resultado;  QUE só houve compra de votos na primeira fase;  QUE o interrogado usou seu
dinheiro pessoal para a campanha pelos benefícios que seriam adquiridos pela cidade do Rio de
Janeiro; QUE o interrogado via a utilização do dinheiro pessoal como investimento em sua
carreira política de forma indireta; QUE queria fazer parte do momento em que o Rio de Janeiro
poderia marcar um evento extraordinário perante o mundo”

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Assim, a partir do interrogatório do réu SÉRGIO CABRAL, é possível verificar
que  a  intermediação entre  PAPA  e  LAMINE DIACK  e  SÉRGIO CABRAL  e  ARTHUR
SOARES  foi feita por  CARLOS NUZMAN  e  LEONARDO GRYNER,  que buscaram o
patrocinador junto a SERGIO CABRAL e intermediaram os pagamentos a  PAPA e LAMINE
DIACK.

De acordo com as provas juntadas aos autos, foi possível verificar que os
pagamentos foram feitos através da empresa MATLOCK CAPITAL GROUP LIMITED
diretamente para as contas de PAPA MASSATA DIACK (Russia Diack Papa Massata BSGV –
Ilyinka Street) na sua conta (00173152) na SOCIETE GENERALE VOSTOK, bem como para
a sociedade PAMODZI CONSULTING.

De acordo com documentação acostada aos autos e encaminhada pelo Banco


EVG, a empresa MATLOCK CAPITAL GROUP LIMITED tinha sede registrada nas Ilhas
Virgens Britânicas, tendo como proprietário  ARTHUR CÉSAR DE MENEZES SOARES
FILHO,  o que corrobora as demais provas juntadas aos autos de que ARTHUR SOARES
efetuou o pagamento aos dirigentes africanos.

A fim de corroborar a propriedade da empresa MATLOCK,  os colaboradores


ENRICO MACHADO e LEONARDO DE SOUZA ARANHA,  representantes do Banco
EVG, confirmaram a existência da conta MATLOCK em seu Banco EVG, e afirmaram também
que ARTHUR SOARES é o seu proprietário. De acordo com os colaboradores:

“Que criou o Banco EVG a partir de uma ideia dada por Dario Messer; que o banco foi sediado
em Antígua; que foi apresentado aos irmãos Chebar por Dario Messer; que os irmãos Chebar
tinham uma carteira de clientes; que a conta MATLOCK foi aberta a pedido dos Chebar; que
nunca conversou com o proprietário da conta matlock, Sr. Arthur Soares; que funcionários do
banco EVG conversaram com funcionários de Arthur Soares; que Arthur tinha uma empresa
offshore com o mesmo nome da conta; que não se recorda de cabeça do período de duração da
conta MATLOCK; que algumas transações da MATLOCK chegaram a ser proibidas, mas não se
lembra o motivo; que não sabia da relação de Arthur com Sérgio Cabral; que não teve contato
com Carlos Miranda;  que a conta MATLOCK era movimentada pelos irmãos Chebar; que
Arthur Soares poderia movimentar a conta, por meio de assinatura dele; que a maior parte das
transferências para a conta no EVG eram da offshore MATLOCK; que havia compliance sobre
as transferências de recursos e algumas foram negadas pelo banco EVG; que não se recorda de
destinos específicos dos recursos transferidos da conta MATLOCK, mas os dados foram
entregues ao Ministério Público (depoimento de ENRICO MACHADO)”

“Que o Banco EVG foi criado no ano de 2006; que era um banco sediado em Antígua com base
operacional no Uruguai; que foi trabalhar no Uruguai a convite do Sr. Enrico Vieira Machado;
que o banco lidava com investimentos de clientes de alta renda; que a maioria dos clientes do
banco EVG era apresentada por Enrico e Dario Messer; que a relação com os irmãos Chebar
foi normal como dos outros clientes do banco; que os irmãos eram clientes muito ativos; que a
abertura da conta MATLOCK foi feita com um cliente nos Estados Unidos, diretamente com a
secretária (Sra. Ana Paula Santiago) do proprietário da conta, Sr. Arthur Menezes; que os
irmãos Chebar tinham autorização integral para movimentar a conta MATLOCK;  que não
havia qualquer informação desabonadora sobre o Sr. Arthur à época; que a própria MATLOCK
fazia as movimentações de entrada de recursos de outras contas; que a movimentação dentro do
banco EVG era feita por Renato Chebar;  que nunca tratou pessoalmente com Arthur Soares;

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que não havia necessidade; que não sabia do relacionamento de Arthur Soares com Sérgio
Cabral; que nunca tratou com Carlos Miranda; apenas os irmãos Chebar movimentavam a
conta no banco EVG; que não se lembra de movimentações específicas da conta MATLOCK ;
que Dario Messer não tinha participação formal no EVG; que Messer tinha uma ascendência
grande sobre Enrico; que a gestão do EVG a partir do Uruguai ocorreu porque naquele país a
mão de obra era melhor; que não sabe da participação de Messer nos procedimentos  de criação
do banco EVG em Antígua. (Depoimento de LEONARDO ARANHA).”

O acusado  CARLOS ARTHUR NUZMAN    ocupou o cargo de presidente


do  Comitê Olímpico Brasileiro  e  após a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos
Olímpicos, passou a acumular também o cargo de presidente do COMITÊ ORGANIZADOR
DOS JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016.

Já LEONARDO GRYNER  é membro do COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO


desde 2005,  e  do COMITÊ ORGANIZADOR DOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016,  sendo
pessoa próxima e de confiança de CARLOS ARTHUR NUZMAN.

A  atuação de CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER foi essencial para


concretizar a compra de votos de LAMINE DIACK, tendo eles atuado diretamente no esquema
criminoso, intermediando a compra de votos, em que foram determinantes para unir as pontas
do agente político SERGIO CABRAL e dos dirigentes africanos, que receberiam a propina.

O Ministério Público Federal acostou aos autos diversos e-mails que corroboram
essa afirmação, nos quais há a comunicação entre PAPA MASSATA DIACK e CARLOS
NUZMAN.

Em e-mail enviado  em 11/12/2009  por PAPA MASSATA    a Maria Celeste de


Lourdes, com cópia  a CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER, o dirigente africano
cobra depósitos que deveriam ter sido realizados em contas suas contas bancárias situadas no
exterior:

“Nós estamos na sexta feira, 11 de dezembro de 2009, e meu banco Societe General de Senegal
ainda não recebeu nenhuma transferência SWIFT de sua parte. Eu tentei falar com LEONARDO
GRYNER diversas vezes mas não houve resposta. Você poderia verificar com ele [LEONARDO
GRYNER] se ele pode confirmar 100% que as transferências foram feitas a meus endereços em
Dacar ou em Moscou (BSGV) [Banque Societé General Vostok)”

Já no dia 17/12/2009,  PAPA DIACK envia e-mail para CARLOS NUZMAN


dizendo-se envergonhado diante dos seus amigos em razão do atraso no pagamento. 

Em 21/12/2009, PAPA MASSATA DIACK envia  novo  e-mail a CARLOS


ARTHUR NUZMAN solicitando seu auxílio para “resolver o problema para a satisfação de
todas as partes”, ocasião em que assina o e-mail como consultor de marketing da IAAF e CEO
da empresa  PAMODZI SPORTS MARKETING. Na mensagem encaminhada, PAPA

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MASSATA refere-se ao compromisso assumido em Copenhagen, em clara alusão aos acertos
realizados em Copenhagen, local em que ocorreu a votação para a cidade-sede dos Jogos
Olímpicos de 2016. 

O e-mail enviado em 21/12/2009 contém dois anexos. No primeiro, há mensagem


de PAPA MASSATA direcionada à Maria Celeste em que informa a conta bancária na qual deve
ser feito o depósito do valor de USD 450.000,00, oriundo do acordo com LEONARDO
GRYNER, que deveria ter sido pago em 12/11/2009. Já no segundo anexo, há cópia da
mensagem encaminhada por LEONARDO GRYNER a PAPA MASSATA em 26/11/2009 em
que GRYNER pede desculpas a PAPA MASSATA pelo atraso no pagamento da última parcela
do acordo firmado.

Durante o cumprimento da ordem de busca e apreensão  (autos no 0507224-


64.2017.4.02.5101), os e-mails acima apresentados foram encontrados impressos na pasta de
mão de CARLOS NUZMAN.

Por fim, em janeiro de 2010, PAPA MASSATA envia e-mail a Maria Celeste
confirmando o recebimento do pagamento dos valores de  USD 50,000.00 e outra de USD
60,000.00.

Em seu depoimento, a testemunha MARIA CELESTE PEDROSO, ex-funcionária


do Comitê Olímpico Brasileiro, confirmou que, no ano de 2009, PAPA MASSATA enviou e-
mail e efetuou ligações para CARLOS NUZMAN cobrando valores. No entanto, afirmou que
não sabia do que se tratavam os valores. Transcrevo:

“Que trabalhou no Comitê Olímpico Brasileiro e depois no Comitê da Rio 2016 a convite de
CARLOS ARTHUR NUZMAN; que acompanhou várias viagens pela campanha para a
candidatura dos Jogos Olímpicos; que teve contato com PAPA DIACK porque ficava disponível
no lobby das reuniões que ocorriam; que NUZMAN era o líder do grupo, que trabalhava como
os outros integrantes do grupo brasileiro em prol da candidatura; que lembra de uma reunião
com PAPA DIACK em Berlim, no mundial de atletismo; que não participou desta reunião; que
não presenciava as reuniões; que PAPA DIACK ligou algumas vezes para a depoente dizendo que
não conseguia falar com CARLOS NUZMAN; que acha que foi em dezembro de 2009; que
passava o recado para NUZMAN, que dizia que não sabia do que se tratava; que nos e-mails de
PAPA DIACK não se sabia do assunto a ser tratado; que, considerando que não se sabia do
assunto, não sabe dizer porque NUZMAN dizia que o assunto não era com ele; que PAPA ligava
em horas impróprias por causa do fuso-horário; que a depoente imprimiu um e-mail de PAPA
DIACK sobre uma conta bancária na Rússia e valores em dinheiro; que NUZMAN mandou
entregá-lo ao setor financeiro; que então PAPA DIACK parou de ligar para a depoente; que
achava que era uma cobrança para ajudar o esporte na África; que PAPA DIACK informou duas
contas bancárias na Rússia; que acha que PAPA DIACK era Secretário-Geral da Federação de
Atletismo; que EM apenas uma ligação PAPA DIACK mencionou as contas bancárias; que o e-
mail de DIACK dizia que ele não havia recebido o pagamento e que queria falar com o Dr.
NUZMAN; […]”

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O  envolvimento de CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER foi
confirmado pelo corréu SERGIO CABRAL em seu interrogatório:

“(...)  QUE após um evento em Roma, no início de agosto, recebeu ligação de CARLOS
NUZMAN perguntando se poderia recebê-lo em caráter de urgência; QUE NUZMAN chegou
com seu executivo de marketing, LEONARDO GRYNER; QUE os dois disseram ao
interrogado que LAMINE DIACK se abriria para vantagens indevidas; QUE GRYNER fez
contato com o filho de LAMINE, que falava em nome dele; QUE haveria uma garantia de 5
(cinco) a 6 (seis) votos; QUE LAMINE e seu filho queriam USD 1.500.000,00 (um milhão e
meio de dólares); QUE NUZMAN garantiu que ele venderia estes votos e que não os comprar
seria o risco de não passar para a segunda fase; QUE NUZMAN disse que a partir da segunda
fase conseguiriam obter os votos; QUE os votos vinham de alguns membros africanos e atletas
eleitores do COI; QUE NUZMAN e GRYNER garantiram que SERGUEI BUBKA recebeu
propina; QUE o russo ALEXANDER POPOV recebeu propina; QUE LEONARDO GRYNER era
quem tratava com DIACK; QUE LEONARDO GRYNER tratava com ARTHUR SOARES; QUE
LEONARDO GRYNER e CARLOS NUZMAN repassavam informações ao interrogado; QUE
ARTHUR SOARES nunca pediu nada e que não houve contrapartida; QUE ARTHUR SOARES
só realizou débito no crédito do interrogado; QUE foi convidado pelo COI a participar dos
Jogos Olímpicos como membro do Comitê Olímpico Internacional; QUE houve dificuldade no
repasse de valores a PAPA DIACK; QUE LEONARDO GRYNER reportava as cobranças de
PAPA DIACK ao interrogado por e-mail e telefone; QUE o interrogado não sabe dizer quantos
votos foram garantidos pelos DIACK na primeira fase; QUE o interrogado não queria ficar em
dúvida e decidiu comprar os votos; QUE o interrogado tinha certeza que após a primeira fase, a
política desenvolvida teria resultados; QUE membros do COI que apoiavam outras cidades
diziam ao interrogado que seus segundos votos era do Rio; QUE não sabe a forma como o
dinheiro foi transferido pelas empresas de ARTHUR SOARES para a empresa ou o próprio PAPA
DIACK; QUE sabe que ARTHUR SOARES utilizou contas no exterior; QUE houve um
questionamento por parte de banco vinculado a ARTHUR SOARES acerca de simulação de
contrato com PAPA DIACK; QUE foram utilizados contratos fictícios para pagamento de
propina; QUE o interrogado não tem mais créditos com ARTHUR SOARES; QUE ARTHUR
SOARES delegou para os irmãos CHEBAR a administração dos recursos pertencentes ao
interrogado; QUE isso ocorreu mediante conta criada no banco EVG; QUE foram transferidos
USD 10.000.000,00 (dez milhões de dólares) ao banco EVG; QUE esse era o valor que o
requerente possuía com ARTHUR SOARES; QUE os CHEBAR tinham conta em
LUXEMBURGO; QUE os  CHEBAR falavam em GENEBRA, LIECHTENSTEIN e
LUXEMBURGO; QUE só tinha contas com os irmãos CHEBAR, com exceção da conta que
possuía no Israel Discount Bank, a qual foi transferida para os irmãos CHEBAR;  Que ficou
preso junto a CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER em Benfica; Que chegaram a
conversar formalmente sobre o assunto da ação penal; Que era uma conversa de quem quer
fugir da verdade; Que NUZMAN dizia que ia negar tudo e LEO GRYNER dizia para o
interrogado, como já disse aqui, que era um patrocínio; Que LEO GRYNER veio com essa
história de que era um patrocínio, que foi solicitado e tudo mais; Que essa versão ficou
combinada lá em Benfica a pedido do LEO GRYNER para ele, que disse que ia falar  (…)”

Argumentam as Defesas de CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER que,


diante da votação expressiva do Rio de Janeiro para se tornar a cidade-sede das Olimpíadas
comprovaria a ausência de necessidade de compra de votos, portanto, não haveria crime. 

Não assiste razão às Defesas.

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A compra de votos, de acordo com a documentação constante dos autos, ocorreu
durante a primeira fase de votação, ocasião em que não havia garantia de que o Rio de Janeiro
seria a cidade vencedora. O Ministério Público Federal apurou que, na primeira rodada de
votação, o Rio de Janeiro avançou com apenas 6 votos de diferença em relação a Chicago. 

De acordo com SÉRGIO CABRAL:

(...) QUE NUZMAN agendou várias reuniões bilaterais com membros do  QUE membros do COI
disseram que não votariam no Rio de Janeiro na primeira volta, mas que o fariam em uma
eventual segunda volta; QUE estava inseguro pela primeira volta de votação;  QUE após um
evento em Roma, no início de agosto, recebeu ligação de CARLOS NUZMAN perguntando se
poderia recebê-lo em caráter de urgência; QUE NUZMAN chegou com seu executivo de
marketing, LEONARDO GRYNER; QUE os dois disseram ao interrogado que LAMINE DIACK
se abriria para vantagens indevidas; QUE GRYNER fez contato com o filho de LAMINE, que
falava em nome dele; QUE haveria uma garantia de 5 (cinco) a 6 (seis) votos; QUE LAMINE e
seu filho queriam $ 1.500.000,00 (um milhão e meio de dólares); QUE NUZMAN garantiu que
ele venderia estes votos e que não os comprar seria o risco de não passar para a segunda fase;
QUE NUZMAN disse que a partir da segunda fase conseguiriam obter os votos.”

De modo a corroborar as afirmações contidas na denúncia, o MPF verificou a


existência de  reuniões marcadas entre CARLOS NUZMAN e LAMINE DIACK, bem
como o número telefônico e dados pessoais de LAMINE DIACK na agenda telefônica de
NUZMAN.

Além do que, restou evidente a proximidade entre os denunciados diante de


viagens efetuadas para o exterior em datas semelhantes, também a confirmar os fatos contidos
na denúncia. 

Os réus  CARLOS NUZMAN  e  SÉRGIO CABRAL  viajaram para o exterior


com mesmo destino e em diversas datas. Além do que, CARLOS NUZMAN e ARTHUR
SOARES também viajaram para o exterior com o mesmo destino em 6 oportunidades, todas no
ano de 2009.

Assim, de acordo com as provas contidas nos autos, é possível concluir que, na
semana de 4 a 10/8/2009,NUZMAN  e  GRYNER  encontram-se com  SÉRGIO CABRAL,  nos
termos afirmados pelo próprio CABRAL,  e acertam o pagamento a  LAMINE DIACK.  Em
seguida, já em Berlim,  NUZMAN,  GRYNER  e  CABRAL acertaram pessoalmente com
LAMINE DIACK a compra de votos para a eleição da cidade-sede para os Jogos Olímpicos de
2016. 

A Defesa de CARLOS NUZMAN sustenta, no mérito, que não houve crime de


corrupção praticado pelo defendente, tendo em vista que não recebeu valores indevidos para si.
O que é, inclusive, afirmado pelo corréu SERGIO CABRAL em seu interrogatório:

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“DEFESA DE CARLOS ARTHUR NUZMAN: Tenho algumas perguntas. O senhor falou um
pouco sobre o período após a candidatura, algumas obras públicas foram realizadas. Eu queria
saber do senhor se em algum momento o Nuzman recebeu algum tipo de vantagem indevida,
de propina?  O senhor deu dinheiro para ele após a organização das Olimpíadas? Ele
pessoalmente, pessoa física... 

SÉRGIO CABRAL: JAMAIS. NUNCA.

DEFESA DE CARLOS ARTHUR NUZMAN: Ele

recebeu dinheiro do senhor? 

SÉRGIO CABRAL: Não. Nunca. 

DEFESA DE CARLOS ARTHUR NUZMAN: A denúncia aqui fala que o senhor Nuzman, ele
mantinha algumas barras de ouro no exterior, isso quando ele esteve aqui ele explicou, que eram
recursos que ele já tinha desde a década de oitenta e que ele tinha isso nos bancos, mas próximo
as Olimpíadas foi determinado a ele que fechasse a conta, um advogado tributarista recomendou
que ele colocasse esse dinheiro em barras de ouro, porque era um valor seguro, enfim. O senhor
algum dia entregou essas barras de ouro para ele? DEU DINHEIRO PARA ELE? 

SÉRGIO CABRAL: Nunca.”

Não merece prosperar a tese da defesa.

O tipo penal previsto no art. 317 do Código Penal tipifica a conduta de quem
solicita ou recebe direta ou indiretamente vantagens indevidas tanto para si, quanto para
outrem. No caso em questão, a solicitação de vantagens indevidas ocorreu para pessoas diversas
do condenado CARLOS ARTHUR SOARES, com a finalidade de tornar a cidade do Rio de
Janeiro a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

A Defesa de CARLOS ARTHUR NUZMAN trouxe aos autos ainda o depoimento


de testemunhas arroladas pela Defesa,  LASSANA PALENFO  E  NAWAL EL
MOUTAWAKEL  membros do Comitê Olímpico Africano, que afirmaram desconhecer o
esquema de pagamento de propina em troca de votos. As duas testemunhas afirmaram que a
votação é feita de forma individual e que, somente, ao final é possível saber em qual cidade
cada integrante votou.

Além do que, a Defesa de CARLOS NUZMAN trouxe aos autos trechos do


depoimento prestado pelo ex-Presidente LUIZ INACIO LULA DA SILVA, na qualidade de
testemunha, em que afirma que não houve troca de favores entre a delegação brasileira e
dirigentes africanos, esclarecendo que havia uma longa relação de proximidade entre Brasil e
África que teriam assegurado os votos africanos no Brasil. Transcrevo:

“MINISTÉRIO PÚBLICO: O senhor afirmou que nessa reunião que teve com a delegação
africana, o senhor conversou com os africanos dizendo o seguinte é necessário que eles
apoiassem a candidatura brasileira porque me algum momento poderia ter a realização das
olimpíadas também em algum país do continente africano. O senhor... houve alguma tentativa de
troca de favores nessa reunião? 

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LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: NÃO TEVE TROCA. MINISTÉRIO PÚBLICO: Em troca
de apoio à candidatura brasileira? O Brasil apoiaria a candidatura africana? 

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: Veja, A ÁFRICA APOIAR O BRASIL ERA QUASE QUE
UMA COISA ÓBVIA. Presta atenção numa coisa, Procuradora, o Brasil era o país mais
próximo da África. Eu era considerado primeiro presidente negro da África, eu viajei 34 vezes
para África, visitei 29 países na África, abri 19 embaixadas na África, levei Embrapa pra
África, sabe... isso dava aos africanos quase que uma irmandade com o Brasil e sempre foi
assim. Acabei de falar, o Brasil não tem contencioso, então, eu brigava para que os continentes
pobres tivessem direito de sediar olimpíadas. Porque se a gente não brigar, se os países do
terceiro mundo não se unificar pra ser... a África nunca vai ser porque a África tem muito negro,
tem muito pobre e eu acho que deveria ter no Brasil, deveria ter na África, poderia... a mesma
briga que eu fiz para as olímpiadas, eu fiz para o conselho de segurança na ONU, porque que a
África não pode ter um representante no conselho de segurança? Então... eu trabalhei e vou
trabalhar se a África um dia concorrer... África não porque tem que ser um país não pode ser um
continente, pode estar certo que se eu estiver de bengala, eu vou... aonde tiver influência, eu vou
pedir um votozinho pra África ser sede das olimpíadas.”

No entanto, tais depoimentos não são suficientes para comprovar que o esquema
não existiu, mas tão somente que essas pessoas não tinham conhecimento da existência do
esquema criminoso, que se encontra fartamente comprovado pelas demais provas colacionadas
aos autos.

De acordo com o MPF,  CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER  ainda


agiram na condição de servidores públicos por equiparação.  CARLOS NUZMAN ocupava  o
cargo de presidente de uma das Organizações Desportivas mais relevantes do país por mais de
22 anos;  e  LEONARDO GRYNER,  por sua vez,  recebeu do COMITÊ OLÍMPICO
BRASILEIRO,  no ano de 2009,  um total de R$ 691.432,00 (seiscentos e noventa e um mil,
quatrocentos e trinta e dois reais) em “rendimento do trabalho assalariado”, conforme consta de
sua declaração de imposto de renda, possuindo indubitável vínculo trabalhista com o COMITÊ
OLÍMPICO BRASILEIRO no ano de 2009. 

Narra o Parquet que, com a realização dos Jogos Olímpicos de 2016 na cidade do


Rio de Janeiro, verbas de origem pública, inclusive federal, foram direcionadas ao COMITÊ
OLÍMPICO BRASILEIRO com objetivo de viabilizar a candidatura da cidade e a posterior
realização do evento, conforme exemplificam tabelas contendo comprovantes de convênios
firmados entre o MINISTÉRIO DOS ESPORTES e o COB, conforme documentação acostada
na ação penal.

A  Defesa de CARLOS NUZMAN sustenta que a Comitê Olímpico seria


organização privada e que os repasses de verbas públicas seriam contratos de patrocínio, que
não descaracterizariam a natureza privada da instituição. 

Não merece prosperar a pretensão da Defesa.

De fato, as entidades desportivas, nos termos do art. 217, I da Constituição da


República, gozam de autonomia organizacional e operacional, no entanto, tal comando não
significa a impossibilidade do Estado intervir no ramo de atuação de tais instituições.

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Assim,  a  instituição do COMITÊ GESTOR DOS JOGOS OLÍMPICOS E
PARALÍMPICOS DE 2016, por força do Decreto de 13 de setembro de 2012, posteriormente
revogado pelo Decreto 9.512/18,  bem como a criação das AUTORIDADES PÚBLICAS
OLÍMPICAS (APO) pela lei 12.396/11, consórcio público firmado entre Governo Federal,
Estado e Município do Rio de Janeiro,  não tem condão de afastar o caráter público das
funções exercidas pelo COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO.

Além do que,  CARLOS NUZMAN gozou de prerrogativa conferida a seletos


funcionários públicos, cujos cargos possuem relevante importância ao interesse nacional, dentre
eles membros do Congresso Nacional e o próprio Presidente da República. Assim, nos termos
do  §3º  do artigo 6º  do Decreto 5.978/06,  o que demonstra ocaráter público da atividade
exercida pelo Presidente do COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO.

Desta forma,  a  figura de Presidente do COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO e


demais dirigentes que em seu nome estejam a agir, enquadram-se no conceito de  funcionário
público por equiparação  na medida em que trabalham para  empresa prestadora de serviço
conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.

Além do que, houve repasse de verbas públicas oriundas do Município do Rio de


Janeiro,  através da  celebração de CONVÊNIO com o Comitê Olímpio RIO 2016, em que o
Município se comprometeu a repassar para a RIO 2016 o valor de até R$ 150.000.000,00 (cento
e cinquenta milhões de reais) para despesas de infraestrutura do evento, para os Jogos
Olímpicos de 2016. 

Houve ainda  a celebração de convênios entre  União e o COB com  repasses de


verba pública federal para a campanha de candidatura do Rio de Janeiro como cidade-sede dos
Jogos Olímpicos 2016.  A própria Lei 12.035/2009 vincula a União à garantia de
investimentos em toda a infraestrutura exigida pelo COI para a realização dos
Jogos. Foram feitos ainda repasses da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e da PETROBRÁS
para a realização dos Jogos, o que é reconhecido,  inclusive,  em mensagens trocadas entre os
próprios denunciados.

Desta forma, o artigo 327 do Código Penal, e §1º, também vinculam diretamente


os acusados CARLOS ARTHUR NUZMAN e LEONARDO GRYNER ao crime funcional
imputado.

Portanto, diante do farto conjunto probatório constante dos autos, composto por
declarações dos colaboradores,  depoimentos das testemunhas,  corroboradas por  e-mails e
mensagens trocadas entre os acusados, além de documentos enviados por Bancos localizados
no exterior,  considero que o tipo legal reportado no  artigo  317  do Código Penal
(corrupção  passiva) se encontra devidamente configurado  em relação a SÉRGIO
CABRAL, CARLOS ARTHUR NUZMAN e LEONARDO GRYNER.

Em consequência das vantagens recebidas, nos moldes expostos


anteriormente,  CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER,   praticaram  atos de ofício
infringindo dever funcional.

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Narra o MPF que, à época da solicitação e da aceitação da promessa de vantagem
indevida, ARTHUR SOARES, era um dos maiores contratados pelo Estado na área de prestação
de serviços. Em 2009, ano em que atendeu ao pedido de  SÉRGIO CABRAL, CARLOS
NUZMAN e LEONARDO GRYNER, foi beneficiado com dezenas de contratos firmados com
o Rio de Janeiro, dependendo de atos de ofício direta ou indiretamente a cargo do então
Governador.

Em que pese não haver um ato de ofício praticado que corresponda a cada
pagamento realizado, é possível afirmar que os valores ilícitos visavam uma “boa vontade” na
concessão de contratos ao empresário ARTHUR SOARES.

De acordo com SÉRGIO CABRAL:

“Que quando questionado se o projeto Olímpico criou oportunidade para contratações que
geraram vantagens indevidas, respondeu que sim, porque as obras foram feitas, e como havia
essa relação indevida com as empresas, a realização de obras promoveu vantagens indevidas em
contratos; Que cita como exemplo o contrato do Maracanã, mas que o Maracanã nem tanto, pois
já estava pronto para a Copa do Mundo, mas que o metrô, que foi uma importante obra para o
Estado; Que este teve vantagens indevidas, que nas obras do BRT, embora o  interrogado  não
tenha participado, sabe que houve vantagens indevidas;  Que em todas as obras relativas à
infraestrutura necessária houve pagamento de vantagens indevidas”

Além do que, foi possível identificar  que a empresa LSH BARRA


EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S.A,  que tem como sócio ARTHUR
SOARES,  recebeu efetivamente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio 2016 o
valor de R$ 3.835.992,23 (três milhões, oitocentos e trinta e cinco mil, novecentos e noventa
e dois reais e vinte e três centavos) a título de reservas para o período dos Jogos Olímpicos
Rio 2016 no hotel que seria construído (Trump Hotel). 

No contrato firmado entre o COMITÊ ORGANIZADOR DO RIO DE JANEIRO


2016  e a empresa LSH BARRA havia a previsão de multa no caso de descumprimento do
contrato equivalente a “um por cento sobre o valor dos Quartos Reservados para os Jogos”.

No entanto, em que pese o hotel LSH BARRA (Trump Hotel) não ter ficado
pronto a tempo dos Jogos Olímpicos, não houve a imposição da multa prevista em contrato,
ocasião em que o COI-2016 e a LSH BARRA acertaram um acordo para o não pagamento da
multa prevista, além do desconto no valor que a empresa deveria para ao COI-2016 no
percentual de 30% (trinta por cento) do valor acordado inicialmente.

Em consequência desta operação e diversas outras, o COMITÊ ORGANIZADOR


DOS JOGOS RIO 2016 encontra-se inadimplente com uma dívida de aproximadamente R$
100.000.000,00 (cem milhões de reais) com fornecedores,  que deverá ser  arcada
pela  União,  pelo  Estado do Rio de Janeiro e  pelo  Município do Rio de Janeiro, conforme
previsto contida no HOST CITY CONTRACT firmado com o COMITÊ OLÍMPICO
INTERNACIONAL.

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Ainda que não se possa dizer que para o pagamento tenha correspondido um ato
de ofício específico, é correto concluir que a prática desses atos funcionais, sobretudo os que
foram descritos na denúncia, ocorreram com desvio de finalidade, já que pautados pelo efetivo
recebimento de indevida vantagem econômica, o que  é suficiente para configurar a
qualificadora prevista no artigo 317, § 1º do Código Penal.

III.3 Do crime de pertinência à organização criminosa (FATO 03)

No que tange ao  FATO  03, a acusação imputa a  CARLOS ARTHUR


NUZMAN e LEONARDO GRYNER  a prática do crime de integrar organização criminosa,
nos seguintes termos:

“Pelo menos entre agosto de 2009 e 05 de outubro de 2017, CARLOS ARTHUR


NUZMAN e LEONARDO GRYNER, além de outras pessoas (ou já denunciadas por
integrarem a mesma organização criminosa, ou ainda a serem processadas), de modo
consciente, voluntário, estável e em comunhão de vontades, promoveram, constituíram,
financiaram e integraram, pessoalmente, uma organização criminosa que tinha por finalidade
a prática de, entre outros, crimes de corrupção ativa, corrupção passiva e peculato, em
detrimento do Estado do Rio de Janeiro, COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO e o COMITÊ
ORGANIZADOR DOS JOGOS RIO 2016, bem como a lavagem dos recursos financeiros
auferidos desses crimes  (Pertinência a Organização Criminosa/Art. 2o, § 4o, II, da Lei
12.850/2013 – FATO 3)”

A Lei nº 12.850/ 2012, em seu art. 1º, § 1º, define organização da seguinte forma:
“Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente,
com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que
sejam de caráter transnacional.”

Tem-se, pois, que para configuração de organização criminosa, é necessária, em


síntese, a conjugação dos seguintes elementos:  (i)  associação de mais de quatro
pessoas;  (ii)  estrutura ordenada;  (iii)  divisão de tarefas;  (iv)  intento de obter vantagem de
qualquer natureza; (v) a prática de infrações penais máximas cuja pena seja maior que quatro
anos ou de caráter transnacional.

No caso dos autos, todos os elementos encontram-se presentes, senão vejamos:

Segundo a denúncia, a atividade criminosa ocorria por meio de ações coordenadas


e articuladas, que se protraíram ao longo de mais de oito anos, com divisão de tarefas e
estrutura hierárquica escalonada, a caracterizar mais um ramo da poderosa e nodal organização
criminosa que se instalou no Estado do Rio de Janeiro durante o Governo de SÉRGIO
CABRAL, com a finalidade de praticar crimes de corrupção ativa e passiva, cujas penas
máximas são superiores a 4 anos.

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Narra a denúncia que CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER atuaram
juntamente aos demais integrantes da organização criminosa para atingirem o objetivo comum,
que era a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, e que traria – e
efetivamente trouxe – grande volume de investimentos nas esferas pública e privada para o
Estado do Rio de Janeiro,  potencializando os ganhos dos integrantes da organização
criminosa.

Ressalte-se que, embora a associação criminosa objeto dos autos tenha se iniciado
antes de 2013, ano em que entrou m vigor a Lei 12.850/13, que previu o crime de Organização
Criminosa, inexiste embaraço para sua tipificação aos réus da ação penal sob análise, dada a
natureza permanente o referido delito e a sua consumação ao menos até outubro de 2017.

Dito isso, vê-se que, com o aprofundamento das investigações, foi possível
estabelecer os contornos de uma organização criminosa complexa, em que os agentes
envolvidos possuíam estrutura sólida, com tarefas definidas aos integrantes e com a finalidade
específica de praticar crimes.

SÉRGIO CABRAL solicitou e aceitou promessa de ARTHUR SOARES quanto


ao pagamento de vantagem indevida a PAPA/LAMINE DIACK, no intuito de garantir votos
africanos favoráveis ao Rio de Janeiro na escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016,  por
intermédio de CARLOS NUZMAN e LEONARDO GRYNER.

Já  LEONARDO GRYNER  e  CARLOS ARTHUR NUZMAN, em comum


acordo com SÉRGIO CABRAL, foram os responsáveis por indicar a quem deveria ser feito o
pagamento, no caso, o dirigente africano LAMINE DIACK e seu filho, a PAPA DIACK. É de
se registrar que foi  SÉRGIO CABRAL  quem apresentou  ARTHUR
SOARES  a  LEONARDO GRYNER, em Paris, dias antes da votação em Copenhague
(descrito no item 4.2). Além de fazerem a aproximação das pontas,  CARLOS
NUZMAN  e  LEONARDO GRYNER  tambémgerenciaram e fizeram a intermediação do
efetivo pagamento de valores a PAPA DIACK.

ARTHUR SOARES  prometeu realizar o pagamento a  PAPA  e  LAMINE


DIACK, oferecendo a  SÉRGIO CABRAL  como vantagem indevida a capitalização política
necessária não para apenas buscar a reeleição, como também buscar investimentos público e
privado para multiplicar os contratos de obras públicas e serviços firmados entre o Estado do
Rio de Janeiro e agentes privados, e, assim, viabilizar a cobrança e pagamento de mais propina
à organização criminosa corrupta instalada no Governo CABRAL.

Além do que, nos últimos 10 anos de presidência do COB,  CARLOS


NUZMAN  ampliou seu patrimônio em 457%, não havendo indicação clara de
seus rendimentos, possuindo, inclusive, parte de seu patrimônio oculto na Suíça. 

Portanto, impõe-se a condenação de  CARLOS ARTHUR NUZMAN e


LEONARDO GRYNER, pela prática do crime previsto no art. 2º, § 4º, II da Lei 12.850/13.

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II.2.3 Dos atos de lavagem de ativos e evasão e divisas envolvendo CARLOS
ARTHUR NUZMAN (FATO 04 e 05)

Em relação ao FATO 04 , narra a denúncia que, entre o período de julho de 2014


e setembro de 2017,  CARLOS ARTHUR NUZMAN, de modo consciente e voluntário,
ocultou e dissimulou a propriedade e a origem de 16 quilos de ouro, no valor de R$
1.495.437,63, provenientes de crimes de corrupção, organização criminosa e peculato, por meio
de aquisição e manutenção não declarada desses ativos em cofre na Suíça, bem como por
promover a sua conversão em ativos lícitos, entre os dias 15 e 20 de setembro de 2017,
mediante retificação de suas declarações de imposto de renda dos anos de 2015, 2016 e 2017,
para a inclusão desses bens sob a justificativa de terem sido adquiridos com economias
próprias, nos termos do art. 1o, caput, c/c §1o, I, ambos da Lei no 9.613/98, na forma do art. 71
do Código Penal.

Já em relação ao FATO 05, narra a denúncia que,  entre os anos de 2014 e


2016,  CARLOS ARTHUR NUZMAN, de modo consciente e voluntário, manteve,
depositadas em cofre na Suíça, divisas não declaradas à repartição federal competente,
correspondentes a 16 quilos de ouro, no valor de R$ 1.495.437,63,  incorrendo no crime
de evasão de Divisas, previsto no art. 22, parágrafo único, segunda parte, da Lei 7.492/86.

De acordo com o MPF,  a compra dos votos para a eleição do Rio de Janeiro como
cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 multiplicou exponencialmente o repasse de recursos
públicos para o Comitê Olímpico Brasileiro e para o Comitê Organizador dos Jogos, e,
consequentemente, o orçamento sob a gestão de  CARLOS ARTHUR NUZMAN, na
qualidade de Presidente das referidas entidades. 

Além disso, no período de 2007 a 2017, ou seja, nos últimos 10 dos 22 anos de
presidência do COB,  CARLOS NUZMAN  ampliou seu patrimônio em 457%, não havendo
indicação clara de seus rendimentos. 

Em diligência empreendida com a deflagração da Operação Unfair Play, em


05/09/2017, foi descoberto que  CARLOS ARTHUR NUZMAN  mantinha cofre na Suíça,
conforme chave e cartão apreendidos em sua residência. Alguns dias depois, o ora denunciado
promoveu a retificação de suas declarações de imposto de renda dos anos de 2015, 2016 e
2017, para incluir, dentre seus bens, 16 quilos de ouro, no valor de R$ 1.495.437,63, guardados
no referido cofre na Suíça. 

É cediço que o crime de "lavagem" de dinheiro é apurado de forma autônoma em


relação ao crime antecedente, até porque são distintos os bens jurídicos tutelados. É o que se
depreende da leitura do art. 2º, II, da Lei nº 9.613/98. Assim, segundo entendimento dos
Tribunais Superiores, a simples existência de indícios da prática de "infração penal", por si só,
autoriza o processo para apurar a ocorrência do delito de lavagem de dinheiro.

No caso dos autos, como demonstrado anteriormente, há mais do que indícios da


prática do crime antecedente.

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Conforme demonstrado anteriormente, houve o cometimento do crime de


corrupção passiva  e pertinência à organização criminosa, com a  consequente necessidade
de tornar lícito os valores oriundos do esquema criminoso.

Registre-se ainda que os crimes de lavagem de ativos imputados ao réu CARLOS


NUZMAN foram consumados após 10/07/2012, logo, sofrem a incidência da Lei 12.683/2012,
que aboliu o rol de crimes antecedentes.

Ainda que assim não fosse, no caso em questão, existem provas robustas de
crimes antecedentes de corrupção passiva (art. 317, do CP) e de pertinência a organização
criminosa (art. 2o da Lei 12.850/2013), ora imputados a CARLOS NUZMAN.

Quanto ao crime de Evasão de Divisas,  narra o MPF que  CARLOS


NUZMAN  utilizou  os recursos provenientes dos ilícitos para adquirir, em julho de 2014, 16
barras de ouro, com peso de 1kg cada uma, em valor total declarado de USD 678.080,00 ou R$
1.495.437,63, com o intuito de distanciar os ativos ilícitos de sua origem criminosa. Esses
ativos foram mantidos ocultos em cofre na cidade de Genebra, na Suíça, até o dia 20/09/2017. 

No dia 05/09/2017, foi apreendida na residência de  CARLOS NUZMAN  uma


chave  correspondente ao referido cofre, guardada junto a cartões de visita de agentes que
trabalham com “serviço de locação”: 

Após a realização das diligências de busca e apreensão em sua residência,


NUZMAN buscou regularizar sua situação e dar aparência de licitude aos ativos provenientes
de crimes, mediante a apresentação de retificação das Declarações de Imposto de Renda Pessoa
Física dos anos de 2015, 2016 e 2017, promovida entre os dias 15 e 20/09/2017. 

A retificação foi feita para incluir valores em espécie,  justamente aqueles


apreendidos na residência de  CARLOS NUZMAN  na deflagração da Operação Unfair Play,
bem como 16 barras de ouro de 1kg cada, depositadas na suíça.

Ou seja, a retificação realizada em 20/09/2017 foi feita apenas para tentar conferir


aparência de transparência e licitude aos bens que estavam  ocultos  na Suíça e que seriam,
necessariamente, alcançados pelas investigações, por meio de cooperação internacional. 

Em razão do exposto, foi realizado pedido de cooperação jurídica internacional


para obtenção de medidas cautelares e informações financeiras a respeito de CARLOS
NUZMAN no Banco SOCIETE GENERALE PRIVATE BANKING S/A e no BANQUE
LOMBARD ODIER E CIA S/A e para identificar a existência de cofre para depósito de
bens e valores, a fim de subsidiar as investigações no Brasil.

Mediante a cooperação jurídica internacional, foi possível obter novas


informações das autoridades suíças, que encontraram 13 (treze) barras de ouro de 01 (um) quilo
e 02 (dois) envelopes contendo aproximadamente USD 36,000.00 (trinta e seis mil dólares) em
espécie.

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Assim, constatou-se que das 16 barras de ouro de 1kg cada, depositadas na Suíça,
declaradas à Receita Federal do Brasil, apenas 13  barras de ouro  foram localizadas, além de
USD 36,000.00 (trinta e seis mil dólares) em espécie. 

Dessa forma, entre os anos de 2014 e 2016,  CARLOS ARTHUR NUZMAN,


manteve, depositadas em cofre na Suíça, divisas não declaradas à repartição federal
competente, consistentes em 16 quilos de ouro em barras, no valor de USD 678.080,00. 

Logo, CARLOS ARTHUR NUZMAN, de modo consciente e voluntário, ocultou


e dissimulou a propriedade e a origem de 16 quilos de ouro, no valor de R$ 1.495.437,63,
provenientes de crimes de corrupção, organização criminosa e peculato, bem como promoveu
sua conversão em ativos lícitos, razão pela qual incorreu em atos de lavagem de dinheiro
descritos no art. 1o, caput, c/c §1o, I, ambos da Lei no 9.613/98, na forma do art. 71 do CP. 

Além disso, por manter depositadas em cofre na Suíça, entre os anos de 2014 e
2016, divisas não declaradas à repartição federal competente, consistentes em 16 quilos de ouro
em barras, no valor de USD 678.080,00, CARLOS ARTHUR NUZMAN, incorreu no tipo
previsto no art. 22, parágrafo único, segunda parte, da Lei no 7.492/86. 

É improcedente a tese de absorção do delito de evasão de divisas pelo crime de


lavagem de capitais pela aplicação do princípio da consunção ou absorção, o qual se limita a
situações de crime progressivo, progressão criminosa ou crime-meio absorvido por crime-fim, o
que não se conforma com o quadro-fático delineado nos autos. Em que pesem as alegações do
acusado, o princípio da consunção ou absorção é verificado quando a primeira infração prevista
em uma norma constitui simples fase de realização da segunda infração, estabelecida em
dispositivo diverso, devendo-se aplicar apenas a última.

Este é o teor do magistério jurisprudencial emanado do E. Tribunal Regional


Federal da 4ª Região:

“PROCESSO PENAL. EMBARGOS INFRINGENTES. CONSUNÇÃO. EVASÃO DE DIVISAS E


LAVAGEM DE DINHEIRO. INOCORRÊNCIA. 1. Há consunção quando as ações desenvolvem-
se dentro de única linha causal para o intento final (o fator final, conforme Zaffaroni), nele
esgotando seu potencial ofensivo. 2. Na ocultação de valores no exterior não se pode falar em
consunção do delito de evasão de divisas pelo de lavagem de dinheiro, pois autônoma a ofensa
ao equilíbrio financeiro, às reservas cambiais nacionais e à própria higidez de todo o Sistema
Financeiro Nacional - bens que são protegidos pela Lei nº 7.492/86 -, além de evidente o intento
de remessa e manutenção no estrangeiro de expressivos recursos financeiros à margem da
fiscalização e controle pelos órgãos oficiais. (TRF-4 - ENUL: 34212 PR 2005.70.00.034212-9,
Relator: NÉFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 01/01/2011, QUARTA SEÇÃO, Data de
Publicação: D.E. 25/02/2011).”

Por conseguinte,  impõe-se a condenação de  CARLOS ARTHUR


NUZMAN  pela prática dos crimes delavagem de ativos  e evasão e divisas,  na forma da
denúncia.

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IV. DISPOSITIVO

Do exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO, nos termos da fundamentação


acima para CONDENAR:

1.  CARLOS ARTHUR NUZMAN  à pena total de  30 (trinta) anos, 11 (onze)
meses e 8 (oito) diasde reclusão e pagamento de 1344 (mil trezentos e quarenta e quatro)
dias-multa,  pela prática dos crimes previstos no art. 317, caput e § 1o c/c os §§ 1o e 2o do
art. 327; art. 2o, caput, c/c § 4o, II, do mesmo art. 2o, ambos da Lei 12.850/2013; e art. 1o,
caput, c/c §1o, I, ambos da Lei no 9.613/98, na forma do art. 71 do CP, na forma descrita
abaixo;

2.  SERGIO DE OLIVEIRA CABRAL SANTOS FILHO  à pena


total de 10 (dez)  anos e 8  (oito)meses de reclusão, e  391  (trezentos e noventa e um)  dias-
multa, pela prática do crime previsto no art. 317, caput c/c art. 327, §2o, ambos do CP, na
forma descrita abaixo;

3. LEONARDO GRYNER  à pena total de 13 (treze) anos e 10 (dez) meses de


reclusão  e  625(seiscentos e vinte e cinco) dias-multa, pela prática dos crimes
previstos  no art. 317, caput e § 1o c/c os §§ 1o e 2o do art. 327; art. 2o, caput, c/c § 4o, II,
do mesmo art. 2o, ambos da Lei 12.850/2013

Passo à dosimetria das penas.

1. CARLOS ARTHUR NUZMAN

a. Crime de corrupção passiva -  art. 317, caput e § 1o c/c os §§ 1o e 2o do art.


327, todos do Código Penal

Considero as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.

A culpabilidade é elevada, pois  CARLOS ARTHUR NUZMAN foi o principal


idealizador do esquema ilícito perscrutado nestes autos e assim agiu valendo-se do alto cargo
conquistado ao longo de 22 anos como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, razão pela
qual a sua conduta deve ser valorada com maior rigor do que a de um corrupto qualquer.

Seus antecedentes não interferem na dosimetria.

A conduta social é altamente reprovável. Noto que o condenado utilizou a sua


grande influência na área pública com a finalidade de obter vantagens pessoais. O condenado
dedicou sua carreira pública para tornar o Rio de Janeiro cidade-sede das Olimpíadas, no
entanto,  apesar de tamanha responsabilidade social optou por agir contra a moralidade e o
patrimônio públicos,razão pela qual valoro em seu desfavor a conduta social.

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Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade  do
agente.

Os motivos que levaram CARLOS NUZMAN à prática criminosa são altamente


reprováveis, tendo revelado-se  pessoa gananciosa e que, apesar ter total conhecimento da
natureza criminosa de suas atividades e da gravidade dos seus atos, utilizou sua função pública
para praticar crimes.

As circunstâncias em que se deram as práticas corruptas, além de envolver altas


cifras,  revelam desprezo pelas instituições públicas,  diante do alto cargo conquistado e
utilizado para fins ilícitos.

Negativas são também as  consequências  dos crimes  de corrupção pelos


quais CARLOS NUZMAN é condenado, pois, além do prejuízo monetário causado aos cofres
do Estado do Rio de Janeiro e da União, o condenado  agiu de forma a beneficiar a si e a
terceiros que fecharam contratos milionários com o Estado do Rio de Janeiro. 

Finalmente, considero que o  comportamento do  lesado  não interfere na


dosimetria.

Presentes, portanto, tantas circunstâncias judiciais desfavoráveis, todas


extremamente negativas ao condenado, e considerando a escala penal do crime de corrupção
passiva (2 a 12 anos), fixo a pena-base  em 8 anos  de reclusão e  300  (trezentos) dias-
multa, no valor unitário de 1 (um) salário mínimo, considerando a boa situação financeira do
réu.

Agravantes e Atenuantes:

Na segunda fase do cálculo da pena, faço incidir a circunstância atenuante


prevista no artigo 65, I, do Código Penal em razão da idade do condenado, aplico a redução de
1/6  da pena-base, alcançando assim a  pena intermediária  de  6  anos e 8  meses de
reclusão e 250 dias-multa.

Reconheço ainda a agravante prevista no art. 62, I, do Código Penal, tendo em


vista que  CARLOS NUZMAN  era um dos  principais responsáveis pela promoção e
organização do esquema criminoso, dada sua posição perante o Comitê Brasileiro Olímpico e
autoridades internacionais, dirigindo e coordenando as atividades dos demais agentes,
exercendo nítido papel de líder, aumentando a pena acima aplicada em 1/3 (um terço),
alcançando a pena intermediária de 8 anos 10 meses e 20 dias de reclusão, e 333 (trezentos
e trinta e três)dias-multa.

Causas de aumento e diminuição:

Diante da causa de aumento de pena prevista no  art. 317, § 1o, do Código
Penal  (1/3), uma vez que restou comprovado que  CARLOS  NUZMAN  infringiu  dever
funcional e deixaram de praticar ato de ofício,  conforme demonstrado na fundamentação

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acima, a pena será aumentada para 11 anos 10 meses e 6 dias de reclusão, e 444(quatrocentos
e quarenta e quatro) dias-multa.

Diante da ocorrência da causa de aumento de pena prevista no parágrafo 2º do


artigo 327 do Código Penal (1/3), a  pena será aumentada  15 anos, 9 meses e 18 dias,
e 592 (trezentos e cinquenta e quatro) dias-multa.

Regime de cumprimento da pena:

Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena ser o fechado.

b. Crime de pertinência a Organização Criminosa – art. 2o, §4o, II da Lei n.º


12.850/2013

Considero as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.

A culpabilidade é elevada, pois  CARLOS ARTHUR NUZMAN foi o principal


idealizador do esquema ilícito perscrutado nestes autos e assim agiu valendo-se do alto cargo
conquistado ao longo de 22 anos como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, razão pela
qual a sua conduta deve ser valorada com maior rigor do que a de um corrupto qualquer.

Seus antecedentes não interferem na dosimetria.

A conduta social é altamente reprovável. Noto que o condenado utilizou a sua


grande influência na área pública com a finalidade de obter vantagens pessoais. O condenado
dedicou sua carreira pública para tornar o Rio de Janeiro cidade-sede das Olimpíadas, no
entanto,  apesar de tamanha responsabilidade social optou por agir contra a moralidade e o
patrimônio públicos,razão pela qual valoro em seu desfavor a conduta social.

Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade  do


agente.

Os motivos que levaram CARLOS NUZMAN à prática criminosa são altamente


reprováveis, tendo revelado-se  pessoa gananciosa e que, apesar ter total conhecimento da
natureza criminosa de suas atividades e da gravidade dos seus atos, utilizou sua função pública
para praticar crimes.

As circunstâncias em que se deram as práticas corruptas, além de envolver altas


cifras,  revelam desprezo pelas instituições públicas,  diante do alto cargo conquistado e
utilizado para fins ilícitos.

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Negativas são também as  consequências  do crime  pelo qual  CARLOS
NUZMAN é condenado,  contribuindo e favorecendo com a ampliação e aprofundamento das
práticas criminosas que vêm frustrando os interesses de toda a sociedade, prejudicando
desastrosamente os cidadãos e a coletividade, uma vez que reverbera sobre as finanças públicas,
e, consequentemente, sobre a qualidade de vida da população.

Finalmente, considero que o  comportamento do  lesado  não interfere na


dosimetria.

Assim, considerando a ocorrência de tantas circunstâncias judiciais, todas


extremamente negativas ao condenado  CARLOS ARTHUR NUZMAN, fixo a pena-base
em 6 (seis) anos de reclusão e 300(trezentos ) dias-multa.

Agravantes e atenuantes:

Na segunda fase do cálculo da pena, faço incidir a circunstância atenuante


prevista no artigo 65, I, do Código Penal em razão da idade do condenado, aplico a redução de
1/6 da pena-base, alcançando assim a pena intermediária de 5 anos de reclusão e 250 dias-
multa.

Causas de Aumento e Diminuição:

Diante da ocorrência da causa de aumento de pena prevista no parágrafo 4º do


artigo 2º, da Lei nº 12.850/2013 (concurso de funcionário público), aumento em 1/6 a pena
intermediária, fixando a pena em 5 anos e 10 meses de reclusão e 292 dias-multa, que torno
definitiva diante da ausência de causa de diminuição de pena.

Considerando a situação econômica do réu, fixo o valor do dia-multa em 1 (um)


salário mínimo vigente à época do último delito.

c. Lavagem de ativos (art. 1o, caput, c/c §1o, I, ambos da Lei no 9.613/98, na


forma do art. 71 do CP – Fato 04)

Considero as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.

A culpabilidade é elevada, pois  CARLOS ARTHUR NUZMAN foi o principal


idealizador do esquema ilícito perscrutado nestes autos e assim agiu valendo-se do alto cargo
conquistado ao longo de 22 anos como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, razão pela
qual a sua conduta deve ser valorada com maior rigor do que a de um corrupto qualquer.

Seus antecedentes não interferem na dosimetria.

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A conduta social é altamente reprovável. Noto que o condenado utilizou a sua
grande influência na área pública com a finalidade de obter vantagens pessoais. O condenado
dedicou sua carreira pública para tornar o Rio de Janeiro cidade-sede das Olimpíadas, no
entanto,  apesar de tamanha responsabilidade social optou por agir contra a moralidade e o
patrimônio públicos,razão pela qual valoro em seu desfavor a conduta social.

Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade  do


agente.

Os motivos que levaram CARLOS NUZMAN à prática criminosa são altamente


reprováveis, tendo revelado-se  pessoa gananciosa e que, apesar ter total conhecimento da
natureza criminosa de suas atividades e da gravidade dos seus atos, utilizou sua função pública
para praticar crimes.

As circunstâncias em que se deram as práticas corruptas, além de envolver altas


cifras,  revelam desprezo pelas instituições públicas,  diante do alto cargo conquistado e
utilizado para fins ilícitos.

Negativas são também as  consequências  do crime  pelo qualCARLOS


NUZMAN é condenado, contribuindo e favorecendo com a ampliação e aprofundamento das
práticas criminosas que vêm frustrando os interesses de toda a sociedade, prejudicando
desastrosamente os cidadãos e a coletividade, uma vez que reverbera sobre as finanças públicas,
e, consequentemente, sobre a qualidade de vida da população.

Finalmente, considero que o  comportamento do  lesado  não interfere na


dosimetria.

Presentes, portanto, tantas circunstâncias judiciais desfavoráveis, todas


extremamente negativas ao condenado, e considerando a escala penal do crime, fixo a pena-
base  em  5  (cinco) anos de reclusão e  250  dias-multa,  no valor unitário de 1 (um) salário
mínimo, considerando a boa situação financeira do réu.

Atenuantes e agravantes:

Na segunda fase do cálculo da pena, faço incidir a circunstância atenuante


prevista no artigo 65, I, do Código Penal em razão da idade do condenado, aplico a redução de
1/6  da pena-base, alcançando assim a  pena intermediária  de  4 anos e 2 meses  de
reclusão e 208 dias-multa.

Não há que se falar na aplicação da atenuante genérica prevista nos artigo 65, inc.
III, "b" do Código Penal, tendo em vista que o condenado não procurou, por sua espontânea
vontade, minorar as consequências do ato delitivo, pois apenas quando na iminência de uma
provável condenação procedeu à repatriação dos valores ocultos no exterior, circunstância que
descaracteriza o arrependimento posterior e a atenuante contida no art. 65, III, b, do CP.

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Causas de aumento e diminuição:

Diante da ocorrência da causa de aumento de pena prevista no artigo 1º, § 4º da


Lei nº 9.613/1998 (cometidos por intermédio de organização criminosa), aumento em 1/3 a
pena intermediária, alcançando a pena de 5 anos, 6 meses e 20 dias de reclusão e 277  dias-
multa, ao valor unitário de 1(um) salário mínimo vigente à época do último
delitoconsiderando a situação econômica do réu, pena que torno definitiva, em razão da
ausência de causas de diminuição. 

d. Pelo crime de Evasão de divisas (Art. 22, parágrafo único, segunda parte,


da Lei 7.492/86 - FATO 05)

Considero as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.

A culpabilidade é elevada, pois  CARLOS ARTHUR NUZMAN foi o principal


idealizador do esquema ilícito perscrutado nestes autos e assim agiu valendo-se do alto cargo
conquistado ao longo de 22 anos como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, razão pela
qual a sua conduta deve ser valorada com maior rigor do que a de um corrupto qualquer.

Seus antecedentes não interferem na dosimetria.

A conduta social é altamente reprovável. Noto que o condenado utilizou a sua


grande influência na área pública com a finalidade de obter vantagens pessoais. O condenado
dedicou sua carreira pública para tornar o Rio de Janeiro cidade-sede das Olimpíadas, no
entanto,  apesar de tamanha responsabilidade social optou por agir contra a moralidade e o
patrimônio públicos,razão pela qual valoro em seu desfavor a conduta social.

Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade  do


agente.

Os motivos que levaram CARLOS NUZMAN à prática criminosa são altamente


reprováveis, tendo revelado-se  pessoa gananciosa e que, apesar ter total conhecimento da
natureza criminosa de suas atividades e da gravidade dos seus atos, utilizou sua função pública
para praticar crimes.

As circunstâncias em que se deram as práticas corruptas, além de envolver altas


cifras,  revelam desprezo pelas instituições públicas,  diante do alto cargo conquistado e
utilizado para fins ilícitos.

Negativas são também as  consequências  dos crimes  de corrupção pelos


quais CARLOS NUZMAN é condenado, pois, além do prejuízo monetário causado aos cofres
do Estado do Rio de Janeiro e da União, o condenado  agiu de forma a beneficiar a si e a
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terceiros que fecharam contratos milionários com o Estado do Rio de Janeiro. 

Finalmente, considero que o  comportamento do  lesado  não interfere na


dosimetria.

Presentes, portanto, tantas circunstâncias judiciais desfavoráveis, fixo a pena-


base  em  4 anos e 6 mesesanos  de reclusão e  220  (duzentos e vinte) dias-multa,  no valor
unitário de 1 (um) salário mínimo, considerando a boa situação financeira do réu.

Atenuantes e agravantes:

Na segunda fase do cálculo da pena, faço incidir a circunstância atenuante


prevista no artigo 65, I, do Código Penal em razão da idade do condenado, aplico a redução de
1/6  da pena-base, alcançando assim a  pena intermediária  de  3 anos e 9 meses e 183 dias-
multa. 

Não há que se falar na aplicação da atenuante genérica prevista nos artigo 65, inc.
III, "b" do Código Penal, tendo em vista que o condenado não procurou, por sua espontânea
vontade, minorar as consequências do ato delitivo, pois apenas quando na iminência de uma
provável condenação procedeu à repatriação dos valores ocultos no exterior, circunstância que
descaracteriza o arrependimento posterior e a atenuante contida no art. 65, III, b, do CP.

Concurso material:

Entre os crimes de corrupção  passiva,  pertinência à organização


criminosa, lavagem de ativos e evasão de divisas há concurso material (artigo 69 do Código
Penal), motivo pelo qual as penas somadas chegam 30 (trinta) anos, 11 (onze) meses e 8 (oito)
dias  de reclusão  e pagamento  de  1344  (mil  trezentos e quarenta e quatro) dias-multa, ao
valor unitário de 1(um) salário-mínimo, que reputo definitivas para  CARLOS ARTHUR
NUZMAN.

Regime de cumprimento da pena:

Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena será o fechado.

À luz da quantidade de pena corporal aplicada, incabíveis sua substituição por


penas restritivas de direitos (art. 44, I, do CP) ou a suspensão de sua execução (art. 77 do CP).

Concedo ao condenado o direito de recorrer em liberdade desta sentença,


mantidas eventuais as medidas cautelares determinadas em superior instância pelos
fundamentos já expostos.
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2. SERGIO DE OLIVEIRA CABRAL DOS SANTOS FILHO

a. Crime de corrupção passiva - art. 317, §1º c/c art. 327, §2º

Considero as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.

A culpabilidade é elevada, pois SÉRGIO CABRAL foi o principal idealizador


dos esquemas ilícitos perscrutados nestes autos e assim agiu valendo-se da autoridade
conquistada pelo apoio de vários milhões de votos que lhe foram confiados. Mercantilizou a
função pública obtida por meio da confiança que lhe foi depositada pelos cidadãos do Estado do
Rio de Janeiro, razão pela qual a sua conduta deve ser valorada com maior rigor do que a de um
corrupto qualquer.

Seus antecedentes não interferem na dosimetria.

A  conduta social  é  altamente reprovável. Noto que o condenado, político de


grande expressão nacional, foi deputado estadual por três legislaturas subsequentes, sempre
com expressiva votação popular, inclusive ocupando a presidência da Assembleia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro – ALERJ, Senador da República por este Estado, igualmente com
expressiva votação (mais de 4 milhões de votos!), e apesar de tamanha responsabilidade social
optou por agir contra a moralidade e o patrimônio públicos, razão pela qual valoro em seu
desfavor a conduta social.

Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade  do


agente.

Os motivos  que levaram SERGIO CABRAL à prática criminosa são  altamente


reprováveis, tendo revelado-se  pessoa gananciosa e que, apesar ter total conhecimento da
natureza criminosa de suas atividades e da gravidade dos seus atos, perseverou na prática de
delitos ano após ano. Nada mais repugnante do que a ambição desmedida de um agente público
que, tendo a responsabilidade de gerir o atendimento das necessidades básicas de milhões de
cidadãos do Estado do Rio de Janeiro, opta por exigir vantagens ilícitas a empresas.

As circunstâncias em que se deram as práticas corruptas, além de envolver altas


cifras,  revelam desprezo pelas instituições públicas. Além disso, a atividade criminosa do
condenado mostrou-se apta à criação de um ambiente propício à propagação de práticas
corruptas no seio da administração pública, pelo mau exemplo vindo da maior autoridade no
âmbito do Estado.

Negativas são também as  consequências  dos crimes  de corrupção pelos


quais SÉRGIO CABRAL é condenado, pois, além do prejuízo monetário causado aos cofres
do Estado do Rio de Janeiro e da União, o condenado frustrou os interesses da sociedade em
prol dos interesses econômicos de empresários contratante do Estado do Rio de Janeiro. Eleito

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para dois mandatos consecutivos de governador do Estado do Rio de Janeiro protagonizou
gravíssimo episódio de traição eleitoral, em que se mostrou capaz de menosprezar a confiança
em si depositada por milhões de pessoas. Ainda que não se possa afirmar que o comportamento
deste condenado seja o responsável pela excepcional crise econômica vivenciada por este
estado, é indubitável que os episódios de corrupção tratados nestes autos diminuíram
significativamente a legitimidade das autoridades estaduais na busca para a solução da crise
atual.

Finalmente, considero que o  comportamento dos lesados  não interfere na


dosimetria.

Presentes, portanto, tantas circunstâncias judiciais desfavoráveis, todas


extremamente negativas ao condenado, e considerando a escala penal do crime de corrupção
passiva (2 a 12 anos), fixo a pena-base em 09(nove) anos de reclusão e 330 (trezentos) dias-
multa, no valor unitário de 1 (um) salário mínimo, considerando a boa situação financeira do
réu.

Agravantes e Atenuantes:

Na segunda fase do cálculo da pena, faço incidir a circunstância atenuante da


confissão prevista no artigo 65, III, d do Código Penal e, considerando o alcance e a efetividade
das informações prestadas, aplico a redução de 1/3 da pena-base, alcançando assim a  pena
intermediária de 6 anos de reclusão e 220 dias-multa.

Reconheço ainda a agravante prevista no art. 62, I, do Código Penal, tendo em


vista que SÉRGIO CABRAL era um dos principais responsáveis pela promoção e organização
do núcleo criminoso instalado na Administração Pública estadual, dirigindo e coordenando as
atividades dos demais agentes, exercendo nítido papel de líder, aumentando a pena acima
aplicada em 1/3 (um terço), alcançando a pena intermediária de  8  anosde reclusão,
e 293 dias-multa.

Causas de aumento e diminuição:

Diante da ocorrência da causa de aumento de pena prevista no parágrafo 2º do


artigo 327 do Código Penal (1/3), a  pena será aumentada para  10 anos e 8 meses  dias,
e 391 dias-multa, pena que torno definitiva para o crime em comento, diante da ausência de
causa de diminuição de pena.

Esclareço que deixo de aplicar os benefícios previstos da Lei 12.850/2013,


conforme requerido pela defesa do réu, tendo em vista que, a lei confere a faculdade ao
magistrado que deverá analisar as circunstâncias do caso concreto e decidir se aplica ou não o
benefício previsto.

Desta forma, em se tratando de faculdade conferida ao magistrado, em atenção ao


princípio do livre convencimento motivado, analisei as circunstâncias do caso e não vislumbrei
a possibilidade de aplicação do perdão judicial, da substituição ou redução da pena, na forma do
art. 4º, §2º, da Lei nº. 12.850/2013.

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Regime de cumprimento da pena:

Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena ser o fechado.

Acordo de Colaboração Premiada:

Saliente-se que, nos autos da Pet. 8.482, o Supremo Tribunal Federal, por maioria,
decidiu invalidar o acordo de colaboração premiada firmado entre o acusado SERGIO
CABRAL DOS SANTOS FILHO e a autoridade policial.  Na ocasião, o STF decidiu pela
impossibilidade de a Polícia Federal firmar acordo de colaboração premiada sem a anuência do
MPF.

3. LEONARDO GRYNER

a. Crime de corrupção passiva - art. 317, §1º c/c art. 327, §2º, do CP

Considero as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.

A  culpabilidade  é elevada, pois  LEONARDO GRYNER  foi  um dos


articuladores  na qualidade de diretor de operações e marketing do COMITÊ OLÍMPICO
BRASILEIRO, foi essencial para a realização do esquema criminoso, mantendo contato direto
com os dirigentes africanos que recebem as vantagens indevidas, em que pese ter
pleno  discernimento quanto à ilicitude das condutas praticadas para benefício próprio e da
organização criminosa liderada pelo então Governador SÉRGIO CABRAL.

Seus antecedentes não interferem na dosimetria.

A  conduta social  é  altamente reprovável. Noto que o condenado, possui


excelente acadêmica e qualificação,  ocupando alto cargo público perante o Comitê Olímpico
Brasileiro, tendo plenas condições, portanto, de não perceber a gravidade de suas condutas.

Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade  do


agente.

Os  motivos  que levaram  LEONARDO GRYNER  à prática criminosa


são  altamente reprováveis, tendo revelado-se  pessoa gananciosa e que, apesar ter total
conhecimento da natureza criminosa de suas atividades e da gravidade dos seus
atos, perseverou na prática ilícita com o objetivo de auferir vantagem indevida para terceiros.

As circunstâncias em que se deram as práticas corruptas, além de envolver altas


cifras,  com a finalidade de garantir a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro,
objetivando superfaturar os contratos que seriam celebrados com empresários do setor, em
detrimento do interesse público.

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Negativas são também as consequências dos crimes pelos quais LEONARDO
GRYNER é condenado, pois, além do prejuízo monetário causado aos cofres do Estado do Rio
de Janeiro e da União, o condenado agiu de forma a beneficiar a si e a terceiros que fecharam
contratos milionários com o Estado do Rio de Janeiro. 

Finalmente, considero que o  comportamento do  lesado  não interfere na


dosimetria.

Presentes, portanto, tantas circunstâncias judiciais desfavoráveis, todas


extremamente negativas ao condenado, e considerando a escala penal do crime de corrupção
passiva (2 a 12 anos), fixo a pena-base em 6(seis) anos de reclusão e 250 dias-multa, no valor
unitário de 1 (um) salário mínimo, considerando a boa situação financeira do réu.

Agravantes e Atenuantes:

Não há agravantes e atenuantes a serem considerados.

Causas de aumento e diminuição:

Diante da ocorrência da causa de aumento de pena prevista no parágrafo 2º do


artigo 327 do Código Penal (1/3), a  pena será aumentada  8 anos  de reclusão, e  333  dias-
multa, pena que torno definitiva.

Regime de cumprimento da pena:

Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena ser o fechado.

b. Crime de pertinência a Organização Criminosa – art. 2o, §4o, II da Lei n.º


12.850/2013

Considero as circunstâncias judiciais do artigo 59 do Código Penal.

A  culpabilidade  é elevada, pois  LEONARDO GRYNER ocupou altos postos


perante o  Comitê Olímpico Brasileiro,  razão pela qual a sua conduta deve ser valorada com
maior rigor do que a de um corrupto qualquer.

Seus antecedentes não interferem na dosimetria.

A conduta social é altamente reprovável. Noto que o condenado utilizou a seu


cargo público  com a finalidade de obter vantagens pessoais,razão pela qual valoro em seu
desfavor a conduta social.

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Não há relatórios psicossociais a autorizarem a negativação da personalidade  do
agente.

Os  motivos  que levaram  LEONARGO GRYNER  à prática criminosa


são  altamente reprováveis, tendo revelado-se  pessoa gananciosa e que, apesar ter total
conhecimento da natureza criminosa de suas atividades e da gravidade dos seus atos, utilizou
sua função pública para praticar crimes.

As circunstâncias em que se deram as práticas corruptas, além de envolver altas


cifras,  revelam desprezo pelas instituições públicas,  diante do alto cargo conquistado e
utilizado para fins ilícitos.

Negativas são também as  consequências  do crime  pelo qual  LEONARDO


GRYNER  é condenado,  contribuindo e favorecendo com a ampliação e aprofundamento das
práticas criminosas que vêm frustrando os interesses de toda a sociedade, prejudicando
desastrosamente os cidadãos e a coletividade, uma vez que reverbera sobre as finanças públicas,
e, consequentemente, sobre a qualidade de vida da população.

Finalmente, considero que o  comportamento do  lesado  não interfere na


dosimetria.

Assim, considerando a ocorrência de tantas circunstâncias judiciais, todas


extremamente negativas ao condenado LEONARDO GRYNER, fixo a pena-base em 5 (cinco)
anos de reclusão e 250 dias-multa.

Agravantes e atenuantes:

Não há agravantes e atenuantes.

Causas de Aumento e Diminuição:

Diante da ocorrência da causa de aumento de pena prevista no parágrafo 4º do


artigo 2º, da Lei nº 12.850/2013 (concurso de funcionário público), aumento em 1/6 a pena
intermediária, fixando a pena  5 anos e 10 meses  de reclusão e  292  dias-multa, que torno
definitiva diante da ausência de causa de diminuição de pena.

Considerando a situação econômica do réu, fixo o valor do dia-multa em 1 (um)


salário mínimo vigente à época do último delito.

Concurso material:

Entre os crimes de corrupção  passiva e  pertinência à organização


criminosa  há  concurso material  (artigo 69 do Código Penal), motivo pelo qual as penas
somadas chegam  13 anos e 10 meses  de reclusão  e pagamento  625  (seiscentos e vinte e
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cinco) dias-multa, ao valor unitário de 1(um) salário-mínimo, que reputo definitivas
para LEONARDO GRYNER.

Regime de cumprimento da pena:

Diante do disposto no parágrafo 2º, alínea “a” e parágrafo 3º, ambos do artigo 33
do Código Penal, o regime inicial de cumprimento da pena será o fechado.

IV- DOS EFEITOS DAS CONDENAÇÕES

a) Perdimento do Produto e Proveito dos Crimes

Com efeito, o sequestro tem a finalidade de assegurar a efetividade da condenação


penal consistente na perda, em favor da União, do produto ou do proveito da infração (artigo
91, II, b, do Código Penal). No caso, em sede cautelar (autos n. 0507145-
85.2017.4.02.5101,0502769-22.2018.4.02.5101 e  0505679-56.2017.4.02.5101), foi
determinado por este juízo o sequestro dos bens de proveniência ilícita (artigo 126, do Código
de Processo Penal) e, secundariamente, o sequestro sobre os bens que assegurassem a reparação
do dano causado pelos crimes imputados, a fim de reverter os valores obtidos com a respectiva
venda de tais bens em leilão para a vítima ou terceiro de boa-fé (artigo 133, parágrafo único, do
Código de Processo Penal).

Vale ressaltar que o ordenamento pátrio prevê, ainda, o instituto do arresto, com
vistas à retenção de quaisquer bens do indiciado ou réu, com o fim de evitar que o acusado ou
réu se subtraia ao ressarcimento do dano, mediante dilapidação de seu patrimônio. Por
conseguinte, qualquer bem pode ser objeto de arresto.

Não resta dúvida, portanto, que a finalidade da norma é a garantia de eventual


ressarcimento do sujeito passivo, pelo que não há qualquer limitação no tipo de bens que
podem ser afetados - se móveis ou imóveis.

O perdimento dos bens e produtos do crime é o meio pelo qual o Estado visa
impedir que o produto do crime enriqueça o patrimônio do criminoso, sendo assim o objeto do
“confisco” é tudo aquilo que represente ao agente alguma vantagem, direta ou indireta do delito
praticado.

Portanto, considerando-se as condenações aqui decretadas e a ausência de óbice a


que o perdimento recaia sobre bens móveis e imóveis dos réus condenados, mediante bloqueio
de numerário no sistema BACENJUD, de veículos automotores no sistema RENAJUD e de
imóveis por meio da Central Nacional de Indisponibilidade de Bens – CNIB,  DECRETO  o
perdimento do produto e proveito dos crimes, ou do seu equivalente, nos termos do artigo 91.
§§ 1º e 2º do Código Penal, incluindo aí os numerários bloqueados em contas e investimentos
bancários e os montantes em espécie apreendidos em cumprimento aos mandados de busca e

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apreensão, até o limite de  R$  3.800.000,00 (três  milhões  e  oitocentos  mil
reais),  correspondente ao montante cobrado e recebido a título de propina  em favor de
outrem,  considerando a cotação do dólar do dia  29 de setembro de 2009,  data da notícia do
último fato criminoso de corrupção,  de forma solidária entre os condenados  SÉRGIO
CABRAL, CARLOS ARTHUR NUZMAN E LEONARDO GRYNER.

A liquidação será efetivada individualmente nos procedimentos.

b) Arbitramento do dano mínimo indenizável

Em atenção ao requerimento ministerial, determino ainda o arbitramento


cumulativo do dano mínimo, com base no artigo 387, caput e IV, do Código de Processo Penal
e  FIXO como valor mínimo de indenização o mesmo indicado acima, a saber, o valor
de  R$  3.800.000,00 (três  milhões  e  oitocentos  mil reais), de forma solidária entre os
condenados  SÉRGIO CABRAL, CARLOS ARTHUR NUZMAN E LEONARDO
GRYNER.

c) Reparação dos danos morais coletivos

No tocante à reparação dos danos morais coletivos decorrentes da corrupção,


cujos prejuízos revelam-se difusos (lesões à ordem econômica), a ser revertido em favor da
União, com base no artigo 387, caput e inciso IV do Código de Processo Penal, ESTABELEÇO
o equivalente exato aos danos causados.

Esclareço que o valor do dano moral tem, neste caso, relação com o valor do
produto do crime, que é claramente mensurável, compatível com o parâmetro utilizado para
fixação do dano patrimonial.

Portanto,  FIXO o valor mínimo de indenização por danos morais coletivos


em  R$  3.800.000,00 (três  milhões  e  oitocentos  mil reais), de forma solidária entre os
condenados.

d) Perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e interdição para o


exercício de cargo ou função pública

Por fim, como efeito secundário da condenação, DECRETO  a perda do cargo


e/ou função pública em relação aos acusados  SÉRGIO CABRAL, CARLOS ARTHUR
NUZMAN E LEONARDO GRYNER.  caso ainda ostentam a qualidade de servidores
públicos, nos termos do art. 92, inciso I, alínea “b”, do Código Penal, ressalvada a hipótese de
aposentadoria anterior à condenação.

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DECRETO ainda a interdição do exercício de cargo ou função pública de
qualquer natureza, pelo prazo de 8 (oito) anos, aos réus condenados pelo crime de
pertinência a organização criminosaCARLOS ARTHUR NUZMAN E LEONARDO
GRYNER, consoante determina o art. 2º, § 6º, da Lei 12.850/2013.

e) Medidas Cautelares Pessoais

Concedo aos  condenados  o direito de recorrer em liberdade desta condenação,


mantidas as medidas cautelares determinadas em superior instância pelos fundamentos já
expostos.

V – DISPOSIÇÕES FINAIS

Não vislumbro qualquer óbice ao recurso em liberdade pelos apenados que se


encontram em liberdade.

Quanto ao requerimento feito pela defesa de  SÉRGIO CABRAL  para o


reconhecimento do acordo e aplicação de seus efeitos jurídicos, em especial quanto à
observância do direito do colaborador esculpido no art. 5º, inciso VI, da Lei nº 12.850/13,
indefiro o requerido tendo em vista que a situação do acusado é, de fato, sui generis. Ao tempo
em que sua prisão ainda se reveste do caráter cautelar (prisão preventiva), ainda pendente de
decisão definitiva em 2ª instância perante o TRF da 2ª Região, foi extraída a carta de execução
provisória e encaminhada ao juízo da VEP, sendo, portanto, deste a competência para autorizar
a transferência do acusado, devendo o interessado adotar as medidas cabíveis.

Tendo em vista as condenações em danos patrimoniais e morais em valores


mínimos no capítulo acima, determino a  INDISPONIBILIDADE  da quantia
de  R$  11.400.000,00  (onze  milhões  e quatrocentos  mil reais), visando garantir futura
execução.

Quanto ao réu  SÉRGIO CABRAL, deixo de determinar a restituição dos


bens que ultrapassem o valor da condenação, tendo em vista que ainda respondem a
outras ações penais perante este Juízo.

Quanto aos bens dos réus  CARLOS ARTHUR NUZMAN e LEONARDO


GRYNER,DETERMINO a liberação do valor que ultrapassar o valor determinado a título de
indisponibilidade, no valor de R$ 11.400.000,00 (onze milhões e quatrocentos mil reais), salvo
se forem objeto de constrição em razão de outras ações penais.

Certificado o trânsito em julgado, condeno os sentenciados ao pagamento das


custas. A pena pecuniária será recolhida no prazo de 10 (dez) dias do trânsito em julgado da
sentença.

Lancem-se os nomes dos réus no rol dos culpados.


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Intimem-se.

Documento eletrônico assinado por MARCELO DA COSTA BRETAS, Juiz Federal, na forma do artigo 1º, inciso III, da
Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de março de 2018. A conferência da
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Informações adicionais da assinatura:

Signatário (a): MARCELO DA COSTA BRETAS

Data e Hora: 25/11/2021, às 18:41:0

 
0196181-09.2017.4.02.5101 510006614895
.V12

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