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COLEGAO TOPICOS : (0 O8 DEVANRIOS BO REFOUSO a .8 8 08 DEVANEIOS DA VONTADE i ILES BO ANDROGING IMAGENS F SIMROLOS — AROUITETURA GOTICA 5 ESCOLASTICA, [REFLEXDES SORE A VIOLERCIA \GAO E SUPERINTERPRETAGA PIM DA METAFISICA, Umberto Eco Interpretacdo e Superinterpretacao DEDALUS - Acervo - FFLCH-LE orpeacsoa spenereacs0 IT ‘TOMBO: 104730 Tm LN | Martins Fontes Seo foub — 1992 1 INTERPRETAGAO E HISTORIA Umberto Eco Em 1957, J. M. Castille esereveu um livro intitus lado La hora ad tetar (A hora do leitor)!. Foi realmente tum profeta, Em 1962, escrevi minha Opera apats (Obra berta)®, Nesee livro eu defendia o papel ativo doi térprete na leitura de textos dotados de valor estético, Qhando aquelas paginas foram escritas, meus leitores focalizarain principalmente o lado aberto de toda a ques to, subestimande o fato de que a leita aberta que et ddefendia era uma atividede provoeada por uma obra (e visandlo sua interpretagio), Em gutras palavras, eu s+ tava estudando a dislética entre os direitos dos textos 05 direitos de seus intérpretes. Teno a impressio de ‘que, no decorrer das thimas décadas, os dietos dos in réxpretes foram exagerados Em meus escritos mais recentea (A Teor of Senio~ tics, The Role ofthe Reader e Semiotics ond the Philsophy of Language — Uma teoria da semistica, O papel do lei- tor, Semidtica ¢ a filosofia da linguagem)S, elaborei a 2 INTRRPRETAGO B SUPERIVTRRERBTACAO iia pelecana da semitica iitads manna ie aah no Congresso Internacional Fetee, ma Univer “Tinted Harvard Getembro de 198), procure os tCarque'n porto de umn semigic Hmtada ni Teva Wado de que a nerpeetga0 nfo tem ctw, De er que a iterpretago (nquanto earecteraticabiicn Jeunes) @ potncinenteiiatada no sguifen fhe nterpretato nto wena oe gue eorra por rEbnsprlatDizer que um esto potent no Fibre sigan que todo so de interpreter poss = tum final fli Alguma cori ca crtica contemportinea afiemarn aque soba tyra configvel de umn ext € ua lara ii eorads que weisheia deo texto 96 € dada pla eases weapons qu evocneqqe, como Todorov e+ hr alcosmente (Gtando Lichienberg a propdsto $e Hochine, umm testo € apenas um piquenique onde a ‘Meso que iso fosse verdade, as palavas das pelo ator sap um conjunto ut tanto embaragoro Te eeeetan materia qe itor so pode dian Ps hn saci, net em baralbo, Se bem be leno, {Er aul Ingato elem set, anos tc, oie poe! ager esac alr, Interpret ses Rein exper ps esas poe fx see ra ela no outs tres do odo plo gua ‘So iterpretas. Mies Jac, 0 Fssipador, nos is se rife o que fez bascad co sa interprctagio do Tee iho segund Sin Les, spit que soso ‘Roe oladot para ifr ae ielnariam a pensar qve ‘Be havialigo Seo Lucas de ana forma despropontad, INTBRPRETAGAO & HISTORLA ey (Os criticos nfo volados para o leitor diviam que Jack, (6 Estripador, estava completamente louco — « confes- 30 qule, mesmo sentindo muita simpatia pelo paradig- ‘ma voltado para o letor, e mesmo tendo lide Cooper, Laing e Guattari, muito a contragosto eu concordaria com que Jack, o Estripador, precisava de cuidados mé sicos Entendo que meu exemplo é um tanto foryado e «que mesmo 0 desconsteucionista mais radical concordaria comigo (assim espero, mas quem € que pode saber?) ‘Mesmo assim, penso que até um argumento paradoxal como esse deve ser levado @ sro. Ble prova que existe pelo menos urn easo em que ¢ possfvel dizer que uma fleterminadla interpretagae é rubm. Segundo os termos dda teoria de pesquisa cientifica de Popper, isso € 0 suli- lente para refutar& hip6tese de que a interpretagio nao tem ertérine piblicos (ao menos em termos estatsticos). Poderfainos objetar que a Gnica alternativa a uma teoria radical da interpretagio voltada para o leitor & faquela celcbradls pelos qpte dizer que a nica interpre tacio vilida tem por objetivo deacobrir a intengao oti- ginal do autor. Em alguns dos meus eseritos recentes, sugeth que entse a intengia do autor (muito diffeil de descobrir o frequentemente irelevante para a interpre tact de uin texto) a intencio do incérprete que (para citar Richarel Rorty) simaplesmente ‘eshasta otexto até chegar a uma forma que sizva a seu propésito” existe tama terceira possibilidacle. Bxiste a inion do tet. [No decorrer de minha segunda e terceira conferén , tentarei esclarecer 9 que quero dizer por inten fo teste (ou intents aperis, em conteaposigio — ou em Jnteraco — oom a inti ancrie a ideals). Nests so INTERPRETACAO & SUPERINTERPRETACAO conferéncia, gostaria, em contraposiglo, de revisitar as aires aveaieas do debate contemporineo sobre 0 signi ficado (ow a pluralidade de significados, ou a ausénci de qualquer significado transcendental) de um texto. Por enquanto, apagarei a dstingo entre textos literdirios & textos comuns, bem como a diferenga entre textos en- ‘quanto imagens do mondo e 0 mundo natural como (se= igundo uma tradigio veneravel) um Grande Texto a ser ‘ecitrado, Thiciane agora uma viager arquealigica que, & pri era vista, nos levaria para muito lange das teorias con: temporiineas de interpretacio textual. Voeés vera no fim que, a0 contrério do que se pensa, a maior parte clo chamado pensamenta “pés-moderno" parecerd muito Em 1987, fii convidado pelos dretores da Feira do Livro de Frankfurt para fazer uma palestra introduc ria, e os diretores da Reira propuseramme (pensando provavelmente que se tritava mesmo de um tema atual) ‘uma reflexio sobre o irzacionalismo modemo, Come cei observanda que 6 diel definir “iraciemalismo”” sem dlspor de wim conceit filsbtieo de “razio". Infeliznpen= te, tora a histria da flsofia ocidental serve para pro var que tal definigaa & muito contvertida. Qualquer forma dle pensar sempre € vista como ieracional pelo mo- Helo histérien de outta forma de pensas, que vé asi mes- imo como racional, A Kigica de Aristételes nfo a mesma (que ade Hegel; Ratio, Regione, Raton, Reason ¢ Vermunft no signiticam a ‘Umin maneita de entender conceitos floséticos &, com freqiéneia, voltar so senso comum dos dicionstios. Fim aleiiio, descubro que os sinBnimos de “'irracional INreRPRETAGAO & HISTORIA 31 so unsanig, wnlogtich, unvernnti, silos; ex inglés, 830 Senselees, absurd, nonsensical, incoherent, delirious, faftced, fnconsequenial, dirconnacted, illic, exorbitant, eiruoagant, ‘imblelamble, Esses signiicados parecem excessivos ou insuficientes para definir respeitaveis pontos de vista i> Tos6ficos. Mesmo assim, todos estes termos indicam l= {go que vai aléma de um limite estabelecido por um pax vo, Um dos anténimos de ‘tiraeionalidade”’(segun= do 0 Roge’s Thesaurs) & “moderacio". Ser moderado significa estar dentro da modus — isto €, dentro dos li- rites ¢ das medidas. A palavra lembra-nos duas regras ‘que herdamos das antigas civilizagoes grega e latina: 0 principio ligico de modus ponenre 0 principio ético for- rmuilado por Horacio, et modas i rebus, sunt ce denigue fins quo ultra citagae neq consisee recur? A essa altura, entendo que_a nogao latina de me dus foi muito importante, se nfo para determinar a di ferenca entre racionalismo ¢ irracionalismo, pelo menos para igolar duas studs interpretativas bésicas, ito é, dduas formas de decifrar © texto como ura mundo ou 0 mundo como um texto. Para 0 racionalismo grego, de Plagio a Arist6teles ¢ outros, conecer sigaificava’ en tencler as causas. Assim, definis Deus signifieava defi= rnir uma causa, além da qual no poderia haver nenbu- rma outra causa. Para se conseguir definir © mundo em termios de causa, éeatencial desenvolver a idéin de wma ccadeia uniligear: ae win movimento vai de A para B, em to nfo hd forga na terea eapax de faad-lo ir de B para A. Pata se conseguir justificar a natureza unilinear da, ‘adela causal, é necessério primeico supor uma série de prineipios: 0 principio de identidade (A =), 0 princi impossivel algo ser A'e nto pio de na-eonteadigho ( 2 IVTERPRETAGIO & SUPERINTERPRETACIO er A ao mesma tempo) €o prinefpio do terceito exclat- do (ou A 6 verdadeiro ow A é falsoe ttn non datu). ‘A partir desses prineipios, derivamos o modeto tipico de pensamenta do racionalismo ocidental, o modus po- func: “'e p ento «i: mas p: portanto q” [Embora esses prineipios nio garantam o reconhe cimento de uma ordem fisica do mundo, garantem a0 ‘menos wm contrato social. racionalismo latino adota 6s prinefpios do racionalismo grego, mas os transforma feenriquece nurn sentido logal ¢ contratval, O modelo legal € made, max o modus €tambéano lite, a frontera, AA obsess latina por limites espeeiais remonta d= retamente a lenda da fizndagio de Roma: Romulo tras fet uina linha de frontelra e mata seu iemo por ele nfo frespeitar. Se as fronteiras no sio reconhecidas, en tio no pode haver estas, Horécio torna-ie um herd porque consegue muanter oinimigo na feonteira ponte absndowada entre of rommanos @os outros, Ax poms os so sacrflegns porque tanspdem o sues, 0 fosso de Sigua que delineia as fronceieas da cidade: por esta ra- 1a sé podem ser construtdas sob o controle estrto e ri tal do Pontitice. A ideclogia da Pax Romana e do de signio politico de César Augusto baseiam-se numa de- io preciaa de fronteitas: a forga do impsério esté em saber sobre que linha de fronteira, entre que dimer ou faves a linha defensiva deve ser disposta. Se chegar hum momento em qe nig exista mais uma clara defini ‘Go de fronteiras, ¢ 08 biaharos (nimades que abando- hhavarn seu territério original « que se movimentam em {qaalqucr teritério como se fosse seu, prontas a aban= donavlo também) conseguirem impor sua visio néuna- de, entao Roma estara acabada ¢ a capital da império poder muito hem estar em outro lugar. iwreReREtacdo B MISTORIA a3 Jillio César, a0 atravessar'e Rubio, no s6 sabe ‘que wat cometendo um sacrilégio, mas sabe tambéin ‘que, depois de o cometer, jamais poder& volear atrés ‘lea eta et. Na eealidade, ha limites também no tem= ‘po. O que foi feito mune pode ser apagado, O tempo 6 irreversivel, Este prinefpio governaria a sintaxe lati= na, A ditegio ¢ seatiéneia de tempos verbais, que é li- nneatidade cosmolégica, torna-se um sistema de subor- inacdes légicas na conseculio emporum. Aquela obra prima do realismo factual que € o ablativo absoluto es tabelece que, depois que alga foi fico, ou prestuposto, fentio munca mais deve ser colocado tm questio, Numa Quacstio quudiebaalis, Torés de Aquino (6.2.3) pergunta xe “atrame Deus posse rzinen reparare™ em outras palavras, se depois de uma mulher perder a virgindade poderia valtar 4 sua condigfo imaculada de antes, A resposta de Tomiis € clara. Deus pode per doar ¢ astim dovolver a virgem a um estado de graga «pode, realizando wm milagre, lazer retormar sua inte> sridade corporal, Mas nem Deus pode fazer 0 que foi no ter sido, porque uma tal violaco das leis do tempo seria contrévia & sua propria natureza, Deus nio pode violar 0 princfpio légico segundo @ qual “p ocorreu” “pia genre” pareceriam estar em contradiio, Alar Esse modelo de racionalismo grego € latino é aquele ‘que ainda domina a matemética, a logica, a eigncia e {8 programagio dos computadores, Mas ndo esgoca to dda a histéria do que chamamos heranga grega. Arist= es era grego, mas também a eram os Misérios Elen sinos, O mumdo grego € canstantemente atraido por Ape rom (infinidad), Infinidacte & aguilo que nfo tem modus 34 IN-TERPRETAGAO F SUPERINTERERETACAO Foye a norma. Fascinada pela infnidade, a cviliza regia, a0 lao do conceita de idemtidade © nio-contra- fico, const6i a idGia de metamorfose continua, sim bolizada por Hermes, Hermes é vlitile ambiguo, € pai cle oxas a6 artes, mos taznbéma 0 deus dos laeBes — Jucens ef trex 20 mesmo tempo. No mito de Hermes, tencomtramos 2 negagio do principio de identklade, de ‘nlo-contaligo, edo ereiroexeatdo, cascade car Sais envolamse sobre mesmas em esprais 0 ‘depois precede "antes", o deus nao cnhece limites espac € pode, em diferentes formas, estar em diferentes Inga Fee ao menino tempo. Hermes triunfa 90 século If depois de Cristo. © século ITé win periodo de ordem politica e paz, ¢ todos «os povos do império exo aparentetnenteunides por uma Tingua e una eultara comuns. A ordem € tal que nine sgucm mais pode ter experanga de raudé-la através dé {qualquer forma de operagzo militar ou pola. Bx época fm que se define o eonceito de euyklios pide, de edu cacao gerd, senda o sew objetivo prodazir um tpe de homens completo, verado em ta as cisciplinas. Mas este conhecimento deacreve uin mundo perfeto,coeren- te, ao paseo que @ mundo do séeulo I é um eadinho de racas¢ nguat; ima enervithada de povos eidéas, onde {orlos os douses s80 toleradas, Fsses deuses nha an teriormente tn significado profundo para 0 pove que ts cultuava, mas quand o impésio engoli seus paises dlisgolveu também iia ientidade: Zo existem mais di Terengas entre fsa, Antarte, Deméter, Cibele, Anaitis e Maia “Todos conhecemos a lends do ealifa que ordenot a desrugao da biblioteca de Alexandria, argumentande INTRRPRRTAGHO & HISTORIA 35 aque on oa livros dizinm o mesmo que 0 Corio, e neste dito cram supérios, ou ent dizi algo diferente, Cineste caso erat erradonepericiono. O cafe conhe- Sine posufa a verdade ulgow os livros com base nes- Saverae, © hermetimo do culo TT, por outro lado, Shebem buvea deuma verdade que nao ennhece, tudo Gquinto posi sio livros. Portanto, imagina ow espera dhe ada ivr contenina wna centetia da veedade eave dies sirvam para confirmarse mutuamente. Nesta die tons sincétca, um dos prineipios dos modeos r Clonglsts green, odo Yeretiro excesdo, entra em e Se. E posivel muitos coisa orem yerdelras aoe tho tempo, mestio que ae contradigam. Mas, se 0s I tres falam a verdade, mexma quarclo se contvadzem, tntdo cada uma de suas palavras deve ser wna also, tina alegoria, tio dizendo algo diferente do ave pa Tevcm dizer. Cain deles conten uma mensagem ave henhium deles jamais werd capaz de revel sorinho. Pa {ae poier compreender a mensaye mistriosa cont lunes ives, eva neces procurarurnarevelago ale {lefts Luana, uma revelogo que vin anunciada pela prdpda divindede, wsando o vefcalo da visio, dosonho Shad ordculo, Mas tal evelagio sem precdentes, munca Suvi antes, ora de fala de wn dew anda deseonhe Sido ele uma yerdade ainda seeveta. © conhecimento Secreto €o conhecimento profando (porque 560 que se heottea ob a aperfcie pode se antes desconheeide por muito tempo) Assim a verdade pase a identiicar Socom o que nia € dito ou com o que é dito deforma Gbscurae deve sercompreenido ale ou sob a per feiede um owt. Ox deusesfalam (hoje irfamos: Ser ®) através de mensagensbievogiiess © enigmaticas. 36 IvrERPRETAGIO B SUPERINTERPRETACKO A propésto, se a busca de uma verde diferente ace cnn deaconfanga da herangn ge cise, totio tole wedadeiroconbecimento tera de ser mai Shae, Bncontase enue rendu de zat que te pit do reiomaisna grog igoraram. A. verde & Signcom que temor vv cee o emexo dos taps rie a iquctemos Sea exqueceron, eno algun evel pra inde deve ser aguérn cus pl “arate consuimos mat entender Pestant, es

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