You are on page 1of 13
II. A origem do conhecimento Se formulo 0 juizo “o sol aquece a pedra”, eu o fago com base em determinadas experiéncias. Vejo como o sol bate sobre a pedra e, tocando-a, verifico que ela vai fican- do cada vez mais quente. Em meu juizo, portanto, apdio- me nos dados da visdo e do tato, ou, em poucas palavras, na experiéncia. Mas meu juizo contém um elemento que nao esta na experiéncia. Meu juizo nao diz simplesmente que o sol bate na pedra e que ela, entao, torna-se quente. Ele afirma que entre esses dois processos existe uma conex4o interna, causal. A experiéncia mostra que um processo segue-se ao outro. Eu adiciono o pensamento de que um processo ocorre por meio do outro, é causado pelo outro. Meu juizo “o sol aquece a pedra” exibe, pois, dois elementos, um deles proveniente da experiéncia, 0 outro proveniente do pensamento. A questo, agora, é saber qual dos dois ¢ decisivo. A consciéncia cognoscente apdia-se de modo preponderante (ou mesmo exclusivo) na experiéncia ou no pensamento? De qual das duas fontes do conhecimen- to ela extrai seus contetidos? Onde localizar a origem do conhecimento? A pergunta sobre a origem do conhecimento humano pode ter tanto um sentido /égico quanto psicoldgico. No primeiro caso, a questo tem o seguinte teor: psicologica- mente, como se da o conhecimento no sujeito pensante? 48 TEORIA DO CONHECIMENTO No segundo caso: em que se baseia a validade do conhe- cimento? Quais so seus fundamentos logicos? Na maioria das vezes, essas duas questées niio tém sido separadas na historia da filosofia. E existe, de fato, uma ligacao inter- na entre esses dois questionamentos. A resposta A questao da validade pressupde uma perspectiva psicoldgica deter- minada. Quem enxerga no pensamento humano, na ra- za0, 0 unico fundamento do conhecimento, esta conven- cido da independéncia e especificidade psicoldgica do pro- cesso de pensamento. Por outro lado, quem fundamenta todo conhecimento na experiéncia negara independéncia, mesmo sob 0 aspecto psicoldgico, ao pensamento. 1.0 racionalismo Chama-se racionalismo (de ratio, raz4o) 0 ponto de vista epistemoldgico que enxerga no pensamento, na ra- zo, a principal fonte do conhecimento humano, Segundo 0 racionalismo, um conhecimento sé merece realmente esse nome se for necessério e tiver validade universal, Se minha razo julga que deve ser assim, que nao pode ser de outro modo e que, por isso, deve ser assim sempre e em toda parte, entao (e sé entiio), segundo 0 modo de ver do racionalismo, estamos lidando com um conhecimento auténtico. Ocorre algo assim quando, por exemplo, eu expresso 0 juizo “o todo é maior do que a parte” ou “todos Os Corpos sao extensos”. Em ambos os casos, percebo que deve ser assim e que a razio estaria se contradizendo se quisesse afirmar o contrario. E porque tem que ser assim, é assim sempre e em toda parte. Esses juizos, por- tanto, possuem necessidade ldgica e validade universal. Algo completamente diferente ocorre com o juizo “to- dos os corpos so pesados” ou “a Agua ferve a 100 graus”. TEORIA GERAL DO CONHECIMENTO 49 Aqui, posso apenas julgar: “é assim”; nao, porém, “deve ser assim”, Em si e por si mesmo, é perfeitamente pensd- vel que a dgua ferva a uma temperatura mais alta ou mais baixa. Do mesmo modo, nao ha qualquer contradigfo em pensar num corpo que nao possui peso, Pols 0 conceito de Corpo nao contém a nota caracteristica do peso. Nao ha qualquer necessidade légica associada a esses Juizos e falta-lhes, assim, validade universal. Podemos apenas jul- gar que, até hoje, até onde pudemos constatar, a 4gua ferve a 100 graus e os corpos sao pesados. Esses juizos, portanto, sé valem dentro de um campo determinado. A raz&o disso é que, nesses casos, dependemos da experién- cia. Ndo ocorre 0 mesmo com os juizos anteriormente citados. Julgo que todos os Corpos sao extensos na medi- da em que me represento claramente © conceito “corpo” e encontro nele a nota caracteristica “extensao”. Esse juizo nao esti baseado, portanto, numa experiéncia qualquer, mas no pensamento. Dai resulta que os juizos baseados no pensamento, provindos da razao, possuem necessida- de légica e validade universal; os outros, nao. Assim, pros- Segue 0 racionalista, todo conhecimento genuino depen- de do pensamento, E 0 pensamento, portanto, a verdadei- ra fonte e fundamento do conhecimento humano. E ébvio que um determinado tipo de conhecimento serviu de modelo a interpretagéio racionalista do conheci- mento. E nao é dificil dizer qual seja: é o conhecimento matematico. Ele é predominantemente dedutivo e concei- tual. Na geometria, por exemplo, todos os conhecimentos so derivados de conceitos Superiores e axiomas. Nela, 0 pensamento impera com completa independéncia da experiéncia, na medida em que segue apenas suas pr6- prias leis. Por isso, todos os juizos que formula distin- guem-se pelas notas caracteristicas da necessidade ldgica e da validade universal. Se todo o conhecimento humano 50 TEORIA DO CONHECIMENTO for concebido e interpretado segundo esse tipo de conhe- cimento, teremos 0 racionalismo em sua forma mais ime- diata. Se considerarmos mais de perto a histdria do racio- nalismo, encontraremos ai uma explicagaéo importante para sua origem. da matematica, mostra-nos a historia, que vém quase todos os representantes do racionalismo. Encontramos a forma mais antiga de racionalismo em Platao. Ele esté convencido de que todo saber genui- no distingue-se pelas notas caracteristicas da necessidade légica e da validade universal. O mundo da experiéncia estd em permanente mudanga e modificagao. Conseqiien- temente, é incapaz de nos transmitir qualquer saber ge- nuino. Juntamente com os eleatas, Platao esta profunda- mente imbuido da idéia de que os sentidos jamais nos for- necerao um conhecimento genuino. O que hes devemos nao é uma epistéme, mas uma doxa: nao um saber, mas meramente uma opinido. Se nao devemos, pois, desespe- rar da possibilidade do conhecimento, deve haver, além do mundo sensivel, um mundo supra-sensivel do qual nossa consciéncia cognoscente retira seus contetidos. Pla- téio chama esse mundo supra-sensivel de mundo das idéias. Esse mundo nao é simplesmente uma ordem légica, mas também uma ordem metafisica, um reino de entidades ideais. Ele esté em relacdo, primeiramente, coma realida- de empirica. As idéias sao os arquétipos das coisas da experiéncia. Essas coisas obtém seu ser-assim, sua essén- cia peculiar, por “participagaio” nas idéias. Em segundo lugar, porém, o mundo das idéias esta em relagao também com a consciéncia cognoscente. Nao apenas as coisas, como também os conceitos por intermédio dos quais nds as conhecemos, sao derivados do mundo das idéias. Mas como isso € possivel? Eaessa questio que a doutrina pla- tonica da reminiscéncia vem responder. Ela afirma que todo conhecimento é rememoracao. A alma viu as idéias TEORIA GERAL DO CONHECIMENTO 51 num ser-ai pré-terreno e, agora, recorda-se delas por oca- sido da experiéncia sensivel. Esta, portanto, em relagao ao conhecimento espiritual, nao tem significacao fundamen- tadora, mas apenas estimuladora. A parte central desse racionalismo é a teoria da contemplagao das idéias. Po- demos chamar essa forma de racionalismo de racionalis- mo transcendente. Uma forma um pouco diferente é encontrada em Plotino e Agostinho. O primeiro coloca o mundo das idéias no Espirito Pensante, 0 Nous cosmico. As idéias ja nao sao um reino de entidades existentes por si, mas 0 auto- desdobramento vivo do Nous. Nosso espirito emanou des- se Espirito Pensante césmico. Entre ambos existe, portanto, a mais intima conex4o metafisica. Logo, torna-se dispen- sAvel a suposigao de uma contemplacdo pré-terrena das idéias. O conhecimento simplesmente ocorre quando o espirito humano recebe as id¢ias do Nous, sua origem metafisica. Essa recepgao é caracterizada por Plotino co- mo uma iluminagao. “A parte racional de nossa alma 6 sempre preenchida e iluminada a partir do alto.” Este pensamento é acolhido por Agostinho e modificado no sentido cristo. No lugar do Nous, entra o Deus pessoal do cristianismo. As idéias convertem-se nos pensamentos criativos de Deus. Agora, 0 conhecimento ocorre com 0 espirito humano sendo iluminado por Deus. As verdades e conceitos superiores sao irradiados por Deus em nosso espirito. Paralelamente, ¢ preciso observar que, especial- mente em seus escritos de maturidade, Agostinho reco- nhece, ao lado daquele saber baseado na iluminagao divi- na, a existéncia de um outro campo de conhecimento cuja fonte é a experiéncia. Esse campo certamente permanece como uma provincia menor do saber, e tanto antes quanto depois, Agostinho pensa que todo saber, no sentido pro- prio e rigoroso da palavra, provém da razao humana ou, 52 TEORIA DO CONHECIMENTO melhor dizendo, da iluminagao divina. O nucleo desse ra- cionalismo esta, portanto, na teoria da iluminagdéo divina. Parece adequado chamar essa forma de racionalismo platé- nico-agostiniana de racionalismo feolégico. Na Idade Moderna, esse racionalismo experimenta uma intensificacdo, como se pode observar em Male- branche, filésofo francés do século XVII. Sua tese funda- mental diz 0 seguinte: “Nous voyons toutes choses en Dieu.” Por “choses”, ele entende as coisas do mundo ex- terior. No século XIX, o filésofo italiano Gioberti ira re- tomar essa idéia. Segundo ele, conhecemos as coisas com uma visao imediata do Absoluto em sua atividade criado- ra. Por partir do ser real absoluto, Gioberti chama seu sis- tema de ontologismo. Desde entiio, essa designagao tem sido aplicada a Malebranche e a doutrinas afins, de modo que hoje se entende por ontologismo, num sentido geral, a doutrina da intuigao racional do absoluto como fonte unica, ou pelo menos principal, do conhecimento huma- no. Essa concep¢iio também € representante de um racio- nalismo teolégico. Para distingui-la da forma de raciona- lismo anteriormente apresentada e caracteriza-la como uma intensificag’o dessa forma, podemos chaméa-la de teognosticismo. Outra forma do racionalismo ira alcangar, no sé- culo XVII, uma importancia ainda maior. Podemos encon- tra-la no fundador da filosofia moderna, Descartes, e em Leibniz, continuador de sua obra. E a doutrina das idéias conatas ou inatas (ideae innatae), cujas primeiras pega- das ja encontramos na Ultima fase do estoicismo (Cicero) e que ira desempenhar um papel tao importante na mo- dernidade. Segundo ela, ha em nés um certo numero de conceitos inatos, conceitos que sao, na verdade, os mais importantes, fundamentadores do conhecimento. Eles nao provém da experiéncia, mas constituem um patriménio TEORIA GERAL DO CONHECIMENTO 53 original de nossa razao. Se em Descartes esses conceitos estariam mais ou menos prontos em nds, para Leibniz eles existem em nds apenas em germe, potencialmente. Segundo ele, as idéias inatas existem apenas na medida em que nosso espirito nasce com a faculdade de construir determinados conceitos independentemente da experién- cia. O axioma escolastico “nihil est in intellectu, quod prius non fuerit in sensu” é completado por Leibniz com uma importante adigdo: “nisi intellectus ipse”. Podemos chamar essa forma de racionalismo, em contraposigao ao teolégico e ao transcendente, de racionalismo imanente. No século XIX, deparamos com uma Ultima forma de racionalismo. As formas mencionadas até aqui fazem um amalgama de questionamentos ldgicos e psicolégi- cos. Segundo elas, tudo que tem validade independente- mente da experiéncia deve também surgir independen- temente da experiéncia. Ao contrario delas, a forma de racionalismo de que estamos falando distingue nitida- mente a questao sobre a origem psicolégica da questao sobre a validade ldégica e restringe-se rigorosamente a uma fundamentagio desta Ultima. Faz isso com a ajuda da idéia de “consciéncia em geral”. Esta é diferente tanto da consciéncia concreta, individual, 4 qual o racionalismo moderno atribui as idéias inatas, quanto do sujeito abso- luto, do qual o racionalismo antigo derivava os contetidos do conhecimento. E algo puramente légico, um Abstrato, e nao significa nada sendo a personificagéo dos mais altos pressupostos e principios do conhecimento. Tam- bém aqui, portanto, o pensamento é fonte exclusiva do conhecimento. O contetido completo do conhecimento é deduzido daqueles princ{pios superiores de maneira rigo- rosamente logica. Os contetidos da experiéncia nao for- necem nenhum indicio que auxilie 0 sujeito pensante em sua atividade determinante. Pelo contrario, muito mais 54 TEORIA DO CONHECIMENTO semelhantes ao x da igualdade matematica, eles sao a grandeza a ser determinada. Pode-se caracterizar essa for- ma de racionalismo como um racionalismo estritamente logico. a E mérito do racionalismo ter visto e sublinhado insis- tentemente a importancia dos fatores racionais no conhe- cimento humano. No entanto, ele é unilateral ao fazer do pensamento a tinica ou a verdadeira fonte do conhecimen- to. Como vimos, isso esta ligado a seu ideal de conheci- mento, pelo qual todo conhecimento legitimo possui ne- cessidade logica e validade universal. Justamente esse ideal de conhecimento, no entanto, é unilateral, pois foi obtido de um tipo determinado de conhecimento, a saber, © matematico. Outro defeito do racionalismo (excegao feita A Ultima das formas mencionadas) é reacender o espirito do dogmatismo. Ele acredita poder forgar a entra- da no dominio metafisico pela via do pensamento pura- mente conceitual. Infere proposigdes materiais de princi- pios formais, deduz conhecimentos a partir de metos conceitos. (Veja-se a tentativa de inferir a existéncia de Deus a partir de seu conceito ou de, a partir do conceito de substancia, determinar a esséncia da alma.) Justamen- te esse espirito dogmatico do racionalismo tem continua- mente chamado 4 liga seu antipoda, o empirismo. 2.0 empirismo A tese do racionalismo, segundo a qual a verdadeira fonte do conhecimento é 0 pensamento, a razdo, 0 empi- tismo (de empeiria, experiéncia) contrapde a antitese, di- zendo que a nica fonte do conhecimento chumano_ éa experiéncia. Segundo o empirismo, a raziio no possui ne- nhum patriménio aprioristico. A consciéncia cognoscente TEORIA GERAL DO CONHECIMENTO 55 nao retira seus contetidos da raz4o, mas exclusivamente da experiéncia. Por ocasido do nascimento, o espirito hu- mano esta vazio de contetidos, 6 uma tabula rasa, uma folha em branco sobre a qual a experiéncia ira escrever. Todos os nossos conceitos, mesmo os mais universais e abstratos, provém da experiéncia. Se o racionalismo deixava-se conduzir por uma idéia determinada, por um ideal de conhecimento, o empirismo parte de fatos concretos. Para justificar seu ponto de vista, aponta o desenvolvimento do pensamento e do conheci- mento humanos, que prova a grande importancia da expe- riéncia para que o conhecimento ocorra. Primeiramente, a crianga tem percepgées concretas. Com base nessas per- cep¢6es, vai aos poucos formando representacées e concei- tos gerais. Estas, portanto, desenvolvem-se organicamente a partir da experiéncia. Seria initil procurar por conceitos que ja estivessem prontos no espirito ou que se formas- sem independentemente da experiéncia. A experiéncia aparece, assim, como a Unica fonte do conhecimento. Se, em sua maioria, os racionalistas provinham da matematica, a historia do empirismo mostra que seus re- presentantes provém quase sempre das ciéncias naturais. Isso € compreensivel, j4 que, nas ciéncias naturais, a ex- periéncia desempenha o papel decisivo. O que vale ai é 0 estabelecimento de fatos por meio da observaciio cuida- dosa. O pesquisador é completamente dependente da ex- periéncia. E muito natural que alguém, trabalhando prin- cipal ou exclusivamente de acordo com esses métodos das ciéncias naturais, esteja inclinado de antemo a colo- car os fatores empiricos acima dos racionais. Se 0 episte- mologo de orientagao mateméatica chega facilmente a encarar 0 pensamento como a unica fonte de conheci- mento, o filésofo provindo das ciéncias naturais estara inclinado a considerar a experiéncia como a fonte e o fun- damento de todo o conhecimento humano. 56 TEORIA DO CONHECIMENTO Costumamos distinguir dois tipos de experiéncia: a interna e a externa. Aquela consiste na autopercep¢ao; esta, na percepgao sensivel. H4 uma forma de empirismo para a qual apenas a ultima tem validade. Nos a chama- mos de sensualismo (de sensus, sentido). Jana Antiguidade encontramos concepgdes empiris- tas, primeiro nos sofistas e, depois, nos estdicos ¢ epicu- ristas. Nos estdicos, encontramos pela primeira vez a comparagao da alma com uma tabua na qual nada esta escrito, imagem que, a partir de ento, sera recorrente. E na Idade Moderna, com a filosofia inglesa dos séculos XVII e XVIII, que o empirismo chegara pela primeira vez a um desenvolvimento sistematico. Seu verdadeiro fundador é John Locke (1632-1704). Ele combate com toda firmeza a doutrina das idéias inatas. A alma é um “papel em branco” que a experiéncia vai aos poucos co- brindo com marcas escritas. Ha uma experiéncia externa (sensag4o) e outra interna (reflexdo). Os contetidos da experiéncia sao idéias ou representagGes, algumas simples, outras complexas. Estas so formadas a partir de idéias simples. A essas idéias simples pertencem as qualidades sensiveis primarias e secundarias. Uma idéia complexa é, por exemplo, a idéia de uma coisa ou substancia. Ela € a soma das propriedades sensiveis da coisa. O pensamento, aqui, nao acrescenta nenhum fator novo, mas limita-se a por os diferentes dados da experiéncia em conexao uns com os outros. Se isso é correto, nao ha nada em nossos conceitos que nao provenha da experiéncia interna ou externa. Quanto 4 origem psicologica do conhecimento, portanto, Locke manteve um ponto de vista estritamente empirista. O mesmo nao aconteceu, porém, no que diz respeito a quest&o sobre a validade ldgica. Embora todos os contetidos do conhecimento provenham da experién- cia, ensina ele, sua validade légica nao se limita 4 expe- TEORIA GERAL DO CONHECIMENTO 57 riéncia. Ha muitas verdades completamente independen- tes da experiéncia e que, por isso, tém validade universal. A esse grupo pertencem sobretudo as verdades da mate- matica. O fundamento de sua validade nao esta na expe- riéncia, mas no pensamento. Assim, o principio empirista é violado por Locke quando admite verdades a priori. O empirismo de Locke sera desenvolvido por David Hume (1711-1776). Ele divide as “idéias” (perceptions) de Locke em impressdes (impressions) e idéias (ideas). Por impresses entende as percep¢oes nitidas que temos quando estamos vendo, ouvindo, tocando em algo, etc. Existem, assim, impresses de sensagio e impressdes de teflexfio. Por idéias, entende as representagdes menos nitidas da meméria e da fantasia que surgem em nds com base nas impresses. Nesse ponto, Hume formula 0 axio- ma: “Todas as idéias provém de impressdes, nao sendo senao cépias de impressées.” Esse axioma serve-lhe como critério para examinar a validade objetiva das idéias. Para cada idéia, deve-se poder apontar uma impressio corres- pondente. Dito de outra forma, todos os nossos conceitos devem poder ser atribuidos a algo intuitivamente dado. E sO nessa medida que eles estardo justificados. Isto leva Hume ao abandono dos conceitos de substancia e de cau- sa. Em ambos os casos, da pela falta do fundamento intui- tivo, da impressio correspondente. Como se vé, ele tam- bém defende o principio fundamental do empirismo, pelo qual a consciéncia cognoscente retira seus contetidos in- teiramente da experiéncia. Como Locke, porém, Hume também reconhece no campo da matematica um conheci- mento independente da experiéncia e, portanto, valido de modo universal. Todos os conceitos matematicos provém, sem duvida, da experiéncia, mas ha entre eles relagdes que tém validade independentemente de qualquer expe- riéncia. Proposigdes que, como o teorema de Pitagoras,

You might also like