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1 O CORPO ACESSORIO Hoje podemos |...) falar de um sujeito fractal que, em vez de se transcender em uma finalidade ou um conjunto que o supera, se defracta em uma profusdo de egos miniaturizados, todos semelhantes uns aos outros, multiplicando seus efeitos de um modo embriondrio como em uma cultura biol6gica, saturando seu ambiente por cissiparidade ao infinito. Jean Baudrillard, L’autre par lui-méme [O outro por si mesmo}, 1987 Sobressignificar 0 corpo amplia- Em nossas sociedades, a parcela de manipulagao simbdli . Se, © reservatério de conhecimento e de servigos a disposigao ac individuos estendeu-se desmesuradamente. A Plasticidade do corpo tornam-se lugares-comuns. ‘Adeus ao corpo 27 w | | | um destino, mas um acess6rio da presenga, uma Matéria-prima a modelar, aredefinir, a submeter ao design do momento, Para MULOS ConteMporneos, ‘0 corpo tornou-se uma representa Agao provisoria, uM gadget, um lugar idea de encenagio de “efeitos espectais™. Ha cerca de dez anos milhoes de atores o transformam conyertendo-o enum emblema, Ha um Jogo entre o homeme seu corpo no duplo sentido do termo, Uma versio moder Na do dualismo nao opde mais 0 corpo ao espirito ou a alma, porém, maig precisamente, ao proprio sujeito, O corpo nao & mais apenas, em nossas sociedades contemporaneas, a determinagao de uma identidade intangivel. aencarnagao irredutivel do sujeito, o ser-no-mundo, mas uma construgao, uma instincia de conexdo, um terminal, um objeto transitério ¢ manipulavel suscetivel de muitos emparelhamentos. Deixou de ser identidade de si, destino da pessoa, para se tornar um kif, uma soma de partes eventualmente destacaveis 4 disposigao de um individuo amente 0 corpo & apreendido em uma manipulagao de si e para quem jus a peca principal da afirmagao pessoal. Hoje 0 corpo constitui um alter ego, um duplo, um outro si mesmo, mas disponivel a todas as modificages, prova radical e modulavel da existéncia pessoal e exibigao de uma identidade escolhida proviséria ou duravelmente (Le Breton 1990). Os psicotrépicos cinzelam o humor, a cirurgia estética ou a plastica modifica as formas corporais ou 0 sexo, os horménios ou a dietética aumentam a massa muscular, os regimes alimentares mantém a silhueta. 0s piercings ou as tatuagens dispensam os sinais de identidade sobre a pele ou dentro dela, a body art leva ao auge essa Idgica que transforma 0 Corpo abertamente no material de um individuo que reivindica remaneja- lo vontade e revelar modos inéditos de criagio. Alguns sonham em agir diretamente sobre a formula genética do sujeito para modelar sua forma ¢ até seus comportamentos. Todas essas condutas isolam 0 corpo como uma matéria a parte que fornece um estado do sujeito. O corpo ¢° Suporte de geometria varidvel de uma identidade escolhida ¢ sempre revogavel, uma proclamagiio momentinea de si. Se ndo & possivel nudat ‘suas condigdes de existéncia, pode-se pelo menos mudar o corpo de miltiplas maneiras. A industria do design corporal desenvolve-se a part! do sentimento de que a soberania relativa da consciéneia do individuo 28 Papirus Editora ce estender igualmente a sua aparéncia e nao deixar a carne incult a. deve 5! : : f “ger 0 que se € torna-se uma performance efémera, sem futuro, um praneirisme desencantado em um mundo sem maneiras” (Baudrillard 22). O corpo tornourse al prolese, de um eu eternamente em wnagao proviséria para garantir um vestigio 0 de s declinagées de si pelo folhear diferencial plicagao de encenag6es para sobressignificar sua presenga no mundo, tarela impossfvel que exige tornar a trabalhar 0 corpo o tempo todo em um percurso sem fim para aderir a si, a uma identidade efémera, mas essencial para sie para um momento do ambiente social.’ Para aderir com forga a existéncia, multiplicam-se os signos de sua existéncia de maneira visivel sobre 0 corpo. Heléna Velena, profundamente implicada no cenario italiano da sexualidade telematica e do jogo sobre as identidades sexuais, escreve que 1997, P» pusea de uma en i. Indmer significally do corpo. multi (..) querer modificar-se, querer colocar o proprio corpo em rela¢do com 6 proprio self, no € nem uma doenga, nem algo de que se deva ter vergonha. Mas algo a se reivindicar abertamente & luz do dia com orgulho. Um hino a liberdade. Como nos ensina o transexualismo ou 0 sexo cibernético. (Velena 1995, p. 191) O corpo torna-se emblema do self. A interioridade do sujeito éum constante esforco de exterioridade, reduz-se a sua superficie. E preciso se colocar fora de si para se tornar si mesmo. Mais do que nunca, repetindo Paul Valéry, “a pele é o mais profundo”. olvimento considerivel, lidade do corpo. Sua uz-se de imediato nos A cirurgia estética passa por um desenv aumentado por esse sentimento da maleabi transformag&o em objeto a ser modelado trad Catdlogos que os cirurgies depdem nas salas de espera ¢ que mostram 40s clientes para propor uma intervengado precisa. Neles se veem 0 rosto, personality disorders (tesontens isto 6, uma sucesso de loo a ages que |. Os Estados Unidos apresentam hoje uma profusii de nudltiple da personalidade miltipla) no campo da psiquiattis & da just Personalidades que habitam o mesmo: individuo € que se impdem a m seguida ele nao reconhece (Behr 1995). a ele, levans ‘Adeus ao corpo 29 fr to de corpo a ser modificado, e ° resultado aps efetuada a ou o fragment utagdo alquimica do objeto errado. Na gama das operagao- qe escolhe a que proporcionara ao seu rosto ou ao eee i a ue Ihe convém. Seios cheios de silicone, modificados os ee font remodelados, varios tipos de liftings do rosto, labios Uiteeaes por injegdes, lipoaspiragoes ou een da barriga ou das coxas, cabelos repicados, implantes subcutiineos para induzir as proporgdes fisicas desejadas etc. Maneira de reduzir ° desvio experimentado entre sie si. Além dos imperativos de aparéncia e juventude que regem nossas sociedades, muitas vezes os que usam a cirurgia estética sao individuos em crise (por divércio, desemprego, envelhecimento, morte de um proximo, ruptura com a familia etc.), que encontram nesse recurso a possibilidade de romper de uma vez com a orientagao de sua existéncia, modificando os tragos de seu rosto ou 0 aspecto de seu corpo. A vontade est na preocupacao de modificar o olhar sobre sie o olhar dos outros a fim de sentir-se existir plenamente. Ao mudar 0 corpo, 0 individuo pretende mudar sua vida, modificar seu sentimento de identidade. A cirurgia estética nao é a metamorfose banal de uma caracteristica fisica no rosto ou no corpo; ela opera, em primeiro lugar, no imagindrio e exerce uma incidéncia na relacado do individuo com o mundo. Dispensando um corpo antigo mal-amado, a pessoa goza antecipadamente de um novo nascimento, de um novo estado civil (Le Breton 1992). A cirurgia estética oferece um exemplo impressionante da consideragdo social do corpo como artefato da presenca e vetor de uma identidade ostentada. Dominio do corpo i A relagao do individuo com seu corpo ocorre sob a égide do dominio de si, O homem contemporaneo é convidado a construir 6 corpo, conservar a forma, modelar sua aparéncia, ocultar 0 envelhecimento ou a fragilidade, manter sua “sadde potencial”, O corpo & hoje um motivo de apresentagao de si. Para Richard Sennett, a cultura do corpo € uma forma moderna da ética protestante (Sennett 1979, p. 269). J.-J Courtine 30 Papirus Editora aa af ve “uma das formas essenciais de compromisso, passado pela ética puritana, com as necessidades do ne em massa. Af se descobre assim nao um desaparecimento das proibigdes, mas, em vez disso, uma nova distribuigao de coergées” (Courtine 1993, p, 242). O extremo contempordneo erige 0 corpo como realidade em si, como simulacro do homem por meio do qual é avaliada a qualidade de sua Presenga e no qual ele mesmo ostenta a imagem que pretende dar aos outros, “E por seu corpo que vocé € julgado e classificado”, diz, em suma, 0 discurso de nossas sociedades contempordneas. Nossas sociedades consagram o corpo como emblema de si. E melhor construf-lo sob medida para derrogar ao sentimento da melhor aparéncia. Seu proprietdrio, olhos fixos nele mesmo, cuida para tornd-lo seu representante mais vantajoso. As condigdes sociais e culturais dos individuos certamente matizam essa consideragéo, mas esse é pelo menos 0 ambiente de nossas sociedades com relagio ao corpo. Se em todas as sociedades humanas o corpo € uma estrutura simbdlica (Le Breton 1990; 1993), torna-se aqui uma escrita altamente reivindicada, embasada por um imperativo de se transformar, de se modelar, de se colocar no mundo. A colocagao em signo perseguida por todas as sociedades de acordo com seus usos culturais aqui se torna uma encenac¢ao deliberada de si com intimeras variagGes individuais e sociais, que fazem do corpo um material a ser lavrado segundo as orientagdes de um momento. Em uma sociedade de individuos, a coletividade de pertinéncia 86 fornece de maneira alusiva os modelos ou os valores da ago. O proprio Sujeito € o mestre de obras que decide a orientagao de sua existéncia. A Partir de ent&o, o mundo é menos a heranga incontestavel da palavra dos mais velhos ou dos usos tradicionais do que um con r Sua soberania pessoal mediante o respeito de certal contemporaneo define um mundo em que a signifi uma decisiio propria do individuo e nado mais uma evidéncia cultural. A Telac2o com 0 corpo depende menos da evidéncia da identidade consigo mesmo do que daquela de agora em diante de um objeto a sublinhar na. Tepresentago de si. E importante gerir seu proprio corpo como se gerem Outros patriménios dos quais o corpo se diferencia cada vez menos. oO Corpo tornou-se um empreendimento a ser administrado da melhor ‘Adeus ao corpo 31 maneira possivel no interesse do sujeito e de seu sentimento de estética. O selo do dominio é 0 paradigma da relagio com 0 proprio compe NO contexto contemporaneo. Todo corpo contém a virtualidade de intimeros outros corpos que o individuo pode revelar tornando-se 0 arranjador de sua aparéncia e de seus afetos. O des imento dos sistemas SOCIaIs de sentido conduz a uma centralizagdio maior sobre si. A retirada para 0 corpo, para a aparéncia, para os afetos é um meio de reduzir a incerteza buscando limites simbdlicos 0 mais perto possivel de si. S6 resta 0 Corpo para o individuo acreditar e se ligar. inves O transexualismo ou o fora do sexo O corpo do transexual é um artefato tecnolégico, uma construgao cinirgica e hormonal, uma produgao plastica sustentada por uma vontade firme. Brincando com sua existéncia, o transexual entende assumir por um momento uma aparéncia sexual de acordo com seu sentimento pessoal. Eele proprio, e nao um destino anatémico, quem decide seu sexo de eleigao; ele vive por meio de uma vontade deliberada de provocagio ou de jogo. O transexual suprime os aspectos demasiado significativos de sua antiga corporeidade para abordar os sinais inequivocos de sua nova aparéncia. Modela para si diariamente um corpo sempre inacabado, sempre a ser conquistado gracas aos hormGnios e aos cosméticos, gragas as roupas e ao estilo da presenga. Longe de serem a evidéncia da relagio com o mundo, feminilidade e masculinidade sao 0 objeto de uma produgio permanente por um uso apropriado dos signos, de uma redefinigao de si: conforme o design corporal, tornam-se um vasto campo de experimentagao. A categoria sexual do masculino sobretudo é questionada profundamente. “Para a imaginagao masculina”, diz Cooper, (..) 0 transexualismo € uma experiéncia desconcertante, pois ocorre na terra de ninguém entre a homo e a heterossexualidade incubadas em cada um de nés, Quando vocé brinca com um transextial & como se Satisfizesse uma curiosidade infantil de ver-tocar, de sentir como sto feitos os homens como vocé, sem, no entanto, abandonar a perturbagdo do encontro com uma mulher. (1997, p, 86) 32 Papirus Editora H. Velena exagera, colocando o transexualismo (...) como uma identidade da nao-identidade, ou melhor, uma reivindicagdo de si que nasce de no se sentir ligado a uma situagio definida e definitiva, mas, ao contrério, em transito, em transformagao, em relaco, em fluxo. O transexualismo é para quem tem barba e quer sair de minissaia, quer apenas lamber os pés de seus parcciros, gosta de ser amarrado, ou em seios magnificos, mas também um pénis perfeito... (1995, p. 211) Vontade de conjurar a separagao, de nao fazer mais sexo (do latim secare: cortar), nem um corpo, nem um destino, mas uma decisdo, ¢ sobretudo de se libertar para se inventar e colocar a si mesmo no mundo. O transexual é um simbolo quase caricato do sentimento de que 0 corpo éuma forma a ser transformada. Da mesma maneira, ele se decide pela nostalgia da indiferenciacao que obseda muitas praticas da modernidade — veremos esse fato de maneira radical no universo das procriagdes sob assisténcia médica ou na fantasia de suprimir a mulher na gravidez em proveito de uma incubadora artificial. D. Welzer-Lang mostra a importancia da prostituigao transexual na cidade de Lyon; ele observa 0 jogo de signos que torna indefinfvel a identidade de um sujeito inteiramente em relagao hidica com os outros: O que dizer dessa prostituta que se apresenta como mulher nas primeiras conversas ¢ fala em nome das mulheres, informa-nos rapidamente que, na realidade, estamos diante de um transexual e que, um ano depois, reivindica sua identidade masculina e sua qualidade de travesti? O que nao o impede, alids, de viver 0 essencial de sua vida social como uma mulher. (Welzer-Lang ef al. 1994) Adepto de uma sexualidade multiforme, Cooper explica bem esse sucesso, evocando a busca de experiéncias insolitas: O wansexual vai the parecer estranho, diferentemente da mulher que se prostitui, é uma criatura desejante. Como se desenvolve de fato uma hoitada de prostituigiio: uma quantidade enorme de clientes pede-the para ser sodomizada. E isso que os excita, a sensagio de serem sodomizados por uma mulher. (1997, p- 87) Adous ao corpo 33 | é um viajante em seu proprio corpo, cuja forma © ransexua ai repRncaiGl 2 oe uudam a sua vontade, levando a lermo a condigao de objets, ‘9 aénero mudam a sua ele de cujo género 1 Je um corpo, que se tornou moduldvel determindye} inca de z de circur \ i! onto? a eilO, Mas WO MOoMeEnto, Jo mais com relagdo ao suje nao mais com Marcas corporais Nos anos 1970, os punks, em sua vontade de irrisaio das convengoes, sociais de aparéncia fisica e de vestimentas, traspassam muitas veres 0 corpo com alfinetes, engancham cruzes gamadas, simbolos religiosos, todas as espécies de objetos heterdclitos na propria pele. O corpo é queimado, mutilado, varado, talhado, tatuado, entravado em trajes improprios. O ddio do social converte-se em um édio do corpo, que Justamente simboliza a relagao forgada com 0 outro. Ao inverso de uma afirmagao estética, é mais importante traduzir uma dissidéncia brutal da sociedade londrina e depois britanica. O corpo € uma superficie de Projecao, cuja alteragao irris6ria testemunha a recusa radical das condigdes de existéncia de uma certa juventude. A cultura punk entra, contudo, no Circuito do consumo, desviada, transformada em estilo. As marcas corporais mudam radicalmente de status, engolidas pela moda, pelo €sporte, pela cultura nascente e miltipla de jovens gerac6es; diversificam- se igualmente em uma busca de singularidade pessoal: tatuagem, piercing, branding (desenho ou sinal inscrito sobre a pele com ferro em brasa ou laser), escarificagao, laceragiio, fabricagao de cicatrizes em relevo, Stretching (aumento dos buracos do Piercing), implantes subcutaneos ete. A tatuagem é um sinal visfvel inscrito na propria Pele gracas a injegdo de urna matéria colorida na derme. Diferentemente da maquiagem, efémera, 2 Owe Veslir€.aliés, una dimensio essencial da body art, cue manifesta a voutade de se lhberar os limites da identidade Sexual (Journiac, Lathi, Molinier, Castelli ete Muitoy cantovey Conhecidos brincam igualmente com a ani Huidade de sua apareucia’ Davidl Bowie, Bos Seay ¢ Michael Jackson © ouuos. Hste dltine due remiodelou © 19949, alisou os la cou a pele ete, € win ex Cua encenagio equivate iu plo impressionante de cn na colocagao de sin n 9-CoNpO Had ps clo, de wana, 34 Papirus Editora feminina e destinada ao rosto, a tatuagem € definitiva, é feita em homens e mulheres e atinge essencialmente 0 conjunto do corpo (ombro, braco, peito, costas etc.), mais raramente 0 rosto. Por muito tempo a tatuagem foi associada a “primitividade” daqueles que a ela recorriam. Para Lombroso ou Lacassagne, nos anos da virada do século XIX para o XX, nao havia davida de que os individuos tatuados fossem “selvagens”, ou seja, a seus colhos, homens menores, pouco civilizados e propensos a todas as formas de delinquéncia. Barbaros daqui ou de outro lugar, eles proprios escolheriam expressar sua infamia por esse desenho tegumentar que traduziria sua dissidéncia diante dos valores colocados como sendo os da civilizagéo. Uma trama de preconceitos obscureceu por muito tempo o conjunto das pesquisas a esse respeito. Dupla falta de conhecimento, a do significado cultural das marcas corporais nas sociedades tradicionais, a do significado fntimo da marca tegumentar nos meios populares; e duplo desprezo: sentimento da superioridade da civilizagao “branca”, portadora de “progresso”, receio diante das classes laboriosas percebidas como classes perigosas. Hoje a tatuagem sai da clandestinidade e afasta-se da imagem ruim que por muito tempo carregou, seu valor até se inverte, suaviza-se com os kits de tatuagem proviséria 4 venda no comércio. O entusiasmo pelas marcas corporais assalta 0 conjunto de nossas sociedades €, particularmente com o piercing, as geracdes jovens. Os piercings sao feitos em diversos pontos das orelhas, do nariz, dos labios, da lingua, nos mamilos, no umbigo, nos érgaos genitais masculinos (0 ampallang atravessa na horizontal a glande, 0 Principe Albert a atravessa por baixo, o Dydoe, em torno da base da glande para 0s homens circuncidados etc.), nos Orgdos genitais femininos (nos Pequenos ou grandes labios, no clit6ris etc.) (Re/Search 1989; Zbinden 1997). Esses tiltimos piercings muitas vezes estdo ligados a uma vontade de intensificar as relagdes sexuais, proporcionando-se novas sensa¢6 Mesmo sem estimulos particulares, os 6rgios marcados dessa forma sao Muitas vezes sentidos de maneira privilegiada por aqueles que usam Joias. Sao os lugares fntimos de uma ampliagao da sensagiio e do gozo de si. A estética do piercing nasce na costa oeste dos Estados Unidos em toro de D. Malloy, descrito por Fakir Musafar como um “miliondrio xcéntrico”, que retine um punhado de pessoas traspassadas (entre elas, ‘Adeus ao corpo 35 ir Musafar, Jim Ward...). Jim Ward abre a primeira loja de Piercing ee ee Los Angeles, onde comercializa joias especificas que obtém em ai 0 sucesso. As lojas multiplicam-se nos Estados Unidos e depois um wu na Gra-Bretanha e alcangam por fim o resto da Europa. O mesmo ery cria a revista PFIQ (Piercing Fans International Quarterly), O sucesso das marcas corporais cresce associado aideia implicita de que © corpo é um objeto maleavel, uma forma provisoria, sempre remanejavel, da presenca fractal propria. Elas escapam dos lugares marginais do sadomasoquismo, do fetichismo ou do punk, absorvidas por aquilo que se convencionou chamar as “tribos urbanas” (punk, hard rock, techno, grunge, bikers, gays etc.), € propagam-se para 0 conjunto da sociedade por intermédio da alta-costura, principalmente dos manequins de Gautier, com uma predileg&o pelas geragdes jovens que crescem no ambiente intelectual de um corpo inacabado e imperfeito, cuja forma o individuo deve completar com seu préprio estilo. Os estiidios de tatuagem e de piercing multiplicam-se e acentuam a demanda. A mitologia da marcagao corporal esté presente desde seus primeiros passos com suas palavras-chave: tribalismo, primitivismo etc. Fakir Musafar (nascido em 1930), um dos principais artesdos do movimento dos “primitivos modernos”, descreve assim sua esfera de influéncia: “Todas as pessoas nao tribais que reagem a uma urgéncia primal e que fazem alguma coisa com seu corpo”. O personagem merece que nos demoremos nele, pois € emblematico das telagdes do extremo contemporaneo com o corpo. Desde sua infancia, experimenta uma profusio de modificages corporais que ele muitas vezes apresenta em ptiblico. Apaixonado por uma reportagem do National Geographic, aos 12 anos, encerra a cintura num espartilho justo para se parecer com um adolescente apertado em um cinto-ritual de uma fotografia que o impressionou. No ano seguinte, realiza seu primeiro piercing no prepticio €, a seus olhos, estabelece simbolicamente 0 momento de nascimento dos modern primitives. Passa horas fazendo o piercing com um broche finamente lapidado; vive essa metamorfose de seu corpo como uma experiéncia espiritual. Adolescente, prossegue sua busca pessoal, tatuando ele mesmo seu peito. Traspassa o nariz, as orelhas, entia agulhas em seu corpo. A dor nao o afeta, porque ele a controla, mas, gra 36 Papirus Editora momentos em que se arranca do comum, vive estados de consciéncia alterada que tenta reproduzir3 Aos 17 anos, jejua, priva-se de sono e apertadas e pesadas a um muro, ali agit uma espécie de éxtase — os pés e os bragos en lorpecidos, & beira da asfi Consegue, contudo, livrar-se das correntes e desmorot mais a menor sensa¢ao em certos membros, uma iluminagio. Depois, amarri ‘Se com correntes ando-se durante horas. Atinge xia, na, nao sentindo ‘Sse momento €, contudo, faz intimeras experiéncias corporais em situagdes extremas: recobre todo o seu corpo com uma pintura dourada que impede a respiragao tegumentar; pendura com anzéis no peito objetos pesados; suspende cargas em seus piercings; sofre, com todo conhecimento de causa, uma Operagao que Ihe permite o alongamento de seu pénis gragas a pesos que aele fixa; aceita, sua faculdade genésica e vive outras formas de companheira; dessa maneira, perder sexualidade com sua enfia espartilhos muito apertados; deita-se numa cama de alfinetes, de laminas. Usa uma estrutura de metal inspirada nos discipulos hindus de Siva, constituida de uma série de longas pontas de metal que penetram em seu corpo e formam uma espécie de leque em torno dele. Suspende-se em ganchos cravados em seu peito ou em todo o seu corpo etc, Sua pele € recoberta de tatuagens e piercings. Ao lhe perguntarem sobre o significado de sua conduta, evoca o prazer que sente em certas ages € os estados de éxtase que experimenta com elas, Fakir Musafar € | um exemplo impressionante do “primitivismo moderno”, isto é, dessa colagem de prdticas e de rituais fora de contexto, flutuando em uma ¢ternidade indiferente, longe de seu significado cultural original, muitas Vezes ignorado por aqueles que o empregam transformando-o em Performances fisicas. Mas essas experiéncias nem por isso deixam de Tevestir formas de sagrados intimos que tornam sua realizagao Particularmente intensa. “A negatividade da dor (sensagao forte e inesperada) s6 existe para os nilo-preparados, Se Yoe8 tiver treino suficiente, conhecimento e pritica, pode supert-li, transformé-ta ou converte ano que quiser... & 0 que fago quando me penduro com janchos na pole. As ponoss cleo ‘Isso deve doer demais’. Respondo: ‘Nao, € eatdtico, & belo” (Re/Search B13. fornamos a encontrar esse fascinio pela dor em outras priticas tratadas neste capitulo ‘Adous ao corpo 37 Em intmeras associadas a ritos de pas: entao s tatuagem tem, des: amago da carne, © pertencer do sujeito ao grupo, a um sistema 90° vals precisa a ; de certa forma humaniza, por meio desse confisco cultural cujo valor redobra o da nominagao. Em certs sociedades, a leitura da tatuagem informa a inscrig&o do homem em Une linhagem, um cla, uma faixa etaria; indica um sfatus ¢ fortalece a alianga E impossfvel se misturar ao grupo sem esse trabalho de integragao que imprimem na carne. Ao contrario, para 0s “primitivos, jesempenhos des humanas as marcas corporals ncia ou socies agem em diferentes momentos da exist nunidade. A © Vinculadas a significados precisos dentro da con a maneira, valor de identidade; expressi, NO proprio fidelidades religios os signos cuténeo modernos”, sua dimensao estética ou sua qualidade de d fisicos € o que conta primeiramente, mesmo se as vezes a de sua significagao de origem é simplificada para entrar em um outro ontexto social e cultural. Fakir Musafar nfo cessa de evocar as comunidades tradicionais, cujos usos recupera por conta propria, desviando-as, a fim de viver momentos de éxtase. Os ritos tradicionais so folclorizados 4 maneira de uma mascara dos espfritos exposta por trds dos vidros de um museu; eles transformam-se em signos indiferentes a seu contetido dos quais sé importa o valor de representagaio para nossas sociedades ocidentais contemporaneas. Tatto Mike, cujo corpo € quase inteiramente tatuado, o rosto inclusive, apresenta bem a filosofia do primitivismo moderno ao falar de suas intimeras marcas corporais tiradas de “desenhos que vao dos samoanos aos fndios, combinadas em uma espécie de psicodélico das diferentes culturas” (p. 39). Fakir Musafar, alids, melindrou os indios mandans nos quais se inspirou para o termo de “danga do sol” quando se pendurava com ganchos no peito € outros pontos do corpo. Estes conseguiram que ele deixasse de utilizar esse termo.4 As marcas corporais entram num sincretismo radical. preocupagao Para Mark Dery, 0 primitivismo moderno éuma ‘os fas do fecne hard: (...) categoria que recobre tudo, que compreende sraviddo, OS Arliss core e da dance-music industrial: os fetichistas da & esearch (1989) tems aos documentos de RefSeure A198 4. Sobre Fakir Musafar € sobre os Modem primitives, rent 38 Papirus Editora de performances; 0s tecno-pagaos; finalmente os que gostam de pendurar-se com ganchos subcutineos ¢ outras formas de mortificagao ritual ou de “jogo corporal”, que pretensamente produzem estados alterados. (1998, p. 288) Flutuagao de signos que assim passam de uma “tribo urbana” a outra ou se apresentam como pura estética paradoxal entre individuos que apreciam suas formas e delas se apropriam sem preocupar-se com sua origem, desviando mais uma vez marcas que j4 vieram de outro contexto social e cultural. Alguns usuarios de piercings gostam da ideia de ter metal no corpo. As tatuagens biomecAnicas representam uma tecnicizagao metaférica do corpo: circuitos eletrénicos, chips, méquinas cibernéticas, formas geométricas ou ainda desenhos de monstros saidos da cultura cibernética e principalmente dos videogames. Muitas vezes 0 estilo tribal mistura-se ao estilo biomecanico, j4 que s4o possiveis todas as variagdes, havendo intercambio de signos pelo prazer. O signo tegumentar é, a partir de entéio, uma maneira de escrever metaforicamente na carne os momentos-chave da existéncia: uma relagéo amorosa, uma conivéncia de amizade ou politica, uma mudanga de status, uma lembranga em uma forma ostentatéria ou discreta, na medida em que seu significado permanece muitas vezes enigmatico aos olhos dos outros e o lugar mais ou menos acessivel a seu olhar na vida cotidiana. Ele é meméria de um acontecimento forte, da superagdo pessoal de uma passagem na existéncia da qual o individuo pretende conservar uma lembranga. Uma reivindicagiio de identidade que faz do corpo uma escrita com relac&o aos outros, uma forma de protegéo simbélica contra a adversidade, uma superficie protetora contra a incerteza do mundo. A marca tegumentar ou a joia do piercing também sao modos de filiagao a uma comunidade flutuante, muitas vezes com uma cumplicidade que se estabelece de imediato entre aqueles que a partilham. Inscrevem-se também como atributos de um estilo mais amplo que a inala a adesio a uma comunidade urbana particular. Rito pe soal para mudar asi mesmo mudando a forma do corpo. O individuo manipula as referéne . as. tradigdes ¢ constréi um sincretismo que se ignora — a experi ne a da Marca torna-se, entdo, uma experiéncia ¢ iritual, um rito fntimo de Passagem (Jeffrey 1998; Le Breton 1991). ‘Adous ao corpo 39 le de atrair As mi is impli i arcas Corporais implicam igualmente uma yontad fe 0 jog So eee ec ai waite com os locais de inscri¢a0, or aa ar dos outros ou somente daqueles CX) cumplicidade se busca. Permanecem sob a iniciativa do individuo © encarnam, entao, um espago de sacralidade na representa¢ao de si. A superficie cutanea irradia com uma aura particular. Acrescenta um ido e de brincadeira 4 vida pessoal. £ muitas vezes| priagdo de um corpo e de um mundo que escapam; | lente seu vestigio de ser, toma-se posse de si mesmo, Inscreve-se um limite (de sentido e de fato), um signo que restitul a0 sujeito o sentimento de sua soberania pessoal. A marca € um limite simbélico desenhado sobre a pele, fixa um batente na busca de significado e de identidade, é uma espécie de assinatura de si pela qual o indivfduo se afirma em uma identidade escolhida. De maneira significativa, a tatuagem na priso traduz uma resisténcia pessoal & eliminagao da identidade induzida pelo encarceramento que entrega 0 tempo e 0 corpo a investigagao permanente dos guardas. Para o detento, simboliza uma dissidéncia interna, sublinhando que a perda de autonomia € provis6ria, que 0 corpo permanece sua posse propria e inaliendvel, a marca nao lhe pode ser subtrafda (Saunders 1989, p. 40). Na falta de exercer um controle sobre sua existéncia, 0 corpo é um objeto ao alcance da mao sobre o qual a soberania pessoal quase ndo encontra entraves. O estigma simbolizava a alienagdo ao outro na sociedade grega antiga; hoje, a0 contrario, a marca corporal ostenta 0 pertencer a si. Traduz.anecessidade de completar por iniciativa pessoal um corpo por si mesmo insuficiente para encarnar a identidade pessoal. Body building nteligénel Ao contrario das pretens6es de certas correntes da I aro homent Artificial que negam qualquer importancia ao corpo para torna um puro espirito-computador, o body builder reafirma, con radicalismo (ou ingenuidade), o dualismo entre 0 corpo € 40 Papirus Editora m o mes mo o espirilo. ercicios em sua alimentagao, transformada em diet calculada, ou em sua vida cotidiana, poupanga de si mesmo. O body buil que se imp6e quanto ‘ética meticulosamente sempre sob a égide do controle e da der 86 est4 Preocupado em adquirir massa muscular; a seus olhos, a gordura é um Parasita que mobiliza uma estratégia permanente de eliminagao. E claro que o iniciante que quer forjar para si uma “base” suficiente deve a principio comer por quatro para desenvolver seu volume fisico. Em. seguida, a gordura acumulada é convertida em alimento do mtisculo por um exercicio rigoroso e um regime apropriado. Sua alimentagao, pura matéria para fabricar miisculos, baseia-se em um cAlculo cient{fico da soma de protefnas a serem absorvidas. Restringe-se a cinco ou seis refeigdes didrias nos antfpodas da gastronomia e assimiladas como uma outra forma do trabalho a ser realizada. O complemento nutricional é dado pela protefna em p6, por minerais e vitaminas. A alimentagao esboga uma disciplina total que ocupa as vezes Varias horas do dia, o treinamento tornando-se a forma ascética de uma existéncia dedicada aos miisculos e & aparéncia, uma liturgia do corpo a Ser modelado sem trégua. A indecisao do pertencer sexual que Caracteriza Nossas sociedades, o body builder opde a demonstracaéo sem equivoco de sua masculinidade. Na mulher engajada em uma pratica intensiva, a ingestdo de horménios masculinos, associada & dietética e aos exercicios, tende a eliminar a feminilidade e a produzir um corpo inédito em sua forma, inapreensivel, a no ser pelo corte dos cabelos ou pelas roupas. Milhares de homens e de mulheres se matam pelo seu corpo colocado Como alter ego (como haltere ego), sempre no espelho diante stat - Porque as salas t@m espelhos —, e os exercicios exigem sua presenga. ‘Adeus ao corpo 41 rae iia meio. nor con ma le declato francés C. Plaziat, como bom dualista, fala de seu orgulho “de ter essa musculatura (...), de ter construfdo esse Corpo ao longo dos anos. Tudo isso € gerido pela cabega que induz a vontade e a coragem” (Actuel, n° 19, 1992), O vocabulario nao é ambiguo. Na Franca, uma pesquisa da Sofres efetuada em 1995 contabiliza quatro milhées de pessoas que incluem desde as que frequentam de modo regular € intenso as academias até aquelas que buscam entrar em forma de modo mais relaxado, pela musculagao. Sabe-se que nos Estados Unidos (Courtine 1993) ou no Brasil (Malysse 1997) o fendmeno adquire uma amplidao social consideravel. Articulam-se as funcdes corporais a maquinas para combater 0 tédio ou aumentar 0 exercicio do controle de si. Os instrumentos para exercicios aer6bicos ou de musculagao, por exemplo, toram-se com facilidade calorosos, interativos. A informdtica contribui, dando as mé4quinas a competéncia prépria para transforma-las em parceiras amigdveis e sinceras. Nao hesitam em dizer suas verdades aos usudrios dos quais conhecem as particularidades fisicas e os desempenhos habituais. Visam suscitar uma motivagao constante e colocar seu corpo & disposigao do usuario. O body building é um hino aos misculos, um virar 0 corpo do avesso sem esfoladura, pois as estruturas musculares sio tao visiveis sob a pele viva dos praticantes quanto nas pranchas de Vesdlio. Além disso, 0 condicionamento implica a distingao das séries musculares a serem trabalhadas separadamente umas apés as outras. Pega por peca, o body builder constr6i seu corpo 4 maneira de um anatomista meticuloso preso apenas a aparéncia subcutdnea. Uma férmula muito comum diz, alias, que um corpo bem preparado € “malhado” (Stutz 1998). O isolamento do corpo como alter ego é explicito na consideragio desse praticante que se langou em uma operacao metédica de escultura de si: “Nao se deve considerar um misculo como uma parte da gente, deve-se considerd-lo como quando se olha para um objeto. Determinada parte deve ser mais desenvolvida, outra mais afinada etc., como um escultor, @ gente faz retoques como se nao fosse da gente” (Rahmouni 1993). 0 body builder forja para si um corpo de maquina com acabamento cinzelado, cujo vigor € rematado pelos esteroides e pela dietética, u™ | 42. Papirus Editora corpo pacientemente fabricado, trabalhando sucessivamente feixes de misculos seguindo uma analitica meticulosa da carne, O uso lancinante das maquinas cumpre sua fungiio: aos poucos, estas parecem penetrar 0 corpo e entrar em sua composi¢ao, sustentam 0 body builder na paisagem técnica da sala de musculagao.* Em uma relagio com o espelho mediatizada pelas ferramentas de modelagem de si, body builder € uma fortaleza de misculos intiteis em sua fungio, pois para ele nao se trata de exercer uma atividade fisica em um canteiro de obras ou trabalhar como lenhador em uma floresta canadense. E buscada a forga muscular em si, em sua dimensiio simbélica de restauragao de identidade. O mtisculo nao tem incidéncia em uma sociedade onde as atividades que exigem forca tendem a desaparecer substitufdas pelas méaquinas, paradoxo (aparente) em uma sociedade que tende @ cultura cibernética, na qual, como veremos, 0 corpo é muitas vezes considerado obsoleto. O body builder, o construtor de corpo, constréi seus limites fisicos, a cada dia os enfrenta em uma ascese fisica baseada em exercicios repetitivos; em um mundo de incerteza, constr6i passo a passo um containing que lhe permite permanecer senhor de si, ou pelo menos se produzir sinceramente a ilusdo de ser enfim ele mesmo.* Assume seu corpo como uma segunda pele, um sobrecorpo, uma carroceria protetora, coma qual se sente finalmente protegido em um universo do qual controla todos os parametros. Aqui encontramos a dor como enfrentamento simb6lico no limite e batente provisério de uma identidade a ser construida (Le Breton 1995).’ A sala de musculagao é muitas vezes 5. P, Schelde fala com ironia do ator Arnold Schwarznegger, por muito tempo modelo absoluto do body builder: ele “é como a pega de uma tecnologia poderosa: vocé o leva a algum lugar, aperta um bottio e ele comega a funcionar”, escreve ele. “E 0 corpo final décil, 0 corpo construido, realgado pelos esteréides, que integra um espirito igualmente docil: 0 computador inteligente que executa os programas, mas poucas coisas além disso” (Schelde 1993, p. 203). A esse respeito, ver as andlises de M. Dery (1998). i Abordamos demoradamente a relagio intima com a dor muscular nas atividades fisicas € esportivas que exigem o maximo do corpo (1991, 1995); ndo voltaremos a elas aqui, mas encontramos em muitas atividades sociais essa mesma passagem obrigatéria pela dor para fabricar © sentido. A cultura sadomasoquista, que os punks tiraram de seus ateliés na Inglaterra dos anos 70 que virou igualmente moda, também esti se desenvolvendo sensivelmente. Trata-se também esse caso de produzir uma dor significante para o ator em uma relacdo ritualizada com um outro. Adeus ao corpo 43

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