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Se bem que relativamentetardia, € complesa e matizada a rellexao husserliana sobre ‘a cultura e, em particular, o significado do Ocidente. Para Husser, a cultura filosica é a cultura da Razio, Nesse sentido, a Filosofia néo é europeia. elo contririo, éa Europa que ‘6 filoséfica, Ea grandeza da Europa flosdfica,o seu estatuto de *arconte” da Humanidade, no se confunde com qualquer projeto de dominio protagonizado por um povo, mas com ‘© modo como ela, na fnitude das suas formas de cultura, €0 fenémeno da ideia infnita de ‘uma cultura racional que pode, sem limites, tornarse a cultura de uma Humanidade univer sal, A supranacionalidade europeia nao seri, por iss0, um projeto de dominagZo para uso dos “europeus’, masa ideia de uma humanidade auténtica, congregada nas tareas infinitas de realizagio da Razio, que jamais poderdo alcangar uma forma final definitiva, apta para “uma repetigio regular ou pars uma imitagio puramente exterior. 0 optisculo sobre a crise «da humanidade europeta, de 1935, juntamente com os artigos para a revista japonesa Kaizo, de 1923-24, sobre renovagio, sio pega essencias da reflexdo de Husserl sobre a cultura ‘ocidental e sobre o papel dete-minante que neta desempenha a idea de Filosofia Sfo eles que se oferecem aqui, nesta primeira tradueio para Lingua Portuguesa, sob “o titulo genérico de Buropa: Crise € Renovacio. EUROPA: CRISE E RENOVACAO na Morfvia, atual Repiiblica Checa, em 8 de abril de 1859. Estudou Astronomia 1a Universidade de Leiprig entre 1876 € 1878. Em seguida, estudou. Matemitica, primeiro sobre a diregio de Kronecker e de C.Weierstrass,em Berlim, entre 1878 ¢ 1880, € depois na Universidade de Viena, de 1880 1882. F deste tiltimo ano o seu primeiro , trabalho académico: a dissertagio “Beitr ge mur Theorie der Variationsrechnung” (‘Contrbuigées para a Teoria do Céleulo de Variagdes"), Terd, em seguida, opomuni- dade de assstir a algumas ligdes de Franz Brentano nos semestres de vero de 1884- 1885 € 1885-1886, oportunidade que ha» | via de alterar radicalmente a sua postura | intelectual, levando-o da Matemética até a | Filosofia, Bstuda em Halle com Car! Stumpf | EUROPA: CRISE E RENOVACAO centre 1886 € 1887. Ai, na Universidade de Walle, inicia sua atividade docente como Privatdozent, entre 1887 € 1901, Mudzse | ‘em seguida para a Universidade de Gotinga, como auferordentlichen Professor, nela permanecendo até 1915, oa Ga www. forenseuniversitaria.com.br Ks Respite dite ster) jie © GEN | Grupo Editorial Nacional retine as editorss Guanabara Koogan, Santos, Roca, AC Farmacéutica, Forense, Método, LTC, EPU. e Forense Universitéria, que publicam nas reas clentifica, téentca e profssional, Essas empresas, respeitadas no mercado editorial, construiram catélogos inigualaveis, com obras que tém sido decisivas na formagéo académica e no aperfeigoamento de -virias geragées de profisionais e de estudantes d2 Administragio, Direito, Enferma~ gem, Engenharia, Fisioterapia, Medicine, Odontologia, Educagio Fisica e muitas outras. cigncias, tendo se tornado sindnimo de seriedade € respeito. Nossa missio é prover o melhor conteido cientifco e distribul-lo de maneira flexivel e pprecos justos, gerando beneficios eservindo a autores, docents,livr r0s, funcionsrios, colaboradores e acionistas. Nosso comportamento ético incondicional e nossa responsabilidad social e ambiental so reforcados pela natureza educacional de nossa atividade, sem comprometer 0 cres- cimento continuo ¢ a rentabilidade do grupo. Edmund Husserl EUROPA: _ CRISE E RENOVACAO Artigos para a revista Kaizo A crise da humanidade europeia e a filosofia De acordo com os textos de Husserliana V1 ¢ XXVII Editados por ‘Walter Biemel e Thomas Nenon / Hans Rainer Sepp. ‘Tradugao de Pedro M. S. Alves Carlos Aurélio Morujio Diretor cientifico Pedro M. S. Alves Aprovada pelos Arquivos-Husserl de Lovaina Centro ce Filosofia da Universidade de Lisboa awh, Rio de Janeiro 1 ABDITORA FORENSP se responsable pelos vicios do produto no que concern sus edi compre ndidst a lmpressioe a apresentagio 3 fn de posibiita a coasumider bem manased-lo ello, Osvcios relacionados 2 atualizagio da obra, 20s conceit doutindvis, is concepqSes ideologics © referncias Indevids slo de responsabildade do autor cou avalizador ‘Asrecamagies dever ser fetasaténaventa dia partir da compra even com {oat 26 da Lei n 8678, de 1.091930) = Teanstation from German language edition DIE KHISS DER EUROPAISCHEN WISSENSCHAFT EN UND DIE TRANSZENDENTALE PHANOMENOLOGIE by Edmund Huser Copyright © 1954 Kluwer Academic Publishers BV. -Kluer Academic Publishes B.Vie apart of Springer Sclncet Business Media All Righte Reserved, ase num conn com Spring VeriagoCento de ilo daUnveriad deLisos, detente shore cand panting praguns a qual eta gud do Pet de ego “Tradgio das Obra Hse te FT. sob rs de Petro MS Aes = Europa: crise e renovacio ISBN 978-85-309.5826 8 ‘Deretosexclusivos da presente digo para o Brasil Copyright© 2012 by [FORENSE UNIVERSITARIA um sel da EDITORA FORENSE LTDA. Uma editors ntegrante do GEN | Grupo Editorial Nacional ‘Travessa do Ouvidor, I~ 6 andae~20040-040 ~ Rio deJaneiro ~ RY “Tels: (OXX1) 3543-0770 ~ Fax (0X21) 3543-0896 bslacpintowgrpogen com br | www grupogen comb + O pula cos obra sje faudulertamentereproduida, dvulgoda ou de qualquer forma willaada poder requere a apreensto dos exemplaresreproduzidos ou sspensio da divalgago, sem prejuizo da inden 2asiocabivel (rt. 102 da Lei n. 99610, de 192.198), ‘Quem vender, exputervends, ocular, adquir dist, iver em depésit ou uslizar obra ox fonogra~ sma eproduzidos com fade, com a finlidae de vender cbter ganho, vantagem, provetolnro dito ox Indireto, pars sou para outem, ser soidariament responsivel com ocontafto, nos terms dos artigos precedente, respondendo como contaftores 0 impartidore distribudor em caso de reprodugso no stein (at 1 da ein 9.610098) 1 eaigdo = 2014 ‘Tradvtor Calos Audio Mora e Pedro M.S. Alves Direorcentifico Pedro M.S. Alves (CIP Brasil Catalogagto-na-omte Sindiato Nacional dos Editors e Livros, R. 196 Huser, Edmund, 1859-1938 Europe: crise e renovago:artiga pare a revita Ksio — a crge da humanidade europea @ 2 flosofa/ Edmund Hssr: taducio Pedro M. S. Ales e Carlos Aurého Morujie ~ 1 ed. ~ Rio de Janeiro: Porense Univers, 2014 176 pil. “Talagd de Die kris des eropiscen menschetms und de ploophie ISBN 978.85-309-5826-8 1. lost modetea. 2. Clncia-Flosofia. 3. Rrnomenologa 4. Tanscendentalismo, [Titulo 14-1408, cpp: 190 Du INDICE GERAL Introdugéo na Traducio Portuguesa. ‘CINCO ARTIGOS SOBRE RENOVAGAO.......... Renovagao. Seu Problema e Método © Método de Investigagio da Esséncia Renovagao como Problema Ftico-Individual 1. Formas de vida da autorregulagdo enquanto formas prévias da vida tica, Intro- dugio a0 tema : ‘A. O hiomem como ser pessoal livre B, Formas de vida especificamente humana e formas p lagio ... M.A forma individual de vide auténtica-humanidade ‘A. Génese da renovagio enquanto autorregulacio absoluta e universal. Razio, felicidade, contentamento, conscigncia ética B.A forma de vida humanidade auténtica C.Bsclarecimentos e complementos Conclusio Renovacao e Cigncia ... L.A essénca, a possibilidade de uma verdadeira comunidade de cultura 11. A forma de valor superior Humanidade-propriamente-humana ....... Tipos Formais da Cultura no Desenvolvimento da Humanidade 1. Os niveis da cultura religiosa . oe . A.A Religido “que despertou naturalmente” .... B.A figura do movimento de liberdade religiosa CA figura cultural religiosa da [dade Média... TL. Os niveis da cultura cientifica . ‘A.A figura do movimento filoséfico da ibertacio. A esséncia da auténtica Ciencia. : B. Apreparacio da figura cultural losfiea na Greek tica Ciencia citieteetieeeees Os dois niveis da auten- vir mu 4 a 31 35 39 40 50 52 33 65 7 a n 76 7 7 34 €.0 desenvolvimento da figura cultural filos6fica na Idade Média e aa Moder- nidade nena votes a 07 ACRISEDA HUMANIDADE FUROPEIA EA FILOSOFIA -.c ccs. 113 INTRODUGAO NA TRADUGAO PORTUGUESA Teese cess 15 u wl CON Co nm en en A hws 153 Se bem que relativamente tardia, é complexa ¢ matizada a reflexio husserliana sobre a Cultura e, em particular, o significado do Ocidente, GLOSSARIO ALEMAO-PORTUGUES sone 155 Ela desenvolveu-se sobretudo nas décadas de 20 e de 30 do século XX, ‘eve, porém, o seu inicio por ocasido das vicissitudes da Primeira Grande Guerra ~ catastréficas para a Europa no seu todo e, para Husser!, também draméticas no plano pessoal, com as mortes de seu filho Wolfgang, em 1916, no campo de batalha de Verdun, e de Adolf Reinach, seu discfpulo, em 1917 -, nas célebres ligdes sobre Fichte, proferidas em Friburgo, no ano de 1917, ¢ repetidas por duas vezes em 1918. Os dois opiisculos aqui reunidos ~ os artigos para a revista japonesa Kaizo, de 1923-24, e a confe- réncia de Viena, de 1935 -, apesar da distancia temporal de mais de uma década, sao pecas essenciais de uma mesma reflexdo e apresentam uma unidade e complementaridade assinaliveis Neles, duas ideias funcionam como motivos permanentes de refle- xo. Elas coatém, mais que um diagndstico acabado, uma identificagio dos sintomas a partir dos quais serd possivel compreender o destino da cultura europeia e agir tempestivamente sobre a sua situagao presente. Sio elas as ideias de crise e de renovagao. “A Europa esté em crise’, “Algo novo deve suceder” ~ tais sao as duas afirmagées terminantes que Hus- serl faz, em unissono com muitos outros pensadores contemporineos, no inicio da conferéncia de Viena, de 1935, e no primeiro dos artigos para a revista japonesa Kaizo, de 1923. Elas so o centro de gravidade de todo 0 pensamento de Husserl nestes dois opisculos. Essas ideias de crise e de renovagao estao, porém, ligadas de uma maneira diametralmente oposta tanto ao modo costumeiro de relaciond- vi -las como & maior parte dos diagndsticos hodiernos da cultura europeia, muitos deles célebres. Desses tilt 105, mencionemos apenas dois casos, que esto a mon- tante e a jusante destes opuisculos husserlianos que ora se publica, Pri- meiro, o de Oswald Spengler, em 1918, com a longa obra intitulada A Decadéncia do Ocidente. Esbogo de uma Morfologia da Historia Mundial, onde um biologismo da cultura, totalmente contrério ao pensamento de Husserl, anuncia a desagregaco e a morte da cultura ocidental, Uma © outra vez, na conferéncia de Viena e no primeiro artigo para Kaizo, Husserl alude a esta tese e toma distancia relativamente a esta concepgao global a respeito do destino do Ocidente. “Por razdes essenciais, nao ha nenhuma zoologia dos povos’, diré em um passo significative da confe- encia de Viena. De seguida, e em um contraste ainda mais vivo, é instrutivo men- ‘cionar aquele diagndstico que, em 1936, em plena maré nazista ¢ fascista, Heidegger havia de fazer em Roma, sob o titulo A Europa e a Filosofia Alema, uma conferéncia que faz. um diptico a negro com a de Husser! em Viena, proferida apenas um ano antes, e onde se torna patente que Heidegger nao ¢ apenas o “antipoda filosofico” de Husserl no quadro das discussées de escola sobre Fenomenologia, como este uma vez confessou, ‘mas 0 seu completo oposto no que diz respeito &s questdes m: Cultura, da Politica e da Civilizagao, Heidegger termina sugestivamente a sua conferéncia com um célebre fragmento de Heraclito sobre polemos, vastas da a guerra ou o combate. E bem significative que polemos, aquele que, nas, palavras de Heréclito, expde a uns como douloi, servos, ¢ a outros como eleutheroi, livres, seja, nas palavras de Heidegger, aquele que expde uns homens como escravos (Knechte) e outros como Senhores (Herren). Ora, para Senhor, neste sentido preciso do dominio sobre outrem, os Gregos usavam a palavra despotes, e a relagio de senhorio e servidio ¢, na sua origem, uma relagio que se desenvolve na esfera domestica do oikos. Que esta ndo seja a experiéncia origindria da liberdade para os Gregos, é 0 que vit ‘© atesta o célebre verso de Menandro: “Na Casa {oikos], 0 tnico escravo & ‘0 Senhor [ddespotes]”. A experiencia grega da liberdade (da eleutheria) e do ‘seu contrario, aservidao, é, antes, a experiéncia da insergao do individuo nna vida da polis ¢ do seu surgimento como cidadao, na igualdade com os dlemais, $6 no miituo reconhecimento da igual liberdade de todos pode cada um ser efetivamente livre. E este o terreno, “politico” por exceléncia, da liberdade des Gregos, que implicava, na época classica, os direitos po- icos muito concretos de, por exemplo, falar e votar na Assembleia, ser E por referéncia a ele que se deve compreender a privacao de liberdade prépria do escravo. A tra- arconte ou nomear os magistrados, e outro: dugio de eleutherios por Herr, ou seja, a submersio da liberdade politica na esfera das relagdes de dominio ¢ servidao, é ndo s6 uma perversio do que significa liberdade para os Gregos, mesmo para um “pré-classico” como Heréclito, como uma flagrante confissio do que ela estava signifi- cando para o Heidegger de 1936. Bla era, como a conferéncia o diz logo no inicio, © destino do povo alemao para um projeto de autoafirmacao, conjugando as ideias de defesa perante “o asiatico” (certamente o nome moderno para os barbaroi de outrora, que incluia, por junto, a Russia bolchevista e os judeus europeus) e de superacio do “desenraizamento” € “fragmentacao’ da Europa. Coisa completamente diversa tinha Husserl para dizer acerca da Filosofia e da supranacionalidade europeia, em 1935. A cultura filosé- fica é a cultura da Razao. Nesse sentido, a Filosofia nao é europeia. Pelo contrario, é a Europa que ¢ filoséfica. E a grandeza da Europa filoséfica, 0 seu estatuto de “arconte” da Humanidade, nao se confunde com qual- quer projeto de dominio protagonizado por um povo, mas com 0 modo como ela, na finitude das suas formas de cultura, é o fendmeno da ideia infinita de uma cultura racional que pode, sem limites, tornar-se a cul- tura de uma Humanidade universal. A supranacionalidade europeia nao sera, por isso, um projeto de dominacao para uso dos “europeus’, mas a ideia de uma humanidade auténtica, congregada nas tarefas infinitas x de realizagao da Razio, que jamais poderao alcangar uma forma final ¢ definitiva, apta para uma repetigio regular ou para uma imitagio sem critério. E justamente neste contexto que a ideia de strenge Wissenschaft, Ciencia Estrita, é relevada por Husserl como o lugar de realizacao de uma cultura auténtica, articulada nos planos da vida cognitiva, ética e social. Neste contexto, nao tem qualquer sentido a acusa¢do, muito dissemina- da, de um “eurocentrismo” de Husserl. Antes de afirma-lo, seria, de fato, importante esclarecer 0 que a Europa verdadeiramente é, para Husserl, e de que é ela a fenomenalizacao, Nessa perspectiva, compreende-se que 0 modo como, nestes optisculos, as ideias de crise e de renovagao aparecem conjugadas cho- que também, como dissemos, com a forma costumeira de pensé-las, ‘Nao se trata, para Husserl, da verificagao, no plano fatual, de uma crise qualquer da Europa que impusesse uma inovagao na sua cultura ou, mais fundo ainda, um novo comego diante da suposta faléncia do cami- nho até entao percorrido, Nao se trata, pois, com 0 tema da crise, da ve. rificagao de um fracasso da cultura da Razao. Pelo contrario, trata-se de renovagao, nao de inovagao. E a renovacao nao é resposta a faléncia de um projeto. Ela consiste, antes, no regresso ao sentido original da cul- tura europeia e no cumprimento da exigéncia de constante renovacao que lhe é insita, ou seja, de constante reatualizacao do seu ideal de vida Em suma, a crise detectada nao é culminagao de uma trajetéria da cul- tura europeia que se revelaria, por fim, invidvel, mas um abandono de rumo; e a renovagao exigida nao é, por isso, reinvengao, mas regresso € repristinagao. Husserl aponta com clareza o ponto em que crise se ori- ginou: sua demasiado estreita, sob o padrao das ciéncias mateméticas da Natu- rata-se de um transvio da racionalidade, de uma interpretagdo re7za, com as inevitaveis consequéncias do naturalismo e do objetivismo na compreensio da esséncia da subjetividade. Esta limitagio da forma de uma cultura racional esta apelando, do ponto de vista de Husserl, nao para um abandono da matriz racional de uma cultura auténtica, x mas para um “superracionalismo” e para um “heroismo da Razio’, que possa restabelecer as conexdes perdidas entre racionalidade e vida e vencer, assim, essa situagio critica atual de desespero perante o siléncio da Razio no que respeita aos problemas mais fundos da subjetividade e da vida humana. Dar a forma de uma cultura racional a vida ética indi- vidual e comunitéria, surpreender a renovacdo como exigéncia basilar da humanidade auténtica, que a poe na rota de uma progressio ilimita- da em ditecdo a um polo que “reside no infinito’, fazer também para o eidos Homem 0 que as ciéncias matematicas fizeram j4 para a Natureza, segundo a forma peculiar da racionalidade prética, imperativa e nao apenas assertiva — eis 0 que se imp@e para a ultrapassagem da “crise das ciéncias’, crise que nao resulta de um falhanco da racionalidade cien- tifica, mas do seu estreitamento e de uma compreensio unilateral sua, metodologicamente moldada sobre o eidos Natureza. A sétie de cinco artigos sobre renovacao foi motivada por um con- vite da revista japonesa Kaizo, feito através do seu representante T. Akita, em 8 de agosto de 1922. O convite enderecado a Husserl seguiu-se aos convites feitos a Bertrand Russell e Heinrich Rickert, e foi certamente motivado pelo fato de o pensamento de Husserl conhecer, na altura, gran de divulgagao entre os circulos filoséficos japoneses, suscitando mesmo a visita frequente de estudantes e docentes a Friburgo, onde assistiam as suas licdes e seminirios. No outono e no inverno de 1922/1923, Husserl entregou-se A preps: ragdo da sua contribuicdo. O nome da revista, Kaizo, que significa pre- cisamente renovagio, deu-lhe oportunidade de recuperar de uma forma istemdtica uma multiplicidade de reflexdes sobre a Ftica e a teoria da cul: ‘tra que haviam sido despoletadas pelos acontecimentos trauméticos da Primeira Grande Guerra, colocando, nomeadamente, a problemtica Etica x! sobre um novo enfoque relativamente As ligdes de Etica de 1908/1909. projeto desde cedo se desdobrou em uma série de artigos. A 14 de de- zembro de 1922, Husserl comunica a Roman Ingarden que escreve nesse momento “quatro artigos sobre problemas ético-sociais (renovagio) para uma revista japonesa”: Os trés primeiros ficaram concluidos em janeiro de 1923, em versao impressa. E nessa data que Husserl os envia para 0 editor. © primeiro apareceré no mesmo ano em edigdo bilingue. Os se- gundo e terceiro artigos surgirao em 1924, apenas na traducao japonesa. Para todos eles, desconhece-se a identidade do tradutor. Por forca de discordancias, entretanto, surgidas entre Husserl e o editor, os dois artigos remanescentes da série prevista por Husserl nunca chegaram a aparecer. Deles, existe apenas a versio manuscrita, sem clara indicacao da ordem por que deveriam ser publicados, ¢ 0 artigo que, na presente edigao, surge em iiltimo lugar nao esta sequer terminado. A conferéncia de Viena sobre “A Crise da Humanidade Europeia e 2 Filosofia” tem também uma génese ocasional, apesar da extraordinéria eficacia que o tema da crise das ciéncias ter na derradeira fase da ativida- de de Husserl. Em marco de 1935, o Kulturbund vienense convida Husser! para proferir uma conferéncia. © convite é aceito, em pleno trabalho de preparacdo da contribuicdo para o Congresso de Praga, promovido pelo Cercle Philosophique de Prague pour les Recherches sur I'Entendement Hu- main. A 5 de maio, Husser] desloca-se para Viena, passando por Muni- que. No dia 7, pelas 20 horas, a conferéncia é dada na sala de conferéncias do Osterreichisches Museum. Mais uma vez a Roman Ingarden, Husserl diré que venceu a fadiga e que falou ‘com um sucesso inesperado’, Por forca dessa recepgio, a conferéncia sera repetida a 10 de maio, A.19 de junho, Husser! confidencia a Dorion Cairns que trabalha na conferéncia dada em Viena, melhorando-a do ponto de vista literério, aprofundando-a e fundamentando-a “para leitores alemaes”, O resultado desta reelaboracao permaneceu, porém, inédito. Deste cadinho havia de sair o que seria a derradeira, e para muitos decisiva, obra de Husserl, 0 xi seu verdadeiro testamento filoséfico ~ A Crise das Ciéacias Europeias ea Fenomenologia Transcendental, aparecida em 1936. A presente edigao segue o texto publicado na colegio Husserliana. Assim, para os cinco artigos sobre Renovaco, a tradugao tem por base 0 volume XXVII, intitulado Aufsdtze und Vortriige (1922-1937), editado por Thomas Nennon e Hans Rainer Sepp, e publicado em Dordrecht pela Kluwer Academic Publishers, em 1989. Os artigos traduzidos ocupam, nessa edigao, as paginas 3 a 94, sob o titulo geral Fiinf Aufsitze tlber Er neuerung. A traducao da Conferéncia de Viena basek de Husserliana, intitulado Die Krisis der europaischen Wissenschaften und se no volume VI die transzendentale Phinomenologie, editado por Walter Biemel e publi- cado em Haia por Martinus Nijhoff, em 1962. A conferéncia figura, nessa edigdo, como um texto complementar, sob 0 titulo Die Krisis des euro- piiischen Menschentums und die Philosophie, entre as paginas 314 e 348, A tradugéo que cra se apresenta resultou da colaboracao entre Pe- dro M.S, Alves e Carlos Aurélio Morujao. Da responsabilidade de Pedro M. S. Alves é a tradugéo dos quatro primeiros artigos sobre Renovacao e da Conferéncia de Viena, Carlos A. Morujo traduziu o quinto artigo sobre Renovacio. Nesta edigdo portuguesa, mantém-se entre <> e a negrito as pagi- nas da edigio da Husserliana, As palavras que aparecem entre <> sim- ples, sem negrito, sao insergdes dos editores da Husserliana, motivadas por faltas de particulas de ligagao (principalmente conjungées) ou por auséneia de titulos cm algumas subdivisées do texto, lacunas que foi necessario colmatar. As notas dos tradutores estao assinaladas pela sigla [N-T: Nota do Tradutor]. As anotagdes dos editores da Husserliana esto assinaladas pela sigla [Nota da Hua]. As notas do proprio Husserl estéo assinaladas por (N.A.: Nota do Autor). Completa esta edicdo portuguesa xl um Glossério Alemao-Portugués, onde as principais opgées terminolé- gicas sdo expressamente indicadas, Por fim, seja dito que 0 titulo deste volume, A Europa sob o Signo da Crise e da Renovagao, & da responsabilidad do diretor desta colesao de Obras de Edmund Husserl. Pedro M, §, Alves x CINCO ARTIGOS SOBRE RENOVAGAO r— cw RENOVACAO. SEU PROBLEMA E METODO! Renovacio é 0 grito de chamada geral no nosso doloroso presente, € €-0 no dominio de conjunto da cultura europeia. A guerra, que devas- tou a Europa desde o ano de 1914 e que, desde 1918, apenas preferiu, em vez dos meios de coacéo militares, os meios “mais refinados” das torturas da alma ¢ das misérias econdmicas moralmente depravantes, pés a des- coberto a intima inverdade, a auséncia de sentido desta cultura. Todavia, esta descoberta significa precisamente a obstrugao da sua forca impulso- ra mais propria. Uma nacdo, uma humanidade vive e cria na plenitude das forcas quando é transportada por uma crenga impulsionadora em si mesma ¢ em um sentido belo e bom da sua vida de cultura; quando, por conseguinte, nao simplesmente vive, mas antes vive ao encontro de uma grandeza que tem diante dos olhos e encontra satisfagio no seu sucesso Progressivo, pela realizagao de valores auténticos cada vez mais elevados, Ser um membro importante de uma tal humanidade, colaborar em uma tal cultura, contribuir para os seus valores exaltantes, éa ventura de todos aqueles que sdo excelentes, a qual os eleva acima das suas preocupagses infortinios individuais. Esta crenga que nos clevou, a nés ¢ a nossos pais, e que se trans- mitiu as nagdes que, como a japonesa, s6 nos tempos mais recentes se juntaram ao trabalho da cultura europeia, esta crenga é 0 que perdemos, © que perderam circulos alargados do povo. 1 Primeiro artigo para 2 revista Kaizo. Aparecido inicialmente em The Kaizo, 1923, Caderno 3, p. 84-92 (texto original) e p. 68-83, traducio japonesa [Nota da Hua) <4> Se ela jd se tinha tornado vacilante antes da guerra, desmoro nou-se agora completamente. Como homens livres, estamos perante este fato; ele deve determinar-nos do ponto de vista prético. De acordo com isso, dizemos: algo novo deve suceder; deve suceder em nds ¢ através de nés préprios, através de nds enquanto membros da humanidade vivendo neste mundo, dando-lhe forma através de nés € re- cebendo forma através dele, Sera que deveremos aguardar para ver se esta cultura nao sana a partir de si propria, no jogo de sorte entre as suas for- gas produtoras e destruidoras de valores? Deveremos promulgar a “deca- déncia do Ocidente” como um fatum que se abate sobre nés? Este fatum 36 0 é, porém, se o olharmos passivamente - se passivamente o pudermos olhar. Mas isso nao o podem nem mesmo os que no-lo anunciam. Somos homens, sujeitos de vontade livre, que engrenam ativamente no seu mundo circundante, que constante e conjuntamente o configuram. Quer queiramos quer nao, mal ou bem, fazemos assim. Nao poderemos também agir racionalmente, ndo estarao em nosso poder a racionalidade ea exceléncia? Esses sao objetivos quiméricos, objetardo certamente os pessimistas ¢ os adeptos da “Realpolitik”. Dar-se i vida individual uma forma racional € jd um ideal inatingivel para o individuo singular, como quereriamos nds empreender algo semelhante para a vida comunitéria, nacional, para a humanidade ocidental no seu todo? No entanto, que dirfamos nés a um homem que, por causa da inaces- sibilidade do ideal ético, abandonasse os objetivos éticos no assumisse como seu 0 combate ético? Sabemas que esse combate, tanto quanto seja sério e continuado, tem, em todas as circunstancias, um significado criador de valores, que é mesmo ele que eleva, por sis6,a personalidade combativa ao nivel da verdadeira humanidade. Quem negard, além disso, a possibi dade de um progresso ético continuado sob a direc3o do ideal da razao? Sem nos deixarmos desorientar por um pessimismo pusilinime e por um “realismo” sem ideais, nao devemos tomar inconsideradamente como impossivel precisamente o mesmo também para os “homens em ponto grande’, para as comunidades mais alargadas e para as larguissi- ‘mas, e deveremos reconhecer como uma exigéncia ética absoluta uma semelhente disposicao para 0 combate em direcio a uma humanidade melhore a uma auténtica cultura <5> Assim fala de antemdo um sentimento natural que, manifes- tamente, se enraiza naquela analogia platénica entre o homem singular a comunidade. Esta analogia nao é de modo algum, porém, uma ideia plena de espirito ocorrendo nos filésofos que sobem muito além do pen- samento natural, ou mesmo dele se perdem, mas nada mais é que a ex- presséo de uma apercep¢ao quotidiana que desponta, de modo natural, das atualidades da vida humana. Na sua naturalidade, ela mostra-se tam- bém como sempre determinante para, por exemplo, quase todos os casos de juizos politicos de valor, nacionais e mundiais, e como motivo para as correspondentes agdes. Todavia, serdo as apercepgdes naturais desse tipo, ‘¢s tomadas de posi¢do emocionais que elas suportam, um fundamento suficiente para reformas racionais da comunidade, e justamente para a maior de todas as reformas, que deve renovar radicalmente e por inteiro ‘uma cultura humana como a europeia? A crenga que nos preenche ~ que & nossa cultura ndo é consentido dar-se por satisfeita, que ela pode e deve ser reformada através da razio e da vontade humanas ~ 6 pode, portan- to, “mover montanhas” na realidade ¢ nao na simples fantasia quando se transp6e para pensamentos sbrios racionalmente evidentes, quando estes levam a uma completa determinidade e clareza tanto a esséncia ea possibilidade do seu objetivo como 0 método para realizé-lo. Com isso ctia ela, por vez primeira e para si mesma, 0 seu fundamento de justifi- cagéo racional. $6 esta clareza intelectual pode convidar a um trabalho jubiloso, pode dar & vontade a resolugdo e a forca impositiva para a agao libertadora, s6 0 seu conhecimento pode tornar-se um bem comum fir- me, de tel modo que, sob a atuagio conjunta da mirjade dos convencidos ‘por uma tal racionalidade, as montanhas finalmente se movam, ou seje, © movimento simplesmente emotivo da renovasao se transmute no pré- prio processo de renovacao. Contudo, essa clareza nao é, de modo nenhum, facil de obter. Aque- Je pessimismo de que falamos ¢ a impudéncia da sofistica politica, tao fatidicamente dominante no nosso tempo, que se serve da argumentagao ético-social apenas como cobertura para 0s fins egoistas de um naciona- lismo completamente degenerado, nao seriam de modo algum possiveis se os conceitos de comunidade, naturalmente formados, nao estivessem, pese embora a sua naturalidade, afetados por horizontes obscuros, por mediagdes enredadas e encobertas, cuja explanacao clarificadora ultra- passa completamente a forga do pensamento nao exercitado, Apenas a Ciéncia Estrita pode, aqui, <6> criar métodos seguros e resultados fir- mes; apenas ela pode, por conseguinte, fornecer 0 trabalho teérico prévio de que uma reforma racional da cultura esté dependente. Todavia, encontramo-nos aqui em uma grave situa¢ao: pois a Ci- éncia que nos deveria servis, procuramo-la nés em vio. Nisso, aconte- ce-nos 0 mesmo que em toda a restante praxis da vida comunitaria, a saber, quando preferimos fundar, de um modo seguro, os nossos juizos politico-sociais, de politica externa ou nacional, em um conhecimento de causa e procuramos retirar algum saber de um ensinamento cienti- fico que nos pudesse libertar, neste mundo pesado de consequéncias da vida comunitéria, do estado primitivo da representagio e da acio ins- tintiva, tradicional e vaga. Ciéncias grandes e sérias sobreabundam na nossa época. Temos ciéncias “exatas” da natureza e, através delas, aquela * tdo admirada técnice da natureza que deu & civilizagao moderna a sua poderosa superioridede, mas que teve seguramente também, como con- sequéncia, danos muito lastimados. Seja como for, nesta esfera técnico natural do agir humano, a Ciéncia torna possivel uma verdadeira racio- nalidade pratica, e farnece o ensinamento prefigurador do modo como ‘a Ciéncia em geral se deve tornar a candeia da prética. Todavia, falta por completo a ciéncia racional do homem e da comunidade humana, que fundamentaria uma racionalidade na ago social e politica, bem como ‘uma técnica politica racional Precisamente o mesmo vale também a respeito dos problemas da renovagio, que tanto nos interessam. Caracterizado com mais preciso, falta-nos a ciéncia que tivesse empreendido a realizagio para a ideia de homem (e, com isso, também para o par de ideias a prior’ insepariveis: homem singular e comunidade) daquilo que a matematica pura da na- tureza empreendeu para a ideia de natureza e que realizou jé nos seus elementos capitais. Assim como esta tltima ideia ~ natureza em geral, enquanto forma genérica ~ abarca a universitas das ciéncias da natureza, também a ideia do ser espiritual ~ e especialmente do ser -acional, do Homem -~ abarca a universitas de todas as ciéncias do espitito, e espe- cialmente de todas as ciéncias humanas. Por um lado, na medida em que a matemitica da natureza desenvolve, nas suas disciplinas aprioristicas acerca do tempo, espaco, movimento, forcas motrizes, as necessidades aprioristicas que encerram, em tais componentes de esséncia, uma na- tureza em geral (“natura formaliter spectata”), <7> torna ela possivel, na aplicagio a faticidade da natureza dada, as ciéncias empiricasda natureza ‘com métodos racionais, ou seja, mateméticos. Ela proporciona, por con- seguinte, com os seus principios a priori, a racionalizacao do empirico. Por oatro lado, temos, agora, muitas e frutuosas ciéncias referidas 20 reino do espirito, correspondentemente, 20 da humanidade, mas elas sio ciéncias completamente empiricas e ciéncias “simplesmente” empi- ricas. A profusdo colossal de fatos temporais, morfologicos, ordenados indutivamente ou sob pontos de vista préticos, permanect nelas sem qualquer vinculo de racionalidade principial. Falta, aqui, precisamente a ciéncia aprioristica paralela, por assim dizer, a mathesis do espirito € da humanidade; falta o sistema cientificamente desenvolvide do racional puro, das verdades enraizando-se na “esséncia” do homem que, enquan- to légos puro do método, em um sentido semelhante introduziriam na empiria cieatifico-espiritual a racionalidade teorética ¢ também, em um sentido semelhante, tornariam possivel a clarificagio racional dos fatos empiricos, tal como a matematica pura da natureza tornou possivel a ci- éncia natural empirica, enquanto ciéncia matematicamente teorizadora ¢, com isso, enquanto ciéncia racionalmente explicativa. E certo que, do lado do cientista do espirito, nao se trata, tal como- 0 caso com ¢ natureza, de simples “explicacao” racional. Entra aqui em. cena ainda um outro tipo inteiramente peculiar de racionalizagao do em: pirico: 0 gjuizamento normativo segundo normas gerais, que pertenzem a esséncia aproristica da humanidade “racional’, e a direcdo da propria. praxis fatual de acordo com tais normas, prias normas racionais da diregao pratica. As situagdes de ambos os lados sao, em geral, fundamentalmente diferentes, precisamente em virtude dos distintos tipos de esséncia das realidades naturais e espirituais ~ dai que as formas exigiveis para ambas as racionalizagdes do fatual estejam muito longe de ser do mesmo estilo. Sera bom clarificar isto jé de seguida, em um breve contraste, para que, 's quais compertencem as pr6- nas nossas anélises subsequentes da renovacao, nao sejamos obstruidos por preconceitos naturalistas e para que, ao mesmo tempo, tragamos para mais perto de n6s, como dissemos antecipadamente, a especificidade me- tédica dessa iéncia que nos falta equal tais andlises aspiram. Natureze é, por esséncia, simples existéncia fatual ¢, com isso, fato da simples experiéncia externa. Um exame principial da naturezaem geral conduz, portanto, a priori, apenas a uma racionalidade das exterio- ridades, a saber, a leis de esséncia da forma espago-temporal e, por sabre isso, apenas a uma necessidade de ordenacdo regular, exata e indutiva, daquilo que esté espaco-temporalmente repartido - aquilo que nés cos- tumamos designar, pura e simplesmente, como a ordem legal “causal” Em contraste estdo as formas totalmente diferentes do espiritualem sentido especifico, as totalmente diferentes determinag6es generalfssimas de esséncia acerca das realidades singulares das formas essenciais da li ga¢do. Nao corsiderando que a forma espaco-temporal tem, no reinc do espirito (por exemplo, na Hist6ria), um sentido essencialmente diferente do da natureza fisica, ha aqui que indicar que cada realidade espiritual singular tem a sua interioridade, uma “vida de consciéncia” em si mesma {fechada, referida a um “eu”, enquanto polo que, por assim dizer, centrali- ‘za todos 0s atos de consciéncia singulares, pelo que estes atos estéo numa conexio de “motivacao”. ‘Além disso, as realidades singulares separadas, correspondente- mente, os seus sujeitos-eu, surgem uns para os outros em relacdes de mi- ‘tua compreenséo (“intropatia”); através de atos de consciéncia “sociais’ instituem (imediata ou mediatamente) uma forma de tipo completamen: te novo de congregacio de realidades: a forma da comunidade, espiritu- almente unida por momentos internos, através de atos ¢ de motivacées intersubjetivos. ‘Ainda mais uma coisa importante: aos atos e as suas motivacdes correspondem as diferencas do racional e do irracional, do pensar, do valorar e do querer “corretos” e “incorretos” ‘Agora, certamente que podemos também considerar as realidades espirituais, de certo modo, sob relagées de exterioridade (enquanto « gunda natureza): podemos considerar a consciéncia como anexo externo das realidades fisicas (dos respectivos corpos fisicos); podemos consi- derar homens e animais como simples acontecimentos no espago, “na” natureza, As regularidades indutivas que, entio, deste mado se ofere- cem nao sao, porém - tal como é valido, por esséncia, para a natureza fisica -, indicagdes de leis exatas, de leis que determinem a “natureza” objetivamente verdadeira de tais realidades, isto é, que as determinem em uma verdade racional de acordo com o seu tipo de esséncia. Por cu- tras palavras: aqui, onde a esséncia peculiar do espiritual se exprime na interioridade da vida de consciéncia, na senda aberta pela abordagem indutivo-causal, <9> ndo reside nenhuma explicacéo racional, ¢ isso a partic de fundamentos a priori (de modo que é um contrassenso procu- rar uma coisa tal, a0 modo da nossa Psicologia naturalista). Para uma

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