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EGO E ARQUETIPO INDIVIDUAGKO E FUNCAO RELIGIOSA DA PSIQUE | ‘oa vat sounat, ~~) getecenRisooss meee Parte I A INDIVIDUACAO E OS ESTAGIOS DE DESENVOLVIMENTO E se é verdade-que nosso conhecimento foi adquirido antes de nosso nascimento, e que o perdemos no mo- mento em que viemos ao mundo, mas que, posterior- mente, mediante o exerctcio de nossos sentidos sobre objetos senstveis, recuperamos o conhecimento de que antes dispiinhamos, suponho que aquilo a que damos o nome de aprendizagem se caracterizard como a re- cuperagdao de nosso prdprio conhecimento... —PLATAO* * Phaedo, traduzido por Hugh Tredennick, Collected Dialogues, Princeton, Nova Jérsei, Princeton University Press, Bollingen Series LXII, 1961. 19 CAPITULO -UM © EGO INFLADO O sol nao ultrapassaraé suas medidas; se o fizer, as Erinias, servidoras da Justiga, 0 descobrirdo. —HERACLITO! 1. EGO. E: SLMESMO* A descoberta de carter mais fundamental ¢ de maior alcance, de Jung, € a do inconsciente coletivo ou, psique arquetipica. Gragas as pesquisas que ele realizou, sabemos atualmente que a psique in- dividual nao é apenas um produto da experiéncia pessoal. Ela en- volve ainda uma dimensio pré-pessoal ou transpessoal, que se mani- festa em_padrées € imagens universais, tais como os que se m encontrar em todas as mitologias ¢ religides do mundo.? Jung desco- briu também que a psique arquetipica ‘conta com um principio estru- turador ou organizador que unifica os varios contetidos arquetipicos. —_——. 1, Burnet, John, Early Greek Philosophy, Nova York, Meridian Books, p. 135. * Seguimos, na tradugdo de Self por Si-mesmo, 0 original alemio, Selbst. [N.T.] 2. Jung, C. G., Archetypes and the Collective Unconscious, C. W., Vol. 9/1, paragrafos 1-147, 21 Esse principio é Opravétipe central ou arquétipo da unidade, Jung denominou Sfimesmo. Q Si-mesmo € 0 centro ordenador e unificador da psique total : ssim=Como-0-ep.0-€-6-€entro=da-PersGe aTimmahdadecomernte: Ou, tio-de Wira amici “eso Sa sede ae smo-é.a sede da identida: de objetiva. 0 Si-mesmo constitui, por conseguinte, a autoridade (0 0 ego submétido~ao-ser- dominio. O f.Consciente.¢ inconsciente), identidade subjetiva, ao passo que o Si- siquica ma, main br mesmo € déserito de fore mais simples como a > € equivale A imago Dei. Jung demonstrou Si-mesmo 4presenta uma fenomenologia caracteristica: ele € so por meio de determinadas imagens simbélicas tipicas denomina- £ das mandalas. Todas as imagens que enfatizam um circulo com um centro € que normalmente apresentam um elemento adicional refe- rente a um guadrado, uma cruz ou outra | Fepresentagao de quaterni- dade se enquadra nesta Categoria. Ha ainda um certo mimero de outros temas e imagens associa- dos que fazem referéncia ao Si-mesmo. Temas como a unidade, a to- talidade, a uniéo dos opdstos, o ponto gerador central, 0 centro do ! mundo, © eixo do universo, o ponto criativo onde Deus eo se encontram, 0 ponto em que as energias transpessoais fluem para a 1 vida pessoal, a cternidade — por °posicao ao fluxo temporal, a incor- . ruptibilidade, a’unido paradoxal entre o organico ¢ 0 inorganico, as ' estruturas protetoras capazes. de gerar a ordem a partir do transformacao da energia, o elixir da vida — isso tudo se refere ao _Si:mesmo, ‘fc da energia da'vida, origem do nosso. ser, ito de is_si ce omo Deus. Na realidade, as mais Ticas fontes do estudo fenomenolégico TepresentagGes que o homem faz da divindade.? 3 Como hé dois centros aut6nomos do ser psfquico, 0 vinculo ©xistente entre eles assume importancia capital. A telacio entre o | / ; £80 € © Si-mesmo € altamente problematica ¢.corresponde, de ma-— e a 3. Para uma discussao' mais ampla do Si-mesmio tal como se manifestano simbolismo da Tamas, ver o ensaio “Concerning Mandala Symbolism” in The Archetypes and the Col, lective Unconscious, C. W., Vol. 9/1, par. 627 ss. 22 'i-mesmo sio as intimeras ao qual ! fa que o expres- homem ' caos, a i neira bastante _aproximada, 4 relagdio entre o homem e seu Criador, tal como descrita na mitica religiosa. O mito pode ser visto, na verdade, como expresso simbélica_da_rélacio entre 0 ego_c_a Si mesmo Miltias—vicissilidesdo—processo—de-desenvolvimento=psi+ Cologico podem ser entendidas em termos de modi icagao da relagao existente entre © ego-e 0 Si-mesmo nos varios estégios do desenvol- vimento psiquico. Esta évolugéo progressiva da relago entre ego e Si-mesmo constitui © objeto que me proponho examinar. Jung descreveu a fenomenologia do Si-mesmo, originalmente, tal como ela se manifesta no curso do processo de individuagao na idade adulta. Mais recentemente, comegamos a considerar também o papel do Si-; imeiros anos de yida, Neumann, com base | em materiais de natureza mitolégica ¢ etnografica, descreveu simbo- < licamente 0 estado psfquico original, anterior ao nascimento_da conscidneis da €5—ram-a-uzpboras, atilieaniSmsagem- circular da serpente que morde a prépria cauda para representar_o Si-mesmo_ primordial, o estado-mandala original de totalidade, do qual emerge Oo ego fividual.* Fordham, a partir de observagoes clinicas de bebés € criangas, postulou o Si-mesmo como a.totalidade original, antecede a formagao do ego.> . we De modo geral, os psicdlogos analiticos admitem que a fungio’ da etapa que antecede a idade adulta envolve o desenvolvimento ae ego, com a se} AO. gressiva entre o ego e o Si-mesmo, ao pas- so que a idade adulta requer uma rendigado — ou pelo menos uma re- lativizagao — do ego em sua experiéncia do Si-mesmo € na relagao . jue mantém com este ultimo.,A atual formula operacional é, portan- to: fase anterior 4 idade adulta > separagao entre 0 ego e o Si-mes- mo; idade adulta > reunido entre o.ego e o Si-mesmo. Esta formula, apesar de talvez ser verdadeira como generalizagéo ampla, nao leva 4, Neumann, Erich, The Origins and History of Consciousness, Série Bollingen XLII, Princeton University Press, 1954. 5. Fordham, Michael, New Developments in Analytical Psychology, Londres, Routledge & Kegan Paul, 1957. 23. em consideragio mujtas observagées empiricas feitas na 4rea da psi- cologia infantil ¢ da psicoterapia de adultos. De acordo ‘com essas observacoes, uma fSrmula circular seria mais correta, podendo ser -expressa-pelo-seguinté diagram: seca Separagao entre Ego e Si-mesmo Unido entre Ego e Si-mesmo O processo de alternancia entre a unio ego—Si-mesmo e a se- Parag4o ego-Si-mesmo parece ocomer de forma continua ao longo da vida do indivfduo, tanto na infancia quanto ituridade. Na ' | verdade, esta formula ciclica (ou melhor, em forma de espiral) parece “| exprimir © processo basico de desenvolvimento Psicolégico do nas- cimento a morte. Segundo esta Perspectiva; a relacdo entre o ego € o Si-mesmo, | em-diferentes estagios de desenvolvimento, poderia ser Tepresentada | por meio dos seguintes diagramas: SI-MESMO EIXO o) Fig. 2 Fig. 3 Fig, 4 Estes diagramas representam os estagios progressivos da sepa- ragao ego—Si-mesmo, que se manifestam no decorrer do processo de desenvolvimento Psicolégico. As dreas sombreadas do ego designam 24 a identidade residual ego-Si-mesmo. A linha que serve A conexio entre 0 centro do ego'e ocentro do Si-mesmo representa 0 cixo ego-Si-mesmo:—0-vinculo-vital-que-f: i = : i-mesmo-e- ra-a-intepridade-do-ego=Deve-se=compreen=— der que estes diagramas servem ao objetivo de ilustrar um aspecto particular do assunto em pauta e, por conseguinte, séo imprecisos com referéncia a outros aspectos desse mesmo assunto. Por exemplo, de modo geral definimos 0 Si-mesmo como a totalidade da Ppsique, o que incluiria, necessariamente, 0 ego. Nos termos dos referidos dia- gramas ¢ do método seguido nesta apresentagao, poder-se-ia ter a impressao de que 0 ego e o Si-mesmo se tornaram duas entidades distintas, sendo © ego a porcio menor, ¢ o Si-mesmo.a por¢io maior, da totalidade. Esta dificuldade é inerente ao assunto tratado. Para fa- lar de forma racional, devemos inevitavelmente estabelecer uma dis- tingdo entre ego e Si-mesmo que contradiz nossa pr6pria definigao do Si-mesmo. Na realidade, a concepgao do Si-mesmo €'um parado- xo. O Si-+ titui, simultaneamente,; o centro © a circun- feréncia do circulo da totalidade. A consideracao do ego ¢ do Si- mesmo Como duas entidades distintas constitur um mero-recurso_ra- cional que a discussao toma necessario. igura I Corresponde ao estado urobérico original postulado por Neumann. Nada existe além do Si-mesmo—mandala. O germe do go S6 se faz presente como potencialidade. O ego ¢ o Si-mesmo sao um s6; isso significa que 0 ego nao existe. Temos aqui o estado total da identidade basica entre 0 ego e o Si-mesmo. A Figura 2 mostra um ego emergente, que comega a separar-se do Si-mesmo, mas que ainda tem seu Centro ¢ 4rea maior numa iden- tidade basica com o Si-mesmo. A Figura 3 apresenta um estagio mais avangado de desenvol- - vimento; todavia, permanece ainda uma identidade ego—Si-mesmo residual. O eixo ego-Si-mesmo, que nos dois primeiros diagramas era completamente inconsciente — e, portanto, indistingufvel da iden- tidade entre 0 ego € o Si-mesmo — tornou-se agora parcialmente consciente. A Figura 4 € um limite tedrico ideal, que provavelmente nao existe numa situagao real. Ela representa um estado de total sepa- rag4o entre ego € Si-mesmo, assim como uma completa consciéncia do eixo ego-Si-mesmo. 25 Os diagramas servem ao propésito de ilustrar-a tese segundo a qual_o desenvolvimento psicolégico se caracteriza pela existéncia-de processos Sumuttancus: de pip Jado. a prosressiva B0=e-o-SieMesmi0s de-outro,-o-a ro, na consciéncia, do €ixo €g0-Si-mesm« esta for uma Correta representacao dos fatos, a separagao entre © ego ¢ o Si-mesmo ¢ a crescente conscientizacao de que 0 ego € dependente constituem, na realidade, dois aspectos de um mesmo Processo de emergéncia, que se estende por todo o perfodo que. vai do nascimento a morte. Ademais, nossos diagramas também demons- tram a validade de se atribuir a idade adulta a censciéncia do cardter relative do ego. Se considerarmos a Figura 3 como representagio correspondente 4 meia-idade, veremos ser este 0 estégio em que a porgao superior do eixo ego—Si-mesmo.comega a emergir na cons- ciéncia, j O processo mediante 0 qual esses estAgios de desenvolvimento se desenrolam constitui um ciclo alternado, representado no diagra- ma da Figura 5, p..7.1 . Conforme. vai se repetindo, no decorrer do desenvolvimento psiquico, esse processo da origem:a uma rogres- Siva diferenciagao entre 0 ego ¢ 0 Si-mesmo. ‘Nas fases iniciais, que representam, de forma aproximada, o est4gio’ que precede a maturi- dade, © ciclo se configura como uma experiéncia de_alternancia n- tre_dois estégios do ser: a infil e a_ali fio. Posteriormente, quando _o eixo ego—Si-mesmo alcanga a consciéncia, surge um ter- ceiro estagio (Figura 3), caracterizado por uma relacdo dialética en- tre ego e Si-mesmo. Este estado € a individuagao. Neste capitulo, consideraremos o primeiro estégio, a inflacao. eee Hl 2. INFLAGAO E TOTALIDADE ORIGINAL A definigao apresentada no diciondrio Para inflagao é: “‘Cheio de ar, dilatado pela agdo do ar, irrealisticamente amplo e importante, além dos limites das préprias medidas; portanto, vaideso,. pomposo, 26 | | | orgulhoso, presungoso.”® Uso 0 termo “‘inflagio” para descrever a atitude ¢ 0 estado que acompanham a identificagao do ego ao Si- Se-de-um-estégio-ne=quial-al¢0-pequeno-Co=cso}atribui== Ses mo. Trata- — —Sacsinqualidades-ae-algo-mais-amplo-Co-Si-mesmo) 6 portanto, esta além das préprias medidas. —“Rascemos name seta de inflacio. Na mais tenra infaneia, nio existe ego ou consciéncia. Tudo esta comtido no heomcionie Gross latente encontra-se completamente identificado ao Si-mesme. O Si- mesmo nasce, mas 0 ego € constfufdo; ¢, no principio, tude € Si mesmo. Este tstado 6 desarilo por Nemravh como a uroboros (a ser- Pente que morde a prépria cauda). Como o Si-mesmo é o centro ea totalidade do ser, o ego — totalmente identificado ao Si-mesmo — percebe-se como divindade. Podemos descrever a situagao nesses termos, retrospectivamente, embora o recém-nascido nao. pemse des- sa forma. Na verdade, ele nem pode pensar. Mas’seu'ser e ‘suas ex- Peri€éncias totais estao ordenados em torno de uma’ suposi¢ao a prio- ri de que ele € uma divindade. Esse € 0 estado original de sumidadee perfeigao inconscient I; i todes senti- histori ae a r ___Multosmifos descrevem o estado originalido homeim camo um estado de harmonia, unidade, perfeicao ou de vida Paradisfaea. HA, Por exemplo, o mito grego, registrado por Hesfodo, das quatro ida- des do homem. A primeira, a idade original, foi a idade do euro, o. paraiso. A segunda, foi a idade da Prata, um perfodo matriacal em que o homem obedecia as mies. A terceira foi a idade do bronze, Pperiodo de guerras. E a quarta, a idade do ferro, perfodo em que Hesiodo escrevia, ¢ que estava profundamente degenerado. A res- Ppeito da idade do ouro, a idade Pparadisiaca, afirma ele: ©. Webster’ s New International Dictionary, segunda edicio. (A raga dourada de homens) viveu num estado divino, sem a mais re- mota angistia € livre da labuta e do sofrimento ... Dispunha de todas as coisas boas, pois a terra fértil oferecia, espontaneame —————abundaneia;-ilimitadamente=Vivia'em conforte-t em paz Com mullas coisas “boas, rica em rebanhos’e amada pelos deuses bem aventurados.” Na idade paradisfaca, as pessoas estao em comunhdo com os deuses. Isso representa 0 estado do ego que ainda nao nasceu, que ainda ndo se separou do ttero do inconsciente e que, por conseguin- te, ainda partilha da plenitude e da totalidade divinas. Outro exemplo € 0 mito platénico do homem original. De acordo com esse mito, o homem original era redondo, tinha a forma de uma mandala. No Simpésio, Plato afirma: O homem primevo era redondo, com suas costas ¢ lados formando um circulo ..Eram terriveis 0 scu poder e sua forga; os pensamentos de seu coragao ram grandiosos; ¢ cles atacaram os deuses ... e teriam domina- do os deases ... os deuses nao podiam permitir que a sua insoléncia fi- casse sem freios.® Aqui, a atitude de inflagdo, de arrogancia, é particularmente evidenciada. Ser redondo, no perfodo inicial da existéncia, equivale a considerar-se a si mesmo como total e completo e, portanto, como um: deus, capaz de todas as coisas. H4 um interessante paralelo entre © mito do homem redondo original e os estudos realizados por Rho- da Kellog a rspeito da arte na pré-escola.® Ela observou que a man- dala ou circulo parece ser a imagem predominante em criancas que 7. Hesfodo, “Works and Days,”” The Homeric Hymns and Homerica, taduzido por Hugh G. Evelyn-White, Biblioteca Cléssica Locb, Cambridge, Harvard University Press, 1959, pls 8. Platio, Sympomen, Didlogos de Platio, Jowett, B., tradutor, Nova York, Random House, 1937. Segées 189 e 190. 9. Kellog, Rhoda,Analyzing Children's Art, Palo Alto, Calif6rnia, National Press Books, 1969, 1970, 28 + receatraidaspel: intersecgao-das (Sse puida;a cruz-é-encerrada num: circulo —e-temos ‘o-padrao*basico™ ' | I I esto aprendendo a desenhar. Inicialmente, uma crianga de dois anos, de posse de um lépis ou grafite, apenas rabisca; mas logo pa- linhas-e-comega afazer-ermzes=Fin — da mandala. Quando a crianga tenta desenhar figuras humanas, estas surgem, inicialmente, como circulos, o que contraria toda a expe- riéncia visual, com os bragos € pernas Tepresentados, tio-somente, como extensGes do circulo semelhantes a raios (Jlustragdo d)-. “PRR RES EL OF GES OE SUES eee rg reee ‘ARR aan PRERILH SPRY 7 9 REESE 4 LET TTR VER ERE PEER EERE EL OG ROU T EPP EY + Or GRe) EUS es es Ce Te A FBR O® SM OSC OSEA A BO@eOex®O+XHbHw OM OPEO Re SORX/ME Mustragéo 1. & seqiiéncia de Gestats, de baixo para cima, representa a provavievolug5o das figuras humanas em desenhos de criangas. 29: Esses estudos formecem claros dados de natureza eiipirica, ‘se- gundo os quais'a‘crianga experiinenta 0 ser humano como wina estru- : B | =turasredondaesemelhante.-d-mandala;=comprovam:de=formaimpréss———— ==sienante;a-verdade psicologicaua-mito-platonico acerca de” homem redondo original. Os terapeutas infantis ‘também descobriram que a mandala constitui, para’ as criancinhas, uma imagem operativa ¢ in- dicativa de cura (/lustragdo 2).. Todos esses exemplos indicam que, Mustracdo 2. Este desenho, feito por uma menina de sete anos, durante a Psicoterapia, marca © restabelecimento da estabilidade psfquica. 30 ficiéneia-que-equivah em termos simbélicos, a psique humana era, originalmente, redonda, total, completa: encontrava-se num estado de unicidade e de auto-su- ~ A mesma idéia arquetipica que estabelece um vinculo entre infancia e proximidade de um estado divino é apresentada na ‘Ode on Intimations of Immortality”, de Wordsworth: Our Birth is but.a sleep and a forgetting: The Soul thatrises with us, our life's Star, Hath had elsewhere its setting, And cometh from afar: Not in entire forgetfulness, And not in utter nakedness, But trailing clouds of glory do we come From God, who is our home: Heaven lies about us in our infancy! (Nao € nosso Nascer mais que sonho © esquecimento: / A’ Alma que conosco se eleva, Estrela de nossa vida, / Teve alhures scu lagar, / E vem de muito além: / ‘Nao de todo esquecida / Nem totalmente'1ma, / Mas, seguindo © rastro de nuvens de gléria, Eis que viemos / De’ Dens, nossa morada: /-Os céus esto A nossa Volta na infancial} 2 Do ponto de vista dos anos que se seguem A infancia, o-estreito a vinculo existente entre o ego da crianca e.a divindade constitui um / estado. de inflag&o. Muitas dificuldades psicoldégicas' subseqgiientes sao uma decorréncia dos’ residuos:daquela identificagio ‘com a di vindade. Considere-se, NeSs sentido, a4 paicologia da crianga ‘hos cinco primeiros anos de vida. Trata-se, de um lado, de um perfodo de grande novidade em termos de percepgio e de resposta; acrianga se encontra em contato imediato com as realidades arquetipicas da vida. Ela est no est4gio poético original; ha magnificos e tearifican- tes poderes transpessoais feryilhando em torno de todo e gpalquer evento comum. Mas, por outro lado, a crianga pode:ser uma pequena fera egojsta, cheia de crueldade e dotada de insacifvel voracidade. 10. Wordsworth, W. Poetical Works, Londres, Oxford University Press, 1961, Freud descreveu o estdgio da infancia como wm quadro de perversao polimorfa. Apesar de ser: uma descrigao brutal, nem por isso. deixa de..ser_parcialmente verdadeira. A infancia é-inocente;-mas també: 201 dvel_Portan San ades-do-fat: encontrar-se, a0 mésmo tempo, firmemente ligada a psique arqueti- pica e as suas energias extrapessoais, ¢ inconscienteménte identifi- cada, assim como irrealisticamente relacionada, a esta mesma psique arquetipica. . As criangas compartilham, com o homem Primitivo, a identifi- cagao do ego com a psique arquetipica e com 0 mundo exterior. Para a mente primitiva, nao existe nenhuma distingao entre interior ¢ ex- terior. Para a mente civilizada, 0 homem primitivo est4 relacionado de_modo encantador 4 natureza, assim Como estd em sintonia com o processo da vida; mas €, a0 mesmo tempo, um selvagem € comete os mesmos erfos de inflagao que as criangas cometem. O homem mo- derno, aliena ‘onte do significado da vida, encontra na imagem do homem_primitivo_um objeto que exerce sobre ele uma forte_ _atracao. Isso explica © atrativo do conceito de Rousseau do “‘bom selvagem’”’ e de outros trabalhos mais recentes que exprimem a nos- talgia da mente civilizada com relagao A sua comunhdo mfstica com a natureza, comunhéo que perderam. Este € um dos lados da questo, mas hé também o lado negativo. A vida real do primitivo € suja, degradante e obcecada pelo terror. Nao gostarfamos de viver esta realidade sequer por um momento. E o Primitivo simbdlico que nos atrai. NI Quando olhamos retrospectivamente nossa origem psicolégica, vemos que ela tem uma dupla conotagdo: em primeiro lugar, ela é vista como condigSo paradisfaca, unidade, um estado de unicidade com relagéo 4 natureza e aos deuses e infinitamente desejavel; mas, em segundo lugar, com base nos nossos.padrées OS conscientes, que estado relacionados A realidade dg t ¢ do espa- $0, trata-se de um estado de inflagéo, uma condig&o de irresponsabi- lidade, de luxtria incorrigfvel, de arrogancia e de desejo rude. O. problema basico para o.adulto € a forma de obter a unigo com ata tureza € com os deuses, com que a criancga comeca, ‘Sem provocar a inflacao da identificagao._. 7 Omesmo se aplica aos problemas da educacio de criangas. De que_fomma podemos remover eficazmente.a-crianga-desse estado in- 32 flado e fazé-la desenvolver um conceito realista e responsAvel de sua) Vivo coma. psique. a ieee ee ‘O-pro ste dade do cixo ego—Si-mesmo ao mesmo tempo em que se dissolve a. identificago do ego ao Si-mesmio. Ai resi das as disputas tre indulgéncia € disciplina rigorosa’no Ambito da educag4g infantil. . TA indulgéncia’enfatiza a aceitagao € 6 encorajamento da es{3 pontaneidade da crianga ¢ alimenta seu Contato com a fonte de ener- > gia vital em que cla nasce. Mas mantém e encoraja, igualmente, a int\ flagao~da_Gfianga, que assume uma _atitude irrealista para com as exigéncias da vida exterior. A disciplina rigida, por seu turno, enfa- / tiza limites estritos de comporlamento, encoraja_a dissolugao da identidade ego-Si-mesmo e trata a inflagao de modo bastante eficaz; mas, a0 mesmo tempo, tende a danificar a Conexao vital € necessaria_ entre _o ego em crescimento ¢ as raizes que ele mantém no incons- ciente. Nao ha escolha entre essas duas formas — elas constitvem um Par de opostos e devem operar em conjunto. + “=""TAeflabga tem de Hi ERR Uma expetiésca bem comiaem de~ ser o centro do universo. A mae, a principio, responde a essa exigéncia; conseqiientemente, os relacionamentos iniciais tendem a encorajar a crianga a pensar que seus desejos constituem uma ordem ‘er-se_psicologicamente. pois, o mundo comega necessariamente a a: inga. Nesse ponto, a inflfacdo original ‘coméca a se dissolver, mostrando-se insustent4vel diaste da experiéncia. Mas também tem inicio'a alienagao; 0 eixo egp—Si- mesmo € danificado. & criada na crianga uma espécie de ferida psi- colégica incurdvel, ao longo do processo de aprendizagem de que ela nao € a deidade que acreditava ser. Ela é expulsa do parafso;~ sendo geradas uma ferida e uma separagao permanentes. Continua ‘a haver repetidas experiéncias de alienag&o, progres- 7 sivamente, até a idade .adulta. H4 um constante encontro Com um_ Processo de duas faces. De um lado, verno-nos expostos aos eacon- } tros com a realidade das coisas que a vida nos oferece; encontros que contradizem, de forma constante, as suposic6es inconsciemtes do 33 phn) Para que: se ja-mantida-e-integridadewa-nossa-personali dentidade_inconsciente com. o Si-mesmo. Ao mesmo tempo, deve- }, Mos. experimentar uma reunido-tecorrente entre o. egoeo (a E por meio desse.processo que.o ego cresce ¢ se separa de sua mesmo SO-nae-ocorrer, ha-_um_verdadeiro-perigo-dé qué, conforme o ego | Wai se separando do Si-mesmo, o vinculo vital gue os liga seja dani | ficado. Se isso ocorrer de forma ampla, estaremos alienados do nos- \'so.préprio fntimo, estando o terreno Preparado para o surgimento de “~~ O-estado de coisas originais — experimentar a si mesmo como o centro do universo — pode persistir muito depois de a infancia ter Passado. Lembro-me, por exemplo, de um jovem rapaz que pensava, com bastante ingenuidade: “‘O mundo é 0 meu livro de gravuras”. Todas as coisas que encontrava eram entendidas como destinadas a atender aos seus propésitos — para sua diversio ou instrucdo. Ele considerava, de forma bastante. literal, que o mundo era a sua ostra. As experiéncias externas nao eram dotadas de nenhuma realidade ou significado inerente, exceto a relagio com ele. Outro paciente tinha @ convicgao de que, quando morresse, o mundo se acabaria! No es- tado de-espirito que gera uma idéia dessas,.a identificagao com o Si-mesmo. € igualmente identificacio com o mundo. O Si-mesmo e o mundo sao uma sé ¢ Unica coisa. Essa forma de experimentar as coi- sas efetivamente apresenta um certo Brau de. verdade, uma validade genuina; mas constitui um veneno poderosissimo nas fases iniciais do desenvolvimento, nas quais o €go esta tentando emergir da uni- dade original. Numa ctapa_posterior, a percepgao de que h4 uma_ continuidade entre os interi i i de_cura. Temos aqui mais um exemplo do Mercurius dos alquimis- tas, que pode ser uma panacéia para alguns e um veneno Para ou- tros. Mauitas psicoses il a_identificacéo do ego ao Si-mesmo “deluisio eomom entre os insanos, que considera sl mene Cone ou Napoledo, € melhor explicada como uma ri S840 ao estado in- fantil original em que h4 uma identificacao tS oe oS, mo. As idéias de referéncia também constituem sintomas de uma “Weritidade ego-Si-mesmo extrema. Nesses casos, 0 individwo imagi- na que determinados eventos objetivos tem uma relacdo oculta com 34 ele. Se ele for paranéide, a delusio ter4 um cardter de perseguigio. Lembro-me, por exemplo, de uma paciente que viu homens conser- tando_os.fios de_uma. linha. telef6nica..do.lado.de..fora da. janela que estavam instalando. vm terceptar suas chamadas, com o fim de obter provas contra ela. Ou- tro paciente pensou que,o comentarista de televisio estivesse veicu- lando uma mensagem pessoal para ele. Essas _delusGes._se-originam de. vm estado de identidade entre 0 ego e.0 Si-mesmo, que pressupoe Ser_a_pessoa_o centro. do’ universo; por conseguinte, atribuem sma significagao pessoal a eventos externos que sao, na realidade, com- pletamente indiferentes 4 existéncia do indivfduo."? m.exemplo comum.do estado inflado da identidade ego-Si- mesmo € fornecido por aquilo que H. G. Baynes denominou ‘‘a vida de proyisio”. Baynes descreve esse estado da seguinte forma: (A vida de provisao) denota uma atitude despreocupada com a respon- sabilidade diante dos fatos circunstanciais da realidade, encarados como se fossem fornecidos pelos pais, pelo Estado ou, ao menos, pela Pro- vidéncia ... (B) um estado de irresponsabilidade e dependéncia imfan- tig? 5 M.-L. Von Franz descreve essa mesma condigao como sma identificag3o com a imagem do Puer aeternus. Para a pessoa queas- sim se vé, o que cla faz: 2 ~-- ainda nao é 0 que realmente queria e hd sempre a fantasia de queen algum momento, a verdadeira coisa vai acontecer. Se se prolongar,essa atitude significa uma recusa interna constante a0 compromisso pessoal com © momento. Essa atitude costuma ser acompanhada, em maiosou menor grau, de um complexo de Salvador, ou de um complexo dé Mes- 11. Para outras manifestacées psicdticas da identidade ego-Si-mesmo, veja-se Pay, John Weir, The Self in Psychotic Process, Berkeley e Los Angeles. University of Califernia Press, 1953, 12, Baynes, H. G., “The Provisional Life’”, in Analytical Psychology and the English Mind, Londres, Methuen and Co. Ltd., 1950, p. 61. 35 sias, a que est4 presente o pensamento secreto de que um dia a pessoa sera capaz de salvar 0 mundo; a Gltima palavra em filosofia, religiio, politica, arte ou al a Isso_pode am- pues : da pessoa “ainda nfo chegou”. O que esse tipo de pessoa mais teme € estar preso a qualquer coisa. H4 um medo terrivel de que se venha aser imobilizado, de ent tamente no tempo € no espaco e de sero sito © no Spaco € de ser c Ser humano que se €.*° Ser humano que se €."° O psicoterapeuta freqiientemente vé casos desse tipo. Uma Pessoa assim considera-se a si mesma o individuo mais promissor. E plena de talentos e de potencialidades. Uma de suas queixas costuma ser_de que suas capacidades ¢ talentos sao demasiado amplos. Ela est4 amaldigoada por uma pletora de dons. Pode fazer qualquer coi- Sa, menos decidir-se por uma coisa em Particular. O problema € que essa pessoa € toda SSas, mas sem realizagées. Para realizar de fato alguma Coisa, cla ‘deverd sacrificar um certo miimero de outras potencialidades. Tera inciar A sua identificagao com a unidade inconseiente original e accitar, voluntariamente, ser um fragmento fal nao Um todo irreal. Para ser algo na realidade, deverd desisiir de_tudeque-esteja_in potentia. O arquétipo do puer deéternus & uma das ‘imagens do Si-mesmo, mas estar identificado com'ele significa jamais deixar nascer a realidade.* - Be Hé4 numerosos exemplos menos éxtremos dé inflagao, que po- demos: denominar inflagado da vida didria. Podemos identificar um }/ estado de inflagao se: s alguém (inclusive nds mesmos) i | vivendo um atributo da divindade, isto €, sempre gue alguém esteja transcendendo 0s limites prdprios do ser humano. Explosées de ira { sao exemplos de estados ii - A tentativa de forcar e coagir o \_ ambiente em que se est4 constitui a motivag4o predominante na ira. 13. Von Franz, M.-L., The Problem of the Puer Aeternus, Nova York, Spring Publica- tions, Clube de Psicologia Analftica de Nova York, 1970, p. 2. 14. Um exemplo literério de puer aeternus pode ser encontrado no romance The Beastie * “the Jungle, de Henry James. Veja-se James, Henry, Selected Fiction, Everyman's Lit Nova York, E. P. Dutton & Co., 1953. - 36 Trata-se de uma espécie de complexo de Javé. A asia de vinganca também € identificagao ‘com ‘a ‘divindade. Nesses’ momentos, deve- mos-recordar.a-afirmagio:**Avvingangacé. minha’,-disse:o"Senhinr,"?= Se j = 3 uae gre gas descreve ejay ssaFodi IES 2 nto das tragédias g: as conseqiiéncias fatais do fato de 0 homem tomar em suas préprias maos a vinganga de Deus. A motivagao para o poder_de_todos_os tipos ¢ sintoma de in- flagio. Toda vez que agimos motivados pelo desejo de poder, 2 oni- poténcia esta implicita. Mas a onipoténcia é um atributo que sé Deus tem. A rigidez intelectual que tenta igualar suas proprias venlades ou _opinides Com a verdade universal também é inflagao. E a supo- | sigdo da onisciéncia. A luxiria € todas-as operacoes do puro princi.’ pio do prazer constituem igualmente inflacaio. Todo desejo que dé A armen £7 £m sonseatieneia, assume 08 alsibutos dos peleres Praticamente_ todos no fntimo, contamos com um _residuo de inflagao_que se manifesta como ilusao de imortalidade. Dificily mente hé alguém exaustivo e totalmente nao identificado Com esse" aspecto da inflagao. Por conseguinte, quando chegamos bem perto da morte, passamos por uma experiéncia bastante significativa.em termos de despertar. Percebemos subitamente quéo preciose é o tempo, justamente por ser limitado. Nao € incomum que uma expe- riéncia dessas dé a vida uma orientagéo completamente nova, tor- nando a pessoa mais produtiva e ligada aos outros de forma mais humana. Tal experiéncia pode dar infcio a um novo avango emnos- so desenvolvimento, pois, nela, uma drea da identidade egp-Si- mesmo foi dissolvida, liberando uma nova quantidade de eaergia Ppsiquica para 0 consciente. 3 Ha também inflagao negativa. Pode-se descrever a inflagg ne- gativa como uma identificagao- Com a vitima da divindade — umsen- timento excessivo € sem peias de Culpa e de sofrimento. Vemasisso em casos de melancolia que exprimem o sentimento de que “nin- guém no mundo € to culpado quanto eu’’. Isso € simplesmentecul- pa demais. Na realidade, ‘a colocagao em si mesmo di xcewo de qualqu i i ii ai is transcende os ad 1S limites humanos. A_humildade demasiada, assim como 0 exces de ee, eer See i 37 de wabalho de tomar real © potenial.Embora achesse que quecia rever, sans fantains eran consideradas, inconseienteneeia we ade sien msi esas : oo rn odardim- deli sss Swiss ou Sc NIDSTEIn teen ee Ee ces | SL fresnel experinetada cone apes ca ‘cio. Ei Smernanan ico dcieiae inte nisigonen seguinte, jamais. 6 wm sonbo agralsvel. Mas, no mst ween fy). mordida ‘costes dar ifcio a 3p samente novas. Bem pera um FP rob ca ca, ese ta ere {Hine podem apreseame @ clogs someth £ possfvel sleancar um novo estégio de desenvolvimento [AP Teele we srt coe gee eS seqieta, cao Imoibide ¢ rpresmt win inuedvsio t um move See Bens ‘onscinte, que apseia ais os teor as mesons Cease do ato original de comer © fruto proibido. onae ‘Apresentanes a ment um exemple de soph moder que e- mete ao velbo tema daentagso no Jthn do Eldon Tene os fo ‘ho de um homem dems nents ane de ade Fic tee one. {9 pela primein ver quinn se de tune oe ‘Tratasc de ‘ona stacio equivalste-a de viver mo eHaoaeTS, se atreveno a comer 9 frst da Conscieneig Tis sonbo do pacientes ‘Encenro-t mum ambiente ens atmosfera qe me lembram Kier- ‘egal ma jac bcs udcterinado livre Econ ‘compro-e Otte € Un omen ere Fos Eno a ees mits, Mia ima fer para mim om Bolo de choclate Siento epee le tem na tate obertum de asa renee ‘Yemmebio qe yreee una mals eens de Javsring, Een we ‘lat seme me tena sto poi, porque so lp, comm © Boo em problem Alpumas das associagSes foram as sepuintes. © homem consi ‘erou Kicrkegnaticomo tina figura problematica,slguém can cont, to entre elemeniocanttticos; cin confit, particularmemtc, cnc et, tudes religions extéticas, Seu limo EutheriOr repens, wens 8 questio dos opsios. © title do livo, Um Homem ene ‘chocolate, cle dsse que sempre 6 considerou tm veneeo, pois pogha ‘he fazer ral. A cobertura de agar cristalizado vermetho, earners tw a “uma malba venetha de dansarino” superbe “algo que odie, odeve vest" "Ex sonho, enor expresso por meio de imagens modems © ‘essosis,repeseata um fotimo parlelo do antigo mito Us quede de ‘Adio no parafio. Com bate ness paralelo arquetipico, pedernoy le. vantar uma hipotese: ele representa ma tansigo pounce ne do, senvolvimento pestoal do paciene, O elemento mais marcante do sonho 0 ato de comer 6 belo. O bolo & preto ¢ tem wna sobering, ‘ermetha gue se associa ao ciabo. O proto, como atte do Branca, traz a implicagio do deminio e da escuridio, No cato do sonhadea, © bolo de chocolate foi considerado um ventno, alan gee dion any ‘edo consciente do inconsciente Comer © bolo venetoso saute simboticameate a ser mondo pela sponte ov a comere fate pro arrogéncia;-o excesso de amor e¢ de altruismo, assim como uma bus- ca excessiva de poder uum excesso de egocentrismo — tudo isso sao sintomas de inflagao. < = Oe tade ed i ic =40-Giiimias-Ow acai tam! s “—“dem=ser—vistos-eom- inflacdio. Os pronunciamentos arbitrarios do animus equivalem a pronunciamentos de. uma divindade, aplicando- se ° mesmo aos sombrios ressentimentos do homem possuido pela anima que diz, na verdade, “‘Seja o que the digo que seja ou me afastarei de vocé; e sem minha aceitacao, vocé morrera’’. Ha todo um sistema filoséfico baseado no estado de identidade ego—Si-mesmo. Esse sistema vé tudo o que ha no mundo como deri- vado do ego individual ¢ a cle ligado. Esse sistema chama-se solip- sismo, derivado de solus ipse, s6 eu. F. H. Bradley apresenta o pon- to de vista do solipsismo nas seguintes palavras: Néo posso transcender a experiéneia, ¢ experiéncia € a minha experién- Cla. Disso se segue que nada além de mim existe; pois o que é experi- mentado sao seus (do Si-mesmo) estados,"5 Schiller define © solipsismo' de forma Mais vivida, ‘‘como a dontrina de. que toda.a existéncia se resume emrexperiéncia e de que s6.h4 um imentador. O solipsi: i san Tm rr. solipsista pensa que ele é esse experi- 3. ADAO E PROMETEU _: O que se segue 20 estado de inflagao original € apresentado vividamente na mitologia. Um exemplo excelente é 0 mito. do Jardim do Eden que € chamado, significativamente, a queda do homem. A respeito desse mito, Jumg escreve: 15, Bi i i A, radley, F. H., Appearance and Reality, Londres, Oxford University Press, 1966, p. 16. Encyclopaedia Britannica, 1955, xx, p.951. 38 Hi na Ienda da Queda uma profunda doutrina; trata-se de um obscuro pressentimento de que a emancipacio da consciéncia do ego era uma 40.de Licifer. Toda.a hist6ria do. homem. consi © inicio, De acordo com o Génesis,.Deus pés o honiem no Jardim do Eden e disse: “De toda a 4rvore do jardim comerds livremente; mas da 4rvore da ciéncia do bem e do mal nao comers, porque no dia em que dela comeres, certamente morrer4s”. A isso se seguiu a criagdo de Eva a partir da costela de Adao ¢ a tentagio de Eva pela serpente, que lhe disse: ‘Nao morrereis. Porque Deus sabe que no + dia em que dela comerdes se abriraio os vossos olhos:e sereis como Deus, conhecendo © bem e 0 mal”. E assim Adio ¢ Eva comeram 0 & fruto. ‘Entio foram abertos os olhos dos dois e eles conheceram que estavam nus; € coseram folhas de figucira, e fizeram para si aven- tais”’. Deus descobriu a desobediéncia deles e os amaldicoou, dizen- do em seguida essas significativas palavras: ‘‘Entao disse o Senhor Deus: ‘Eis que 0 homem tornou-se um de.nés,-conhecendo 0 bem e © mal; ora, pois, para que ndo estenda a sua mao, e tome também da arvore da vida, e goma.c viva eternamente’ —e.assim o-Senhor Deus © langou fora do Jardim do Eden, para lavrar a terra de“que fora to- mado. Ele langou. fora 0 homem; e pés o. querubim ao oriente do Jardim do Eden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar 0 caminho da 4rvore da vida’’."* Este é o.mito que est4 no infcio do ramo hebreu da nossa tra- digao cultural; € um mito rico, de significados psicolégicos. O mito do Jardim do Eden € comparavel ao mito grego da idade de ouro e ao homem redondo original de Platio. O Jardim do Eden apresenta certos tragos.de uma mandala com quatro rios fluindo dela e com a Arvore.da vida em seu centro (Gravura 1). O jardim-mandala é uma imagem do Si-mesmo, e representa, nesse caso, a unicidade ori- ginal entre o ego, a natureza e a divindade. E 0 estado inicial, in- 17. Jung, C. G., The Archetypes and the Collective Unconscious, C. W., Vol. 9/1, par. 420 ss. 18. Génesis, 2-3. Revised Standard Version, 39 ‘conscientee animal de formar wa x entidade com o Si-mesmo. Ex ‘terete J. OPA COMO UM RECEFTACULD, Dew mami lin do Outro elemento que indica a unidade original € a criagto de [Bva a partir de Adio. Eat claro que Ado crn orgialete estas frodita, pois de do seria possivel fer wn fulher 3 “Battie dle. B provivet haver, aqui vestigios de win mito mais ro, fo em que o howem ariginal eza dfinidemente hemalvodita, Sern ‘divida ease mito mais remoto fol modificado pela aide patiarcal ‘unilateral dos bebreus, que deprecaram 0 component feeinine du Brique, reduindo-o a wna simples costela de Adio. A separage de Adio em componentes masculinoe femining & um prcerso parce {© equivalente A'mun separacSo do jasdim peradisian, De ceslqucr 0 ‘Grane 1. O1ARDIM DO EDEN COMD UM CIRCULO Amt Tis Riches tee de bido. A consegiéncia disso 6 contcigncia dos opoites (0 conheci ‘mento do bem e do mabe ize significa ser lang mmm estado de onflito conscene. A-caa povn aumento da cone, amen, -Embors © ronhader afin que come o bolo sm problemas, as conseqiéncias disso estso timbolicamente spresentades na pri ‘melra cena do sooho. Nao imperta que a cena em qvesio tena pre= Cedlido a do ato de comer o blo. A sequéncia temporal a causa ‘dade no se apicam nes sonbon. Quando vm sonbo spusena varias ‘Cems, em geal 6 posstvel comiderar as virias const como formas Uiferentes de destever a mmm hin central. Em ons yolavras, a ccadeia de imagens dos Sonhes pis em torne de Jetrminados cents” nods; ent agar de seguirem em lis rts coMme 6 Pemamcnto ta. ‘ional. Assi sendo, estar moma atmosfera kicrke garda € corn ‘rar um liv ititolade "Umm Homer entre Espinhes™ éapenss ‘ariante-da imagem de comer wm bolo preto duc € um wencino: Co- ‘er © bolo significa entrar na experéncla Kieskepsntinas Je cont tw € cotender © howem ents espinhos — op Cristo, que suporton ‘mals extrema teasso dos opostos 20 ver tanto Deve quanto homer: ‘00 Adio, que, a0 set expulse do jardin, fot brigade wart tetra ‘qve prodizia expos © cardox. ‘© que significow esse seabo, em termos priticos, para 0 so- ‘hador? Ele ndo levou a nenhema pereepgo ou idan bias, O Sonhador nio estava consciene de ter tinado apes 6 sono. Ma ‘ossa discussio dese sono, alada & de sonhos subsegéentes, cfeti- vamente prepatou o caminbo ara tm aumento progres da cont ienein ‘Ao Iniciar a psicoterapia, paciente apresentavasintornas mas ‘fo tinh confltos. Gradvalneate, os sintomas foram demparecendo forain sendo substtutos por um conbecimena cmciente, da ‘existéncia de um confito dea do paciente. Ele pereeew que 30 ‘come guia excrever porque pate dele no o queria fazer Ele perce. ‘be que esta ansiedade 10 am um sintoma desprovide de sentido, ‘mat tm sinal de perigo que cata tentando alerts le de gue sa pro Jongada residéncia no Jardim do Eden podia ter conseqpeacit ‘cllgicas fai. Como suger sonho, cra bora de comer fruto da ‘rvere do conhecimento do baw e do mal © de acitar orinevitavels conllitos docortentes do fito de ser um individwo conseiente.E essa tansigio nie apesenta spenar dor © sofrimento: Ness Ponto, "Gomno coi inece)ave, Has co "Na mitelogin grega hi win parslelo Jo dams €o Jardim. do {Edeo. Refio-me a0 mito de Prometen. Nom exbosa simplifies, es semito se deseavolve da mpuinte forma Proneté era responsi! pla dvs da care tims de saci ‘Gow enter dewes © os homens. Antrionnents, io ha silo <= ‘tdi advise, pou or dems es homers coi jae Gee ‘6 eg0 Siew). Promeen enganou a Zeus ap ofteee Ibe apenas ‘seis dum anal etertos for uina ssete cma de pore Prometey reserve fart ohamesn toda a cunesoeatheh Zea, ao ‘om exe engodo retow foo do horner. Ms Premetn pene me ‘fa, oben 0 fogo den descr eo entrepow& haste Como po ‘niko por su rine, ol woes um rocked cer t,t ‘si, por wma ine coin 0 fade; tdi efit se ‘compan, Foi pid bn se i, Epi. Ze co wae ‘mule, Pandora © enna 1 Epimotew, com uma ca Ds coca de Pandora emergiran ido or mere sofrienter qu cl ahaa ide velie, tate, dene, vcios pales © processo de divisi da came dos animais ssifiados ente ‘os deuses © os homens representa 3 separacso ene 0 ego © 6 Si ‘mesmo, a pxique arquetpca. © ego, para eslabelecerse Som ei ‘ade autéooma, deve apcesrse 60 simento (ener) para seu pr pio uso. © roubo do fog € wma imagem andloga 60 meen proces 50, Prometeu a figura lifer cujo atrevimento ineia 0 desea ‘elvimente do eno © que aga por iso o prego do sftimento- Considerando-se Promctea © Epimetew dois apectos de uma mesma imagem, pedenes cbecrvar muitos parlelos etre os miter {de Prometeu © do Jardim do Eden. Zeus retin 0 fogo doe seres bi ‘manos. Je interdita 6 fro da drvore do conbeckneato. Tanto 0 {ago quanto 0 fruto aio sinbolos da conseitnca, que leva a tna ‘cata autonomia.e independéncia do ser hurnano com religo a Devs ‘Assim como Prometed rou 0 fop0, Ads0 Eva rou © feo, \esobedecendo Bs ordens de Deus. Ein ambos os casos, € comet lum ato voluntério contra sautoridade reinante, Ese to voluntaie & forma, o efeite & a separasto © 9 slienasto do homem de sa vnida- deoriginal © drama da tentago © goed om nfcio quand estado origin SITs ota possivrse-ronsfermarenrinf liga atv demas agso specifica, Tedo o enfoque e toda a sedicio da serpente #50 expres 508 em termon inflacionirios ~ quando vot comet eae fo, ses ‘los se abritio © woed serd como Deus. Assim, 6 fle da Srvone & {comico © 25 conseqéncias inevtives se maniftam. Todo aconte= {ce porque Adio € Eva decidem agirem terms do sei desejode ta ieecone Bee FT als ono asin 4 conc lacn sto wn rae ¥. ne alicna.a bomen de Devs cde s-unidade px conscicne ori fal. © ft sinha clrsnie = conciena Io fue da ee i do Coxibecimento do bem e do ml, que significa que traz a con fF itncia dos patos, a caracteraica copceifica da comcléncie Fox, ‘tanto, de acondo com esse mito e nas Joutrinas teolgicas que 0 teas por Base, a consitncia€ 0 pecado original, a yrs originale causa Ihiica de todo 9 mal da matureza humana, Fodavis, hi imepretagces ‘A sein pndstica dos Oftas adorav a sepente, Sua v5 ‘era essenciahnente semethante da modern Pricologa, Par lcs, ‘seipente reprcsentava 0 principio espinitual que sinbolisa weg relativamente is amarras do demiurgo que crow o Jen do Eden, © que manteriam o homem ma igerincia. A sespente tm Considers ‘bow c Jaw mau. Picologicamen, a srpemte € 0 principio da gre ‘sis, do Conbccimento 00 conscitmcin emergente. A tniaglo da ser [pete representa a necessidade de auto-realizasio do howem ¢ sive Doliza © principio da individuxio. Algumar eeitas gndsticas até ‘mesmo identifica a serpents do aad do Eden Casto, ea mee eee te 4 Sit mins : eda aa conscigncia & que Ado @ Ba se forma conscintes de sum auder A sextalidade © 05 instnoe cin =~ ef / al tornam-se; subitsmente ibys © objetos de vergonha. A cons ela, om qualidade de principircspitual, ei0a uaa Sobtroparte fansSo animal nstintva< nul saad as ie pretinonecttdbnespagoethimansspeestancusoniosesies 7 ) aaa es a aso Slgailes implesmente que a consiéncia, pe Eve, flo mens Wo Tico, Ser anagbnics com nts. Essa peeepyio os enrina que WHat See Hiss ‘racic fea, gu supiem que a personalidad hana pasderia ser inlegal ¢ saudavel se aio estiveseesijelln RrTepresates ‘os impulses sexisis« dos instinos, css eres: Os elias ine: {os © necessaries do desenvolvimento psiqvico requcrem ura pola ‘zaqo de oposior:coneciente versus incemscicntc, esto versa ma ‘Mas nossa exploracio a respeito do mito da queda no fcaré completa se a deixarmos no ponto em que tomos a lmagem de AdzO fe Eva assumindo tistemente saa dora vida no mundo da realidad, ‘ganhando @ po com © sur do resto e dando 8 oz com dor, Havin ‘duass drvores po Jardin do Eden ~ nig #8 a Srvore do conbecimento ‘do bem e do mal, mas tambem 4 Arvore da vida. E ma verdad ave vida. narrads na obea de Ginsbers, Legends of the Jems, ue ofetese ilgons lemeniog a esse rspeito tio wp panic a Sevore da vids 8 évore do 1 i tg of th Jen, th eo Lge of te, Nore ‘As lendas tecidas em temo de or mito com feeggéncia ampli ‘iam e elaboram arpectosdefzador de lado na iste original, co. a psiquecoleiva necesstasse setompar-a0-quato parm expieae ochre micas ie ees Sorceress per eent eee icra smo doen an Sen ocamesom name Act momen Seen goer win ameneremenemannae: Eee gen cmran e ne ore Se eee ese nae ames meres cada novo aumento da conscienca. Concorde corn or Ofitas que € ‘um pouco unilateral a desrigio de Ado e Eva apenss com enver- ‘gonhados Iaabes de pomay. Sun 9:50 pode ser deer, igualmcnte, ‘como um ato de herlamo. Eles saceificam 0 passive conforte de ‘Obeditncis para ebter wma conseigncia maior. A serpente se rovela, ra verdade, uma benfeitrs «longo prazo, desde que atribuamos ‘Conscigncia um valor maior do qe o atrbuido a confeto, elements phe caret eae oe RN i a pee teense ares ‘qos novas parepodes conscions om 4 busca da conscitas,simbolizads em ambos os mites como wm ‘ime: sexuido de panies. Promtcu é amaldigoads com tise trs ‘qve nunca sar © Epimetew € amaligcato por Pandora com todo comets sasana A feria se-cure-€-andlosae decane Si Podemos apicar essa comprecnsio em vitios nfvets: No nfvet ‘mais profundo, tse de um erime contra os podetes unimrrais, ‘contra os: podezes da matoreza, conta Deus, Mas, a realidade Ga i =I - HOF nie nte-oma expe We Tea or, © trabalho € 0 sarimento que Pandora libertou consti vn paralclo ‘do trabalho, do sofrimento © ds motalidads que Adio © [Bra encontraram depois de deixar ¢Sardima do Fale ‘Toros esses elementos so refer s inevtivsis consegincis OP datomada de consccis. A = {w.existem antes do mcimento da consciéncin, mas ni fons /Siiacia para exy psicologicamente, A cehE-la_Ts:0 explica a grande nostlsia com felagio aD-aRIG ae ch jeoncione orginal Nase extady etme vees de tole score ‘que a conscigncia inevtavelmonte acarta, © ato Je 6 ligne de Prometcu ser comido pela guia dante o dia e restaurade noite consi uma mensagem significava. O dia €o momento dalus da empitacin s nite € econo, consi. Ton rlomaon, = noite, 3 wide original de que mascemet.E isso tem uh fem de cura. 'A coin se pasia.como te a tafluéncia da fein io cesivesse ativa. O que indica sera conscitncia, ci si mesma, umn ‘ermlora de feridat A ferida ekmamente somo cure de Proaeice Simboliza as conseqitacias da rptura de unidade inconeciewe ort ginal, alicnagso da unidade original. 0 expinho cravado perma Emies dois mits dizem essmclalmente « mesma coisa porque ‘expimem a realidadeargetipica da prigue, assim vonio seu oases t0-de desenvolvimento. A obtengo da Zonaciéncia € umn cine, tn (mode tobris conto res estabelecidos; mas & tm cae, tfco, que leva a una necessi lenagio Com elagdo 0 endo \\/ fecomctente natoral de unidade. Se descfamos scr, Je lgume forms, leain ao descnvolvimento.da. coaseiénca, devemos cansier$to try ‘tim nevesséio. FE preferivel ser conriente a permanceer Buestade sim. Mos, para emerpir, 0 ego. obrigado 2 colocarac cont © \ Cineamelete de que poveio © amcgurar sux sitonoma comm to Jit. cE jaro ‘eligisis, © sim em forme bastnte pestons, No nivel pemol, © aut tiviade, ses a fan parti, iee tempo, cada um dees pasos, na alka ddcimmente inflado, € acompaniado nto 36 de culpa mas também do any bos. {ante teal do nos evar a entrar num estado de Infagto que serete ‘“Gostria de me eam, mas isso watara minha pobre © velkemse 6 possivel que ecoma jostamente isa caso cle verha sm eassn, ‘ois a rclagso sinbitica que pode exist alvez tena um semi It ‘eral de alimentagiopakuiea: seo alimento lhe for nepaco, epareci- 10 pode moto bem morter! Nesses casor, as obrigagdes pomeors a sie slo tidas com demasiado fortes pars que © individee posse Considerar qualquer ouwo tipo de padrio de vida. O sentinenta de ‘esponsabilidae com relagio a0 prprio desenvolvimento paolo. 0 Smplesmente sida no nase ‘Vemos este mesmo tema em operacio, algumas vezes, ma re- lato psicoterapttica. Talver ae tenha decenvolvido. uum reacto negative ov rebel 20.analisin. Uma reagio deste tipo pede vir “eons de wma grande carga de culpa d= nnsicdade, partic. larmente so anata for alvo da project da autoridade apeipicn ‘Exprimir uma reagio negativa com afeto genuno, ness citemet sesso certo de que morran, Enanta sone oulose yee or da ita Dédslo tts adverio sou fa: "Naoeemancaioace | ish rene! imedtanete mo qunvo de Brophel, 2 8Qeea fol val dcr cere de lowe tiittaktSemte dere | Ma leat ficou uo anima Com 6 at <& poder war gue eaqucen a advertia do pac mga On, ‘amo: Vomato demas acer as anew esr eee cabs moe © mito mentua 0 aspecto perigoso da ints. Embora hoje ‘momentos queexigcm Um ato inflado pars se sting an nove nel

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