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  • Entrevista - Moacir Gadotti

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    Moacir Gadotti e a &scola-cidads a Coma gentileza ea generosidade de um excelente profes. sor ele me recebeu. Duas vezes Conversamos, duas ta des, cele sempre com os olhos atentos e muito dispostos, A educacéo como motor da transformagio social, como exercicio da cidadania, como educagio para a | iberdade, é ofoco do trabalho de Moacir Gadotti, uma educacio-ci- dada. Como diretor do Instituto Paulo Freire, Gadotti leva adiante um trabalho extremamente valioso: manter vivo o pensamento de um dos maiores educadores do mundo, o que ele faz com alegria e disposicao. Com sua equipe, Gadotti contribui para que as escolas pensem a si mesmas, construam um projeto politico pedagdgico, estimulem o pensamento critico, a formagao da cidadania, tendo em vista uma sociedade menos desigual e mais justa. Estamos destruindo o mundo, ele diz, e a escola nao apenas é parte da solucdo, mas parte do problema. Hoje sabemos que s6 se conhece aquilo que se cons- tt6i, mas s6 aprendemos o que faz sentido para n6s. $6 aprendemos quando desejamos 0 que aprendemos. A &scola precisa aprender a despertar 0 desejo de aprons seus alunos. A escola nao sabe mais o seu papel. Bes 123 ESCOLA E OS DESAFIOS CONTEMPORANEOS A deve ser um espago de construgao de cidadania. us eSpago de relagdo entre diversos saberes, nao apenas 0 clentificg, Compartimentalizamos 0 conhecimento em séries, mas ° ser humano nao funciona assim. Aprendemos a dividir, mas nao exercitamos o compartilhar. Formar para a cj. dadania é, antes de tudo, querer que a escola tenha um Projeto, que se dedique a seu entorno, sua comunidade, sua cidade, até ao planeta Terra. Que seja uma escola inserida no mundo, que leia o mundo e pense sobre ele. E que valorize o saber que as pessoas trazem quando chegam 4 escola. Sair de uma légica da disputa para uma légica da escuta. eee Moacir Gaporti nasceu em 1941, em Rodeio (SC), é gra- duado em filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira, mestre em educacao pela Pontificia Universidade Catélica de Sao Paulo e doutor em educacdo pela Université de Genéve. E autor, entre outros, (Atica, 1993), Pedagogia da uma biobibliografia (Cortez, 1996), Pedagogia da Terra (Vozes, 2001), Educar para um outro mundo possivel (Publisher Brasil, 2007) ¢ Economia solidaria como braxis pedagogica (Instituto t cane Freie, 2010). E professor titular da Universidade de $io cipais Sto fle oo Instituto Paulo Freire. Seus temas pri educagio, e a j adultos € sustentabilidade, G40, educagio de jovens e | de: Hist6ria das ideias pedagogicas | braxis (Cortez, 1994), Paulo Freire, Entrevista Viviane Mosé: Professor, educar? O que é educar? Moacir Gadotti: Pergunta di comegamos com w pergunta muito A palavra educar vem de ed ir que ignfca “tirar de”. Entdo, educar no significa “eto em’, mas “retirar de”. Educar € trabalhar o pensamento, & produzir pensamento, é produzir vida, Educar tem a ver com avida da pessoa, e no s6 com o cérebro. Os conhecimentos da educagao sao importantes porque por meio do conhe- cimento vocé comeca a se educar. A educagio passa pelo conhecimento necessariamente, mas nao se reduz a ele. VM: Entao, nesse caso, a educagao esté vinculada a um gesto criativo, de invengao, nao de recepcao. E isso que o senbor esta dizendo? MG: Exatamente. Porque vocé sé aprende aquilo que autonomamente constr6i. Essa tese é uma tese piagetiana, que mostrou exatamente que vocé nao conhece aquilo que écolocado na sua mente, vocé conhece somente aquilo que autonomamente construiu. E assim que 0 cérebro funciona, Entdo, nao adianta depositar matéria no aluno, Porque ele vai desaprender. Alids, € importante dizer que todos precisamos desaprender, porque ha mult ue aprendemos na vida e que precisamos desapre Senio enlouquecemos. As vezes, esquecet {i 4 Salide, a satide mental. © que 0 senbor considera 1a coisa Ws OLA E OS DESAFIOS CONTEMPORANEos A ESC! VM: Esquecer até para oe i “o ago , um novas COisass MG: Nao é uma questao so oe 6, Como o com. putador, em que vocé tem um har ware com OM limite de gigabytes, digamos, de informasio, nd 7 a €Spago fisico. E porque continuamos ap! rence h © a0 longo de toda a vida, essa é a necessidade do ser humano. Porque somos seres incompletos, inconclusos, inacabados, pre. cisamos do outro, precisamos do olhar do Outro. Para viver, precisamos estar sempre aprendendo coisas noyas, Aprendemos na cidade, aprendemos na escola, aprende- mos na televisdo, aprendemos no cinema, aprendemos _ na rua, porque a cidade também se tornou educadora, Hoje, sobretudo com os meios modernos de comunicagio, q muitos espacos de formagio foram criados. A escola é um _ desses espacos, um espaco especifico de conhecimento, do saber elaborado, da construgdo do saber elaborado. Mas a aprendizagem se da ao longo de toda a vida. VM: A gente pode dizer que a aprendizagem esta vin- culada 4 paixdo? Pela vida, pelas coisas? Existe relagao — entre paixao e aprendizagem? MG: Existem duas teses ai. Que vocé precisa ter : 7 7 : Uma freudiana, que diz — Prazer para aprender, e outra mais deleuziana, que diz que vocé aprende quando tem 0 desejo. Nés discutimos isso em Genebra até com P; ficou muito mais Pelo lado do desejo do que E que ha coisas que, as veze: Prazer, mas vocé Precisa aprey vocé. Entio, o desejo é mais Pesquisas das Neurociéncig que a pessoa deve desperta; iaget, que do prazer. 8, vocé aprende mesmo sem nder e aquilo faz sentido para importante. Partindo dessas S, vocé percebe claramente TO desejo de aprender. Vocé 126 ENTREVISTAS é aprende quando deseja aquilo que e yando aquilo faz sentido para vocé, por i 4 aprendendo, 10 € que muitas wes escola fracassa, quando as criangas se pergu SS puntam: mas que sentido tem aprender isso, aquilo? Até o prépri professor, as ve7es, nao vé sentido algum naquilo que ee estd ensinando. Entao, nao se aprende. Hoje, todas as teorias do conhecimento e todas as teorias de curriculo, toda a questao da educacao esta focada no aprendizado. Oo problema maior hoje é aprender. Direito 4 educagao nao é direito de ir a escola, de ser matriculado em uma escola, € direito de aprender na escola. VM: Se 0 foco esta na aprendizagem, é um sintoma de que essa aprendizagem ndo esté acontecendo como deveria em nossas escolas. O senhor concorda? MG: A educagao hoje vive uma crise muito grande de valores, ela esté tentando definir qual o seu papel especifico nessa sociedade na qual o conhecimento esta generalizado, ela nado tem mais a fung4o que tinha no século XVIII, no século XIX. A escola que nds temos é ainda aquela que acredita que 0 tinico espago de constru- ¢ao do conhecimento € 0 cientifico. E nao é. Escola, no latim medieval, significa lazer, significa alegria. A escola perdeu muito esse espa¢o. Pelo menos etimologicamente, ela perdeu essa ideia de que é um espaco de alegria. Paulo Freire definiu de uma forma fantastica a escola dos sonhos dele, dizia que era a escola-cidada, definiu a escola-cidada como a escola de companheirismo e que vive a experién- cia tensa da democracia. Por que a gente vai a escola? E 86 perguntar as criangas. Elas vio para escola porque elas querem ver as suas coleguinhas, seus coleguinhas, 127 cota £ 0S DESAFIOS CONTEMPORANE . AES! ncontrar gente. Enter a

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