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GIULIO CARLO ARGAN ARTE MODERNA Do Iluminismo aos movimentos contempordaneos Tear DENISE BOTTMANN FEDERICO CAROTTI Preficior RODRIGONAVES Projet gréfico: MAS. 2 iisao 5 venpressto cuutruosis AROCK DOMINO 353 sobra que assinalzo final do pitoresco libertarismo, brilhante, vivaz, mas ideologicamen- jstente, da Ecole de Paris. De extrema importincia, porém, foi a fungio daquele cri- salentos, que era Paris na primeira metade do século, para o fim das escolas nacionais sa diferenciagio, por ela instaurada, entre a arte académica ou oficial, tanto mais desa- mada quanto maior 0 apoio dos tegimes totalitarios, ¢ a arte moderna, sem linha nem definido, suscentada pelos intelectuais pelo livre mercado internacional. ADA Diferentemente das outras correntes, que, seja como for, nascem de uma vontade de co- 5 incerpretara realidade e dela paricipar, o movimento Dada é uma contestacio absolu- sodios os valores, a comecar pela arte. O movimento surge quase simultaneamente em Zu- a partirde um grupo deartistase poetas (Arp, Tzara, Ball), e nos Estados Unidos (depois Sposisio de 1913, 0 Armory Show.aberto darte de vanguard), com dois pintoreseuropeus, pe Picabia, e um fordgrafo americano, Stieglitz, aos quais logo se somaré outro pin- io americano, Man Ray. © movimento se alastra com rapide7; ele aderird o pintor so Max Ernst, dele se aproximou Schwitters. So os anos da Primeira Guerra Mundial, cu- era contflagragao pds em ctise todaa cultura internacional. Pés em crise, ao lado dos demais, ss, a prépriaarte; esta deixa de ser um modo de produzir valor, repudia qualquer légica, ¢ faz-se (se e quando se xz) segundo as leis do acaso, Jé ndo & uma operagio técnica © icasela pode se valer de qualquer instrumento, retirar seus materias seja de onde for. De ‘0 produ valor; ela documenta um processo mental, considerado estético por ser grat nonsense no nonsense, mas positivo porque o comporcamento do mundo, que pretende ser 1e€ insensato, um nonsense negative eletal. Todavia 0 nonsense, 0 acaso também podem. “ama coeréncia e um rigor préprios. Desfinalizada e desvaloriaada, a arte jd ndo é sendo um de exiseneiassignificativo, porém, quando tudo cm redor é morte As primeiras objegies ao racionalismo cubista haviam surgido no interior do préprio bismo. Fora definida uma nova estrutura formal, mas a arte prosseguia como pesquisa snitiva, eas obras cubistas, a despeito do postulado revolucionario, ainda eram “obras de As objegbes feferiam-se antesaos procedimentos do que ao problema de fundo. Du- Sonia Delaunay Terk: Fw pare Caco PO i Tran Ta sus Dade Sem Pare 354, cAMTUIOSEES AeocanonmcIosatsMO Francis Pcabi: Udi 1913} ea, 3X Sim. Park, Morse Nitin “FAn Modems, Franca Fcabia: Bong pare Relche (1926), Esecclno,Bibhonea Rea Sues, Ae (yeiane vee Tt) ivy PTT ee Pe ke Cr errer sree ee ty) eee Piatt cere eet ro Sr 2220? >On Hg tr Teh + a eH Lean tt Site LSS o a Ty Li eee ts ee 660688 paras & ‘ e a’ tag ale , » a , CAIRTULOSEISARROCADORINCIONALIENO 355 ump com Nu descendant un escalier, Delaunay com suas Torres Eiffel, os futuristas € as van- rcdas em geral haviam, certamente, tentado animar a representagao, conferindo-lhe uma ca funcional propria, contudo o resultado consistira apenas na passagem da represen 20 do repouso paraa representacdo do movimento, Nao ocorrera uma revolugdo, ano ser tro da concepedo “histérica” da arte como forma e da forma como objeto; mas, enquan- a arte permanecesse producto de objetos, a razo social da arte permaneceria inalterada, jue na sociedade burguesa o objeto & mercadoria, a mercadoria ¢ riqueeza, a riqueza €au- dade e poder. Apesar de pretender transformar tudo, o Cubismo, que preservava e che- a reforgar a concepgao da arte como produtora de objetos de valor, fazia parte do siste- devalores consticuidos. Foio préprio Duchamp a aprofundar acriticaao Cubismo. Com 10sa mariée, que nao é um quadro e nem mesmo um “objeto”, mas um maquinismo de ns sobre laminas transparentes superpostas, ele procura separar a iddia de arte ea idéia forma, ¢, a0 mesmo tempo, destruir pela ironia a analogia cubista entre o funcionamen- ida obra de arte ¢ 0 das maquinas, ¢ ainda o fisiolégico, fazendo da obra uma maquina, a , antecipando a terminologia surrealista, poder-se-ia dizer “de funcionamenco simbéli- F ¢, em certo sentido, orginico. Na mesma época (1913), F. Picasa (1879-1953) langaa Sa de uma arte “amorfa”, que ndo s6 nao representa, como também nao é nada, apenas um so. “E uma arte que quer deslocar a atengio do objeto para concentri-la sobre o sujeito: produto para o produtor. Uma arte que é sempre diferente de si mesma, Um artista que, bém na vida, opta por ser um nomade.” (Fagiolo.) Duchamp ¢ Picabia, aos quais se soma o pintore fordgrafo americano MAN Ray (1890- 776), fandam com Stieglitz a revista 291, que antecipa diversos temas do movimento da- ta, a0 qual aderiram em 1918. Dadanasce em Zurique, em 1916, quando o poeta rome- “Tristan Tzara, os escritores alemdes H. Ball eR. Huelsenbeck, e 0 pintor-escultor H. ARP lam o Cabaret Voltaire, circulo lierdrio e arcistico destituido de programa, mas decidido Jronizar e desmistficar todos os valores consticuidos da culeura passada, presente e Futura. © nome Dada também é casual, escolhido abrindo-se um diciondrio a0 acaso. As ma- Sstagdes do grupo dadaista sio deliberadamence desordenadas, desconcertantes, escanda- sa pris € semelhante & do Futurismo e das vanguardas em geral, mas no caso do Da- Man Ray Ss (1929)Fogai, ‘Man Ray: Rgopuph(1922};0.220,18m. 0.28 018 m. Nowa York, Maseum of Nova York Mine of Modern Ar Modem Ar 356 cartrunoses-armockDo FUNCIONALSMO daismo trata-se de uma vanguarda negativa, por nio pretender instaurar uma nova relagao, ¢sim demonstrara impossibilidade e a indesiderabilidade de qualquer relacio entre arte eso- ciedade, Visto que existe um conceito de arte, existem abjetos artisticos ¢ existem técnicas artis- ticas, é preciso contesté-los a todos: a verdadeira arte serd a anciarve. Um movimento artisti= co que negue a arte é um contra-senso, e Dada é este contra-senso, Negando o sistema de va- lores por inteiro, nega-se a si mesmo como valor e também como funcio, sendo a funcao uma ago dotada de finalidade ¢ valor. Reduz-se assim a uma pura ago, imotivada e gratul- &2, mas justamente por isso desmistificadora cm relagao aos valores constituldos. Dada nao quer produzir obras de arte, e sim “produzit-se” em intervengdes em série, deliberadamente imprevisiveis, insensatas, absurdas, A reagao psicolégica emorala guerra leva a polémica contra sociedade da época aosseus ‘extremos. A guerta era um acontecimento em contradigéo com o racionalismo sobreo qual se pretendia baseado o progresso social osintelectuais que nao queriam compartilhar da respon sabilidade das classes dirigentes que desejaram a guerra teriam de assumir uma posicao, eae via apenas duas posig6es possiveis, Primeiro: considerar a guerra como um passo em falso, um

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