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Gustavo Barroso © Dik on as y | 4 2.3 Edicao Cc VILIZAGE O BRASILEIRA, S/A - Editora BRASI DE BA de Gusta 5.8 EDIG: Fazendo a triste ria da nossa vida mica, triste porlaso sempre subordinada ~ interesses dos banqueiros | extrangeiros, o sr. Gus- tayo Barroso tem, neste livro, um alto documen- tario, um magnifico © au- thentico grito de liberta- | cfio, porisso que @le de- muncla, nas paginas de “BRASIL — COLONIA DE BANQUETROS’, uma “gituagio due urge modi- ficar, e um estado de coisas que é preciso ser " corrigido pelas geracdes _ vindouras. de cultura e, , livro de combate, e de combate violento em campo aber- to, esta é uma das obras ) indispensaveis a todas as Diblicthecas nactonalistas @ a rapidez com due a fla primelra edigho fot “yendida, bem mostra que © publico brasileiro sou- “be comprehende-la. Vol. broch, | . . 6§000 e © BRASIL EM FACE DO PRATA de Gustavo Barroso grande volume em que o jlustre membro da Aca- domia Brasileira de Letras reuni uma serie de en- guies © artigos sobre o que fol a obra civilizado- ra do Imperio em toda a, America do Sul, Bscritas com simplicidade ¢ clare- wl, ossag paginas assu- mem, 4s vezes, de combate, poi eee * OBRAS INVEGRALISTAS DE GUSTAVO BARROSO © Integralismo em marcha, 2.* edigto. © integralismo de Norte 2 Sul, 2.2 edigio. A palavra e o pensamento Integraliste, Theiro. © quo o Integralista deve saber, 4.* edicho. Brasil - colonia de banquciros, 5.* edicso, Hspivito do seculo XX, 2.* edicho. . © Integralismo e 0 Mundo. © quarto Imperio (Posigéo do Integralisino na Historia Universal). Os Protocols dos Sabios de Sito, 2.* edigio. istérin Militar do Brasil. Wistéria Scereta do Brasil, 1. parte. /O Integralismo em Marcha Digitalisado por: Crovoada - HP http://trovoadasp.blogspot.com.br/ CARTA A’ MOCIDADE BRASILEIRA 4 Mogos a met Brasil, 1) creptisculo, que Borie previe te de- oo da grande guerr: alastra pelo mundo as ‘suas sombras ‘istes. oO liberalismo impotente 6 hipécrita agoniza. O credo comunista eria duas humanidades, declarando que nem a morte apa- ‘ga o antagonismo entre 0 operario ¢ o burgués. Mais horrendo que o fantasma das discordias civis, se ergue 0 espectro da guerra de classes. Ao embate das contradicdes, 0 nosso pais corre para o naufragio. Sé a mocidade, que é 6 fut ro, lhe resta como taboa de salyaciio, sémente ela é capaz de renova-lo, como, ao som da Gio- vinezza, reformou a Ttalia, -concertou Port gal fo redimi a a a $ GUSTAVO BARROSO quando © sol inclemente das sécas combure os esqueletos das catingas e todo o sertao imenso se alonga nti e preto, as copas verdes dos joa- zeiros uteis e heroicos, cuja sombra abriga a rez sequiosa e o yaqueiro emagfecido, cuja rama e eujo fruto alimentam o gado € 0 retirante, pon- tilham a desolacdo. Quanto mais a estiagem se prolonga, quanto mais a canicula dos longos dias estivais calcina a terra infeliz, e mais cresce a solidao, ¢ mais aumenta a agonia, mais vicoso, mais belo, mais senhoril e mais verde pompta © joazeiro como um estandarte de Esperanca! Séde como 0 joazeiro, mogos do Brasil! Sée- de como‘o joazeiro, erectos, varonis e sempre cheios de fé, tanto mais erectos, mais varonis e mais cheios de fé quanto mais crescami as do- res, aumentem as provacgdes e se multipliquem as dificuldades! Meu olhar se espraia pelos largos horizon- tes da Pattia ¢ avista as negras nuvens que fi- caram para tras, € os nimbus escuros que se adensam 4 nossa frente. A complexidade dos problemas nacionais desafia o esforco da ge- yacao nova. Na vasta planicie lamacenta dos avos peso: i. os mogos oe ainda nao contaminados pelas baixezas do ambiente, sao. 8 uteis e heroicos joazeiros verdes emi que r _sidem as derradeiras esperangas do Brasil, mo- gos de hoje, homens de amanha, construtores da futura sociedade. Unicamente vés podereis cpor fou in- transponiveis ao alude das maiorias. incapazes e aos assaltos das minorias estereis que guer- réam a arte e a ciéncia, que combatem os mais” altos, nobres e sagrados ideais humanos, preten- Udendo | reduzir 0 panorama das patrias a pant a nos peconhentos ou a monotonas estepas mos covitas, Sdmente a mocidade poderA salvar 0 mundo. i Falo-vos com 0 coragao, do meio do cami- ho da minha vida em dto de que me possa envergoniiar. Falo- -VOS com a conviceio duma doutrina e com a forea dum idealismo construtor. Sao j4 demasiadas as rui- “nas a a oa da terra. ee de agitados ao vento da foahhen Aue os verde e gloriosos estandartes da mocida: Gustavo BARROSO, po: ides de lucro ou de mando. A politica nao pode ser o sistema de iludir os povos para ex- sabia e honestamente os ho- ns, organizando-os com disciplina e justica — ¢ ivos, orientando-os para o pro- a ne OF lentro da ordem ¢ da moralidade, pro- nd-los tao. felizes quanto o a a as sma de seu oe a fa GUSTAVO BARROSO. : Entendendo desta sorte a politica, nao -podemos conceituar alheada dos sentimentos s “periores da moral ¢ dos imperativos da caltur Eis por que, logo 4 primeira vista, a Agio Tn- tegralista Brasileira se nos apresenta como um movimento notavel e consolador. Notavel, se 0 compararmos com as ideologias cas e baratas que teem pululado na nossa vida nacional, b das do menor vestigio de inteletualidade. Conso- lador, se o compararmos com a vacuidade de nossos ambientes politicos-sociais, ‘eiyados: quan do muito de supet ficialismos racionalistas e da famosa cultura juridica, que Deus hhaja. : A autoridade com que falamos decorre de ndo estarmos aqui para pedir yotos, afim de nos elegermos deputados. Nao convocamos os — nos ouvem para trovejar imprecagdes va- zias contra os regimes do passado ou do pre- sente, frutos de suas épocas. Nao tisamos da — eloquencia retumbante ¢ dca dos exploradores do oposicionismo. Nao concitamos ninguem a ‘conjura, 4 reyolta, ao atentado politico, para nos apoderarmos do poder, disputando proven- tos ¢ colocacoes, pastas e cartorios. Doutrina- 6 INTEGRALISMO EM MARCHA 15 ios com o qtie aprendemos e provamos ser a _ verdade. Ensinamos como se devem encarar os fenomenos’ politicos-sociais, Formamos uma orrente de idéas que riscaré o rumo do Brasil Novo. Somos, afinal, aquéle verdadeiro espi- tito revolucionario de que tanto se tem falado desde 1930. Encarnamo-lo, porque os que dia- Tiamente para éle apelam até hoje o nao defi- Niram a nacdo ansiosa numa sintese doutrina- ria, espalhando ensinamentos conyincentes e Mmarcando uma rota segura; porque dizemos com “citusiasmo € convicgdo moca 4 Patria em co- _lapso que n&o descréa de sua capacidade de re- “tlovagao e transformacio, que seu caminho é aquéle que o estudo, a meditacio, o senso moral nos deram a forca necessaria para indicar-lhe. No neyoeiro que se estendeu sobre o pais apds _ 4 derrocada do presidencialismo, que viveu pou- _ 0 menos de meio seculo, o Integralismo é 0 pri- : meiro farol que brilha, indicando um porto. Preparamos © espirito brasileiro a receber lossas idéas, pondo-o pouco a pouco, pela pa- _lavra e pela ac&o, em estado de compreendé-las. lo dia em que ésse espirito estiver conosco a GUSTAVO BARROSO © que levara menos tempo do que pensam os inertes e aquéles ricos de espirito a que alude Plinio Salgado —- dominaremos o cenario nae cional. Nao queremos ser um partido, porque representamios as primeiras celulas de um todo, porque seremios um dia ésse todo, arquiteturado coesamente ma ordem, na hierarquia e na disci- plina. Nao pretendemos o poder-forea, poder passageiro, transitorio, ganho pela astucia, pela intriga, pela aventura e mantido pelo terror, pe- la violencia ou pela manha. Queremos o poder- autoridade, como um direito real que compete 40s mais cultos, como atribuigao que assiste avs mais capazes, poder de que carecemos, nao para explorar a Patria, mas para engrandecé-la, ¢ que manteremos pelo ascendente da perseveran- ga, da cultura © do amor ds eternas verdades nor- teadoras da superioridade mental do Homem. Queremos acabar a inquitacdo provinda das aventuras, dos empirismos e dos extremismos, integralizando as forgas vivas da nacao num modus governamental equilibrado, num Estado totalitario que abranja o Homem nos diversos. O INTEGRALISMO EM MARCHA " aspetos de sua natureza e de sua atividade, ma- terial, mental ¢ espiritual. j Os movimentos politicos sempre: foram “Titos proximos ou remotos de doutrinas filo- “soficas. As revolugoes se desencadéam em vir- tude das idéas que clas agitaram, embora mui- igs vezes erroneas ou prejudiciais nos seus prin- eipios basicos. Porque nenhuma organizacio po- litiea se manifesta no dominio dos fatos sem an- tes se ter manifestado. no dominio.das idéas. Objetiva-se, depois de hayer sido subjetiva. Dessa concepeao filosofica decorre o raciocinio de nossas deducGes no terreno da saciologia. Na idéa reside, queiram ou nao queiram materia- listas e€ positivistas de qualquer escola, a cen- télha divina do Homem, pois a idéa é divina no Gell carateristico essencial, Ubiqua, esta em to- da a parte ao mésmo tempo, dividindo-se sem " perder a unidade. Quem tem uma idéa e a es- palha por milhées de cerebros dissemina milhées lima unidade, que continua integralmente na ' Sti posse e em milhGes de lugares. b Sem a base do conhecimento da constitui- Glo do Homem, tanto material como inteletual 18 ' GUSTAVO BARROSO € méstnio metafisica, se o quiserem, nao é pos sivel tragar as linhas mestras de sua vida so- cial e politica, Como levantar um edificio sem a exata ciéneia do seu material de construcao? Para quem estudam, trabalham, agem filosofos, sociologos, legisladores e politicos no bom senti- do desta ultima palavyra? Para o Homem. En- tao, qual seu conhecimento basico indispensa- vel? O do Homem. Mas que Homem? O dos naturalistas e racionalistas, o “homem nu de corpo e de espirito abandonado na terra confu- sa € selvagem” de Volney, o da antropologia ou melhor da antropografia, o do transformismo? O homem-animal, parte unicamente do reino animal com a simples e unica diferenca da ra- za0, qualidade que a natuteza The deu por me- ro capricho, como deu escamas a alguns peixes e bolsa maternal ao cangurt? Essa diferenga lembra conhecida anedota. Em Franga, numa reuniao de feministas, uma delas pronunciou terrivel catilinaria contra os homens, terminando-a com estas palavras que acreditava sdbias: “Afinal, entre ésses bipedes € nos, existe somente uma pequena diferenca!” ogo, as mais mocas apartearamena com en- lasmo: “Viva a pequena diferencal!” Pois i, 8 entre nds ¢ os macacos, nossos imedia- Na série animal, unicamente ha essa peque- ferenga, viva 4 pequena diferenga! Viva! BE’ ela que responde 4s perguntas e acabei de fazer. O Homem que considera- Mos é 0 Homem Integral, Corpo, razao e espi- = Bee redo de alimentar- see de nee mas festa pela virtude e pela inspiracdo. Ao organizador social que encare 0 Ho- _ mem como simples animal racional, limitado 4s da, somente pddem ocorrer leis instintivas, me- diatas e precarias. Ble s6 viu um lado do proble- Organizador que encare 9 Homem como razao plira unicamente podem brotar leis abstratas, de efeito pratico ineficiente, que se diliem no Spaco e no tempo ao léu das circunstancias, ois éle sé viu 0 outro lado. Foi éste o defeituo- 20 GUSTAVO BARROSO ziti a Revohicdo Francesa, creadora da ridicula ” Deusa-Razdo, Para sermos Integralistas, temos de ver ésses dois lados e mais um ter gs concilie, integrando-os. Como os dois princi- pios que os representam sao inconciliaveis sem eiro que uma forga mediadora e reguladora, integraliza- mos sua acdo, controlando-a pela cultura, sob o ascendente da Moral Superior, da Moral Divi- na. Assim fundamentamos filosoficamente o nosso modo de cnquadrar e resolver o problema politico do ponto de vista geral ou universal e, com as particularizacgées necessarias, do ponto de vista brasileiro. Tnsinam as mais o Homem, mater antigas cosmogonias que 1 animada por um espirito sus- ceptivel de exaltagio e de degradagio, é um laco, um meio de comunicacdo, um fio de liga- cao, um fiel de equilibrio mésmo, entre o Crea- dor € a Creagao, no ambito déste planeta, tanto que seu aparecimento é posterior aos minerais, aos vegetais € aos amimais. A ciéncia positiva comprova éste ultimo fato, admitindo que so- mente surgiu no periodo denominado Quater- nario. © INTEGRALISMO EM MARCHA 21 Para qué seja digno da superioridade de Mosso espirito nao pode atingir, sua liberdade de agao é limitada pela predestinagao da ma- teria, pelo encadeamento fatal das causas € efet- {os naturais. Desta maneira, o livre arbitrio € fa predestinacao existem, contrarios e contin- " wentes, sem que o primeiro seja unico e domi- “nante come quereni os que levam o espiritualis- MO ao exagero, sem que o segundo tambem dissim o seja como entendem os exageradores do " inaterialismo, Um individuo filho de negros ot de brancos esta predestinado a ser da raca de seus pais, sem que sua vontade possa modificar- “the os carateristicos. Entretanto, ela podera “exercer-se no dominio moral e espiritual para Ge proprio, no dominio fisico para seus descen- lentes. ‘ ___ Pertencendo 4 materia ¢ dotado de vonta- , 0 Homem tem ainda a nogao integral do es 80, a ge oncpeee da eter Deeg © uma cer- 22 GUSTAVO BARROSO uma inspiragdo superior de verdade, uma exal- taco superior de £6 ou de sabedoria lhe nor- tea a acdo, nada se contrapde a sua marcha vi- toriosal Reflexo sintetico de todo universal, tan- to que 0s antigos e denominaram Microcosmo, © wniverso em miniatura, segundo a palavra do Evangelho sua £é move montanhas. O estudo ontologico do Homem no-lo reve- la, em éonsequencia do exposto, dotado de tripli- ce ‘hatureza, que sd os cegos negarao: instinti- va Ou material, animica ou racional e inteletual, espititual ou superior. Em todas as doutrinas, essa verificagao sé perpettia com o cunho das verdades eternas. Corpo, alma e espirito para 08 esotericos. Carne, instinto e alma para os es- piritas. Materia, sub-consciente e consciente pa- ra os homens de ciéneia, mésmo os mais mate- rialistas. A cada wma dessas naturezas corres- ponde uma série de fenomenos que formam a existencia ativa do Homem em todos os raios de sua projegio: necessidades, paixdes « inspi- racdes ou idéas. Para explicar os fundamentos Aleeorias a base cultural da Acdo Integralista, temos de © INTEGRALISMO EM MARCHA 23 fazer ésse estudo do Homem, porque nao é pos- sivel legislar sobre e para éle, nortear-lhe a ati- vidade social, dirigir-lhe a economia e 0 espi- rito, sem conhecé-lo na sua ontologia, de onde vem, o que é, para onde vai. Sobretudo 0 que é do ponto de vista de seus diversos aspétos, tan- {o materiais como mentais e morais. Anaxagoras 0 definiu um animal que tudo deve 4 engenhosa disposigao dos dedos de sua mio. Seus discipulos, até Helvetius e até Ana- tole France repetiram a trouvaille, Consideran- do-o désse modo, escorregamos para a unilate- ralidade das concepg6es socialistas, que sO que- rem ver os fenomenos materiais. Hobbes, com 0 seu sensualismo utilitario, sucedendo a Ba-_ con, é o av dessas teorias condenaveis. Para éle, tudo é materia e movimento, Como s6 con- sidera dois moveis para as agdes — desejo do prazer e receio da dor, sua moral ¢ 0 utilitaris- mo, e o despotismo se justifica pela manuten- cio da ordem e da paz. Transportemos a teoria para uma classe, com o Estado proprietario ¢ capitalista, teremos as delicias comunistas. Nao. O Homem nfo é isso tio somente, ae GUSTAVO BARROSO nem um! aparelho transformador de sensacées em reflexdes, como queria Condillacy porem uma “das ‘potencias do. mundo, destinada a dominar a natuteza inferior pela inteligencia, modifi- cando-a, harmonizando elementos, coordenan- do e aplicando energias naturais psiquicas, de modo a integralizar-se numa evolucao constante € superior. O grande poeta Alfieri denominou-o la pianta nome. EH’ efetivamente uma planta no Jardim da civilizacdo, jatdim que dessa planta ao mésmo tempo depende, de sorte que é sobre seu estado social que se alicerca a grandeza da propria civilizacdo. Stas tres naturezas refletem o ternario universal, Preso pela parte inferior, instintiva, sensual a cadeia da sucesso de causas e efei- tos da materia, essa fatalidade de seu destino ° obriga 4 necessidade do alimento e da reprodu- cao. Pertence inisso ao passado — experiencia, velocidade adquirida, hereditariedades. Mas a vontade, de essencia livre, arranca-o da ganga bruta, modificando relativamente o que existe, creando formas novas. E’ como se manifesta no presente, com intuiches do futuro, gerando na © INTEGRALISMO EM MARCHA ja dos povos as revolugdes. Acima da ago de- ‘terminista da natureza e da liberdade condicio- al da yoligao, brilha o principio superior que o encaminha, lei imanente e eterna da sabedoria eda moral, Providencia que, através da suces- “sho de férmas do tempo, o levaré a perfeigao. _linearando a sociedade, os deistas so véeni um P incipio — Deus; os racionalistas, um Sa youtade humana; os marxistas, um — o impe- rio das chamadas leis naturais. Nos vemos os tres, damos a cada qual o seu valor ¢ integra- _ lizamo-os numa sintese social. Entendendo désse modo o Homem e estu- dando a historia de seu desenvolvimento. désde a recuada época quaternaria, yerificaremos que Muitas teorias tmaterialistas repousam sobre freia frouxa, O _amor, por ae 40 : $0 26 GUSTAVO BARROSO difica-lo de acordo com os progressos e neces- sidades modernos é uma cousa. Aboli-lo um crime contra a estabilidade social. A proprieda- de no € um roubo, como queria} Proudhon. Foi um fato antes de se tornar um direito, con- sequencia logica dum estado de sociedade, que, por sia vez, j4 eta consequencia dos imperativos da natureza humana, necessidade inherente, ra- dicada nas sensag6es de possuir e fruir. Pri- meiro houye o sentimento de propriedade; de- pois € que o direito regulon a maneira de adqui- tila e conserva-la. Porque, sé assim nao fora se somente a forga a conseguisse, somente a forga a conseryaria. As instituicdes sociais e politicas nao sao obra do acaso. Resultam de necessidades, de fa- tos encadeados, de experiencias, de intuigées e inspiragdes superiores. S6 os politicos mirins acreditam bastar por uma lei no papel para ser lei e escrevinhar uma constituigao para consti- tuir. um pove. O Brasil tem vivido nésse erro manifesto, tomando figurinos por emprestimo, sujeitando-se a empirismos perniciosos e até ves- tindo roupas usadas, sem consultar aquilo que - O INTEGRALISMO EM MARCHA 27. devia consultar: suas forgas vivas, sua menta- lidade, seu proprio sentido de vida. Contra o prosseguimento désse erro nos insurgimos. Con- tra éle batalhamos a batalha das idéas. Dare- mos cabo déle um dia, organizando o pais com a forca moral nascida da cultura, com a autor-i dade da £é nos nossos destinos, com a opiniao conquistada pelo proselitismo consciente, com a abnegac¢do e o entusiasmo, com a doutrina dos mais experientes e com a coragem da mocidade. Construiremos um Brasil Novo, edificio que pao sera mais obra da aventura ou do acaso, de unilateralismos ou individualismos, mas basea- do na verdadeira natureza das cousas. firmado nos principios que emanaim das tres forcas eter- has que regem o mundo, com o peso, 0 numero e a medida de cada um regularmente definidos, com suas faculdades proprias e sua forga re- lativa. Nao seremos o legislador que seméa ce- gamente, sem cultura filosofica e sociologica, principios cuja natureza desconhece e sem ter em conta o povo a que se destinam, legislador comparavel a um lavrador que plantasse cana 28 GUSTAVO BARROSO de assucar na areia da prai e cardeires num pantanal, Dos antigos santuarios helenos sain uma f4- bula que os gregos contavam e alguns autores Tepetem sem meditar no seu sentido oculto. Diz ela que 6 advinho Tiresias, tendo encontrado duas serpentes enlacadas no ato do amor, sepa- rou-as com o bastao. Foi de entao por deante castigado com as peores desgracas. As serpes simbolizam ai os dois aspetos contrarios do mundo, que se repelem e¢ se combatem separa- dos, porem unidos por um ideal ou forea supe- rior eriam o progresso, Se Tiresias os houvesse, em vez de os afastar, unido em torno de sua va- ra, integraliza-los-ia no caduceu de Hermes Trismegisto, no caduceu de Mercurio, hoje em- blema do comercio, outrora simbolo do equili- brio e da sabedoria. é Esta separacio e oposicao, creando as dou- trinas unilaterais, nao foi a infelicidade de Ti- resias, mas é 9 atropelo e a aflicao da hhunia- nidade, Creou para um lado o esto ismo de Ze- non: causa primaria onisciente, cumprimento do dever como meio de felicidade, — doutrina exal- © INTEGRALISMO EM MARCHA 29 tada até ao ascetismo, até a imobilidade. Creou “corrompe até o mais grosseiro materialismo. Modificando-se mais ou menos, através dos se- culos, combinando-se raramente num ou noutro ponto em hibridismos insustentaveis, ésses dois sentidos irredutiveis por si sds veem até nossos dias, dividindo os homens, disputando a prima- via, expondo a sociedade e a civilizagao ao cons- tante perigo de teorias e ideologias pregadas por “fanaticos ingenuos” e “fanaticos perversos”, portadores de idéas fixas, cujo talento é capaz de persuadir, entusiasmar e fanatizar, usando sobretudo de paradoxos e exageros qtie se repe- lem na aparencia e se combinam no fundo ou vice-versa, sentimentalismo a Rousseau, mate- rialismo a Karl Marx. i A humanidade vive em um estado revolu- cionario constante, ora com o triunfo dum la- do, ora com o do outro, ora com o de combina- cdes mais ou menos passageiras entre ambos ¢ continuard no mésmio estado dentro do Integra- lismo, porque ésse € tambem revolucdo no sen- 30 GUSTAVO BARROSO tido de movimento, Mais fortes do que as révo- lug6es que derramam sangue s4o as revolugGes que derramam idéas, As etapas da marcha do Homem tempo afora est&o assinaladas por pe- quenas, médias e grandes revolucbes, Olhemos somente 0 largo panorama das primeiras. No inicio, a oposic¢éo do matriarcado e do patriar- cado, feminismo e masculinismo, deixando seu tasto nos dogmas das velhas religiées € no pro- Pptio sexo de certas palavras em linguas dum tronco comum. Depois, a guerra atirando as ra- as umas contra as outras, do que surgiu a pri- meira divisdo das castas:diet, os velhos, como se dizia na primitiva lingua cimeriana, encar- regados de alimentar os combatentes, de onde dieta, ao mésmo tempo regime alimentar e as- sembléa politica nos idiomas de hoje; leyt, os mais fortes, os guerreiros, os responsaveis pela defesa de sua gente, de onde a palavra elite, cuja significacio t&o bem conhecemos emfim, con- forme o dialeto, folk ou wolg, 0 poyo, de onde vulgus e seus derivados. Da guera, a servidao interna com a sujeicio dos fracos e a escravi- dao vinda de fora com a poupanga dos prisio- © INTEGRALISMO EM MARCHA ea neiros, revolugdes todas de imensas consequen- cias, que crearam a questo do trabalho, A pro- pria paz, sucedendo necessariamente 4 guerra, foi uma revolucao, porque, estabelecendo as tro- cas entre os que se haviam combatido, deu ori- gem ao comercio entre os poyos. A nossa lin- gua conserva a lembranga disso na sua formosa frase: “Trocar avencas de paz”. A desigualdade social instituida nos tem- pos primeyos corresponde, como se vé, a uma hierarquia de valores resultante de irrefragavel necessidade, porque os homens nascem desi- guais em todos os seus aspetos, necessidade que sera modificada paulatinamente ou atenuada através dos milenios, mas que nenhuma ideolo- gia acabara. Em virtude da guerra, a desigual- dade fisica gerou a desigualdade social e poli- tica, que naturalmente, como toda forma de ati- vidade adquirida, tendeu a perpetuar-se. Do mésmo modo que a desigualdade, a propriedade brotou de outra necessidade e— diz um mestre no assunto — “a desigualdade de forcas dada pela natureza para satisfazé-la, estabelecendo a desigualdade fisica entre os homens, néles de- oy GUSTAVO BARROSO terminou a desigualdade de condigées”. A. hie- rarquia ¢, assim, fenomeno social decorrente dum fenomeno natural incontrastavel, legiti- ma e deve ser mantida num regime de justiga, de freio aos abusos, de colaboragao de classes e nao de luta entre elas. A.instituig¢ao do culto comeca na glorifica- Ao dos antepassados e constitie a grande re- volugdo de que naturalmente nasceram o sacer- docio ¢ a realeza, dentro dos tres principios eter- nos do Homem, com o Drud, o druida, chefe dos anciaos, guia da Dieta, enfeixando nas maos a autoridade moral e mental; com o Kanh, chefe da Elite, dos guerreiros, detendo 0 poder, de on- de em varias linguas os titulos reais Kan tarta- to, Koning germanico, King anglo-saxonico e ainda o verbo inglés 46 can eo tupi cang — ca- bega; com o Mayer, de onde Mayor na Inglater- ta e Maire na Franea, administradores do po- vo, do Folk. A lingua alemA documenta ainda a longinqua instituicao do culto dos antepassa- dos: Teut-ad, a primei livindade, o Teutatés de oe significa simplesmente Pai Sublime; Teu-Hsk, que traduzimos em tedesco, a OQ INTEGRALISMO EM MARCHA oo 0 Povo de Teut; Teut-Sohn, que dizemos teu- tao, Filho de Teut; afinal, Deut-schland, Ale- manha, a Terra de Teut. Todas essas explana- des nos conduzem muito longe em altura da- quéle rasteiro raciocinio sem originalidade de Voltaire: “Troveja? Quem troyeja? Decerto, aquela serpente que mora aqui perto. EH’ preci- so apazigua-la. E o culto nasceu’”. O que vem em linha reta do ateismo de Lucrecio: “Prius in orbis deus fecit timor”. Foi 0 medo quem creou o primeiro deus. Outras tantas revolugdes e contra-revolu- gdes de incalculaveis efeitos originaram chis- mas politicos e religiosos, divisOes raciais, terri- toriais e idiomaticas, teocracias, absolutismos, ensaios comumnistas, supersticdes ¢ fanatismos com todo o cortejo de seus incalculayeis efeitos. Nenhuma revolugao maior do que as produzidas pela instituicao de certas leis gerais e propicias, que a inspiracao humana sentia inadiaveis. A creagao da moeda, por exemplo. A proposito leiamos um trecho de Court de Gebelin: “Casos ha em que temios necessidade de pequeno valor representativo. Onde encontra-lo numa materia 2 34 GUSTAVO BARROSO inalteravel, que possa ser, ao mésmo tempo, féu* nida em massa e dividida em parcelas minimas? Uma ovelha, um boi nfo se dividein seth se des= irem. Um couro, um vaso, uma peca de fa- zenda, utia vez divididos, nao podem voltar a constituir um todo de va lor. S6 os metais teem essa faculdade e 6 essa a tazio primordial da creagéo do admiravel simbolo chamado moeda, sem 0 qual nado poderia existir um comercio ver- dadeiro e a civilizagdo desapareceria”. Entré- tanto, no exagero de seu odio ao capitalismo de- senfreado, o marxismo prega a abolicio da moe- da e 0 retorno ao regime barbaro da troca. A experiencia na Russia deu com a teoria por terra. As revolugdes humanas prosseguem sua obra na constituigio ¢ fragmentagdo dos gran- des imperios, nas degenerescencias dos cultos primitivos, na materializagio das idéas religio- sas até que vem a maior de todas as revolugées, o Cristianismo, mudar a face do mundo. O Odin escandinavo, antepassado transformado em deus, dera o primeiro impulso aos barbaros que se langaram contra o colosso romano, Apolonio © INTEGRALISMO EM MARCHA 35 de Tiana preparara o mundo pagio a receber © milagre de sua propria morte. No seio das trevas dos materialismos se haviam conservado as centélhas das grandes luzes de Zoroastro e de Pitagoras. Ea doutrina de Jesus, detendo o mo- vimento de expansao de Roma conquistadora, impediu se ultimasse a dissolugao social européa. Tombado o Imperio, o culto cristao ergue sobre-suas ruinas fumegantes o Feudalismo e a Igreja, duas instituigdes rigidas, severas e fortes, que salvam do abismo a civilizacio, tao fortes que permitem o movimento espiritual das cruzadas, cujos contrachoques no Oriente Mao- mé prepara, erguendo a muralha do Corao. Feu- dalismo e Igreja completam-se dentro do espiri- to de sua ¢poca, reagindo um contra o ouiro, abrandando-se, gastando-se mutuamente, ali- sando as asperezas um do outro, até que, sob a influencia da cavalaria e da literatura se for- mam as novyas nagGes. Dos sentimentos cava- Theirescos nascem os poemas e os trovadores in- cendéam a imaginagao dos artistas que esmal- tam de céres as iluminuras dos manuscritos e esctilpem no lioz dourado as teogonias, as agio- ‘ 36 GUSTAVO BARROSO gratias e as epoptas de pedra das grandes ca tedrais gdticas. A Escolastica leva os espiritos, pela mio de Aristoteles, ao divino Platao. En- tao, a Europa cobre-se de universidades e cole- gios. E 0 seculo XIII prepara uma era nova. Dessa revolucao formidavel passa a huma- nidade para outras ainda mais formidaveis: a Reforma de Lutero, a Companhia de Jesus, o Renascimento e os Descobrimentos, que, rasgan- do os véus de misterio dos mares tenebrosos e das terras ignotas, espalharam o polen da civi- lizagao. Da Gltima combinada com a decapita- ga0 do primeiro rei, Carlos Stuart, resultou a emigracao de Guilherme Penn para a America, onde seu puritanismo racionalista semcou a dou- trina da liberdade e da igualdade dos homens, taizes do individualismo racionalista que have- ria de triunfar, de torna viagem, na Europa, com a filosofia do seculo XVIII, decapitando © segundo soberano. Flér da Enciclopedia, essa filosofia é uma mescla heterogenea de sdtira c racionalismo, incapaz de edificar alguma cousa duravel; mas seduz pelo brilho superficial os espirites inclinados ao ceticismo e transforma- O INTEGRALISMO EM MARCHA 37; se na pratica em poderoso instrumento de des- truicgio. Seu orgulho desmedido ataca a Provi- dencia com o motejo voltaireano, afirmando que tudo, nas religides, é impostura e mentira; e ata- ca as instituicdes seculares, declarando-as fru- tos unicamente da usurpacio e da tirania. Fon- tenelle pos 4s m&os diabolicas de Voltaire a pi- careta para demoliar o altar. Montesquieu en- tregou a Rousseau 0 alvido para destruir 0 tro- no. Contudo essa epidemia alastrou a Europa. Toda a gente era filosofa, da ralé ds testas co- roadas. Frederico da Prussia glorificava-se com 9 titulo de rei-filosofo. Catarina da Russia nao escondia suas inclinagdes pelos doutrinarios da época. O proprio Papa, Clemente XIV, o Gan- ganelli, inclinava-se para éles com simpatia. Biles desencadéam 0 movimento com a sua majestosa floragéo de mediocridades sanguina- rias. A guilhotina trabalha diariamente para aniquilar a religio e o despotismo monarquico, regime em que a massa é submetida a um ho- mem sob as leis da fatalidade, para somente conseguir crear novo despotismo, ainda peor, o do individuo submetido 4 massa, que o tritura 38 SUSTAVO BARROSO sob os impulsos dos Caprichos democraticos ou melhor demagogicos. Passa-se_ identico fenome- no com o comunismo, Notai bem que le substi- the 0 governo burgués, capitalista, pela Ditadu- roletaria, sob o titulo de Provisoria... Isso nao € sair do despotismo, porque éste, 6 em ver- dade, 0 poder fundado na vontade arbitraria do quie 0 exerce sem um ideal superior e espiritual, seja éle pesséa, casta ou multiddo. Como € pro- prio de toda demoeraria liberal ou comunista re- clamar constantemente o exercicio de todas as liberdades, mésmo a de insurgir-se, claro esta (ue seu despotismo é peor do que qualquer ou- tro. E’ © despotismo da desordem. Rousséau, com a Stave mentira da sobera- hia popular, que temos de desmascarar, pos o Povo acima das leis, tornando-o indiretamente autor delas pelos seus mandatarios, mMagistrados a éle submetidos com o afastamento de toda e qualquer autoridade espiritual, pois cada indi- viduo deve ser seu Proprio legislador e seu pro- prio pontifice. Dessa forma, segundo um filo- soto, éle dilacerou 0 Contrato Social que preten- dia estabelecer, Sya imaginagao parcial e enfer- j © INTEGRALISMO EM MARCHA oe) ma apontava a vida selvagem como a melhor de todas pela liberdade que nela, conforme seu con- ceito, amplamente gozava. Aconselhava em con- sequencia a volta 4 natureza. Karl Marx inspi- ra-se néle quando prega a destruigao das cida- des, antros de vicio e de opressao. No “Emile”, o filosofo genebrés assegura_que 08_. homens, quanto mais sabem, mais se enganam, sendo, pois, a ignorancia 0 unico meio de evitar 0 er- ro. Mais outro passo para a decantada vida sel- vagem, Por isso, 0 Tribunal Revolucionario ne- gou a Lavoisier, condenado 4 morte, um prazo para terminar uma expetiencia, com estas pala- yras: “A Republica nao precisa de sabios!” Por isso, o bolchevismo triunfante declarou guerra de morte 4 inteligencia. Por isso, instintivamen- te, certos revolucionarios querem dar cabo dos inteletuais. E’ 0 pavor da nossa critica e da nos- sa fiscalizagao. O vyeneno de tais paradoxos influiu ters: yelmente sobre alguns cerebros anormais. Weis- haupt fundou na Alemanha a sociedade secreta dos Iluminados e preparou vasta conspiragao, a tempo descoberta por acago, cujo fim era eli- 40 GUSTAVO BARROSO minar, ao mésmo tempo € em toda a parte, to- das as autoridades civis, militares e teligiosas, estabelecendo abencoada anarquia, A soberania creada nésse cerebro ao avés- so € um fantasma ilusério que devemos afugen- tar com a luz de novas e mais sadias idéas, Ble Se manifesta por uma instituicdo mentirosa ¢ agonizante — 0 voto, atribuicaio que para viver se transforma em obrigagdo, mostrando-nos és- te espetaculo inedito: os governos foreando a soberania popular a ir ds urnas com a ameaca de penalidades, tanto a mésma soberania no cré mais em sua falsificada panacéa. As esco- thas sfo, portanto, o produto de maiorias ocasio- nais e partidarias, isto €, contrarias ao todo, ignorantes, inconscientes mésmo e iludidas pe- los que delas se aproveitam, Praticada honesta- mente, tal organizac&o politica enfraquece e anula qualquer governo, porque o poder tem de submeter-se 4s limitacSes e entraves parlamen- tares, tornando-se incapaz de agir. Para ter. agdo, vé-se obrigado a abaté-la ou frauda-la. No presidencialismo, insensivelmente um dos poderes se hipertrofia, 0 Senado nos Estados

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