You are on page 1of 10
uta de n breve gia. No slogica sileiro de ae INHA, 2006. -¥.Porto logia, Brasil: O USO DA ENTREVISTA INVESTIGATIVA NO CO (TEXTO DA PSICOLOGIA FORENSE Sonia Liane Reichert Rovinski Lilian Milnitsky Stein InrRopUGAO Aeentrevista psicol6gica é o principal instrumento utilizado pelo psicélogo para chegar a0 conhecimento do outro. A origem etimolégica salienta a idéia de “uma visio entre” duas pessoas, onde fica suposta a presenca de uma comunicacéo ou didlogo. Conforme Almeida (2004), as conceituacées de entrevista psicolégica chegam a ser tantas quanto as pessoas que sobre este tema se debrucam, demonstrando a dificuldade em se chegar a uma conceituagao tin ‘a, Em uma revisdo sobre o tema, 0 autor chama a atengéo para dois aspectos comuns que aparecem nas diversas definigbes: a comunicacdo e 0 objetivo com 0 qual o psicélogo a utiliza. Groth-Marnat (2003), ao diferenciar a en- trevista psicolégica de uma simples conversagdo, também salienta o fato da primeira apresentar seqiiéneia e organizacdo em torno de um tema especifico e importante ~ 0 qual determinara seus objetivos. De maneira geral, esses objetivos esto relacionados a.uma busca de informagées, que de outra forma seriam dificeis de serem obtidas. Para Tavares (2000), a entrevista possibilitaria testar os limites de aparentes contradicées, que possam ser encontradas no processo de avaliagao, e de explicitar, contextualizar, caracterfsticas levantadas pelos instrumentos padronizados, dando a eles a validade clinica necesséria. A estrutura de uma entrevista pode ser mais ou menos aberta, as técnicas de coleta de dados podem variar de forma significativa, desde que atendam 08 objetivos a ela propostos. Na drea forense, a entrevista psicolégica pode estar relacionada a varios objetivos, dependendo da demanda juridica a que estiver associada. Conforme Melton e colabo- radores (1997), nas avaliagées psicol6gicas forenses o objetivo sera buscar, através da compreenstio psicol6gica do caso, a resposta a uma questao legal expressa pelo juiz ou por outro agente juridico, As demandas das avaliagées forenses, geralmente, versam sobre situagées da vida real, como cuidar de filhos, capacidade para o trabalho, ou outras que envolvam previsibilidade de condutas, extrapolando questées exclusivamente voltadas a um diagnéstico elfnieo. Um outro diferencial destas avaliagSes, conf por Rovinski (2004), é a necessidade dos entrevistadores forenses lidarem constante. mente com a possibilidade da simulacao ou dissimulacéo dos entrevistados. Aqui nao rme discutido 68 sonia Liane Reichert Rovinshi + Lilian Milnitsky Stein se faz referéncia a possibilidade de resisténcia no relato das informacées por conflitos inconscientes, mas a atuacdes premeditadas de distor¢do e omissio. De modo geral, poder-se-ia dizer que a entrevista no contexto de avaliagao forense deve extrapolar © objetivo da investigagdo do mundo interno do avaliando, para valorizar, também, aspectos de sua realidade objetiva. Poole e Lamb (1998), ao apresentar as caracteristicas da entrevista forense, também salientam a importdncia dos entrevistadores em discriminar os contextos de avaliacéo forense e de avaliagio clinica, para nao incorrerem em condutas antiéticas. Dizem as autoras que muitas das téenicas que fazem sentido nos contextos clinicos néo sio apropriadas para aqueles em que se buscariam subsidios psicolégicos para a tomada de decisdes legais. No contexto forense a técnica de entrevista ultrapassaria a simples ‘confirmacao de hipéteses” para buscar uma verdadeira “testagem de hipoteses”, onde © psicdlogo deveria a todo o momento questionar a validade de seus préprios achados ¢ dos préprios métodos utilizados. Esta postura mais critica traz uma maior exigéncia em relagao a validagéo cientifica dos dados levantados e uma maior limitacdo a intuicéo ¢ interpretagao das condutas verbais ¢ nao-verbais do entrevistado. Outro aspecto salientado por Kéhnken (1995), nas entrevistas realizadas no contexto do judiciario, diz respeito a necessidade de se recuperarem informagées a respeito de fatos ocorridos no passado. Nestes casos, a palavra da vitima ou testemunha adquire fundamental importéncia para a resolugao do processo judicial ¢ o trabalho realizado na entrevista dirige-se & obtengéio destas informagoes. A avaliagao das emocées, ati- tudes e opinides toma uma menor importineia em relagao aos dados que deverdo ser Jembrados das situag6es vivenciadas no passado. Para o autor, sempre que a entrevista exigisse um foco na recuperacéo de dados da meméria a técnica a ser utilizada deveria ser diferenciada daquela utilizada na elfniea, caracterizando a chamada “entrevista investigativa”. Um exemplo tipico das demandas atuais do judiciério sao as avaliagées psicolégi- cas que envolvem criangas com suspeita de abuso sexual. O eneaminhamento desses casos, geralmente, nao visa verificar os prejuizos emocionais que a crianca possa ter sofrido por uma possfvel vivéneia de abuso, mas, antes, confirmar se essa experiéncia Possa ter realmente ocorrido. Ainda que, neste momento, a avaliacéo das condigées emocionais da erianga seja importante para a compreensao do caso, é fundamental ara o proceso judicial que a crianca possa relatar com detalhes a experiéncia sofrida, trazendo as informagées necessérias aos autos. O trabalho do entrevistador, este caso. fiea centrado na recuperacio dos fatos relacionados ao evento traumatico, exigindo uma técnica especializada de intervencéo - a entrevista investigativa - que sera apre- sentada a seguir. A ENTREVISTA INVESTIGATIVA Acntrevista investigativa tem como objetivo elucidar fatos que possam ter ocorrido € que sejam de interesse, ou nao, da Justica, Sua aplicagao independe do sistema legal ins- titufdo em cada pats e pode ser utilizada para.casos criminais ou da drea civel. !’ara Milne e Bull (2006), o objetivo principal desta entrevista ¢ (@SpORUe Ha Mas uestoeSDASICAS ‘iq acontecew(se)alap FeAlments Oeorreu) |e GUEM fez isso, A busca destas respostas conflitos geral, apolar mbém, ambém liagio = Dizem = no so »mada ples onde hados e géncia to de juire elizado ati- ista ria vista da entrevista investigativa no cantexto da pricologia forense 69 ze o interesse diretamente aquélas pessoas que podem fornecer um maior volume de rmacies Stes eSMUnHESUVHEIMASHas situacdes que so est investigando. MERHWGia investigativa nao 6 de usd exclusive do psicdlogo\ sendo indicada a todas essoas que precisam colher estas informacées, como policiais, assistentes sociais, -. No entanto, sua fundamentagao teérica esta baseada em pesquisas empiricas da SAGIPEICOIEBia Cognitive) que envolvem estudos sobre a meméria e cognicéo geral, bre a dinémica da comunicacao social (PERGHER; STEIN, 2005). Conforme Milne e (2006), 0 objetivo destes estudos empiricos @pOssibilitaeD BpHmOramentodereen? 2s para que se possa obter a melhor qualidade e a maior quantidade de informac sobre 08 eventos investigados. Estudos tém mostrado o quanto a meméria pode ser influenciada por diversos fato- s (internos e externos) com 0 passar do tempo e o quanto pode ser sugestionada no mento da coleta de dados (QUAS; GOODMAN; BIDROSE; PIPE; CRAW; ABLIN, 2001; CECI; BRUCK, 1993). Compreender e minimizar estas influéncias passa a ser ma preocupagao constante em situagées de entrevistas com testemunhas e vitimas, is informagdes prestadas passam a ter um papel preponderante nos processos ju- ais e de investigacao policial. Em muitos casos, o andamento destas investigagoes depender unicamente da capacidade da testemunha em buscar em si talhes especificos da situagdo vivenciada Para ajudar os entrevistados a aumentar o ntimero de informagoes fornecidas, som prejudicar a qualidade das mesmas, Fischer e Geiselman (1992) desenvolveram a SRUEEVistaConiti. Esta técnica de entrevista investigativa, que surgiu através de ensa pesquisa Pratica, por mais de 30 anos {(@iGeSeHVOliaaleoin DOI dagenecloes SERUGMISGPLAE © tinico @PMPHOMISED mantido desde o inicio das pesquisas foi o de iiprovar (ientificainente|a proposta queNInIGISEHOISRECD. Antes de divulgar os supostos da Entrevista Cognitiva e de treinar pessoal para o seu uso, foram reali- ados, inicialmente, dois estudos independentes sobre sua eficacia. No estudo desen- vido nos Estados Unidos (FISCHER; GEISELMAN; AMADOR, 1989), observou-se 08 policiais, apds o treino na técnica da entrevista cognitiva, conseguiram obter 47 % mais informagées em relagao ao que obtinham antes do treinamento. No estudo britanico (GEORGE, 1991), 0 incremento de dados colhidos chegou a 55% depois do --inamento. Tnéimeros éstudos desenvolvidos posteriormente demonstraram que as antagens da Entrevista Cognitiva nao se resumem apenas a recuperar um maior nii- ero de informagées, mas também a garantir que as informagées colhidas sejam mais, gaMAVEIS|(MEMON, 1991; ASCHERMANN; MANTWILL; KOHNEEN, 1991), Um estudo pioneiro no Brasil (STEIN; MEMON, 2006), mostrou a eficdcia da Entrevista Cognitiva com testemunhas tipicas de paises em desenvolvimento. Na mparagéo com técnicas de entrevista usualmente utilizadas com testemunhas, os ultados desse estudo apontaram que nao s6 a Entrevista Cogniti ior ntimero de informagées verdadeiras, mas também que qualitativamente@SSas OHINAGORS pPOssUeMEelevanciajunidicd (NYGAARD; FEIX; STEIN, 2006). Para os sicélogos mentores da técnica da Entrevista Cognitiva, Fisher e Geiselman (1992), sua indicagio priméria esta dirigida para casos de investigacao (por exemplo, crimes! nde as evidéncias fisicas nao s4o abundantes, e seus resultados serdo melhores com Sabrevistados que ce mostrarem cooperatives - pois o objetivo da técnica nao é romper om predisposigées intencionais de ocultagao dos fatos @iUSeICaTexig6 pre par ere ‘a meméria produziu um 0 Sonia Llane Reichert Rovinskl + Lilian Milnitsky Stein namento do entrevistador, principalmente para as tomadas de deciséo que precisaré realizar durante sua aplicacéo. Os DESAFIOS NA RECUPERAGAO DOS DADOS DE MEMORIA Lembrar de fatos do passado exige que estes ja tenham sido armazenados na me- méria. Pesquisadores descrevem 0 processo de uso da meméria através da presenga de trés estAgios @1@0diICAGAG | OMEMEZeHamIGHtSSARCEUPEFAGAD Para Fisher e Geiselman (1992), este processo de trabalho nao pode ser compreendido como a simples criagéo de um arquivo, como num computador, quando se poderia retomar 0 mesmo sempre que se quisesse, O processo de meméria humana é bem mais complexo e reflete uma rede intrin- ada de relagées entre o evento, 0 contexto, o estado de espirito e o conhecimento do observador a respeito dos fatos que ocorreram. Apés a codificagdo, durante o periodo de armazenamento, as lembrangas continuam a sofrer interferéncias de outras fontes internas e externas ao sujeito. As crengas ¢ esteredtipos do observador e as novas in- formagées que passa a receber, a partir do contato com outras pessoas, sao exemplos: destas interferéneias. No momento da recuperacio das informagoes armazenadas as dificuldades nao diminuem. Na medida em que o processo de recuperagao se da, geralmente, através de um controle consciente, ocorre 0 erro comum das pessoas acreditarem que os fatos, uma vez memorizados, podem ser acessados sempre que se quiser. A crenca popular é de que os fatos “estéo” ou “no estdo” armazenados em nossa memoria, sem considerar que estes podem ter sido codificados, mas ndo dispo- niveis ou ndo encontraveis pelos caminhos de acesso que foram empregados, ou ainda estarem sujeitos a distorcdes. ( foco da entrevista investigativa esta centrado nesta tiltima etapa do processo de GHEMOTIZACAO) nos MecAnIsMOs deNeCUperaGAD. No momento de realizacao da enti vista nao se tem acesso a informagées de como se deu o processo de codificacéo e nem se sabe que tipos de dados puderam ser codificados. (gda/a fonte de informagao do: EiitTe Vis ACOH EStFINGESE NOSE POPHOPNEEVISEMAD. Assim, conforme Pinho (2006), a estratégia da entrevista deve ser no sentido de guiar a testemunha dos fatos na busca de informagées que esto armazenadas em sua memoria e que possam ter relevancia para a questo legal, facilitando a comunicagso das mesmas ao entrevistador. Memon (1998), ao comentar a evolucao da Entrevista Cognitiva, afirma qudliliieial mente a preocupagao era exclusivamente com as téenicas cognitivas de recuperacao de informagoes. Nesse sentido, os trabalhos de Tulving e Thomson (1973), quanto & recria¢ao do contexto original para favorecer a recuperagao dos dados armazenados, foram de grande importancia para a constituigao da técnica. A autora cita, ainda, as contribuicées de Bower (1967) sobre a teoria do traco miltiplo, onde sugere a busca de caminhos miltiplos de acesso as informa¢ées, em funcéio das mesmas estarem armaze- nadas sob sistema de rede. :\ssim, foram criadas técnicas de entrevista como: recriagao do contexto, “conte tudo” (relato livre), mudanga de perspectiva e o relato em ordem anyersa: Estudos de acompanhamento, com aqueles profissionais que passaram a fazer uso destas téenicas, comprovaram (@fiit@ESinTSHE0|SigeifiGHtiv6 HeNCOlStaNACNATOR GOSS PSHINEHEGS|SGCURAGES. No cntanto, problemas ainda foram identifieados) Verificou- = quc muitos profissionais falhavam em habilidades sociais na interagao com seus Shitrevistados. Logo se percebcu que para facilitar a recuperacéo de fatos guardados relacior ntrevi tagies ¢ 0 de extrem: interfer Albe' tém sid Cogniti Eo cas “Memo: Saiid gnitin abuse ss, do qi sondig’ J» Milnitsky Stein so dae revista investigativa no contexto da pslcologa forense 1 que precisara na meméria nao bastavam recursds cognitivos diferenciados de acesso & informacao. mas, também, a criagéo de um ambiente acolhedor ao entrevistado. Foram revistas s técnicas originais e propostas mudancas de forma a valorizar a construcao de um -pporl'-anecessidade de se utilizar téenicas de focalizacao da meméria. a preocupacéo com a construcdo de perguntas que fossem compativeis com o nfvel de compreensio do nados na me- entrevistado « o desenvolvimento de uma postura (verbal e ndo verbal) de suporte presenga de A Entrevista Cognitiva Revisada, desenvolvida a partir da década de 1990, por Fis- ner ¢Geiselman her e Geiselman (1992), passou a ser considerada iiRiis/SfStivalbScnicHinVeStIGStiNE = simples criagao para a busca de informagoes armazenadas na meméria de testemunhas e vitimas que mesmo sempre se tem até 0 momento A partir dela foram criadas novas propostas, principalmente SEISGIGHAGAS |G GEO Gomi eriangas) Conforme descreve Alberto (2006),@ aphicagad da sma rede intrin- Entrevista Cognitiva com crianeas necessitou de certa adaptacdo, em funcio de limi- hecimento do SUSE COMTTIvESIquelEStaS|possaiN[apresentakEbembra que para as criancas(@lpEO> inte o periodo c2ss0 de se colocar em diversos pontos de vista espaciais e em seqiiéncias temporais ¢ sutras fontes extremamente dificil, podendo gerar confusdes em sua evocagao, discurso e, inclusive, ee as novas in- interferir em suas memérias futuras. =. sao exemplos Alberto (2006) descreve diversas propostas atuais de entrevistas com criangas, que = armazenadas tém sido usadas no mundo todo e que foram desenvolvidas com base na Entrevista eaperacio se da, _ocnitiva revisada “em todas elas hé uma énfase em relaedo a fase da narrativa livre das pessoas sSIOICANOTLA| NEE VISHA|GSERTEAACA>laborada na Alemanha e na Gré-Bretanha e do m sempre que se Memorando das boas priticas?”laborado pelo Ministério do Interior e Departamento enados em de Satide da Inglaterra e do Pais de Galles. (sta onientaead a linhalda |BnbrevistD mas no dispo- Cognitiva também foi adotada por organizacées proeminentes no estudo e intervencio se=dos, ou ainda GHEHUSOEERAANYeomo a Sociedade Profissional Americana para as Criancas Abusadas American Professional Society on the Abuse of Children- APSAC) eo Instituto Nacio- al de Satide da Crianca e do Desenvolvimento Humano (National Institute of Child lth and Human Development). processo de cao da entre- séificagéio e nem A ENTREVISTA INVESTIGATIVA COM CRIANGAS Pinko (2006) sna busca Bull (1998) refere que’ as pesquisas sobre a meméria infantil intensifiearam-se a ter relevancia Sartirdajdécadayde 980, quando se comecou @ questionar a capacidade das eriangas: stador. Emi deporem em july Naquela época, as situagoes de abuso sexual passaram a ser Baie ihicial mais investigadas, trazendo discuss4 (@§@RSeibili@H2@ 6 Soins EO (ee WiEinaSTe recuperagéo poucaidade, Dir o autor que era comum aereditar-se que as criancas mentiriam mais 3), quanto a que os adultos e que seriam ineapazes de distinguir entre fantasia e realidade. Os riseeniadoal tudos sobre a meméria que se desenvolveram desde ento vieram a desmistifiGal eteinda: ae ssias creneas, demonstrando que a acurécia e a confiabilidade dos relatos nao estariam ere a busca de relacionados diretamente A idade. Diferencas desenvolvimentais foram encontradas quanto a forma de operacionalizar o sistema da meméria, mas que necessariamente jOlariam|maiorjousmenor|eredibilidadetaosrelatosGinfantis, Estudos de Poole e to em ordem Tamb (1998) evidenciaram que casos dé fallsas aeusagoes de abuso/SexUsI i CHianGHS: cram a fazer (tariam mais relacionados a entrovistas conduzidas de maneira sugestiva pelos adul- jeinformacdes tos, do que as possiveis distoredes produzidas por déficits cognitivos relacionados as dos. Verificou- condigées maturacionais das criancas. fo com seus s guardados dido, neste texto, como o processa de acolhimenta an entrevstado e de motivagio ao trabalho, com definiio ip elgalevaa antares 72 Sonia Liane Reichert Rovinski + Lilian Milnitsky Stein Para Lamb, Sternberg, Orbach, Hershkowitz e Esplin (1999 MONON euimeteHSnIaS do contexto forense exercem uma acéo inibidora em relagao a um relato mais espon- tneo das situagées abusivas por parte das criangas. mis, Lambém. 0 tipo de Felagao social que as criangas tendem a estabelecer com os adultos — quando nao pereebem a necessidade do detalhamento das situagées vividas. .\ssim, a habilidade do entrevista. dor em abordar essa crianca, conhecendo seus limites e potencialidades, ¢ condigio sine (qua non para a obtencao de relatos mais detalhados © acurados, evitando time atitude sugestiva para a produgao da prova esperada. ‘Uma contribuicdo importante para a entrevista investigativa com criancas foi dada por(BSSISIEHD C1998), quando propuseram o @PFOUOCOISIFIERveNMENOMETeVIst Conforme Alberto (2006), (SS qaapeagaOuinteErou-se os flindamentos comnitivos GQEASHICORAIEVE: onsiderando os aspectos de desenvolvimento da memoria infanti), €om aqueles relacionados & dinémica de relacionamento da crianca com 0 SUUICGIGUSIERtFEVIstS. Os autores propbem uniprotocolo dividido em duas grandes fases — a fase da pré-entrevista e a fase da entrevista propriamente dita, A fase da pré- entrevista tem por objetivo o planejamento da fase seguinte. O entrevistador deveré recolher informagoes sobre a estrutura e a dindmica familiares, as rotinas e as pessoas com quem a crianca interage, de forma a preparar-se melhor para receber a crianga, ‘No momento da entrevista com a erianea deve-se, inicialmente, investir na construgio ido espago relacional)A construcao deste inicia com aidesenvolvimento de Um Fapporn ‘com apresentagao das pessoas, do local e do objetivo da entrevista: A seguir o entrevis- tador deve trabalhar aspectos relacionados A capacidade da erianga em discernir entre verdade e mentira, ce relatar apenas aquilo que aconteceu (e nao suposigées), além de testar sua capacidade para poder contestar afirmacées possiveimente nao verdadeiras e de negar-se a responder questdes para as quais néo tenha resposta. Antes te inictar a narrativa livre, a téeniea reeomenda trabalhar a erianga em relagdo a exercfeio de um discurso mais deseritivo dos fatos, iniciando com temas neutros, unicamente com a finalidade de explicar na prética o esperado quanto ao detalhamento de seu discurso, baseado em suas lembrancas. ‘Tm aspecto que deve scr salientado no uso da Entrevista Cognitiva, com criangas ow adultos. ea importancia de seu registro por meios eletronicos de gravagav, seja em PidesFOUAUM. Milne e Bull (2006) descrevem algumas razoes para esta praitica As ‘principals relacionam-s@@iRetaisiehite Goi process de in vestiaacaoy A wravagao per mite a retengio de um maior ntimero de dados que puderam ser levantados durante @ entrevista. Uma pesquisa desenvolvida por Lamb e colaboradores (22000) mostrou que, quando a entrevista nao é gravada, a perda de informagdes pode chegar a 25 %. Isto decorre porque o-mimero de informagées ¢ sempre muito grande e os entrevistadores costumam ter um julgamento ou crenca a respeito daquilo que vao investigar. Estas idéias pré-formadas dos entrevistadores tendem a dirigir sua atencdo, sua meméria ea sua compreenstio do problema. Assim, os dados levantados que sé compativeis a estes pré-julgamentos tendem a ter sua relevéincia aumentada ea dirigir 0 encaminha- mento das perguntas. Detalhes e inconsisténcias 6 sio, muitas vezes, percebidos a pposteriore,caando do exame da gravacao da entrevista (@uthos estudos levantados pelos autores demonstraram que a gravacao também se mostrou importante no sentido da preocupacao dos entrevistadores quanto a melhorar seu desempenho. A possibilidade de analisar as intervengoes feitas e as consequentes respostas do entrevistado permite constatar a eficdcia das mesmas, além de perceber possiveis vicios de linguagem. O ‘eristicas is espon- e relacdo sercebem a entrevista- digdo sine a atitude foidada itivos S moméria ea com 0 = grandes se da pré- ber deverd ess0as rianca. strucao rapport, entrevi entre Jém de adeiras niciar io de gativa no contexto da pslcolo 73 Sabito em promover esta autocritica em relagéo ao trabalho possibilits{@)GOnstante primoramento do entrevistador. Por fin. a gravagdo da entrevista possibilita manter = dados guardados por tempo indeterminado, identificado por sua fonte de origem em relatou os fatos) (trazendo maior valor e eonfiabilidade para sua apresentagao! aes representantes legais. CONSIDERAGOES FINAIS A entrevista realizada no contexto forense difere daquela de caracteristicas clinicas Lu» possui distintos objetivos. Fiiq.usnto a entrevista eliniea busea a investigagdo nundo interno, com a descrigao de sua dindmica e percepg6es idiossincraticas, » revista forense tem, entre suas exigéncias, a valorizacao do mundo externo e a d io da experiéncia interna em relacdo aquelas realmente vividas. Neste sentido, entrevista forense exige uma abordagem metodolégica diferenciada, caracterizadu Be entrevista investigativa, A revisao da literatura mostra que ém varios paises & bordagem atual desta proposta tem privilegiado a Entrevista Comnitiva como uma ema eficaz de se obterem dados mais ricos e acurados, quando a situagdo exigir re- peracéo de informagées da meméria, além de estabelecer uma relagao de respeito == condicoes psicologicas do entrevistado. A priitica forense dos psicélogos no Brasil, no entanto, mostra que muitos profissio- ainda tém se utilizado de procedimentos clinicos para responder a questoes judiciais See ekigem a busca de informacoes pontuais, desconsiderando fatores especificos deste exto como a simulagio e a impossibilidade de se fazerem inferéncias sobre sintomas cos que pudessem comprovar a ocorréncia de fatos especificos do passado. (GSE sos, 0 trabalho geralmente nao atinge seus objetivos porque nao responde as solicita- Ssuioshudlicidrio (que sempre extrapolam as conclusdes clinicas de um diagnéstico(@h ssmque acaba por fazer inferéncias causais que ndo podem ser realizadas. Concluindo, podemos dizer quelGi/desinifoririiGa06 la iniéaipacicids (ei ciSscriniina® Shire contextos forense e clinico tém levado a freqiientes erros na utilizacao de uma todologia de avaliacdo e, conseqiientemente, em agdes nao éticas na condugao da. jestigagao psieologiea, Os dados levantados neste tipo de contexto perdem em credi- ‘ade © 08 resultados finais geralmente ultrapassam as possibilidades de inferéncia. » responsabilidade do profissional saber discriminar o papel a ser desempenhadoem. rea de atuagéo e a escolher a metodologia correta para chegar aos seus objetivos, forma a manter uma conduta ética e de responsabilidade social. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ‘LBERTO, I.M. Abuso sexual de eriancas: 0 psiedlogo na encruzilhada da ciéneia com ajustiga. =: FONSECA, A.C.; SIMOES, M.R.; SIMOES, M.C.; PINHO, MS. (Ed.). Psicologia Forense. mbra: Almedina, 2006. ALMEIDA, N.Y. A entrevista psicolégica como um processo dindmico e criativo, PSIC- Revista Psicologia da Vetor Bdlitora, v. 5, n. 1, 2004, p. 34-39, ‘SCHERMANN, E.; MANTWILL, M.; KOHNKEN, G. An independent replication of the gnitive interview. Applied Cognitive Psychology, n. 5, p 489-495, 1991 WER, G. A multicomponent theory of memory trace. In: SPENCER, K.W; SPENCER, J-T. The psychology of learning and motivation. 1. New York: Academic Press, 1967. 14 Sonia Liane Reichert Rovinski + Lilian Milnitsky tein CECI, $.; BRUCK, M. Suggestibility of the child witness: a historical review and synthesis, Psychological Bulletin, n. 113, p. 403-439, 1998, FISHER, R.P; GEISELMAN, R.E. Memory-enhaneing techniques for investigative interviewing. Ilinois: Charles C. ‘Thomas, 1992. FISHER, R.P; GEISELMAN, R-E.; AMADOR, M, Field test of the cognitive interview: Enhancing the recollection of actual vietims and witnesses of crime. Journal of Applied Psychology, n. 74, p. 722-727, 1989. GEORGE, R.A field and experimental evaluation of three methods of interviewing witnesses; victims of erime. Unpublished manuscript. Polytechnic of East London. London, 1991. GROTH-MARNAT, G. Handbook of Psychological Assessment. 4 ed. New Jersey: Wiley & Sons, 2003. KOHNKEN, G. Interviewing adults. In: BULL, R; CARSON, D. Handbook of Psychology in Legal Contexts. New Jersey: Wiley & Sons, 1995. LAMB, M. E; STERNBERG, K. J.; ORBACH,Y;, HERSHKOWITZ, 1.; ESPLIN, PW. Forensic Interviews of children. In: MEMON, A.; BULL, R, Handbook of the Psychology of Interviewing. England: Wiley & Sons, 1999. MELTON, G.; PETRILA, J; POYTHRESS, N.; SLOBOGIN, C. Psychological evaluations for the court. 2ed, New York: Guilford, 1997. MEMON, A. Introducing the cognitive interview as a procedure for interviewing witnesses. Paper presented at the Annual Conference of the British Psychological Society, Bournemouth. MEMON, A. Telling it all: the cognitive interview. In: MEMON, A.; VRIJ, A; BULL, R. Psychology and Law. Cambridge: McGraw-Hill, 1998, MILNE, B; BULL, R. Interviewing victims of crime, including children and people with intellectual disabilities. In: KEBBELL, M. R.; DAVIES, G. M. Practical psychology for forensic investigation and prosecutions. New Jersey: Wiley & Sons, 2006. NYGAARD, M. L.; FEIX, L. E; STEIN, L. M. Contribuigées da psicologia cognitiva para aoitiva da testemunha. Revista Brasileira de Ciéncias Criminais, n. 61, p. 147-180, 2006, PERGHER, G. K.; STEIN, L. M. Entrevista cognitiva e terapia cognitivo-comportamental: do ambito forense a clinica. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 1, n. 2, 2005. PINHO, M.S. A entrevista cognitiva em anélise. In: FONSECA, A.C.; SIMOES, M.R.; QUAS, J.4; GOODMAN, G.S.; BIDROSE, S.; PIPE, M-E,; CRAWS, 8; ABLIN, DS. Children’s long- term remembering, forgetting and suggestibility readings. In: BULL, R. (Ed). Children and the law: essential readings. Oxford: Blackwell Publisherd, 2001. SIMOES, M.C.T; PINHO, M.S. (Ed.). Psicologia Forense, Coimbra: Almedina, 2006. POOLE, D.A; LAMB, M.E. Investigative interview of ehildren: a guide for helping professionals. Washington DC: American Psychological Association, 1998. STEIN, L. M; MEMON, A. Testing the efficacy of the Cognitive Interview in a developing country. Applied Cognitive Psychology, n. 20, p. 597-635, 2006. ROVINSKI, 8.L.R. Fundamentos da pericia psieoldgica forense. $80 Paulo: Vetor, 2004. ‘TAVARES, M. A entrevista clinica. In: CUNHA, A. Psicodiagnéstico V. Sed. Porto Alegre: Artmed, 2000. TULVING, B.; THOMSON, D. M. Encoding especificity and retrieval processes in episodic memory. Psychological Review, n. 80, p. 353-370, 1973 Dados Internacionais de Catalogacio na Publicagio (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Psicologia juridica: perspectivas tedricas e processos de intervenglio / Sonia Liane Reichert Rovinski, Roberto Moraes Cruz organizadores — 1. ed. — Sto Paulo : Vetor, 2009, Bibliografia 1. Prova pericial 2. Psicologia forense 1. Rovinski, Sonia Liane Reichert, 11, Cruz, Roberto Moraes. | o9.01805 cpu-34:15 Indices para catilogo sistematico: 1. Psicologia juridica 34:15 ISBN: 978-85-7585-255-2 Projeto grafico e diagramagao: Patricia Figueiredo Capa: Enio Martinho contetido dos textos aqui apresentados ¢ de exclusiva responsabilidade dos autores dos artigos. © 2009 - Vetor Editora Psico-Pedagégica Lida, E proibida a reprodueio total ou parcial desta publicagao, por qualquer meio existente para qualquer finalidade, sem autorizago por escrito das editores, Apresent Psicolog’ e suas re Sonia Liar Pericia p Processu Alcebir De Avaliagac determin Denise Ru: O uso da. Sonia Lian Mir Detectan: Bull ro di Violéncia problema

You might also like