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A TEORIA DO DIALOGO DAS FONTES E SEU IMPACTO No BRASIL: UMA HOMENAGEM A Erik JAYME THE THEORY OF THE DIALOGUE OF THE SOURCES AND ITS IMPACT IN BRAZIL: A TRIBUTE TO Erik JaYME Antonio HERMAN BeNwAMIN Ministro do Superior em Direto. Doutor em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestre aela Universidade de Ilio’s, EUA, ‘Ciaupia Lima Marques: Professora Permanente e Coordenadora do Programa de Pés-Graduagao em Direito da UFRGS. Doutora em Direito pela Universidade de Heidelberg, Alemanha, cemarques.uftgs@amaileom Receido em:01 112017 Por conite ‘Areas vo Dinero: Fundamentes do Direit; Consurior Resuwo: 0 artigo reproduz palestra original da abertura do 25° Congreso da Associagio Luso- ~Alema de Juristas-DLV € pesquisas empiricas sobre a teoria do dislogo das fontes na pratiea ddo Superior Tribunal de Justiga, 0 foco do artigo a teoria de Erik Jayme sobre o“cidlogo das fon- tes’ © sua contribuigéo & aplicagio das normas valorativas de direitos humans e protetivas da condigo humans, Pa.aveas-cuves Direito de consumidor - Didlo- {90.das fontes ~Direto do consumidor brasileiro ~ Erk Jayme. Assteact: The article reproduces the original ‘opening speech at the 25th Congress of the Luso-German Association of Jurists-DUV and cempitical research on the theory of the cialogue of sources in the practice of the Superior Court of Justice. The focus of the paper is rik Jayme's theory on the “dialogue of the sources” and its contribution to the application of the human and protective value standards of the human condition Kerwonos: Consumer Law ~ Source Dialogue ~ Brazilian consumer 'aw ~ Erik Jayme. ‘Suuéaia: 1, Introdugao. 2, Reflexdes sobre o didlogo das fontes: fontes do direito ¢ fontes de direitos! 2.1. Eri Jayme e didlogo das fontes. 2.2. Aspectos principais e inovativos da teoria aun, Antinio Herman; Miwa, Claudia Lima. A teoria do dalogo das fontese seu impacto no Brasil: uma hhomenagem a Eric Jayme, Revistde Dirifode Cansimidor. val. 15.3027, 21-80, Sao Paulo: E.R, anf. 2078 22 —__Rewsta ve Dinero 00 Consuminor 2018 * ROC 115 do dislogo das fontes e seus limites. 3. A Aplicago jurisprudencial da teoria do dislogo das fontes: o exemplo do direito do consumidor. 3.1. A aplicagao da teoria do didlago das, Fontes pelas cartes brasileira. 2.2. 0 Projeto de Lei 2.514/2015 de Atualizagao do CDC e as Ieis novas. 4. Observardo final 1. INtRODUGAG Em! novembro de 2015, o painel de abertura do 25° Congresso da Asso- ciagao Luso-Alema de Juristas-DLJV, realizado em Porto Alegre, Brasil e in- titulado “Direito Privado e Desenvolvimento Econdmico” (Tagung der DLJV 2015: Privatrecht und Wirtschaftsentwicklung), organizado pelo Programa de Pés-Graduagao em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em conjunto com o IDP, Brasflia e a DLJV, foi dedicado ao Didlogo das fontes no Brasil: uma homenagem a Erik Jayme. Depois desse debate, que incluiu os Mi- nistros Ricardo Lorenzetti (Presidente da Corte Suprema da Argentina) e Gil- mar Mendes (ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal), gostariamos agora a quatro mos de resumir os resultados desta reflexao. Na primeira parte, reproduziremos os pontos trazidos na palestra original de novembro de 2015 e na segunda parte, reproduziremos as pesquisas empiricas sobre a teoria do dialogo das fontes na pratica do Superior Tribunal de Justica O fascinante na teoria de Erik Jayme do “didlogo das fontes”? € sua forca simbélica, de contribuir & aplicagao das normas valorativas de direitos huma- nos € protetivas da condi¢o humana; contribuir a aplicagio mais do que con- 1. Texto especialmente preparado para o livro da DLJV e Rede Alemanha-Brasil de Pes- quisas em Direito do Consumidor, DAAD-CAPES, denominado Direito privado e de- senvolvimento econdmico, organizado por GRUNDMANN, Stefan et alii e publicado fora do comércio pelo CDEA ¢ o PPGD UFRGS, Faditora Orquestra, 2017, p. 153-166 2. Assim afirma JAYME, Erik. Identité Culturelle et Intégration: le droit international privé postmodemne. Cours général de droit international privé. Recueil des Cours. T. 251, Haia: Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 259: “Des lors que Ton évoque la communication en droit international privé, le phénoménele plus important est le fait que la solution des conflits de lois merge comme résultant d'un dialogue entre les sources le plus hétérogenes. Les droit de Thomme, les constitutions, les conven- Lions internationales, les systemes nationaux: toutes ces sources ne sexcluent pas mutuellement; elles ‘parlent’ une a Vautre. Les juges sont tenus de coordonner ces sources en écoutant ce quelles disent” 3. Veja JAYME, Erik, Identité Culturelle et Intégration: le droit international privé post- moderne, Cours général de droit international privé, Recueil des Cours. T. 251. Haia Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 56. ‘Bu; Anténio Herman, Maas, Claudia Lima. A teoria do alogo das Fontes «seu impacto no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 DiAtoso pas FoNTES € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PASSA\ tapor e exaltar o conflito entre direitos, Em um mundo pluralistico,’ como 0 que vivemos, todas as teorias que ajudam a ressaltar a dignidade da pessoa hu- ‘mana, o direito a sade, a vida, a qualidade, a protecao diferenciada de grupos mais vulnerdveis de nossa sociedade de risco, deve ser destacada, como afirma- va Rawls. Contribuir é 0 que faz 0 nosso homenageado, Prof. Dr. Dr. h. c. mult, Erik Jayme, doutor honoris causa pela UFRGS. Vejamos essa util e sabia teoria, 2. REFLEXOES SOBRE 0 DIALOGO DAS FONTES: FONTES DO DIREITO E FONTES DE DIREITOS! Em 1995, em seu Curso geral de Haia, Erik Jayme? examinando o pluralis- ‘mo pés-moderno de fontes® e o fenémeno da comunicacao, cunhou a expres- sio “didlogo das fontes”’ para significar a atual aplicacao simultanea, coerente e coordenada das plitrimas fontes legislativas, internacionais, supranacionais ¢ nacionais, leis especiais e gerais, com campos de aplicacao convergentes, mas nao mais iguais, dai a impossibilidade de revogacdo, derrogacao ou ab-rogacéo ou solucao classica das antinomias.* Como explica o mestre Erik Jayme L...] a solugao dos conflitos de leis emerge como resultado de um didlogo entre as fontes as mais heterogéneas. Os direitos humanos, as Constitui- ges, as Convengées internacionais, os sistemas nacionais: todas estas fon- tes nao se excluem mais mutualmente; elas “dialogam” umas com as outras. 4, Veja sobre a pés-modemidade, LYOTARD, Jean-Francois. Das postmoderne Wissen: Ein Bericht, Peter Engelmann (Hrsg.). Wien: Passagen Verlag, 1994. p. 13 ¢ ss 5. Veja JAYME, Erik. Idemtité Culturelle et Intégration: le droit international privé post- ‘moderne. Cours général de droit international privé. Recueil des Cours. T. 251. Haia Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 59 e ss. 6. Veja sobre a descodificagao e o pluralismo de fontes, IRTI, Natalino. Leta della deco- Adificazione, Milano: Giuflré, 1999. p. 69 e ss JAYME, Erik. Identité Culturelle et Intégration: le droit international privé postmo- deme, Cours général de droit intemational privé, Recueil des Cours. T. 251. Haia Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 259. 8. Veja MARQUES, Claudia Lima. O didlogo das fontes como método da nova teoria geral do diveito: um tributo a Erik Jayme. In: MARQUES, Claudia Lima (Coord.) Didlogo das fontes: do conflito & coordenagao de normas do diteito brasileiro, Sao Paulo: Ed. RT, 2012. p. 17-66. Bann, Ano Herman, Monaus, Cauda Lima. A eora do dlogo das Tontese seu Impacto no Bras homenagem a Bik Jayme. Revislade Direitode Cansumidor val. 15.3707, 21-80, S40 Paulo: Ee, an ® Ci 24 Rewsta ve Dinero 09 Consuminos 2018 * ROC 115 Os juizes ficam obrigados a coordenar estas fontes “escutando” 0 que elas dizem$ Em outras palavras, diante do pluralismo em um sistema unitério! e um. novo overlapping de diferentes “comunidades normativas’,"' ha necessidade de coordenagao entre elas," de forma a restauram a coeréncia e os valores superiores.!? Grande parte de seu curso de Haia sobre identidade cultural e integracéo europeia foi dedicada 4 questo das fontes, a convivéncia harménica e ao pos- sivel conflito entre essas fontes, internas, internacionais e supranacionais."* Se- gundo Jayme,” existem duas maneiras de resolver esses conflitos. A primeira consiste em dar primazia a uma das fontes, afastando a outra (antindmica); a segunda consiste em procurar a coordenacao das fontes: € 0 “didlogo das fon- tes”, segundo esta instigante expressdo semistica do Professor de Heidelberg, di-a-logos (duas logicas coordenadas e aplicadas simultaneamente ao mesmo caso). “Dilogo” por forca das influéncias reciprocas, permitindo ou aplicar as duas fontes ao mesmo tempo, complementarmente ou subsidiariamente para realizar os valores dos direitos humanos, ou dar efeito a escolha das partes a esse respeito, ou ainda optar por uma solucao alternativa mais flexive. 9. JAYME, Erik. Identité Culturelle et Intégration: le droit international privé postmo- deme. Cours général de droit intemational privé. Recueil des Cours. T. 251. Haia Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 259. 10. Veja sobre sistema e critica a topica, CANARIS, Claus-Wilhelm, Pensamento sistemd- tico e conceito de sistema do direito. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1989. p. 255 ess. 11. Assim, BERMAN, Paul Schiff. Global legal pluralism. New York: Cambridge Press, 2012. p.3. 12, JAYME, Erik, Identité Culturelle et Integration: le droit international privé postmo- deme, Cours général de droit international privé, Recueil des Cours. T. 251. Haia Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 251 13, Veja sobre a necessidade de restaurar a coeréncia, SAUPHANOR, Nathalie, Linfluence du droit de Ia consommation sur le systeme juridique. Paris: LGDJ, 2000. p. 31: “En droit, absence de coherence consiste dans la constatation d'une antinomie, définie comme Vexistence d'une incompatibilité entre les directives relatives a un méme objet” 14, Veja JAYME, Erik, Identité Culturelle et Intégration: le droit international privé post- moderne, Cours général de droit international privé. Recueil des Cours. T. 251. Haia: Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 59-89. 15, JAYME, Erik. Identité Culturelle et Intégration: le droit intemational privé postmo- deme. Cours général de droit international privé. Recueil des Cours. T, 251. Haia: Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 60. ‘Bu; Anténio Herman, Maas, Claudia Lima. A teoria do alogo das Fontes «seu impacto no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 Dritoso pas FoNTES € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PASSAG! 2.1. Erik Jayme e didlogo das fontes Erik Jayme é um elo, € uma ponte entre a cultura juridica do Brasil e da Alemanha, fundador da Associacao Luso-Alema de Juristas, a nossa querida DIJV, merecedor da Medalha Cruzeiro do Sul, ¢ idolatrado por seus discipulos € por tantos admiradores. Porque sera? Vejamos sua bela teoria do didlogo das fontes. Poucas paginas de um grande curso na Academia de Direito Internacional de Haia que vao mudar a teoria geral do direito. Ali ha, porém, uma concepgao clara: {...] a ordem juridica deve ser coerente com os direitos humanos e com os valores maximos de protecao da pessoa humana. Assim, para o intérprete, dependendo das circunstancias, ¢ mais importante a “forma de dizer” e seu resultado, do que o “contetido” e a hierarquia do “dizer”. Sao fontes “de Direitos”, que devem proteger beneficiar as pessoas, mas sio fontes “do Direito” como um todo. Porque teria esta visto um sucesso tao grande? E preciso em primeiro lugar relembrar que ha um desconforto da doutrina Direito Publico ¢ do Direito Privado e dos juizes com as categorias hermenéu- ticas tradicionais. A visio profunda e a renovacdo tedrica que Erik Jayme traz € uma espécie de corrente de ar novo, retirando o “mofo” dos instrumentos do direito intertemporal e da clissica teoria geral do direito. E preciso reconhecer, em segundo lugar, a atual hiperespecializaco do Direito ¢ o vigoroso surgi- mento de novas disciplinas juridicas, oriundas do Estado Social de Direito, que ndo podem ser mais menosprezadas."® Mister uma visio geral do fendmeno juridico, Em terceiro lugar, mister reconhecer a recente refundacao do Direito Civil, sejana Alemanha, no Brasil ou na Argentina, onde se observa um interes- sante proceso de recodificacao por engenharia reversa, onde os fragmentos ¢ leis especiais retornam ao sistema ¢ o sistema tem que harmonizé-las. Vejamos .2. Aspectos principais e inovativos da teoria do didlogo das fontes e seus limites Ja ha centenas de decisoes do Superior Tribunal de Justica que utilizam a teoria do didlogo das fontes, muitas vezes citando diretamente seu criador, Prof. Erik Jayme, outras citando os trabalhos de “adaptacao” da teoria ao solo 16. Vejaa ligdo de AZEVEDO, Antonio Junqueira de. O direito pés-moderno ¢ a codifi- cacao, Revista de Dircito do Consumidor, v. 33, 2000. p. 124 e ss. ‘Bann, Anio Herman, Minas, Cala Lima. Aearia do dslogo das fontese seu impacto no Brasil w hhomenagem Erik Jayme, Revislade Diritode Cansumidor val. 15.3027 21-80, Sao Paulo: E.R, an 2018, 26 Revista oE Dinero po Consumipor 2018 * RDC 115 brasileiro de Claudia Lima Marques. Esses primeiros precedentes sio em di- reito do consumidor (na esteira da ADin 2.591),"” mas também em direito de familia, faléncias, proceso civil,"* tibutario® e até direito penal. Hoje ja chegam quase a mil decisbes.** Certo € que esse uso (e até abuso) da teoria VW. 19, 20. 21 ‘Bi Ankénio Herman, Miss, Cauda Lima. A tearia do dalogo das fontes «seu im Veja a decisao: “Nao bastassem as normas que advém diretamente do Cédigo de Defe- sado Consumidor, alicercado na teoria do dialogo das fontes, o inadimplemento con- tratual verificado na espécie atrai responsabilidade objetiva, segundo o artigo 931 do Codigo Civil, tratando-se in casu de aplicacao da teoria do risco do empreendimento” (AREsp 356.269/R), rel. Min. Luis Felipe Salomao, publicagao em 18.05.2015) Veja decisao sobre danos & crianga: “Mesmo quando o prejutzo impingido ao menor decorre de uma relagio de consumo, o CDC, em seu art. 6°, VI, assegura a efetiva reparagio do dano, sem fazer qualquer distincao quanto a condigao do consumidor, notadamente sua idade, Ao contrario, o art. 7* da Lei 8.078/90 fixa 0 chamado didlo- go das fontes, segundo o qual sempre que uma lei garantir algum direito para o con- sumidor, ela podera se somar ao microssistema do CDC, incorporando-se na tutela especial e tendo a mesma preferéncia no trato da relagao de consumo”. Veja também MARQUES, Claudia Lima. A Convencao de Haia de 1993 ¢ o regime da adogao inter nacional no Brasil apés a aprovac4o do novo Cédigo Civil Brasileiro em 2002. Estudos, em hamenagem a Professora Doutora Magalhaes Collaco. Coimbra: Almedina, 2002. v. Lp. 263-309. ‘Veja o leading case, "A novel legislagao € mais uma etapa da denominada ‘reforma do CPC, conjunto de medidas que vem modernizando o ordenamento juridico para tomar mais célere ¢ eficaz o processo como técnica de composicao de lides. Sob esse enfoque, a atribuicao de efeito suspensivo aos embargos do devedor deixou de ser de- corréncia automatica de sew simples ajuizamento, Em homenagem aos prinespios da boa-fé e da lealdade processual, exige-se que 0 executado demonstre efetiva vontade de colaborar para a rapida e justa solucao do litigio e comprove que o seu direito € bom. Trata-se de nova concepcao aplicada a teoria geral do processo de execucao, que, por essa ratio, reflete-se na legislaao processual esparsa que disciplina microssiste- mas de execucao, desde que as normas do CPC possam ser subsidiariamente utiliza- das para o preenchimento de lacunas. Aplicagao, no ambito processual, da teoria do dialogo das fontes”(REsp 1.024.128/PR, rel, Min. Herman Benjamin, DJ 19.12.2008) Veja a decisto no REsp 1.070.896, rel. Min, Luis Felipe Salomao: “Assim 0 prazo abracado pela coisa julgada, claramente foi o do CCB/16 na esteira do didlogo das fontes que vinha praticando o proprio STJ, numa interpretacao social. Diante da mu- danga do novo Codigo Civile de sua regra de transicao (aplicavel ao caso), em face da logica da Agin 726.035-7, Simula 150 do STF aplicada a redugao dos prazos prescri- cionais, a acio da Apadeco fica sujeita na fase de execucao, ao prazo prescricional de dez (10) anos, alcancando termo final de prescricdo aos 11 de janeiro de 2013. AcSes individuais e Agoes coletivas. Prazos diferentes de prescrigao Em outubro de 2017, 0 site do STJ informa que existem 29 decisoes do Plenatio, sendo duas em recursos repetitivos e 1.436 decisées monograficas que utilizam a <0 no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 Drétoso pas Fontes € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PassAGeiRos 27 dialogo das fontes é, muitas vezes, sem um aprofundamento tedrico. Porém, demonstra inequivocamente a necessidade de tal inovacao na teoria geral do direito ¢ no direito dos conflitos de leis, como gostam de afirmar os alemaes (Kollisionsrecht) Fazendo uma prospeccao dos sentides da palavra “didlogo”, usada pelo mestre de Heidelberg, encontramos trés sentidos principais: plasticidade; in- fluencias ¢ aproveitamento reciprocos; ¢ harmonia. Plasticidade, pois didlogo é contra a rigidez do “monélogo”, contra o dis. curso metodolégico rigido tradicional (de um método superando outro, de uma lei revogando a outra, de uma fonte ou valor ser superior ao outro). Esta plasticidade ¢ importante, no plano simbélico, para as jovens disciplinas wel- faristas, a procura de autonomia, e para os grupos de hipervulneraveis, cujas leis protetivas muitas vezes nem conseguem “falar” e jé as normas tradicionais resolveram” suas causas, acabaram com suas pretensées, sem olhar ou escutar © que os direitos humanos impéem! O didlogo é um momento de plasticidade e de autonomia daqueles que, normalmente, nao teriam sua “légica”, seus va- lores, suas pretensbes, seus direitos respeitados e ouvidos Didlogo € sindnimo de convivéncia ou aproveitamento (influéncias) recf- procas, que quebra 0 tom autoritério dos paradigmas tradicionais, como lex specialis, lex generalis, lex superior ® No di-a-logos ha convivéncia de paradig- mas.” Superam-se os muros e divis6rias entre fontes, ha porosidade e entrela- camento, influéncias reciprocas e convivéncia de valores e logicas Dialogo € harmonia; harmonia na pluralidade de fontes e na procura de res- taurar sua coeréncia e seu uso sob os valores constitucionais e dos direitos fun- damentais, superando a assistematicidade do uso das fontes. 0 inicio de tudo © 0 fim € a Constituigao, e dentro dela os direitos fundamentais assegurados nas clausulas pétreas. No direito interno, temos leis diversas e microssistemas, como o Cédigo de Defesa do Consumidor. Temos ainda que considerar nao s6 expresso “didlogo das fontes”, veja: Lwww:stjjus br/SCON/decisoes/toc jsp?livre 27di%ELlogo+das+fontes%276&eb=DTXT&thesaurus=JURIDICO&p=true] 22. Veja sobre a crise do critério da hierarquia para a solucao dos conflitos, face ao au- mento da importancia dos direitos humanos no direito privado, GANNAGE, Léna La hiérarchie des normes et les méthodes du droit international prive. Patis: LGDJ, 2001 p. 25-26. 23. Veja a obra de LORENZETTI, Ricardo Luis. Teoria da decisdo judicial. Trad. Bruno Miragem. Revisao e notas de Claudia Lima Marques, Sao Paulo: Ed. RT, 2009. p. 5 € ‘Bann, AnkBnio Herman, Mona, Cauda Lima. A teora do dlogo das Tontese seu Impacto na Bras: um homenagem a Bik Jayme. Revislade Direitode Cansumidor val. 15.3707, 21-80, S40 Paulo: Ee, an | | as0RoC db 27 e 28 Revista ve Dinero 00 Consuminor 2018 * ROC 115 o direito nacional mas também a crescente influéncia do direito internacional, em especial das Convengées de Direitos Humanos. Essa ampliacao das fontes, como bem ensina Erik Jayme,** nao € sé do direito escrito, em normas expres- sas, mas entre valores implicitos, como bem exemplifica 0 novo CPC, ¢ na consideracao dos principios. E, mais, nao s6 do direito posto, a hard law, mas a soft law influencia cada vez mais a nossa interpretagao do que € justo, além da crescente importancia do precedente e da regulamentacao na interpretagao das leis a aplicar. A teoria do dialogo das fontes é uma solugao flexivel e aberta,”® de valorizacao dos direitos humanos de solugéo mais favoravel a cooperagao internacional’* ou aos mais vulneravel da relacao.”* Para colaborar com esta bela teoria, em nossos escritos para a ADin 2.591," a0 espelho dos critérios da escolastica para os conflitos de leis no tempo (hie- rarquia, especialidade e anterioridade), imaginaram-se tr@s tipos de “dialogos” de fontes O primeito tipo de didlogo ¢ sempre sistematico ¢ de coeréncia. “Didlogo”, porque ha influéncias reciprocas, porque ha aplicacao conjunta das duas normas ao mesmo tempo € ao mesmo caso (didlogo sistematico de coeréncia), por seus fundamentos comuns ¢ a mesma coeréncia nos direitos fundamen- tais. O segundo tipo de dialogo é a aplicacao simultanea, seja complementar, seja subsidiariamente das varias fontes (didlogo sistematico de complementa- ridade ¢ subsidiariedade). E 0 ultimo tipo de didlogo ¢ 0 de ‘adaptacao’, seja 24. JAYME, Erik, Identité Culturelle et Intégration: le droit intemational privé postmo- deme. Cours général de droit international privé. Recueil des Cours. T. 251. Haia Martinus Nijhoff Publishers, 1996. p. 59 ess. 25. Assim, MARQUES, Claudia Lima, Kulturelle Identitat und Quellendialog im brasilia nischen intemationalen Adoptionsrecht nach Inrafttreten des neuen brasilianischen Zivilgesetzbuches von 2002. In: MANSEL, H.-P et alii, Festschrift fir Erik Jayme, v. IL . 505-526, Sellier, 2003. 26. Veja o curso de NOODT TAQUELA, Maria Blanca. Applying the most favourable eaty or domestic rules to facilitate private international law co-operation. Recueil des Cours, ¥. 377, 2016. p. 293. 27. MARQUES, Claudia Lima; MAZZUOLL, Valerio. © consumidor “depositario infiel”, os tratados de direitos humanos e 0 necessitio didlogo das fontes nacionais ¢ inter- nacionais: a primazia da norma mais favoravel ao consumidor. Revista de Direito do Consumidor, x. TL, p. 1-32, 2009 28. Assim, MARQUES, Claudia Lima. Trés tipos de didlogos entre 0 Codigo de Defesa do Consumidor e © Codigo Civil de 2002: superagao das antinomias pelo “didlogo das fontes", In: PFEIFFER, Roberto; PASQUALOTTO, Adalberto (Coord). CDC ¢ Cadigo Civil. Sao Paulo Ed. RT, 2005. p. 150-200. ‘Bu; Anténio Herman, Maas, Claudia Lima. A teoria do alogo das Fontes «seu impacto no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 Dritoso pas FoNTES € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PASSAG! permitindo a opgao voluntaria das partes sobre a fonte prevalente (especial- ‘mente em materia de convengées internacionais e leis modelos) ou mesmo permitindo uma opcéo por uma das leis em conflito abstrato (didlogo de coordenacao ¢ adaptacao sistematica) Em resumo, o dilogo das fontes é uma teoria sofisticada, mas especial- mente ttil para hard cases no plural sistema juridico brasileiro A teoria do dialogo das fontes € muito utilizada, tanto no Brasil como na Argentina,”® mas ha também limites ¢ recusas & teoria A teoria do didlogo das fontes tem direta relagdo com os direitos fundamen- lais, pois poe em relevo o sistema de valores que estes representam € orienta a aplicagéo simultanea das regras de diferentes fontes para dar efetividade a estes valores." Nao é facil, porém, dar eficacia aos direitos fundamentais, pois estes muitas vezes esto presentes em ambos os lados da disputa de direito privado Trata-se, pois, de um limite, pois os direitos fundamentais se relacionam com, ‘uma ampla gama de casos e muitas vezes ambas as partes so detentores de di- reito fundamentais,* demonstrando os limites e a complexidade desta anslise pelo magistrado e pelo intérprete. Aqui deve prevalecer a protecao dos mais fracos, especialmente das criancas, dos idosos e dos doentes, como a jurispru- déncia do STJ tem demonstrado. Porém, nao podemos desconsiderar as decisées que pregam 0 “nao didlogo” das fontes, dando prevaléncia a valores econémicos perante os humanistas Nao se pode fazer um dialogo das fontes para prejudicar © mais fraco, assim 29. Assim, BENJAMIN, Ant6nio Herman V; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor 7. ed. Sa0 Paulo: Ed. RT, 2016. p. 149, 30. Veja MOSSET ITURASPE, Jorge. Del “micro” al “macro” sistema y viceversa, El "did- Togo de las fuentes”, Consumidores y usuarios frente al derecho privado. In: LOTU- FO, Renan; MARTINS, Fernando Rodrigues (Coord). 20 anos do Cédigo de Defesa do consumidor Sao Paulo: Saraiva, 2011. p. 9-27 31. Veja na jurisprudéncia mais recente do STJ: “para ditimir os conflitos existentes no decorrer da execucdo contratual, ha que se buscar, nesses casos, o didlogo das fon- tes, que permite a aplicacio simultanea e complementar de normas distintas. Por isso, € salutar, nos contratos de plano de satide, condensar a legislacao especial (Lei 9,656/1998), especialmente com 0 CDC, [..1” (ST), REsp 1.330.919/MT, rel. Min Luis Felipe Salomao, j. 02.08.2016, Dje 18.08.2016) 32. Veja. classico GOMES, Orlando. A Constituicao e seus reflexos no direito das obri -gacoes. Novos temas de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 1983, S. 64-75 e 0 novo, In: DUQUE, Marcelo Schenk. Direito privado e Constituicdo. Sao Paulo: Ed. RT, 2013. p. less. ‘Bann, Anio Herman, Minas, Cala Lima. Aearia do dslogo das fontese seu impacto no Brasil w hhomenagem Erik Jayme, Revislade Diritode Cansumidor val. 15.3027 21-80, Sao Paulo: E.R, an 2018, 30 Revista ve Dinero 09 Consuminor 2018 * ROC 115 como nao se pode fazer um didlogo das fontes de forma inconstitucional. Como 0 voto vencido do Min. Marco Buzzi, REsp 1.150.711/MG, j. 06.11.2011 Qualquer aparente antinomia entre as normas é solucionada, modernamen- te, com a observancia da teoria pés-moderna do didlogo das fontes, que viabiliza a aplicacao simultdnea, coerente e coordenada de fontes legislativas phirimas convergentes, a luz dos valores e principios albergados pela Cons- tituigao da Republica, afastando-se, pois, métodos tradictonais e excluden- tes de resolucao de supostos conflitos normativos. Na hermenéutica brasileira, ainda encontramos alguns problemas, como 0 fato de leis revogadas continuarem a moldar a interpretacao de leis em vigor. Ainda se mencione que nem sempre os pareceres ¢ estudos juntados aos autos tém como fonte o direito, mas os fatos, com consequente perda de cientifici- dade, Tudo isso pode criar inseguranca na aplicacao das leis, dai a importancia de teorias como essa, focada na dignidade da pessoa humana e na prioridade dos valores constitucionais e dos direitos humanos. Vejamos sua aplicacao ju- risprudencial. 3. A APLICACAO JURISPRUDENCIAL DA TEORIA DO DIALOGO DAS FONTES: 0 EXEMPLO DO DIREITO DO CONSUMIDOR Nao nos foi possivel realizar uma pesquisa total sobre a aplicacao da teoria do dialogo das fontes no Brasil, mas alguns dados foram coletados pelo Gru- po de Pesquisa CNPq “Mercosul, Direito do Consumidor e Globalizagao” da UERGS, que muito agradecemos. Nosso recorte foi o direito do consumidor. 3.1. Aaplicagao da teoria do didlogo das fontes pelas cortes brasileiras A primeira abertura do sistema do CDC a aplicagao conjunta de outras fon- tes protetivas é 0 proprio art. 7° do CDC, que dispoe: Art, 7° Os direitos previstos neste cOdigo nao excluem outros decorrentes de tratados ou convengoes internacionais de que o Brasil seja signatario, da legislacdo interna ordinaria, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos principios ge- rais do direito, analogia, costumes e equidade Nesse espirito, fizemos um levantamento da jurisprudéncia do E, ST] em 2015 ¢ estamos examinando também as jurisprudéncias do TJRS (634 de ses), TJR] (136 decisdes), TJPR (7 decisses), TISC (400 decisdes), TJPA (9 de- cisdes), TIMG (284 decisdes), TJSP (735 decisdes), TJGO (8 decisoes), T]AM (22 decisoes), TIIMT (2 decisdes), TJMS (1 deciséo), TJDFT (65 decisées.), ‘Bu; Anténio Herman, Maas, Claudia Lima. A teoria do alogo das Fontes «seu impacto no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 DiAtoso pas FoNTES € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PASSA\ TJRO (Sdecisdes), TJRR (2 decisoes) TJAC (2 decisoes), TJMA (4 decisoes), TICE G decisoes), TJCE (1 decisto), TJPI (11 decisoes), TJPB ( 1 decisao), TIPE (8 decisoes.), TIRN (4 decisoes.), TJAL ( 23 decisdes.), dos wltimos tres anos (2015, 2016 e 2017). Ainda nao temos o resultado, mas dentre os Tribu- nais com maiores citagdes, temos que no TJSP foram encontradas 315 deci- ses em 2015, 341 decisdes em 2016 e 79 decisoes até maio de 2017, em um total de 735 decisdes em direito do consumidor citando o didlogo das fontes. Nesses trés anos, no TJSC, foram encontradas 400 decisdes € no TJRS foram encontradas 637 decises com a teoria, a grande maioria de forma favoravel aos interesses dos consumidores. © exame destas decisoes continuard este ano, mas estes dados j4 comprovam a ampla utilizacao da teoria nas cortes estaduais € no primeiro grau. Se inicialmente o E. Superior se mostrava resistente a ideia de convivéncia de fontes como eficdcia da protecao constitucional especial aos consumidores, como se observa nos votos vencidos que usaram a expressdo em matéria de servicos publicos (REsp 911.802, Min. Herman Benjamin) e do uso do prazo prescricional geral se mais favoravel ao consumidor (REsp 782.433, Min, Nancy Andrighi), note-se que a ideia de um “didlogo” de aplicacao simultanea do CDC, CC e leis especiais para realizar, de forma mais eficaz, a protecao do consumidor foi recebida nas decisoes mais recentes do E, ST), em materia de leasing (REsp 1,060.515/DF), de SFH (REsp 969.129/MG), transporte (REsp 821.935/SE), se- guros (REsp 403.155/SP), criancas (REsp 1.037.759/R)), idosos (REsp 1.057.274/ RS), bancos (REsp 347.75Y/SP), incorporacao imobiliéria (REsp 7474.768/PR), processo civil (REsp 1.241.063/RJ) e servicos publicos (REsp 1.079.064/SP), € a expressio dislogo das fontes ja consta de algumas de suas ementas (veja REsp 1.037.759/RJ, REsp 1.060.515/DF e AgRg no REsp 1.196.537). Desta jurispru- dencia destaque-se, em matéria de processo, a ementa: Trata-se de nova concepgao da teoria geral do proceso de execucao, que, or essa ratio, reflete-se na legislagao processual esparsa que disciplina mi- crossistemas de execuao, desde que as normas do CPC possam ser subsidia. riamente utilizadas para o preenchimento de lacunas. Aplicac4o, no ambit processual, da teoria do “dialog das fontes”. (AgRg no REsp 1.030.569/RS, j. 03.12.2009, rel. Min, Herman Benjamin) Assim, a analise da jurisprudéncia confirma que a teoria do didlogo das fontes foi incorporada a teoria geral do direito brasileiro” e muito bem rece- 33. Veja também MIRAGEM, Bruno. Epur si muove: dialogo das fontes como método de interpretacao sistematica no direito brasileiro, In: MARQUES, Claudia Lima (Org.) Bann, Ano Herman, Monaus, Cauda Lima. A eora do dlogo das Tontese seu Impacto no Bras homenagem a Bik Jayme. Revislade Direitode Cansumidor val. 15.3707, 21-80, S40 Paulo: Ee, an 32 Rewsta ve Dinero 00 Consuminor 2018 * ROC 115 bida pelas cortes estaduais” ¢ superiores. No inicio de 2016, no site do STJ, encontram-se 29 decisdes das turmas sobre utilizando a expressao dialogo das fontes e mais de mil decis6es monograficas sao indicadas no site (para sermos exatos, 1.201 decisoes!).* Como nao poderiamos examinar as mais de mil decisdes a tempo para esta edicdo, fizemos uma concentracdo apenas no ano de 2015. Examinando 0 ano de 2015, encontramos que, de fevereito a dezembro 2015, foram publicadas 215 decisées monograficas que utilizaram a expressio “didlogo das fontes” nos votos dos Ministros do STJ ow ao reproduzit os acérdaos estaduais, que utiliza- ram essa expressio criada pelo Prof, Erik Jayme e analisada aqui (a expressio “didlogo coerente entre fontes” também {oi incluida na pesquisa, que identi- ficou um aumento na citacao, com 327 casos em 2016). Na grande maioria dos casos de 2015, a teoria foi, direta ou indiretamente, aceita. A maioria das citagdes é em casos de consumo, processo civil e tributario, e, em especial, para proteger idosos, assegurando o didlogo entre a lei de planos de satide, o CDC e 0 Estatuto do Idoso, ¢ em casos de processo civil e execucdo fiscal. Dois destes acérdaos do F. STJ seguiram o rito dos “repetitivos” (artigo 543-C, do antigo CPC e da Resolucao ST] 8/2008), ambos em temas tributa- rios, um de 2010 e outro de 2013.” Didlogo das fontes: do conflito a coordenagao das normas do direito brasileiro. $40 Paulo: Ed. RT, 2012. p. 67 ess. 34. Veja sobre a boa recepcao do dilogo das fontes na jurisprudéncia, BESSA, Leonardo Roscoe. Dislogo das fontes no direito do consumidor. In: MARQUES, Claudia Lima (Org.). Didlogo das fontes: do contfito a coordenagao das normas do direito brasileiro Sao Paulo: Ed. RT, 2012, p. 183 € ss 35. Vejaa expresso “didlogo das fontes” no site de consulta de jurisprudéncia oficial do ST): Lwwwstj jus br/SCON]. Acesso em: 18.02.2015. 36. Veja decisio: “Recurso especial representativo de controvérsia. Artigo 543-C, do CPC. Processo judicial tributario, Execucao fiscal. Penhora eletronica, Sistema Bacen-Ju. Esgotamento das vias ordinarias para a localizacao de bens passiveis de penhora. Ar- Uigo 11, da Lei 6830/80. Artigo 185-A, do CTN. Codigo de Processo Civil. Inovacao introduzida pela Let 11.382/2006. Artigos 655, 1, e 655-A, do CPC. Interpretacio sistematica das leis, Teoria do dislogo das fontes. Aplicagao imediata da lei de indo- le processual. 1. A utilizacao do Sistema Bacen-Jud, no periodo posterior a vacatio legis da Lei 11.382/2006 (21.01.2007), prescinde do exaurimento de diligencias ex- trajudiciais, por parte do exeqitente, a fim de se autorizar o bloqueio eletronico de depésitos ow aplicagses financeiras (Precedente da Primeira Seco: EREsp 1.052.081/ RS, Rel, Ministro Hamilton Carvalhido, Primeira Secao, julgado em 12.05.2010, DJe 26.05.2010. Precedentes das Turmas de Direito Publico: REsp 1.194.067/PR, Rel. ‘Bu; Anténio Herman, Maas, Claudia Lima. A teoria do alogo das Fontes «seu impacto no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 DiAtoso pas FoNTES € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PASSA\ Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 22.06.2010, DJe 01.07.2010: ‘AgRg no REsp 1.143.806/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda ‘Turma, julgado em 08.06.2010, DJe 21.06.2010; REsp 1.101.288/RS, Rel. Ministro Bene- dito Gongalves, Primeira Turma, julgado em 02.04.2009, DJe 20.04.2009; e REsp 1.074.228/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 07.10.2008, Dje 05.11.2008, Precedente da Corte Especial que adotou a mesma exegese para a execucio civil: REsp 1.112.943/MA, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 15.09.2010), 2. A execugao judicial para a cobranga da Divida Ativa da Unido, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municipios e respectivas autarquias € regida pela Lei 6.830/80 e, subsidiariamente, pelo Cédigo de Processo Civil. [..1 9. A antinomia aparente entre o artigo 185-A, do CTN (que cuida da decretacao de indisponibilidade de bens e direitos do devedor executado) ¢ os artigos 655 ¢ 655-A, do CPC (pemhora de dinheiro em depésito ou aplicagao financeira) é superada com a aplicagao da Teoria pés-modera do Dialogo das Fontes, idealizada pelo alemao Erik Jayme e aplicada, no Brasil, pela primeira vez, por Claudia Lima Marques, a fim de reservar a coexisténcia entre o Cédigo de Defesa do Consumidor e © novo Codigo Civil. 10, Com efeito, consoante a Teoria do Dislogo das Fontes, as normas gerais mais benéficas supervenientes preferem norma especial (concebida para conferir tratamento privilegiado a determinada categoria), a fim de preservar a coeréncia do sistema normativo. [...] 19. Recurso especial fazendério provido, declarando-se a le galidade da ordem judicial que importou no bloqueio liminar dos depésitos ¢ aplica- ces financeiras constantes das contas bancarias dos executados. Acérdao submetido a0 regime do artigo 543-C, do CPC, ¢ da Resolugao ST] 08/2008" (REsp 1.184,765/ PA, rel. Min, Luiz Fux, Primeita Secdo, j. 24.11.2010, Dje 03.12.2010) 37. Veja: “Processual civil, Tributario, Recurso representative da controvérsia, Art, 543-C do CPC. Aplicabilidade do art, 739-A, § 1°, do CPC as execucdes fiscais. Necessidade de garantia da execugdo e analise do juiz a respeito da relevancia da argumentacio (fumus boni juris) e da ocorréncia de grave dano de dificil ou incerta reparacao (peri- culwm in mora) para a concessio de efeito suspensivo aos embargos do devedor opos- tos em execugao fiscal. [..] 7. Muito embora por fundamentos variados ~ ora fazendo uso da interpretacio sistematica da LEF e do CPC/73, ora tilhando o inovador cami mho da teoria do ‘Dislogo das Fontes’, ora utilizando-se de interpretacao historica dos Aispositivos (o que se faz agora) — essa conclusio tem sido a aleancada pela jurispru- dencia predominante, conforme ressoam os seguintes precedentes de ambas as Tur- ‘mas deste Superior Tribunal de Justica. Pela Primeira Turma: AgRg no Ag 1.381.229/ PR, Primeira Turma, Rel, Min, Arnaldo Esteves Lima, julgado em 15.12.2011; AgRg. no REsp 1,225.406/PR, Primeira Turma, Rel. Min, Hamilton Carvalhido, julgado em 15.02.2011; AgRg no REsp 1.150.534/MG, Primeira Turma, Rel. Min. Benedi- to Goncalves, j. 16.11.2010; AgRg no Ag 1.337.891/SC, Primeira Turma, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 16.11.2010, AgRg no REsp 1.103.465/RS, Primeira Turma, Rel Min, Francisco Falcdo, julgado em 07.05.2009, Pela Segunda Turma: AgRg nos EDd| rno Ag 1.389.866/PR, Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 21.09.2011; Bann, Ano Herman, Monaus, Cauda Lima. A eora do dlogo das Tontese seu Impacto no Bras homenagem a Bik Jayme. Revislade Direitode Cansumidor val. 15.3707, 21-80, S40 Paulo: Ee, an 34 Revista oE Dinero po Consumipor 2018 * RDC 115 Em alguns poucos casos, a teoria foi afastada, Interessa saber como e por que esta teoria foi afastada, Os casos em que a teoria do dialogo das fontes foi afastada, em 2015, no E. STJ eram de trés grupos ou casos, a saber: 1) quando a relacéo nao era de consumo e a regra especial néo deveria (ou po- deria) repercutir no sistema de direito civil entre comerciantes, tendo como leading case um pedido de revisional entre empresarios, que deve seguir as normas de imprevisao ¢ revisdo dos contratos entre iguais do Cédigo Civil com exclusividade,** ~ decidindo caso de di 38. ‘Bi Ankénio Herman, Miss, Cauda Lima. A tearia do dalogo das fontes «seu im logo sistematico de coeréncia, encon- REsp 1.195.977/RS, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 17.08.2010, AgRg no Ag 1,180.395/AL, Segunda Turma, Rel. Min. Castro Mei- ra, Dje 26.02.2010; REsp 1.127.353/SC, Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calon, Je 20.11.2009; REsp 1.024.128/PR, Segunda Turma, Rel. Min, Herman Benjamin, DJe 19.12.2008, 8. Superada a linha jurisprudencial em sentido contrario maugurada pelo REsp 1,178.883/MG, Primeira Tarma, Rel. Min, Teori Albino Zavascki, julgado em 20.10.2011 © seguida pelo AgRg no REsp 1.283.416/AL, Primeira Turma, Rel. ‘Min, Napoledo Nunes Maia Filho, julgado em 02.02.2012; e pelo REsp 1.291.923/PR, Primeira Turma, Rel. Min. Benedito Goncalves, julgado em 01.12.2011. 9. Recurso especial provido, Acordio submetido ao regime do art, 543-C, do CPC, ¢ da Resolu- cao ST) 8/2008” (REsp 1.272.827/PE, rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seco, j. 22.05.2013, DJe 31.05.2013). © leading case €: “Recurso especial, Civil. Agao revisional de contrato de compra € venda, Délar americano, Maxidesvalorizacao do real. Aquisicdo de equipamento para atividade profissional. Auséncia de relacao de consumo. Teorias da imprevisio. Teoria da onerosidade excessiva. Teoria da base objetiva. Inaplicabilidade. 1. Acao proposta com a finalidade de, apés a maxidesvalorizacao do real em face do dolar america- no, ocorrida a partir de janeiro de 1999, modificar clausula de contrato de compra e venda, com reserva de dominio, de equipamento médico (ultrassom), utilizado pelo autor no exercicio da sua atividade profissional de médico, para que, afastada a indexacao prevista, fosse observada a moeda nacional. 2. Consumidor é toda pessoa fisica ow juridica que adquire ou utiliza, como destinatatio final, produto ow servico oriundo de um fornecedor. Por sua vez, destinatarto final, segundo a teoria subjetiva ou finalista, adotada pela Segunda Secao desta Corte Superior, é aquele que uiltima a atividade econ6mica, ou seja, que retira de circulagdo do mercado o em outo servigo para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfacao propria, nao havendo, por- tanto, a reutilizacao ou o reingresso dele no processo produtivo. Logo, a relacio de consumo (consumidor final) nao pode ser confundida com relagao de insumo (con- sumidor intermedisrio), Inaplicabilidade das regras protetivas do Codigo de Defesa do Consumidor. 3. A intervencio do Poder Judiciario nos contratos, a luz da teoria da imprevisio ou da teoria da onerosidade excessiva, exige a demonstracio de mu- ‘dangas supervenientes das circunstancias iniciais vigentes a época da realizacao do negocio, oriundas de evento imprevistvel (teoria da imprevisao) e de evento impre- visivel e extraordinario (teoria da onerosidade excessiva), que comprometa o valor <0 no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 DiAtoso pas FoNTES € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PASSA\ tando coeréncia em manter a diferenca de sistemas, pois nao ha vulneravel envolvido; 2) para manter a prioridade de regras especificas para o caso do proprio microssistema tutelar de protecao dos consumidores diante de regras outras do sistema geral, em especial para impor os prazos prescricionais de cinco anos do CDC em matéria de acidentes de consumo,” ~ em um didlogo da prestacao, demandando tutela jurisdicional especifica. 4. 0 historico inflacionario © as sucessivas modificagdes no padrao monetario experimentados pelo pais desde longa data até jullo de 1994, quando sobreveio o Plano Real, seguido de perfodo de relativa estabilidade até a maxidesvalorizac3o do real em face do dolar americano, ocorrida a partir de janeiro de 1999, nao autorizam concluir pela imprevisibitidade desse fato nos contratos firmados com base na cotagao da moeda norte-americana, em se tratando de relagéo contratual paritaria, 5. A teoria da base objetiva, que teria sido introduzida em nosso ordenamento pelo art. 6°, inciso V, do Codigo de Defesa do Consumidor ~ CDC, difere da teoria da imprevisio por prescindir da previsibi- Tidade de fato que determine oneracdo excessiva de um dos contratantes. Tem por ressuposto a premissa de que a celebragao de um contrato ocorre mediante consi- deracao de determinadas circunstancias, as quais, se modificadas no curso da relacao contratual, determinam, por sua vez, consequéncias diversas daquelas inicialmente estabelecidas, com repercussio direta no equilibrio das obrigacoes pactuadas. Nesse contexto, a intervencio judicial se daria nos casos em que 0 contrato fosse atingido por fatos que comprometessem as circunstancias intrinsecas a formulagao do vinculo contratual, ou seja, sua base objetiva, 6. Em que pese sua relevante inovacao, tal teo- ria, ao dispensar, em especial, o requisito de imprevisibilidade, foi acolhida em nosso ordenamento apenas para as relagdes de consumo, que demandam especial protegao. Nao se admite a aplicacio da teoria do dialogo das fontes para estender a todo direito das obrigagdes regra incidente apenas no microssistema do direito do consumidor, mormente com a finalidade de conferir amparo a revisao de contrato livremente pac- tuado com observancia da cotacio de moeda estrangeira. 7. Recurso especial nao provido (REsp 1.321.614/SP, rel, Min, Paulo de Tarso Sanseverino, rel. p/ acérdao Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, Terceira Turma, j, 16.12.2014, Dje 03.03.2015) 39. Veja decisio monografica sobre o tema: “Recurso Especial 1.391.627/R) (2013/ (0202254-0) [..] 1. Controvérsia acerca da prescricao da pretensio indenizatoria origi nada de fraude praticada por gerente de instituicao financeira contra seus clientes. 2. “As instituiges bancatias respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos praticados por terceiros — como, por exemplo, abertura de conta corrente ou recebimento de empréstimos mediante fraude ou utilizacao de documentos falsos =, porquanto tal responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracteri- zando-se como fortuito interno’ (REsp 1.197.929/PR, rito do art, 543-C do CPC). 3. Ocorréncia de defeito do servico, fazendo incidir a prescricao quinquenal do art. 27 do Codigo de Defesa do Consumidor, quanto a pretensio dirigida contra a instituicao financeita, 4. Impossibilidade de aplicacao das regras de prescrigao do Codigo Civil ainda que mais favoraveis ao consumidor, tendo em vista o nao acolhimento da teoria do diilogo de fontes por esta Corte Superior. 5. Possibilidade de responsabilizacao Bann, Ano Herman, Monaus, Cauda Lima. A eora do dlogo das Tontese seu Impacto no Bras homenagem a Bik Jayme. Revislade Direitode Cansumidor val. 15.3707, 21-80, S40 Paulo: Ee, an 36 Revista ve Dinero 00 Consuminor 2018 * ROC 115 sistematico de complementariedade ou subsidiariedade, decidindo que nao ha lacuna ou necessidade de complementar o sistema de protecdo especial, que € expresso no prazo prescricional para o caso examinado; e 3) em caso de ‘medidas de urgéncia, impedindo que a fazenda publica possa fazer a penhora on-line com prejuizo para as empresas pessoal do gerente, com base na culpa aquiliana, nao se aplicando © Codigo de Defesa do Consumidor quanto a essa pretensdo, 5. Inocorréncia de prescrigdo da pretensto dirigida contra o gerente. 6, Recurso especial parcialmente provide”. E do voto mono- cratico: “O juizo de origem aplicou a prescricao quinquenal do art. 27 do Cadigo de Defesa do Consumidor por entender que a pretensio se fundava em defeito do servigo. © wibunal de origem, por maioria, manteve a sentenga. Dat a controversia devolvida a esta Corte Superior, relativa a ocorréncia de prescrigao, Sob a dtica da ora recorrente, a hipotese nao se enquadraria no conceito restrito de fato do servigo, previsto no art. 27 do Codigo de Defesa do Consumidor, devendo-se aplicar, portanto, as regras de pres- crigao do Codigo Civil de 2002, fazendo referéncia & teoria do didlogo de fontes [1] Desse modo, a hipétese dos autos configura um flagrante defeito do servico, estando correto o entendimento do tribunal de origem quanto 4 aplicacio da prescri¢ao quin- quenal do art, 27 do Codigo de Defesa do Consumidor, quanto a pretensao dirigida contra a instituicao financeira, fornecedora do servigo bancario defeituoso, Quanto 40 alegado ‘dialogo de fontes’, interessante ressaltar a particularidade do presente caso em que 0 consumidor se insurge contra a aplicaca0 do proprio Codigo de Defesa do Consumidor, pois as normas do Codigo Civil de 1916 sobre prescrigao s4o mais, favoraveis, existindo uma aparente contradigao com propésito protetivo da norma consumerista. Essa possivel contradigao nao é admitida por uma parte da doutrina, ‘que defende a prevaléncia da norma mais favoravel a0 consumidor, ao que se deno- mina ‘didlogo de fontes'. Porém, esse entendimento doutrinario nao obteve guarida na jurisprudéncia desta Corte Superior, conforme se verifica no seguinte julgado: [..] REsp 1.009.591/RS, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 23.08.2010) ‘Assim, embora 0 Codigo Civil de 1916 seja mais favoravel a0 consumidor, esse fato, por si s6, nao impede a aplicagao do Codigo de Defesa do Consumidor”. [..] Por fim, assiste razéo a parte recorrente no que tange A inaplicabilidade da prescrigao do art 27 do Codigo de Defesa do Consumidor a pretensio deduzida contra a pessoa do _gerente da instituigao fmanceira, pois este atuou ilicitamente em nome proprio, e nao como preposto do banco ou como fornecedor de produto ou serviga, Nao ha falar, portanto, em relacdo de consumo entre o consumidor e o gerente do banco, devendo- se aplicar, no caso, as regras de prescricio do Cédigo Civil, estatumdo o prazo de 20 anos na vigencia do Cédigo Civil de 1916 e de trés anos na vigencia do Codigo Civil atual (pretensio de reparacao civil), nao estando prescrita a pretensio surgida em 1995 levada a juizo em 2004 |... Ante 0 exposto, dow parcial provimento ao recurso especial tio somente para afastar a prescricdo da pretensio deduzida contra o gerente da instituigao financeira, impondo-se o retomno dos autos & origem para que prossiga © julgamento da causa, como entender de direito. Intimem-se. Brasilia (DF), 10 de setembro de 2015 (Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, 15.09.2015). ‘Bu; Anténio Herman, Maas, Claudia Lima. A teoria do alogo das Fontes «seu impacto no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 DiAtoso pas FoNTES € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PASSA\ Dessa anélise, conclui-se que realmente o espirito da teoria foi bem com- preendido, pois visa a protecdo do vulneravel, mas ndo impoe que em casos de solugao expressa e simples, se afaste a norma expressa consumerista, se o valor constitucional de protecao estiver suficientemente ali representado, Estes pou- cos casos (cerca de 7%), demonstram como a teoria esta sendo bem percebida (pois sua utilidade maior é justamente para casos de lacunas ou antinomias apenas aparentes) nos Tribunais Superiores. A atualizacdo do CDC esta em processo e ja foi aprovada por unanimidade no Senado Federal, assim vale a pena analisarmos se traz modificacées a esta realidade 3.2. 0 Projeto de Lei 3.514/2015 de Atualizagdo do CDC e as leis novas Como vimos, o art. 7° do CDC ja prevé, desde 1990, que as fontes devem ser aplicadas em conjunto, a favor dos consumidores, podendo o direito do consumidor estar em outras leis, que 0 CDC. Como esclarece o referido julga- do STJ; art. 7° da Lei 8.078/1990 fixa o chamado dialogo de fontes, segundo o qual sempre que uma lei garantir algum direito para o consumidor, ela poderd se somar ao microssistema do CDC, incorporando-se na tutela especial e tendo a mesma preferencia no trato da relacao de consumo (REsp 1.037.759/R, rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, j, 23.02.2010, Dje 05.03.2010) Se, nos primeiros anos, a reacdo inicial ao art. 7° do CDC na jurisprudéncia das mais altas nao foi a das mais positivas, a decisdo da ADin 2.591 “popula rizou” a teoria do dialogo das fontes, ¢ a tendéncia atual é que sua utilizacao firme-se cada vez mais no cenario nacional. Assim, a Comissao de Juristas do Senado Federal encarregada da Atualizacao do Cédigo de Defesa do Consu- midor, em 2012, tinha proposto uma valorizacao do art. 7° do CDC, com a inclusao de um paragrafo mais geral, que era o seguinte Art. 7° gle.) § 2° Aplica-se ao consumidor a norma mais favoravel ao exercicio de seus direitos e pretensoes. A regra estava reproduzida no PLS 281, 2012. O substitutivo do Senado Fe- deral aceitou o contetido da regra, mas nao sua localizagdo, propondo criar um artigo 3°-A," logo apés as definicoes, tendo ido assim o Projeto de Lei para a 40. 0 texto enviado a Camara € 0 seguinte: "Art. 3°-A, As normas ¢ os negocios jurfdicos devem ser interpretados c integrados da maneira mais favoravel a0 consumidor’ Bann, Ano Herman, Monaus, Cauda Lima. A eora do dlogo das Tontese seu Impacto no Bras homenagem a Bik Jayme. Revislade Direitode Cansumidor val. 15.3707, 21-80, S40 Paulo: Ee, an ® Ci 38 Revista ve Dinero 00 Consuminos 2018 * ROC 115 Camara. Se nao ha prejuizo nessa mudanga, destaque-se que a funcao sistema- tizadora e pedagogica do art. 7° do CDC de abertura do microssistema, perde uma chance de ser valorizada. Como vimos, um dos temas em que a teoria do didlogo das fontes tem sido usada (ou afastada), a prescrigao, merece nossa atencao especial. Quanto ao tema da prescricao, o PLS 283, 2012 na versao da Comissao de Juristas possuia norma especial, esclarecendo que as prescrigdes nao previstas expressamente no CDC nos arts. 26 ¢ 27 deveriam se regular pelo prazo subsidiario de dez anos do Cédigo Civil (art. 206 do CC/2002). A regra sugerida era: “Art. 27-A As pretensoes dos consumidores nao reguladas nesta secao prescrevem em dez anos, se a lei ndo estabelecer prazo mais favoravel ao sujeito vulneravel”’ A re gra tinha uma vantagem em relagdo ao texto atual do art, 206 do Cédigo Civil, pois era mais clara e identificava que o didlogo deveria ser feito no sentido da aplicagéo do prazo mais favoravel ao sujeito vulneravel. No substitutivo apro- vado pelo Senado Federal a regra foi retirada e o tema continuard ensejando duvidas. Esperamos que a aplicacao da teoria do dilogo das fontes a favor do consumidor prevaleca. Duas leis novas merecem destaque nesta versio atualizada de nosso texto O Marco Civil da Internet, Lei 12.965, de 2014, deve ser aplicado em dialo- go com 0 CDC. 0 Marco Civil da Internet estabelece principios, garantias, direitos e deveres para o uso da intemnet no Brasil e esclarece ser um de seus fundamentos a defesa do consumidor, em seu art. 2°, inciso V. Entre os “direi- tos € garantias dos usuarios”, alguns desses usuarios sio caracterizados como consumidores (ex vi arts. 2°, 29 e 17 do Codigo de Defesa do Consumidor) no Seu acesso A internet, estdo as: L..] informagoes claras € completas constantes dos contratos de prestacio de servigos, com previsdo expressa sobre o regime de protecao aos seus da- dos pessoais, aos registros de conexao ¢ aos registros de acesso a aplicagdes de internet, bem como sobre praticas de gerenciamento da rede que possam afetar a qualidade dos servigos oferecidos (art. 7°, IV, da Lei 12.965/2014) Este Art. 7° do Marco civil assegura um didlogo entre 0 CDC e esta Let 12.965, de 2014. Também é de se mencionar a Lei 13.460/2017, que trata da regulamen- tacao da protecao do usuario de Servico Publico. Assim como art. 7° da Lei 8.987/1995,*! também a Lei nova, no § 2° no art. 1° impée a aplicacao harm6- 41. Assim também: MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor 6. ed. Sao Paulo: Ed. RT, 2016. p. 84-85, ‘Bu; Anténio Herman, Maas, Claudia Lima. A teoria do alogo das Fontes «seu impacto no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018 Dritoso pas FoNTES € 0 TRANSPORTE INTERNACIONAL DE PASSAG! nica com as regras previstas “na Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, quando caracterizada relacao de consumo” O espirito destas leis novas é guiado pelos arts. 170, V, e 5°, XXXII, da Cons- tituigao Federal. O art. 3° do Marco Civil da Internet, em seu paragrafo tinico, assegura a abertura do regulamento do uso da internet no Brasil as outras leis existentes e € um bom exemplo do dialogo das fontes ao afirmar que os “principios expressos nesta Lei ndo excluem outros previstos no ordenamento juridico patrio relacionados & matéria, ou nos tratados internacionais em que a Republica Federativa do Brasil seja parte”. Daf se retira a ideia de que os direi- os dos consumidores hoje assegurados pelo Codigo de Defesa do Consumidor € na legislagao especial e geral se somarao aos “novos” direitos assegurados por estas novas leis. A atualizacéo do CDC, porém, continua necessaria e traria maior estabilidade a esta teoria 4. OBsERVACAO FINAL Assim, sem querer finalizar esta andlise e pesquisa que devem continuar em 2017, podemos afirmar, com os dados ja levantados pela pesquisa, que os Tribunais Superiores, os Tribunais Estaduais, os juizes de primeira instancia e 0s JECs consolidaram 0 uso do método do dialogo das fontes como caminho para— em casos dificeis ~ assegurar prevaléncia do principio pro homine e desta eficdcia horizontal dos direitos fundamentais por aplicacao do CDC as relacdes privadas Concluindo, pode-se afirmar que 0 dialogo das fontes € uma teoria sofis- ticada para ajudar a decidir ~ de forma mais refletida e ponderada, segundo os valores constitucionais ~ os casos de conilitos de leis, resolver esses casos usando um novo paradigma, o da aplicagao conjunta coerente das normas em didlogo, orientada pelos valores da Constituico Federal, especialmente de direitos humanos e de protec4o dos vulneraveis. Trata-se de nova concep- cao da teoria geral,”® que é muito bem-vinda e wtil, pelo que agradecemos ao mestre Erik Jayme. 42, AgRg no REsp 1.030,569/RS, rel. Min, Herman Benjamin, j. 03.12.2009, ‘Bann, Anio Herman, Minas, Cala Lima. Aearia do dslogo das fontese seu impacto no Brasil w hhomenagem Erik Jayme, Revislade Diritode Cansumidor val. 15.3027 21-80, Sao Paulo: E.R, an 2018, 40 Revista ve Dinero 00 Consuminos 2018 ® ROC 115 Pesquisas Do EpiToriAL Veja também Doutrina * A sociedade da (des)informagao ¢ os contratos de comércio eletrénico do Cédigo Civil as atualizagdes do Cédigo de Defesa do Consumidor, um necessario dislogo entre fon- tes, de Sophia Martini Vial - RDC88/229-257 (DTR\2013\7242); * 0 didlogo das fontes no transporte aéreo internacional de passageiros: ponderagées sobre a aplicabilidade da convengéo de Montreal e/ou do CDC, de Beatriz da Silva Ro- land ~ RDC99/39-70 (OTR\2015\10685); * Principios, interpretacién y aplicacién del derecho del consumidor argentino ante el nuevo Cédigo Civil y Comercial. Una aproximacién al dilogo de fuentes, de Sergio Sebastisn Barocelli~ RDC 109]77-108 (DTR\2017\226); ¢ + Superagao das antinomias pelo didlogo das fontes ~ 0 modlelo brasileira de coexisténcia tenire 0 Cédigo de Defesa do Consumidor € o Cédigo Civil de 2002, de Claudia Lima Marques - RDC 51/34-67 e Doutrinas Essenciais de Direito do Consumidor 1679-718 (DTR\2004\798). ‘Bi; Anténio Herman, Miss, Cauda Lima. Atearia do dalogo das fontes «seu impacto no Bras uma homenagem a Eric Jayme, Revistde Diritod Consumigor val. 15. ar@27. 21-80, 5a0Paulo: E.R, ane 2018

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