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MAKRON Capitulo 4 Books FLEXAO PURA 4.1 INTRODUCGAO Nos capitulos anteriores, analisamos as tensdes ¢ deformagées especificas, em barras prismaticas sujeitas a cargas axiais e a momentos de torgdo. Agora iremos considerar a andlise de'membros prismaticos sujeitos a dois conjugados ou momentos, iguais e de sentidos opostos, Me M’, atuando no mesmo plano longitudinal (Fig. 4.1); 0 membro é entéo dito estar sob flexao pura. Na primeira parte do capitulo, nés iremos analisar as tensdes e deformagées que existem em membros homogéneos com um plano de simetria. Depois, provaremos que segées transversais permanecem planas durante as deformagies de flexdo (Sec. 44), desenvolveremos férmulas que poderdo ser usadas para determinar as tensdes normais e oraio de curvatura, para membros em flexo pura, dentro do regime elastico (See. 4.5). Na See. 4.7, iremos estudar as tonsdes ¢ as deformagies em membros compos- tos, feitos de mais de um material, e aprenderemos a desenhar uma secéo 318 —-Resisténcia dos Materiais Cap. 4 transformada equivalente, que representa a sogo de um membro feito de um material homogéneo. A seeao transformada ser usada para encontrar as tensées e deformagées no membro original. Na Sec. 4.8, discutiremos as concentragées de tensdo, nos locais onde a segao transversal de um membro sofre uma sabita mudanga. Na parte seguinte do capitulo, nés consideraremos a flexao de membros feitos de um material que ndo seguem a lei de Hooke (See. 4.9). Em particular, investigare- mos as tensdes ¢ as deformagies em membros feitos de um material elastoplastico. Iniciando com o maximo momento elastico M, que corresponde ao inicio do escoamento (Sec. 4.10), iremos considerar os efeitos do aumento dos momentos, até que 0 momento plastico M seja atingido, o qual ocorre quando o membro esta completamente escoado. ‘Também iremos determinar as deformagdes permanentes ¢ as tensdes residuais, que resultam de tais carregamentos (See. 4.12), Na See. 4.13, iremos superpor as tensées devido a flexéo pura e as tensées devido a um carregamento centrado (Capitulo 1), para podermos analisar casos de carregamentos excéntricos em um plano de simetria. Nosso estudo de flexéo em membros prismaticos sera coneluido com a andlise de flexdo assimétrica (See. 4.14) e 0 estudo do caso geral de carregamento axial excéntrico (Sec. 4.15). A tiltima segao do capitulo é voltada para a andlise de tensdes em vigas curvas (Sec, 4.16). 4.2 BARRAS PRISMATICAS EM FLEXAO PURA Uma barra submetida a_agdo de dois conjugados iguais e de sentidos contrarios, que atuam em um mesmo plano longitudinal, esta sujeita a flexdo pura. Se passarmos uma secdo transversal cortando a barra AB da Fig. 4.1, as condig6es de equilibrio da parte AC da barra exigem que os esforcos elementares exercidos sobre AC pela outra parte formem um conjugado equivalente a M. Desse modo (Fig. 4.2), a segao transver- sal da barra submetida a flexao pura apresentard esforgos internos equivalentes a um conjugado. t O momento M desse conjugado 6 chamado de momento fletor da segao. Vamos adotar a conveneao de indicar como positive 0 momento M que flexiona a barra conforme ilustra a Fig. 4.1, e como negativo o caso em que M e M' tém sentido inverso ao da figura Cap.4 Flexao pura 319 Na Fig. 4.3a, a poreao BC da viga AD esta submetida a flexao pura. Cortando a viga por uma seedo qualquer E, entre B e C, e estudando os diagramas de corpo livre de AD e AE (Fig. 4.80 e c), verificamos que os esforcos internos em qualquer segao transversal localizada entre Be C devem ser equivalentes a um conjugado de 36 kN.m. 30KN 30 KN} P P 12m 12m 3 c A, 2 Phas aoe am = \ KN “| | Ee o @ som s0KN @ ) 30kN o Fig. 4.3 Fig. 4.5 Os casos de flexao pura nao s40 muito comuns nas aplicacSes priticas, ¢ 0 niamero de casos em que ela aparece nao justificaria, por si s6, que dedicdssemos todo um capitulo ao seu estudo. Contudo, as concludes e dedugdes que fizermos aqui podem ser aplicadas a andlise de outros tipos de solicitag6es das pecas estruturais, como 0 caso de cargas transversais e o caso de cargas normais excéntricas. J4 vimos na Sec. 1.3 que os esforgos internos em uma segdo de uma pea submetida a uma carga normal excéntrica séo equivalentes a uma forga P, aplicada no centréide da segéo, e a um 320 _-Resisténeia dos Materiais Cop. 4 conjugado M (Fig. 4.4). Usando 0 prineipio da superposi¢do, poderemos combinar as tensées obtidas para o caso de carga centrada com as tensées provocadas pela flexio pura, que logo saberemos obter e, com isso, encontrar a distribuicées de tensdes para a carga excéntrica. O estudo da flexdo pura tem também um papel importante na anilise das vigas, que sao pecas prismaticas submetidas a cargas transversais ao eixo. Consideremos, por exemplo, a viga em balanco AB, que suporta uma carga concentra- da P na sua extremidade livre (Fig. 4.52). Se passarmos uma seco transversal em C, a uma distancia de A, vemos pela andilise do diagrama de corpo livre de AC (Fig. 4.5) que’0s esforgos internos nessa secao consistem em uma forga P’ de mesma intensidade e sentido oposto de P, e de um momento M de intensidade M = Px. Como veremos no Cap. 5, a distribuigéo de tensdes de cisalhamento nessa segdo depende de P’, enquanto a distribuigéo de tensdes normais pode ser obtida a partir de M, como se a viga estivesse submetida a flexao pura. 4.3 ANALISE PRELIMINAR DAS TENSOES NA FLEXAO PURA Vamos utilizar 0s métodos da estatiea para deduzir as relagées que devem ser satisfeitas pelas tensdes que atuam em uma segdo transversal de uma pega prismatica em flexao pura. Vamos chamar de o, tenséo normal em um ponto da seco, ¢ de t,, € ty, as componentes da tensdo de cisalhamento! nessa seco. O sistema de esforcos internos que atuam na secdo deve ser equivalente ao conjugado M (Fig. 4.6) Sabemos, atravésda estatica, que um conjugadoM consiste realmente de duas foreas iguais e de sentidos opostos. Asoma das componentes dessas forcas em qualquer diregao € igual a zero. Além disso, o momento do conjugado, em relagdo a qualquer eixo perpendicular a seu plano, é sempre o mesmo; 0 momento do conjugado, em relagdo a qualquer eixo contido no seu plano, é igual a zero, Adotando o sistema de eixos como indica a Fig. 4.6, podemos expressar a equivaléncia do sistema de esforcos internos com 0 conjugado M. Temos que a soma das componentes e dos momentos dos esforcos elementares deve ser igual & soma das componentes e dos momentos do conjugado M: | F, = 0 Jor dA = 0 a1) =M, = 0 Jz, dA = 0 (4.2) 2M, = M Sl-x00 dA = M (4.3) Ainda poderiamos escrever mais trés equagdes adicionais, relativas as com- ponentes das tensdes de cisalhamento. 1 As componentes da tonsa de cisalhamento sio ambas nulas, como veremos na préxima segio, Cap.4 Flexo pura 921 27 oan Fig. 4.6 Precisamos fazer dois comentdrios neste ponto: em primeiro lugar, o sinal negativo na Eq, 4.3,|Esse sinal indica 0 fato de que a tensao de tragao (0, > 0) provoca um momento negativo (sentido horario) da forga normal 0, dA em relac&o ao eixo z. Em segundo lugar, devemos observar que a Eq. 4.2 se torna simples se a peca prismatica 6 simétrica em relagao ao plano do conjugado M, e se adotarmos a posicao do eixo y como indicada. A distribuicao de forcas normais nessa segao ser simétriea 20 eixo y, Mais uma vex notamos que a distribuigdo real de tensées em uma secdo transversal nao pode ser determinada pela estatica somente, sendo um problema estaticamente indeterminado. Langando mao da andlise das deformagdes, conse- guiremos os dados que permitirao estabelecer a distribuigao de tensdes. 4.4 DEFORMAGOES EM UMA BARRA SIMETRICA NA FLEXAO PURA Passamos a analisar as deformagGes que aparecem em uma barra prismatiea que contém um plano de simetria, Para se ter flexao pura, submetemos a barra a acao dos conjugados M e M', que atuam no plano de simetria, com intensidades iguais sentidos opostos (Fig. 4.7). A barra se flexiona sob a acdo dos conjugados, mas permanece simétrica em relacdo ao plano. Além disso, como 0 momento fletor M é 0 mesmo em qualquer segao, a barra se flexiona de maneira uniforme. Desse modo, a linha AB, segundo a qual a face superior da barra intereepta o plano dos conjugados, tem uma curvatura constante, Em outras palavras, a linha AB, que era inicialmente uma linha reta, se transforma em um areo de circunferéneia de centro C, do mesmo modo que a linha A’ B’, na face inferior da barra (a figura nao indica essa linha), Podemos notar que a linha AB diminui de comprimento quando a barra flexiona da maneira indicada, isto 6, quando M > 0. Podemos ver também que a linha A’ B’ se torna mais longa. 922 Resisténcia dos Materiais Cap. 4 Fig. 4.7 ‘Vamos mostrar agora que qualquer se¢do plana perpendicular ao eixo da barra permanece plana na flexao; do mesmo modo, mostraremos que o plano da segao transversal passa pelo ponto C. Realmente, se no ocorressem os fatos acima, pode- rfamos encontrar um ponto Z, que pertencesse a uma secao transversal por D (Fig. 4.8a), que nao estaria mais nessa sec¢do apés a flexao. Em outras palavras, o ponto E nao estaria no plano que passa por CD e é perpendicular ao plano de simetria da barra (Fig. 4.8), Agora, devido a simetria da barra, haveria um outro ponto Z’ que se transformaria exatamente da mesma maneira que o ponto E. Vamos supor que, apds a flexdo, os dois pontos estivessem localizados & esquerda da se¢éo transversal que passa por D, ou esquerda do plano CD (Fig, 4.85). Como 0 momento fletor M 6 0 momento para toda a extenséo da barra, a mesma situacdo iria ocorrer em todas as secdes, e os pontos dessas secdes que correspondem a £ e £ iriam se deslocar para a esquerda também. Assim, um observador colocado em A chegaria a conclusao de que os pontos E e E' das varias secdes transversais estariam se movendo em sua diregdo, por efeito do carregamento, Mas para um observador postado em B, para o qual 0 carregamento parece 0 mesmo, e que observa os pontos Ee E' na mesma posicao (exceto por estarem invertidos), 0 movimento dos pontos E e B” pareceria se dar em sua direc&o. Essa inconsisténcia das observagses nos leva a concluir que E e E’ devem permanecer no plano definido por CD, e, desse modo, a se¢ao permanece plana e passa por C. Nessa anélise nao foi coloeada nenhuma restriedo as deformagées no proprio plano da seco transversal (ver Sec. 4.5). Cop.4 Flextopura 323. Vamos supor que a barra fica dividida em um grande niimero de cubos elementares, cujas faces séo paralelas aos trés planos coordenados. Pela propriedade que estabelecemos, quando a pega se flexiona sob a agao dos conjugados M e M’, os cubos elementares devem se deformar como mostra a Fig. 4.9. / f \ i 4 as a v os 2 u (@ Segto versal lngiinal {© Secto horzontalongtusinal Fig. 4.9 ‘Todas as faces representadas nas duas projecées da Fig. 4.9 estao a 90°, e concluimos que y,y="Y;-=0, sendo entéo nulas as tensdes t,, € T,,. Quanto as trés ‘componentes de tensdo que ainda nao analisamos, a saber, 0, 0, @ t,., hotamos que elas devem ser nulas na superficie da barra. Por outro lado, as deformagées que ocorrem ndo exigem interagdes entre elementos da mesma seedo transversal. Podemos assumir que essas componentes sao nulas em toda a see transversal, Essa hipstese pode ser verificada por observacao experimental, ou pela teoria da elasticidade, para © caso de barras esbeltas que sofrem pequenas deformagbes®. Do que dissemos até agora, podemos ver que a nica componente de tensdo que no se anula é a componente normal_a,. Desse modo, em qualquer ponto de uma barra esbelta submetida a flexao pura, teremos um estado uniaxial de tensées. Lembrando que quando M > 0, a linha AB diminui de comprimento e a linha A’ B’ aumenta de comprimento, verificamos que a deformagao especffica e, e a tensao 0, $40 negativas na parte superior da barra (compresséo) ¢ positivas na parte inferior (tragao). 2 Ver Prob, 4.34. 824 Resisténcia dos Materiais Cap. 4 Deve haver entao uma superficie paralela a face superior e & face inferior da barra, onde e, e o, se tornam nulas. Esta superficie 6 chamada superficie neutra. A superficie neutra intereepta o plano de simetria ao longo de um arco de circunferéncia DE (Fig. 4.10a), e intercepta uma dada segéo transversal da barra segundo uma reta chamada linha neutra ou eixo neutro da segao Vamos agora adotar para a origem do sistema de coordenadas um ponto na superficie neutral e nao mais na face inferior da barra como haviamos feito anteriormente. A disténcia de qualquer ponto da barra & superficie neutra seré dada pela ordenada do ponto y. Vamos chamar de p 0 raio do arco de eireunferéncia DE (Fig. 4.10a), e de 80 Angulo central correspondente a DE. O comprimento DE ¢ igual ao comprimento L da barra indeformada, e podemos escrever: L = 9 (4.4) Segdo vericalongtudinal (0 SE as omen —\ fies & y (0) Seco transversal Fig, 4.10 Considerando agora o arcoJK localizado a uma distancia y acima da superficie neutra, vemos que seu comprimento L’ 6 igual a =(p - 98 (4.5) ‘ap. 4 Flexo pure 925 Como 0 comprimento original do arco JK era L, antes da deformagao de IKé d-L'-L (4.6) ou, substituindo (4.4) e (4.5) em (4.6), 3 = (p ~ 990 - p9 = 98 (4.7) Podemos obter agora a deformagao especifica longitudinal e, nos elementos ‘que compéem a fibra JK, dividindo o pelo comprimento original L de JK. Assim temos: 30 po =e L =e (48) O sinal negativo indica que a deformacio é de compressio, uma vez que adotamos momento positivo, e a concavidade da barra deformada é voltada para cima. Como as segées se mantém planas, em qualquer plano paralelo ao plano de simetria teremos as mesmas deformagées. Entao o valor de deformacao especifica dado pela Eq. 4.8 vale para qualquer ponto situado a distancia y da superficie neutra Dizemos entao que a deformagao especifica normal e, varia linearmente com adistan. cia y @ superficie neutra, ao longo de toda a barra. A maior deformacdo especifica ¢, ocorre, entdo, para 0 maximo valor de y. Chamando de c esse valor maximo (que pode ser em relagdo a face superior ou inferior da barra), e expressando por ¢,, 0 valor absoluto maximo da deformagao especifica, temos e (4.9) Em = Explicitando o valor de p em (4.9) e substituindo em (4.8) podemos escrever também wee -2em (4.10) 526 ——-Resisténcia dos Materiais Cap. 4 ‘Apés esta andlise das deformagées de uma barra em flexao pura, ainda néo estamos aptos a calcular a tenséo ou a deformagao em qualquer ponto da barra, uma yer. que ainda nao localizamos a linha neutra na seeao da barra. Para localizar a linha neutra ou a superficie neutra, precisamos especificar as relagées entre tensio & deformagéo do material utilizado?. 4.5 TENSOES E DEFORMAGOES NO REGIME ELASTICO ‘Vamos considerar agora o estudo em regime elastico, quando o momento fletor M tem valor tal que as tensdes normais se mantém abaixo do valor de escoamento 0, Com isso, impomos a condigdo de que as tensdes na barra permanecam abaixo do limite de proporcionalidade e do limite de clasticidade do material, Nao vao ocorrer deformagées permanentes, e a lei de Hooke pode ser aplicada para o estado uniaxial de tense: Considerando que o material 6 homogéneo e chamando de E 0 seu médulo de elastici- dade, teremos na diregao longitudinal x - Ee, (4.11) ‘Tomando a Eq. 4.10, e multiplicando os dois membros dessa equagao por E, escrevemos Ee, = ood (Ee) ou, usando (4.11) 3, = 20m (4.12) onde o,, expressa 0 maior valor absoluto da tensao. Este resultado mostra que, no regime elistico, a tensdio normal varia linearmente com a distancia @ superficie neutra (Fig. 4.1. 3 So uma barra possui, no entanto, plano de simetria nas diregées vertieal e horizontal (como exemplo, ‘uma barra de secéo transversal retangula), e se odiagrama tensio-deformagiio 60 mesmo para tracio fe compressao, a superficie neutra vai coincidir com o plano de simetria, Cap.4 Flexo pura 927 y ‘Superficie neutra + A. BS Devemos determinar agora a posicéo da superficie neutra e o valor maximo da tenséo normal, o,,. Essa determinacéo pode ser feita utilizando as relages (4.1) e (4.8), obtidas anteriormente das condigées da estatica. Substituindo em (4.1) 0 valor de o,, dado em (4.12), temos x Sm Soda = fo, Jaa - -"" fy da =o Da ultima igualdade, deduzimos que fy da-o (4.18) Essa equagdo mostra que o momento estdtico da area da secao transversal em relagéo a linha neutra deve ser zero‘. Isto quer dizer que, para barras submetidas & flexao pura, a linha neutra passa pelo centro geométrico da segdo, enquanto as tensbes permanecerem em regime elastico. Lembrando a expresséo da Eq. 4.3, que foi deduzida para um eixo horizontal arbitrario, z, fy, da) = M (4.3) e adotando que o eixo arbitrério z coincide com a linha neutra da seco transversal, substituimos em (4.3) 0 valor de o, dado por (4.12) e escrevemos naa = on fy dA=M 4.14) 4 Ver Apéndice A para um estudo de momento estiticn.

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