Ensino de
por investigagdo:
condig6es para implementacao
em sala de aula
‘Anna Maria Pessoa de Carvalho
1a Marques Alvarenga de
Danlela Lopes Scapa
Lice Helena Sasseron
jana Sedano
Maria Candida Varone de Mores Capecchi
Mara Luci Vital dos Santos bib
Viviane Bicia
a% CENGAGE
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Oensino de Ciéncias e a
proposicdo de sequéncias
de ensino investigativas
‘Anna Maria Pessoa de Carvalho
Alguns referenciais tedricos para a construgéo
de sequéncias de ensino investigativas
Desde meados do século xx a educagio sofre cimbios significativos, seguindo
bbem de perto as modificagées ocorridas em nossa sociedade. A escola, com a
finalidade de levar os alunos da geragao atual a conhecer o que jé foi historica-
‘mente produzido pelas geragdes anteriores, também foi atingida por tais mu-
dancas sociais. Durante muitos anos esses conhecimentos, pensados como
produtos finais, foram transmitidos de maneira direta pela exposigao do pro-
fessor. Transmitiam-se 0s conceitos, as leis, as formulas. Os alunos replicavam
as experiéncias e decoravam os nomes dos cientistas.
Dois fatores modificaram o processo de transferéncia do conhecimento de
‘uma geragdo para a outra. O primeiro deles foi o aumento exponencial do co-
rnhecimento produzido ~ néo & mais possivel ensinar tudo a todos. Passou-
-s¢.a privilegiar mais 0s conhecimentos fundamentals dando atengio a0 processo
de obtencio desses conhecimentos. Valorizou-se a qualidade do conhecimento
4 ser ensinado e nio mais a quantidade. O segundo fator foram os trabalhos de
epistemélogos e psicélogos que demonstraram como os conhecimentos eram
construidos tanto em nivel individual quanto socta.
“Muitos fatores ¢ campos do saber influenciaram a escola de maneira geral ¢
‘ensino, em particular; no entanto, entre os trabalhos que mais influenciaram 0
cotidiano das salas de aula de ciéncias esti as investigagaes e as teorizagdes
feitas pelo epistemlogo Piaget e os pesquisadores que com ele trabalharam,
como ainda os conhecimentos produzidos pelo psicSlogo Vigotsky e seus segu
ores, Esse autores mostraram, com pontos de vista diferentes, como as criancas
€ 05 ovens constroem seus conhecimentos,2 Enso de Citas por imesigao
Inicialmente os educadores se debateram entre esses dois referenciais teb-
ricos ~ 0 piagetiano e 0 vigotskiano ~ e suas possiveisinfluéncias no ensino,
No entanto, por meio de pesquisas realizadas em ambientes escolares, 0 conilito
entre as teorias se mostrou inexistente € 0 que se constata hoje é, a0 contrér
de décadas anteriores, uma complementaridade entre as ideias desses dois
campos do saber quando aplicadas em diferentes momentos e situagoes do
censino e da aprendizagem em sala de aula
‘As pesquisas piagetianas ao procurarem entender como 0 conhecimento,
é pela humanidade, na busca da com-
;eensio de sua epistemologia, partiram de dados emplricos retirados de en-
1 € adolescentes (Piaget, 1974 a, b), Estas 20 serem reali-
3 de idades semethantes @ dos alunos escolares ¢ com,
contetidos préximos aos propostos pelos curriculos de Ciéncias trouxeram en-
sinamentos itels que orientam os professores, tanto no planejamento de suas
sequéncias didéticas como em suas atitudes em sala de aula.
‘Um dos pontos que podemos salientar,e que se torna claro nas entrevistas
Piagetinnes, € a importincia de um problema para o inicio da construcdo do co-
nihecimento, Ao trazer esse conhecimento para o ensino em sala de aula, esse
fato - propor um problema para que os alunos possam resolvé-l0 - vai sero di-
visor de dguas entre o ensino expositivo feito pelo professor e o ensino em que
proporciona condigées para que o aluno possa raci
tnhecimento, No ensino expositivo toda a linha de raciocinio esti com o professor,
co aluno sé a segue e procura entendé-la, mas néo é 0 agente do pensamento. Ao
fazer uma questio, ao propor um problema, 0 professor passa a tarefa de racio-
cinar para oaluno e sua agdo no é mais a de expor, mas de orientate encaminhar
as reflexdes dos estudantes na construgdo do novo conhecimento,
Ao explicar o mecanismo de construgao do conhecimento pelos indi
get propde conceitos como equilibragio, desequilibragio, reequilibragéo
aget, 1976). Entretanto o importante desta teoria para a organizacéo do en-
sino €0 entendimento que qualquer novo cohecimento tem origem emt ium co-
hecimento anterior. Este fato & um principio geral de todas as teorias constru-
‘onou 0 planejamento do ensino, uma vez.que nao é possivel
uma aula, nenhum novo tépico, sem procurar saber 0 que os
alunos jd conhecem ou como eles entendem as propostas a serem realizadas
Com base nesse conhecimento cotidiano, propondo problemas, questées e/ou
nndo novas situagdes para que os alunos resolvam (ou seja, deseq)
« terdo condigSes de construir novos conhecimentos (réequi
CO ensina de Cites pop
Ao estudar a reequilibracio, ou seja, nos estudos da constr
conhecimentos pelos individuos, os trabalhos piagetianos apresentaram duas
condigées muito importantes para o ensino e a aprendizagem escolar: a passa-
gem da ago manipulativa para a agdo intelect
30, prineipalmente em criangas e jove
ciéncia de seus atos nessas aces (Piaget, 1978).
O entendimento da necessidade da passagem da ago m
ado intelectual na construgao do conhecimento ~ neste caso
nnhecimento escolar ~ tem um si sportante no planejam
sino, pois fi
e conceitos,
cia de ensino que tenha por objetivo levar 0 akuno a coi
iciar por atividades manipulativas. Nesses casos @ qu
problema, precisa incluir um experimento, um jogo ou mesmo um te
passagem da acio manipulativa para a construgio intelectual do contesdo
deve ser leva 0 aluno, por
meio de um
blema foi resol erto, ou seja, a partir de ;
Essa passagem da acéo manipulativa para acéo intelectual por meio da to
‘mada de consciéncia de suas agdes ndo ¢ facil para os alunos nem para o pro-
fessor, jd que conduzir intelectualmente o aluno fazendo uso de ques
rematizagbes de suas ideias e de pequenas expo
‘bem menos complicado expor logo o contetido a ser ensinado.
E nesta etapa da aula que o professor precisa, ele mesmo, tomar consciéncia
da importincia do erro na construgdo de noves conhecimentos, Essa também
‘uma condigdo piagetiana. £ muito dificil um aluno acertar de primeira,
€ preciso dar tempo para ele pensar, refazer a pergunta, dei
sobre seu erroe depois tentar um acerto. O erro, quando.
pelo préprio aluno, ensina mais que muitas aulas expos
segue 0 raciocinio do professor e no 0 seu proprio. .
ymentos que podemos extrair das pesquisas e teorizacdes
6 constructos tedricos. Desse modo o planejamento de uma
uum dado
hado e superado
quando o aluno
intos! £ nessa ocasiio, na construgio social do
evar em consideraglo os saberes produzidos por4 | Ensino de Cnc par investiardo
individuo emergem de processos sociais’ A discussio e a aceitagio desse co-
nhecimento trazido por Vigotsky (1984) veio modificar toda a interacio pro-
fessor-aluno em sala de aula,
segundo tema foi demonstrar que os processos sociais e psicolégicos hu-
‘manos “se firmam por meio de ferramentas, ou artefatos culturas, que medeiam
a interagdo entre os individuos e entre esses e 0 mundo fisico” Assim o conceito
de interacdo social mediada pela utilzacao de artefatos socias e culturamente
los (0 mais importante entre eles € a linguagem) torna-se importante
‘no desenvolvimento da teoria vigotskiana, uma vez que mostra que a utilizagio
de tais artefatos culturais €transformadora do funcionamento da mente, e nio
apenas um meio facilitador dos processos mentas a existentes (Vigotsky, 1984).
nto desse tema trouxe como influéncia para o ensino a neces-
sidade de prestarmos atengio no desenvolvimento da linguagem em sala de
aula como um dos principais artefatos culturais que fazem parte da interagio
1056 no aspecto facilitador da interacio entre professor e alunos, mas
almente com a funcdo trensformadora da mente dos alunos.
A interagio social ndo se define apenas pela comunicagio entre o professor
0 aluno, mas também pelo ambiente em que a comunicacéo ocorre, de modo
que o aprendiz interage também com os problemas, os assuntos, a informagio
€ 08 valores culturais dos préprios conteiidos com os quais estamos trabalhiando
em sala de aula,
Outro conceito trazido por essa teoria que muito influenciou a escola foi o
conceito de “zona de desenvolvimento proximal” (zoP) que define a distancia
entre o “nivel de desenvolvimento real’ determinado pela capacidade de resolver
‘um problema sem ajuda, €0 “nivel de desenvolvimento potencial’, determinado
pela resolucio de um problema sob a orientagio de um adulto ou em colabo-
ragio com outro companheiro,
‘Ateoria mostra que o desenvolvimento real 6 aquele que jé foi consolidado
pelo individuo, de forme a torné-lo capaz de resolver situag6es utilizando seu
conhecimento de forma auténoma, portanto o nivel de desenvolvimento real
&