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ESQUILO ORESTEIA AGAMEMNON — COEFORAS — EUMENIDES IneTRODUGKO, TRADUCA DO GREGO ENOTAS DE MANUEL DE OLIVEIRA PULQUERIO Professor Catto da Facoldade deLesres de Coimbra edicdes 70 Tilo original: Oresteia © desta tadugfo: Manual de Oliveita Pulquério ¢ Eaigdes 70 Capa do Departamento Gréfico das Edigtes 70 Athena Lemnia, de Fidias, Desento de Lovro Fonseca partie de ume eépia romana Depésito legal n° $6487/92 ISBN 972-44.0197.9 Direitos reservados para todos o€ paises de lingua port or Edigoes 70, Lia EDIQOES 70, LDA. Rus Laciano Cordeiro, 123° 2.° Esa ~ 1069-157 Lisboa / Portugal “els 23100280 Fae 21 3190289 Esta ob etd pote pls lei. No pode ser reproduridn no fodo ou cm pate, qualquer que se} © modo uilizad, incinde fotocopia © seronepa, sem previ torizagso do Bar. "Qualguer wanpressio 8 lel dos Dicitos do Autor See passivel ie procediment jue INTRODUCAO O sicriticio de Iigénia Regressado a casa apds a destruigéo de Tréia, com 0 rostor mareado por todos os sulcos da ambigdo ¢ da glé:ia, Aga- ‘mémmon vert encontrar uma morte miserivel As 0s de sua mulher, Clitemnestra, que vinga com o sangue a morte duma filha, a clamar por expiagdo desde os tagivos dies de. Aulidé (wv. 1525-7). 0 sacrilicio de Ingénia, que nos € rekatado-no parodo da pega, oeupa, por isso, ums posigdo contral a pro~ bleméticn do destino de Agamémnon, que, de aparente exc- cutor da vontade de Zeus, ao cheflar 2 expedigio contra, Tri s¢ éonverte no «homem acabado», como Clivemnesira 0 esig- na com sinisira ambiguidade, ‘A morte da virgem inocente aparece, porém, estranhamente vinculada & actuagio da deusa Anemis, que, de forma algo misteriosa, condiciona a realizagio da expedicio 2 Trdia 2 imolagio de Tigénia, a filha do Auida Agamémnon, A idcia generalizad’ de que a guerra de Tria waduz a vontade de Zeus Hospitaiciro, gravemente ofendide no rapio de Helena, ceria, porém, cnomes dilieuklades & inlerpretaao dos uconte~ cimentos nu tragSdia, Se Agaméminon € minisiro de Zeus no comando da expedigaa, como explicar os eniraves posios por 15 Antemis & realizagdo do projecto guerreiro ¢, sobretudo, 0 ter- rivel condicionalismo do sacrificio de Iigénia, para que a ar- mada possa obier os ventos favordvcis & sua saida de Aulide? E como entender o destino trégico de Agamémnon, o heréico executor da vontade de Zeus? E a morte o prémio digno dos seus servigos? Teremos de admitir, como Kitto ('), uma cisio inexplicivel no plano divino, que ope Artemis a Zcus, ou, pelo contrario, © acordo das vontades divinas em relago 20 castigo do raptor saerflego? Mas, neste dltimo caso, como si- luar num plano de inteligibilidade @ exigéncia atroz da morte duma virgem inocente com que Anemis confronta os chefes da expedigao? Estas dificuldades sio, em minha opinigo, inteiramente su- peradas pela ideia de que tanto Ariemis como Zeus se opgem radicalmente & empresa troiana @). Agamémnon, cego pelos motivos pessoais que o determinam, ndo compreende esta rea- lidade © chega a confundir o sew desejo com a vontade dos deuses. No paso crucial em que cle se debate com o proble- ma da decisio (sacrificar a filha ou renunciar & expedigao pa- ra Tréia), vemo-lo identificar a obediéneia a Artemis com 0 respeito pelos seus aliados. «Sorte pesada € nao obedecer, mas pesada tambsim se dila- cerar a minha filha, 0 omamento da minha casa, manchando as minhas maos de pai nas cottentes de sangue duma donzcla imolada junto do altar. Qual destes dois partidos ¢ isento de mal? Como me hei-de eu tomar um desertor da frota, traindo os meus aliados?» (vy. 206-13), Se a desobediéncia referida no infcio desta fala de Aga- mémnon 6, como parece, referida a Antemis (ndo faz sentido falar, como Neiuzcl, de «desobedi¢neia militar» @), além do mais porque Agamémnon € 0 comandante supremo da expedi- () Form and Meaning in Drama, p. 09 8 @) Vide M. Pulquésio, «O problema do sactificio de INigénia no Aga Iméiwon de Esquilo», Humanitas 21-22 (1970) 365-77 (0) «Artemis und Agamemnon in der Parodos des Aischyleischen Aga- memoir, Hermes VOT (1979) 25. ss. 16 no ng nu ilo), entdo ¢ significativa, que, 30 reiomar 0 tema, Agamém- non ja nifo pense na deus mas na lealdade devida aos chefes militares, scus associados na acgo: «Como mic hei-de cui tor- nar um desertor da (rota, traindo os meus aliados?». Este cquivoco monstruoso de supor os deuses empenhados numa empresa, s6 possivel pela prévia imolaggo de-uma don- vela inocente, vai expor Agamémnon is consequéncias de ‘uina lei institulda por Zeus: a

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