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Resenhas, pp. 381-408 cado 20 crabalho, aos estudos € 3 familia, especial- 30 cuidado das eriangas, € um problema es- sencialmente feminino, pois sio as mies com filhos pequenos que tém mais difculdade em adminiserar a falta de tempo, de recursos e de instcuigbes de cui- dado ¢ educagio das criangast “Face & quase inexis- ‘éncia de dispositivos garantidos pelasentidades em- pregadoras © 3 insuficiéncia dos dispositivos pabli- os, as redes informais ¢ familiares, em particular de avés,sio teferdas pelos jovens portugueses com fun: damentais no apoio & conciliaggo entre trabalho € vida familiar” (p. 143). Aobraencerracom uma tipologia que identifi caracceria sete modelos “ipico-idesis’ de wansigio, com base nas orientagées indicadas pelos jovens na pesquisa: trajetdrias fortemente orientadas pela pro- 30 ¢ pelo tempo dedicado ao trabalho: eajetérias orientadas para a valorizago da individualizagio ea realizasio pessoal; erajetérias que fogem a0 modelo familiar tradicional (¢ por essa razio sio clasificadas como “experimentai");trajet6rias que obedecem a cstratégiaseprojetosclaramente definidos econcreti- zados progressivamente: trajetérias caracterizadas pela conjugalidade ou parentalidade “precoces” (an- tes dos 20 anos); trajetrias matcadas pelo desempre- g0€ pela instabilidade no tabalho, que dificult auconomizacio ¢ a realizagio de projetos pessoas: ‘tajetbrias que levam ao risco de exelusio social Embora essa tipologia nio seja inovadora e se baseiesobrerudo na avaliagio quanto 20 tipo de in- sergio no mercado de trabalho e no maior ou menor discanciamenta em telacio 20 modelo tradicional do ser aculto (0 individuo auténomo, provedor para si proprio e para os seus dependences), Thansiges in- certas explora de mancira criteriosa a pluralidade e a idade das experiéncias biogrificas das jovens sgeragies, num mundo de crescentes desigualdades ¢ acentuagio de clivagens sociais. Além disso, apresen- ta uma agenda de pesquisa diversficada ¢ dindmica, que integra metodologias diferentes com o intuito de reconsticuiralgumas das tendéncias que caracteti- 346. Tempo Social revista de sociologia da US. 17,n.2 2am as cransigbes para a vida adulta na Europa e ¢s- ppecificamente em Porvugal, o que certamente rervird de inspiragio para os pesquisadores brasleiras que seinteressam pelo procesto de tornar-se adulto hoje Regina Novaes e Paulo Vannuchi orgs), Juventu- de e sociedade: trabalho, educacéo, cultura e ‘particjpacao. Séo Paulo, Fundagéo Perseu Abra- ‘mollnstituto Cidadania, 2004, 304 pp. Régia Cristina Oliveira Doutoranda em Sociologia pela FFLCH - USP Juventude ¢ sciedade & um livro composto pela reunio de artigos voltados para a compreensio e a ampliagio de temas que dizem respeito 3 juventude brasileira. Sio artigos eseritos por importantes est iosos de diferentes reas do conhecimento — soci: logia, antropologia,flosofia,ciéncia politica, educa ‘so, economia, psicologia e psiquiattia-, com o in- tuito de discutir questées inscritas nos campos da ‘educagio, do trabalho, da familia, dos direitos hu- manos, bem como da violéncia, da ecologia das polcias pblicas Essa reuniio de artigos amplia e diversifica 0 de- bate sobre os jovens brasileira, uma vex que dif rentesexperiéncias, com pesquisa expecificas 04 com, reflexes que permitem a sua inclusio, contribuem, para salientar a importineia desses individuos ¢ das _questées que Ihes sio pertinentes, no eenério nacio- nal, a partir de suas urgéncias, necessidades, modos de ser de estar no mundo, de suas possibilidades € potencialidades para transforms. Nese sentido, as diferentes especialidades do conhecimento ¢ as distintas abordagens, expe as ¢ reflexses, além das vatiadas proposigSes de ‘aminhos pata a inclusio pessoal ¢ social dos jo vens brasileizos, complementam-se ¢ contribuem para a ampliacio de cemas references & questio ju- venil e para a possibilidade aberta ao leitor de for- ular novas questoes reflexées Nese conjunto de artigos, hi trabalhos que apre- sentam um teor maisacadémico, enquanto outtoss50, informaisem suaapresentagio, ainda quepersistaaca- pacidade critica na exposigio das idéias alguns so di- recionados apresentagio de propostas,enquanto ou twos tém um cariter mais investigativo. De qualquer maneita, todos estio orientados para entendimento daquestio dajuvencudeapartirdesuadiversidade,erm ‘oposigao & sua homogeneizagio, e todos confluem também com relagéoimportancia do protagonismo juvenilnasdiferentesquestBesapresentadas uaros ences socias so também evocados quando se tata da questio do protagonismo na resolugso dos problemas ¢ urgéncias que se fazem presences como a familia, os érgios governamentais ¢ nio- ‘governament: 9s movimentos sociais ¢a prépria sociedade civil Ol ‘como um todo um convite agradével 4 leitura e reflex sobre questes que dizem respeito 420 universojuvenil, podendo ser manuseado de acor- cdo com o interesse do letor em um dado tema espe- cifico, sem que haja necessidade da obedigncia a uma dleterminada ordem. Assim, quando o assunco de interesse for a ques Go da violncia relacionada 3 juventude,oletor pode ‘comegar sua incursio pelo texto do antiopélogo Luiz Eduardo Soares, Com seu foco de atengio nos jo vens das camadas populares, 0 autor mostta-nos que avioléncia no Brasil atinge principalmente os jovens pobres e negros, do sexo masculino, na faxa exria entre 15 €24 anos, por meio do recrutamento para o twifico de drogas e armas, Em um contexto marcado pela invsibilidade desses individuos na sociedade, 0 ingresso no crime acaba funcionando como passa- porte para 0 aparecimenco do sujeto, doado agora de auco-estima, em virtude da conquista de certo poder que se impée por meio do temor dos outros, © dla possibilidade de consumo de objetos que dizem respeito aos sfmbolos de certo grupo juvenil Resenhas Seo crime oferece vantagens a javens sem pers pectivas, em esperangas ¢ sem adolescéncia, fiz-se necessiria a eriagio de condigdes para que ao menos as mesmas vantagens de recuperagio da auto-estima, de saida da invisibilidade e de possibilidade de con- samo postam ser oferecidas mo lado de ed, Esse € 0 desafio apresentado pelo autor, que indica alguns caminhos, a comesar pelar polticas de seguranga publica para a populagio jovem, que no deve mais se afirmar pelo avest. Rubem Cérat Fernandes, antropélogo, também «rata da questio da violéncia relacionada & juventu- de, Partindo de sua experiéncia come ditetor-execu tivo do Viva Rio, o autor traga um panorama da si- cuagio atual das regises mais vulneriveis A violencia no pais ~ os baittos pobres -, levancando algumas reflexdes e apontando possibilidades de safda de uma situagio que vitima especialmente jovens de sexo rmasculino entre 15 ¢ 24 anos de idade, com quatro a sete anos de estudo, ‘Um dos caminhos apontados pelo autor relere- se a0 sistema edueacional, mais precisamente 4 ne~ cessidade de melhoria da qualidade do ensino pa blico, 0 que resultaria em maior atratividade para 0s jovens ¢ representaria, ao mesmo tempo, 0 en fraquecimento das alternativas dsviantes eo forta lecimento da populagio pobre em seu poder de resis 3 violencia. Segundo 0 autor, 0 segmento mais exposto aos riscos da violencia € formado pelos adolescentes ¢ jovens que estio fora da escola, A modificagio desse quar pasa por inicativas que promovam a inclu- so edueacional, a exemplo do que ocorte no Viva Rio, no Sesi ena Fundagéo Ayrton Senna © autor eambém aponta alguns desatios com relagio 20s jovens que jd se tornaram protagonistas da violéncia, destacando a necessidade do reconhe- cimento desses individuos na formulagio de poll ticas piiblicas, 0 estabelecimento de limite, com autoridade, a conscientizasao desses individuos € a abertura de alternatioas rnovembro 2005. 387 Resenhas, pp. 381-408 Passando para 0 campo dos direitos humanos, Maria Victoria Benevidesiréestabelecer relagBes en- «re politica, direitos humanosejuventude, nosentido de também propor oenvolvimento dessesindividuos naagio coletiva ede solidariedade, possivel somente pela recusa da postura do “salve-se quem puder”. A autora recupera um pouco da histéria das lutas pelos dizeitos humanos ¢ chega ao teconhecimento, hoje, da dignidade incrinseca de codo ser humano edaabo- ligio das fronteiras nacionais na revindicagio, para todos, do que foi consagrado na Revolugéo Francesa: liberdade, igualdade esolidariedade © texto apresenta os conceitos de democracia, dlizeitos humanos e diteitos do cidadio a partir de uma abordagem histérica, referida realidade nacio- nal, no intuite de diigie-s aos jovens brasileiros por meio de referencias para a agi colesiva, paraa pees- so sobre os poderes piblicos pela garantia dos direi- tos sociais, bem como para a reflexio a respeito da responsabilidade de todos na construgio do bem co- mum, mediante a agio politica dos eidadios. No campo da politica, o texto de Renato Janine Ribeiro raz rellexées sobre a perda de prestigio dessa dimensio a0 mesmo tempo, avalorizagao da juven- tude nosdiasatuais. Por meio de um apanhado histé- tivo, © autor reconstdi a maneira como a “politic” foi concebida desde a modernidade até os dias de hoje. Segundo sua andlise, principal azo dafaltade interesse atual pela politica é que, especialmente nos palses mais pabrese nas democraciastecentes, os regi- mes democriticos nio obtiveram éxito no quesito romogio social, nio conseguindo resolver questéo da desigualdade social, deixada pelos regimes ditato- rials, que repercuteem uma imagem negativada po- litica, vista como drea desenergizada, que no conse gue cumpriro que prometeu, Para o autor asfontes de energia capazes de trans- formar stuagio atual vém sobretudo dos movimen- tos sociais€ da indignagéo ética. Nesse sentido, ga- snham forga as organizagbes ndo-governamentais, em vireude da asio voluntéria que promovern em bene 388 Tempo Social revista de sociologia da US, v.17,n.2 ficio dos mais pobres,fazendo com que obtenham, cada ver mais a legitimidade das pessoas ajuventu- dec, com ela, as possibilidades de surgimento de algo novo: €a ecologia, um dos destaques dessa indigna- ‘gio moral, que estélevando a redefinigio dos direi- tos humanos ‘A questio ccoldgiea tratada por label Cristina Carvalho, que a entende como um campo bastante promissor para a atuagdo dos jovens na esfera publi «a, canto na politica como na vida profissional, devi do 20 aparecimento de novas dteas de profisional 2asio ambiental, que representam novos espagos de insergio para o jovem brasieivo diante do esgota mento das catreiras tradicionais. Como percebe a autora, cada ver-mais o campo ambiental vem sendo instiuido 1a esfera piblica como bem comum, al- cangando lugar de destaque na discussio a respeito do fucuro da comunidade humana, 0 que far com que sejam promovidas constantes negociagbes entee as esferas pblica e privada, permitindo que, por esa via, os jovens possam adquiri, de forma sgnifieati- va, experiéncia politica ‘A preocupagio com 0 meio ambiente surge, as sim, como novo espago de paricipagio politica dos jovens brasiletos, com o aparecimento de um sujito ccoligics.Trata-se de uma transformagio nio apenas na forma de engajamento politico, mas também na rmancisa de viver ¢ compteender a “politica” © contexto de crise politica ¢ as possibilidades de saida, de participagio e de transformagao dos € pelos jovens brasileiros concorte com a discussio ‘em tomo da percepsio de como se dé a insergio social desses individuos na sociedade de mercado Jarandir Freire Costa, pscanalista, desenvolve seu texto fazendo referéncia a essa situagio, mostran- do.a0 litor como 0 comportamento de muitos jovens, marcado pelo consumo desenfreado e aliado 3 in- diferenga em relagio aos demais, expressa a moral contempordnea. Tiata-se de um nove modo de vida caracterizado pela necessidade de compra continua de novos produtos, pela atengio relativa a0 sucesso ceconémica, pelo cuidado com a aparéncia fsica e com o prazer das sensagies A adesio dos jovens a esse comportamento de consumo coercitiva nio é resultado apenas do apelo publicitirio, mas da erenga em certo: signos relacio- rnados & distingéo social. Ao mesmo tempo, hi um grande aumento no valor dado as sensagéee flsicar prazerosas, pensadas como ponte de apoio na consti- tuigdo das identidades. Juntamente com a moral do prazet, a nova moral do trabalho dé origem & de manda imagindtia por objetos descattiveis¢, inde pendencemente da renda que oindividuo possua, ractetiza uma nova postura diante da vida, um des ‘compromisso pata consigo ¢ para com os outros A questio do consumismo também é objeto de tengo da psicanalista Maria Rita Khel, Em seu texto, a autora comega discutindo o conceico de juvencude, mostrando, por um lado, suaclasticidade , por outro, arelagio hoje etabelecida entre essa dimensio da vida 0 consumo. O jovem, representante de uma impor- tante fatia do mercado, é visto como slogan publicité- rio, imagem deuumacertaclitevitoriosa questingetam- bémoschamados adultos. Independentementedaclas- se social, of adolescentesidentficam-se com o ideal publictério do jovem sensual, belo(a)« live, favore- cendo um aumento da violencia entre aqueles que e Go excluidos dapossbilidade de compra ‘Uma das conseqiigncias da idealizagéo da juven: tude aliada a0 consumo, que também simboliza um rito de passagem em nossa sociedade, é falta de um referencial altemnativo para a ago, 0 que para muitos significa entrada no universa das drogss. Nessecon- texto, muitos adolescentes de classe média identifi- «am-se com os marginalizados ~ com a culeura hip- hop, Porum lado, iso representa uma tentativadere- ccusa da cultura do consumismo uma busca de sentido na extética dos exclufdos, Por outro, hé sem- prea perigo da dentticasio com avioléncia, (Outro ponte destacado pela autora diz respeito 3 ‘contradic hoje existente entre a idealizasio da ado- lescéncia como fase durea da liberdade e de uma me- Resenhas nor responsabilidade ea valorizagso entre osjovens da gravider precoce ¢ da maternidade. Numa sociedade des adolescéncia pode serentendida como um apelo.con- lores individualistas, a concepsio de um filho na servadore sem esperanga dos ovens tanto para a fami liacomo paraasociedade. (© tema da familia é objeto de atengio da antro- péloga Cynthia Andersen Sarti. Em seu artigo, ela mnstrar a diffculdade que envolve a comega por discussio desseassunto, devido& tendéncia & natura lizagéo das relagbes familiares com base na ident cago da familia com as figuras biolégicas— pai, mie e filhos. © resultado & a abertura de espago para dis cursos normativos, que definem o “anormal” 4 © “patolégico”, bases da desqualficago soda princi palmente pelos jovens e familiares percencentes aos estratos sociais mais baixos, que nfo possuem uum. “lugar ow uma autoridade para falar Neste sentido, ¢ buscando afistarse dessas at- smadilhas, a autora prope pensara familia como uma categoria nativa, ou seja, demarcada simbolicamente por um discurso sobre si propria. Assim, dentro de cada cultura, cada familia consti sua propria hist ria criando sua identidade ~e incorpora elementos exteriores 20 elaborar os discursos sobre si, construin- do-se,entio, dialeticamente, Esse diseurso € inter nalizado ¢ sessignificado pelos individuos que tém, na familia, o espago privilegiado para elaboragio © significagéo das primeitas experiéncias vividas. Ao reelaborarem suas expetiéncias, os individuos “eres- cem’ Esse processo de crescimento €0 mesmo tem- po biolégico esimbélico. A familia, um universo de relagbes reeiprocas ¢ complementares, tem no jovem a figura prvilegiada que introduz “o outro necessirio”, por meio da in- sergio de novos reerenciais, representados pelos “vi Fios grupos de pares” com os quaisconvive. De qual quer maneira, para os ovens, a familia € uma esfera de suma importincia, em virtude de se firmar como espago de afetividade e também de conflitos. Bla re- presenta o “sixo de referencias simbélicas” rnoverbro 2005. 383 Resenhas, pp. 381-408 No que diz respeito & localizagio dos jovens no interior da familia, a autora desenvolve a idéia de que, em nossa sociedade, oadolescente nfo tem um lugar social definido e, em virtude disso, ocupa s0- cialmente o que seria uma “projegio do mundo adul- to", dada pelas expectativas familiares. Outra forma destacada de projegio refere-se & tendéncia de en- contrat neleo “indesejével na Familia”, como no caso da questio das drogas. © problema das drogas é satanizado pela mesma légiea que faz com que 0s valores familiares sejam “sacralizados”. A autora re salta que as projegses dos problemas familiares sobre 10s jovens leva a idealizagao do’ mundo fail mesmo tempo em que torna dificil pensar 0 canfivo como algo inerente As telagSes nessa esfera Focalizando os jovens das camadas populares, Gaudéncio Frigotto desenvolve seu texto com apreo- cupagio delevantaradiscussio a respeito da vulnera- bilidade desses individuos no que se refere&escolari- zagio e entrada precoce no mundo do trabalho. Ao mesmo tempo, 0 autor far referéncia aos numerosos jovens que, no campo, trabalham com a familia € Aqueles que pertencem ao grupo de trabalhadores sem tera, Todos esesjovens vivenciam situagées que os expéem a vulnerabilidades na relagio tanto coma «escola como com o tabalho, justificando a preocupa sao existente no Ambito das politicaspiblicas, ‘© autor tabalha com dadosestatistions do IBGE, para apoiar suas teflexGes no que se refere & classifi «acio da populagio jover do Brasil por cor e aga, mostrando haver, nos quesitos escola e trabalho, uma ampla dominancia de individuos negras em situagso de desvantagem em relagio aos brancos que perten- ccm 4 mesma fana eitia, Na esfera do trabalho, es dlesvantagem refere-se tanto 4 necessidade de inser- ‘fo precoce como A qualidade das ocupagier € a0 nivel de remunerasio oferecidos. No que diz respei= to A escola, hé um maior aiimero de jovens negros, cm relagio aos brancos, que no completaram o en= sino médio, © uma reduzida porcentagem de negros aque chegam & universidade, 380 Tempo Social revista de sociologia da US, v.17, n.2 Frigocco ressalta que a questio principal nfo esté relacionada ao cariter individual, nem, a prinelpi, a0 género, cor ou 4 raga, mas‘ classe social, inscita ‘em uma sociedade de estrucura capitalist, com pro- fundas desigualdades e contradigées, com destaque para a realidade brasileira. Sem delxar de considerar as partcularidades dos diferentes grupos de jovens, © autor propée a criagio de polticas piblicas que scjam capazes de retirar todos os jovens eriangas do mercado de trabalho — formal e informal ~ até que atinjam a idade legal de conclusio do ensino médio, ‘que deve ser pensado como educagio basic, tendo por cixo central a articulagao entre“ cultura e trabalho", Para aqueles que jé esto empre- gados, a proposta é criar condigées que permitam a ‘escolarizagio mediante bolsas de estudo, Ao mesmo tempo, o autor defende a instituigio de uma renda, rinima para aqueles que esti fora do mercado, com, © estabelecimento também de uma politica do pri- rciro emprego. ‘A questéo da juventude relacionada a0 trabalho também é objeto de atengio do economista Marcio Pochmann, Para dar inicio as questées que o preo- ‘cupam, o autor recupera a forma como o trabalho dos jovens vem sendo pensada a0 longo do tempo, cvidenciando a importincia do avango de polticas piiblicas destinadas ao financiamento da inatividade dos jovens mediante bolsas de estudo, como medida declevagio da escolaridade , conseqiientemence, das chances de dispura no mercado de trabalho Nesse artigo, 0 autor apresenta elementos para a reflexio a respeito das perspectivas da atual condigio jvenil em face da complexa passagem para a vida adult, ressatando, por um lado, a elevagio da ex- pectativa de vida ¢, por outro, a questéo da auséncia, de perspectivas em relagio ao emprego €3 mobilida- de social, o que tem levado boa parte dos jovens a migrar para o exterior ¢, aqueles com menor poder aquisitivo, a compor o crescente quadro de violéneia, ‘que assola pais. Além disso, @ autor também traz informagdes sobre outros paises, buscando estabele- cer comparagbes com a situagio brasileira no que diz respeito 4 condigio juvenil “Temas como a relevincia da unidade familiar na vida dos jovens diante das dificuldades do desempre- goede independéncia econémica; oaumento do tem- po de preparagio para o ingresso no mercado de tra- balho, com destaque para o papel da educagio nessa sociedade do conbecimento; ¢ as ransformagées © as ctses no universo do trabalho contribuem para o de senvolvimento da diseussio em torno da import. cia da existncia de medidas que assegurem a poste ‘230 do ingresso do jovem no mercado de trabalho, no sentido de possibilcar a ampliacio da escolariza io ¢ sua melhor preparacio (© Programa Bolsa Trabalho é ctado como uma cexperiéncia bem-sucedida nesse sentido, alerando para o faro de que somente 0 desenvolvimento de lum programa nacional de transferéncia de renda, financiador da inatividade, pode enfrentar esse desa- fio, que deverd priorizar a educasio. © enfentamento das novas exigénciae para o in- _gresso no mundo do trabalho éretomado por Antonio Carlos Gomes Costa, que indica algumas iniciativas dest dliante desse universo,relacionada como que denomi- das a0 estabelecimento de uma nova postura nade “edueagio para valores”. Entre essa iniciativas, ressltaaabertura demicro.e pequenos negécias, 0 tr balho cooperative eassociativo,oauto-emprego, ode senvolvimentodaocupagio rural nio-agiicolafeito por meio de pequenss propriedades eo trabalho remune radoem organizagses do cerceitosetor. ‘© autor propse a “educagao para o empreendedo- rismo” como forma de preparagéo das novas geragbes paraomercadodetrabalho, tendoem vistaofitodeque ‘o emprego vem deixando de sera tinica forma de in- sesso nesse mercado. De seu ponto de vista, aidéia de cempreendedorismo esté relacionada 20 desenvolvi- mento de uma atiude proatioa econstrutivadiante do ‘trabalho, mas tamlaém da vida, Nesse sentido, tratase cde pensar em uma abordagem que esteja vltada para ‘uésdimenséesdo desenvolvimento social do overn no Resenhas pats “pessoal”, de formagio do vem auténome; “so cial’, de formagio do jover solidari:e “produtiva’ dedescrvolvimentodojovem competent Essasdimen- sSeserio cicunscitazao processodetransigiodocon- ccivo de emprego para o de empregabilidade, que norte aeducagio para eno trabalho. Para. entcndimento de quests relacionadas &- pecifcamente ao tema das politica: piblicas para a javentude, 0 eitor pode encontrar no artigo da so cidloga Mary Garcia Casto informagSes stuait so le iniciativas ndo apenas dos poderes Executive ¢ Legislatvo, mas também da sociedade civil. A auto ra desenvolve também alguns questionamentas em como das responsabilidades de cada setor envolvio, destacando o papel do Estado na implementacio ¢ na administragio de politias piblicas para a juven- tude, que estejam acordadas pela sociedade civil. Ao ‘mesmo tempo, cla recupera o debate entre politics tuniversais ¢ focalizadas, ressaltando, posteriormen- te, a questio das javentudes ea importincia de ages afirmativas de raga, género e geragio, e advogando a necessidade de que estejam integradas na tarefa de formula propostas. Assim, defende, nio basta que cxistam agdes afirmativas. E neeessirio que as polit cas estejam combinadas A sutora também esd preocupada com a discus sia da necessidade de considerat as distntas ident: dades na construgio de agGes afirmativas que con cemplem as singularidades de cada grupo ~ de mi Iheres, negros ow jovens -, todas pautadas na partcipagio dos individuos. No que se selere 208 jo ‘ven, ela argumenta que as politicas devem ser de- senvolvidas defparalcom as juvenvudes, 0 que revela seu posicionamento em relagi0 20 tema, 20 conside- rar esses individuos como sujeitos ¢atoresdessas po- liticaso,entio, de seus direitos. Castro também des- aca a questio da diversidade juvenil ~ ¢ da necessi- dade de existencia do reconhecimento, pelo Estado, das diferentes linguagens na implementagio e garsa- tia da educagio ¢ de um espago de autonomia para rnovembro 2005. 391 Resenhas, pp. 381-408 A equagio entre politicas piblicas e juvencude também é discutida no texto da sociéloga Amélia Cohn. Ao analisar essa questio, a autora recupera a forma como o pais vem desenhando seu posiciona- smentocm relagio politica pblicase mostraaexis- ‘éncia de uma tradigfo, no Brasil, de concemplagio de dois piblicos-alvos: aqueles que pagam e aqueles que io pagam. O segundo subdivide-se em grupos for smados por ctiangas,gestantes, desvalidos¢, recente mente, dosos: os ovens ficam fora dessa protegéo. A juventude, como um segmento em transi ~ da in fincia paraavida adulta no em lugar no sistema de protegio social brasileiro, estrucurado com base no trabalho asalariado do mercado formal seu espago se ‘eduza programas poncuais, os quais esti geralmen- te dissociados de uma concepsio mais ampla que al- cerceum sistema de seguridade social A autora recupera as caracteristicashistéricas do sistema de protesio social no Brasil, que se traduzem politicas sociaisfragmentadas ¢ que vém atingindo, de forma diferente, distntos grupos sociais, em detri- mento de um sistema amplo e igualitirio, indepen dentemente da situagio em que eada um possaseen- contar no mercado de trabalho, Tendo em vista que hoje, as formas de insergio social so miitiplase di- vetsficadas, ¢ no esto totalmente instivucionaliza das, Cohn propée 0 enfrentamento do desafio de construgio de polfticas pablicas que levem em conta ‘outras formas possiveis de inserao social além daque- Javiabilizada pelo mercado de rabalho~ como classi- camente concebido— uma vez que est potencializaa _marginalizagio da populagio jove. Outro desafioa serenfrentado diz respeito 20 reconhecimento das es- pecificidades das idencidades sociais dos diferentes segmentos juvenis sem que iso represente uma seg- mentagio das politias socais. Por fim, seré impor- tante buscar a aticulagio das politicas econdmicas coms politicassociais,tornando-as artifices de uma nova relagio entre sociedade eo Estado, A referéncia a esses artigos deixa claro que o livro ora aprerentado nio sé abre espaso para a reflexéo 392, Tempo Social revista de sociologia da US, 17,n.2 sobre os diversos temas no campo da juventude, mas Jhém demonsctaaexistencia de possiilidades reais cde mudangas das condigées juvenis, por meio da par- ticipagio dos jovens, do governo, dos movimentas sociais e da sociedade civil. Ao mesmo tempo, deno- ta a preocupagio dos autores em buscar caminhos ‘que viabilizem esse empreendimento, seja pelo exer- cicio da pesquisa e da reflexio nas diferentes éreas do thada do envolvimento pessoal de cada autor(a) em proje cconhecimento, sea pela experiéncia compart {os ¢ pollticas em curso que contemplam o tema da javencude. Francois Dubet, Olivier Galland e Eric Deschavanne (dir), Comprendre: les jeunes. [Revue de Philosophie et de Sciences Sociales, 5]. Paris, Presses Universitaires de France, 2004, 330 pp. Maria Carla Corrochano Sociéloga, doutoranda da Faculdade de Educagdo~ USP. (Obra fundamental para quem deseja conhecer 0 debate europeu contemporineo a partir de contex- {os disciplinates diversos —sobretudo o francés —em torno das principais questdes tedricas, metodolégi- ‘as ¢ politicas relacionadas & juvencude. Reunindo artigos de académicos das mais diversas dreas do co- hecimento — sociologia, antropologia, psicologia, filosofia€ direito -, além de entrevistas ¢ resenhas, Comprendre: les jeunes abord: as que vio da cons- twusio social das categorias adolesncia juventude’ definigio de poliicar publicas voltadas a esses seg mentos da populagio Os artigos sie distibuidor por partes ten diversas: no primeito bloco, um conjunto de trés a Aigos apresenta os prineipais discursos em torno das idades da vida e limites para a compreensio da ju ventude (Deschavanne), a construcio da categoria adolescéncia (Quentel) ea representasio juridica das

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