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SemGntica formal # « andacew \na Liicia de Paula JPME, Alin, VioTHEIc: Semank se becatie Cortera Pie | peipal oem: FO CAN s eae (og) Soiksetugio stica (IE); punciyies dvlamdtioe, ‘ i © € © Sn Paulo’ Contexts 2002 (p 134-159) am . ; . Ca 3 @ # «€ ‘ i € 1. Introdugao 6, no enlanto, pouco es clarecedora, porque, para entendé-Ia, precisamos defini, antes, o que ésignificado. E e essa éuma tarefa drdua! Especialmente porque os semanticistas tém diferentes visdes © arespeito do que sea o significado ea significagao. E porisso que podemos dizer que ‘hj semntica de todo tipo, Ha sem ical. Hi semdntica argumentativa, semntica discursiva.... Todas elas estudam 0 e significado, cada umado seujeito. Tamanha variedade mostra que 0 estudo do siznii- °. cado pode ser feito de vérios angulos. Podemos, por exemplo, investigar a relagdo ages mentais, Lemibremo-nes de uma ira do ieum pedago debolo, Aoinvés de pegar o pedago |, semantica cognitiva, semdntica le- sacas, ideologia e cultura. Uma e vista, que vem sendo debat diz respeito ao uso de palavras como chairman para designar nto a mulher que esteja ocupando um cargo de chefia, Chair- 4 palavra composta da palavra man, que designa ser humano do ‘exo masculino, Com o avango do movimento feminista e com o fato de que ais e mais mulheres tém ocupado cargos de chefia em varios setores profis- sionais, a propriedade do uso de uma palavra como chairman passou a ser questi ‘mostrando uma clara pressao das mudancas culturais ¢ ideol6gi- as sobre a lingua. Podemos também investigar a rede d belece com as outras expressbes da mesma lingua. F isso o que o ling! ‘quando estuda a origem das palavras ¢ compe uma rede de palavras aparentadas, jue tém parte de seu significado em comum com as demas. E assim por diante.. Provavelmente essas perspectivas nfo sto totalmente incompativeis, pois © significado possui realmente virios angulos. O que as diversas teorias seminticas ‘azem € recortar o objeto de estudo de formas diferentes, privilegiando o estudo de alguns aspectos envolvidos na anélise do significado. Conseqilentemente, todas clas vio encontrar limites em seu alcance, Nenhuma teoria cientifica escapa & 0, na medida em que todas elas precisam, necessariamente, recortar (eu objeto de estudo. C c ¢ ymem quai Je uma expresso esta- ta faz , 2.0 que estuda a Semantica Formal? Dentre as varias possibilidades de investigacao do significado, uma delas se concentra no estudo da relaco que existe entre as expressdes lingtiisticas e © importantes das ex- memios, como exem- pressdes lingllisticas € que elas sao sobre alguma coisa. ( plo, a sentenga em (1 a cozina, ¢ Se alguém enuncia essa sentenga em uma situagao em rato em uma cozinha presei (oda enunciagao, dir te disse a verdade, ‘eve comfidelidadea situagio. 10 que tomamos (ou cons! jenos, que é assim qu Seméntico formal 139 hhumanas 0 ser sobre alg belecermos um duos, fatos, eventos, propriedades, rifos como externos & prépria i linguas humanas. Por essa rezo, na Semntica Formal, o significado é entendido ‘como uma relagdo entre a linguagem por um lado, e, por outro, aquilo sobre.o. qual a linguagem fala. Esse ‘mundo’ sobre o qual flamos quando wsamosa linguagem pode ser tomado como mundo reall] parte delé ou mesmo outros mundos ficcio- nais ou hipotéticos, Conhecer 0 significado de uma sentengd, dentro desse paradigms, é, em parte, conhecer\saas condigdes de verdade, Conhecer as condigdes de verdade de uma sentenga significa saber em que cireunstincias, no mundo, aquela sentenca pode ser considerada verdadeira 0 Para exemplificar, vollemos & nossa Senfenga (1). Quando ouvimos alguém enuncié-la, podemos nfo saber se ela € verdadeira ou falsa, Sabemos, entretanto, em que situagdes cla seria verdadcira, Diversas coisas poderiam variar, rato poderia estar na pia ou no arméro, a ‘cozinha poderia ser grande ou pequena, Mas, de qualquer maneira teria de haver um rato na cozinha! Evidentemente, podemos nao saber sc hé ou no um rato na cozinha, mas certamente sabemos dizer em que sitvagées a sentence (1) seria verdadeira. Esse conhecimento é semantico (e, portato, gramatical) em sua natureza: ele faz parte i ficado de (1 des de verdade da sentenga, No caso d ado é a descrigao de uma situagao ei esclarecedora. Mas vamos ver que ela dé uma contribuigao relevante para o estudo do significado, na medida em que ela pressupde a investigagao dos passos que tomamos para chegar a0 cozinha, um, na, rato ¢ cozinha Uma outra propriedade suas naturais nos permiter os. E isso no s6 40 Inactugan tinguisteo tt eda mane plexas. Ou significe suas condigdes de verdade, ‘Vamos dar alguns exemplos simples de como € possivel analisar composi- cionalmente o significado de uma sentence {A composigaio de um sujeito com seu predicado: Quando comppmos umn mnjunto de situagdes nas quais a como eles se compéem derivamos o significado da: cada parte de uma sentenga contribui de forma sistematic . Em outros termos, cada parte de uma sentenga contribu para as eum predicado, d sobre as quais o predicado fala, A sentenca (2), por exemplo, a cidade de Sao Paulo pertence ao conjunto das entidades poluidas. (2) Sto Pauld é poli (ii) A deniotagao de sentengas coordenadas: Quando coinpomos dias sen~ tengas por coordenago o resultado ¢ uma situago que é a soma das situagbes descritas por cad’ uma das sentencas individualmente. A sen- tenga (3) ilustra esse fato, pois descreve uma situagao em que a cidade de Sao Paulo é simultaneamente poluida e perigosa ‘So Paulo ¢ poluida e Sto Paul &pergoss estrutura sentencial que possibilita a seméntica avangar jgnificado das palavras. Se tudo o que soubéssemos fosse © significado individual das palavras que compaem as senteneas (4) e (5), no seriamos capazes de diferenciar seus significados. (50 (6) 0 bandido matou Jot. 104 0 bandido, inado apenas ‘Vemos ento que o significado de uma sentenga nfo ¢ deter Jgnificado de suas palavras, mas também por sua estrutura s do portugués determinam qual & 0 sujeito e qual € 0 objeto na sentenga, Essa estrutura gramatical est rela rméntabdo verbo que, por sua vez, determina, por exemplo, quem & 0 agente © rograma de pesquisa que ‘denotam” as calculamos o significado de expressOes ct xas.a partir dos s sdos de suas partes? m 2, vamos apresentar a nogao de di 3, vamos Seméntica formal 141 3. Denotacgdes Algumas expresses nominais so usadas para representar diretamente um 1 €, slo usadas para referir, Esse € 0 caso de nomes pro prios em (6), das descrigdes definidas em (7) e dos pronomes em (8). (6) Fernando Henrqve Cardoso, Femande Montene, Sto Paso, rut Lian Gulbenn (0 moradores de Carapicuba, 0 p O significado de sentengas com sujeitos formados por expressbes referen- ciais, como (9) e (10), pode ser descrito como atribuindo uma propriedide fo individuo que o sujeito denota ou refere. Em vo denotdo pels descieo defn, ma priedade de serinteligente. Usando uma a gaia tee Ue muagem algébrica, podemos descrever brasileiro pertence a0 conjunto dos significado de (10) do mesmo modo. (9) O maior escritor brasileiro ¢ incligente, \ I descrevero significado de (1 ‘eterao é uma propriedade que se a individuo denotado por nada, Nao podemos descrever o significado de irmando que o individuo denotado por nada det 0 conjunto vazio. Se isso fosse ver- 108 afirmando que o conjunto vazio est contido no conjunt mpede que outras coisas: E nao € isso que se dissermos que a huma en: das coisas etemas é uma mudanca stamos atenco, vernos que, dirego da atribuigdo de uma propriedade a uma 0 predica- so que atribui uma propriedade ao sujeito. Em (11), € 0 sujeito que a opriedade ao predivado. 14 0 significado de (12) pode ser deserito como uma ea ee te ortanto, que a nogto de referéncia/denotacao deve ser estendida, (0is 5 palavras podem representar nfo s6 10s do mundo, mas também nodem representar objctos mais complexos, como propriedades e relagdes entic propriedades. A nocdo de referéneia, portanto, deve ser entendida de uma manei- ( nabitam outros ‘mundos’ como o Saci-Pereré e Bris Cubas. Mais ainda, reconhe- ~e que também usamos a lingua para descrever nossos estados mentais. Assim, or exemplo, a diferenga entre (13) ¢ (14) & que (13) & uma afirmago sobre 0 undo real e (14) ¢ wis afirmagao sobre © mundo dos sonhos de Jorge. dente do Bri sumentou oimposto de rend, (14) Jorge sonhou que o presidente do Bras 4, Relagdes semGnticas no nivel da palavra e no ni- vel da sentenca Imagine que alguém diga a sentenga (15) (15) Suzana continua amar o seu primeira nzmorado Mesmio sern nos darmos conta, uma série de outras informagbes ‘silenciosas* ‘ompanham a enunciago dessa sentenga, Assim, por exemplo, por meio de (15), rbemos certamente que ) sto verdadeiras. Com mais esforeo, talvez >udéssemos também im: € (19), mas nlo teriamos certeza da verdade Seméntica formal 143 (19) 72Suzana jéteve mais de um namoredo, (20) ?22Suzan Como diz Pires de Oliveira (2001), uma sentenga estabelece uma trama de sentidos com outras sentengas, As relacdes semfnticas entre palavras, expressées ¢ ‘sentengas tér sido um tema tradicional da semntica, Como ‘as sentengas sto com- Postas de palavras e de sintagmas, certas propriedades e relagdes semanticas entre ppalavras e sintagmas conrespondem a propriedades equivalentes iat “Mais adiante, tratamos de algumas dessas relagoes. Antes, porém, & necessério en- tendermos a diferenca que existe entre as nogties de sentido e de referéncia, 4.1 As nogGes de sentido e referéncia Uma vez que assumimos que a linguagem fala sobre entidades, estados, ropriédades e eventos de alguma forma concebidos/canstruidos como extemnos & ela, podemos nos perguntar sobre o significado de uma sentenca como (21), Sob esse prisma, 0 significado de (21) pode ser descrito como em (22), onde dizems que duas expresstes lingsisiveas- 0 organizador do livro Introdugdo a Lingilistica Lee José Luiz Fiorin apontam patafreferem-se ao mesmo individwo no mundo real. 1 Jost Luiz Forin, istics 16 0 indviduo nomeado ‘A sentenga (22) parece descrever bastante bem o significado da sentenga (21). Entretanto, se é verdade que (22) explicta o significado de (21), teriamos de aceitar (23) como sinénima de (21). 1880 porque, tanto em (21) como em (23), estamos afirmando uma relagdo de igualdade entre um individuo e ele mesmo, Essa relagdo esté ilustrada em (24), (23) José Luie Fiorn é José Lue Fiorn, oy t=4 0 entanto, as sentengas (21) e (23) ndo dizem a mesma coisa. Nao poderia- mos afirmar que elas sio sindnimas. A sentenga (21) ¢ informativa, aprendemos algo com ela. Sua veracidade x Ela precisa ser ela raz uma suposigao sade ser ue obtemos a partir da ser jedade ée que 144 Infrodugéo 4 Unguistico 1 Estamos deixando de lado a descoberta feita pelo fil6sofo Gottlob Frege no final século XIX de que a nocao de significado de uma expressto abarca dois con- ceitos fundamentais: o de sévripo € 0 de REFERENCIA. A referéneia de uma ex- pressio é a entidade (ou as entidades), 0 objeto ou o individuo que ela aponta no fo caso de uma sentence, sua referéncia é seu valor de verdade, J4 0 uma expresstio é o modo como apresentamos esse objeto, o caminho i (23) Luiz Fiorin tém a mesina reféréncia, ou seja, elas apontam para o mesmo individuo no mundo. Entretanto, elas possuem gentidos diferentes.| Elas nos informam que 0 yeontrado no mundo por caminhos dife- ie aprendemos algo com a sentenga (21) e a sentenga (2: © fiato de que o significado de uma sentenga possui tanto um sentido quanto ‘uma referencia explica por que nem sempre a substtui¢do de duas expresses com ‘a mesma referéncia preserva a verdade de um raciocinio. Em (25), por exemplo, io chamados contextos referenciais ou extensionais, (25) a, Blectra ama seu irmlo. 4 em (26), apesar de sabermos por (26)-c que Orestes a mesma pessoa ( que o homem na frente de Electra, a substituico que fizemos acima nfo é legiti- ma, tomiando a conclusao, em (26)-d paradoxal: io sabe rete dela é seu rms. frente dela € Oreses. 10 substituir uma expresso por ia? Verbos como saber, acreditar, sonhar, imagi ‘agdo subordinada, mas sir ites so usadas para a referéncia Seméntice formal 145 (26)-2 diferente do que ela nto sabe em (26)-b: Poderiamos dizer também que Electra nao sabe que o homem na frente dela & um modo de apresentacto de seu irm@o Orestes. Tendo visto a diferenga que existe entre sentido e referéncia, podemos re- tomar nossa discussao sobre as relagbes semanticas que existem entre palavras ¢ sentengas, notando que algumas delas se estabelecem entre os sentidos das ex- press0es e autras se estabelecem entre suas referencias, 4.2) Acarretamento e Pressuposiga‘o Para entendermos a nogo de acarretamento, precisamos, antes, enten- deta nocao de aieoniata. A hiponimia & uma relacio de sent .do de uma esta incluido no significado da ou ‘mesma forma, o sentido de gato esté incluido no sentido de animal ¢ o de liquidi- ficador esté incluido no sentido de eletrodomeéstico. ‘A nogdio de hiponimia pode ser estendida para sentengas. Assim chegamos, A nogdo de AcaRKETAMENTO, Observemos as sent! ) € (16), aqui retomadas: (28) Suzana tontinaa a amar seu primeira namorado, (29) Suzans amava geu primeira namorado, A situagdo descrita em (29) esta incluida na situagdo descrita em (28). Por- tanto, (29) é hipénima de (28). Uma outra maneira de expressar essa relago é sr que (28) ACARRETA (29), Entretanto, enquanto mento, fazendo-s: tode verdade, que ¢a referéncia de uma sentence Umass arreta uma outra sentenga se a verdade da a verdade da segunda, ¢ a falsidade da segunda garante, nec dade da p Podemos agora ve 146, necessariamente falso que Suzana continua a amar seu primeiro namorado (sen- tenga (28)) Acanretamento € uma relagao seméntica fundamental entre sentengas e de- termina alguns de nossos padres delinféréncia, Ohservem as sentencas em (30): (G0) a, Rona ¢ brasileiro. be, Ronalio jogador de futebol «& Ronaldo € um jogaor de ftebo br Por exemplo, se (30)-a ¢ (30)-b sto verdadeiras, n também é verdadeira. Podemos dizer que as sentengas (a) ¢ (©), porque a situago descrita por (a) e (b) juntas € su 1 sabemos que (30)-¢ para descrever a -as Ronaldo & brasileiro Ronaldo éjogador de futebol forem ve dor de futebol brasileiro também sexd ‘Uma observagio importante a scr versio forte daquilo a que chamamos de implicagio ita ¢ a de que acarretam ferSneia verdade de (28) toma a verdade de (31) apenas provavel, nas nfo necessria Suzane € romantica 1a (32) sugere (33), mas no necessariamente verdade, 3) Hoje 0 ‘Uma nogaio préxima a relagao de acarretamento é a noso de PRESSUFOSIOKO. E importante salientarmos que, neste texto, vamos tratar apenas do que se conhece na literatura por FRESSUPOSICAO LOGICA. Mas os estudos do signi de outras nogdes de pressuposi¢ao, que no caberia discutir a A pressuposigao légica suposigo” € uma suposicao que ada parte do conhe (34) pressupée (35): Semanticatormal 147 (0 apropriado para se enunciat te quanto o ouvinte sabem que Maria 4) 6 um contexto cm que tanto o falan- imava. No caso dos exemplos acima, ie introduz uma pressuposico, ssuposi¢2o ou um caso de acar- Como sabemos se temos um caso de p ti E possivel testar essa diferenga em contextos que preservam pres- suposigdes mas nfo acarretamentos. As sentengas em (36) man fumava, pois todas elas $6 fazem sentido se enunciadas em lum contexto em que o fato de que Maria fumava faz parte da informagio parti- Ihada entre falante e ouvinte: (G6) A Maria parou de fimar, A Maria parou de fumar? , @ nogiio de acarretamento & defi dda em termos de preservardo da verdade) Acarretamento é uma relago entre duas seaterzas, de tal modo que a verdade da segunda segue, necessariamente, da verda- de da primeira. Como (36)-b é uma pergunta & qual nio podemos atribuir nem verdade ou falsidade, a nocao de acarretamento néo se aplica a esse caso, ‘Como pudemos ver no exemplo (36), a pressuposigio é propriedade de uma familia de sentencas' amente| relacionadas: uma asserg&o, uma negagiio, ‘uma interrogago, uma suposicao. Uma forma de testar se ha pressuposigdio é Verificar se tanto a assergio quanto a negagdo de uma sentenga (que 4 origem a toda de sentengas) possuem o mesmo acarretamento. Observem que ira, entdo (35) é necessariamente verdadeira. Do mesmo modo, Se a negacdo de (36)-d (Eu ndo lamento que a Marie tenha parado de fumar) ¢ ‘verdadeira, enti (35) continua sendo verdadeira, Ou seja, tanto Eu lamento que 4 Maria tenha parado de fumar, quanto sua negagao, acarretam A Maria fiumava. Esse duplo acarretamento m je temos um caso de pressuposigGo. -a¢0es podem ser ao mesmo tempo um acar- pressuposic#o da sentenga. Assim, (37)-a acarreta (38), se (37)-a é verdadcira, (38) € necessariamente verdadeira. Ao mesmo tempo, (37)-a também pressupde (38) porque todos os membros da familia de (37) pressupdemn (38), 148 Inkodugdo a Lingtistico # snfo, em alguns pares de sentengas existe acarretamento mas nfo pres- suposi¢ao, Observem (39) ¢ (40): (39) oo trou 10 na prove. ', Joo nfo trou 10 na prove. Bu lamento que 0 Jodo tena tredo (40) Alguém iu 10 na prove ‘A sentenga (39)-a acarreta (40), mas nio se pode dizer que existe uma relagao de pressuposigdo entre essas sentenas. A relaglo de acarretamento s (39)-a é verdadeira, (40) é necessariamente verdadeira. No que diz respeito & pres- uuposigdo,ndo podemos dizer que ela existe porque todos os outros membros da fami 4e (39) nfo implicam (40). Na realidade, com excegao da sentenca (e), nenhuma das ‘demais sentengas em (39) pressupde ge aleuém tenha tirado 10 na prova. Para que haja pressuposigao logica, € preciso que tanto a verdade quanto a ‘alsidade da primeira oragio levem A verdade da segunda oraco. No caso das relagbes tre (39)-a @ (40), 0 que acontece & € verdadeira, entio (40) vai ser verdadeira, Ouseja, se for verdad «lguém tirou 10 na prova, En ,se 39}anto for verdadeira, nfo se pode dizer sue (40) € verdadeira. Ou se Jo tivertrado 10 na prova, niio podemos aber se¢ verdade que alguém tirou 1012 prova. E por essa raz30 que nifo podernos dizer que haja pressuposigao entre essas das sentencas. Diferentemente, em outros pares de sentenga carretamento, Retomemos oseguinte par, repetided (41) No fo Joo que tito 10 na prove te pressuposicio mas niio 8), respectivamente: (42) Alguém trou 10 na prova ‘Como vimos, toda a familia de (41) (que esté em (37)) pressupde (42). Mas nao existe acarretamento entre (41) € (42), porque se (41) for verdadeira, (42) no " precisa ser necessariamente verdadeira. Em outras palavras, 0 fato de nao ter sido ‘a que alguém tenha tirado 10 na prova do que Ninguém tirou 10 na prova, nic que precisa ser feta é que a nogio de envolve Semantcatermal 149 ‘te, a diregdo da conversa, De certa forma, ele t que ‘desafiar’o falan- (43) A: 0 Pedro parou de baterna malher Br Mas o Pecro nunca bateu na mulher! (43)-A, 0 falante esta pressupondo que Pedro batia na mulher, estabelecido para a conversa. Portanto, fazer pressuposigdes ¢ negé-las so maneiras de construir o discurso, 4.3 Sinonimia e pardfrase Outra relagio de sentido entre palavins que pode ser estendida para as sen- 2 relago de siNoniis. A sinonimia é uma relagdo entre duas expresses icas que tém o mesmo sentido, como em (44). mim de denotagio ©. mata sinénimo d= causar ame perceber, no entanto, que di lanclo-se o contexto, expressdes aparentemente sindnimas, (45) preserva o sen- (45) a. A roupa est seca A roupa esté envuta, (46) a Jonge escreveu una carta breve e seca ge esereveu uma carta breve eens Em (47), a substituigdo de careea por calvo também preserva o sentido da sentenga (exemplos tirados de Hari e Geraldi (1990), Tod ealvo son cos, isto é, em contextos em que uss ‘arelacao de sinonimia nao se preser- 150 | Inroducd0 6 Ung sn (49). Podemos dizer que (49)-2 acarreta(49)-b porque tee verdade de Jodo quebrou o vaso, ¢ verdade que O vaso foi quebrado por Joo F cige-versa: se O vaso foi quebrado por Jodo & verdadeira, entio Jodo quebrou vacoénecessariamente verdadeira. Podemos concluir que as duas si Sinénimas ou que (49)-a€ pariftase de (49)-b e vice-versa. Em (50) ¢ (5 ios exemplos de pardfrases. j (49), 0 Joao b Ovaso. ‘versa. Vejam 0 exemplo do pelo Joo. te quanto a Yoans rate quanto a Mari, (50) a, A Maria € to in . A Joana ¢ to int (51) 2. 0 Joke tem livro do Chomsky b. O livre do Chomsky ¢ do Jot. ‘Acescolha enue das sentengas estruturalmente si inocente, A escolha entre uma forma ativa ou passiva, como no exe 'a a organizago informacional da sentenga.) O que é tema — ou fa, € ema ow informagao nova — na voz passiva, € elecidas entre as sentengas, portanto, nao se esgotam, a, magao velha — na forma vice-versa, Asrelagdes es em suas relagbes légicas. importante notar que ACARRETAMENTO € SINONIMIA SENTENCIAL sto nogDes que nto se definem estritamente em termos de zelagdes entre pala- ‘ou ent estruturas sentenciais. Vejam que, apesar de (52) e (53) pos- ica eserem formadas pelas mesmas express6es, suirem a mesma estrutur 1c, se os atletas correram e nadaram, entio cles correram. Mas, io podemos deduzir do fato de que poucos atletas correram € ‘uma situago em que 100 atletas rnadaram que poucos ai participaram de uma gincana que xenas das corridas e que apenas 20 dos 100 atletas tam- 1, (53)-a seria verdadeira e (53)-b seria falsa. Ci ‘a verdade de (53}-b no decorre semantica terme! 151 4.4 Contradigao A nogiio de contradicSo, por sua vez, est ligada ds nogbes de acarretam sinonimia: cla acontece quardo duas expressBes tém sentidos incompativeis com a ) A Maria come mamao de mani, mas no comen ne as sentencas so contraditérias quando ambas ndo podem ser simulta neamente verdadeiras. Em outras palavras, duas sentences sto contraditérias se, ‘quando uma delas € verdadeira, a ov tra 6 necessariamente fas. ‘Arrelagdo lexical & que chamamos de antonsmia pode ou nfio envolver con- tradigdo. Bla se apéia nas nocdes de contrério ou oposto, mas essas relagies nko envolvem necessariau ccontradigfo. Vejam que, apesar das seutengas entre (56) e (58) conterem itens lexicais considerados opostos, elas nio envolvem uma relago de contradigo. Em todos os casos, os pares de sentengas podem ser simultaneamente verdadeiros ou falsos. Em (56), nascer/morrer nfo sio proces rios, mas momentns extremos do processo de viver. Jé em (57), dos pelas duas agdes, Final- 0. (68) a, Carlos dew um presen 'b, Carlos recebew um preset Por outro lado, certas relagdes de antot neamente verdadeiros (ou simultaneamente falsos). (59). 0 cachorro 6e ’, O eachorro de Lauro & bravo. (60), Lauro é alto para umn jozador de basguet. bs, Lauro é bax para E importante notar 4 impede seu,uso no discurso. Infor 182. Inrodug80d Lingdisical (62) Nio sou ee que moro no mesmo bairre que @ Joana, E a Joana que mora no mesmo bait que eu , 44 Ambigtidade c ‘Uma outra relagSo entre palavras que também existe na sentenga ¢ Aambigii- dade. A sentenga cm (56) é ambigua porque a palavra balada é ambigua, podendo significar tanto um tipo de maisica, como, em gitia atual, um acontecimento social (63) A Balada de ontem fi divertida. Mas existem outras causas de ambighidade sentencial. Uma sentenga pode ser ambigua porque a sintaxe preve diferentes possibilidades de combinagai0 de vras em consituintes. Assim, uma sentenga vai ser ambigua quando cla puder mais de uma estrutura sintética. Vejam a sentenga (64), por exemplo. (64) Os alunos os professores inteigentes paticiparam do simpésio, Essa sentenga pode ser usada para afirmar que tanto os alunos como 05 professores que peiticiparam do simpésio eram inteligentes, como pode ser usada ‘para afirmar que todos os alunos participaram do simpisio, mas, entre os profes- sores, apengs 0s inteligentes participaram. As diferentes interpretacdes se devem (a diferentes combinagdes possiveis entre 0 adj alunos e professores. As duas estruturas esto expre: (63)0. [ alunos eos professores] inteligentes]participara do sims, xe. Mas as ambigiiidades ndo se iquelas causadas por diferentes possi dades de estruturacio sintética, ou Aquelas causadas pela presenga, na sentenca, de uum item lexical ambiguo. Existem ambigtidades puramente seménticas que nlo tem um cardter lexical. Observe as sentenga abaixo: de Jobo gosta dele ram um candidato jover irada de duas manei- ela busca de incia do pronome ele pode ser enc aforica de Jo: Semantica formal 153 A sentenca escopo, iferentemente, re sd. 5 4 wolve o que chamamos de relasdes de icos em que a interpretacdo de entre virios eleitores escolheu um ca ‘mas nto necessariamente 0 mesmo. Assim a interpretag2o da sentenca (67) depende da relagao de di buigdo entre varios eleitores e um candidato, ‘Vamos nos detor mais nesses casos, expforando melhor as nogdes de relagtes déiticas e anaféricas ¢ relagdes de escopo. 44.1 Relagées Déiticas e Anaforicas termo cuja denotaco nao é lexicalmente fixa, mas varia segundo o valor que Ihe € airibuido, seja por um contexto extralingt tico, em uma relagéo d tuma relagdo anafrica, Vejam que, em (6: 0, em, 4, 0 pronome ele pode buscar sua =no caso, Jorge- como no era alguém de sexo masculino que esteja | saliente no contexto. Jé em (68)-b, o pronome reflexivo Se refere-se obrigatoria- ‘mente a Jorge, nio podendo ir buscar um referente no contexto, (68) a. Jorge achou que 0 cargo Jorge se machucow a0 ideal para ele A identificagdo da referéneia de um pronome & um t6pico interessante porque envolve varios aspectos de nossa competéncia linguistica, Envolve conhecimento lexie 0, semintico e pragmético, Vamos discutir aqui apenas seu aspec- Wvamente as sentengas em (68)a. Dizemos que, em uma de suas interpretagbes, existe uma relagao dle co-referéncia entre Jorgee ele, e entre Jorge e se. Agora observem as sentengas em (69) (68) a. Cade candidate achou que cargo era ideal para ele », Ninguém se machucou so si. Surpreendentemente, nao podemos dizer o mesmo de uma das relagdes en- tre cada candidato e ele, ou e iguénye se nas sentengas (69)a/b, esas 154 inirodugdoé Lingtistice iFicaAS. Elas envalvem operagdes sobre sos exemplos, elas envolvem quan- as, coisas ¢ escritores bi brasileiro, em (12) s80 EXPRESSOES QUA quantidades de entidades. No caso de n tidades de candidatos, pessoas, eleitores, Sentengas com expressdes quantificadas dizem algo sobre o nlimero de as, Elasnio falam sobre individuos ou entidades determinadas. As elagdes anaféricas entre pronomes e expresses quantificadas nao podem ser classificadas como relagbes de co-refe ‘casos de relagbes de ligago, onde a referéncia do pronome (ou depende da referéncid, varia de acordo com a referén Podemos caracterizar o significado de (69)-b como em (71) (7") a Para todas as pessoas rel 44.2 Relagdes de Escopo Relagdies de escopo sfo relagdes que se estabelecem cuando a interpretagto, ic uma expresso depende da interpretago de outra, cou mencionamos cima, a propésito do exemplo (67). Observer, ainda, as seguintes sentengas: A sentenga (7 parafraseada em (72) ros especificos ~ a Na Figura | temos lemos um diagrama Semanicatormal 155 Figura 1 | Aled es Join <5 > > | Addin (Beira, ee end ‘A Divina Comédia Os Lusiadas : 2 Flea eae Figura 2 Jot = earn eae cone pains a L. Alliada | A Odisséia eas iss Ricardo — ‘Vejam, agora, as relagdes de escopo que se estabelecem na sentenga em (73) Infelizmente, todos os ratos no moreram, Todos s ratos nto morreram, «Nem todos os ratos morrram. esse caso hi também duas possiveis interpretagdes associadas a duas pos- sibilidades de relagdes de escopo entre a expressio quantificada todos os ratos, € o.operador de negagto no. Quando todos os ratos tem escopo sobre a negacio, a interpretaco que se obtém é a parafraseada em (73}-b: absolutamente nenbum negago tem escopo sobre @ expresso quantificada, a interpretagdo é aquela expressa em (73)-c: de um conjunto de todos os ratos, alguns morreram, mas nfo todos. Por fim, examinemos a sentenga (74)-t. bigua. Nesse caso, de que a referéncia de 156 Wrockig oes eterminada antes ou depois da afirmagto de proba temos a imterpretaco em que a prot tagao, que diz respeito & maneira como algumas expresses nominais sto usadas para representar diretamente os individ.s ou entidades do mundo, Em seguida, ‘ratamos da composicionslidade e apresentamos algumas das relagdes seménticas ue se estabelecem tanto no lavra, quanto no nivel da sentenga. Para esclarecer al troduzimos a disiinya0 ivemo-nos na relago Pragmitica ¢ na Sintaxe, tanto a funcional quanto a gerativa. Exercicios 1. Quando usamos a expresséio ‘Pelé’, imediatamente pensamos naquele joga- dor de futebol excepcional, que usava a camisa 10, quando jogava no Santos e nna selepao brasileira. “Pelé representa um dos sentides que nos permite che- gar a esse individuo no mundo. Pense em ot idos para essa mesma referéncia ise os pares de sé abaixo e diga se eles podem ser consideradas 10 & 0 irmao do Thiago. € rman do Joto. \S ©) Meu primo é dono desta casa, 4) Esta casa pertence ao m ) Alguns estados br #) Nem todos os estados bras ) 0 Pedro'vendeu o ivro para Gmlemigo da Joana hh) Um) amigo da Joana’ vomprow a livro do Pedro. 4. Normalmente, as versbes ativa e passiva de uma sentenga so consideradas pardfrases uma da outra, como em ‘O médico examinou a garota’ e ‘A garota foi eximinada pelo médico’. Observe, agora, o seguinte par: ‘Todos os alunos desta sala falar duas ling inguas sio faladas por todos os alunos. Serd que essas duas sentengas poder cer consideradas pardfrases? Dé uma expli- cago para sua resposta, 5. Analise os pares de sentencas abaixo e diga se hé acarretamento da primeira para a segunda sentenga. Justifique suas respostas: ) 0 Pedro cozinhou um ovo, b) 0 Pedro ferveu um ovo. ©) O Ricardo ferveu um ovo. 4) O Ricardo cozinhou um ovo, ©) A Cecilia viu uma menina correndo, 4) A Cecilia viu uma pessoa correndo. £2) 0 Juca ouviu uma pessoa cantando, 1h) O Juca ouviu um homem cantando, je fez calor, ) O Rui sempre come sobremesa depois do almogo. 1) O Rui scmpre come doce depois do almogo, yl dania te: iain acapaaaalaal 0 Jofo tirow note 10 na prova. J guém tirou nota 10 na prova, ) Foi a Maria que ti 6) Alguém tirou 2) OL 0 12) $6 0 Joto sabe o caminho para a casa do Mares 1h) Ninguém mais sabe 0 camiho para a cass do Mal nota 10 na prova, 0 na prov omega a tocar clarineta, Wo tocava clarineta, i) A Regina continua morando em So Paulo. 4) A Regina morava em Sao Paulo. para o Pedro enfrentar aquela crise. 1) 0 Pedro enfrentou a crise. 7. Compare o par de senvencas absixo e discute o comportamento do pronome jem um eachorro ¢ cuida bem dete. 1¢a que tem um cachorro euida bem dele. 8, Discuta a ambigtlidade das seguintes sentengas: ) Todo homem ana uma mulher, ») Trés meninos comeram duas pizzas. ©) O Ricardo quer se corresponder 4) Todas as criangas nao comem. Bibliografia 1), Login Linge. Cambie: Cambridge University rss oad Federal > Meaning ad Grammar. Cambio, Mass The MIT res ofrads- Line laid Linguage. 8 Paul: ithe nae a Sugestées de leitura réncia, e como asrelagdes de to, pressuposigio, contradigo, ambigtidade, ete. mes DE ouvetta, R.(2001a), Semintica Formal: Uma Breve Introdugao. Campinas: Mercado de Letras ‘Trata-se de um livro introdutério, que desenvolve, em mais detalhes, alguns dos conceitos que foram apresentados neste texto. Huron, J.& B, HEASLEY (1983). Semantics: A Coursebook. Cambridge: Cambridge exercicios, 0 que ajuda imensamente na retenao dos conceitos. Entretanto, sua tinica versio disponivel esté em inglés.

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