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Trabalho, lusae ovitencia nas ovouras paulitanas (1830-1888) ‘Maia Helena Machado (Crime e Coidiane A eriminalidade em 8, Paulo (1380-1924) Bots Fauso Colegio Primeiros Passos O que é Capiealismo ‘Affinia Mendes Catani © queé Sindicalismo Ricard C. Antunes © que é Taylorismo LM. Rago / E.P. Morera © que é Trabalho Suzana Albornoz Colegio Tudo & Histéxia Movimento e Pensaimento ‘Operiio Ames de Marx ‘Oswaldo Cogeiola © Nascimento das Fibticas agar de Decca ‘As RevolugBes Burguess ‘Modesto Flotenzano ‘A Revolugio Industrial Brando ipsa ‘A RévolucioInglesa Joie Jobson A” Arruda LONDRES E PARIS NO SECULO XIX o espetaculo da pobreza 7? edigho editora brasiliense Copyright © by Maria Stella Martins Bresciani [Nenhuma parte desta pubicacdo pode ser gravada, ———armazenada em sistemas eletrOnicos,fotocopiada, reproduzida por meios mecinicos ou outros ‘quasquer sem autorizarao prévia do editor ISBN: 85-11-02052-7 Primeiva edicio, 1982 94 edicdo, 1992 Revisio: Newton T. L. Sodré lilo D. Gaspar Capa: 123 (antigo 27) Artistas Grificos brasiliense Av. Marquis de Sao Viento, 1771 (01139- So Paulo SP Fone (O11) 67-9171 ~ Fx 826-8708 Teles (11) 33271 DBLM BR IMPRESSO NO BRASIL. INDICE Introdugao .... 7 A rua e seus personagens 10 ‘A descida aos infernos 2 A colmeia popular . 49 © homem pobre e 0 vagabundo 8 Classes pobres, classes perigosas 109 Indicagdes para leitura ... 123 Para Adriano e Renato. A colaboragao de Edgar ¢ 0 estimulo dos alunos de pés-graduacdo da turma de 1981 tornaram uma idéia vidvel. INTRODUCAO Foole sane sin! chace! de vols, des year, des pas CCeux qu'on a's jamais us, ceux qu'on ne conbalt pas, “Tous es vans! ~ ees bourdonnantes aux ores Plus qu'un bois CAmirgue ou une riche abel VictorHugo(Feules @Autorin)* _-Nenhuma questio se apresenta mais carregada de compromissos para os literatos do século XIX do que a multidao. Num momento em que 0 habito de leitura se espalhava por todas as classes soci iiblico em formagio fazia uma exigénci sua imagem nos romances que lia, Entre outros, fetor Hugo, Baudelaire, Zola e Eugéne Sue, na ‘Malsio sm nome Cae! ores los, passes, Aausis que jamal se virar,agucles que nto se conhecem, “Todes svves! — cdadesatordountes para os ovides Muito mals do que um bosque da América ou um cola de abelas Franca, e Charles Dickens e Edgar Alan Poe, na Inglaterra, preencheram essa expectativa oferecendo 4 sociedade o espeticulo de sua propria vida. Ultra- passando os limites dos ambientes privados, da casa familiar, esses autores se colocaram na posicdo de observadores das cenas de rua. E, nas ras, a mul- tidio 6 uma presenca. Seja'na sua dimensio and- nima, mecdnica de massa amorfa, seja na apreensio de detalhes seus exploraveis até certo ponto, o movi- mento de milhares de pessoas deslocando-se pot en- tre o ematanhado de edificios da grande cidade com- Se uma representacio estética da sociedade. As po- Biilagdes de Londres e de Paris encontram-se com Sua propria modernidade através dessa exterioriza- ‘Gio: admiragio e temor diante de algo extremamente ‘novo. O impeto para esquadrinhar e tornar legivel ese fluir constante tem muito a ver com uma inten- ‘¢20 de conhecimento que implica a prévia experién- | Ga do olhar que divide e agrupa, que localiza ¢ ‘esigna a identidade das pessoas por seus sinais apa- Fentes. =~ A ese acontecimento do século XIX 0 fil6sofo ‘Walter Benjamin foi sensfvel, e seu trabalho A Paris eaminho sedutor para uma incursdo historiografica menos comprometida com os tradicionais temas ‘maiores da hist6ria, No lugar de um fato e uumia presenga que instaura seu tempo proprio nnas Fuas; inaugurando uma nova ordem no mundo,” encontramos na obra de Hannah Arendt, Sol do Segundo Império em Baudelaire nos propde ‘uin. 4 revoluedo. O espeticulo das massas-humanas, a ex- " trema novidade dos pobres nas ruas de Paris tios, anos feyolucionarios, exibindo suas necessidades & falando a linguagem da politica, configura para a Autora a magnitude de um movimento que modi- fica de ponta a ponta o significado do termo revo- lugao. Na triha de Hannah ¢ de Bebjamin procurei fazer dessas multiddes um tema de estudo. Uma primeira incursio as miiltiplas imagens da sociedade elaboradas pelos homens do século XIX. Nessa ativi- dade exploratéria de textos de litetatos,, investiya- dores sociais, médicose administradores, uma grande surpresa: 0 espanto ea geral preocupagio ante a pobreza que a multidao nas ruas revela de maneira insofismavel. Espanto, indignacdo, fascinio, medo: sio reagdes diferenciadas apontando para estratégias de identificagdo bastante solidarias a-uma intengio de controle dessa ptesenca desconcertante. O im- pacto dese acontecimento esta nas piginas deste livro. A RUAE SEUS PERSONAGENS 0 bomen da muldio ae € um fieur. Nelo © jbo wangdio cedeu gata um toque manlaco.. Walter Benjemin A mulfidao, sua presenca nas ruas de Londres ¢ Paris do sécula XIX, foi considerada pelos contem- porfneos coma um acontecimento inquietante. Mi- Ihares de pessoas deslocando-se para o desempenho do ato cotidiano da vida nas grandes cidades com- poem um espetaculo que, na época, incitou ao faset- nio e ao terror, Gestos automiticos ¢ reagies instin- tivas em obediéneia a um poder invisivel modelam o, fervilhante desfile de homens e mulheres e conferem 4 paisagem urbana uma imagem freqientemente as sociada as idéias de caos, de turbilhdo, de ondas, ‘metiforas inspiradas nas forgas incontrolaveis da na~ tureza. Figuras fugidias,'indecifraveis para além de sia forma exterior, 86 se exam surpreender por um ‘momento no cruzar de olhares que dificilmente vol- tardo a se encontrar. Permanecer incognito, ‘dissol- vido no movimento ondulante desse viver coletivo; ter suspensa a identidade. individual, substituida pela condicao de habitante de um grande aglomerado urbano; ser parte de uma poténcia indiscernivel ¢ ‘temida; perder, enfim, parcela dos atributos huma- ‘nos. assemelhar-se a espectros: tais foram as marcas assinaladas aos componentes da multidao por lite- ratos e-analistas sociais do século passado. Walter Benjamin, que fez da multidao na lite- ratura do século XIX um tema de estudo, confere 20 olhar uma importancia decisiva para quem vive nas grandes cidades. O estar submetido a longos trajetos elas ruas, @ pé ou dentro de meios de transporte coletivos, impte aos olhos a atividade de observar ‘coisas e pessoas;.a vida cotidiana assume a dimensto de-um permanente espeticulo. Esse olhar pode se resumir a um relance. Baudelaire fixa poeticamente © seu furtivo encontro com uma mulher como um arGntese préprio da situagto de rua. A figura da mulher que passa suspende 0 tempo e o barulho ensurdecedor ao seu redor; por um instante o olhar se detém nas mindcias dessa figura feminina, O olhar retribuido, ainda que num relance, vai além e define a cumplicidade possivel entre estranhos que se particularizam: eles sabem da fugidia possibilidade de um reencontro; eles sabem o que deixaram de janhar ao se submeterem ao acaso.(Les fet du “ eicontros nas grandes cidades. “‘Nas dobras sinuosas ‘das velhas capitais, onde tudo, mesmo’o horror, se {torna encantamento”, Baudelaire encontra “as velhi- has" ¢ as ‘observa refletindo sobre a condicio da velhice, de antigas mulheres que ‘ainda: caminham “estbicas e sem queixas através do caos das cidades viventes"". Ainda 0 acaso o faz observar 0 velho que se desdobra em sete velhos, tantas as solicitagdes sofri- ddas em meio a “cidade formigante, cidade plena de sonhos, onde os espectros agarram, em. pleno dia, aqueles que passam”. Onde “os mistérios resvalam por todos:os lugares, tal como a seiva dos canais””. ‘A incerteza quanto ao que se vai encontrar 6 compensada pelo encontro certo, cotidianamente confirmado,, como fluxo formigante, cabtico, da multidio. Nela, Baudelaire cultiva sua solidio, a condigdo de “flaneur". Dela, Baudelaire faz inspi- ragio necessaria, Nao pretende decifré-la em seus mistérios © seus petigos, aceita-a como caos. Sua » feniincia no 0 impede, contudo, de assinalar os as- pectos alarmantes e ameacadores da vida urbana. Paris da metade do século configura um espeti- culo diurno, por completo diverso daquele que a noite encena. De manhi cedo, ainda madrugada, “o Sena se encontra deserto e Paris, como os velhos trabatha- dores, esfrega os olhos enquanto empurra suas ferra- mentas: a hora em que o trabalho desperta”. A. cena urbana se-vé-ccupada pela multidao dos traba- Ihadores.-Os personagens da noite sio outros. “A noite enéantadora” € amiga do criminoso; até no movimento lento'e silencioso do passo do lobo se faz sua céimplice. E bem verdade que a chegada da foite, da “amfvel noite”, também se faz desejada pelos que trabalharam; nessa hora 0 operario cur= vado pelo cansaco retorna ao leito. Es:e configura, porém, um movimento de recothimento, da in dade circunscrita ao interior das casas, Os combate, do dia se interrompem, os soldados-do traballio re- pousam, os deménios despertam e preencliem 0 es- pago urbano. A multidao é outra. O formigar das prostitutas, os escroques atentos junto as mesas de ‘jogo, 0s ladrBes na sua labuta silenciosa: tais so seus ‘componentes. Também o barulho da noite se faz com ‘outros sons: 0 assobio das cozinhas, a algazarra dos teatros, o troar das orquestras, 0 rufdo fspero e tenso das mesas de jogo, ‘Nessas horas escuras e defisas, 0 acaso se trans- figura em temeridade. Janin é menos complacente do que Baudelaire: “A Paris da noite, afirma, & assus- tadora; € 0 momento em que a nagao noturna se poe em marcha". Em meio as trevas que tudo dominam, clardes de luz indicam a presenca dos catadores de Jixo com suas lanternas e suas vidas As expensas das imundicies, gritos interrompidos denunciam os 1a- dries em plena ago, passos abafados dao conta do vai e vem das prostitutas... Enfim,“o terror é gran- de, tertivel, imenso. E 0 ouvido reconhece o ruido surdo da patrulha cinza que comega sua cagada de- sesperada. Esta € a populacdo fervithante ¢ furtiva © que Paris deixa viver nos becos pavorosos, dissimu- + lando-a bem atras dos museus e dos palécios; popu- lagao que usa o linguajar das prisdes para se entreter 2 Soecllneateretutadeitee | Londres e Paris no Séeulo XIX com seus temas favoritos — assassinios, roubos, exe- | cugbes. & uma verruga Virulenta sobre a face dessa | grande cidade”, completa Janin (Un hiver a Paris, ! 1845). ‘A atividade do othar se torna mais dificil quan- | do a0 cair da noite a multidio se adensa tormando-se | 3 mais profunda se torna a sombra. Nessas regides 4 escuras, a multidao realiza o cotidianamente reno- 4 vado espeticulo da promiscuidade, da agressio; em q suma, todo o perigo pressuposto como presenga em 2 repouso, durante o dia, pée-se de tocaia em’ cada reentrancia da rua, em todos os becos mal ilumi- nados. Para os contemporaneos, na noite, sob a luz dos lampives, a multidio assume a imagem-acabada de alguma coisa obscura ¢ inextricdvel. Sao apenas perceptiveis vozes, sussurros, vultos, olhares, passos. Em Victor Hugo, a imagem do caos de uma multidao sem nome é encarregada da representagio do movimento pao domado de uma massa humana cujos componentes se subtraem a qualquer regula- ridade visivel imediata. As metiforas da selva virgem das pradarias americanas compdem a figuragio estética do perigo velado e iminente. Nas ruis'de | | Paris, o assalto dos ladrdes se assemetha ao ataque de indies; 0 rufdo da cidade lembra o irritante, incon- trolével ininterrupto zunir de uma colmeia de abelhas. Imagens como as do oceano, de floresta, de gueira, do inferno, de doenga, foram recursos vies i Wtevaturd bas dar nota Ge'dn tesa Rua de um bairro operério londrino. (In: E, J. Hobsbawn, | insondivel. Quanto mais numerosos. os. homens, | | ‘The Age of Capital, 1848-1875.) Maria Stella Mahi B > Adentificando elementos cornuns do viver mullidio como estar & mercé das vagas irregulares " dovaceano ou dos habitantes Selvagens da floresta ainda com o estar sujeito as presumidas condigbes de Gladia nd inferno, os autores do século XIX forait compondo uma representagio estética do’ univetso «das cidades. 0 espetdculo das ruas torna-se visivel ‘nos textos. VViver numa grande cidade implica 0 teconhe- cimento de méltiplos sinais. Trata-se de uma. ativi= dade do blhar, de-uma identificacto visual, dem “saber adquirldo, portanto, Se o olhar do transeunte “qué fixa fortuitamente uma mulher bonita e viva ou “um grupo de mogas voltando do trabalho, presstpde ‘uni conhecimento-da cor do tuto e das vestimentas operarias, tambénio olhar do assaltante out do ‘polical, buscando ambos a sua presa, implica um nheciniento espécifico'da cidade. Os meninos la- ddrdes que acolhem Olivier Twist quanido'de sua che- xgada a Londres sabem divisar na multidao'suas pos- _siveis vitinias © 56 se latigam ao ataque, bem avaliado ‘moviniento.circundante:” ‘Alifs, 08 personagens de Dickens sto sempre “afgutos observadores do-que transcorre nas ruas. O ‘olhar casual do st-Pickiwick divisa uma cena:de rua fem Londres: a aproximagao repentina de inimeros tempregados de escrit6rio numa praga central da ci- ‘dade, entre as novee mela é'dez horas da manha. Nao the causa surpresa o caminhar solitrio © apressado de homens que olham para o rel6gio da torre, regu- Jando o ritmo de seus passos em resposta ao lapso de ‘batho. "Os das nove ¢ meia corriam: pressurosos, | —enquantoos das dez recaiam num passo de uma lenti- tiddo aristocratica.” Mas no s6 os empresados de escrit6rios participam dessa cena matinal, Perma- necendo em seu posto de observacao, 0 sr, Pickwick anota ainda que “a todas as janelas, conto por gia, surgiam cabecas; os carregadotes tomavam seus, Postos para o trabalho do. dia; as lavadeiras preci- pitavam-se para fora, de sapatos acalcanhados; 0 carteiro corria de casa em casa”, afinal, conclui, “todo o enxame do trabalho andava em grande azé- fama" (As aventuras do sr. Pickwick). ‘Aaiti, a atividade do olhar da conta por inteiro ‘da composigo da cena de tua. Mas a referencia a um movimento intermitente ¢ ritmado de. hiomens nas suas ocupagdes didrias, compondo 0 tecido social da grande cidade, desvenda 0 tempo util do trabalho ‘como pardmetro necessfrio a atividade do olhar. E ele.» ordenador imperativo, a poténcia disciplina- dora invisivel de todas as atividades. Essa forga cons- trangedora do tempo também aparece. nas. obser: vvagdes do sr. Pickwick: "O relogio det dez horas e os cescreventes jorravam cada vez.com mais pressa, cada qual transpirando mais que seu predecessor”: ‘Com certeza, nessa primeira metade do século, as atividades urbanas haviam perdido qualquer vin- culo com o tempo da natureza; de hi muito se enicon- ‘tram subordinadas ao tempo abstrato, ao dia impla- ayelmente dividido em 24 horas. A introjegdo. dessit specifica nogdo de tempo é, como afirma Thompson ‘Maria Stella Martins Bresciani Londres e Paris no Séeulo XIX (Tiempo, disciplina de trabajo y capitalismo indus- trial), indispens4vel, para a constituigo da socie- dade. Fla arranca o homem da légica da natureza, dos dias de duragio variada de acordo com as tarefas a cumprir no decorrer das diversas estacbes do ano, © 0 introduz, ao tempo stil do patriio, o tempo abs- trato e produtivo, 0 ‘nico concebido como capaz de gerar abundancia e riqueza, e, mais importante ain- da, 0 tinico eapaz de constituir a sociedade disci- plinada de ponta a ponta. Em obediéncia ao seu continuo e irreversivel fluxo, a repetigio diaria dos ‘mesmos pereursos em diregdo as mesmas tarefas em ‘momentos previsiveis desse evolver linear, a socie- dade do trabalho se institui e clabora sua propria imagem. ‘A multidao londrina, no sey movimento inin- terrupto de contetido varidvel em fungao do tempo, foi minuciosamente anotada por Edgar A. Poe no ‘ano de 1840 (O homem das multiddes), Colocando-se naposigiodeobservador casual fascinado pela intensa smovimentago de uma das ruas centrais da cidade, 0 ‘Autor lata: “go éscurecer, a multidao de momento ‘a momento aumentava e, ao tempo em que as luzes foram acesas, duas densas e continuas marés de povo passayam apressadas”. O fascinio de uma “emogio nova” leva-o a se deixar absorver completamente pela “‘contemplagdo da cena daquele tumultuoso mar de cabegas humanas”. Suas observagdes, de inicio genéricas, passam aos detalhes; ele examina “com minudente interesse as inimeras variedades de figura, roupas, ar, andar, rosto e expressio fisiond- mica”, ele agora revela um conhecimento preciso dos elementos que compoem essa maré humana. A pecu- liaridade das figuras permite-The agrupé-las e a0 mesmo tempo hierarquizar os grupos. ““Em alto grau, 0 maior mimero daqueles que passavam tinham um porte convencido de gente ata- refada e parecia estar pensando apenas em abrir caminho pela multidao. Outros, classe ainda nume- rosa, mostravam-se inguietos em seus movimentos, Nada havia de muito peculiar nessas duas grandes, classes. Suas roupas se inclufam na categoria que exatamente se define: decente. Eram sem davida nobres, mercadores, advogados, lojstas, agiotas, os Eupitridas e 0 lugar-comum da sociedade, homens de lazer e homens ativamente empenhados em-negé- cios sob sua exclusiva responsabilidade.” Em seguida nosso observador se detém na “tribo dos escreventes, inconfundivel em duas notiveis divi- Bes: 0s pequenos escreventes das casas baratas, os jovens cavalheiros de roupas justas, sapatos brilhan- tes, cabelos abrilhantinados e labios insolentes, usa- vam 05 restos da classe alta e isso envolve a melhor descrigo de sua classe, e os es ceventes principals das firmas sélidas ou sujeitos de confianga, conhe- cidos pelos paletés e calgas pretos ou marrons confor- fortaveis, eabega levemente calva, orelha direita aca- banada, chapéu e relégio preso por corrente de ouro de modelo grosso e antigo, afetavam responsabili- dade”. ‘Um outro tipo, ainda muito numeroso, de “indi- viduos de aparéneia vivaz” fot identificado “como teira, de que todas as grandes cidades andam infes- tadas, cuja enormidade do punho de suas camisas deveria trai-los imediatamente”. Logo depois, recor- ta na multidao “os jogadores profissionais, em quan- tidade nao pequena, facilmente identificdveis. Usa- vam roupas de todas as espécies, desde a vestimenta berrante e audaciosa, até as vestes do clérigo eseru- pulosamente desornado, Eram todos, contudo, facil- ‘mente distinguidos pela colora¢do amorenada e oleo- sa, um vaporoso escurecimento dos olhos, 0 palor e a compressio dos labios, pela tonalidade da voz. pelo olegar em Angulo com os demais dedos”. Ao lado deles, “homens algo diferente, porém ainda passaros da mesma plumagem, cavalheiros que vivem da sua batalhoes: habilidade ¢ rapinam o pGblico em 4 dos jogadores ¢ 0 do género militar”. Enfim, nosso observador penetra “nas camadas mais baixas da multidio onde encontra temas de smeditagao mais negros e mais profundos. Vi reven- dedores judeus com olhos de gavidio; atrevidos men-

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