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i Comparative Suscles in Sociey and Musory, 241978): 259-85; Johanston, “Literacy in ‘Sueden"; “Facets of Education in the Bighcenth Century". ed. James A. Leith, Studies fon Volare and the Eighteenth Century, 1611970. 533.Pam alguns dose alse, vej Graf, Lierocy Myth, cap. 7; Creasy, Literacy and ‘Social Order, Sehanaton, “Literacy Stdiel”. Vee umbémn not 7, acima. ‘34.Daa Lacy, “The View from the World of Publishing”. in Television, the Book, ond the (Classroom (Washington, D.C. Library of Congress, Center forthe Book, 1978), pp. 82 5 35 Johan Gahung,“Litercy, Education, and Schooling — for What?” in Turning Point Baile, p. 93. 36.4 palave lueracy tem sido usualment ndutie por aljeberizagdo. Neste € nox outro atigon traduridon do inglés constants dete admero de Teoria & Educagdo optv se por traduzi- por alfabetimo, ume vex que afebercasdo desiga »agio de allbeizare nio s gualdade ou estado de secalfabeizado, expresso pela palavainglsa, Em geral pensate so exis uma palavra em portugués que traduza adequadamente Wieracy, havendo sé {qvem proponta& inveng¥o de um neologismo como leramenio ov letrordo. Encanto, Uma consulta aot diciontrios mostrant que as defnigées de lieracy ¢ alfabeiomo sio ‘praicamentecoincidentes(compare-se, por excmplo, a defnigio do American Herioge Dictionary ¢ a do Aurél). & curioao que em portuguts seja amplamente corrente ‘palavra anabetisma, mas no a que design o eatado contri, aabetisma. Deve haver tiguma ligagto entre & sertnicn eu realsade social. Em alguns poucot catos,waduzi lrracy por afabeizagdo, parculumente so caso de expresiSes consagridas como + “campanhas de alfbeizagio". Exe € também o caso do tivo da caps, nese cs0 por sides edtorits (N. do T.). o Este artigo foi originalmente publicado na revista Humanities in Sociery, v.4, 4, 1981, com o titulo Reflections on the history of literacy: Overview, critique, and proposals. Transcrito aqui com a amével autorizacio do autor. Tradusio de Tomaz Tadeu da Silva o Harvey J. Graff 6 professor da University of Texas at Dallas. HC#ARD.y- 1440 Hook nw 2 Chuoigo. (A Comoreniny bt, sh fl /*S. Teoria & Educagto, 2, 1990 A escolarizagao dos saberes elementares na época moderna Jean Hébrard EVs eee pao srs aes wa tri i icin? & resposta imediata ¢ geralmente negativa ou dubitatve; esses saberes, que se ‘ransmitem nas e pelas instituigSes dedicadas &s primeiras aprendizageas, slo savoirfaire, sem correspondeates nas citacias ¢ sun hierarquia. Assim, nfo exist no século XVI, nem existe hoje, no campo das disciplinas universiris, fo lado da matemitica ou ds geograia, um campo de estudos exjo objeto cespectfico fosse a leitur. Em tra, 0 acesso a nio importa qual conteido de Saber pressupée sempre que se taba dado anteriormente de forma eficaz un trabalho em tormo descas aprendizagens prévias que, por nlo terem legitimidade disciplinar, so, de alguma forma, o scompanhaneato obrigatério de tados os ‘outros. Dotados de uma coertacia dfbil e, por iss0, pouco diferindo uns dos ‘outros, eles tendem 1 se confundir com 0 esforyo global de educagdo iimposto pela escola A crianga que the €confiada. Eles pode se efeivar de formas rite ‘Yariadas nos inomerdveis dspostivos de instrugio que, de acordo cor os lcait eas épocas, so excarregam de transmit-los. Seria assim muito dificil de presisar, (quando uma crianga recta 0 Pai Nosso em seu abecedirio, so se trata de ums ho de leitura ou de uma lho de religito. Nes petites écoles do Antigo Regime, « preocupasio com a instryio rarumente ullrapasa as exigtocas de uma alfabetizago limitada mas que parece, ta Franca moderoa, dever acompanhar necessariameate toda instrugio cist clemeatar. Ov asberes easinados pareciam ser enlio, nfo discplinas, mas ap iferentes fcets das pritica oxdinirias da cultura esrta, indistintamente coneebida como suporte da doutrna religiosa ou como instrumeato necessiria t 0 de sua vida e de suas orupages, por mais comuns que fossem. o outro extreme, esses sberes elementares podem ses sonsiderados com ‘ao tendo mais que pretiminares para a entrada nos ciclos de estudo expicitamen- te destinados a transmiticossaberes dscipinares, a0 menos 90 seatido forte dete termo!, Af sio exigidos aspects ao mesmo tempo epistemol6itos (saber excl constituldo), pedaggios (pritica escolar distnt, caracterizada por exercicio: cos) e cultura (saber epritica reconheridos como possuindo um vo. Teorla & Educasdo, 2, 1990 6 formativo para a crianca ou o adolescente). Tal foi a situasSo, durante muito tempo, nas “clases baixas” dos colégios do Antigo Regime e talvez também nos “pequenos liceus” do século XIX. Mas este estatuto propedéutico nio reforsa 0 imteresse outorgado aos saberes elemeotares; pelo contririo: nos colégios, as classes de gramdtica slo para os mesresiniciantes e nfo se aprecia quase nada abrir uma classe de sexta” para as criangas que chegam ao estabelecimento sem taber ler. Entre as elites urbanas que pensam ser seu dever assegurar a seus fos wma educasio ¢ uma alfabetizagio mfoimas antes de qualquer escolariza- lo, a mic de famfia ¢ freqientemente considerada digna de assumic s reponsabilidade dessas aprendizagens. Quando se recorre a um especialiss, suas compettncias parecem advir menos de uma babilidade técuica pedagégica reconbecida que da babilidade resultante da pritica que todo bom preceptor sabe ‘cupregar para inciar sem dificuldades uma educaggo particular. Assim, os locais (4s primeinas apreadizagens sio tanto ndo-escolares quanto escolares ¢, mas cols, elas siotratadas muito diversamente de acordo com as taetdrias futuras criangas, Tudo isso coloca dificuldades adicionsis para se pensar os saberes denentares. ‘Tentar abordar com os métodos e as exigtacias concetusis préprios de uma Wistria das dscipinasescolares a evolucio das priticase dos saberes elementa- ‘es pode, entretanto,justificar-se ao menos de duas maneiras. Por um lado, pemite compreender melhor como se “escolarizam” priticas culturis’ cy ‘isribuigio social permanece até a época contemportnea complexa ¢ problem tia: 0 alarme provocado pela constaacio, desde inicio da década de 80, de um ‘zlfabetismo recorreate entre certos grupos sociais ilustra x permanéncia destas ‘estes. Iso significa, por outro lado, deslocar-se aos limites de um campo e Als encontrar obrigado a refinar as problemslicas e os méiodos de uma drea de emus, a histéria das disciplinas, que ainda tenta se constitu. ‘Que so, pois, estas primeiras apreadizagens? Nos discursos pedag6zicos ccntemporineos, em particular aqueles dos reformadores da Tercira Republica, estima sido ideatificados pela trlogiaer-escrever-contar, Restrigio comprecas(- velna medida em que se optem assim os primeiros anos de um curso primério sos que se Ibe seguem e cuja ambigSo vai até so ponto de oferecer aos alunos 08 sateres metédicos de um eaciclopedismo popula cujossimbolos obrigatérios io (0 Tour de la France par dewx enfants, 0 “petit Lavsse” ou a gramdtica de Larive ¢ Fleury. Lerescrever-contar slo certameate of pretmbulos de uma instrugio ‘asada na prtica regular dos manuais escolares, na ullizagio difria do eaderno € mama bateria de exerccios (cépia, ditado, andlise gramatical, problemas de sritmdtica, redagio) que, ao longo de toda a duracZo de umm curso met6dico, 4e ‘epetem com a maior regularidade, Mas estamos j4 numa escola que adquiriu, “Correspondente nossa quinta série do primeiro grav (N. do) 6 Teoria & Educagao, 2, 1990 centre a Tei Guizot ¢ «ei Ferry, suas formas contemporiineas e que, para ise, soube “disciplinarizar” de mancira muito explicita « transmissfo ianizagio ena medida em que as aticulag ce onl e memorizagio escrit, ene leitura e esrits, entre ce pritica escrita da aumerasio obedecem a outras divi 5. Ese obrigado, entrelanto, a constatar que # maior parte dos abalbox iaados sobre a escolarzasio na época moderna ou contemporines” faz do ler tscrever-cootar um conjunto de pritcas desde logo idenifcfveseidentificais, constantes 10 aivel da longa dunsio, mesmo que variem com 0 tempo a rmodalidades ¢ 0 grau de compettocia esperado dos alunos. Essa mancira de descrever os ensinos elementares tem permitido medic 0 progreso da allabetizacio ¢ da instrugia’, mesmo quando aqueles ensinos no #80 0s fins esscnciais da excolarizacio. Sabe-se quanto esta avaliagioretrospectiva do sucesso da escola tem sido objeto de reflexdo histrica cada ver que instituigio escolar encontra-se na linha de frente da cena politica na Franga.* Mas cla nio permite compreender como se deslocaram em diregio 1 dispositives cexcolares mais ou menos elaborados determinados processos de transmissio de compettacias e de saberes que até entio eram da competEncia de outros ageates Ela tampouco permite compreender como, na bist6ria desses dispositives moultiformes, essas aprendizagens elementares se consitvem, se io ec *disciplinas", a0 menos em prilicas coerentes de ensino. Em suma, trae de ‘ver como esa trilogia, a nossos olbos tio natural, é produzida ma e pela excoarizasio, . ‘Nio se pode, pis, partir do ler-escever-conta, nem mesmo dum exteasio dessa trilogia bcalequese, cuja importiocia no interior das primeiras aprendia- tens pio desaparece seaio com ts eis lacas. E preciso, ao contrrio,localizar 1 série de ruptuas, ordenadas de maneira complexa no espago social, no espaco das instituigdes ¢ dos tempos, pelas quis se avtonomizam, se aticulam ¢ 3€ ‘expressam as aprendizageas elemeatares ta medida em que cas s¢ escolaizaa. Bo que tentaremos faze" aqui, nfo tanto para fazer um inventirio exausivo das formas assumidas por ess aprendizagens como para testar, com base nalgens exemplos simples, a focandidade das hipbeseslevantadas. E necessirio, inicialmente, dlimitar os contoruos do campo a que se refere 1 pesquisa, Neste ponto, lo bé problema algum. Desde bf dois séculos que os saberes clementaes foram assiilados ts pritcas de base da cultura exrits ‘Todos estio de scordo a respeito da oecessiria mediagio que exigem ess spcendizagens. Adquii o uso da palavae da linguagem, dos gstoscoilznos de se viver justo, da meméria inereale 10 grupo familiar, bs exigeacias de ‘sociabilidade do bairro ou da profissio sho igualmente aprendizagens que se fazem “oaturalnente” 80 exercicio mesmo das atividades quot Teoria & Educgto, 2 1990 @ ~ @ My 1 . cruzamento permanente das geragOes. ‘menos um lempo e um espago especficos, com freqiéncia wi te reconhece capacidade de instruir'e a quem se remunera, enfim, instrumentos sem o8 quais a transmissio nfo poderia ter lugar. Se » escola 4 sempre o local dessa mediagSo, & porque cerios grupos sociais, introduaid desde uit geragées na c it isi ‘eas no domisio familia. mais difusa, quando o analfabetismo se toroa a simples maniestagio de ‘marginalzagio social — como & 0 caso na Franca entre o fim da Primeira ide Guerra € 1 explosio demogrifica que se segue 1 Segunda — entio a ‘se toroa para cada crianga, qualquer que seja sua origem, « insit imeiras e precoces eprendizageas.* ‘uma origem & mais dificil. Lembremo-n0s de como Heari-Irénée Marrou”insistia sobre a profunda transformasio que conheceu s escola no mundo ‘atigo quando cla visa nio mais reprodugio de uma casta de profissionais da cexcritura — of excribas — mas a formagdo de todos os cidadios através de sua Alfabetizasio. E um fendmeno andlogo que poderia nos servr de limite superior, aquele pelo qual os dspositivos encarregados de produzir os lérigos, dos quais, so dotados a Igreja e certs Estados (essencialmente 0 Estado carolingio), se transformam em dispositivos de educasio das criancas de grupos sociais no inicio tstreitamente circunseritos e depois — mas foram necessirios séculos — cada vez aais numerosos e diversos. Por certo no se trata em nada, enti, da formacio cidadio, As coisas em jogo so de uma outra ordem, mas nfo unfvocas. ‘Frupos que, em primeiro lugar, ao final da Idade Média, vollam para sua uilizago as instituigdes ou os profissionais suscetveis de transmitir eficazmente 0s saberes de que eles ttm agora necessidade, estio no minimo tio preocupados com sus salvagio quanto com seus negécios. Sio com freqGtacia as burguesias vurbanas, grandes ou médias (desiguemo-ls assim na falta de uma expressio aelhor), que desejam acrescentar a seu capital cultural proprio aquelas artes da cccrita sem as quais fo € ouis poss(vel a conquista (ou # manotencio) dos poderes intermeditrios econ6micos ou polticos. Foram elas que descobriam ‘sssim uma uilizagio mais pessoal, mais fatima da religiioe de seus rituais, que adquirirm a certera de que garantir sua prépria salvacio nfo € algo que 22 primeira ruptura pode ter-se dado, pois, desde que nascerm, numa forte que esté prestes a ve tomar na Europa das cidades mercantis, os primeiros sinais de uma devotio moderna. Com grandes antecipagées nas cidades-reptblicas do primeiro Renascimento italiano, cedo abertas As formas mais elboradas da cultura mercantil ao mesmo tempo que amplamente dotadas daquelas insttigBes onde se formavam, sombra dos palicios episcopsis ou principescos, os elérigos ¢ os intelectaai sas culturas profissionas, transformadas em cultura escolar das elites urbanas, so certamente um dos estratos em que as sprendizagens elementares do 68 Teoria & Educagto, 2, 1990 sécolo XIX sio constiuldas. Trataremos de morta, Mas aio fo 6 iso, Um Segundo se esboga com uma ligeira defasagem no tempo (Enecescrioexperar as Reformas), mas noma perspectiva pratcameate oposta wo primero (ee nasce da oferta de escolaizagio mais que da demanda © afeta a gropos socais sinds largamentealbcios As preocupagSes da alfabetizacio). Precisamos pois examinar jgualmente com tleagio esse momento em que as Igrejasconsideram necessdrio ipa a formagio relgiosa das “criangas e dos rales” nfo mais & prédica e aos situs do ano litdrgico, mas a uma slfabetizasio mais ou menos geoeralizada. £ ‘eceasirio falar de ruptura? Talvez fosse melhor falar dum novo exparo de Contradicio e de violencia (simbdlica ou real), pois que opSem bs formas Sempre renovadas de uma cultura orale gestual propria da tradiio crist, as formulas dma *citacia” da salvagio, também chamada “doutrna”, da qual 0 fiveo € manifesigio mais concreia ¢ Teitra » form privilegiada de spropriagio. De Lalero a Calvino, os reformadores inveotam assim novas “primeins aprendizagens”, tanto mais importantes quito se as imagina to cseencins }salvagio das slmas quanto para o recuo do papsmo. A ealequese, por umn longo tempo confundida com a prtica pastoral ordintria (a distribuigio fos sacramentos no se dé sem algumas explicagbes),autonomiza-see comesa 3 respeito de modo privilegiado As crangss. Deveria ela ter confiada is familias? Ao clero? Ou, 0 contrkrio, exige ela 0 estibelecimento de novas insttuigdes escolaes? O debate atravessa as Igrejas reformadas resi, nolens volen, sobre a Igreja catblicd. O concflio de Treato aio seado 0 ponto de partida de uma reconquista que vai até o séeulo XVIII. Mas ele ett igualmente ‘a origem de uma reflexio sobre as formas que deve assum a catequese ¢ sobre sua aticlagio com a excolarizagdo. A escola tora, no steulo XVII, tato 00 ‘mundo protestnte quanto no mundo catblico, o local onde se exsinam os primeirossaberes, sem os qua um cristo permanece “uma espéce de animal Etses saberes sfo progrestivamente idenlficados com of insirumeatos mais rudimenlares da cultura escrita: ler, talvez escrever. Com iso, um segundo strato de “discipline elementares” 6 constituldo, mas presale, sem divids, nas equenas escolas dos sculos XVI e XVIII que as educages familiares ou nas poquenas classes do colégio, mas suficientemente pebx fe wnllipliquem interertncas e contaminasSes. ultras ¢ desses modos distinos de transmissio resulta duma segunda etapa bistéia das primeira aprendizagens, aquela durante a qual elas sh 0 tum curso © se foram 0 objeto de uma reflexio metodléyica ¢ di Franga, podem-se daar as primeiras manifestgdes do momento em que se esenvolvem conjuatarente uma literatura pedagézica (a dos preceptores) © ” “ gulamentos” para as petites écoles (os das escolas de caridye As quis Sunt Nicolas-du-Chardonnet serve de modelo), isto &, entre os stimos dectnios do século XVII e Reptacia. Teoria & Educagdo, 2. 1990 c ‘Assim, as eotradas na cultura da escrita resullam de mediadores € de ‘mediages perteacentes insituigdes heterogtneas, com compeltacias profis ‘ais alltiplas e objetivos divergeates, senio contraditérios. Em suma, obra de excola nfo estd apenas ao lado da difusio maciga do lerescrever-contar come bese necessiria das apreadizagens para todos, isto 6, 10 lado do sumeato quantitative da alfbetimgio, mas tamblm ao lado da coastinigio decees ‘sprendizagens como saberes elementares escolarizéveis. I. As Ueenicas da escrita: culturas profissionais, ‘Antes de serem disciplinas clementares da escolarizacio, as Ucnicas da escrita — ferem vor alta ou com os olhos, compar texts, regi, glosar ou tomar nots, compor a pagina, indexar, elaborar listas ou tabelas, calcular A mio, eles” foram savoirfaire erudtoe, proveaieates de meios profissionis espesthico Quando a escola comers a herdi-tes com outros fins que fo o ts estate reproducto desses especalsias, esas tcnicas baviam sido modeladas por una Bistéra j¢ longa’ e trazem em ai os vestigios de sun evolugdo, 1. A cultura proftssional dos clérigos mento da reforma carolingis constitui-se no mundo ocidental ums cultura a escrita © de suzs Ucaicas em quo a vocasio profissional se afirma 0 menoe {anto quanto a vocario religiosa e intelectual. Ela pertence propriamente a9 ‘mundo complexo das corporagées de clérigos", « grande maior doe quais aio chege © nfo dessja chegar 0 sacerdécio (cles slo com freqitacis “apenas tonsurados”). Desde que se deseavolve o Estado caroliagio, desde que conjuata- ‘eats te acentua na Igreja 0 poder secular dos bispos, os homens capaes de egidi inisrativas © politicas tomam-se tanto mais preciosos quanto fer uma boa mio ¢ quilidades caligrdficas, coahecer bem o lati, @ Fas escrits, ter wma meméria treinada slo qualidades que tisham sido Md muito tempo desmembradas na antiga cultura monéstica, onde © copisia era com freqitacia 0 menos capaz de trabalho intelectual. O papado eo Estado ‘arollogio fazem lembrar regularmente” a necessidade de recrutar os homens lnstruldos que as adatnistragdeseclesidsica ¢principescas necessitam ¢atribuem ‘cade estabelecimeato eclesfstico,sej ele regular ou secular, a responsstilidade de sa formasio: © mosastrio, o bispado, 0 capitulo, o préprio presbtério, deviam sbcigar uma excla. Sem divida que localmente tinhi-as meaoe presale, ‘Assim demonstra a renovasto regular, coneio upés concli, slnodo apés sinode, as mesmas recomendagies."" No sdculo XI sinds, a rede de excolas continue xtremamente limitad, mas 6 n0 eu scio que as formas angus do educagdo de idadio (irivium quadrivium) se transformara na perspectiva da renovasio e do ‘rescimentorfpido de uma casa de clérigos que se apropriam de todas as trcfas, 0 Teoria & Educagto, 2, 1990 cclesidsticas 00 laicas, polticas ou econdmicas, que necessitem do uso da exists 0 easing 6 af redutido a0 das artes liberais” « gramtica latina tal qual codificada por Donta (por volta de 350) e Priscien (por volla de $00), um poco de relérica e, tardiamente, de ligica. A isto se acrescentam as discplinas propriamente mligiosas: 0 cOmputo eclesfstco, © canto, « liturgia, « Senta Escritura, as quais, uo que parece, aio sio reservadas apenas aoe candidatos a9 sacerdécio, © desenvolvimento regular dessa rede de excolas, aus diverificayio & proporsdo que se deslocam os centros de poder politico ou religioso, a multipli- casfo de contatos que ocasions « peregrinasio dos mstes usim come dos slunos na quazetolalidade do Ocidentecristio, aulonomizam progrestivamcnie ‘cultura © 0 modo de vida destes especialstas da esrita, Quando as corporagies ‘universitdrias obtém seu reconhecimento ¢ se emancipam da tle dos poderes locais (a Universidade de Pais, ao se apoiar no paps, escapa uo rei assim como 40 bispo © mesmo a0 poder municipal), elas obiém de flo © monopdtio da transmissSo dos saberes eraitos " Mas ao mesmo tempo, o mundo clerical pesde a hegemonia que detinha sobre os dispositivos de tansmisséo das técnicas ‘lementares da escrita: escolas episcopais supervisionadas pelo inspetor escolar ‘eclesifstico on pelo cantor da catedral, euras de paréquia que tomavam a seu cargo alguns alunos, petites écoles submelidas 3 autoridade municipal das cidades mercantis do Norte, dos burgos e dos povoados da Franga do Sul ou da [tli sio ‘outros tantoslocais onde cootioua a se formar na prtica da escrita as eriangas ou (08 jovens que nfo terdo jamais acesso 4 uma cidade universiliia € sua enudila articulagio em nasées e faculdades. Enteelanta, essa mulasio ao & apenas institucional: ela diz respeit, da mesma maneir, « formas de trabalb intelectual e 4 tenicas da excita. Jd se descreveram amplamente” essas duas rupturas que se produtem ealre a reforiaa carollagiae a reforms escolstica: a geoeralizasio da leitura visual, de um tado, renerlizago concomitante de uma nova aticulago entre excita eleitura dos textos, do outro, Elas certamente descrevem uma mesma mutasio, ales sublinhada por Istvén Hajnal:" a passagem de uma cultura enidita onl, wa qual « escrita exeree um papel complementar (uma arte de memériaespctfica), es secundéria, « oma cultura eredita realmente centrada na escrila esas epecific dades. Pierre Riche” imagina as escolas mondstcas da Alla Idade Mia com base nas escolas cordnicas de hoje: 0 acesso A lingua sacra, o lati, efetua-se sprendendo-te de cor os salmos, lendo-os ecopiando-os. E aecessrio certamente stender easa descrio x0 conjunto dos dispostivosescolares medievas antes que 4 instaure pedagogia escolistica. A aprendizagem da letura alo dispeasa jumais « memorizacio, ber pelo contrrio. E « formagio dos exolaes deve ser distinguida da dos copistas que trbalham no scriptorium. Os primeiros apreadera « escrever sobre otablete de cera, espago grifico limitado, risceivel de receber Teoria & Educasdo, 2, 1990 n tumas poucas notas para aliviar a memria. Eles saber reeacoatrar a partir dessa (rama os longot camishos ds argumentasio, Os segundos slo Uécnicos do peraminho © “pintores” (uiliza-se 0 termo pingere) da letra, mais que produtores de textos. A ae crer em Armando Petrucci™ numerosos sho ox copistas que nto sabes realmente ler. Na disjungto entre os dois saberes, 0 da copista e 0 do escolar, no resurgimento no século XII de uma_retérica da ¢ oraldade fundada sobre « meméria, pode-se ver como se encoatra revificada pela formagio escolar uma cultura que se dissolveria no repisar da cépia montstica. ‘Ao se instalar no efculo XIll 0 mundo das universidades, o desenvolvimento do cartives de manejo mais rfpido, a divulgecio oss faculdades das artes do dicamen outrora reservado 3 formagio de escribas da elite da corte papal e de redatores de documentos legus das cortes reais, autorizam of profe ulingio regular do ditado como modo de trinsmissfo dos saberes.* basei-se entio menos numa memorizacio ora! que ouma cdpia prévix: a arte « ler comeja 4 se imbricar estetamente com a arte de escrever. De um lado, copists de manuscritos, sejum eles copistas profisionais ou simples usutrios, tomam-se alentos As injungées da leitura, pondo em movimento as milipl faces da composicko de pigins, do partgrafo (através da rubricasdo) ou du pontmgio de carkter I6gico para tormar as estruturas textuais i “visiveis®. De outro lado, os leitores aprendem a trbalhar com a peng, anotando nas margens ov nas eolrelinhas dos textos suas observacSes gramaticsis ou reléceas. Ler e glosar te confundem. Pode-se eatio considerar que o esseacial das primeins aprendizagens, cujo objetivo principal continua seado a memoriza- Ho sfpida dos “rudimentos” do latim nfo adviaha mais da leitura, mas cxcrit, e que as faculdades de ares ou as escolas que delas depeadem consag © exencial de seus esforgos a essa apreadizagem. Nio sob a forma de prftca caligrffica — que costinua 0 apanigio de profissionsis — mas pel ‘itlingdo regula o repetida da escrta soba forma do ditado ov ds epi ate de memérin. ‘Asim, entre © renascimento carolingio ¢ 0 século XIV, em que as vaivenidades aleangam sua ma profindamente a partir do simples fato de um novo susiliar da memtra, ela se tornou instrumeato de trabalho intelectual. Ao emparelhamen- to menorizaslo oralescrita se sobstituiu 0 emparethamento escritaleitura pelo qual we faz a entrada na lingua de trabalho que &0 latim. Deste modo, a escrita, mais sinds que 1 leitura, tornase 0 eixo de toda formacio. Sua upreadizagem precooe 6 uma obrigagfo para quem quer ler acesto ao conjuato das Ufcaicas qu permitem se servir das miliplas facelas de uma cultura cuje antoridade (ranmmieeio passam precisamente pela escrita. n Teoria & Educagso, 2, 1990 12. A cultura profissional dot comerciantes, pequenas ou grandes 0s elérgos, ejam eles escrbas, jurists, médicos ou scerdotes, quer pertencen tes to priacipe ou Igrej, aio id, eatretanto, os dacos profissioasis da escrita Sem divida, eles levaram prcocemente suas técnica a um allo grou de tofisticagio, Mas a civlizgdo dx esrita € suficieatemente fecunda para que Dutros modos de apropriagso, outrasuilizagdes mas ondndrias, possam surgi iMijotea mesmo que e impress difundisse mais anplamente os lextos, entre os sdculos XV e XVI, existe jf um nero suficiente de semi-lfabetizados fora dos fuperes onde vive s cultura eruita para que se coloque com agudeza a questio ts transmissio doe saberes necessrios para assegurar esa relativafamiliaiodade ‘coma excita que ee lornou para alguns uma exigtacia. Deve-se « Armando Petrus 0 fato de baver destacado a precocidale de ‘uma cultura eroita da escrta na Ida eotreo fim da Ldade Média © o Renasci mento, Ela se manifesta de duas manciras: por uma viilizagio da escrila que Ulrapassa amplamente os meiosallabetizados; por um hibito da leitura em Vingua ‘wlgar esreitamente Tigids, sums éoca em que o Livro manusrit enuito € Thuito caro, a uma pritica dx complacio dos textos para uso pessorl. Essa tllizasio complena da escritaeavolve seus intermedifrios cultura espctficos fe seus modos de transmiscio peSprios que alguns trabalhos recentes tin esclarec “As cidadesitalianas dos sulos KUL ¢ XIV podem servir de exemplos pelo avango que nelas se manifesta. Os mereadores, os aresfos, os comerciales, os artistas, cootadores, empregados,alguas opertios,algumas mulheres, aprende- fama lere a escrever. Quanto? & difcil de avalia. Sufcientemente, no eatato, para que aparecessem manuscrilos em Lingua vulgar e popular que vio s¢ Tseemelham em pada aos lives da cultura enufia e implicam, portanto, que tejam inveatadoe e transmitidos através de oulras formas de apropriagio da cecrita, AS carectersticas dessas obras, inventriadas por A.Petruc(™ nas talegées piblias,deixam imapaargestos de novas eocablidades, Literatura de counpilagio produzida pelos préprios litoes que recopiar os textos para se jréprio vs0 ou para o de seus préximos, como o demonsiram os abundantes talofBes, livros de formato médio copiados em cursva sem comentriot, com ‘uma ilustragSo simples fit b pena e com tntas decor, ivios cujos inventsios ‘mostram que eram conservados no cofre da familia com os papéis importantes da asa. Este oo pertencem, como os manuscritos wriveslisios,besfera nica do trabalho, Por isso mesmo, eles aio tm um lugar proprio nem sacablindes specifics, textos de todas as partes ¢ de parte nenbuma. EA murgem destes mesrot weioe que se musifeta desde o adculo XV uns ilizagio regular da escrita. Pesquisas efetuadas em Siena ¢ em Roma mostram (que a preacupagio de eserever se estzde amplamente pare além do crelo ainda featrito dos leigoe alfabetizadoe. Ot docomentos to, sem dlvida, pouco Teoria & Educagdo, 2, 1990 B sumeoict, mas sufcentemeate explicit. Por exemplo, esses dais pequenoe regnos not quais, durante » segunds meade do século XV. uma fafa de caivadoressienenses teve o culdado de anolar sus receias uss despesas, Revelnae af uma slengho precoce para com a fngBee da esritae seas valores cspecficos, Entetanta,aqueles que peasam dever ders forma confar a eréra 5 na vida bastante ordindia excita ako anlfbetos: eles devernrocoret ‘iainbos, nem sempre os messios, que possuem uma boa mo e parscem tet 0 ‘it dein fanglo som fazer dela profislo. Dis deles alo salsicheirs, tits socio Em Roma, ene 1523 1537, ua ovtrocadero de recetase despess, ima talsiceira, data ver: doze esribas diferentes sh af ienlficivels. Ente tle, doit homens de igre, um notirio, um taberneio,osabriaho de salsicheir, te. Elesullizam seje uma cusiva iia, wja ume eursva de mereador, do assim a plurlidade de modos de transmissio da tlcnica caligeic, ‘xemplos motiram que a delegasio do poder de escever se. faz fregiumente de ma geragio a outra, dos meses aoe aprendizes, ele. Mas, eta manera ger, ea ua Alla dsde Médie,o dlegado sempre um czribs fio (sotto, elesidstica) ¢ 0 deleganda socisimente muito mals bem colorado que o delegado, ao fail da Idade Matis e durante © Renascimento (ote delegadoe pereacem 40 mesmo meio ¢ ademas 9 excriba no €, ale, um professional da esrta, Desde ealo, ese hime detém um fore poder, rconhesido por todos, mesmo pelos semi-alfabetindos que no best em recorrer a ele quando devem esreverletos mais longos que aqules sot quis esto habinundos. De oode vim esses saberes? Lomo cizculam eles vos meiot ondem parecer sto ilar os intern tras que permitem propria da cultura escrita par ld doscfreulosexteitos que alé o Rentcimenlo os utilizar? Ne Iulia tomo aa Franga, a provivel evasSo A afda don estudos, b prime Considendos como devendo condusiro estado tcesdtic, 6 uma primeira pista, Os replanentos monkstios, como os regulaneniasepscopais,insistem desde 4 Alu Idade Média, no posufvel rconbecimentotadio da falla de vocssto,™ tanto mas que os recrotmentos slo com feqGBaca mula precoces (6 eso dos bats, por exemplo) e devem ser amplos. Pr outro lado, nos centro urbanot ue souberam deseavolver uma aividadeecontnica importante exstem exolas omunsis nicas. Demonstrouae sua exisdacia™ em Gander 1179, em Ypres em 1253. Deve tr ocorido © mermo na Ilia, E se wabe que esse modelo se Aescavelve, mais trdiamente, € verdad, na Fangs meridional, Mais eficazes, ulves, msi em coatso com os gps soiais que wlilizam 4 eect, de um comlcio mals ocatonal tunbém, ot mestres do escria constiem um dos mecanismos eseaciais vo deseavlvimento de uma allabetza so prlica centads 00 gexio grifico. Na Ila, oa Alemanhe, oa Fran, Dereaheae seu rast durante oséulo XV." Slo arckoe que mostra 2 pbico os exenplos de ealgefia, que eles aia baci de isigna, Com freqUéncia vista oa Teoria & Educagto, 2, 1990 ambulastes, eles nfo cochecem o latim ¢ aio partcipam da cultura oficial. Seu tsttulo social continua baixo e pouco numerosos sioaqueles que vem a se finar 0 espaco urbano. £ possivel conbect-los um pouco através dos manusis de (rita que eles fazem gravar e imprimir no século XVI. Todos so escrtos em Kingua vulgar, popular, préxima do dsleto, Seu plblico parece se distribuir entre, por um lado, aqueles que esperam da capacidade de exrever uma melbor Frerglo no expazo juridico, adminstrativo e ecooBmico da cidade: pequenoe burpueses, artesios, talver’ mesmo, se aceitumos as anfises de Frangoise Gaspari, uma parte do povo milo; e por outro lado, toda uma nova classe de burocratss dos quai as cidades itaianas fazer um uso cada vex mais importante, aot quis eles ensizam « nova cursiva italiana de chancelarin que vai se tomar a Aiea escrita dos italianos alfabetizados. Esta dualidade 6 jf 0 sina da evolucéo fitura dessa. profisio, Os mestres de escrita italiaacs pouco resistem ao progresso da escolarizacio e sbandonam rapidamente us atividades de casino. Subsistem apenas aqueles que sabem pasar da excita caligrafiae oferecer os poderes policose culturis a suleza de sua are para fzer alarde D0 expo Erbano de uma escrita de ostentagio que se inscreve nio somente sobre © minho mas também sobre « pera Prrifas a uilizgio feqiente ds cursive mercaél aot esrtos onistioe weatariados por A. Petrucci deita eatever outras vias. Sabe-se com efeto™ que grande comércio medieval se dota cedo de wma cultura profissional especfica pba qual a escrita e a aritmética lém um lugar importante. O volume considerdvel de vegécios tratados, assim como h extensio googrifica da zona de troca, ingame muncross tranmiset de informgie «um esto pci ds vansagdes: uma abundante correspondéncia interacional, a manuteacio de omar epson ¢ ios conti lo de‘uma acccidade absolut. A formagio dos mercadores fazse em servigo, parece que cada famfia tem isponivel para esse fim uma compilagio de modelos ¢ de instrugéea que transmitem de gersio em geragio, sem deixar de eariqucer-e. Alguns deses livros de mereadores foram impressos no século XVII, aps uma longa carrera smanuscrila. Assim, 0 de Francesco di Balduccio Pegoloti, que trbalhava para cos Peruzzi em Famagouste, Bruges e Londres ¢ tlver para os Bardi em Flags «Prac dell meen (Aves, ani, 938), Enc af informages sobre os pesos ¢ as medidas, sobre as moedt, tabre a de diferentes pages comercais, Copadoerecopiada af o skelo XV, esa obra ‘io foi impress senfo no século XVII. Ou ands, sempre em Florengs, aquela (que foi compilada por Giovanni di Antonio da Urano, Elas aio encontradas também 20 fin do século XV ns Alemanha (0 Handelbuch 8e Lorenz Meder, de Noremberg, impresso por volta de 1558) ou na Inylatzra (The Merchants map of commerce, de Lewis Rober, impresso em Londres em 1638) 'No dominio desse grande comcio e, wo que parece, desde o sfculo XV, slguns sritmicos profissioass proplem seus servgos, tanto na qualidade de Teoria & Educagto, 2, 1950 15 wwnneo quanto na qualidade de especialisas, Eles visam 0 publico de ‘percadores que alo possuem seus proprios especialisas, mas tamblmn aquele, ‘mais amplo, dos particulares que fazem importantes negécios. Eles deitarae uae shundane produjio de ttados especializados2™ algums para seu préprio uss, outros, mais simples, para uso de seus clientes. Contrariamente ts obras do ‘atemitica vniversitiia redigidas em latina essas artmdiicas prilces ele redigidas em Ungua vulgar. Por outro lado, elas adotam de proota 4 aumeragio. ‘seria indo-ardbica (0 algorisme) contra « tradigSo do cflculo com base 00 fren latino ainda vive sas chancelarias. Assim, Luca Pacili oa mun Summa ae arihmetica, geometria, proportion! e proportionaliza(1494), que ele dirige a seus pares, prevé tum nono capitulo “Da aritmétca apicada aoe negécioa” no qual ele ‘ecopisintegralmente o Libro de mercatantie de Floreaga. tem 1478, una obra ‘muito semethaate tia sido impressa, sem nome de autor, em Treviso. Pode re

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