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dat lad fied eu pea erin ede tinder pes ts umesma reid onde 98 tua de seo opr mento elie cao a co ana Grdestoera Prd ‘sprout aban pionients, eens msl = siete sper erie ots fips da asa sin de soso Mule Case> eta Comte rosa Minti da cate, reaetand stead. Aecetemat, frum pode de Pe DaoranetomUnieilede Nore ein ae de Msieleaen ine coma De Miia de ‘sspears ri, ceceratorns se apes conde Po oes ed MUSICA & PESQUISA th NOVAS ABORDAGENS Vanda Bellard Freire André Cavazotti eolo Bro Hoazonre 2007 —— cane nn vrata ler Arcs sori “ si erst etn rete iti race mien UM, ead 2.Fenomeelg 0701 ag eer pr aa a ae Sento emai (etd detains PREFACIO. = eee FAGSEADCIMGN Tg ee ne a) {MUSICA BPESQUISA ce oneo— sp 2: PRESSUPOSTOS # METODOS, as {3 FENOMENOLOGIA § PESQUISA EM MUSICA coe —vean~ 39 |4MUSICA B FENOMENOLOGIA NO BRASIL wee 55 5 ABRINDO QUESTOES.. ~ — BIBLIOGRAFIA. —— %” Prof. Lélio Alves Towson Some — PREFACIO [partir de 198, quando da implementagdo do primeiro Mestrado ‘em Misia do Brasil na UFRJ, as discussdes sobre pesquisa em mi sica tornaranvse constantes nos encontros da Sociedade Brasileira ‘de Musicologia (desde 1981), SINAPEM (1987), ANPPOM (desde 1988) ‘e também em iniimeros semindrios de pesquisa, tanto em relagio & ‘graduacio como, principalmente, &pés-graduacio. Tas debates fo- ram muitas vezes acirrados, sempre buscando encontrar eaminhos, de investigagio reveladores da real identidade da misica, Mesmo considerando que a diversidade de conhecimentos rente 4 misica conduz & possivel uilizagao de diferentes process0s metodolégicos e floséficos como condutores e indutores de proces 50s investigativos, a pesquisa qualitativa, com base fenomenoligi- <2, tem fundamentado importantes trabalhos da produsiiocientifica brasileira sobre misica, (0 vasto campo da fenomenologia voltado para “..captar a es- séncia mesmo das coisas, a sua espeifidade.”, (Peixoto in Concepgoes, sobre Fenomenologia -Editora Ure, 2003) tornou-se objeto de estu do de dois grandes misicos pesquisadores brasiletos, Vanda Freire, dda Umm, expresidente da ase, estudiosa amplamente reconhecida, dona de uma quantidade signficaiva de trabalhos relevantes em ‘educagio musical, musicologia, misica e sociedade e André Cava- zott, da Urn, violinista de qualidade, que vem publicando artigos + Revista Opus, ANPPOM, Per Musi, Misica Hodie - sobre a interface {feriomenologiajmisica brasileira (colonial e contemporiinea. Em boa hora, os dois autores compartlham estudos e priticas através desta excelente Musica Pesquisa: Novas Abordagens que discu- te desde as principais vertentes da pesquisa e a pesquisa em miisiea no Brasil até questdes especticas relativas A misica, pesquisa e fe- rnomenologia, abrindo portas, apontando possibilidades, demons- s Nee sertamente, referéncia bem vinda los, tomando-se, © i do everest ‘graduandos € pés-graduandos tran 5, orientadores, para pesqusadores sr team enesohe pepecivas medicare re enagoteicaadequdss para pesquisa em misica, sn iva, de conte iresistvel para parcels de Glacy Antunes de Oliveira Goinjuho de 2006 Agradecemos as professoras Sonia Ray e Glacy Antunes Oliveira, que contribu'ram para que esse livro tivesse inicio e viesse a ser publicado. ‘As Universidades Federais do Rio de Janeiro (UFR)) e de Minas Gerais (UFMG), nas quais 0 projeto do livro foi registrado, e, em especial, a0 apoio da Escola de Misica da UFMG. ‘todos os alunos dos autores, cujas indagacdes nas aulas contribufram indelevelmente para a escrita deste livro. & MUSICA E PESQUISA Prof, Lio Abves TROMBONE eae Misica a citncia que pode ns fazer rr cantare danger. Guillaume de Mechost ta fa misica)& um dom de Deus, nfo dos homens |Amisicaexpressa a naturezainconsciente deste ede outros mundos ‘Aro Sehoerbers ‘A msica € uma arte nfo signifcante, donde aimportincia primordial das estruuras propriamentelingustica (). Ao mesme temp, uma Pee Boer (ctor porns 980) ‘As definigdes de misica citadas acima expressam pontos de vista contraditérios entre misicos de diferentes épocas sobre 0 conceito de msi. Ainda que num mesmo periode histérico, épossivelreco- theemos definigdes opostas e contraditérias. Essa impossibilidade de defnir mdsica possivelmente é uma das rafnes para explicar as diffculdades que a drea de misica tem en- contrado para se relacionar com a pesquisa. As divergéncias entre “smisicos préticos” e “misicos teéricos", também muito antigas, certamente encontram-se por tris dessa questio. Além disso, a cconcepgio de pesquisa, segundo as diversas lishas de abordagem 4, também ela, divergente, o que tlvezexplique porque o relaciona- mento entre misica e pesquisa tem gerado, freqentemente, posi- cionamentos confitantes. — posicionamse aqueles que entendem que a ai. ‘em aver com pesquisa, e que esta nada tem ecimento musical, por Ser um conhecimen- ‘que nada tem a ver com 0 pensamen- ic acer an (sear Boba nc fa ee to cen Po oposgfo awn pensamento “intuit? £ do reconhecimento desses dilemas iniciais da area de misica SOBRE 0 CONHECIMENTO E OUTROS CONCEITOS CORRELATOS Aeretamos que hi uma questo crucial que antecede as questBes acina refers. ssa questo di respeito ao préprio conceto de co sediment ane Consderamos que hi vriasnaturezas de conhecimento, € 30 ‘stabelecemos entre elas uma hierargua de valor, Cada uma dels, Seeundoo ponte de sta que adotamos, tem slopecuiares, io cabendo, i bm consesosobreo que -agio e valora- , portant, hierarquizé-las. Nao ha tam ‘conhecimento, qual sua natureza, come “Procest. Esa pluralidade de concepgGes sobre o conheciment? «sua natureza pode ser iustrada pela citagdo que transcreveros a seguit,tomada a Boaventura Santos (2003, .25): ‘Ro contrrio do que pensa Bacon, a experiénca no dispensaateoria préva, o pensamento dedutivo ou mesmo a especulagdo, mas for- {2 qualquer deles a ndo dspensarem, enquantoinstincia de confi~ macio dtima, a observagio dos fatos. (..) Descartes, por seu tuene, val inequivocamente da idéia para as coisas endo das coisas para as iddias eestabelece a priaridade da metafisiea enquantofundamento imo da cidnia, odemos perceber na citagdo acima a oposigdo entre o empirismo dde Bacon eo racionalismo de Descartes. Esa opasigfo,e muitas ou- tras questdes, fazem parte do debate sobre o conceito de conheci- ‘mento e permanecem inesgotives até hoje no Ambito da filosofia€ da ciénca. ‘As teméticasligadas ao conhecimento tem ocupado grande es- 'p2go nos trabalhos filosdficos, como no exemplo anterior. Quanto 10 reconhecimento da experiéncia como instancia de conhecimen- to, reconhecimento esse que também no é consensual, comovimos cima, pode ser encontrado, por exemplo, em Kant (Critica da Razdo Pura), quando afema que: () a prépria experiéneia & um modo de conhecimento que requer ‘entendimento, eyjaregra devo pressupor como a priori em mim ain- dda antes dos objetos me serem dads, e que deve ser expressa por oncetosa prior, pelos quas, portant, todos ot abjetos da experi- éencia dever necessariamenteregular-see com eles concord as Kant concede grande valor & experiéncia no que tange ao conheci- mento empiric, chegando a afrmar que iio hi dvida de que todo nosso conhecimento comega com a ex- peridncias do contro, por meio de que devera 0 poder de conhe- climento ser despertado para o exercicio,sendo através de objetos {que impressionam 05 nossos sentidos e em parte praduzem por si prépriesrepresentagées, em parte pSem em movimento a atvidade do noss entendimento (J? Nenhum conhecimento precede em nés Nepean «todo 0 conhecimento comesa com cla ANT 274.23 kant opée ao conhecimento empirico ou “a posteriori", derivado dioweriens, o conhecimento'a prion’, independente de toda erenc Dente o= onhecimentos a prior” ele destaca ox scahecimentos “putos, as quas no se mescla nada de empirico {KANT ron, p.24)-Se para Kant, conforme podemos observar ne taco acima, a experiéncia & 0 ponto de partida para o conheci inento empiico, embora recanhecendo outros tipos de conheci trent, otros pensadoresfrmularama questo do conhecimento deforma versa Para Auguste Comte, Sldsofo importante do século XIX, um dos “constratores” do positivism, “cad amo denosss conhecimentospas- sa sceuament ports estadoshstrics diferentes: estado teodgio ou fit, estado meta ou abot, estado centifco ou positive. Sobre estado poitivo ele firma qu espite human, reconhecendo a impossblidade de obter nogbes abslutas, renuncia a procuar a ofigem eo destina do universo, 3 conhece as causs fntimas dos fendmenos, ara preocupar-se unica mente em descobrir,graras ao uso bem combinado do racic obserago, suas leis eftivas, a saber, suas relagées ivar ‘sio ede similitude. A expicagdo dos fats, reduzida, entao a seus ‘terms reais, se resume, de agora em diante na ligagio estabelecda tte os diverosfenémenos particulaes e alguns fatos gerais, vjo ‘mero o progress da ciénciatende cada vez mais a diminuit. ‘com, 178,74 Ns introdugio do lvro dedicado & obra de Heidegger (1986, P: 8). {aparece uma reeréncia ao conhecimento, na perspectiva fenome= ‘olgica, que em muito difere da concepgio de Comte: A fenomenologa pretende abordat os objetos do conhecimento tas ‘ome aPuecem, into &, tis como se apresentam imediatamente 4 conscignca. liso impli partoteses” Portanto, dear de ladocolocar entre ~ como dia Huser ~todae qualquer suposigio sobre a natures desses objetos. AS breves referéncias aqui apresentadas evidenciam que o cont to de conhecimento é temética complexa, no redutivel a andlises simplistas. Portanto, sem desconhecer a profundidade da que citaremos aqui algumas formas de conhecimento. Que “tipos” de conhecimento seriam esses? Sem querer apresentar uma listagem completa ou exaustiva e sem tentar esvaziara questo de sva pro- fundidade, podemos tentar apontar algumas formas de conhec- ‘mento que permeiam hoje nossa vida em sociedade, 1.08 conhecimentos do tipo intuitive, que garantem nossa sobrevivéncia em algumas situagies e que nos levam a tomar decisbes baseadas em certezas que nio sabemos, ‘exatamente, de onde advém. 2-05 conhecimentosligados & mitologia, ue sobrevivem desde €pocas muito remotas da humanidade até a atualidade, e que transitam, por exemplo, nos contos e lendas, sobre os quai a Psicandlise tem, recentemente, feito estudos reveladores. 3-05 conhecimentos de naturezareligiosa, necessariamente dogmiticos, ov seja indisponiveis para uma veriicagao ‘empiric, devendo, portanto, ser aceitosindependentemente de comprovagio. 4-08 conhecimentos flos6ficos, construldos a partir de uma sustentagio Idgica interna, independentes, também, de uma comprovagio empirica necesséria, 5-05 conhecimentos do senso comum, cuja origem se perde na histria das culturas, e que envolve, por exemplo, conhecimentos relatives a propriedades terapéuticas de alguns vegetais ou conhecimentos relatives a algumas peculiaridades climsticas. 6.0.conhecimento cientfco,resutante de uma constru sistemtica, sustentivel por uma légica interna, mas também suscetivel de comprovagao empitica, mesmo quando no pretende generalizar conclusdes.A pesquisa sobre arte (0 que Frelui a pesquisa sobre Misica)insere-se nesta categoria de conhecimento. ‘(a ciéneia entende-se como processo de desmitlogiasi « dessacralizagio do mondo, em favor da racionalidade natural, sy. pondo-se uma ordem das cosas dada e mantda, EMO, 1587p 20 .0onhecimento atistco também se sustenta por umaligica interna, mas independe de comprovacao, pois essa liga, de fandamento estético, no necessita de validacio decorrente de verificagio externa. ‘Apropria arte pode ser descrita como conhecimento,s6 que &de uma espécie particular expecifica.(.) Como a ate ea citncia se ‘mover em planos interamente dversos, no podem contraizer- senem estorvarse. Cassin, 1977 9.258 lade que a arte tem de “ler” e interpretaro mundo pose Essa pro serilustrada com mais uma citagio de Cassirer(p. 228): “a arte ndvé «mera reprodugdo de uma realidade dada, é pronta. E um dos caminhos que canduz dvsdo objet das cosas e da vida humana, Nao éimitac Aescobrimento darelidade.” Todos esses conhecimentos slo valiosos, e sua aplicabilidade ov legitimidade sao relativos as situagdes em que se inserem. Conheci= iterpreté-lo eisso se aplica mentos sio formas de lero mundo e de in tanto a0 conhecimento estético, via arte, quanto a0 conhecimento cientfco, ou Aqueles resultantes do senso comum. Todo conhecimento envolve aspectos de objetividade e des tividade, em diferentes intensidades. Conhecimentos estdo necess riamente ligados& cultura, &sociedade,&histri, pois esas vs* que alguns bie ‘de mundo ndo sio, absolutamente, universais, ainda A realdade j fo manipulada de indmeras maneirasP- ati a hist “ i os Indios pretendiam captar a realidade através dos mitos. gament és achamos que tl explicagfo & mitica, porque a comparamos as nossas eachamos estas come superiors. Para cles, poréim, nfo teatava de mito, mas pura e simplesmente de explicagio objetiva realdade eo, 9679.20 Embora consideremos que o pensamento mitolégico nfo esteja res- ‘tito as culturas indigenas nem tampouco a tempos passados, con- ‘cordamos com a citagso anterior, no que diz respeito& consideragao ‘de que 0s mitos so explicagées da ralidade,leturas de mundo, for- mas de conhecimento, nfo suscetiveis de comparacio com outras, formas de explicaglo ou mesmo de validacio externa. CCabe ainda ressaltar que essas categorias no sio necessaria- mente excludentes,e que também hi divergéncias entre 0s tebricos a respeito delas. Podemos ilustrar essa permeabilidade e comple- sidade das formas de conhecimento com a afirmativa de Cassiter (0977, p 265), que transcrevemos a seguir, na qual ele associa in- tuiglo e raz: “Toda obra de arte possul uma estrutura intuitive, 0 que significa um cardter de aconalidade Nessa perspectiva,ntuiglo erazdoteriam uma ntera no ato de criagio artstca. Tal como na citagio acima, a mescla des- s€8 “tipos” de conhecimento éaplicével aindmeras outrassituagbes. Razio e intuicio slo conceitos também complexos, que comportam diferentes definigdes, embora no meio musical sejam frequenteren- te invocados de maneira um tanto superficial, como simples pares de ‘opostos. Nesse sentido acitagdo anterior de Cassier, introduz aqui a possibilidade de uma outra perspectiva, segundo a qual essas duas instancias seriam, pelo menos na arte, complementares. Intuigdo tem sido entendida de diferentes maneiras: como co- ‘hecimento origindrio e imediato, que nao distingue entre real irreal, segundo Croce, como consciéncia imediata (Bergson) ou ‘como conhecimento individual e total que ointelecto divino tem de si mesmo (Plotino), entre outras. Que relagio a intuigio tem com 5 ‘oconhecimento¢, em particular, om a arte? Quanto a raz3o, que scgundo Abbagnano (970) pode ser entendda em dois signiiados ‘bordinados, como faculdade geral de guia e como procedimento sepecfio de conhecimento —que relagio tem como conhecimento ce particular com a arte? Como esses conceitos se relacionam 4 pesquisa centica? tm gra, comportamentoraconal &aqule que permite ao homem ddoninaruma situasio, enfretar as mudangas dest corigos even. tuaisertos do procedimento. (.) ateora da Razio pode serforecida tj nfo por una metafsiea da Razdo, mas plas pesqusas metodol seas ecricas qu, do exame dos procedimentosautdnomos de queo tomem espe nos eampos indviduas de pesquisa, emontam 3s com ighes gras de 0a projetabilidade na84cAN0, 979.797 ‘A patir da observagio de que nem mesmo o conceito de razio é uno, que nenhum conceito é definitivo e absoluto, uma das pro- postas deste lvroé, assumindo uma visio plural do conceito de co- rihecimento ede uma visio também aberta dos conceitos de misica «pesquisa, tentartecer uma tea reflexiva que os entrelace, [ADESQUISA E SUAS PRINCIPAIS VERTENTES Cabe, desde jf, afemar que os autores se alinham com a posigfo de aque a pesquisa sobre misica nfo & uma instancia necessariamente desvnclada da dimensio estétca, ou mesmo da pritica musi A cincia fo pode *alidar® a arte, pode, apenas, contribuir part 4 reflerio crea sobre ela, gerando fundamentos teéricos ques 2° ‘etornarem &prética, podem contrbuir para um fazer artistico mal dense. Toca reger ou compar, por exemplo,sio dimensées do faze" ‘sical que podem se nutirdos trabalhos de pesquisa e se transfor mara partie dets eam e288 bases aca assumidas que 0 presente Io 3 ‘comvicsio de que acinciaprodusiia conhecimentos “werd deiros", dada a cientifcidade da origem desses conhecimentos, & portanto, equivocada, embora a tradigéo positivista tenha partido desse pressuposto. ‘Aimagem de que toda ver que a cignca langa luz sobre um fato, projeta sombras de outro lado, iustra essa impossibilidade de a pesquisa, que é a atvidade primor , dar conta de "ver ‘dades”inquestiondveis defnitivas. A propria demonstabil verificabilidade dos conhecimentoscientificos pressupSe a possibi dade de sustenti-tose reve-os. Averdade, portanto, mesmo no ambito da cinta, € sempre latva ¢, até certo ponto, p ‘Demo (198q) define a ciéncia ‘como 0 movimento sucessivo de tentativas de aproximacio da rear lidade, sustentando, portanto, a impossibilidade de gerarrespostas, incontestavelmente verdadeiras. O conceito de verdade & também bastante controverso, etal como 0 conceito de conhecimento e ot {os anteriormente abordados, espelha uma visto de mundo hist ‘cae socialmente condicionada. ‘A pesquisa & considerada, neste trabalho, como a atvidade atra- vés da qual o conhecimentocientifico€ construido, ou seja, 0 conhe- cimento predominantemente racional,sistematico e vrificivel dare- alidade. Acentuams2racionalidade come importante na construgio desse tipo de conhecimento, mas também acentuamos que outras, formas de conhecimentointeragem com a intancia racional, inclusi- ve oconhecimento intutivo. A separagio entre essasinstancias &, de fato, mais diitica e até mesmo arbitriria do que necesséra Pesquisa éa atvidade cents pela qual descobrimosa realidad Pa timos do pressuposto de que a realidadendo se desvenda na superficie (oa pesquisa é um process intermindve,intrinsecamente processu- aE um fendmeno de aproximagées sucessvase nunca esgotado(u DEMO, 9.9.23 da ci idee Ressaltamos mais uma ver a transitoriedade do conhecimento, inclusive do cientiico, e destacamos na observacio acima o re- conhecimento de que © conhecimento cientfico também possui ” ‘como qualquer oto, uma vez que & construldo porin- eves aporimacoes da realidad ernoem esata 0 carter ciativo da pesquisa, poi sa conhetimento cntfico no se consti ou avanga nas bases da reatvdade cetca€2 fia leptin da utopia da cnc. rar ‘nfl fo submeterse 2s parmetos do} conhecido dot visto, nid acntecde. Quer ezecontsta as cosas Como se presentan, ‘ partrpra outa alternativa de composigao. Quer dizer nfo tomar a wba paseada como pardmetro do futuro. Quer dizer acreditar no ovo, no inesperado, avira, no salto qualitativ. DEMO, 1987.76 Cortendo orsco que é inerente a qualquer generalizagio, pode- nos esuidamente identificar trés vertentes principas nas pes- auisas cients. ‘Um prmeiro grupo, originado no pensamento empirista e po- sista, estariaintegrado por pesquisas que valorizam a neutral dade a objetvidade como os equisitos primordia para se fazer inci, considerando que aatvidade de pesquisa € desenvolida oc um sjita que “tha” para um objeto (sea ele musical ou aio) « busca idemifar ou caracerizar as “verdades” que esse objeto porta Tecnicas de coleta e de mensuragio de “dados", de exper- Imentagio e observacio, de tratamento estatistico sio particular mente relaiondves a0 postvismo. Essas técicas foram aprimoradas, na linha do positivism, como estatgias para assegurr a objetividade e a neutralidade da pesquisa, ¢, posteriormente, foram assimiladas e transformadas oroutrasabordagens metodoldgicas. ‘busca de formular leis princpios generalizdveis, bem como # ‘aloiasio do estabelecimento de relagdes causaiselineares Sioa suas das carateristicas deste primeiro grupo, Dedusio e indusi0 so também métodos paticularmenteassocidveis a0 empiism0 € 20 positivismo, e surgem, na histéria da ciéncia, como uma reagae ® ee 05 pensamentos dogmitico, especulativo,filosfico. Nesse senti- o, essastendéncias metodolégicas trazem uma novidade no dmbi- toda formulasio do conhecimento, ao buscarem oembasamento na ‘ealidade objetiva e na ligica, contudo permanecem vinculando as cinciassociais aos modelos das cigncias naturais, nfo conferindo espaco a dimensdo qualtativa e subjtiva inerente aos fenémenos socials, em contemplar uma perspectiva critica. Osistemismo, ofuncionalismo eo estruturalismo sio exemplos de tendéncias derivadas do pensamento empirco e positivist, e, deforma simplficads, podemos dizer que as ts tendéncias seas ssemelham pela busca de interpretar a realidade através da identi- ficasdio de estruturas em que essa realidade se organiza, dos ele- mentos consttutivos dessas estruturas e de como elas funcionam ou significa Um segundo grupo, cujo pensamento inspira-se na dialética, nega a possibilidade de separagio absoluta entre sueito e objeto, ‘enega a possbilidade de neutralidade absolut, considerando que toda pesquisa & necessariamenteideolégica © que sueitoe objeto Vinculamse por influéncias métuas. Além disso, as dimensbes his- {ricas eideoldgicas so necessarlamente envolvidas na abordagem dlaltica, que, além de expliciti-las, observa principios como 0 de ‘contradic (por considerar que toda realidade comporta,inevitavel- ‘mente, aspectos contraditios)e o de movimento (por interpretar a Fealidade por uma ética que a considera em permanente movim 10, processando sinteses diversas entre seus fentémenos). Aabordagem qualitatva é privlegiada pela ética dalétca, em- bora procedimentos quantitativos sejam utiizados, nfo como um fim, mas como um ponto de partida para a interpretagio da reaida- de, que, segundo a dialética, énecessariamente contraditéria, Toda metodologia supe uma concepsio de ealidade, sem 0 que nfo teria 0 que explcar. so acontece também com a dilética, que supde ‘uma visio alta da realidad Seu pessuposto mis fundamental parece er toda formagio socal <ésufcientementecontraitva para se historicamente superivel (.) » ‘Assim, adialéiea no escapa 2 lugar comum de ser uma interpre. tagio da realdade, ov sea, de ser uma das formas de aconstru, DEMO, 8, n 85 Asubjetividade dos procedimentos cientiicos é também, um pres: Suposto do pensamentodilétco, que valoriza, sobretudo, a pers. pectiva critica, considerada como imprescindvel & transformagso (© terceiro grupo & integrado por aqueles pesquisadores que, inspzadosnafenomenologi, negam a possibilidade de separasio entre suit e objeto, admitindo que s6 hd “objeto” na percepgao ‘de um sujeto, ou seja, que s6 hi fendmeno se howver um sujeito tque oexperiencie como tal. A realidade, nessa perspectiva,é ne- cessariamente subjetiva, uma ver que é permeada pela percepcio (so visualizada pela tia da psicologia, mas pela perspectva da cexprincia do fenémeno). Catroga (2000, autor que aborda a metodologia dahistéra pela ética da fenomenologa,referindo-se aos dversos tipos de memé- sia queinteragem na construgio de identidades socais,afrma que “tadas elas se iterigan,eseré erro reduir a enomenolgia da memsia& tspotanidadeeautarqia doe, dado que ela também esté sje a uma sobredeteinago soil” (p. 1) € interessante observar que o autor no abordao conceito de meméria destigado da experiencia feno- ‘menoligea eda trama social que a sobredetermina, e reconhece sua dimensioaftivaeseletva, portanto subjetiva. A subjetividade no descaracteriza o carter cientfco das pes e “Como vocétraduz, com fidelidade ao compost a frma d obra, segundo a proposta de seu radar”, exempli ficam posicionamentos floséfics diferentes diante do conceito de forma” (forma como estrutura modelar pré-concebida ou forma B ‘como estrutura percebida pelo intérprete). Certamente, toda a pes- uisa espelhars esses posicionamentos conceituais. Perguntas “abertas” evitam, a0 maximo, sinalizar previamente possiveis respostas, como por exemplo: “Qua as suas principais ob- servasBes sobre este evento musical”. Essa pergunta nio direciona a resposta do informante e, se 0 pesquisador pretende conhecer os aspectos que sio relevantes, a partir do ponto de vista do entrevista- do, esse tipo de pergunta & 0 mais adequado. Perguntas “fechadas” direcionam a resposta de forma mais delimitada e objetiva. Essas observages sio também aplicéveis as entrevistas que, assim como ‘0 questiondrios, podem ser mais ou menos estruturadas ou direci nadas, conforme o perfil da pesquisa e do pesquisador, Desde a segunda metade do século XX, os métodos de pesqui- ‘sa chamados “participantes” vém sendo mais dfundides, e, nessa linha de abordagem, tal como nas pesquisas qualitativas, em geral, entrevistas abertas ou semi-estruturadas, relatos orais e histérias de vida vém sendo utilizados como importantes fontes prim: de pesquisa. Segundo nosso ponto de vist, para alguns tpos de pesquisa qualita- tiva a entrevista semi-estruturada & um ds pincipais meios que tem ‘oinvestigador para realizar a Coleta de Dados. jf expressamos que, no ‘enfoque qualitative, podemos usar a entrevista estruturada ou fee da, asemi-estruturada ea entrevista livre ou aberta Estas duas timas ‘io mais importantes para esta classe de enfoque. TRIINOS, 1987, 9.48 ‘pesquisa participante dé aos indviduos envolvidos na pesquisa (e rio apenas a0 pesquisador), 0 papel de agentes na pesquisa, atuan- do signficativamente em todas as suas fases, do planejamento as conclusées fnais, mesmo que nem todos se encaixem no modelo de intelectualidade comumenteassociado 8 prétia cientfica. Apreocu- pagio com a aplicasio dos resultados da pesquisa & transformagio da realidade e 0 compartihamento da construgio de conhecimento com todos os envolvidos so também caractersticos da pesquisa B partcipante que, seguindo uma tendéncia da fenomenologia, di tga ete pesado “Pe etna eens feed cau tc, ome per deeper ues fm primei f se fosse uma entidade com vida propria, ca de determina forma eo contexto de nossa sociedade, tanto presente ‘quanto Futura. Tenhamos em mente que, longe de ser tio medonho agente, a ciéncia & apenas um produto cultural do intlecto humano ‘que responde a necessidades coletvas concretas ~ inclusive Aquelas consideradas artisticas, sobrenaturals e extra-cientficas ~ e também ‘as objtivos especticos determinados pela classes sociais dominan- tesem perlados histéricos precisos. BORDA, 1986.9. 43:48 Observase na ctagio acima a preocupacio politica (no sentido de prdtca socal) que permeia a pesquisa participante, ea diferenca sig- nifcatva que ela representa em relagio a modelos de pesquisa que ‘io dio espaco significative & vor e& decsio dos individuos envolv dos, mesmo quando colhe deles depoimentos através de entrevstas ou outros meios. Dai aimportincia que passam a ter metodologias, ue contemplam o relat oral concedendo a esse relato importancia ‘io sgnifcativa quanto que reconhecem no documento escrito, A histéia oral € uma histéria eonstrulda em tomo de pessoas. Ela langa avid para dentro da préprahistvia iso alarga seu campo de ago, Admite hess vindosndo s6 detee os lideres, mas dentre a Imaiora desconhecida do povo. (a histéra oral prope um deseo so: mito consagradosdahstria, 2 jut autoritérioinerente a sua tradi. €oferece os meos para uma transformagio radical no seti- soil da isi, THOMPSON, 999.44 Nas pesquisas da drea de misica, «diversas situages, em todas el agentes do processo de (sejam eles alunos de mi 4 pesquisa participante é aplicdvel las dando aos envolvidos o status de Pesquisa e de construcéo de conhecimento sic, masicos de uma orquestra, professo- # res de misiea, ete). conviegio bésica, segundo Thompson (1992, 334), & a de que “toda evidnca hstrica € moldada pela percepsao individual e,seleconada por vieses soci, transite mensagens de pre- conceitoe poder” As pesquisas na drea de misica, o que abrange todas as diferen- tes subéreas, certamente tém muito a ganhar com as miltplas pos- sibilidades advindas dos depoimentos de diferentes sueitos, sejam eles legitimados ou nio pelo poder constituido. As evidéncias orais podem ser tio importantes como documentos de valor histérico quanto registros escritos, mesmo quando estes so ofciais, podem conduziro pesquisador a revelare a interpretaraspectos importan- tes que ndo poderiam ter sido obtides através de outros meios. ANALISE MUSICAL A anilise musical, seja através de registros escritos ou sonoros, & também um importante método ou técnica aplicdvel & pesquisa em 'miisica. A andlise abrange procedimentos de observacio e compara- ‘#0, podendo estar acoplada a pesquisas experimentais ou outras. Anélise musical, em si, ndo constitui objetivo de pesquisa, mas é ‘um meio precioso para responder a diversas questées de pesquisa devendo, portanto, a abordagem de andlise escolhida ser coerente com as questées de pesquisa formuladas. ‘Aandlise de registros sonoros ou fonogramas é importante meio para muitas pesquisas, pois dela podem emergir importantes info magGes de diversas naturezas como, por exemplo, concepcdes es listicas (que podem ser depreendidas tanto do possivel ponto de vis- ta do intérprete, quanto do possivel ponto de vista do compositor, peculiaridades de um sistema musical ete. ‘anise musical parti de partituras eseritas tende a privilegiar 4 dimensio eserita da musica, embora muitos analistas a acoplem audigio da misica analisada (muitas vezes, a partir da prépria performance das mesmas). No caso de transcrigdo de misicas de 0 oral, diversas questées se sobrepSem na andlse, inclusive relativas as possves interferéncias de quem fr o registro escrito, 3s incipais de andlise music 10 uma concepsio “fecha- ea fenomenolé- andlise). Preferimos, aqui, caracterizar duas vertentes principais de andlise musical: uma vertente objetivista, derivada do Pensamento positivista, que procura | revelar dados objetivos contidos na partitu- to original do compositor através da postura objetiva do analista; nomenolig caminhos: 0 “didlogo” entre o analista e 0 fonograma ou pa ‘ea experincia musical do analista que, de certa forma, centraliza 0 processo de andlise no receptor, ou sea, entende que 0 processo de andlise énecessariamente subjetivo. Embora essa categorizacio sejaconvergente com ade Ferrara, consideramos que 0 objetvismo (celacionado & concepcio positivsta), como “matri” de pensamen- to, é ais amplo que oconceito de formalismo, o mesmo se aplican- do 20 subjetvismo, que remete a uma concepcdo mais ampla que o conceito de fenomenologia. {As andlses objetvistas tm prevalecido na drea de Misica, em suas diversas formas: andlises morfolégicas, semidticas, schenke- rianas e outras. Todas elas tém em comum, de um modo geral, 0 pressuposto de que hd uma verdade objetiva a ser revelada a partir da andlse da misica (em *si mesma"). Aanalse musical fenomenol6gica, cujo ponto de partida é a ex: periéncia musical subjtiva, & qual dedicaremos especial destaque neste livro, serd detalhada em tdpico especificamente dedicadoa ela. Subjetvidade nao é indicativo de “opinio” infundada, ou mesmo defalta de critrio, A andise enomenol6gica pressupée pertinéncia das observagies,coeréncia consistencia das mesmas, o que Ihe dé condigées de utlizagdo cientfica em pesquisa De qualquer forma, € importante frisar que a andlise de uma ou ‘mais obras, pura e simplesmente, mesmo que acompanhada de in- 6 formagées biogréficas sobre o compositor, nio constitu, em si mes- ima, objetivo de pesquisa, mas meio para responder questées que 0 pesquisador levanta diante de diferentes misicas, inerentes adi rentes priticas musicais (e nfo apenas & mésica “erudita"). OUTROS METODOS: ‘A pesquisa na drea de misica pode recorrer a diversos outros pro- cedimentos metodolégicos e utilizar procedimentos interdis nares que a enriquecem. Tal como as entrevistas, 0s questiondios eas anélises musicais, esses métodos se apdiam em procedimen- tos de observacio, comparacio ou experimentacio. Podemos dar alguns exemplos: a acdstica musical, a0 se valer, de diversos métodos de registro e andlise do som, podendo aco- plé-los a abordagens etnomusicolégicas; a educagio musical e a psicologia da misica, a0 utilizarem diversos métodos provenientes da drea da psicologia, relacionando aspectos comportamentais € a construgéo de conhecimento musical, entre outros; a etnomusi- cologia, a0 incorporar métodos ori rea de actstica a suas andlises ete. Nao pretendemos apresentar aqui uma lstagem exaustiva de ou- tros métodos, até por reconhecermos que as possibilidades de criar ‘ou reelaborar métodos é infinita, desde que a coeréncia e a consis indrios da antropologia ou da tncia tedrica e prtica dos mesmos es déem sustentagio imprescindivel, portant, sejam qu cados & pesquisa, que eles sejam coerentes com os objetivos pre forem os métodos af tendidos e com o referencia tedrico adotado, que sejam também coerentes com a visio de mundo do pesquisador ¢ que permitam, efetivamente, atingir as respostas e conclusdes desejadas, mesmo que seja para negar, a0 final as hipéteses epressupostos que deram inicio pesquisa. 2”

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