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ae FERNANDO HENRIQUE CARDOSO ALTHUSSERIANISMO OU MARXISMO? A PROPOSITO DO CONCEITO DE CLASSES EM POULANTZAS: COMENTARIOS ~"()_CommntencRa felta no Somiufrlo sobre Classen Soelate na América Lating organtzado pela Universidade uo Méxten, (Mérida, dex/1071), pare comentar trabalho de N, Poulantzaa -- "Las Clavea Soctales, PEE yTT RE Te MIRROR UP TY © trabalho de Poulantzas permite duas leituras dis- tintas e, até certo ponto, opostas. Nao digo isso simples- mente para coquetear com a moda atual que procura ler nas entrelinhas o que o autor nega expressamente nas Ji- nhas. Ao contrério, penso que as duas interpretacdes de- correm diretamente do texto. Entretanto, nfo se trata de mero defeito expositivo. Antes penso que existe uma con- tradig&o entre o modo pelo qual Poulantzas faz andlises de processos histéricos e a forma pela qual trata de elaborar as categorias e os procedimentos que atribui a interpre- taco marxista das diversas “teorias regionais” em que se dividiria o materialismo histérico. Esta contradicio — que nfo é simples diferenca quanto ao grau de generaliza- cio — indica, de resto, a dificuldade metodolégica em que se debatem os marxistas que partem da interpretacdio que Althusser emprestou @ diferenca entre materialismo his-». térico e materialismo dialético, Com efeito, nas conclusées do artigo Poulantzas rea- firma que a andlise das classes feita pelo marxismo difere das interpretacdes feitas por outras correntes do pensamen- to (0) principalmente porque para Marx a concepgio da luta de classes como “motor da histéria” 6 fundamental. Isto quer dizer que “as classes nfo existem senao na luta de classes”, 0 que agrega um elemento histérico © dina- mico A sua anélise: “A constituicgfio, e portanto a prépria definicfio, das . classes, das fraccGes, das camadas, das categorias, nao pode fazer-se mais do que tomando-se em consideracio o fator dinémico da luta de classes (...) A delimitac&éo das classes nfo se reduz assim jamais a um simples estudo “estatistico” das estatisticas: depende do processo histé- rico” (p. 39-40). Fiel a este aspecto de sua compreensio do método marxista, Poulantzas mantém todo o tempo um didlogo com alguns analistas da politica francesa atual, nomeada- mente com os autores do Traité d’économie marziste, @ com as forcas politicas que se servem do tipo de inter- pretac&o contida naquele livro para definir a politica de aliancas que corresponderia aos interesses da classe ope- (1) Reproduzo a distingio entre o marxiemo e “todax as outran carrentes” com o mesmo de_generalidade que ro eneontra nn texto de Poulantsas. As cltacdes allo feitan indicando as pésinas de Estudos [11 onde a encontra o artigo de Poulantrar, a partir entretanto de ontrn tra- dugfo, 67 rfria na etapa atual de desenvolvimento do “capitalismo Monopolista de Estado". Opde-se a concepcaéo do tipo de allanca proposta, mostrando que os enganos na caracteri- zacho da situac&o concreta da classe operdria e das de- mais classes sociais no capitalismo monopolistico levam 4 erros na pratica politica que impedem uma pratica revo- lucionéria. Entretanto, no conjunto do texto, Poulantzas dilui o problema real que esté enfrentando. No discurso teérico Que faz sobre as. classes desaparece a concepcio fundamen- tal do conceito de classe como uma relagdo determinada ‘que se explicita na constituicgio de uma “totalidade con- creta”. A retérica formalista que privilegia definigées, como “se estas fossem a substantivacio de contradigées reais, en- cobre o problema tedrico e prético — simultancamente — que preocupa Poulantzas. Por certo, nos exemplos expostos e nas linhas de in- terpretacéo sugeridas por Poulantzas para a compreensio do gaulismo, por exemplo, ou para que se entenda os in- teresses especificos da burocracia, como categoria social, -numa situacgfo em que a burguesia monopolista se torna :fraccio dominante de classe, ow ainda quando indica as | diferencas entre classes dominantes e “classes reinantes”, a inspirag&o metodolégica que guia o autor é a primeira ie mais correta a que aludi acima. i; Entretanto, o cardter de relacio antagénica entre {eonjuntos sociais, decorrente de contradigdes que se déo i simultanea e circularmente em varios nfveis (econémico ¢“determinantemente”, politico, ideolégico) da realidade, que | caracteriza a andlise concreta que Poulantzas faz das clas- ses, dA lugar um discurso formal nos textos tedricos. O formalismo quase classificatério das definicées nao i ocorre no texto por motivos alcatérios que tém a ver com ; 8 estrutura formal e literéria do artigo. Ao contrario, exis- te, segundo creio, um modo de anélise formal que decorre i | do ponto de partida teérico de Poulantzas e que, se nfo impede ocasionalmente que o autor mostre a forca cria- dora de suas andlises concrctas, desorlenta os que se apro- | ximam de seus textos em busca de uma ““inspiragio me- todolégica” para utilizar a dialética marxista. A critica mais geral que gostaria de formular quanto f A este anpecto diz reapelto A distincMo, uceita por Pou- 68 lantzas, entre “objeto de pensamento” e “objeto real”, que ~ fundamenta a distinc&o althusseriana entre “pratica teé- rica”, a Teoria com T maitsculo, por um lado, e processo real por outro (2), Antes, portanto, de tentar mostrar os efeitos negativos dessa concepcio na andlise apresentada Bor Poulantzas, tratarei de explicitar a critica que faco ao ponto de partida da compreenséo do marxismo aceita por Poulantzas. te © horror & problem&tica do sujeito contido no histo- cismo e a critica ao economismo e ao empirismo tem Jevado os adeptos do althusserianismo a beirar, por um lado, o estruturalismo, evitando a histéria, e, por outro, o for- malismo idealista: seus catecismos marxistas terminam por pregar a busca da Revele&o Teérica encarnada no Concel- to, visto este Ultimo como o resultado de uma praxis ted- rica que fundamenta uma meta-teoria. Assim, o “mate- . rialismo dialético”, por exemplo, passa a ser a teoria geral, “teoricamente produzida” — isto é, decorrente da “pra- xis tedrica" — de todos os modos de produgio, cabendo-lhe ainda a especificacfio das “instAncias regionais", ou seja, da teoria econémica, da teoria das ideologias e da teoria politica, nos diversos modos de producéo. O “mate- rialismo histérico”, por sua vez, vem a ser a ciéncia que © explica a constituicio e transformac&io das formagdes so-, ciais concretas. No me parece que esta separacio arbitraria entre o nivel teérico e o processo histérico tenha fundamento ex- plicito nas obras de Marx ou possa ser recuperado nos tra- balhos de investigagéo influenciados pelo marxismo. Ao contrério, a critica da economia politica contida em O Capital tem como um de seus objetivos recusar todo tipo, de separacio entre’ teorias gerais e instancias particulares” e o isolamento dessas instancias particulares entre si. Por outro lado, o marxismo como ciéncia da histéria — se nfo se confunde com o empirismo histérico — significa preci- samente um esforco de reconstrucéo de “totalidade con- ~ cretas”. Estas implicam tanto na elaboracfio dos conceitos (2) Poulanteas repete e acelta on argumentos de Althusser de Lire te Capital. Ver Nicoa Poulantzas, “Bréves remarques sur l'objet du Capital, “In Viotor Fay, En Parfant du *Capitat”, Raltiona Anthropos, Varta, i008, pags. 295-247. 69 que explicam as relacdes historicamente constituidas como ‘ma compreens&o destes mesmos conceitos como expressio de relagdes reais (3), Essas relagdes sio postas e repos- tas continuamente nos modos de prcducio que articulam tanto as praticas das diferentes classes, como as categorias que poder&o explicd-las, Nao cabe, para Marx, portanto, >qualquer tentativa de elaboragéo de uma meta-teoria fun- damentada numa prawis abstrata que paire sobre os dife- 7 “Yentes modos de produciio, como se fosse a Raz&o debru- _gando-se sobre o real. Essa interpretacéo nao contém qualquer forma impli- _eita de historicismo ou empirismo. Por histéria se enten- ?de nela o movimento que deriva da tens&o entre forcas que objetivamente se contrapdem. O movimento (a “histéria”) qe dessa forma, insepardvel da estrutura: o préprio rela- cionamento entre as partes que mantém a unidade da di- versidade (o todo), € uma relacdo dialética, ou seja, de negagdo que se abre para uma superacho (negagdo da ne- ¢oagdo). i Ao dizer isso recoloco a quest&o do universal-concreto(4), F aue os althusserianos recusam, temerosos da volta a Hegel. Com efeito, a separacio entre “objeto de conhecimen- to” e “objeto real”, que é o ponto de partida da anélise althusseriana, é também seu ponto mais débil. Recusando -€ interpretaciio de que o.método marxista ao construir suas tategorias retém teoricamente 0 movimento que vai do abstrato ao concreto reproduzindo um processo de abstracio real — isto é, que ocorre na pratica social como um uni- ‘versal (uma abstracfio) concreta (que se dé na histéria) F— Althusser rejeita nfo sé a influéncia da légica de Hegel ‘Sobre Marx (a negacéo da negacéio), mas rejeita, além fdisso, o materialismo da doutrina marxista. A partir dai, posto que Althusser n&o aceita que a ordem légica con- tém uma dimensio ontolégica — quer dizer, produzida ‘objetivamente pelas relacdes entre os homens e por eles (8) “Pode-ne dizer, mente respeito, que @ categoria mais simples ode ‘cxprenar {io bem an, relagdee enrenciais de um emlunto sinde oven -derenvolvido como ma rolacder accuntiriny de um eoniunto multo desenvol- eatin relnction jk exintinin historieamente antes que 0 conftinto #e flvexe desenvelvide no nfvel da entegorin main conereta, A marcha do Fensanienty abatiato, que *o eleva do simpler ao concrete, reflete assim o ‘Proceso hintérico ‘real’. Manx, Grandisse, Editions Anthropos, Parte, 1967, pg. 32, (4) Fist andllse repredng on argumenton contra Althueacr de Joné ff Glannattl no prilhiante preficlo A edigfo francesa de neu veo iginea de ta Dlatectique du Travail, Aubler-Montatgne, Varin, 1071, incessantemente reproduzidas, negadas e transformadas — termina por valorizar a “pratica teérica", como recurso? para garantir a objetividade do processo do conhecimento. Entretanto, exemplo deste universal que se coloca abstra- tamente no nivel da prépria praética humana se encontra, entre outras andlises, no estudo do fetichismo, no livro pri- meiro do Capital: relagdes prévias entre os homens séo Projetadas para as coisas que passam a relacionar-se for- * malmente (8), Minimizando-se 9 papel dos universais concretos, “con- fere-se A teoria uma espessura que ela nao possui, de ne- nhum modo, salvo no seio do positivismo. Apoiando-se sobre o fato histérico de que a ciéncia inaugura sempre seu trabalho com o auxilio de instrumentos elaborados por doutrinas anteriores, Althusser desenha uma epistemologia onde a ciéncia ‘néo trabalha’, sobre um dado puramente objetivo, que seria o dos ‘fatos’ puros e absolutos. Seu trabalho peculiar consiste, ao contrario, em elaborar seus préprios fatos cientificos por intermédio de uma critica dos ‘fatos ideolégicos elaborados pela pratica tedrica ideolégica anterior’ (Pour Marz, p&g. 187). Ora, isto leva a conferir a teoria a opacidade do fato, retomando a tradicéo com- tiana que pretendia construir sua légica a partir da con- sideragéo de ‘todas as teorias cientificas como outros tan- tos grandes fatos légicos’. O paralelismo dos textos é ime- diato, um e outro implicam na substantivac&o do discurso, cientifico e na transformacio das doutrinas em material original para a investigacao” (*), Eu penso, como Giannotti, que 0 método de Marx, ao contrério do que diz Althusser, se é verdade que nao con- fundia o “objeto de pensamento” e o “objeto real”, ressal- tava que aquele reproduz “uma sintese essencial situada ~ (5) Nilo quero cltar demastadamente, Indleo, entretanto, dois textos: © dng pAge, 80-81, Tomo I, vol. I do Capital: “O cariter misterloso da forma mereadoria basela-e, portanto, pura e simplemente, em que projets ante on homens o enrater aocial do trabalho dester, como fe forke um cariter material don préprioa produtox de seu trabalho, wm dom natural noclal destes objetos e coma se, portanto, a relncio sccial que medela entre os profutores e o trabatho’ coletivo da rociedade fosse uma relacio octal estabelecida entre os préprios objetos, & margem de reus produtoren Gas)" ote, eo de pig. 84: “Mas esta forma acabada — a for dintetra — do mundo daw merendoriar, longe de revelar o cardter rocial dox trabathon privndos ¢, portanto, an relngies socials entre og predutores peivadon, 0 que faz & encobri-iar” (...) is formas gio preeisamente 4s que constituem as estegorias da economia burgucsa. Silo formas mentale neeltna pela anctedade e portanto objetivas, cm que se exprensam aa condigses de producha deate regimem octal de producho Matorteamente dada, une 6 a produgle do merendoriaa”. (8) Joné Arthur Glannottl, op. cif... page. 24.25, a fora du pratica tedrica” ‘, Althusser acredita que for- mulagées deste tipo levam ao empirismo na medida que a abstracio é vista como um processo produzido pelo real e que a esséncia (os conceitos) passa a ser um momento da prépria realidade. Entretanto, nio é esta a acepcio que os defensores de uma leitura ontolégica do Capital sustentam. Recorro outra vez a Giannotti para expor sin- teticamente o argumento: “Assim entendido (como um pro- cesso transcend&ntal de fundagdo) o conceito ou a esséncia, cessa de habitar o real como um de seus pedacos para tornar um elemento que o vem animar, de maneira mais intcira e sutil, apesar de que entre o singular e o univer- F sal fundado se tece toda uma trama de articulacéo que F convém pesquisar. A mesma coisa pode dar-se com a categoria marxista, desde que se descubra um processo de E abstracéo rea] que opera além da investigacao cientifica’(®), ae Existe, portanto, no marxismo uma espécie de “re- f flextio objetiva”, que n&o supde a separacio metafisica en- tre teoria e pratica social, entre “objeto de pensamento” e “objeto real” e que, por outro lado, evita a separacéo, tam- ; bém prépria da metafisica idealista, entre sujeito e obje- - to. Certamente, o pensamento sc d4, concretamente, no eérebro de pessoas particulares, Estas, entretanto, sio — com elas o pensamento que produzem — reais e nao se opécm, como “consciéncia", & “matéria", como cré o idea- - smo ingénuo, nem é possivel, a partir daf, fundamentar as distincdes entre “sujeito empirico”, “sujeito de conhe- eimento”, “objeto empirico” e “objeto de conhecimento”. Isso n@o passa de um jogo formal baseado em distingées da metafisica idealista. Os textos de Marx neste sentido s&o intimeros. Vou limitar-me a reproduzir um, no qual Marx trata da pas- sagem da relagéo de identidade A relacfo de igualdade, na constituicio do conceito de valor, lancando méo de um terceiro termo, abstrato ¢ geral, no caso o trabalho hu- mano abstrato: “A dissoluc&o de todas as mercadorias em tempo de trabalho nfo € uma abstracfo maior nem ao mesmo tempo menos real que a dissolugéo em ar de todos 08 corpos org&nicos. O trabalho que, assim, é medido pelo tempo nfo aparece pois como trabalho de sujeitos distin- (7) Idem, thidem, pag. 14 (8) don} Arthur Glannottl, on. cif, pa. 15, 72, tos, mas os diferentes individuos que trabalham aparecem antes como simples érgio do trabalho. Ou ainda, o tra- balho, tal como se apresenta nos valores de troca, pode exprimir-se como trabalho humano geral. Esta abstracio do trabalho humano geral existe no trabalho médio que todo individuo médio de uma sociedade humana dada pode executar, é um gasto produtivo determinado de miusculo, nervo, cérebro etc., humanos” (9), Por outro lado, essa “reflexfio objetiva" (9 nao se confunde com o idealismo, hegelliano. Se é certo que o | conceito faz parte de um momento do concreto, este, por outro lado, nfo se esgota naquele. Determina-o, como expresséo sua e se constitui historicamente como um con- junto de muitas determinacées parciais. Tanto assim que cabem no método marxista as anélises de situacées particu- lares e a histéria do processo de desenvolvimento dos modos de producdo, as quais seguem, na expressfo de Marx, em geral, um caminho oposto ao da reflexfio sobre a génesc categorial.: “A reflexo sobre as formas da vida humana, incluin- do portanto a andlise cientifica desta, segue em geral um caminho oposto ao curso real das coisas. Comeca post fes- tum e parte, portanto, dos resultados ji alcancados pelo processo histérico” (pag. 84). O processo histérico e a génese de seu entendimento, tal como s&o propostos pela prftica social, no entanto, es- t&o imersos no “fetichismo das coisas” (veja-se os textos da nota 5), que encobrem relacées sociais de exploracéo. A explicagio cientifica do processo histérico-estrutu- ral, a constituicio das “totalidades concretas explicativas” sé se completa quando se determinam, na analise, os con- ; ceitos cuja proposigéo se d& na histéria: quando os uni- versais-concretos so reproduzidos no pensamento cientifi- (fy MARX, Karl — Zur Keithk der Polltische Okiuomie, Diets Verlag, Norlin, 1958, phg, 23. Texto tradusido por J. A, Glannottt, (10) “No que diz reapelto Ae clfncian Historica © mnciats, ¢ prectan roter que o aujelto — no caro, m roctedade burguesn moderna -— & dao ko moama tempo na realidade © no espfeite. As catezoring exprimem, 10, forman e modon de existineia, ¢ freqlentemente simpler uspecton noctedade, deste mjeite: do ponto de viata elentitico, ane existéncia & antertor ae momento no qual ae comeca a falar dela enquanto tat (isto & ‘vordade também quanto Ax categoring econimicns). uma rekea & Teter, pola ela now nfercee elementor easenciale pata 9 plano de nonen entudo", Marx, Grundiese, pag. 36. 3 Co e se tornam elementos fundamentais para a explicagao e das totalidades ((11), Nao existe, portanto, a falacia empirista da identi- 7 dade entre o “objeto de conhecimento” e o “objeto real”, mas t&io pouco existe a separagiio radical da metafisica althusscriana, entre a Razéo que conhece e a Histéria que atta, que leva ao idealismo e ao formalismo. wae A consequéncia metodolégica imediata da aceitagio por Poulantzas da diferenca radical entre “objeto tedrico” e “objeto real” € o da elaborac&o das “teorias particulares” das varias “instancias regionais” em que se diversificam a) realidade e o pensamento. Essa preocupacéio com uma “coupire” formal (isto é, que contém necessariamente uma concepgaio estatica do processo social) entre o econdmico, © politico, o ideoldgico ete. inspira persistentemente a pro- blematica de Poulantzas, neste texto como, mais ainda, em Pouvoir Politique et Classes Sociales. Assim, logo no inicio de sua comunicacéo, Poulantzas define as classes sociais para a teorla marxista como se fossem “grupos de agentes sociais, de homens, definidos principalmente, mas nao exclusivamente, por seu lugar no ; processo de produgho, quer dizer, na esfera econémica” (pag. 7). Deixando de lado o descuido da afirmacio de que 7 as classes siio “grupos de homens” (pois, aqui sim, existe uma concepciio empirista do marxismo), ressalta o problema, falso @ meu ver, da separac&o, autonomia ou autonomia relativa F do econémico frente ao politico. Para Marx, nio se tratava de campos distintos de praticas humanas e de areas ted- ; Yicas diversas, mas de niveis de complexidade do real que se articulavam em totalidades complexas de pensamento. N&o quero reproduzir outra vez textos, de resto arqui- -conhecidos, sobre o método marxista e especialmente o famoso texto, j4 referido, do postfacio da Critica da Eco- nomia Politica. Expressamente, ao criticar o método da economia politica, Marx critica também a idéia de uma economia (nem é por acaso que o Capital sc sub-intitulava, no sentido forte da palavra, “critica da economia politica”) (11) Bobre eate procedimento on textox clfnaieos encontram-se no estudo xobre “QO miétode da economia pollticn”. Ver, especialmente Marx, rundriane, op. elt. paea. 30-31, 4

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