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1 Corrosao 1.1 CONCEITOS Num aspecto muito difundido e aceito universalmente pode- se definir corrosdo como a deterioragao de um material, geral- mente metélico, por agdo quimica ou eletroquimica do meio ambiente aliada ou nao a esforgos mecdnicos. A deterioragao causada pela interagao fisico-quimica entre o material e o seu meio operacional representa alteragGes prejudiciais indesejéveis, soffidas pelo material, tais como desgaste, variag6es quimicas ou motificagdes estruturais, tornando-o inadequado para o uso. A deterioragao de materiais ndio-metélicos, como por exem- plo concreto, borracha, polimeros e madeira, devida & ago do meio ambiente, é considerada também, por alguns autores, como leteriorago do cimento portland, emprega- oem concreto, por ago de sulfato, & considerada um caso de carrasto do concreto; a perda de elasticidade da borracha, devi- 4a. oxidagao por ozénio, pode também ser considerada como corrosto; a madeira exposta & solucio de dcidos e sais dcidos perde sua resisténcia devido a hidrélise da celulose, e admite-se ‘este fato como corrosdo da madeira Sendo a corrosio, em geral, um processo espontineo, esté constantemente transformando 0s materiais metilicos de modo que a durabilidade e desempenho dos mesmos deixam de satis- fazer os fins a que se destinam, No seu todo esse fendmeno assu- ‘me uma importéncia transcendental na vida moderna, que nio pode prescindir dos metais e suas ligas. ‘Algumas dessas ligas estdo presentes: + nas estruturas metélicas enterradas ou submersas, tais como minerodutos, oleodutos, gasodutos, adutoras, cabos de comu- nicago e de energia elétrica, pferes de atracagao de embarca- 8es, tanques de armazenamento de combustiveis como ga- solina, dlcool e Gleo diesel, emissérios submarinos; + nosmeios de transportes, como trens, navios, avides, automé: veis, caminhdes e énibus; + nas estruturas metalicas sobre o solo ou aéreas, como torres de linhas de transmissdo de energia elétrica, postes de ilumi- nagio, linhas telefOnicas, tanques de armazenamento, insta- lagoes industria, viadutos, passarelas, pontes; + emequipamentos eletrOnicos, torres de transmissio de esta- G8es de radio, de TV, repetidoras, de radar, antenas, etc. + emequipamentos como reatores, trocadores de calore caldeiras. Todas essas instalagbes representam investimentos vultosos: ‘que exigem durabilidade e resisténcia & corrosio que justifiquem 08 valores investidos e evitem acidentes com danos materiais incalculéveis ou danos pessoais irreparsveis. Com excegao de alguns metais nobres, como o ouro, que po- dem ocorrer no estado elementar, os metais sao geralmente en- contrados na natureza sob a forma de compostos, sendo comuns as ocorréncias de 6xidos e sulfetos metélicos. Os compostos que possuem contetido energético inferior aos dos metais sio relati- vamente estiveis. Desse modo, os metais tendem a reagir espon- taneamente com os tiquidos ou gases do meio ambiente em que so colocados: 0 ferro se “enferruja” ao ar € na égua, € objetos de prata escurecem quando expostos ao ar. Em alguns casos, pode-se admitir a corrosio como o inverso do proceso metahirgico, cujo objetivo principal é a extrago do metal a partir de seus minérios ou de outros compostos, ao passo que a corrosao tende a oxidar o metal. Assim, muitas vezes 0 produto da corrosio de um metal é bem semelhante ao minério do qual € originalmente extraido, O Gxido de ferro mais comu- mente encontrado na natureza é a hematita, Fe,O,, ¢ a ferrugem € 0 Fe,0, hidratado, Fe,0,.nH,0, isto é, 0 metal tendendo a retomar a sua condigao de estabilidade. 1.2 IMPORTANCIA Os problemas de corrosdo sio freqiientes e ocorrem nas mais variadas atividades, como por exemplo nas indistrias quimica, petrolifera, petroquimica, naval, de construcao civil, automobi- listica, nos meios de transportes aéreo, ferrovisrio, metrovidrio, maritimo, rodoviério e nos meios de comunicacdo, como siste- mas de telecomunicages, na odontologia (restauragSes metili- ‘cas, aparelhos de prétese), na medicina (ortopedia) e em obras de arte como monumentos e esculturas, As perdas econdmicas que atingem essas atividades podem ser classificadas em diretas e indiretas So perdas diretas: a) 05 custos de substituigdo das pecas ou equipamentos que so- freram corrosao, incluindo-se energia e mao-de-obra; 2 CORROSAO ») os custos ¢ a manutengdo dos processos de protecao (prote- «fo catédica, recobrimentos, pinturas, etc). As perdas indiretas so mais dificeis de avaliar, mas um bre- ve exame das perdas tipicas dessa espécie conduz & conclusa0 de que podem totalizar custos mais elevados que as perdas dire- tas e nem sempre podem ser quantificados. Sao perdas indiretas: 8) paralisagdes acidentais + para a limpeza de permutadores de calor ou caldeiras; + para a substituicdo de um tubo corroido, 0 que pode custar relativamente pouco, mas parada da unidade pode represen- tar grandes custos no valor da produgio: ») perda de produto, como perdas de 6leo, soluces, ou égua através de tubulagdes corrofdas até se fazer 0 reparo;, ©) perda de eficiéncia: + diminuicio da transferéncia de corrosdo em trocadores de calor + nos motores automotivos, os anéis de segmentos dos pistoes as paredes dos cilindros so continuamente corroidos pelos ‘gases de combustdo e condensados. A perda das dimensoes criticas faz com que haja um excesso de consumo de leo € ‘gasolina, quase igual ou maior do que o causado pelo desgas- te natural devido a0 uso: + incrustagdes nas superficies de aquecimento de caldeiras oca- sionam aumento no consumo de combustivel: incrustagbes de baixa condutividade térmica e elevada espessura provocam baixa transferéncia de calor, ocasionando queda na eficiéncia da caldeira com consequente aumento no consumo de com- bustivel; + entupimento ou perda de carga em tubulagdes de gua, obri- ¢gando.a custo mais elevado de bombeamento, devido & depo- sigdo de produtos de corros 4) contaminagao de produtos: + caso de pequena quantidade de cobre, proveniente de corro- sdode tubulagdes de latdo ou de cobre, que pode invalidar uma fabricagdo de sabao, pois os sais de cobre aceleram a rancidez, provocando a diminuigao do tempo de estocagem; + alteragio nas tonalidades de corantes motivadas por tragos de metais, + equipamentos de chumbo no sto permitidos na preparagio de alimentos ¢ bebidas, devido as propriedades t6xicas de peque- nas quantidades de sais de chumbo, que podem causar satumismo, doenga que afeta o sistema nervoso, Daf, atualmen- te, a ndo-utilizagdo de tubos de chumbo para agua potavel; ‘+ arraste, pela agua, de produtos de corrosio, como xidos de ferro, tornando-a imprpria para consumo humano ou para uso industrial como, por exemplo, fabricas de alimentos, lat nios, papel e celulose: ) superdimensionamento nos projetos: + fator comum no dimensionamento de reatores, caldeiras, tu- bos de condensadores, paredes de oleodutos, tanques, estru- turas de navios, etc. Isto porque a velocidade de corrosao desconhecida ou os métodos de controle da corrosio sdo in- certos. Como exemplo tipico de superdimensionamento,” pode-se citar 0 de uma tubulagao de 362 km de comprimento © 20,3 cm de didmetro que foi especificada preliminarmente para ter uma espessura de 0,82.cm, mas com adequada prote- 40 contra a corrosio péde ser especificada com uma espes sura de 0,64 cm, economizando-se, ent, 3.700 toneladas de ago, com aumento da capacidade interna em 5%; jor através de produtos de + em alguns casos, nao hé informagdes quanto & previsdo do ‘tempo de vida razodvel de materiais metilicos em determina- dos meios como, por exemplo, o armazenamento geol6gico de despejos nucleares de alto nivel, em depésitos profundos, sendo exigéncia do Congresso dos EUA que os containers ‘mantenham sua integridade durante 300-1,000 anos. Em alguns setores, embora a corrosao nao seja muito repre- sentativa em termos de custo direto, deve-se levar em considera glo o que ela pode representar em: 4) questdes de seguranca: corrosdo localizada muitas vezes re sulta em fraturas repentinas de partes criticas de avides, trens, automéveis e pontes, causando desastres que podem envol- ver perda de vidas humanas. Vazamentos em tubulagdes de gasolina, g4s natural ou em tanques de combustiveis podem causar explosdes ¢ incéndios de grandes proporgdes; interrupgdo de comunicagées: corrosio em cabos telefnicos, ‘ocasionada por correntes de fuga existentes no solo e prove- nientes de fontes de corrente continua usadas em sistema de transporte eletrificado; preservagdo de monumentos hist6ricos: como desenvolvimen- {o industrial, tem-se a conseqiiente poluigdo atmosféricae com cesta a possibilidade da presenga de écido sulfuroso e sulfir co, que atacam os materiais metélicos e ndo-metélicos, como mérmore ou conereto, usados nesses monumentos. O écido sulfirico pode também ser originado, neste caso, pela presenca de bactérias oxidantes de enxofre ou de compostos de enxofe. b Como justificativas da importancia dos itens a, be c, sdoapre- sentados a seguir casos de corrosao ocorridos em diferentes lo- cas, ‘A inddstria aerondutica tem grande preocupago com a ma- rutengio de avides e helicépteros para evitar, ou minimizar, pro- cessos de deterioragao que poderiam causar custos diretos ele- vados ¢ a perda de vidas humanas. Pode-se citar 0 caso de trés avides Comet que, em 1952, se desintegraram em pleno vo, devido a fadiga de materiais, e de um Boeing 737-200, da Aloha Airlines, que, em 1988, perdeu parte de sua fuselagem, também em pleno voo, causando a morte de um tripulante, mas com 0 piloto conseguindo, milagrosamente, aterrissaresse avido em uma itha do Havat sem maiores danos para os passageiros.’ Nesse lltimo caso ocorrew acdo combinada de tensGes cfclicas € corro- so atmosférica em meio semitropical.* ‘A queda da ponte Silver Bridge sobre 0 rio Ohio (EUA), ocor- ridaem dezembro de 1967, deu-se em conseqiiéncia de corrosio sob tensdo fraturante, provocando a morte de 46 pessoas.° Lima’ cita diversos casos de corrosio observados em ponte: viadutos ¢ elevados no Rio de Janeiro, devidos a varias causas, entre elas defeitos no projeto estrutural e falta de manutengao. Caso de corrostio que também evidencia falha de projeto, ocorrido na Suica em 1987,’ foi a queda da cobertura de uma piscina térmica, causando a morte de 13 pessoas. A queda de- veu-se a corrosdo sob tensdo fraturante do ago inoxidével AISI 304, usado na parte estrutural. Como no tratamento de 4gua de piscina € usual o emprego de cloro, o meio ambiente apresenta essa substncia que, em contato com a umidade, forma écido cloridrico, HCI, que é agente corrosivo para agos inoxidaveis, Corrosio em tubulagGes de derivados de petréleo pode cau- sar perfuragdes e conseqiiente vazamento do fluido transporta- do, seguido de incéndio de grandes proporgées, como 0 ocorri do em Cubatio (SP), ou explosio como a que ocorreu em Gua-

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