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Obras de Zygmunt Bauman: + 44 cartas do mundo liquido moderno * Amor liquide + Aprendendo a pensar ‘com a sociologia + Aarte da vida + Bauman sobre Bauman + Capitalismo parasitério * Cegueira moral + Comunidade + Confianga e medo na cidade + Acultura no mundo liquido moderno + Estado de crise * A ética é possivel num ‘mundo de consumidores? + Europa + Globalizacio: as consequéncias humanas + Identidade + Isto ndo € um didrio + Legisladores e intérpretes + Omal-estar da pés-modernidade + Medo liquido + Modernidade ¢ ambivaléncia + Modernidade e Holocausto + Modernidade liquida + Para que serve a sociologia? + A riqueza de poucos beneficia todos nés? + Sobre educagio e juventude ~ AA sociedade individualizada “"Tempos liquidos + Vida a crédito + Vida em fragmentos + Vida iquida + Vida para consumo * Vidas desperdicadas + Vigilancia Kiquida Zygmunt Bauman e Carlo Bordoni ESTADO DE CRISE Tradugtio: Renato Aguiar ZAHAR a sada de cise t6picos a ela associados so debatidos pelos autores de modo original. Os autores sao gratos a John Thompson por seu estimulo conselho, ¢ gostariam de agradecer a Elliott Karst editorial, Neil de Cort, gerente de producto ‘Mueller, copidesque, pelo auxilio profissional Bordoni gostaria de agradecer a Wendy Doherty pela ajuda cui- dadosa na tradugio de seu texto. Crise do Estado No séulo XX, o qu substitu o Estado-nacio(pre- sumindo que le seja substitu por algo) como mo- deo de governo populart Nés no sabemos. nic J. Hossaawit! Uma definicao de crise Canvo BorooM: Crise, Da plawa graga soa, “hizo, “resultado de bem como pertinente & art Palavra que ocorre frequé ;nte nos jornais, na televisio, conversas do dia a dia, que de tempos em tempos & usada| ficar dificuldades financeiras, aumento de precos, queda na demanda, falta de liquidez, imposicéo de novas taxas ou tudo isso junto. so caracterizada por falta de investimento: «Bo, aumento do desemprego, um terme au 80 a uma entidade abstrata, o que soa vagamente sinistro. Isso ° 0 Eeude decrse 1970, quando a situacdo econémica geral era do caminho a temporadas nas quais © consumismo de massa reinou imperturbado. jerava-se que passar por um periodo “conjuntural o dolorosa, mas necesséria, em vista de alcar Era um momento de ajuste para preparer 5 © atacar novamente a fim de recuperar , @ negaciar acordos assim que as coisas se Uma conjuntura era um periodo curto em comparacio com todo 6 restante. O termo js implicava uma atitude positiva, confiante em relagio ao futuro imediato, em contraste com outr mente usados para designar difculdades econémicas, no passedo. Depeis da queda de WallStreet em 1929, comecou a Grande Depres- 80. Ainda hoje, se comparado a “conjuntura’, esse termo evoca ‘Actise mais séria da moderidade, aquela de 1729, que causou ‘0 colapso da bolsa ¢ provocou uma série de suicidios, foi habilmente © péndulo da economia. Ce afetados pela crise esto ‘em vez de mitigar seu impacto sobre os cidadaos. (Cise do Estado " puberdade a vida adulta, lum momento de transicéo de uma condigso anterior para uma nova — de uma transigao que se presta necessariamente ao crescimento, como prelidio de uma melhoria para um status diferente, um passo adiante decisivo, Por isso 0 terme incita menos medo. Como se pode ver, “crise”, em seu sentido préprio, express algo positivo, criative e otimista, pois envolve mudanca © pode ser tum renascimento apés uma rupture. Indica separacio, com certeza, mas também escolha, decis8es 6, por conseguinte, 2 oportunidade do expressar uma opin re sentido de maturagao de uma nova experiéncia, a qual leva a um ponto de nio retorno (tanto no ambito pessoal quanto no histérico- social). Em resumo, 2 crise 6 0 fator que predispoe 8 mudanga, que prepara para futuros ajustes sobre novas bases, ©) lutamen- ‘econémico. Hé pouco tempo, a nogao de “crise” uma condi¢ao complexa @ contra- ‘a complexidade de um mal-estar social que tem se mostrado cada ‘vez mais importante. A percepcao disseminada & de que a cura é pior que a doenca, pois 6 mais imediata e notavel na pele das pessoas. Essa crise ver de longe. Tem suas raizes nos anos 2000, mar- cada pela nova eclosdo de terrorismo e a emblematica destruicso das Torres Gémeas em Nova York, em 2001. Nao foi nenhuma coin- 2 Estodo de cite mercados financeiros comecaram a tremer, sada de bom. As grandes cor mercado mundial padronizado e homogeneizado, as expensas de pequenos produtores e redes comerciais. A liberalizacao das fronteiras, poré! ue comecouna Améri- pelo mais sério colapso de todos os tempos itrando-se na Europa e desencadeando a crise, para a qual no cofiseguimos ver uma saida. industrial na atualidade, as teorias de Keynes no pu cadas. Vejam 0 caso da Grécia, no qual as imensas contribuigbes da Unido Europeia s6 servem para reduzir o déficit temporariamente e ‘no logram resultar em novos investimentos produtivos. © péndulo ‘nao pode se De modo semelhante, as empresas privadas ndo tém interesse ‘em investir capital em paises que estejam pasando por dificulda- des sérias, em parte por causa do arrocho no crédito ba especialmente em fungdo de retornos econémicos inconsi resultante da redugéo do consumo. Nessa fase, nés testemunhamos o curioso fenémeno do aumen- to de precos dos bens essenciais, o que vai contra as tendén de mercado (eles deveriam cair em consequé demand): 0 aumento de precos busca compens tise do Estado 8 iminuigdo das vendas, remunerando © produtor por perdas sofridas em funco da incapacidade de vender. Numa etapa posteri medidas corretivas adequadas nao forem implementadas, a queda dos precos ao consumidor reduz a produedo, engendrando uma fata aumentos forgados de preco, smpos de guerra, com pi 10 mercado negro), 0 que a Europa uma recessio grave, registra:se um aumento geral de precos dos b 10 (basta fazer umas compras répi- das no supermercado intamente com uma estagnago ou aueda dos pregos ome dbvio os sinas de uma seria escassez, a qual, se no corrigid,levaréine- de dinheiro, que ¢ usado em consumo (em vez de ser investido}; ou, 'se estivermos falando de grandes montantes de capital, transferido para o estrangeiro, onde estaré mais seguro ou teré uma chance de recuperar pelo menos parte dos lucros perdidos. ‘© aumento do prego dos bens de consumo nao apenas desvia recursos do investimentoe do mercado de bens imei, Para outros, pode-se observar um “efeito de que 0s faz gastar baseados na renda do ano ante assim 0 padrao de vida e fazendo-os contrair dividas. Esse é uma “ Estado de cise tise do Estado 8 forma ébvia de autodefesa psicolégica, na qual os indviduos tentam Infelizmente, se essa condigao nao for corrigida, ela vai gerar cconter a ansiedade que os impregna pelo colapso de toda e qualquer ‘outros problemas, numa desastrosa reacéo em cedeia. Redundén- certeza sobre o futuro, cias privem as familias de poder de compra, queimam poupancas i @ diminuom 9 consumo, o que por sua ver se reflete no camércio e na producdo. Tal situacdo abre o caminho para a estagnacdo, a mais nBmicas, na qual o Estado e 0 governo, investem na dirego oposta e aumen- ituags ica especial desta c desfavoravels, que podiam ser resolvidas num cur- 1ssou. Agora, as crises ~ tdo vagas ¢ generalizadas por envolverem uma parte tdo grande do planeta ~ levam éons para. revertor a direcéo. Elas progridem muito lentamente, em contraste com a velocidade na qual todes as demais atividades humanas na realidade contempordnea de fato se mover. Todo e qualquer prog- néstico de solugae 6 continuamente atuaizado e, em sequida, adiado para outra data. Parece que nunca vai acabar. ‘Quando uma crise scabs, outra, que nesse interim chegou roendo_ 1nossos calcanhares, entra em cena e toma seu lugar. Ou talvez se trate da mesma imenia erise Qué alimenta a sirmesma e muda com o tempo, transformando e regenerando @ si propria como uma entidade terato- _génica monstruosa. Ela devore e muda o destino de milhées de pessoas, fazendo disso uma regra, e ndo uma excecéo, tornando-se um habito A inflagao 6 outro problema. O colapso do valor di incongruéncia progressiva com relagio aos bens de consumo, foi por cenquanto evitado. A inflago est ligada a todas as crises econémicas 10 curto: 6 dinheiro j4 no pode ‘0 desespero, Um cancer altamente 10 ritmo da velocidade da moeda. ido ela muds de mios, menos valor tom, Néstemos 19 permanecer na zona do euro. Um retorne a drac- inoportuna ocasional da qual nos vernos VViver em estado constante de tor um lado posit comecar pela Alemanha),e eles no tém intencio de cairna armaditha de Weimar ume segunda ver. Eles tm os instrumentos certos para. im como estamos resignades a viv impostas pela evolucéo dos tempos: _ ima de tudo, medo. O sentimento smpanha 20 longo de uma realida- .da pela inseguranca. ito diferente das teorias de Keynes, adotadas para resolver a INés temes de nos habituar a conviver com a crise. Pois a crise de 1929), ¢, & nossa custa, estamos sofrendo suas consequéncias cesté aqui para fcar.

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