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CURSOS DE ESTETICA Volume T Com 0 Prefécio da I* edigio de H. G. Hotho G. W.F. Hegel Tradugdia Marco Auréiio Werle Revista Téenica Marcio Seligmann-Silva Consutroria Vicwor Knoll Oliver Tolle ‘SBD-FFLCH-USP- wn bez Titulo do origina: Vortesunigen tber die Astveik F edigao 1999 2 edigdo 2001 Dados Interacionais de Catalogasio sa Publicasie (C1P) (Camara Brasitejca do Livzo, SP, Brash) Hegel, Georg Withelm Friedrich, 1770-1831, ‘Cursos de Bstética 1G, W. Hegel :adugdo de Marco Au relia Werle :revisto técnica de Marcio Seligmann-Silvs ; con- sulteris Vietor Knoll e Otiver Tolle ~ 2, ed. tev Si0 Paulo [Eitora da Universidade de So Paulo, 2001. ~ (Citssices ; 14) "Titulo original: Vorlesungen Ghee die dsthetik. i gen ISBN: 95-314.0467.3 1. Rstitiea, §, Titalo HL. Série. 99.9721 DD-701.17 {dies para catélogo sinemdico 1. Bstética Ane 70147 Diteitos em Lingua Portuguesa reservaitos & [idusp ~ Editora da Universidade de Sto Paulo Ay. Prof. Laciuno Guatherto, Travessa 1, 374 @ andar ~ Ed. ds Antiga Relioria - Cidade Universititia (98508-9090 - Sto Paulo ~ SP ~ Brasit Fux (xx! 1) 3818-4351 ‘Tel, (Oxx1}) 3818-4008 / 3816-4150 www usp brfedasp = emnait edusp @edo.usp.br Inpresso no Brasil 2001 Poi fio depo legal DEDALUS - Acervo - FFLCH-FiL ma SUMARIO Nota do tradutor ..... Prefiicio de H. G, Hotho para a I* edigdo dos Cursos de Bstética «0.0.0.0... 17 INTRODUGAG 1, Dauimmracao ba Esterica & REFUTACAO DE ALGUMAs OxiegdHs CONTRA A FHOSOFIA DA ARTE 0c. eee eee 1, specs ne TRATaMENTO CIENTIFICAS 00 BELO & DA ARTE TI, Coxceivo po Beto Aarisnco Conceecoes Usuais ba ARTE .. 1. A Obra de Arte como Produto da Atividade Humana . . 2, A Obra de Arte como Producdo Sensivel Dirigida para 9 Sentido Human 3, Finatidade da Arte ve DepucAo Historica po Verpapeiko Concerro ba Ante 1. A Filosofia Kantiana . 2, Schiller, Winckeimann, Schelling 3 Alronia ... Divisao a8 86 Parte I. A IDEIA DO BELO ARTISTICO OU 0 IDEAL Posigdo da Arte em relagio & Efeiividade Finita e a Religidio ¢ & Filosofia... 707 CURSOS DE ESTETICA Prineiro Captidlo: Couseito du Belo em Geral i2d L Albis... : L221 2. AEIsTENCIA DA EIA. 2s 3.A Infia 90 Bato. : 126 Seguudo Capitulo: O Belo Natural . 231 A, O Belo Natural enquanto Tal 0... 2D JA Nddia COMO Vida oe eee tect eee 231 2. A Vitalidade Natural enquauto Bela . wae 138 3. Modos de Consideragio da Vitalidade Natural ne LAl B.A BELEZA EXTERIOR DA FORMA ABSTRATA B DA UNIDADE ABSTRATA DA MATERIA SENSIVEL cece cece eee 146 147 147 150 152 153 is4 156 159 161 165 165 165 172 185 1A beleza da Fornta abstrata a. A Regularidade. b. A Conformidade a Leis c. A Harmonia... 2A Beleca como Unidade Absteata da Matéria Sensivel . C. Dertcitxera bo Brio Natura... 1. O Interior no Imediato enguanto apenas Interior . 2. A Dependéncia da Existéncia Singular Imediata 3. O Aspecio Limitado da Existéncia Singular hmediata Terceiro Capttuio: O Belo Artistico on 0 Ideal . A.O Ira ANTO TAL. 1 A Bela individualidade . . 2. A Relagtio do Kieal com a Natweca . B.A DereaMinipade 00 IDEAL 6.0. 4. A Derermnmpape IpgaLenguanto Tal. 185 1. O Divino como Unidade ¢ Universatidade weeee ee ABS 2. O Divino como Circuto dos Deuses 186 3. O Repouso do Ideat 186 ILA Acho... : 188 1. O Estado Universal do Mundo .. +189 a. A Autonomia Individua A ‘Epoca dos Heréis ..189 bd. Os Atuais Estados Prosaicos .... 201 cA Reconstrusto da Avtonomia Individual ....203 2. ASiuagdo ..... : 205 a. A Auséncia de Situagao ... 8 SUMARIO b. A Situacio Determinada em sua Inocuidade ..209 6. A COMSEO eee e cece eee BAAGHO cect teens a. As Poténcias Universais do Agir b. Os Individuos Agentes .., ¢. O Cariter ... tee [HT A Deruwwasmane Exteaion 90 FoEat 1.A Exterioridade Abstrata enquanto Tat : 2 A Concondéncia do Ideal Concreto com a sua Redlidade Exterior 256 3. A Exterioridade da Obra de Arte Ideal na Relagdo com o Piiblico .. . 266 C.O ARTISTA wee 1. Fantasia, Génia ¢ Entusiasmo . a. A Fantasia y...... b. O Talento eo Génio c. O Entusiasmo . 2. A Objetividade da Exposig@o . 3, Maneira, Estilo e Originalidade . a. A Mancira Subjetiva.. b.O EStibo cecieeeees c. Originatidade ........ GLOSSARIO . 0. eee NOTA DO TRADUTOR A tradugdo que ora apresentamos obedeceu a determinados critérios, os quais ‘passamos a expor. Para a maior parte dos termos alemdes que possuem equivalén- cia latita optamos por uma tinica solugdo, Assim, Gegenstand ¢ Objekt sempre foram traduzidos por “objeto”, Besondern © Partikuléir por “particular”, Staff © Materie pot “matéria”; Produktion ¢ Hervorbringung/Herstelling por “produgio”, Existeng e Dasein por “existéncia” etc. Mas quando num determinado perfodo ou contexto temético equivalente alemio surge em contraste com o terme latino € julgamos necessirio marcar este contraste, acrescentamos os termos do original entre colchetes; [ ]. 0 mesmo procedimente foi adotado em outros casos de empre- ‘g0 de um dnico termo em portagués para traduzir termos diferentes da Lingua ale’. € onde se apresentava a necessidade de marcar a distingio no original para uma compreenso adequada do texto. Por exemplo, acrescentamos o termo alemiio en- tre colchetes no caso de “sentimento” quando traduz Gefitii, para diferencié-lo de Empfiriding, que € sempre “sentimento” sem acréscimo do termo alemao, © termo Empfindung as vezes foi traduzide por “sensagio”, sendo neste caso indicado entre colchetes. Seguimos a mesmna regra quando da tradugio de um termo aleméo, deci- sivo para a compreensio do pensamento estético de Hegel por diferentes termos do portugués. Os termas da familia do an sich fer si}; fir sich [para si}, om und fiir ‘sich fern ste para si], quando no original constituem uma s6 palavra, por exemplo, Filrsichsein {ser-para-si}, a tradugiio ird hifenieé-los. Traduzimos in sich por “em si mesmo” para distingui-lo de an sich fem si], Neste caso in sich @ in sick selbst apresentam a mesma tradugio: “em si mesmo”. Esta solugio, porém, mio df conta CURSOS DE ESTETICA do an sich selbst que tivemos de traduzir por “em si mesmo", acrescentando a expresso alemi entre colehetes. Para distinguir a “idéia”,em sentido kegeliano, do termo corrente “idéia” optamos por marcé-ia com maitiscula: “Idéia”. Preferimos traduzir Gestalt por “forma” ¢ nio por “figura”, em raziio da conotagho estética que o termo “figura apresenta mas artes visuais. Ressalte-se, porém, que a tradugo para “figura” nao ¢ incorreta, tanto que em alguns momentos optamos por ela, por exemplo no caso de caracteres, personagens de uma tragédia, ¢ quando se tratava de uma figura matemitica, por exemplo um tidngulo, Para diferenciar Gestait de Form optamos por marcar esta com a inicial maiascula: “For- ma" Portanto, Gestalt é “forma” (miniscula) enquanto Form é “Forma” (maits- cula). A difcrenga bisica entre Form ¢ Gestalt reside no fato de que Gestait € hecessariamente uma forma efetiva, determinada, ao passo que a Form possui um cunho mais gerai, universal ¢ indeterminado, Podemos perceber esta diferengacom- parando as formas [Formen} de ante (simbdlica, ckissica ¢ romantica) com yma forma [Gestalt] individual e artistica numa pintura particular, Entretanto, toda Gestalt & sempre uma Form, como, por exemplo, pocemos observar na filosofia da nature- za da Encictopédia, na abordagem da Gestalt inorginica (§ 310) ¢ da Gestalt orga- nica (§ 353). As formas inorginicas sto as configuragdes minerais, 06 cristais etc, enquanto determinagses da Form, A forma inorginica “ainda nilo 6 Gestalt orgini- ca, esta que nfo mais se apresenta segundo o enteudimento; aquela primeira Form {a forma inorgainica] ainda se mostra desse modo porque ainda niio é Form subjeti- va" (Bd, Suhrkamp, vol. 9, p. 201). Os termos fnhalte Gehatt foram ambos traduzidos por “contedido”, mas quan- do “conteiido” € a tradugo de Geiralt aparecera com a inicial maidscula: “Contes do”. A diferenca entre os dois termos no é ficil de ser estabelecida em Hegel, conforme nota Joachim Ritter: “A diferenciagdo entre Inhalt ¢ Gehalt em Heget _geralmente se encontra limitada a nuangas no processo dialético que, em termos de definiciio, sio dificeis de serem apreendidas (mesmo quando escolas-de-Gehaltintei- ‘a se reportam a Hegel; note-se que Lukaes acentua a posi¢ao central deste coneeito para a estética de Hegel)” (Historisches Warterbneh der Philosophie, vol. 3, p. 142), Em termos gerais, Gehalt designa um contetido em sentido mais amplo, um contetido impulsionado pelo estado do mundo sobre os individuos ou um conteido gue a subjetividade do artista traz mediado consigo. 14 Inhalt é 0 conteido geral- mente tematizado no horizonte da relagdo forma [Form] ¢ contesido {nialt] e pode designar qualquer contetido, no sentido de um contetido individual e particular, conforme explicita Hegel: “Denominamos de contetido fixhaii} ¢ significado o que cm si mesmo simples, a coisa mesma reduzida a suas determinagdes mais simples, mesmo que ubrangentes, a diferenga da execugdo, O conteiido de um livro, por R NOTA DO TRADUTOR exemplo, pode ser indicado em algumas palayras ou perfodos e nele nio deve apa- recer outta coisa a no sero geral j4 indicado no indice {Inhale]” (Ed. Subrkamp, vol. 13, p. 132). Gehals é um contetido que possui um determinado “tcor”, um contetide mediatizado, tanto que “teor” pode servir como opevo de tradugdo para Gehali, Q problema desta tradugao, porém, reside no fato de que um dos sentidos de “teor’ é: “proporgio, em um todo, de uma substincia deverminada” ¢, neste caso, nav é sindnimo de “contetido”, Instala-se, assim, um erro de tradugo, uma vez que em Hegel, no ambito da estética principalmente, Gehait sempre 6 “conted- do” total e nunca a “proporgiio” num todo. Otermo Darsteilung na maior parte das vezes foi traduzido por “exposigiio"; algumas vezes, porém, por “representagdo” (com acréseimo do termo alemiio entre colchetes), tendo em vista que o termo “exposigao” pode facilmente ser confundido com “mostra”, no sentido de uma “mostra de arte”, Nesta opcio de Darstellung por “jepresentagio”, porém, apresenta-se 0 perigo do falseamento de uma distingdo importante da filosofia pés-kantiana ¢ idealista, a saber, entre Darstellung & Vorstellung, terma este que mais propriamente corresponde a “representagao” em portugués. A Vorsteliimg situa-se em Hegel, de modo geral, aquém do proprio con- ceito (cf. §§ 1-2 da Enciclopedia), a0 passo que a Darstellung é a expresséo do desenvolvimento pleno do conceito, da abolig&o da separagiie entre o conceito ¢ a sua tealidade. Por isso, “representagio” quando traduz Darstellung deve ser toma- da no sentido de uma “representagio plena” (onde niio ha separagdo entre interior & exterior), de uma “apresentagio” ou “manifestagiio” total do espirito ¢ no no sen- tido estrito de “te-presentagtio" ou de mera “concepgio”. A tradugiio baseou-se na edigho Werke fin 20 Bander), Frankfurt am Main, Subrkamp, 1986, As Vorlesungen iiber die Asthetik compGem os volumes 13, 14 15 ¢ foram reeditadas por Eva Mokdenbauer e Karl Markus Miche! com base na 2* edigio de 1842 (a If edigdo de 1835 também foi consuliada), organizadas por Heinrich Gustav Hotho. A edigdo de Priedrich Bassenge (Asthetid, Berlin, Aufbau, 1935, 2 vols., “Introdugdio” de Georg Lukécs) seguie orientagio semelhante, 20 passo que na Jubildunsausgabe de Herrmann Glockner (Seintliche Werke, 20 vols., Stuttgart, Fromman, 3° ed., 1953; 0s volumes X11, XI e XIV slo dedicados a Cursos de Estética) foi privilegiada a 1* edigdo de Hotho, embora nao apresente diferengas substanciais em relagdo & edi¢do Subrkamp, Glockner/Bassenge dividi- ram alguns subcapitulos de modo diferente, acrescentando algumas subdivisées. Quanto ao texto propriamente dito, a excegtio encontra-se no comego do primeira capftaio CO Conceito do Belo em Geral") da I* parte (vol. 13, Ed. Suhrkamp, p. 148), onde a edigdo Subrkamp seguiut a 2* edigdo de Hotho, optando pela expresso “nia podem alienar-se", observando em nota que na 1" edicdio de Hothe ié-se: “nto B CURSOS DE ESTETICA podem realizar-se”. Glockner/Bassenge seguiram esta tltima opgdo sem indicar nada em nota Dentre as tradugies disponiveis, consultamos prineipalmente a italiana de Nicolo Merker e Nicola Vaccaro (Estetica, Milo, Feltrinetli, 1963, 1 vol.), a espa- nhola de Rall Gabaz (Estética, Barcelona, Peninsula, 1989-1993, 3 vols.) ¢ a fran- cosa de Jean-Pierre Lefebvre e Veronika Schenck (Cours d'esthétique 2, Patis, Aubier, 1995), que nos foram bastante steis, Consultamos também a tradugéo inglesa de Bosanquet (Introductory Lectures on Aesthestics, edited with an Introduction and Commentary by Michael Inwood, London, Penguin, 1993. Essa tradugie foi publicada pela primeira vez em 1886 sob 0 titulo: The Introduction to Hegel's Philosophy of Fine Ar). A traducto inglesa de T. M. Knox (Hegel's Aesthetics — Lectures on Fine Art, Oxford University Press, 1991, 2 vols.) nao foi consultada. ‘Yambém no fizemos uso da tradugiio francesa de Charles Bénard (Esthérique, Pa- ris, Lib, Germer-Baillére, 1875, 2 vols.), porque constitui uma edigdo resumida da obra de Hegel. J4 a traducio, também francesa, de S. Jankéléviteh (Esthétique, Patis, Aubier, 3 &., 4 vols., 1944) foi dispensada porque apresenta graves erros: omissGes de passagens inteiras do original, aeréscimos de novas passagens ac ori- ginal, imprecisdes nas referéncias de dados histéricos, abreviacdes, simplificagoes etc, O mesmo se apticon & tradugdo portuguesa (Estetica, trad. de Orlando Vitorino ¢ Alvaro Ribeiro, Lisboa, Guimaries, 1953-1964, 7 vols.), que constitai uma tradu- io da versio de Jankélévitch ¢ mantém os mesmos erros daqueta, além de outros. Por exemplo, um erro grave: confundir “estado” {Zustand] com “Estado” [Staaf] no subitem “O estado universal do mundo” da 1* parte. Esta é a mesma tradugio que se encontra reproduzida, em parte, no volume Hegel da Col. “Os Pensadores” (Sto Paulo, Abril Cultural) e que recentemente foi reeditada na integra pela Ed, Martins Fontes, Stio Paulo, 1996-1997, em 2 vols. (vol. 1: O Belo na Arte, 1996 vol. 2: © Sistema das Artes, 1997). ‘Quanto a fluéncia e ao estilo da radugiio, hd que observar que procuramos manter, dentro do possfvel, o cardter oral presente no texto hegeliano dos Cursos de Estética, Entretanto, algumas veres optamos por desmembrar alguns perfodos lon- gos, para adaptar o texte alemo & estrutura da lingua portuguesa. ‘As notas no decorrer do texto, quando niio aparecem indicadas como sendo do tradutor, sio de autoris dos editores da Sufrkamp. Em muitas de nossas notas aproveitamos referéncias das notas da tradugGo francesa de Jean-Pierre Lefebvre ¢ ‘Veronika Schenck ¢ da tradugio inglesa de Bosanquet (quanto a “Introducio”), cuja autoria € de Michael Inwood Para permitie que ¢ leitor possa cotejar a nossa tradugo com o original, inse- rimos entre barras verticais a paginaglo da edigdo Suhrkamp acima referida. 4 NOTA DO TRADUTOR Por fim, é necessério registrar que parte da presente tradugto (a “Introdu- ‘¢80”) jé foi publicada em Cadernas de Tradugdo 9? 1, Departamento de Filosofia’ USP, 1997. Em relagdo aqueta verstio, fizemos alguns poucos reparos no sentido de um apsimoramento, de modo que ela no difere muito desta atual versio (no que diz respeito & “Introdugao"). B aqui também aproveitamos para fazer um agradeci- mento ao Prof. Marcio Suzuki (USP) ¢ ao Prof. Marcos Lutz Miller (Unicamp), pelas elucidativas sugestdes & nossa primeira versio da tradugio. De maneira especial importa consignar o meu agradecimento a Oliver Tolle, que junto comigo estf traduzindo o segundo volume desta obra, pela paciente & minuciosa revisio das provas, contribuindo de maneira decisiva para a melhor rea~ lizagdo desta edigao, 5 PREFACIO DE HEINRICH GUSTAV HOTHO PARA A PRIMEIRA EDICAO DOS CURSOS DE ESTETICA* [Nesta primeira apresentagio ao piblice des cursos de Hegel sobre a estética, nao tenho como objetivo elogiti-fas nem 0 desejo de apontar 08 eventuais defeitos quanto & divisio do todo ou 3 exposigdo das partes singulares. O profundo princt- pio-fundamental de Hegel, que também nesta esfera da Filosofia confirmou de modo renovado sua potéacia de verdade, permite que a presente obra abra seu caminho por si mesma e do melhor modo. E somente quando isso acontecer, aqueles que possuem inteligéncia poderao notar a devida posigdo que possuem os esfor¢os apa- rentados iniciais de Schelling tendo em vista uma estética especutativa, como tam- iogm as tentativas até agora pouce apreciadas de Solger. E isso na medida em que a obra de Hegel ultrapassarii todas as tentativas mais ou menos fracassadas proveni- entes de subordinados pontos de vista cientificos mais antigos ¢ contempordneos e nna medida em que ao mesmo tempo se apresentar4 come o cume do conhecimento, inabalével em sua base. perante o borbulhto e fervilhamento dagueia urrogancia + se texto nao se encomica nego Sulukamp, mus esd repreduzido no votome XII dus obras completa «de Hegel crganizads em 20 volumes por Herman Glockner, Os volumes Xi, KU XIV sio dedicudos os Cursosde Esti of. Sdntiche Werke abirasauspabe in-zwanzig Bingen; V. XII, 2eed. Stwager, roan. 1983, p. 1-12. dulgamos aecesiria a radugio deste preficio para que o leitor posta pereber de modo maix taro que o texto dos Crsos se Exttica m0 foi publioud pelo propcio Hegel e sm é uma ‘econsitigia feta por wm de seus alunos, Neste pefcio padem-se aeorparharalgumas das difculda- ‘de. que nortearim ests reconsituigo ben coe o mado de procedimento adocado por Hotho, Moves deuihos acerca da ult peaqutsa ere temo da “consituigio” du eatin de Hegl podem ser ncontendos nossiges de Annemarie Gehimain-Sifert nas Hegel Stedie dos dios 20anos. Annemarie Gebimann~ Seer ¢professorana Femtintersitr Hagen, solsboradara do Hegel Archix de Bochum c responsével pels ediglo critica dos Cursos de Entétioa {N. da T.). CURSOS DE ESTETICA juvenil. Esta arrogincia cré que se elevou acima da seriedade da ciéncia mediante seu pouco talento para a produgZo artistica, No entanto, na crenca de precisar mutrir © satisfazer novas necessidades, eta se mantém tho mais livre no duplo ambito da arte ¢ da filosofia da arte, por meio de uma mescla superficial de ambas, quanto menos consegue um auténtico aprofundamento numa e noutra, Mediante esta conviccdo, nio resta outra alternativa ao organizador senéo mencionar brevemente os prinefpios que tanto dificultaram quanto facilitaram © trabalho de redagtio que Ihe foi confiado ‘As obrigagdes de uma tal edic&o podem ser comparadas com as de um restau- rador bem-intencionado junto @ pinturas antigas. Por um lado, as obrigaciies se referem ao aprofuadamente destituldo de subjetividade na obra transmitida, em seu espirito e modo de expor. Por outro lado, consistem na mais conseqtiente modéstia de somente permitir que se complete o que é realmente necessirio para resguardar a0 maximo 0 original, seja onde se encontrar, ¢ que se tenha 0 esforce de fazer com que 0 acrescentado, se a sorte o permitir, se harmonize com o valor aproximado do que se manteve e do auténtico, de fal forma que o eleve. Entretanto, semelhante trabalho compartitha infelizmente de um destino idéntico a0 de seus deveres, mes- mo que tenba sucesso: a recompensa pela falta de recompensa. B isso porque pa- cincia, trabalho drduo, entendimento, sentido e espirito nfo sé permanecem na maior parte das vezes encobertos onde mais estiveram atwantes ¢ desempenharam seu melhor papel, mas no topo de sua completude permanecem totalmente irreco- ahectveis, enquanto que os defeitos ficam por si mesmos expostos a luz do dia, inclusive para o olhar menos experiente, mesmo onde segundo o estado da questo ndo foi possivel desviar deies. Tal sorte € tio mais implacavel com o organizador dos presentes cadernos, na medida em que ele proprio, segundo a natureza de seu trabaiho, jogo se via envol- vido em dificuldades sempre mais significativas. Pois ndo se tratava simplesmente de editar com algumas modificagées de estilo um manuscrito elaborado pelo pré- prio Hegel ou qualquer outro cadero copiado com fidelidade, mas de amaigamar os diferentes © muitas vezes contraditérios materiais em um todo: para tanto, era preciso o maximo de cuidado ¢ receio quando se propunba aigum melhoramento, A matéria mais confidvel foi fornecida petos proprios papéis de Hegel sempre utilizados em suas prelegdes orais. O caderno mais antigo ¢ da época de Heidelberg e data de 1818. Ele provaveimente serviu para ser ditado oralmente, pois 6 dividido em pardgrafos curtos ¢ concisos ¢ em observagdes detathadas A semelhanca da Br cictopédia ¢ da Filosofia do Direito e, segundo seus tracos esseaciais, pode ter sido esbogado para o propdsito do ensino filoséfico ginasial em Nuremberg. Entretanto, a0 ser chamado pata Berlim, Hegel deve té-lo considerado insuficiente para suas is PREFACIO DE HEINRICH GUSTAV HOTHO primeiras prelegdes sobre a estética, pois jd em outubro de 1820 comecou a fazer ‘ama nova modificagdo, da qual nasceu o caderno que a partir de ento se tornou 0 fandamento para todas as ligdes posteriores sobre © mesmo odjeto. Por isso, as principais modificacdes no semesire de vero de 1823 e de 1826, bem come no semestre de inverno de 1828/29, foram apenas anoladas em algumas folhas © inseridas como suplementos, © estado destes diferentes manuscritos ¢ de natureza Yariada: as introdugdes se iniciam com uma exposigdo corrente, quase que estilistica, € no trajeto ulterior mostra-se também uma completude semeihante qaanto as divi- ses singelares. A parte restante, em contrapartida, ¢ referida oa em enunciados lolaimente curtos ¢ desconectados, ou geralmente em paiavras singulares aleatdrias que somente podem ser compreendidas mediante uma comparago com os cader- nos cuidadosamente copiados. E dificil compreender como 0 préprio Hegel na ct- tedra sempre conseguia s¢ orientar no fluxo das prelegdes a partir destes cadernos ‘com seu vocabutirio lac6nico ¢ notas marginais confusas escritas umas por cima das outras e ampliadas ano apés ano. Pois mesme o teitor mais experiente nfo consegue orientar-se na leitara destes manuscritos valendo-se do reconhecimento dos sinais que apontam para cima e para baixo. para a direita ¢ para 2 esquerdae ao dispd-tos adequadamente. Esta dificuldade exterior, porém, € ainda em muito sobrepujada por uma outra interior. Isso porque, a cada nova prelegio, Heget se esforgava com um vivo interesse para penetrar mais profundamente no objeto, pare dividi-lo mais fundamentaimente quanto & sua filosofia e para permitir que 0 todo se ampliasse ¢ se definisse mais apropriadamente, ou para trazer a uma luz sempre mais clara os pontos centrais jd estabelecidas antes ¢ as aspectos laterais singulures, mediante nowas elucidagdes. Este esforgo de Hegel nto indica uma insatisfeita vontade de melhorar; pelo contré- rio, nenbumia das outras lighes d4 um testemunho to cfaro do fervor gerado pelo aprefundamento no valor do assunto, Com efeito, ambém nenhuma outra disciplina necessitava tanto de modificagdes como a ciéncia da arte, que era empreendida com um olhar sempre fresco, com a forga da especulagio reforcada e uma ampla perspec tiva, Os modas de tratamento diferentes forneciam uma ajada ati] apenas para ambi- tos particulares e, nesta falta de tabalhos anteriores, aquilo que fora peasado em primeiro lugar, mais tarde apenas podia valer como trabalho prévic proprio. Desse modo, mesmo que estes esforgos de mais de dez anos tenham sido coroados de éxito, cu ndio ousaria afirmar que eles teriam se contentado com aquel consumagao com & ual Hegel foi recompensado junto a sua Logica, Filosofia do Direito ¢ Historia da Filosofia. Embora esteja de 2cordo com o principio fundamental, tarmbem niio gosta- ria de subscrever 0 tipo da divisio do todo ¢ nem cada opinitio e concepgao singular ‘que, junto & aete, mais faci}mente do gue em outros ambitos, permitem que se fagam Bg CURSOS DE BSTETICA valer impressdes juvenis, preferéncias subjetivas ¢ antipatias ete. Por isso, mais dificil ainda foi conseguir encontrar ¢ estabelecer como valida a auténtica e verdadeira divi- so em meio as variadas divisfes ¢ suas modificagdes sempre renovadas, com as guais 0 proprio espfrito de Heget concordava de modo silencioso, Neste contexto, devo imediatamente me proteger no que diz respeito a uma questo. E que poderia facilmente acontecer que ouvintes de Hegel comparassem as ligdes editadas com seus préprios cademos, deste ou daquele ano, € encontrassem com freqiéncia um curso modificado e uma exposigao significativamente diferente ¢, assim, seriam im- pelidos a atribuir essa diferenga ao arbitrio do organizador de querer saber wdo me- Thor. Esta falha na concordincia, porém, nasce somente a partir de uma visio superfi- cial sobre 0 todo do material, o qual me impés 0 dever, segunda convicgio interior, de resgatar e levar aquilo que de melhor se me apresentava a um acordo, onde quer que se encontre, seja numa versio inais antiga ou numa miais nova. No conjunto, acredito que 0 espago de tempo entre 1823-1827 foi de modo geral, em termos de sucesso, 0 mais substancioso para Hegel, no que se refere & progressive elaboragiio de suas prelegdes sobre filosofia natural, psicologia, estética, filosofia da religide ¢ hist6ria mundial. Quanto mais rapidamente estava de acordo com o seu pensamento menos se debatia com 0 contetido empiric, nesta época ele sempre mais se tomava senhor soberano no completo dom{nio ¢ elareza de sua especulacio & medida que mais am- plamente acumutava-se a matéria, no que concerne sobretudo & arte, a religido e a ciéncia orientajs, A profundidace transparente do curso do pensamente que se desen- volvia segundo 0 conceito do objeto ainda o interessava tanto quanto a organizagio viva e prenchedora de seus ricas e variados conhecimentos ¢ intuicgtes. Nos anos posteriores algumas experiéncias amargas parecem té-lo levado a exposigdes sempre mais populares que, embora possam ter atingido sua finalidade auténtica na medida em que muitas vezes desenvolviam os pontos mais diffceis com clareza de mestre, cediam visivelmente quanto a0 sigor do método cientifico. ~ Se 0 espago permitir, espero poder acrescentar ao segundo volume da estética, que logo serd editado, uma caracterizacio e um panorama resumidos sobre os diferentes anos das prelecdes € suas modificagées para efeitos de ensino, para com isso justificar a divisio por mim empreendida, O estado acima apontado dos manuscritos de Hegel fez com que o auxilio de cademos cuidadosameate copiados se tornasse absolutamente necessirio. Um ¢ outro se relacionaram enquanto esboco ¢ execucto, Em vez de me lamentar sobre a falta de material, gostaria também de neste contexto apenas aproveitar 2 ocasiaia para expressar publicamente meus melhores agradecimentos pelo auxilio solicito que encontrel, Nao precisei utilizar as ligdes de Heidelberg da ano de 1818, uma vez que Hegel em seus manuscritos posteriores a clas se refere somente por causa 20 PREPACIO DB HBINRICH GUSTAV HOTHO de um ow dois exemplos mais detaliados. Do mesmo modo, pude dispensar as primeiras prelegdes de Berlim do semestre de invemno de 1820/21. Das tigdes que se seguiram a estas, a saber, as do ano de 1823 que foram essenciaimente modifi- cadas, somente um tinico caderno copiado forneceu-me uma informagio confidvel Outro caderne confidvel encontei nas ligdes do ano de 1826, mas para que pudesse complets-to tive de acrescentar 0 caderno copiade extensivamente pelo senhor ca- pitio vor Griesheim. Um outro caderno semethante, copiado pelo estagidrio senor M, Wolf, ¢ um caderno bem sucinto, copiado pelo senhor D. StiegliB, também foram acrescentados. A mesma riqueza obtive das prelegdes de inverno de 1828/29, as quais pude consultar satisfatoriamente o caderno completo de meu colega, 0 senhor licenciado Bauer, bem como os cademnos do senor D. Heimann ¢ do senhor Ludwig Geier ¢ 08 cadernos mais sucintos dos meus colegas, « senhor professor D. Droisen ee senhor licenciado Bathe. A principal dificuldade residia eno em combinar e funcir estes virios mate- riais, Desde a publicagio das ligées de Hegel sobre filosofia da religitio ¢ histéria da filosofia, jé foram esiabelecidas exigéncias totalmente opostas neste sentido. Por um lado, dizia-se que o mais adequado seria manter a prelegdo oral efetiva, tanto quanto possivel, ¢ somente livrécla das irreguiaridades estilisticas mais mani- festas e das constantes repetigdes ¢ outras pequenas fathas, Eu niio pude seguir este parecer, Quem por mais tempo acompanhou com conhecimento e amor as prele- ces bem proprias de Hegel, iri reconhecer como mérito detas, afora a poténcia e plenitude dos pensamentos. principalmente o cator invistvel, reluzente pelo todo, assim como a apresentagdo imediata (de seus pensamentos). E, assim, geravam-se as distingées mais agueadas, as mediagdes mais completas, as intuigées mais gran- diosas, as particularidades mais ricas ¢ os panoramas mais amplos como que aum mondlogo em voz alta consigo mesmo,em que a verdade de espfrito se aprofundava, Este mondiogo incorporava as palavras mais enérgicas, mas que em sua simplicida- de eram sempre novas ¢, apesar das extravagdncias, eram sempre venerdvcis ¢ ar- caicas. Mais admirdveis, pordmn, eram aqueles lampejos de génio que faziam tremer ¢ inflamavam, nos quais, geralmente de modo inesperado, se concentrava o gue era proprio da natureza abrangente de Hegel, Para aqueles que eram capazes de capts- fo completamente, ele provocava entio um efeito indescritivel ao expressar, de modo Go ricamente intuitivo quanto claro, o que tinha de mais profundo e de melhor em sua alma mais intima, O aspecto externa da prelegio, em contrapartida, 36 no apresentava incémodos para aqueles que de tanto ouvir jase acostumaram a ela, de modo que eles somente se sentiriam incomodados por causa da desenvottura, lisura ce clegincia, ~ Se langarmos win olbar para os cadernos copiados, em certa medida somente se sobressuem estes elementos exteriores embaragosos, sendo que desapa~ 2 CURSOS DE RSTETICA receu deles aquela vida interior e agradavel. Mesmo com a ajuda dz pripria mem6- ria mais viva, 0 esforgo baseado neles pura restabelecer a pretegiio original sempre poderia ter como resultado algum fracasso, do qual mesmo o artista mais habil nfo pode sabtrair-se quando os tragos do retrate vivo do morto se produzem a partir da méscara mortuéria, exigindo a tacefa nilo executavel. Por esta razio, desde 0 comego me esforcei na elaboragdo para dar &s presen- tes preleg&es um caréter e uma esiratara de livro sem destrair totalmente 0 vivo descuido proprio da prelegao oral, para a qual & permitida, ora desviar-se episodicamente ¢ logo retornar, ora se expandir ¢ se dedicar aos exemplos os mais variados. Pois ouvir ¢ ler sto coisas distintas ¢ © proprio Hegel, como se mostra pelos manuscritos, nunca escreveu assim come falava, Por isso, ew no me proibi de fazer a mudanga freqitente na separagio, na figagio e na estrutura interna dos enunciados, express6es ¢ periodos presentes nestes cademos, Em contrapartida, estive empenhado com toda a fidelidade para reproduzir completamente as expres- sdes espeefficas dos pensamentos ¢ das intuigées de Hegel em sue tonalidade mais prdpria ¢ para manter tanto quanto possivel o colorido de sua dicgdo, que se impri- mia vivamente em todos os que mais demoradamente se familiarizavam com seus escritos e suas prelegdes. Meu olhar estava principalmente direcionado para a ques- tio da alms e vitalidade interior que habitava tudo 0 que Hegel disse ¢ escreveu e que eu buscava novamente imprimir, tanto quanto este modo de redigir o exigiae a some 0 permitia, no texto construido com esforco a partir deste material variado. Por outro lado, vozes dissonantes fizeram valer a exigéncia de que os organizadores das ligdes de Hegel deveriam se colocar a dificil tarefa de nfo $6 eliminar as fathas externas, mas também de encontrar saidas para as quebras inter nas, onde quer que se encontrassem, Assim, seria necessério transtormar a divisio do todo, caso nto houvesse uma justificagdo cieatifica, ¢ introduzir passagens dialéticas, caso estivessem faltando, Também seria preciso tomar leve 0 que era demasiadamente pesado; amarrar com solidez filoséfica 0 que esti vesse soito; mul- tiplicar os exemplos apresentados de obras de arte ¢ prineipalmente apresentar em _geral, tanto no particubar quanto no universal, o que cles mesmos seriam capazes de realizar em campo idéntico, Este parecer ev pede ainda menos seguir. Pois 0 piibli- co tem 0 direito incontestivel de também nas prelecdes péstumas ter A sua frente niio este ov aquele aluno e colaboradores correligiondrios de Hegel, mas ele mesmo com og pensamentos ¢ os desenvolvimentos que s6 vieram dele. Neste sentido, a corregdo seria propriamente uma falsificagdo ¢ atentado contra a fidelidade e ver- dade de documentos hist6ricos, Mas mesmo estando convencide quanto ao ultimo ponto, preciso confessar que em certa medida, quanto ao particular, ful infiel a Hegel. Na medida em que era 2 PREFACIO DE HEINRICH GUSTAV HOTHO necessério retirar periodos isolados e apresentagdes, ora deste ano ora daguele ano, das diferentes prelegdes, para que se pudesse explorar completamente 0 material disponivel, nio foi possivel, nas idas e vindas das transagdes lingiiisticas, evitar de encontrar ¢ introduzir pequenos elos que fizessem as devidas pontes. Esta arbitrarie- dade eu também no me teria permitido se o priprio Hegel nfo tivesse tido a prefe- séncia de sempre alternadamente manusear com amor e mimicia ovres capituios nas diferentes elaboragdes. Para que estes capitulos pudessem set unidos em um & mesmo todo, tais palavras ¢ entnciados nfo podiam ser dispensados e, assim, a vantagem da completude pareces prevalecer amplamente sobre aquele mal de uma redago que se misturava com independéncia em questdes lateral Afora os acréscimos menctonadas, eu iguaimente me permiti procurar uma ordenacio mais clara e nftida em passagens er que uma certa confusio aa ordena- $0 externa do material e swa conseqtiéncia eram um peso para o desenvolvimento casual da pretegic oral, Para quem também aqui quiser enxergar uma injustiga, nBio posso oferecer outra garantia a nio ser contraponde uma familiaridade de treze anos com a filosofia hegetiana, um convivio dutadouro e amigével com o autor & uma lembranga ainda em nada enfraquecida de todas as nuangas de sua prelecdo. De resto, 0 que pode ter sido bem ou maisucedido na presente redacko, devo deixar que o juiguem agueles qne pelo favor de transtomnos semethantes foram convocados a ser os juizes competentes para tanto. Ao grande piiblico, porém, entrego esta obra desejando um ofhar livre de preconceltos ¢ aquele zelo de quem se inicia metodicamente, zelo que por si s6 permite louvar e gozar o que € rato ¢ grandioso, seja em que forma possa aparecer. Bertin, 26 de junho de 1835. Hemi Gostav Homo: cy CURSOS DE ESTETICA INTRODUGAO j13| Estas ligdes so dedicadas & estética, cujo objeto € 0 amplo reina do belo: de modo mais preciso, seu Ambito é a arte, na verdade, a bela arte. Onnome esiética decerto nic é propriamente de todo adequado para este obje~ to, pois “estética” designa mais precisamente a ciéneia do sentido, da sensagdo {Enpfinden), Com este significado, enquanto sina nova ciéacia ou, ainda, enguan- to algo que deveria ser uma nova disciplina filoséfica, teve seu nascimento na esto~ ia de Wolff, na époce em que na Alemanba as obras de arte eram consideradas em. vista das sensacdes que deveriam provocar, como, por exemple as sensagdes de agrado, de admitagio, de temos, de compaixdo ¢ assim por diante, Em virtade da inadequagiio ou, mais precisamente, por causa da superficialidade deste nome, pro- curaram-se também formar outras denominagdes, como o nome kalistica®, Mas tarn- bém este se mostrou insatisfatdrio, pois a cidncia & qual se refere nfo trata do belo em geral, mas io-somente do belo da avte, Por isso, deixaremos o iermo estética assim como esti, Pots, enquanto mero vocdbulo, ele é para nds indiferente ¢ uma yez qué jd penetrou na linguagem comer pode ser mantido como um nome. A naténtica expresso para nossa cigncia é, porsm, “filosofia da ate” ¢, mais precisa~ mente, “flasofia da beta arte” 1. Christion Wolf (1679-1754), matemiticn fidsofo rasionasts que deminwvs a filosofta alems antes do Kantismo. © testo lating «esitetica fol pela primeira vez aplicade a esta nova ciéneta por Alexander ‘Baumgarten (1714. £762) em sox Mesinplpsca (1739) ¢ Aesthetica (1780-1758), O wero deriva do erego iohauesthai; "perceber”s aisthusis: "percepgio”: sterikass “o que & capaz de percepgio” iN. T.) 2, Provavel slusio a0 livro de Gone Ph. Chr. Kaisey, Mere cw einem Srstewe dev alfgemeiter rein at engencanten Kelston (flies para uo sistewe dt univecsal Kalia-estdtice aptiende ¢ pret} 1813) Raliica Ceigneia do belo") vem do greg follor: “pelo” «N. da E>. CURSOS DE ESTETICA 1. Dauuniragao pa Esrénica & REFUrAGAO ps ALGUMAS OBIECOES CONTRA A FILOSO#IA DA ARTE Por meio desta expresso excluimos de imediato o helo naneral, Tal delimita- ‘40 de nosso objeto pode, sob certo aspecto, parecer uma determinagiio arbitraria, ja que |14} cada ciéncia estd autorizada a demarcar como bem entende a extensdo de seu campo, Mas niio devemos tomar neste sentido a limitagio da estética ao belo da arte, E-certo que na vida cotidiana estamos acostumados a falar de belas cores, de um belo 60, de um belo rig, coma também de belas flores, de belos animais e, ainda mais, de belas seres hunwnos, embora niio queiramos agui entrar na discusséo acerca da pos- sibilidade de se poder atribuira tais objetos a qualidade da beleza e de colocar o belo natural ao lado do helo artistico. Mas pode-se desde ja ufiemar que 0 belo artistico esté acima da natureza. Pois a beleza antistica ¢ a beleza nascida e renascida do espirito e, quanto mais 0 espirito e suas produgées esto colocadas acima da nature- za € seus fendmenos, tanto mais o belo antistico esté acima da beleza da natureza. Sob o aspecto format, mesmo uma mi idéia, que porventura passe pela cabega dos homens, & superior a qualquer produto natural, pois em tais idéins sempre esto presentes a espiritualidade ¢ a fiberdade. f verdade que segundo 9 contetido, por exemplo, © sol aparece como um momento absolutamente necesstrio, enquanto uma idéia enviesada se desvanece como caswal ¢ efémera. Mas, tomade por si mes- ma, a existéncia natural como a do sol indiferente, nfo ¢ livre em si mesma e autoconsciente e, se a considerarmos segundo a sua conextio necessiria com outras coisas, nao estaremos considerando por ela mesma e, portanto, néo como bela. Dissemos, de modo geral, que o espirito ¢ sua beleza artistica esto acima do belo natural, Entretanto, com isso quase nada foi de fato estabelecido, pois “acim” 6 uma expressio totalmente indeterminada, que ainda designa a beleza natural e a beleza antistica como se estivessem uma ao lado da owtra no espaco da representa- Ho; ela apenas estabelece uma diferenca quantitativa ¢, por isso, exterior. A supe- roridade do espirito e de sua beleza arlistica perante a natureza, porém, nao apenas algo {15] relativo, pois somente o espirito ¢ 0 verdadeiro, que tudo abrange em si mesmo, de modo que tudo 0 que é belo s6 é verdadeiramente belo quando toma parte desta superioridade ¢ ¢ por ela gerada, Neste sentido, o belo natural aparece somente como um reflexo do belo pertencente ao espirito, como um modo incompleto e imperfeito, um modo que, segundo a sua substénicia, esté contido no proprio espirito. — Além disso, parece-nos bastante natural a limitagdio 4 arte bela, pois mesmo que se fate de belezas naturais- menos nos antigos do que entre nés ~ nunca ocorreu a ningeém enfocar as coisas natarais do ponto de vista de sua beleza, constituir uma cigneia, uma exposicio sistemética, de tais belezas. Ao contririo, j4 foram tratadas do ponto de vista da urilidade ¢ concebeu-se, por exemple, uma ® INTRODUGAO ciéneia das coisas naturais que servem para combater as doengas, uma matéria médica, uma descrigéo de minerais, prodatos quimicos, plantas, animais que sio liteis para a cura, mas as riquezas da natureza nunca foram compitadas e julgadas do ponto de vista da Beleza, Sentimo-nos em relagio & beleza natural demasiada- mente no elemento do indeterminada, ade possuindo critério e, por isso, wma tal compilagio ofereceria muito pouco interesse, Estas observagées prévias sobre a beleza na natureza e na arte, sobre a relagao de amas e a exclusio da primeira do Ambito de nosso auténtico objeto devern afastar a concepsio de que a delimitugdo de nossa ciéncia deve-se somente & arbi- trariedade ¢ a0 capricho. Essa relago por enquanto nao deve ser demonsérada, pois sua consideragao recai no seio de nossa propria ciéncia e deve, por isso, ser somen- te mais tarde discotida e provada com mais rigor. Se, poréna, nos restringinmos previamente ac belo da arte, nos defrontaremos de imediato, neste primeiro passo, com novas dificuldades. {16| A primeira aificuldade que pode surgir & a hesitagio quanto & possibili- dade de a bela arte ser digna de um tratamento cieatifico. Pois o belo ¢ a arte passam como um genius amigo por todas as ocupagdes da vida ¢ adornam serena- mente todos os ambientes internos ¢ extemos, na medida em que suavizam a serie- dade das relagdes, os entedamentos da efetividade, extirpam a ociosidade, teansfor- mando-a em entretenimento e, onde no hd nada de bom a ser feito, tomam pelo menos 0 Jugar do mal de um modo sempre melhor do que 0 proprio mal. Contudo, mesmo que a arte com as suas Formas agradéveis esteja presente por toda parte desde os enfeites mais rudes dos selvagens até 0 esplendor dos tempios adornados com toda a riqueza ~ parece, entretanto, gue essas Formas se ericontram efetiva- mente fora dos fins tkimos verdadeiros da vida, E mesmo quando as configuragdes anisticas também nfo prejudicam estes fins sérios, sende que as vezes parecer mesmo fomenté-los, pelo menos ao afastarem o mal, a arte pertence mais propria- mente & remissdo, & distensdo do espfrito, enquanto que os interesses substanciais exigem antes 0 seu esforgo. Por isso, pode parecer inadequado ¢ pedante querer tuatar com seriedade cientifica aquilo que no possui por si s6 uma natureza séria, Em todo caso, segundo tal visio, a arte aparece como algo supérfiuo, mesmo que no seja prejudicial a ocepaciio com o belo, na medida em que propicia 0 abrandamento do aime ¢ aio @ efenrinagdo, Em relagio a esse ponto, pareceu muitas vezes necessirio defender as belas artes, as quais admitiu-se serem um iuxo, no que toca & sua relagdo com a necessidade pratica em geral ¢ com a moraiidade religiosidade em particular. B, dado que seu cardter inofensivo aio pode ser de- monstrado, pareceu necessario pelo menos tomar matéria de crenga gue este luxo do espitito oferece uma soma maior de vanagens do que de desvantagens, Neste » CURSOS DE ESTETICA sentido atribuiv-se 4 arte fins sérios ¢ por muitas vezes ela foi recomendada como uma [27] mediadora entre a raziio e a sensibitidade, entre a inclinac3o ¢ o dever, come reconciliadara destes elementos que se relacionam matuamente numa luta dura e que se opdem. Podemos, porém, afirmar que com tais fins sétios da arte, a razio e o dever nada ganham nessa tentativa de mediacio, Pois a razdo ¢ o dever também nio se eniregam a tais transagdes, uma vez que sua natureza nfo permite que sejam misturados e exigem a mesma pureza que possuem em si mesmos, E, além disso, por esse meio, a arte também nfo se tornou mais digna para a investiga- go clentifica, aa medida em que sempre sexve a dois lades: embora sirva a fins superiores, também fomenta écio ¢ frivolidade; e até mesmo, ao contratio de ser finalidade para si mesma, neste seu papel servi] poderd aparecer somente como meio, - No que se refere, por fim, s Forma desse meio, parece que sempre permane~ cord prejudicial para a arte o fato de necessitar da Husdo {Tainschung}, mesmo que de fato se submeta a fins sétios e produza efeitos sétios. Pois 0 belo possni sua vida na aparéncia, Mas reconhece-se com facilidade que um fim dltimo verdadeiro em si mesmo nto precisa ser produzido por meio da ilusdo, E mesmo que por meio dela arte consiga agui ¢ ali atingir algum fomento, isso s6 poderé acontecer de modo resttito; € mesmo assim a ilusdo ado poderd valer como @ meio mais adequado. Pois © meio deve ser adequado A dignidade da finalidade, sendo que a aparéncia ¢ a itusdo no podem gerar o verdadeito, mas somente o verdadeiro pode gerat 0 ver~ dadeiro. Do mesmo modo, a ciéncia tem de refletir sobre os verdadeiros interesses do expirito segundo o modo verdadeiro de efetividade ¢ o modo verdadeiro de sua representagio. ‘Tendo em vista o exposto, pode parecer que a bela arte nfo merece ser tratada cientificamente, pois permanece apenas como um jogo aprazivel; ¢ embora tam- ‘bém persiga fins sérios estd em contradigGo com a natureza destes fins.|18} Em geral, encontra-se somente a servigo daquele jogo como desta seriedade ¢ apenas pode fazer uso da Hlusio ¢ ds aparéncia como elementos de sua existéncia e meios para provocar seus efeitos. Em segundo lugar, pode ainda parecer que, embora em geral a bela arte per= mita reflexdes filosdficas, ela ndo seja contudo om objeto adequado pata a conside- ragiio cientifica auténtiea, Pois a beteza artistica se apesenta ao seniido, a sensago {Empfindung]. a intuigdo & imaginagio, possui um Ambito distinto daquele do pensamento ¢ exige, assim, que sua atividade ¢ seus produtos sejam apteendidos por um outro érgio, aio pelo pensamento cientifico. Além disso, & exatamente a liberdade da produg3o ¢ das configuracdes que fruimos na beleza artistica. Na pro- dugdo como na contemplagdo de suas criagdes abandonamos, 20 que parece, as amarras da regra e do que é regrado, Diamte do rigor do que & conforme a leis e da 30 wrropugio sombria interioridade do pensamento, buscamos nas configuragdes da arte a calma © a vitalidade assim como uma serena efetividade cheia de forga em contraste com oreino de sombras da idéia, Por fim, a fonte das obras de arte ¢ a atividade livre da fantasia que mas suas criagdes [Binbilduagen] € de fato mais livre do que a nature~ za, A atte tem 2 sua disposigio nic somente todo o reino das configuragées naturais om suas aparéncias méltiptas ¢ coloridas, mas também a imaginacdo eriadora que pode ainda, além disso, manifestar-se em produces prdprias inesgotdveis, Perante sta plenitude incomensurével da fantasia e de seus produtos livres, o pensamento parece que tem de perder a coragem para trazé-los em sua completnde diante de si, para jalgd-los ¢ enquadré-tos em suas frmulas gerais. Em contraposigio, concede-se que a ciéncia, segundo a sua Forma, octipa-se com o pensamento que abstrai de. massa de particularidades. Assim senda, por unt tado, fica dela exclutda a imaginacio e seus aspectos casuais ¢ arbitrarios, isto é, 0 rgio da atividade ¢ fruigdo artisticas.|19| Por outro lado, se € justamente a arte que distraindo vivifica a rida secura sem iuz do conceito, se concilia as abstragdes € cisbes do conceita com a efetividade, se complementa o conceito com aefetividade, mio pode ficar desapercebido que uma consideragio apenas pensante supera de novo esie meio de complementagdo, o destr6i e conduz o conceito de novo para a sua simplicidade destitufda de efetividade ¢ para a abstragdo cheia de sombras. Quanto ao conterido, a ciéncia além disso se ocupa com o que é em si mesmo necessdrio. E se a estética deixa de lado 0 belo natural, aparentemente no apenas nada ganhamos com isso, como também nos afastamos ainda mais do que 6 neces~ sirio, Pois a expresso watureza }4 nos oferece a representagio da niecessidade € conformidade a leis, a representacio de uma relagie que fomece enfim esperanga de uma maior proximidade com a consideragio cientffica ¢ uma possibitidade de nos entregarmos a ela, Mas no espirito em geral ¢ sobretudo na imaginacdo parece que, em comparagiio com anatureza, reside claramente o arbitrio ¢ 0 desregramento, que por si sé impede qualquer fundamentagiio cientifica Segundo todos estes aspectos parece que a bela arte, tanto em sua origem quanto em seu efeito ¢ ambito de abrangéncia, em vez de se mostrar adequada 20 esforgo cientifico, antes resiste em sua autonomia contra a alividade reguladora do pensamento e ido se mostra adequada & auténtica investigacdo cientifica. Estas e outras dificuidades parecidas que se opdem a uma verdadeira ocupa- io cientifica com a dela arte sc extraidas de concepgdes, dticas e observacées [Betrachtungen} usuais, sobre as quais podemos fer exaustivamente em escritos franceses mais antigos sobre o belo ¢ as belas artes, onde elas foram ampkamente desenvolvidas. HA nestes escritos, em parte, alguns fatos que so corretos, assim como racioctnios que deles foram extraidas ¢ que parecem igualmente plausiveis. aw CURSOS DE ESTERICA Assim, por exemplo, o fato de que a configuragao do belo ¢ tao [20| miiltipla quan- 10 a difusio universal do fendmeno do belo. Donde, se quisermos, podemos inferir um fimpulso universal peto belo na natureza humana; e, ainda, s¢ segue a conse- qténcia de que nao podem existir leis gerais do belo ¢ do gosto, uma vez gue as representagdes do belo sho tdo infinitamente variadas ¢, por isso, algo de particw- jar. Antes de abandonarmos tais consideragdes e nos voltarmos para 0 nosso au- téntico objeto, nossa proxima ocupagio deverd consistir numa breve discuss%0 introdutéria das questdes ¢ diividas suscitadas. No que se refere em primeiro lugar 2 questo da arte ser digna de considera- ho cientffica, podemos tomé-la como um jogo fugaz a servigo da diversio do entretenimento, gue adoma nossos ambientes, que torna agradave! o lado exterior das relagées humanas ¢, ainda, que ressalta outros objetos por meio do adorno. Deste modo, a arte niio € de fato independente e live, mas servil, Entretanto, o que nds pretendemos examinar € a arte fivre tanto em seus fins quanto em seus meios. ‘Que a arte em geral também atenda a outros fins ¢ com isso possa ser apenas um Jogo passageiro, esse aspecto ela possui em comum com o pensamento, Pois, por um tado, a ciéncia pode ser empregada como entendimento servit para fins finitos ¢ meios casuais ¢ assim nfo adquire sua determinagio a partir de si mesma, mas a partir de outros objetos ¢ relugdes; por outro lado, ela também se Hiberta dessa ser~ vidio para se elevar 2 verdade numa autonomia livre, aa qual ela se realiza indepen- dentemente apenas com seus préprios fins, A bela arte é, pois, apenas nesta sua liberdade verdadeira arte ¢ leva a termo a sua mais alta tarefa quando se situa na mesma esfera da religiio e da {21 filosofiae tommo-se apenas um modo de trazer A consciéncia c exprimiro divine [das Gatiliche}, ‘os interesses mais profundos da humanidade, as verdades mais abrangentes do es- pitito, Os poves depositaram nas obras de arte as suas intuigdes interiores e repre- sentagGes mais substanciais, sendo que para a compreensio da sabedoria ¢ da reli- gifio a bela arte ¢ muitas vezes a chave ~- para muitos povos inclusive a tmica, Esta determinagio a arte possui em comum com a religiZo e a fitosofia, mas de um modo peculiar, pois expde sensiveimente o que é superior ¢ assim 0 aproxima da maneira de aparecer da natureza, dos sentidos ¢ da sensugdo {Einpfindung}, Trata-se da pro- fundidade de um mundo supra-senstvel no qual penetra 0 pensamento ¢ 0 apresenta primeiramente como um além para a consciéncia imediata ¢ para a sensagio [Einpfinding} presente; trata-se da Tiberdade do conhecimento pensante, que se desobriga do aquém, ou seja, da efetividade sensivel e da finitude. Este corre, po- rém, para 0 qual o espirito se dirige, ele proprio sabe o modo de curé-lo; ele gera a partir de si mesmo as obras da arte bela como o primeiro elo intermedidrio entre o R INTRODUGAO que é meramente exterior, sensivel e passageiro ¢ 0 puro pensar, entre anatureza & aefetividade finita ¢ a liberdade infinite do pensamento conceitial ‘No que diz respeito afalra de dignidade do elemento attistico de modo geral, asaber, daaparéncia ¢ de suas ihusdes, esta objegdo seria vorreta caso a aparéneia pudesse ser tomada como “algo que nfo deve ser” [Nichtseinsollende}, Contudo, a prdpria aparéncia é essencial para aesséncia: a verdade nada seria se niio se tornasse aparentee aparecesse {schiiene und erschiene], se nfo fosse para alguém, parasi mesma como também para o espiritoem geral. Por isso, aaparénciaem geral néo pode ser objeto de censura, mas somente o modo particular de aparecer segundo o quala arte dé efetividade ao que ¢ vordadeiro em si mesmo. [22 Esta consura adquire um sentido, porém, se aaparéncia pela qual a arte leva suas concepybes d existéncia for determinada comoilusdo ¢ se, neste context, for confrontada com omuurdo exterior dos fendmenos e de sua materialidade imediata, bem como com nosso préprie mundo dos sentidos, o mundo interior sensivel. Na vida empirica, na nossa vida fenoménica estamosde fato acostumados a atribuir aestes dois mundos o valor ¢ o nome de efetividade, realidade e verdade, masniio. arte que, pelo contrério, carece de tal realidade ¢ verdad, ‘Entretanto, toda esta esfera do mundo empirico interior ¢exterior nfioé o mundo da verdadeira efetividade e deve com mais rigor do guea aparéncia artistica ser denominada de wrta mera aparéncia e de umailusio meis dura. A auténtica efetividade apenas pode serencontrada além da imediatez da sensagiio [Empyfinden} « dos abjetos exteriores. Pois somente o que € ern-si-e-para-si [Anundfirsicitseiendej é verdadeiramente efet- vo, on seja, o substancial [Substaniietfe] da natureza e do esptrito que, embora atribua presenga ¢ existéncia a si, nesta existéncia permanece o que é em-si-e-para-si ¢ so- mente enti 6 verdadeiramente efetivo. A arte ressalta e deixa aparecer precisamente a dominagio destes poderes universais. Embora a essencialidade (Wesenheit] também apareca no mando cotidiano interior e exterior, isso porém se di sob a forma de am caos de eventos casuais, nos quais ela ¢ atrofiada pela imediatez do seusive} ¢ pelo anbitrio de estados, acontecimentos, caracteres ¢ assim por diante. Por sua vez, aarte arranca a aparéncia ¢ a ilusio inerentes a este mundo mau e passugeiro daquele verdadeiro Contetido dos fendmenos e the imprime uma efetividade superior, nasci- { da do espirito, Longe de ser, portanto, mera aparéneia, deve-se atribuir aos fendme- nos da arte a realidade superior ¢ a existéncia verdadvira, que nio se pode atribuir efetividade cotidiana As represcntagées [Darsieliungen| artisticas tampouco podem ser constdera- das uma aparéncia tluséria perante as cepreseatagdes [Darstellngen} mais verazes da historiografia, Pois a historiografia ndo possui como elemento de suas descri- ces a existéncia imediata, (23) mas sua aparéncia espiritual. Seu contedde perma- nece ligado @ inteira contingéncia da realidade cotidiana ¢ sous ucontecimentos, B

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