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cts \om, IW Foden dss \repices predlaes® Adana a odieracés Magi hoa TO wu} hwo. bo wlan. Soo Paso _ Unsccerns,@. fF. ror Arrardo , AB. Capitulo XII Depoimento” O CAPITAL FINANCEIRO CONTRA O SOL 1-CRIAGAO DO PROALCOOL ‘A montagem de um programa alternative a um energeHco a tensive como o petréleo envolve multiplos aspectos, PHP aeeiynte uim conjunto de pessoas de alta competéncia \c- ‘dea, sob forte lideranca, tendo por suporte basico stitucional, sob a égide de um Estado que cae casos seus objetivos. Se esse canjunto de fatores no est esse presente, 0 programa do élcoo! néo tera existido ‘Guando voltei dos EUA, no inicio de 1974, 0 nave mins, ise do Comércio, Severo Gomes, convidow-me; eo vag Belott, para ocupar a Secretaria de Tecnologia In- ‘Conheci Severo Gomes no dia de minha posse Jovem engenheiro de familia simples do Espirite santo, brilhante, pelas proprias realizagdes transformau-s: SP ‘uma das principais figuras do desenvolvimento industrial bra- sas Prminou sendo pessoa chave do governo Gek assar a posteridade ‘o setor petroquimico e sem seu jograma do alcool pragmatismo seria di O presidente Geis Vasconcellos, em 247 estan O ministro Severo Gomes, porset la [opie Juans ao soe tedense ee, aos derivadlos do petréleo e o apoiou de modo incondicional = e—C=' proposta preparada por mim e minha equipe que finha o t. fulo“O Etanol como Combustive”, base do Programa Nacie: nal do Alcool, montado a partir de decisao do Conselho de Desenvoivimento Econémico (CDE), presidido pelo props presidente da Reptblica . Houve, porém, antecedente digno de nota. Nao er. sa intengto Tropor’o programa nacuele momento, pols ape nas se tinhamn conclusdes téenicas sobre 0 1us0 do alcool em mnistura com a gasolina, embora se trabalhasse intensamente para dominar a tecnologia de adaptacio dos motores de cic Ditto ao uso exclusive do etanol = im acidente imprevisto alterou nosso cronograma. E vista ao Centro Téeraco Aeroespacal em Sio Jone dos Camm pos, 0 presidente da Repaiblica interessou-se em visitar 0 lo- cal onde se desenvolvia o programa sigiloso da Secretaria de Tecnologia Industrial (STI) de desenvolvimento tecnologico de motores para o uso de combustiveis de origem vegetal, al- termativos aos derivados do petréleo. " ‘Durante duas horas, o presidente, profundo conhecedor da questio petzdleo, inquiriu 09 especialistas sobre o progra- ma tecnoldgico em andamento. Estavam presentes varios mi- nistros, 0 governador de Sao Paulo e a imprensa. Nem o mi- nistro Severo Gomes, nem Paulo Belotti, nem eu estavamos la na ocasifo. No dia seguinte, todos 03 jomais davam como definitiva a criagao do programa de combustivel nacional alternativo & gasolina, sendo este, entio, o derivado, do petréleo de maior uso no pais. : Tivemos entao de prepararem regime de urgéncia o refe- SA ee aoc uns sonia gence pans do Ministéio do Planejamentoe Coordenasio Gera que que sae apoesec ds infermagbs parser o velo dn popes ois meses antes desse acontecimento realizara-se ni da Federagao de Industrias do Estado de Sao Pas ewe 248 pela primeira vez no Brasil, um congresso internacional da P duistria automobilistica. Nele fizeram pronunciamentos os sninistros da érea econémica. O ministro Severo Gomes, embora presente, designou-me para falar em seu nome. Apresentei pela primeira vez em pablico a idéia de substituicso de derivados do petr6leo por alternativas vegetais tropicais. A proposta foi rece- Bida pela indiistria automobilistica internacional com frieza IAs copias do texto do pronunciamento, entregues 208 organi sadors do congresso para serem distribufdas & imprensa, desapareceram.. © programa nasceu assim de cima para baixo, Tres figu ras politicas foram fundamentais: 0 ministro Severo Gomes, senedor Teoténio Vilela, que era o primeiro vice presidente Go MDB, eo general de Exército Ant6nio Carlos de Andrada Serpa, que conhecia tudo sobre a questio energética mundial emiparticular a alternativa tropical, Ele era um entusiasta do smotextensivo da solugao lcool. Como membro do alto co- veando militar, tinha influéncia na presidéncia da Repdblica e Tra respeitado pelos da direita, pelos da esquerda, pelos de Sentro, pelos de cima, pelos de baixo, enfim, por todos. Sew profurdo sentimento nacional de compromisso com © Povo prasileiro dava-lhe essa credencial ‘O conceito que divide os brasileiros entre os de esquerda ce osde direita dé viséo deformada de nossa realidade. Depois (que Einstein descobriu a relatividade restrita, definindo 9 esp go em quatro dimensdes, ou seja, oito sentidos, reduzit 25 al- KEcnativas politicas do mundo a apenas dois sentidos (dizeita e esquerda) é uma aberracao conceitual. Ireatonio e Serpa, por exemplo, que prestaram grandes servigos ao pais, eram ligados & antiga UDN, supostamente Ge diveita, Eles estiveram, porém, entre os principais respon saveis pelo fim do regime militar. A abertura democrética, que infeliamente iria ficar frustrada em seus objetivos nacionais, foi obra para a qual eles contribuiram de modo decisive Il- A ESCOLA DA BIOMASSA. No campo tecnopolitico destacamos cinco figuras que inter Sieeam ae modo singular no processo de criar alternativas na- 289 =a cionais aos derivados do petréleo. El cnet nome Beemer escola de pensam a 5 a excola de pensamento energétio dos trépicos: a Escola da ‘Existem centenas de teses de doutorado, livn ‘ges de todos 0s tipos, intimeros poe cunder aac pla divulgacéo em todo o mundo, no Japfo, na india, na Pee ala oe Turquia.nos EUA, na Inglaterra, na Alemanha,em toda parte, sobre o uso extensivo da alternativa energética or repeals Nunca o Brasil fl to tematizado e discutido por oetetantes universidades, grupos de pensamento ede poder. ‘Na Conferéncia Mundial da Biomassa em Atlanta, 1980 Yai splaudido longamente de pé, quando un brasileiro membro da delegaao oficial fez alusdo * minha presenca 'No grupo que forma aquela escola, comesaria pelo sau- doso Sérgio de Salvo Brito, mineiro, grande engenheiro, pés- graduado em fisica nuclear na Franga, um dos lideres do fa- sreso Grupo do Tio de Minas Gers. érgio Brito foi meu subsecretério de planejamento na STL ofes Carlosde Melo, bane como eu, ol um dos prince pais coordenadores do programa da usina de mandioca de Buivelo, MG. Jair 6 um histérico professor dos cursos de en- genharia nuclear da Universidade Federal de Minas Ge- fais, companheiro de Sérgio Brito no Grupo do Trio. Montamos a usina de alcool de mandioca com tecnologia nacional, desenvolvida por cientistas brasileiros do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), instituigao de pesquisas entdo diretamente vinculada STL Sérgio de Salvo Brito tinha grande competéncia na co- municagio pela eserita. Traduziu o famoso livro dos franceses que desereve a hist6ria de todas as civilizagbes por meio das formas energéticas utilizadas, Esse livro foi editado pela Uni- Versidade de Brasilia sob o titulo Uma Historia da Energia. Na ealidade, Hemery, Debier e Deleage relatam o modo como a tnergia desempenha papel crucial na construgéo, manutenc0 @ declinio das civilizagoes como um elo vital ao exercicio do poder. O titulo original desse livro € Os Constrangimentos do Poder, lamentavelmente alterado pela editora na tradugao bra sileira. Sérgio fez traducto brilhante e reescreveu para 0s au 250 tores o capitulo da biomassa, tendo por base a experiéncia Tousileiva, dinica no mundo. Ele era engenheiro de Furnas ¢ Peeminou como diretor do departamento da matriz energéticn tho Ministério das Minas e Energia. Morreu estupidamente de pneumonia. Uma coisa inexplicével. Joven cheio de satide, Fe repente, no prazo de uma semana, morre em Brashlia de pneumonia. Sérgio Brito tinha ainda muito 2 dar pelo Brasil ‘Eecrevemos juntos o famoso “Livro Branco” da energia da biomassa, juntamente com duas outras figuras dessa esco- 8 Marcello Guimaraes de Mello e Sebastido Simdes Filho, or tiicado pela Secretaria de Tecnologia Industrial no ano de 1986: 30.000 exemplares, totalmente esgotados. Darcy Ribeiro, no inicio dos anos 90, pedit-me que see. cionasee os principais trabalhos sobre a questo da biomass cone fonte energetica. Nasceu ent&o a Carta r° 7, que incl core igdo do “Livro Branco”, sob 0 titulo Biomassa, Alana para urna Nova Poltia Industrial. ste “Livro” continuara vali- Go por cingiienta anos. Ble analisa a quest energética mun- sept fim da era do petroleo. Ele faz a sintese do pensamese Giaig Escola da Biomassa. Curiosamente, ele fot preparado pata dar sustentagdo a0 Plano Cruzado do gover Sarney, Pare Sdo-nos na hipétese de que o plano seria algo sSrio Po" Reenter 0 pafs do contexto colonial em que vive. De modo Tamentével, porém, as previsoes nao se confirmaran Narea- dade, 0 governo tirou o suporte do ministro Funaro 2 troco de mais um ano de governo- ae a catacar nessa escola 0 engenheiro quimico Sebas- tiao Simoes Filho, figura excepcional de profissional © $e hu trae eh Gebastido superintendeu a maior empresa de engenha- Tra da época, a Serete, foi projetista ros pélos petroquimicos a oe ontgo ede Camacari, presidente da Coperbo, Projo". © dirigiu uma usina modelo de producto de etanol no Estado dir gi iba, Enfim, figura de alto destaque da engenharia Mv coral Sebastiao também faleceu muito jover. Esiave ot cont am Livro sobre a cvilizacko dos hidratos de carbono, Curse, a civilizacao da biomassa. Segundo el, © Brasil € a Gwilizacao dos hidratos de carbona enao dos hidrocarbonetos, O que deixou escrito e foi possivel recuperar consta da referi- da Carta n°7. 251 WF ‘eaten a [ OMareeloGuimardesdeMelloggeslogo eum dos aio. res conhecedores de florestas tropicais, f i To dito perlado que chefiel a STL Ele ol 6 fundadr to ‘Reesita Floresta eplantou mais de 150.000 hectares de flores tas em Minas Gerais. Foi diretor geral do Departamento Nacio- nal de Combustiveis, o antigo Conselho Nacional do Petré. leo. A Acesita é a tinica grande sidertirgica brasileira a a0 usar carvao mineral importado, mas carvao vegetal, limpo do ponto de vista ecoldgico, produzido a partir de florestas plane ices ho “ceradot nineicorn @scce ca ate Matcelig cea G presidente da Acesta Floresta. Essa importante empresa usa Enrvdo vegetal pelo fato de sua tecnologia ter sido desenvel vida no pals, por brasileiros, Buscou, portanto, a valorizaczo dos fatores loeais de producto, ao contrério da tecnologia'da Nippon Steel utilizada na maioria das demais siderdrgicas breileras, A Acesita produz aco inoxidavel eagos especiaise a Acesita Florestal é sua subsidiaria. B a mais solisticada side. agin do hemisixo cul — tra pega chave dessa Escola da Biomassa foi José Lima Acta doutor om fisiea pela Universidade de Cheagoe thete do Departamento de Fisica da Universidade de Brasilia Ele foi também meu subsecretario na STI e companheiro des- de os tempos em que éramos assistentes no Centro Brasileiro de Feagin isis no Ho de Janeiro, Aol € um profundo conhecedor da questéo energética da biom: cehucdor do gusto energies dabomas, end exert III - OS HIDRATOS DE CARBONO: BIOMASSA. © peizéleo é mistura de hidrocarbonetos, compostos de hi drogénio e carbono. Nao existe o produto quimico petroleo, exisiem diferentes pos de perso ‘Quando se fala generica- mente de petréleo, esté-se falando de misturas de dezenas de hidrocarbonetos. a (Os hidratos de carbono resultam da “cépula”, ula”, como diz, Gilberto Vasconcellos em sua simbolica Tinguagem, dosol com a Agua, tendo o carbono como ingrediente reprodutor. Median- 252 q Se te esse casamento, 0 anidrido carbanico do ar (CO,) e a agua (1,0) se juntam numa reagéo quimica endotérmica, ou seja, com abzorcio de energia solar, para formar 0s hidratos de carbono. “A agua tem hidrogénio e oxigénio, o anidrido carbénico tem carbono e oxigénio, ha portanto nos hidratos de carbono trés moléculas essenciais: carbono, oxigénio ¢ hidrogénio. Os principais hidratos de carbono s40 08 agscares, os amidos, os Fleas vegetais ¢ a celulose, que constituem a base dos vege- tals. E-a biomassa: bio = vida, massa de vida, origem de vida fa Terra. Toda a vida vem daf, dos hidratos de carbono, resul- ado da captacdo da energia solar. E uma reacéo muito sim ples, mas absolutamente fundamental para a existencie da erga, Essa simplicidade lembra Tales de Mileto, na velha Grécia, nos primérdios da ciéncia. ‘Oshidratos de carbono armazenam energia solar, sob a for- ra quimica. Quando acendemos um fésforo (temperatura mais Tjevida) eo colocamos em contato com a madeira, ela pega £00 ise transforma em cinzas eem energia. De onde ver essa ener gia? Do sol. E energia calorifica cuja origem a energia eletro- Eiygndtica da radiacio solar que estava Jé armazenada nos hideatos de carbono dos vegetais, sob a forma quimico. ‘} mesmé acontece quando usamos acticar de plantas, 2 cacarose, por exemplo. Quando esse agicar € fermentado, dé Sicool etfico ou etanol. Este alcool explode dentro do motor see Otto de um carro. Aquela energia solar armazenada no acticar (e depois no leoo!), ao explodir, faz movimentar aroda 2s advel, Burn! E uma explosao dentro do émbolo do se stor Entdo, a energia solar é transformada em energia me anica para movimentar as rodas do carro. “aesim € 0 processo de uso da biomassa como fonte Pr anéria ce energia para obter uma série de combustiveis subs, autos dos derivados do petréleo. Um dos principais € 0 alcool a eado nos motores de cielo Otto. O élcool combustive) ec nofensivo para o homem, que pode até ingeri-1o em quanti dades médicas, provocando alegria Faiste, porém, outro dlcool combustivel, que ¢ resultado da fermentacéo da madeira: o metanol. Este é perigoso, pode a pessoa e até matar. O metanol deve ser exclude de siizagao extensiva como combustivel, pelos periges que are 253 INF -—— genta como veneno, Ele tem uma s6 molécula de Teta (Uaco tem deasoléculascle carbone e inafero Os hidratos de cazbono (biomassa) 540 ademaisa or} da formagao dos hidrocarbonetos (petroleo, gés natural etc), © que ako os hidrocarbonetos? S80 os hidratos de carters fossilizados em processo geologico de centenas de milhies de anos, quer dizer, os hidratos de carbono deixam de sé-lo a5, perder o oxigénio de suas moléculas e se transforma = petrdleo, gés natural e outros fésseis. mem Sebastiso Sim@es Filho, quimico excepcional, procurou d monstrar que somos uma civilizacao predisposta aos hirates de carbono, biomassa, e nao aos hidrocarbonetos, pettéleos © outros. estes exigindo processo de fossilizagto para ge formar. 8 Eg IV- BIOMASSA: DIVIDENDOS DA ENERGIA A fe SOL. PETROLEO: CIVILIZAGAO DE UM DIA. Assim, somos privilegiados do ponto de vista energético por- que a origem dos hidrocarbonetos so 0s hidratos de carbo- No. Estes so 0s dividendos da energia solar armazenados nas plantas, sempre passiveis portanto de renovacio. : ‘A utilizagio desses dividendos solares, porém, foi repri- mida no nosso meio por mimetismo cultural de paises predo- minantes, que ndo dispdem de alternativas energéticas reno- vaveis e limpas. Ou seja, 0 modelo econdmico dependente impde-nos solucdes induzidas por paises que na realidade sto pobres em fluxos energéticos permanentes, embora sejam apre- sentados como ricos. Para esses paises, sem alternativas, 1s- taram o uso do capital solar formado nos combustiveis fésseis em eras geolégicas, ainda que armazenados em outras regibes que ndo seus proprios territ6rios nacionais. Essas formas energéticas, tanto os hidratos de carbono (biomassa) quanto 0s hidrocarbonetos (petroleos e demais combustiveis fésseis), tém a mesma origem, que é a radiagao solar, embora exijam, para se formar, perfodos de tempo mui- to diferentes 254 | Os hidratos de carbono sio formados em meses, nos acé- cares, nos amidos, na celulose, nos dleos vegetais; 0 dleo de sirassol, por exemplo, leva apenas trés meses para se formar, ermazenado nas sementes da bela flor. Os hidrocarbonetos, em contrapartida, levam centenas de milhdes de anos. Assim, quando acabam, nao hé renovacio, salvo em processo de Haixissima probabilidade de que isso venha a ocorrer. ‘Aquantidade de energia solar que cai no hemisfério da ‘Terra em um dia equivale, do ponto de vista energético, as reservas de petréleo jé descobertas, incluindo as ainda nao Gescobertas, apenas inferidas. Ou seja, a civilizagao do pett6- Jeo, a cujos estertores assistimos, corresponde & civilizagao de ‘um dia de energia solar. Entao, essa civilizacao — base do apogeu do primeiro mundo ~ tem como base energética um dia de energia solar sobre o hemisfério da Terra. Em contrapartida, os hidratos de ‘carbono sao renovaveis e limpos. ica entao claro que somente seré possivel construir civir tizagbes mais estaveis e solidas quando elas tiverem por fun- damento energético os hidratos de carbono. Assim, confor fnamse dois paradigmas civilizatorios: 0 das civilizagdes des- Tnadas a desaparecer, a morrer, € 0 das civilizagoes que ret nem condig6es energéticas para durar. E essa a diferenga que privilegia os trépicos. 'E necessario enfatizar, porém, que essa conchusao funda- menta se no rigor cientifico do papel da energia na vida dos povos ena dinamica do universo fisco, Isso nao significa que eo civilizagdes e as nagbes nao procurem contornar essas res” tricbes naturais erestrinjam-se a essas leis e principios da nate: esa, embora inexoraveis. De um lado, nada garante que esses povos enacoes aeitern a predestinagio que anaturezs Thes ofe- row, de outro lado, abram mao de meios como a violéncia mir liter ou cultural para o alcance de suas aspiragies e cobicas. ‘A energia dos hidratos de carbono fecunda permanente- mente a vida. Ele nunca morre onde as condigbes do sol © as Componentes fisico-quimicas da fotossintese 0 permite A enetpia das formas fSsseis, porém, pode ser exaurida Porsue Tevavoras geologicas para se formar e, uma vez formada, é finita. Acconclusdo que se tira dessa andlise ~ dada a imy ie ae cent Oe do vas nal See {ue'o pete, por causa dos tremendos efeitos ambientas due provoca—é que as grandes civilizagées do futuro terdo de cer baseadas necessariamente nos hidratos de carbono, que $0 08 dividendos eternos da energia solar. cae ‘Biomassa é a garantia de permanente renovagio da vida ou seja, da juventude; isso, porém, somente € possivel naque- las repides tropicais que dispdem de vastas extensbes de ter- ras nao utilizadas e de agua abundante. ‘Tendo em vista ser a energia 0 fundamento inexoravel do processo civilizat6rio, a cada dia que passa com maior intensidade, as regides tropicais estariam predestinadas a for- mar as bases das futuras grandes civilizagbes; isso néo pode Scotter nas regides temperadas e frias, onde estao localizadas as atuais nagdes hegemdnicas, por faltar-lhes esse elemento essencial, a energia. © filésofo Hegel tinha razao quando apontava o itiner’- rio do espifito objetivo do mundo divigindo-se para 0 sul, para 0s tropicos brasileiros. “ ‘A derradeira etapa dos hoje hegemOnicos ocorreu nos EUA como petroleo. A Inglaterra foi fundamentada com 0 carvao mineral altamente poluidor, simbolo da antivida ‘As potencialidades e fluxos de energia localizam-se de modo irfemedivel no territ6rio. Nao possivel transformar regides temperadas ou frias em tr6pico. O imperialismo pode femporariamente derrotar e explorar os povos tropicais, domind-los e escravizé-los, mas isso no ocorrerd para sem- pre. posto que o principal instrumento de poder natural, a Pheriia, que resulta da fusdo nuclear que ocorre no nuicleo do Sol, nele se localiza, Basta descolonizar as mentes dos povos situados nessas regides para que tudo mude, Em contrapartida, 2 manutengao de mentes colonizadas como classe dirigente garante a submisso a poder externo. "A classe dirigente no Brasil entrega tudo a troco de nada. sao pessoas sem escripulo, que fazem qualquer negocio que favoreca seus interesses imediatos, contrarios a0 povo brasi- leiro e & propria humanidade 256 | | Vv - GENESE DO USO DA BIOMASSA COMO COMBUSTIVEL ‘A génese do uso da biomassa como fonte de energia esté liga Geindiretamente a ocorréncias externas, como “s6i aconte- ter’ na sociedade brasileira. Foi a crise do petroleo que per- ritiu despertar em alguns poucos a consciéncia da caréncia je energia no primeiro mundo e de sua abundancia nos tropi- cos brasileiros. Ge nao ocorresse 0 embargo do petréleo, dificilmente te- ria surgido a oportunidade de aparecer com toda clareza essa oisa gritante que é o imenso poderio energético brasileiro. Os teenocratas ~ ignorantes absolutos em relacdo as leis que regem a natureza ¢ a vida ~ até hoje ndo perceberam essas evidéncias. ‘Quando cheguei dos EUA em fevereiro de 1974 fui cha- mado pelo ministro Severo Gomes para ser 0 secretasio de Tecnologia Industrial, acabava de acontecer (1973) 0 embargo do petroleo. Vinha da Universidade do Texas, em Austin. capital mundial do poder do petréleo ¢ Houston, vizinha de seSan. LA estio as sedes mundiais das corporacdes fans” Acionais anglo-americanas do petréleo. Conversei entio com sous principais dirigentes. Senti que a crise do petsslee nao see ee de arabes. © que dizia a grande imprensa mundial era mentiral Hiavia, sim, uma crise profunda de abastecimento de pe- tréleo, na qual o caréter limitado das reservas restantes ~ 9 prinefpio do fim ~era o problema eas corporagdes ransnacte, eae etavam em dificil situacio pela reducdo crescente de suas reserves. Nos EUA, o conflito entre Detroit e Houston era profi: do. Detroit, representando a indvistria automobilistica, na0 {queria que subisse o prego do petzbleo; Houston represen- Aino ag corporacbes do petréleo, acusava as industrias auto- ta tiene de estar exaurindo as eservas mundiais pelo des” perdicio e o excesso de demanda e ndo guererer PAB seu eer dadeiro valor. Esse conflito resultou no afair Watergate, verctrubada do presidente Nixon, que mudou 0 elxo de po der nos EUA eno mundo. 257 Havia uma crise insuperavel e a OPE] veic tie eo eensencee ObaL tendo pouco petréleo ~ importava entao 60% do etrélee ie que nevessitava ~, precisava encontrar uma solugdo. Foi iS Greunstancias que a Secretaria de Tecnologia Industrial reuniu um grupo de profissionais com varios doutores e: nee ioe engenikehos « profescores de termodindaica, experien- sy copes roma Ge emg oe avaliagao da natureza da crise energética mundial, levai as cr conts a aituago de todas aa foras energetics em 100 @ de suas eventuais alternativas. muse VI- MENTE COLONIZADA Descobrimos, com grata surpresa, a0 contrério do que nos ti- ham ensinado, ser o Brasil uma poténcia energética latente, a maior do planeta, por causa da abundancia e da natureza renovavel da biomasse, resultantes das dimensdes continen- tais do tr6pico no pais. E nés todos, especialistas experientes e doutores pelas melhores universidades, chegamos & concla- sao de que estavamos enganados, achando que o Brasil - como ainda acha a maioria, com visio colonial ~era um pais invidvel porque nao tinha carvao mineral de boa qualidade, nem pe- tréleo em abundancia. | Foi uma inversao total: aquilo que era triste trauma trans- formou-se em béngdo. Na realidade, o Brasil nao era um po- bre coitado subdesenvolvido, como quiseram fazer crer nos- sos professores (nacionais e estrangeiros), mas nds € que ér2- mos incapazes, de cabeca colonizada, como 0 €a quase totali- Gade da classe dirigente atual. Dizemos “quase” para evitar qualquer injustica sobre uns poucos. Nés é que tinhamos um deformado preparo resultante de uma postura sem indepen- déncia para pensar nosso prOprio pais. Endo consegufamos — fem fungao do condicionamento colonial a que sempre estive- mos submetidos e da postura de néo procurar ~ entender 0 nosso espacd fisco e 0 nosso tempo. Os professores de todos nés, no Brasil e no exterior, colocaram essas idéias em nossas 258 cabesas, das quais resulta essa postura. Isso independe de ter- cape Galo considerados alunos brilhantes, alunos de primeira rdem mas colonizados, com mentes colonizadas. ‘Quem primeiro entendeu isso foi, evidentemente, Pero ‘Vaz de Caminha e, entre os contemporaneos, Lima Barreto, {gue rou nessa mesma linha de pensamento, com fort in RE cinteligencia, o excepcional personagem do livro O Triste $e Policarpo Ouaresma, apesar do tom de derrotado que o aetor dou 20 personagem. Em viséo diferente ¢ mais consis: aut Gilberto Freyre vislumbrou por outros caminhos a mes- tha perspectiva, sem contudo levar em conta 0 papel vila. Torib e de poder do imenso potencial energético dos tropicos. Aa demais vis6es sobre o Brasil, especialmente aquela que nos exalts e ajusta a uma triste e absurda dependéncia exter” re apenas demonstram total ignorancia sobre as leis ¢ os Pri Cipige que regem o mundo fisico, e que fundarsentar de Pigs exoravel, a existencia e a vida do homem (aqui toma- aro wontico amplo e profundo, nao s6 biologico,fisico-que say e antropologico, mas especialmente socioecondmico € Politico) na historia de infortinios deste planeta ‘Gen homem colonizado, segundo Ortega y Gasset, éaque- le que rejeita o seu espago € 0 seu tempo e a energia € £m foto espago-temporal que se compoe com o vetor quanto, cage movimento para formar nateoria da relatividade restria® ie feiz quadridimensional que opera o movimento ¢ a Wane formagées do mundo fisico. £ algo, portanto, intrinsecamente srraco ao terrtério e ao nosso tempo, a todos os temPOS iu seja,€ parametzo essencial da conceituagio ¢ 40 5 tendanento do-processo civilizat6rio do homem sobre a Ter tev, portanto, algo do qual dependem todas a5 suas ativida- wa F Pon da peopria vida, O entendimento da swe nausea © ses ae pars e montagem de adequadas estrutarasjeridice” case cionais que definem as nacoes. Evidentemente, 9 qe, tao energetica, por sua intima vinculagao 20 terri estdna trigem da existéncia contemporanea do Estado nacional. aida que a civilizacéo avanc2, que 2 escravido O° tension Hesapazeceu e que 0 uso de arumais como “Fontes! de gnergia ~ a0 produzirem trabalho para o home somente energie ate em locais onde a maquina nfo chegow, 0 ents 259 fisico crucial energia cresce em importancia. Iss0, associado a um aumento desenfreado de sua utilizacdo nas chamadas so- Giedades de consumo, provocou demandas que superam, de modo assustador, as disponibilidades proprias da quase tota- lidade dos paises das regides temperadas e frias do planeta Esses pafses, até hoje supridos por fontes f6sseis ndo-renova- veis, além de serem muito pobres em energia renovavel, con- centram a totalidade das atuais nacdes hegeménicas, que con- somem mais de 80% da energia gerada em todo o planeta ‘Nessas circunstancias, a existéncia do Estado nacional é essencial para a defesa das nagbes cujos territ6rios dispsem de fontes energéticas abundantes e que, sem ele, serdo irreme- diavelmente agredidas e destruidas pelas nacdes ainda hege- ménicas, neste estertor da era do petrOleo. Para verificar essa constatacao, basta olhar para o que vem ocorrendo nos paises do Oriente Médio, onde se localiza mais de 70% do que resta de petroleo no mundo. “Tudo isso ver explicar 0 surgimento extempordneo de doutrina jé enterrada no século XIX, o liberalismo, que ape- nas adotou o prefixo neo ~ neoliberalismo. Ela veio para re- solver problemas dessa minoria predadora e forte no campo militar, que prope, por isso, entre outras barbaridades, um Es- tado minimo. Esse principio, porém, somente seria valido para {9s mais fracos, Para essa minoria, o que vale €o Estado maximo. Ea barbarie que se fundamenta no "pseudopensamento” tinico, arrogantemente propugnado pelos neoliberais. Por isso, essa doutrina somente pode ser defendida por brasileiros traidores, idiotas, ou de nivel assustador de inge- nuidade, que desconhecem o que ver ocorrendo de essencial no mundo atual. Em contraposicio, a forte componente colonial da cultu: ra brasileira exclui o papel do sol, rejeita seu poder, ignora-o como fonte permanente de energia, ou seja, de riqueza e de bem-estar de seu povo. Trata-se portanto, por suas conseqiién- cias, da causa principal do processo de natureza tragica que estamos vivendo e que decorre da mente calonizada dos diri- gentes brasileiros. ‘Assim, € dramético que a condugdo do pais esteja em mos de um exército de ocupagio: 0s tecnocratas da area fic 260 4q nanceira, que dirigem implacavel ditadura vinculada a inte- resses antinacionais de origem externa. Esses yuppies nada entendem do papel da energia como instrumento crucial de poder e de riqueza. Séo apenas mogos de recados. Por isso, subordinam a nacdo a especuladores e delin- qiientes manipuladores da desenfreada jogatina financeira in- ternacional. Ao nos submeterem a esse jog0, ignoram que estamos predestinados a importante papel na construcéo do mundo por vit Podemos, se tivermos a competéncia ¢ 0 vigor criativo {que as circunstancias natutais exigem, ser o grande fornece- Gor das principais formas de energia renovavel do planeta, fgracas a incomensuravel e etema rigueza que ¢ 0 sol. Lembre- Fhos que a energia movimenta o mundo e a energia limpa da Diomassa poderd salvar o planeta da destruicéo ecolégica VIl- PETROBRAS: EMPRESA DE ENERGIA (© general Andrada Serpa dizia que a Petrobris estava equi- ‘worada ao ficar restrita apenas a exploracao de combustiveis Tiquidos derivados do pettéleo. Imaginemos 0 que ele no disia se tivesse conhecimento do proceso de destruicéo a que 0s atuais ditigentes brasileiros esto submetendo nossa princi- pal empresa! Ele considerava que fazia parte da dinamica Pr tinacional ser a Petrobras impedida de atuar como empre~ Sa de energia, restringindo-a apenas as formas liquidas deri- ‘Yadas do féssil petr6leo. Na realidade, essa limitagao institue ional, tipica de pais colonial, é um atentado ao primeiro prin- cipio da termodinamica. ‘Energia 6 ente fisico que se transmuta de uma em outra forma, Nao é criada nem destruida, pode no entanto ter redu- rida sua capacidade de produzir trabalho com o aumento de entropia, Ela sempre tem por origem o meio natural © fato de a Petrobrds limitar sua atuagéo ao campo das formas energéticas liquidas tendo como origem restrita 0 fos~ sil petroleo ~ ha a excegdo dos trabalhos tecnol6gicos com 9 isto betuminoso, também fdssil ~ € um equivoco técnico € 261 politico. Sua razao de ser — de importancia mais do que com- provada em sua rica historia ~a caracteriza como uma entida- de com responsabilidades maiores e muito mais significati- vas do que as de uma empresa comercial. Elas aumentaram muito apés a crise mundial do petréleo, que terminou colo- cando o controle desse combustivel num quadro de conflito militar. Destruir, nessas circunstdncias, as atribuig6es consti. tucionais da Petrobras é crime de lesa-patria. Apesar da limitagao operativa a combustiveis liquidos do fossil petréleo, a Petrobras, como empresa de economia mista de capital nacional, executora de monopélio estatal como prin- cipio constitucional, & peca crucial da nossa sobrevivéncia no perigoso contexto internacional do petréleo. A internacio- nalizagio da Petrobras, em processo acelerado de exécucao, re- presenta o fim do Brasil como nagao soberana. As gravissimas conseqiiéncias desse processo, por sua extensio e complexida- de, sao impossiveis de analisar no contexto deste depoimento. Voltaremos, porém, ao assunto em outra oportunidade. O controle por meio militar dos EUA sobre 0 Oriente Médio est sendo estendido pela via econémico-financeira & América Latina, regido que detém cerca de 20% das reservas mundiais de petréleo. Esse dominio jé foi consumado na Ar- gentina, sobre as exportagbes de petroleo mexicano e est sen- do imposto pelo falso processo de privatizacao - transferén- cia de ativos nacionais para o controle do cartel das corpo- rages de petréleo anglo-americanas -, em curso no Brasil, Venezuela, Equador, além de situacdes mais graves no Peru e na Bolivia, entre outros. A limitagao da acao da Petrobras a combustiveis liqui- dos de origem f6ssil é politica e tecnicamente alienada, fruto de imposicao de uma classe dirigente burra — para dizer 0 mini- mo. Ela precisa ser urgentemente repensada por um poder nacional que represente a coletividade brasileira. O Brasil pre- cisa sair com urgéncia da vulnerabilidade suicida em que ini- migos ostensivos de nosso povo, indignos de estar ocupando © poder nacional, nos estao colocando. Apesar dessa limitacdo, a competéncia e essencial obri- gacdo constitucional deram a Petrobrds a condicao de suporte fundamental para tirar o Brasil da humilhante condigao de 262 coldnia. © Congresso, inadequadamente chamado de nacio- nal, retirou dos brasileiros, em crime de lesa-patria, esse crucial instrumento de defesa. ‘Aséria ecompetente Associacao de Engenheiros da Petro- rds (Aepet), por seu atual presidente, Ricardo Maranhao, con- corda que a Petrobras, em vez de ficar defendendo-se de agres- sdes de delingiientes que querem destrui-la, atingindo assim interesses vitais ao Brasil, deveria propor ampliar sua atua- 40a dreas novas decorrentes da crise energética mundial. sso implica levantar as danosas restric6es atuais que a limitam a atuar apenas com a forma féssil petroleo e transformé-la em empresa de combustiveis liquidos, quaisquer que sejam suas origens naturais ou, ainda mais, em uma empresa de energia. Isso deve ocorrer pela devida compatibilizacao com as demais empresas que tém misses assemelhadas. As aces podem ser complementares sem ser exclusivas, incluindo nisso partici- paca importante do setor privado, que deve se capacitar para investir e correr tiscos em reas onde existem hoje imensos ‘vacuos energéticos, sempre garantindo 0 controle nacional nnessas dreas estratégicas da energia. F intoleravel, no entanto, quer seja do ponto de vista ju- Hidico ou politico, a criminosa transferéncia para grupos es- trangeiros, altamente subsidiados pelo BNDES ou por moe- das podres, caracterizando escandalosas doagées, até para po- derosas empresas estatais estrangeiras do mundo hegemonico capitalista. Trata-se de ilegalidade jamais vista e truculéncia de verdadeiros bandidos, vinculados a mafias internacionais {que hoje proliferam em certas partes do mundo, como na an- tiga Uniao Soviética e na América Latina. Se quisermos consolidar um pafs sério, a Petrobras € es sencial como instrumento para avancar na solugao da crise do petréleo, qite atinge as atuais poténcias mundiais. ‘Em nenhuma hipétese, porém, essa crise nos deveria atin- gir, em decorréncia da alta potencialidade brasileira no setor. Para que a Petrobras possa desempenhar o papel de ajudar de modo decisivo na identificacao dos caminhos a seguir, ela ne- cessita ter autonomia, que Ihe é absurdamente negada pelo esptirio poder que governa o pais. pare poder pattcipas, porém, da construc das estat 263,

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