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Copyright Gby Ruy Moreira, 1990 Nenhuma parte desta publicacao pode ser grevada, armazenada om sistemas eletronicos, fotocopiada, reproduzida por meios mecdnicos ou outros quaisquer sem autorizacao prévia do editor. ISBN; 85-11-02132-9 Primeira Edicao, 1990 Preparagio de Originais: Rosemary C. Machado Revisao: Nair Licia de Britto e Eduardo Keppler Capa: Claudia Ferreira UNIGESTE Campus do Feo. Beltrga RIBLIGTECA NY Reg. 3210 Bats. JL 9/ Aquisieae___ Comm Preco..-B,00 Daiz_ 22-12 01 brasili EDITORA BRASILIENSE S/A B RUA AIRI, 22 - TATUAPE $I cep 03310-010 - SAO PAULO-SP TELEFONE E FAX: (Oxx11) 216-1488 e-mail: brasilienseedit@uol.com.br hone page: www editorabrasiliense.com. br fag ae | INTRODUGAO Este texto é uma geografia do latifindio e do campesinato no que toca a seu papel na formagio agrdria da sociedade brasileira, isto 6, da formagio da sociedade brasileira considerada & luz de sua espago-temporalidade. A formago social brasileira € vista desde quando era uma sociedade agraria até os dias de hoje, quando 0 campo se organiza segundo as regras capilalisias de uma Sociedade urbano-industrial. A via de leitura € 0 acompa- nhamento do desenho animado que o arranjo espacial ex- perimenta a cada vex que se altetam as forgas sociais que 0 engendram. Mas se a janela da leitura € esse movimento de arranjo/earranjo espacial da sociedade, o que se objetiva estudar sfoas relacies de forga queo geram c através delese manifestam Como pede, portanto, a moderna visio metodolégica da Geografia. Nao visando, embora, ser mais que um roteiro de estudo com a intengao de contribuir para cobrir lacunas bibliogréficas exis- tentes na linha desse método, este texto expressa os resultados das pesquisas que vimos desenvolvendo sobre 0 espago brasileiro, Por isto, ndo se segue a formula habitual de relacao da Hist6ria com a Geografia, inteiramente equivocada porque ¢n- tendida como uma espécie de hist6ria do povoamento, srmacao do Espaco Agrario Brasileiro u O ESPACO AGRARIO COLONIAL-ESCRAVISTA ‘A observacio do mapa do espago brasileiro da virada do século XVIII a0 XTX, no momento exato da crise da mineragao € renascimento agricola, mostra nosso territério se organizando em grandes manchas de ocupagdo econdmico-demogrifica, separadas umas das outras por largas extensbes de espacos ocupados pelas populagdes nativas, Nesse arranjo, a lavoura ocupa as dreas de matas € a pecudtia as de campos, com a mineragio formando nebulosas dispersamente espalhadas pelo planalto central-mineiro. Acompanhando essa distribuigao ter- Titorial das atividades econdmicas — que o historiador J. F. Normano denominou de ciclos —, a populagéo se concentra nas reas agricolas costeiras, deixando vazio 0 hinterland mineiro- pecudrio. Eo contraste marinha-sertéo observado pelo frei Vicente do Salvador, considerado 0 primeiro historiador brasileiro, ao dizer que 0 povo “arranha a costa como caran- guejo”. Este arranjo econdmico-demogréfico do espago 6 todavia, apenas a“‘cara em pirica” da formagao espacial coloni i ta, uma vez que 0 que traca seus reais limites territoriais so as relagoes juridico-polfticas mediante as quais todo © restante do territ6rio — praticamente j4 0 de hoje, isto é, a vasta extenso ocupada pelas nagdes indigenas — € tomado como “fundo de reserva” para a expansao do empreendimento colonial. ALLei das Sesmarias ¢ a formagao do monopélio da terra ‘A amarragio do modo de organizagiio do espaco agritio brasileiro tem raizes na Lei das Sesmarias, que regula juridica- mente a repartigao da propriedade fundidria, Segundo essa lei, 0 acesso 2 terra deve ser proporcional ao néimero de escravos de propriedade que tem cada senthor. Dessa maneira, 0 accsso & terra restringe-se, de direito, a alguns poucos, dele ficando exclufda a maioria da populagdo. Quem nao tem escravos e nao € esctavo no Brasil-Colénia deve contentar-se em ser posseiro. Justamente por isso, a Lei das Sesmarias declara adjudicadas a0 dom{nio das grandes propriedades todas as demais terras do espago colonial desse modo demarcando as regras do arranjo espacial colonial- escravista, Diversidade e unidade do espago agrario colonial-escravista Esse arranjo tem a forma geral de anéis concéntricos, que ‘comegam no litoral com os centros urbanos e terminam nas areas de ocupagdo mais extensiva do hinterland: em pontos abrigados —— 12 Ruy Moreir: © dispersos do litoral localizam-se as cidades, elos de ligagao Metropole-Coldnia; 0 seu redor imediato, formando marcas também descontinuas, localiza-se 0 anel das plantations Canavieiras, concentradas, nesta virada de século, basicamente nas reas de mata nordestinas; mais para o interior — ‘compondo tum longo arco de alinhamento norte-sul que solda com descon. Uinuiades as dreas campestres do sertdo nordestino, do planalto ceniral-mineiro e da campanha gaticha —, localiza-se 0 anel da, Pecuéria; disseminado no tecido dos anéis plantacionista pas- toril, encontramos o anel das pequenas policulturas e, batica, mente restrito a0 espago pecuério do planailto central-mineito, 0 anel da minecacao em decadéncia; por fim, no extremo centco. norie do tettit6rio colonial, localiza-se 0 anel do extrativismo vegetal amaz6nico. Cada anel desses guarda entre si grandes diferengas, que Catretanto no conjunto se arruma espacial mente como um quadro Ge interligagses que unem a Co¥6nia numa formagao espacial unitéria, O espaco urbano AS cidades so 0 locus dos aparethos da dominagéo colonial, jrunindo a esta fungio de “cidade de conquista” a de organizar a citculagdo ¢ repartigo do excedente oriundo do trabalhe pecravo entre os senhores, os burgueses mercantis ¢ a Corea Portuguesa, isto €, entre as fragdes que compéem a cipula dominante da Colonia. aliva rede de trocas internas que no seu perfodo de auge pratica- mente cobriu todo o vasto planalto central-mineiro. Formagao do Espago Agrario Brasileiro 13 Formagao Espacial ColonialEscravista ~ Pastoril Mineiro Exrativo vegetal amazénico | Comune neigen oe formado de srasileiro € fc 1 No final do século XVIII o case Ss anise May He {nua do anel peousrio. cusria, de ocupagio agrope Giapowigo norte sul, come a aia descont 4 Ruy Moreira nna cidade que as classes dominantes domésticas da Colonia s€ rednem, atuando como palco de conflitos de poderes entre senhores € comerciantes urbznas, conflites que alimentam a efervescéncia politica das camaras locais. O espago plantacionista B no anel formado pelas plantations canavieiras que se localiza por exceléncia o centro de gravidade territorial da formacao colonial-escravista até o século XVIII. © poder do senhorio plantacionista é dado pela propriedade de escravos, nao pela propriedade da terra. A Lei das Sesmarias consagra este preceito ao estabelecer como critério da distribuigdo da propriedade da terra que a extensio de direito senhorial proporcional ao seu plantel de escravos. O poder sobre 0s escravos se estende proporcionalmente ao poder sobre as terras, portanto. Concentrando a propriedade dos escravos e, por isso, também da terra, a classe senhorial plantacionista domina o poder na Colonia. A plantation vincula-se ao trabalho escravo ¢ A monocultura, constituindo um complexo agroindustrial ao reunir a lavoura da cana ¢ a sua transformagao industrial no agicar. Por isso, na literatura que dela trata, a expresso engenho ora refere-se a0 conjunto plantacionista, ora a indéstria. Usaremos a expresso plantation para designar 0 complexo e engenho-fabrica para designar a indistria. ‘Verdadeiro complexo agroindusirial, a plantation é a raiz do poder hegemdnico do senhor plantacionista sobre a Colonia, numa centralizagao de forcas que se sobrepdem mesmo aos senhores dos outros anéis, que, para os pardmetros da Coroa, respondem por atividades econdmicas secundarias. Aestrutura do arranjo espacial plantacionista revela esta com- plexidade. Formagao do Espaco Agrério Brasileiro is Num primeiro nfvel escalar, 0 do Ambito micro, imediato da vida da plantation, arcumam-se os segmentos essenciais da producdo: 0 engenho-fabrica instala-se & beira de um rio, ao seu tedor localizando-se os canaviais, em virtude de os solos férteis de massapé serem abundantes nos vales, além da pequena policultura, esta ocupando os solos sem fertilidade para o plantio canavieiro. Essa instdncia escalar de organizacao é, assim, a das Telag6es de classes nucleares do complexo agroindustrial: na paisagem homogencamente verde © ondulante do canavial, a leitura atenta distingue as diferengas que estratificam a classe senhorial plantacionista, com o canavial do senhor proprietério do engenho-fabrica localizando-se colado & indéstria, nas terras a ela imediatamente prOximas, enquanto o canavial do lavrador de partido — nomenclatura do senhor de engenho-fabrica ¢ que moe sua cana na industria do senhor vizinho—situa-se nas terras mais distantes; ¢ distingue também, na separacdo espacial segun- do a qualidade do solo entre a érea da monocultura ¢ da policul- tura, a estratificagio senhor-escravo. A hierarquia cana- vial-canavial indica apenas a distribuigao do poder internamente & classe senhorial, sendo a hierarquia monocultura-policultura a {que expressa o modo como 0 espaco configura a reprodugéo do capital: a 4rea da monocultura materializando o tempo dedicado A reprodugio direta do capital (tempo do trabalho excedente) ¢ a da policultura o tempo dedicado a reproducio da forga de traba- Tho do préprio escravo (tempo do trabalho necesstirio). Com- pletam esse Ambito do cotidiano, os segmentos das relagbes superestruturais: a casa grande, residéncia senhorial, geralmente edificada numa cota sobressalente da topografia; a senzala, residéncia congeminada dos escravos ¢ colada & casa senborial; a capela, vista em destaque no alto de uma colina, que formam © triangulo bésico do arranjo, a ele se acrescentando as instalagdes acess6rias, 0 quintal do gado miGdo, 0 pomar, os pastos ¢ reservas de mata, tudo se interligando pela rede de ‘caminhos que sempre vinculam tudo casa grandee aoengenho- fabrica. 16 Ruy Moreira Formagao do Espago Agrério Brasileiro 7 Em um segundo nivel, o macro-escalar, aparecem os segmen- tos da relagdo extema da plantation: na territorialidade mais proxima, localizam-se de um lado as cidades litoraneas que vinculam a vida plantacionista ao mundo mais cosmopolita da cultura € mercado extemnos, e de outro os espagos pecudrio € policultor do hinterland que suprem a plantation de géneros de Subsisténcia € de fabrico de utensilios diversos; e, na ter- ritorialidade das dist4ncias continentais, as pragas africanas, que suprem a plantation de trabalhadores escravos, € 0s centros europeus, locus do mercado ¢ do poder metropolitano. Desse modo, se o nfvel micro €0 plano do arranjo organizativo das relagées de classes imediatas da plantation, 0 nivel macro € © das classes dominantes da Coldnia e do sistema Metr6pole- Colonia. Nesta rede escalar, a breve duragio do ciclo vegetativo do escravo, extremamente curta dada a superexploragio que 0 vi- tima, transparece na intensidade com que 0 trabalho no engenho consomie a natureza. Cada engenho consome, s6 em fornalhas, 1ndo se incluindo o encaixotamento do agticar, em média um carro de lenha/dia, donde resulta uma destruicao fantastica das reser- vas florestais, que ¢ ainda mais acelerada com a répida ocupacdo das varzeas pela cana em face de oseu cardter monocullor exaurir rapidamente a terra. Esta superexploragio do trabalho escravo vai encontrando resposta, sobretudo nesta fase de crise de pas- sagem do século, nas rebelides de escravos que se internam nas ‘matas das serras para nelas organizar quilombos com os quais buscam reconstituir no Brasil as formas comunitérias de vida de que foram bruscamente arrancados na Africa. O espago mineiro A economia do agicar foi o modo que a Coroa Portuguesa encontrou de ocupar a Coldnia enquanto nela nao se descobria o ouro € a prata, Por trés séculos os colonizadores portugueses embrenharam-se pelo hinterland em busca dessas_matérias- primas do cobigadas pelos governos monrquicos da Europa, envolvides com a politica do metalismo (entesouramento interno da moeda-ouro ¢ da moeda-prata). Se os espanhéis, logo en- contraram estes metais em suas colénias das Américas, os por- tugueses nao tiveram a mesma fortuna. Nao desistiram, todavia, organizando a produgao acucereira para a um s6 tempo garantir ‘© controle da terra e prosseguir na busca da riqueza aurifera. Tal € o sentido do entradismo e do bandeirantismo, que por todo esse longo perfodo proliferam pelo hinterland, alargando 0 acanhado limite territorial dado aos portugueses pelo ‘Tratado de Tordesi- Ihas. Por fim, no infcio.do século, encontra-se 0 ouro nos planal- tos do interior. Essa descoberta reorienta a economia colonial. A mineragao do ouro e das pedras preciosas passa a dominar nesse século a economia ¢ atengées da Coldnia ¢ da Metropole de tal maneira que as demais 4reas ¢ atividades refluem ou pratica- mente desaparecem. J4 abalada pelas guerras de invasao holan- desa do século XVII na Zona da Mata pemambucana, seu centro principal na Coldnia, a plantation canavieira decai ainda mais com 0 surto mineiro, uma vez que este provoca extraordindria transferéncia de capitais das 4reas plantacionistas para as de mineragio, sobretudo na forma de escravos. Hé, até, uma forte tendéncia de a concentracdo do povoaménto da Colénia sair do litoral para interiorizar-se no planalto, tal 0 fluxo de migragao quea mineracao provoca para o hinterland. Desloca-se 0 eixo de gravidade da vida colonial da plantation pata a mineracdo, deslocando-se a polaridade da atividade agricola para a atividade mineira, da marinha para 0 sertéo, das “cidades de conquista” para as cidades-mercados, do campo para a cidade, da cultura rural para a cultura urbana. Embora 0 essencial das relag6es de classe permanega, o arranjo do espago mineiro expressa essa fantdstica reorientagao da vida colonial. 18 Ruy Moreira Formagéo do Espago Agrario Brasileiro 19 A Lei das Sesmarias mantém no espago mineiro a forte estratificacdio de classe senhorial, sem contudo aqui criar em- pecilhos ao enriquecimento do pequeno senhor. A “data de terras”, nome que se dé a extensao de Area concedida pela Coroa para mincrar, privilegia o senhor com maior propricdade de escravos, mas a economia aurifera abre mais possibilidades de democratizago da riqueza e para a mobilidade social que a agucareira, de modo que nao s6 0 grande, mas também 0 pequeno © médio senhor pode enriquecer-se e mesmo 0 escravo encontrar maiores chances de tornar-se livre, uma vez que com 0 ouro pode comprar sua carta de alforria. Essa hierarquia mais aberta de classes se territorializa no arranjo espacial na relagdo que hd entre a lavra e a faiscagdo. A lavra € a forma principal de produggio, correspondendo as partes. mais ricas das minas e, portanto, pertencendo aos grandes senho- res. A faiscaco € a forma de produgdo que substitui a lavra quando esta se encontra j4 em declinio, geralmente vinculando- se aos senhores médios e pequenos. Mas como a técnica primitiva de extragio e a busca de enriquecimento imediato levam a uma intensa mobilidade territorial dos mineiros, os centros de mineracdose multiplicam com incrivel rapidez, dando a0 espaco mineiro a sua forma de enorme sucesso de nebulosas espalhadas pelo planalto central, ¢ as lavras rapidamente se transformam em faiscagio, propiciando a mobilidade social dos diferentes estratos senhoriais € dos escravos, crescendo sempre, na esteira desse movimento, o numero de escravos libertos, fato praticamente impossivel de ocorrer no espago plantacionista. Além disso, a extragioe circulagio do ouro criam acirculagao da moeda dentro da Colénia, significando isso a introdugdo na vida colonial da economia urbano-mercantil, que repercute na expansio da pecudria ¢ da policultura de subsisténcia por toda a extensao da frea da mineragdo, difundindo-se pelos poros das nebulosas. Um mundo de tal mobilidade econdmica € social ndo pode deixar de desembocar numa superestrutura cultural que cedo se transforma em rebeliao contra a condigao colonial e escravocrata dasociedade. Tal é 0 contedido que alimenta as indmeras sedigdes do século XVITI pela Independéncia, das quais avultou 0 movimento da Inconfidéncia Mineira, de 1792. Mas estas sedigdes sfo j4 os sinais da decadéncia da mineragao. Quando termina o século XVIII, o planalto central- mineiro jé no tem a mesma agitagio de vida ¢ 0 espago minciro sofre um refluxo econdmico-demografico tao répido quanto 0 foi o surgimento do “ciclo”. O espago pecuario. cardter mercantil-urbano da economia mineira atrai paraseu espaco atividades de produgio de subsisténcia, espalhando pelos intersticios das nebulosas de mineracao a pecuéria e a pequena policultura alimentar, Quando a mineragio declina em todo o planalto, a pecudria absorve os espagos das nebulosas mineiras € 0s reorganiza em sua fungao. Descendo © gado do sertéo nordestino pela calha do Sto Francisco e subindo o do pampa gaticho pela calha da depressio periférica, encontram-se estas duas frentes de pecudria no planal- to central-mineiro, para dar unidade territorial & nacionalidade. Vindo de todos os cantos no correr do século XVIII, 0 gado bovinose espalha e sedimenta pelo planalto a ocupagao doamplo territ6rio dilatado pelas entradas ¢ bandeiras. Unificando 0 territ6rio nacional e sedimentando sua ocupago para 14 da linha formal de Tordesilhas, a pecudria risca, num corte norte-sul, 0 arco que unifica 0 criat6rio dos sertées, interligando a caatinga (sertdo nordestino), 0 cerrado (sertdo central) ¢ 0 pampa gaticho (sert4o meridional). O que permite esta ampla unificagdo territorial ¢ a grande mobilidade social de classes das relagGes pastoris. Se a 20 Ruy Moreira movimentagao natural do gado © a vegetagao aberta das formagdes campestres favorecem a expanséo da pecuéria, esta, no fundo, € conseqiiéncia do instituto da quarteagao, seu impulso maior. A quarteagao ¢ a forma pela qual o grande proprietério remunera © peéio, cedendo-Ihe um bezerro entre cada quatro nascidos, possibilitando-lhe com © tempo e 0 acémulo dos animais, formar um pequeno rebanho e vir a tornar-se criador em. terras também cedidas pelo grande proprietario. Essa relagio de classes estimula a mobilidade social do vaqueiro e, assim, a ‘expansio da pecudria. Todavia, além de senhores ¢ vaqueiros h&, ainda, na estrutura de classes 0s “fabricas”, trabalhadores semi- escravos aos quais, entre outras incumbéncias, cabe realizar nas areas de matas-galerias a policultura necesséria a subsisténcia da fazenda, para os quais a mobilidade social j4 € mais dificil. O pequeno capital inicial de que se precisa para instalar uma fazenda de gado € outro fator estimulante da répida expansdo territorial do criatério, Contrariamente ao que se vé numa plan- tation, na fazenda de gado os gastos de implantagao reduzem-se @ umas poucas coisas: na paisagem predomina a pastagem natural, cujo visual s6 € quebrado pelas instalagdes do curral e habitagdes do proprietdtio ¢ dos traballradores, Pouco se altera o ambiente natural, nisso também contrastan- do, portanto, o espaco pecuario e o espaco plantacionista, uma vez que, instalando-se nas teas de mata, a lavoura provoca sua maciga derrubada, enquanto que 0 espago pecusrio acomoda-se de imediato ao pasto natural da vegetacao campestre, Entretanto, a relagdo gado-pastagem difere no longo arco do espago pecudtio. No sertdo nordestino h4 0 problema da agua, que se reflete diretamente no tragado do arranjo espacial: as fazendas so alongadas do rio ao interflavio, com testa na mar- gem do rio, € por isto uma precisa distar da Area da outra. Este fato € a necessidade de haver extens6es livres para a movimentagao do gado em busca dos locais de fontes permanen- Formagao do Espago Agrario Brasileiro a tes de dgua e pastos nas épocas de maior estiagem fazem que as fazendas nao sejam separadas por cercas, imperando os espacos livres. No planalto central-mineiro o problema € o da quatidade das pastagens dos cerrados, que faz as fazendas também se espraiarem amplamente, separando-se uma das outras por enor- mes extensdcs, entre as quais as fronteiras ficam igualmente indefinidas e sem cercados, J4 no pampa gaticho problema € 0 eterno estado de guerras por questdes de fronteiras nacionais, mas também nele a enorme extensio da linha do horizonte estimula a propagagio das fazendas de gado, as estancias, que assim se afastam enormemente umas das outras, da mesma forma aqui ndo havendo a preocupaco com limites ¢ cercados. O espago da poticultura Pequenos pontos no tabuleiro de xadrez de um atranjo espa- cial dividido em fazendas de gado e fazendas de lavoura, a policultura dissemina-se pulverizadamente por todos os poros. Por isto, encontramo-la tanto dentro do espaco plantacionista, quanto do mineiro-pecuério. Distinguem-se nessa pequena policultura aquela interiorizada no Ambito dominial da grande propriedade, praticada por escravos ou agregados, € aquela das 4reas situadas na linha de frente do avanco territorial da plantation ¢ fazendas de gado, praticada por posseiros. Entre as duas ha em comum a ligacao com abastecimento em meios de subsisténcia de toda a populaco colonial. A pequena produgso dominial € conduzida pelos escravos ¢ agregados em terras ndo utilizadas pela cultura nobre (na fazenda de gado, pelos “fabricas”), nos dias de domin- go € santos, respondendo pelo suprimento alimentar da forga de trabalho da fazenda. A pequena producio livre € conduzida por homens livres em terras ainda nao incorporadas pelo avango do espago agricola ou pecuério; responde pelo suprimento alimenticio da populago urbana e complementarmente da

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