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estavam deposicadas no Oriente Médio. A historia dessa imos cem anos — com guerras intermindveis, ocupagies estrangeiras, modificagées de fronteiras, ext fs sociedades fracas. O ciclo do petréleo esta chegando ao firm. ciclo da criagéo de uma nova macriz energética, baseada em f Tonovdreis, Aparece, de novo, a antiga assimetsia entre paises detentores de poder (récnico, politica financeiro e militar), de um lado, e paises dc entores de estoques de recursos energéticos estratégicos para'os ciclos econémicos em gestacio. A natureza ea histéria colocaram a América do no séevlo XXI, nessa segunda condigéo. Urge criar insticuigées s :mericanas poderosas, integradas e inceligentes — como a que resultaria da fusio da Petrobras (Pet iro S.A.) com a Petroven (Petrélea neauelano S.A.) — e abrir canais de negociagées com o Peru e a Bolivia, ndo constituir empresas binacionais destinadas a gerir 0 potencial h Grelécrica © de gs dos contrafortes andinos. Essas agées voltadas para in- corporar ¢ explorar esse potencial reriam tanta imporcéncia para 0 nosso foturo (ou mais) quanto tiveram, nas décadas de 1940 ¢ 1950, as deci- sées de criar Companhia Sidertgica Nacional, a Comp: Rio Doce ¢ a Petrobras. Isso exige, no entanto, um ambiente p leurale ideolégico em que possamos nos libertar do discurso pequeno de pafs semiperiférico que esté dando errado e dos condicionamentos da curto prazo, voltando a pensar a perspectiva da nagéo com futuro. ‘Transformado novamente em retardarério, desprovido de auto-esti- ‘ma, sem estratégia nacional e sem capacidade de utilizar seus préprios Tecurt0s,o Brasil rende a perder o controle de seus préprios recursos. Sob um pretexto perfeitamente ridfeulo, a poténeia dominance jé comecou 2 ‘montar bases na regido, pela primeira vez na hist6ria. Tem motivos fortes para gir assim. Quanto a nés, mais de 150 anos depois da Regéncia, pode- Temos nos ver 2s voltas, de novo, com o problema da unidade naciona Hoje, aliés, em situagao muizo mais complexa da que no séculc XIX, No podemos deixar de firma, enfim, que hé uma relaco direca entre a energia €o fuvuro do Bra trializacdo. Energia € desen fo da estratégia nacional do Bra (owe, Corley (9) Obl « Lox, do. Bo. Ria de bone: howe Innegpts, Zoot icia-se 0 tes ia Vale do |. Energia é e estd no futuro do Br For Loucy Geese, Duvawica e Sex (César Benjamin Pesquisadore editor de publicagbes do Projeco Radis, da Es- cola Nacional de Sade Pablica, da Fiocruz. Pi editor ds re ta Ceca Hoje, da SBPC. Foi chefe de gabinere da Secre- taria Munioipal de Desenv Rio de Janeiro. Au Em hidreletricidade, o Bi da Ardbia Saudira em petréleo: tem S gratuites, a agua das chuvas ¢ a forga da gravidade. Bacias idrogréficas generosas, com centenas de rios permanentes e caudalosos se espalham por grandes regibes — Sul, Sudeste, Nordeste, Centto-este © Norte — cujos regimes de chuvas sio bem diferentes. Nossos rios se- sguem trajetérias em que, de modo geral, « declividade é suave. Quando barrados, formam grandes lagos. Séo energie potencial escocada, zer a dgva cair, pasando por uma tusbina, que geramos a el ‘mais barata do mundo, de fonte renovével e néo-poluente. Se as bai gens forem construidasem seqiiéncia so gota d'fgua é useda inéimeras vezes, lade de chuvas ve fancionem como uma espécie de po cinguenca anos acras. Foi impu Fla, que durou de 1951 a 1956. Nunca, até hoje, se viv coisa igual anos sucessives com pouguissima chuva em quase todo 0 pafs provoca- ces de se perder no occano. i a0 ram grandes transtornos ¢ um pesado racionamento de energia. Tinha- mos entio 3.500 megawatts-hora (MWh) de poténcia instalada, sob con- trole do capital privado, prineipalmente estrangeiro, que ¢ travava uma permanente queda de bragos com o Estado para obter au- © Brasil da década de 1950 queria crescer. Precisava de energia, Em 1957, 0 Estado construiu a barragem de Furnas, para garantir o neces- sirio aumento de oferta. Como a memoria da grande seca era fresca, 0 moderno sistema elétrico brasileiro, que nasceu ali, foi dimensionado pa suportar outra ocorréncia como aquela, acumulando combustivel — ou seje, 4gua — suficiente para cinco anos de operago, mesmo sem chuvas. A expansiio do sistema passou a ser planejada de mode que a demanda prevista para os cinco anos seguintes permanecesse sempre igual a “energia firme”, ou seja, 2 que pode ser gerada em regime de seca. A taxa fixada bem baixa, em 5%. Com o esforgo ¢ 0 talento de varias geragbes, tudo se aperfeigoou. Como as chuvas também variam de re ligado por linhas de ce central racionalize 0 uso da Agua dispontvel em todo o pais. Gragas a isso, ervacbrios situados em diferentes bacias hidrogrificas, que nao tém nenhuma ica entre si, funcionam como sé fossem vasos hove pouco na bacia do rio Séo Francisco ¢ muito ni io Parand, « usina de Paulo Afonso € orientada a colocar pouca energia na rede, economizando sua fgua que se tornou preciosa, ea usina de Itaipu faz a compensagao. Ao colocar mais poréncia na rede, Iaipu cede Agua, indiretamente, para Pau bricas, ninguém pereebe o inteligente rearranjo que permite otimizar 0 fornecimento de energia em cada momento. Quanto a garantia de desempenho no tempo, um sofisticado mo- delo estatistico, aqui concebido ¢ alimentado com os dados da hidrologia brasileira, permite gerar uma série que simula o comportamento do nos- so sistema hidrico em um perfodo — evidentemente, virtual — de dois mil anos. Esperacular ferramenta de planejamento: toda vez que as si- mulagdes moscravam um risco de ocorrén ‘inco anos 8 frente, estava na hora de preparar um aumento da oferta. E se, por falta de chuvas, o déficit nos fazia aproximar de 5% de risco no presente, estava na hora de ligar usinas térmicas, que formam 0 “banco de reservas” do sistema. os re © BRASIL A Liz00 Arncio Sai Dessa combinacio de caracteristicas, resulrava uma confiabilidade. O Brasil, finalmente, tinha energia baraca e segura. Mesmo sendo estatal, o setor nunca foi monolitico. Organizou-se em tor- no de uma holding — a Bletrobras, criada em 1962 —, cercada por empre- sas federais (principalmente, grandes geradoras), estaduais (principal- mente distribuidoras, mas também geradoras) € empresas privadas de menor porte, que continuaram existindo, Esse time transformou o Brasil em campedo mundial de hidreletricidade. Entre 1957 dios mais velhos. Os especialiscas estrangeiros em para aprender, ¢ nos invejavam. Que pafs néo gostaria de ter um sisc energético limpo, renovével, barato, capaz de estocar combustivel para netros? Que planejador no sonharia pilotar um sistema que the da varios anos de folga para tomar decisbes, pois, funcionando com grandes reservas, ab- sorve sem nenhum problema qualquer descompasso presente entre o! ta demanda? Quem nfo gostaria de gerenciar empresas com tantas us ras jf amortizadas, altamente rentéveis, mesmo vendendo bararo a ener- gia que produzem? Era assim o sistema elétrico brasileiro, até seis anos atris. Poderia continuar mais ou menos assim, submetendo-se, é claro, aos aperfeigoa- ‘mentos cabiveis. Sorte nossa. Os outros pafses que também usam muita cenergia hidrelétrica, como os Estados Unidos ¢ 0 Canadé, jé esgotaram seu potencial. Nés, néo. Estamos longe disso. Mesmo rejeitando projetos megalomaniacos e aceitando restrigdes ambientais rigorosas, ainda pode- ‘mos pelo menos dobrar o potencial hidrelétrico instalado, expandindo ‘ema cujo custo marginal (0 custo de construgio de novas, des) € muito inferior ao da opgdo termelécric: diesel ox gis, inevitével na maior parte do mundo, Até 0 fim da décads de 1970, 0 sistema gerava sem problemas os recursos para sua propria expansfo. Isso comegou a mudar nos anos 80, com as ance (César Bergan crises gémeas da divida externa ¢ da inflaglo. Sucessivos governos passa- ram a user a capacidade de endividamento de nossas robustes empresas elézricas para obte: os délares necessarios ao pagamento dos juros exigi dios pelos eredores externas. Ao mesmo tempo, reprimiam sistematica- mente reajustes de tarifas, para conter a inflagio. Com as empresas endividadas (sem que 0s recursos por elas caprades tivessem sido usados no préprio setor) ¢ tornadas deficitérias, logo se estabeleceu uma ciranda de “calores”. As distribuidoras — que so a “bilheteria” do sistema, pois recebem o dinheiro do consumidor — tiravam sua parte e transferiam 0 que sobrava; as estaduais fazitm 0 mesmo, quando exa possivel; as gran- des geradoras federais, situadas no fim da linha, morriam na praia. Em meados da década de 1990, as dividas cruzadas atingiam US$ 50 bilhies. Era o argumento de que precisavam aqueles que passaram a defender 0 desmonce do sistema, Chegava o cempo das privatizagbes, primeiro passo preparat6rio para as elas — dado por Fernando Henrique Cardoso, ainda como ministro da Fazenda — foi a consolidacao € posterior anulagio dessas dividas cruzadas intra-setotiais, recolocando as empresas em posigéo rentével. O segundo passo foi a modelagem de lum novo sistema nfo-esratal, que seria baseado na acragéo de investido- tes privados, especialmente estrangeiros. A energia passaria a ser uma mercadoria demais, sujeita a oscilagdes de oferta e demanda, ¢ 0 sistema escatal cooperativo daria lugara um sistema privado concorrencial. Coisa moderna, diziam. Er uma ceansig&o sem precedentes, aqui e no mundo. Desconheci- da, Difictlima, Como veremos, talvez impossivel. Mas o Banco Mun exigia. Jé na Presidéncia, Fernando Henrique comegou a operagio des- monte, cuja légica louca ¢ implacdvel, como veremos, langaré o Brasil na maior crise de sua hiseéria. governo entregou a charada a uma empresa inglesa, a Coopers & Lybrand, com a orientagéo de privatizar tudo rapidamence. Foi mais rea- 2 que o rei. Alguns anos antes, em plena Era Reagan, os Bstados Uni- dos, patria do liberalismo, haviam comado 0 cuidado de preservar sob controle estatal o seu sistem de geragdo hidrelétrica, parte do qual con- tinua a ser operado diretamente pelo Exército. Isso se explica, de um do, pela necessidade de preservar nas méos do Estado o néiclen estraté- sico do sistema energético, sem 0 qual 0 pais péra. De outro, porque gerenciar hidrelétricas € gerenciar as reservas de gua, com implicagées co Faia Giretas sobre abastecimento, isrigagdo agetcol ambiente, pesca, turismo ¢ intimeras outras ativi ‘mais radical: seu sistema elétrico permanece e: navegagio ides. (A Tra nonolitico.) Nada disso comoveu os nossos tecnocratas. Eles entendem de de- rivativos, mercados futuros, hedges, rolagens, empréstimos-ponte, fTuxos financeiros em geral, mas ndo sabem nada de economia real, cuja base € justamence a energia. Sfo funcionécios do capitalismo financeito. Acor- dam pensando em como atrair investimentos estrangeiros para equilibrar temporariamente as contas extemas que eles mesmos arrombaram. Dot mem pensando em como obter, da sociedade, mais recursos para manter em dia os pagamentos de juros a bancos inst ‘que thes daréo bons empregos depois. Vivem geren prazo. Em suas méos, 0 melhor sistema hidrelétri da economia brasileira, virou um ativo fazer caixa, Um belo patriménio a ser consumido. rerior, meio Orelat6rio produzido pela Coopers & Lybrand é uma das maiores obsas- primas da ignordncia universal. Como o sistema inglés € puramente cér- tmico, eles simplesmente ignoraram a forma especifica de otimizagéo da hidreletricidade brasileira, tratando as linhas de cransmissio como uma parte “neutra” do sistema, uma parte que permaneceria estatal, cor geragio € 2 distribuigo sendo entregues a agentes privadas. Se tado, esse modelo causaria uma perda imediata de 259% na pocénci talada. A gritaria foi enorme. A proposca dos reestudada. A reforma acabou criando uma empress privada, chamada Op dor Nacional do Sistema (ONS), encartegada de controlar toda a gio, seja ela feita em usinas privadas ou ainda estatais. E ele que deter. mina quanta energia cada usina colocard na rede em cada momento (con- forme a base de dados fisicos do sistema) e a que prego (calculado a partir do custo marginal da operagao do sistema naquela configuragio). O ONS ignora concratos ou qualquer tipo de acésto entre empresas. ‘Tem poder absoluro. Em contrapartida, seu modo de operar € cransparence para todos o3 agentes envalvidos: as decisées so comadas por comput dores, segundo prograinas de otimizagdo conhecidos. Os demais grantes do sistema c@m e6pias atualizadas dos dados e dos programas, de modo que as decisées do ONS padem ser acompanhadas ¢ checadas. a ios ingleses teve de ser te Césan Bentamin Ao contririo do que se pensa, a operagio fisica do sistema perma- neceu, pois, absolucamente centralizada, mesmo depois das privatizagbes. E uma especificidade brasileira, que decorre da heranga de nossa base hidrelétrica incerlignda. A empresa privada que compra uma geradora é apenas uma investidora em energia, e nfio uma operadora de usina. — a menos para a parcela sobrante —, 0 que demonstra que a venda das usinas obedeceu apenas a um imperativo ideolégico ¢ a um interesse imediato de obter recursos. Feita a nova modelagem, a venda comecou pela “bilheceria” (as distri- jento de qualquer novo sistema. por exemplo, que ao ser privatizada 2 USS 120,00 (0 consumidor francés, cuja renda € muito maior que a ‘nossa, paga USS 75,00 & mesma BDF para receber 1 MWh gerado em wsinas atOmicas, muito mais caras). Durante oito anos, por contrato, a empresa privarizada nao precisa repassar ao consumidor nenhum ganho de produtividade, nem precisa fazer investimentos na expansio do siste- ma que adquiriu. Um convire & remessa de Iucros. O capital estrangeiro néo se fez de rogado. Segundo a Gazeta Mer- cant! de 13 de margo de 2001, 2 Light privatizada distribuiu como divi- dendos 98% de sev lucrn, generosamente entregues aos novos acionistas estrangeiros. O grupo americano ABS retirou US$ 300 milhdes da Cemig «em dois anos, sem iniciar nenhuma obra nova. Quando 0 governador [tamar Franco inrerveio, recomando 0 controle da empresa, foi crucificado pela equipe econdmica, insuleado em Nova York por Arminio Fraga ¢ tratado come débil mencal pela imprensa Na outra ponta do sistema, em vez de atrair capitais privados para empreendimentos novos, garantindo assim o aumento da capacidade ge- radora, 0 governo colocou a venda as usinas hidrelétricas que ja exist ‘muuitas das quais, como vimos, amortizadas, capazes de gerar quase de © BRASIL A Luz 00 Amcin Lai sgraga: US$ 5,00 0 MWh. Os investidores queriam o que estava pronto, de modo recuperar rapidamente capital investido. Como sempre, ganharam, O sistema clétrico brasileiro comegou a ser financeiramence canibalizado, como fora em passad fatias foram senda distribuidas pelo mundo. Cer (RJ), COC tro-Oeste), a Eletropaulo, a Elektro e a Cesp-Paranapanema (SP), ame- ricanas; a Coelee (CE), a Coelba (BA) € a Celpe (PE), espanholas; € assim por diante. Tudo com dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalha- dor (AT), retirado do nosso salério. $6 em 1998, 0 BNDES, gerente do FAT, repassou R$ 5 bilhdes para financiar os grupos privados que com- praram estatais do setor elétrico. Detalhe: a Resolugio 2.668 do Banco Central profbe que 0 mesmo BNDES concede financiamentos a empre- sas estatais, proibidas de investit. Na contabilidade do FMI, esse investimento € gasto, gera déficit pa Br energético, tendo I parou de investir na expansio do ca obter um superavit contabil. Os investidores estrangeiros, por ‘ver, preferiram seguir comprando as usinas proncas, que o governo gene- rosamente Ihes ofertava. Gor o erescimento natural da demanda e a ne- cessidade de colocar, a cada ano, mais poréncia na rede, restou a alterna- tiva de consumir as reservas de Agua — ou seja, a “poupane: sma, em um ritmo muico mais veloz que o de sua reposicéo pela nacureza. No novo modelo, as decisées de investimento foram entregues a agentes privados, preferencialmente estrangeiros, que trariam délares € ecnologias. Tais agentes, como se sabe, tém um cardépio de opgdes em escala mundial. No portfélio de negécios 20 seu to, pode ocorrer perfeitamente que o item “geragio elécrica no Bra ‘ocupe ume posigao tremendamente modesta, de acordo com suas avalis- bes de rentabilidade e risco, Nao é um escandalo, nem evidéncia de mé- 6, que eles decidam nao investie aqui. Escndalo e evidencia de ma-é € ‘0 governo entregar 0 destino do nosso secor energético a quem nem sabe diteito onde fica o “Bra Uma vez tomada, tal deciséo contém um desdobramento inevied- vel: a energia, no Brasil, teria de ser transformada em um negécio muito asrativo, condigdo para que os tais investidores viessem. Ora, usinas hi- 63 ance (César BENJAMIN drelécricas exigem a imobilizagéo de recursos vultosos, e nelas 0 retorno 1 é muito mais lento. O investidor privado prefere nacuralmente arermeletricidade, de retorno mais répido, embora de maior custo (en- tre USS 40,00 US$ 60,00 0 MWh), pois nela o combustivel é comprado. Neal ma, desde que 0 custo possa ser repassado ao eonsumi- dor. (Bstranho mercado, que tende a levar 0 sistema a uma configuracéo em que a mercacoria mais cara subs ‘mais barata, mas deixemos isso de lado.) Eis o que importa destacar agora: a opgio ideolégica pela privacizagao e: « opello técnica, cecnicamente indefensdvel: a mudanga da matriz energécica brasileira. Este, como veremos, é um pon- to-chave da erise ‘Ao langar-se em tamanha aventura, to arriscada e tdo desnecessé- sia, 0 governo brasileiro insistiu em tr€s mitos. O primeiro: real e délar manteriam a paridade durante muito tempo, sem sobressaltos, pois a es- idade cambial seria garantida pelo Banco Central. O segundo: 0 pe- trbleo (e, com ele, o gas boliviano, combustivel das usinas térmicas a serem conscrufdas) permaneceria barato, pois © governo americano ga- rantia que 0 Oriente Médio estava sob controle. O erceiro: grandes in- vestidores estrangeiros estavam indéceis para despejar seus délares aqui. O etro de céleulo — se céleulo houve — nfo poderia ter sido maior. Em jancito de 1999 0 real desabou, € 0 governo foi obrigado @ alterar o de cambio, que passou a flutuar. Enquanto isso, 0 prego do petréleo ingindo o patamar de US$ 30,00; como o preco do gés boliviano @ indexado ao petrbleo, o custo de yeragio nas usinas térmicas previscas deu um salto, Os investidores, por sua ve iplicaram exigéncias: 70% dos novos projecos deveriam ser financiados pelo BNDES, o prego do gis deveria ser estabelecide em contratos de longo prazo, o governo brasileiro precisava assumir 0s riscos cambiais de todas as operagées, ¢ assim por diante. (Ndo esquegamos: num primeiro momento, o investidor estran; ro transforma délares em reais, para operer dentro da economia brasileira; no futuro, ele precisaré sair do real e retornar ao délar, para realizar seu lucro na moeda que interessa aos seus acionistas; por isso, a relagioentre o real e 0 délar, hoje imprevisivel, passa a ser decisiva para determinar se ele ter$ lucro ou prejuizo; € 0 “risco cambial” do negécio.) Muicos outros problemas se acumuularam, pois néo faltavam contradicoes Ro novo modelo, nunca antes restado. Problemas nos quais o governo ‘unea pensara, porque no entende do ramo. Exemplos. a O BRASIL Alero Ancio Como, na maior parte do tempo, o Brasil tem sobra de energi érelétrica barata, © como 0 Operador Nacional do Sistema & que define em cada momento que energia seré efetivamente jogada na rede, as usi- nas térmicas desejadas pelo governo fatalmente permaneceriam desliga- das nos anos de boas chuvas. Que investidor privado aceitaria construir essas usinas sem contratos de longo prazo, com prego cerco ¢ garantido? Mas que distribuidoras aceicariam assinar esses cont momento de alta do prego do gas, sabendo que, pelas novas regras, per detiam seus consumidores cativos em 2005, quando se estabeleceria concorréncia também nessa ponta do sistema? Por outro lado, jé em 2002 geradoras ¢ distribuidoras seriam livres para negociar seus pregos. Logo, era essencial que a agéncia reguladora (Aneel) definisse a chamada “referéncia externa do prego da energi tendo em vista proteger os consumidores contra acordos abusivos, firma: dos pelas empresas. Mas com que critérios a Aneel poderia definir tal referénecia, se 0 recém-criado mercado spot estava sujeico a variagdes gi- gantescas de pregos, ¢ se niio existem no Brasil mercado futuro de ener gia nem consumidores livres? Impasses desse tipo, sempre renovados, foram paralisundo as deci- sbes. Criou-se um gritante descompasso entre a velocidade de desmonte do modelo anterior, que era de lebre, ea velocidade com que se conse- guia fazer avangar a implantagéo do novo modelo, que simplesmente empacara, Em relatérios, reunides € semindrios, os especialistas mul plicaram alertas: “Sem invéstimentos em geragio e transmissio, conti nuamos gastando os estoques de ag) esgorar; a demanda vai ulerapassar a oferta nos préximos anos.” © Plano Decenal da Bletrobras — documento ofici ‘ava que 2000 seri em relagio a risco de déficic Ainda era tempo. As privatizagBes poderiam ser suspensas, man- ‘endo nas mos do governo a capacidade de gerenciar um estoque segula- dor de energia barata. As empresas estatais de energia, entesouradas em pelo menos R$ 30 bilhées, poderiam ser autorizadas a retomar os investi- mentos em grande escala (Furnas, por exemplo, afirma ter RS 10 bilhoes parados, por ordem do governo). © BNDES poderia ser liberado para somar-se a clas nesse esforgo. Problemas relativamente simples de trans- misso, que exigiam investimentos pequenos, permitiriam otimizaro sis- tema em um paramar mais adequado. Uma politica agressiva de conser- I César Bengaseny vagio de energia concribuiria. Novas téenicas de geragdo distributda, co- ‘geragéo ¢ energias alternativas estavam disponiveis. A montanha, porém, nfo se moveu. Afinal, apenas a oferta de energia paraa economia bre mento de juros aos bancos internacionais. ue estava sob risco ira, e nZo um paga- Chegamos a um ponzo crucial deste artigo, o de compreender o incom- preensivel: partindo de um sistema reconhecidamente confisvel e reple- 0 de reservas, como foi possivel cairmos em um buraco negro? Por que a crise, anunciada com ranca antecedéneia, nfo foi detida e revertida? Como pode o sistema marchar para 0 swicidio, como se fosse uma fatalidade? Para tal, temos de compreender como os agentes relevantes do novo modelo se comportaram ao enxergar a crise que se agigantava. Imagine- ‘mos que, em 1998, um extraterrestre preocupado com o destino do Bra- sil procurasse esses agentes, perguntando o que cada um estava fazendo, diante da aproximacao do colapso. Eis o que ele ouviria: : (2) Do Operador Nacional do Sistema: “Mais do que ninguém, ev vejo a aproximagio da erise, pois sou responstivel pela operagio fisica do sistema. Mas, na nova idade € otimizar a oferta de encrgia em cada momento, atendendo a demanda que cresce. Sem investimentos, sem novas usinas geradores, sem linhas de transmis- slo, resta-me esvaziar os reservatérios, para cumprir minha missio no presente, ¢ enviar relat6rios a0 governo, alertando-o para a situagéo. fo que tenho feito, Do Ministério das Minas e Energia: “Nao posso liberar os in- imencos das nda estatais de energia, pois elas estfo sub- metidas a0 Conselho Nacional de Desestatizagio, comandado pelo pes- soal da Fazenda, Informei o presidente sobre o risco de déficic, aponcado 1os telatbrios do ONS. O presidente estd atado pelos acordos como PMI, ‘mas apoiou 0 programa emergencial que concebi, que prevé a construgio de 49 usinas cérmicas, dando aos investidores garantias sobre 0 prego futuro do gés.” (c) Das distsibuidoras (parte totalmente privatizada do sistema) “Eu tembém sei que a crise estd em curso, mas por favor compreenda minha sitwagéo. Neste momento, estou coberta por meus contratos com a5 geradoras, Se cu contratar mi is energia agora, para proteger meus con- 66 © BRASIL ALuz00 Anco sumidores, terei de estabelecer contratos de vinte anos a US$ 40 0o MWh, pois o gas est4 muito caro. Sei que este prego tende a cals. Nao poderei repassar o sobrepreco atual aos consumidores, pois a Ancel nao me deixa. Mesmo que deixasse, no resolveria o problema, pois mevs consumide- res ficardo livres para escolher outras distribuidoras em 2005. Contracar agora energia nova, induzindo investimentos em geragdo, me levard a far lencia, Prefiro ficar parada onde estou. Se, pelo menos, eu pudesse fazer contratos mais curtos...” (d) Dos investidores privados em geragio (novos agentes do sist ma): “Bu também sei que se aproxima uma crise. Mas, por favo! venha a Aneel tentar me impor contratos mais curtos com as distribuido- 1as, pois eles nfo garantem 0 retomo do investimento que eu deveris, fazer. Por outro lado, esse stibico aumento no prego do gis importado reforga a necessidade de protecio cambial, pois minha moeda de refe- réncia € 0 délar. Fiquei muito inseguro com este novo cimbio flutuante. ‘Nao posso assinar, sem protegfo, contratos de vinte anos, comprometen- do-me a entregar uma energia que depende de um gés cujo prego nio sei qual seré. Além disso, 0 governo de vocés esté preparando a privatiz de Furnas, que 6 uma galinha gorda, pronta para dar uma bela canja, en- quanto por aqui o governo americano também esté iniciando um prog ma de termelétricas. Prefiro esperar para escolher, na hora certa, a op¢io, mais segura e rentavel. Com a aproximagio da crise, talvezas autoridades brasileiras fiquem mais sensiveis...” (c) Da agéncia reguladora (Aneel): “Sei que todos esperam que ev defina 0 valor normacivo, ou ‘referencia extema’, da energia, de modo a estimular os contratos. Mas nfo tenho nenhum critério objetivo para fazer este céleulo. A Fazenda nfo me deixa soltar um valor alto demais, pelo impacto na inflagio. Os investidores no aceitam um valor baixo den Por outro lado, as distribuidoras ndo aceitam contratos longos em energia, térmica, pois 0 prego atual do gés es¢4 muito alto. Com contratos curtos, os investidores nao investem. Como posso regular esta mix6rdia?” (2) Do Ministério da Fazenda: “Nao estou seguro de que se aproxi- me uma crise energética, isso € coisa do tempo dos nossos avés. Nem lembro quando tivemps a Gltima. Bssas incertezas sio naturais, fazem parte do processo de transigio para o mercado ¢ alteragdo da matriz, energética. Quanto as ameagas de colapso, sfo apenas /abdy. Querem hedge cambial, querem tarifas indexadas, querem mexer em contratos jé assi- Faience César Beryamin nados. Isso cheira mal. Sou responsfivel por trés carefas consideradas priorivdrias pelo presidente da Republi tera inflagio denero das metas ¢ conch ‘Todas elas reforgam minha posigo de reter recursos Grandes investimentos, feitos por empresas estatais, so coisa do passado. Além disso, ninguém gosta de comprar empreses que estejam iniciando projeros vuleosos, gois isso imobiliza muito capital e dificulta uma répida discribuiggo de dividendos. Se 0 mercado funcionar, tudo se arranja.” 0 caixa do governo. Fiéis 4s suas préprias logicas, nenhum dos arores era capaz de deter arise. Pior: varios deles no desejavam fazer isso, fosse porque imp! va um nivel exage-ado de exposigo a0 risco, Fosse porque uma cise, ou ameaga de erise, da. Reseava s6 uma car- ta: Petrobras. Con do fora € a situacSo ho apelou para que a velha e ss. Do ponco de vista estrica- artiscadissima, Bla aceitou, assumindo ente empresarial, uma operag bial. Por qué? 0, a Petrobras estava com um mico preto na mio: 0 famoso zugurado em 1998, ainda opera com menos de 40% de sua capacidade, por falea de demanda. Com um agravante: 0 con- trato que a Petrobras assinou € do tipo fake or pay. Ou seja, a empresa é obrigada a pagar por todo o gs que poderia ser entregue, usando-o ov nfo. Eseava tendo um inceiro gigantesco, que justificava 0 para si risco ca Pri riseo igualmente gigantesco do novo negécio. Por outro lado, entrando verno em um momento tornando-se sua credora moral ‘Montado para set privatisca, na hora da crise 0 modelo c: o do Bscado, mas jé inceiramente comandado pela l6gica do privado. Pois, escruturado historicamente na base hidrelétrica, que é co- erente com nosse dotagiio natural de recursos, o enorme sistema ene brasileiro, na prética, fora levado 2 abandonar o potencial nexplorado, sua maior vantagem comparativa no mundo atual. Jé se mo- via puxado por um fio imagindrio, atado em uma ponta metafisica. As térmicas, em toro das quais tudo passou a girar, simplesmente nfo exis- 6 ee Sia tem. E, em condigées normais, ndo sao (nem sero) necessirias paraaten- der 4 demanda. rabo passara a abanat 0 cachorra. Um cachorro coté. Tonesco, Beckett, Kafka, todos os surreal Poi loucura, mas houve método nela. ‘Todos fizeram 0 que-se esperava que fizessem, todos agiram segundo sua prépria l6gica. A soma das l6gi- cas particulares é que produziv uma paral ciada. Nao houve aeaso: no novo modelo, ninguém mais é respon pelo problema energético brasileiro como um todo. A taxa de historicamente mantida sempre abaixo de 5%, com pre anos na frente — fora deixada solta, 20 sabor do mercado, ada tinhamos energia dispontvel, gragas 2s velhas reservus de {que estavam indo embora. Mas 0 tempo corria concra nés. Em agosto de 1999, 0 risco de racionamento atingiu 30%. © governo resolveu apostar. inha 70% de chances de nfo-racionamento, ¢ precisava de tempo para deslanchar o programa das térmicas, agora apoiado pela Petrobras. Em dezembro, as reservas hidricas do sistema chegaram no ponto mais boaixo da histéria: 189%, O risco de black-our foi a 50%, O nivel das reserva t6rios passou a ser acompanhado dia a em mio, mas qualquer alerta que vazava para a mentido. Enredado na cela que ele proprio montara, © governo oprara pelo siléncio. sm janeiro ¢ fevereiro de 2000, S40 Pedro nos estendeu a mio salvadora: choveu extraordinariamente. Os resen novo, embora sem retornar a niveis minimamente seguros. Como nao vio a crise anunciada, 0 pessoal da Fazenda confirmou pressio de que tudo néo passava de um gigancesco /addy. Foi cuidar do que sabe © do que acha importante fazer: conter investimentos € produzir superdvic contébil para “ficar de bem” com o FMI. Gragas a essas chuvas exeepcional 5 ulteapassamos 2000 sem crise energética aparente. Chegamos em dezembro com os rese: térios em 28%. Otimo. Um ano antes, estavam em 18% ¢ ndo houve pro- blema. Por que haveria.em 2001? Racioefnio mediocre, mas que enchew Fernando Henrique de alegria e coragem. Tanta coragem que, em feve- reiro de 2001 — apenas crés meses antes de a crise estourar! resolveu fazer graga. Para faturar em cima dos reclemos popul fente fa anc (Césak Bentamins mais seguranga, foi A TV anunciar 0 Projero Hluminagao Pablica Bficiente (Projeto Rel -ado para “tornar eficientes 8 milhdes de pontos de iluminagdo stalar um milhdo de novos pontos eficientes”. Para ‘o meio rural, langou o Programa Luz no Campo, que tinha como meta “levar energia elécrice a um milho de propriedades e domictlios aré 2002. Comprometeu-se também a “zelar pela seguranga para o investidor pri vado pelos direitos do consumidor quanto & oferta de energia, a q dade dos servigos e 2 modicidade das tarifas.” O presidente enlouquecera, houve quem acreditasse. Se vocé joga dois dados tira uma dupla de seis, comemore. Mas nio tente de novo, Prudénciz, no encanto, nao é 0 forte de um governo domi- nado por financistas ¢ especuladores. Eles gostam de apostar, Deixaram ‘0 ano 2000 ir embora sem providéncias, esperando que a boa sorte se repetisse No lance de 2001, Sao Pedro nos sorteou uma duple de um, Cho- yeu bem menos que 2 média. Como o sistema vinha operando com a chuva de cada ano, a crise emergiu. O presidente se disse “suspreso, cho- cado”, Luiz Pinguelli Rose rebate: “A surpresa do governo com a crise € ume farsa. Ele foi exaustivamente avisado, por mim e por outros colegas, em muias ocasides, desde pelo menos cinco anos atrés. Nao somos géni- os nem adivinhos, Bastava verificar a evolucio das curvas de oferta e de- manda e verificar onde elas se cruzariam, Deveria ter sido em 2000, mas nesse ano tivemo O sistema elétrico brasileiro, com seus grandes reservatérins, per miriu que se fizessem barbaridades dade percebesse, pois havia reservas acumuladas. Um sistema de base cérmica resistiria pouces semanas, se tanto, Agora, porém, essa mesma néscia esté contra n6s: nosso combustive! nenhum mercado, a prego nenhum. Depende de novas chuvas, fartas. A ameaga que paira sobre o Brasil nfo é a de ter de pagar mais caro para manter-se ligado e aceso. A ameaca €, pura ¢ simplesmente, a de entrar em colapso. Justamente porque o combustivel de que precisamos nio se compra, nosso sistema anterior de planejamento cnergético — hoje des- monzado — era muito cuidadoso, preferindo errar por excesso de caute- Ia, nunea por irresponsabilidade. Quando a crise ndo podia ser mais escondida, o presidente mostrou arte. sranse cinco unos, sem que socie- io pode ser comprado em @ BRASIL ALizno Anco na televisio um grafico (histograma) para dizer que os governos Fernando Collor (1989-1992) e Icamar Franco (1992-1994) eram os culpados. Os investimentos em energia teriam diminuido naqueles perfodos ¢ se re cuperado esperacularmente dusante os seis dltimos anos. Hoje sabernos que 03 dados de Fernando Henrique: (a) consideravam como “investi- mento” o dinheico das privatizagGes, que apenas transfericam a proprie- dade de empresas jé existentes e ndo aumentaram em nenhum megawatt- hora a capacidade instalada; (b) inclufam a geragio feita em usinas da Argentina ¢ do Uruguai, de onde 0 Brasil,-nos ilcimos anos, passou a importar elecricidade (algo téo bizarro quanto a Arébia Saudita transfor- rmar-se em importadora de petcéleo!); (c) faziam dupla contagem de 1,000 MWh gerados no Sistema Norte, pois o presidente considerou que nha de transmisséo Imperatria-Brasilia acrescentava 1.000 MWh ao sis- tema, quendo, como diz o nome, ela apenas transmite essa energia do Norte na diregdo do Sudeste. Dos 5.200 MWh que Fernando Henrique rmostrou como conquistas de seu governo, 2.500 MWh eram falsos. No exerefeio do mandaro, em plena crise, lidando com uma ques- tio vital, o presidente do Brasil mentiu deliberadamence & nagio. Criou-se uma situagio inédica, que ainda néo foi corretamente dimensionada pela opinio pablica. Em cempos de paz, nenhum governo do mundo jamais colocou o seu pais sob risco to alco como o governo de Fernando Henrique Cardoso. © Operador Nacional do Sistema prevé que chegaremos em novembro com apenas 10% dos reservatérios preenchi- dos, @ menos que ocorram chuvas muito improviveis em agosto, setem- bro e outubro. No pior momento, até hoje, operamos com 18%, Talvez 0 presidente ¢ sua equipe econdmica nao saibam — afinal, 0 que eles si- bem? — de uma informagio crucial. As curbinas instaladas no Brasil sio programadas para gerar energia em 60 hértz (ou 60 ciclos por segundo) € 56 podem fazé-lo nesta freqéncia, pois todas as nossas maquinas, equi pamentos ¢ eletrodomésticos esta ajustados a ela. Isso exige que as tur lidade, uma certa velocidade de rocagio. Q , 0 peso da 4gua também diminui ¢ 0 fluxo se tora menos estével, exigindo que as turbines fagam mais esfor- co para manter a rozagio programade, Se 0 esforgo for excessivo, 08 siste~ mas de protegéo entram em agio automaticamente, interrompendo a geragdo. Ocorrem quedas sibicas ¢ descontroladas, que podem ser sequenciais, por sobrecarga. (Césax Banyanun Seon que jé foi ceferés Nao se crata de hip6tesc longinqua. Ao contririo, € a mais provav mo assim, 0 governo brasileiro insiste em passar para a opinigo pablica a dia de que o pais incerteza de fazer ou nfo racionamento, € que a mento ¢ colapso. O tempo ¢ a sorte passaram a ser os elementos di Se chover bastante nos préximos meses (0 que nia é provv 2 estagio & seca), passaremos raspando, sofrendo os inconvenientes jé bem conhecidos. Se garemos 20 caso-limice de lungar uma sociedade em um salve-se-quem- puder, de descruir fisicamente uma grande economia, sem guerra exter- ra, apenas pela implacdivel aplicagdo de uma ideologia chamada neoliberal. Que Deus nos proteja! Faience ‘A Crise be ENERGIA No CONTEXTO INTERNACIONAL Samuel Pinbeiro Gui Mestce em Economia pela Boston Universicy « bachat reito pela UFRJ. Foi professor da Universidade de Bris Instituto Rio Branco. & professor da Escola de Politicas Pablicas fe de Governo e do curso de mestrada em Direito da UERJ. E coordenador do curso de pés-graduagio em Comércio Exterior € Cambio da FGM. Poi vice-presidence da Embrafilme e diretor de CCooperacio Internacional da Sudene. Foi chefe do Departamento Econdmico ediretor do Instituto de Pesquisa de RelagBes Inter- nacionais do Icamarety. Foi ministro-conselheiro da embaixada do Brasil em Paris. Acrise de energia elétrica no Brasil € um fato hist6rico talvez sem prece- dentes. O governo de um pats, formado por profissionais de elevada qua- Sicagio, tinha conhecimento de fato gravissimo, pois era visivel a olho ru e ocorria aos poucos em muitas usinas de modo simuleéineo e, sinda assim, ignorava sua importncia ¢ ocultava suas conseqiéncias da socie- dade, Enquanto se reduziam os niveis de agua dos reservatérios das usi- nas hidrelétricas e se esgotava 0 insumo essencial para o funcionamento da sociedade, proclamava-se a normalidade da sicuagdo econdmica, gra- ‘gas 20 €xito das politicas governamentais, se anunciavam significativas metas de crescimento do PIB para 2001 Esta crise inédita possui, de cerva forma, aspectos principalmente internacionais, pois os fatos e as decisbes politicas que a provocaram tém sua origem préxima ou remoca no exterior, com a Gnica excegdo da irregu- laridade das chuvas, perfeitamente administravel. 6

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