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Burke; “A man for all seasons” SPREE Nsom RESUMO: Este artigo procura apresentay Go mesmo tempo, uma biografia concisa de Burke - de sua vida e obra -@ um comentario, uma avaliagdo dos mais importantes estudos, al- guns de caracter biogrdfico, que a ele foram dedicados. Nossa tese, ¢ fio condutor do artigo, é que existe um “problema Burke”, ¢ ele é a chave para se compreender e expli- car sua obra principal, Reflexées sobre a Revolugéo em Franga. PALAVRAS-CHAVE: Historia. Po- litica. Revolugdo. Franca. Inglater ra. Liberal. Conservador. Século XVI Modesto Florenzano Universidade de S40 Paulo ABSTRACT This article intends to present @ concise biography of Burke - of his life and work - and at the same time a commentary, an evaluation of the most importants studies (some of biographical character) about him. Our thesisand main axis of this articie ts that there exists a “Burke problem”, which is the key to the understanding and correct explanation of his greatest work, Reflections on the French Revolution. KEY-WORDS: History. Politics. Revolution. France. England. Whig. Tory. Eighteenth Century, “Quantos homens em um homem! Como seria injusto, para essa criatura mével, estereotipar uma imagem definitiva!” (Jules Michelet, Histéria da Revolugao Francesa, 1847) “No se pode saber o que um homem pensa, a menos que se saiba o que ele esté fazendo” (John Dunn, “The Identity of the History of Ideas”, Philosophy, 43, 1968) “Para entender um texto n@o se deve procurar seu autor” (Paul Ricoeur, “The Model of the Text”, Social Research, 38, 1971), 32 1977 € o bicentendrio da morte de Edmund Burke. Ao longo destes dois séculos, o autor de Reflexées sobre a Revolugdo em Fran ¢a tem sido, precisamente por causa desta obra, constantemente lem- brado e estudado. Os estudos a ele dedicados, como de testo ocorre com todos os pensadores, podem ser dividides em dois grupos; de um lado, ¢ constituindo a grande maioria, os que tratam quase que tao- somente do pensamento de Burke, situando-se, assim, meramente, na esfera da histéria das idéias; de outro, os que, tormando como objeto central, ao mesmo tempo, o pensamento e o homem, a obra e a per- sonalidade, situam-se também, ou assim pretendemi, no campo da bio- grafia. Seja. como for, e considerando uns e outros, parece que estamos, & primeira vista, diante de um paradoxo, Quanto mais se estuda o pensamento e a vida de Burke - e nunca foram, como se vera, tho estudados quanto nesta segunda metade do século XX - mais enigmati- ca e misteriosa se torna sua figura, porque mais divergentes, entre si, resultam os retratos produzidos, Em outras palavras, da maior quanti- dade, 2 qualidade, de estudos biograficos a ele dedicados, em vez de resultar (para além de todas as variagdes secundarias, ¢ inevitaveis) um mesmo Burke, ostentando os mesmos tracos basicos, resultam, ao contrario, varias, e contrastantes, representagdes de Burke. Como se houvesse tantos Burkes quantas sao as estagdes. As- sim, temos um Burke filésofo (do direito natural), um Burke (conserva- dor)ambiguo, um Burke economista-politico @ um Burke humanista (defensor dos injusticados}. “Um hamem para todas as estagdes". Es ses novos quadros, criados a partir da segunda metade de riosso seeu- lo, somam-se & galeria dos velhos retratos de Burke, sempre represen- tado como liberal e/ou conservador, deixados pelos seus contempora- neos ¢ pelos pésteros até a primeira metade do século XX. Diga-se, desde logo, que esta diversidade de representagées, ou interpretagGes, nao depde, como é 6bvio. contra os bidgrafos, pois as biografias intelectuais dedicadas a Burke sao todas, como se vera, muito consistentes e canvincentes, numa palavra, muito bem construidas; ao 33 contrario, a diversidade apenas revela a riqueza, a complexidade, do biografado, e de sua obra-prima, as Reflexdes. Mas, no campo da histéria das idéias, o caso, sabe-se, nao € tnico. Podemos lembrar aqui, entre outros, Maquiavel e O Principe, e 0 ensaio modelar, a eles dedicado, de Isaiah Berlin. Para este conheci~ do estudioso das idéias, o surpreendente nao é tanto a existéncia de mais de vinte interpretagdes sobre o autor de O Principe, quanto o fato desta diversidade se dar sobre “um livro breve: com um estilo usualmente descrito como singularmente liicido, sucinto, acido, um mo- delo de clara prosa renascentista”; para Berlin, Maquiavel difere, neste aspecto, de outros pensadores como Platao, Rousseau, Hegel ou Marx, cujas obras sAo, por um motivo ou outro, ou um tanto prolixas, ou um tanto obscuras.! Ora, assim como existe um “problema Maquiavel” (que, entre outras coisas, se manifesta na presenca de fortes conviccdes ético-po- liticas, do que tem sido chamado de “republicanismo clAssico", nos Comentarios sobre a primeira década de Tito Livio, e sua aparenie auséncia em O Principe) e utn “problema Rousseau” listo é, a propos- ta de salvar o cidadao & custa do individuo, ou do burgués, em O Contrato Social, ea de salvar o individuo, ou burgués, 4 custa do cidadao em O Emilio), também existe um “problema Burke”. Problema que, por ora, nos limitaremos a apresentar como se- gue: contradicao nde sé entre o que Burke defende nas Reflexdes e o que defende em outros escritos, anteriores e posteriores, mas contradi- ao dentro das proprias Reflexdes, uma vez que estas ostentam, a um s6 tempo - na feliz formulagdo de um estudioso atual - “uma concepgao burguesa da sociedade civil e uma concepcdo aristocratica do Estado”? Nao surpreende, pois, que nao haja consenso entre os pésteros, em geral, e entre os criticos e estudiosos, em particular, sobre quem foi, realmente, Burke; sobre a importancia e. valor da sua ac&o politi- cae dos seus escritos e sobre © lugar que eles ocupam, ou deveriar ocupar, na histéria politica da Grd-Bretanha e na histéria das idéias do Ocidente. 34 Mas, eis um retrato conciso de nosso autor, composto a partir de estudos biograficos recentes a ele dedicados (2 que a seguir comen- taremos). Edmund Burke nasceu em Dublin, em 1729, segundo filho de uma familia irlandesa, catélica e médio-burguesa. Seu pai, mas n&o sua mae, converteu-se ao anglicanismo apenas por conveniéncia, para facilitar sua carreira de advogado bem-sucedido; pelo mesmo motivo, Burke foi educado em escolas protestantes na Irlanda, terminando seus estudos no excelente Trinity College, em Dublin, que. Ihe proporcio- nou uma ampla e rigorosa formac&o’humanistica, com dominio da lingua e dos classicos antigos (greco-latinos) ¢ modernos (sobretudo anglo-franceses). Em 1750, aos vinte e um anos, foi a Inglaterra para ai comple- tar sua formacao em Direito; uma vez em Londres, porém, em vez de realizar a expectativa paterna, o jovem Edmund nem se formou advo- gado nem retornou 4 terra natal. Decidiu ser um intelectual, um philosophe, ou homem de letras, como se dizia no século XVIII. De- pois de variados e intensos estudos, ¢ apenas seis anos depois de se estabelecer em Londres. publica, com sucesso, A Vindicatian of Na- tural Society, em 1756, e Uma investigagdo fildsofica sobre a ori- gem de nossas idéias do sublime e do belo, em 17573 Com a publicagio, anénima, de A Vindication of Natura! Society, que parecia representar a defesa de uma sociedade e gover- no haturais, em oposicao a uma sociedade e governo civis (levando a estas esferas a defesa que Bolingbroke acabara de fazer de uma religiao natural, em oposico a uma religiio adquirida), Burke intrigou os meios intelectuais ingleses, curiosos em) saber quem era 0 autor do texto. Pois, sua linguagem tanto poderia ser tomada como uma defesa da- quelas concepgées, quanto como uma sétira, uma critica a elas. E foi uma sdtira, uma critica a Bolingbroke o que ele pretendeu fazer, se dermos crédito ao que Burke declarou no prefacio & segunda edigdo, publicada no ano seguinte, quando revelou ser o autor do texto. Como quer que seja, no mesmo ano de 1757, em que revela sua identidade, Burke também publica um pequeno tratado de estética, logo reconhecido na Inglaterra e no continente como uma obra de 35 valor (chamando a ateng&o, entre outros, de Johnson, Diderot, Lessing, e Kant). A notoriedade ganha com os dois livros abre a Burke as pertas do mundo artistico ¢ intelectual londrino. Em 1762, ele aparece como um dos sécios fundadores do The Club, juntamente com, entre outros, Reynolds, Garrick, Johnson e Adam Smith. Burke tinha tudo, pois, para permanecer nesse mundo intelectual, ai realizando uma pro- missora e bem-sucedida carreira. Mas, ac que tudo indica, esse era um mundo pequeno para a sua grande ambicao. Pois, na Inglaterra do século XVIII, excetuando o mundo dos negécios, somente o da politica oferecia possiblidades para quem, como Burke, era dotado de muita energia, de muito talento intelectual, e de muita ambigao, mas néo tinha nome, poder e riqueza, e desejava ardentemente os trés, Sem nunca deixar de ser um intelectual dirigiu, de 1758 a 1776, a Annual Register, revista anual 4 qual ficou ligado por quase irinta anos e, certa vez, definiu o verdadeiro estadista de “filésofo em ag4o”®), entrou para o mundo da politica, a partir de 1759, quando se. tornou secretario particular do deputada inglés William Ha- milton. E quando este, por sua vez, foi nomeado, em 1761, secretario- geral do governador inglés na Irlanda, Burke pade entdo retornar & sua querida terra natal e l4 permanecer por alguns anos. E Burke, assim como nunca deixou de ser intelectual, também nunca deixou de ser irlandés (e a bem da verdade nem poderia), o que significa dizer, entre outras coisas, que, in petto, era, senao catdlico, pelo menos simpatico & causa catélica, sensivel, portanto, & domina- cao e€ opressao sofridas por todos quantos nao fossem anglicanos e ingleses de nascimento. E preciso insistir no fato de que, ndo obsiante sua op¢do deliberada de se integrar ao establishment inglés, Burke hunea tenunciou @ identidade irlandesa: no inverno de 1756-57, ca sou-se com Jane Nugent, irlandesa e catdlica, em lugar e rito até hoje desconhecidos (ja se suspeitou que tivesse sido em Paris, a maneira catélica); em sua vida privada, sempre comportou-se como um verda- deiro chefe de cla irlandés (mantendo, ¢ ajudando de todas as formas, em sua propriedade de campo, em Beaconsfield, uma familia ampliada que incluia todo tipo de parentes e conhecidos irlandeses); e, em sua vida ptiblica, como deputade, nunca poupou esforcos para reformar e melhorar, de dentro da dominacao inglesa, a condic&o ea sorte do seu pais natal. 36 Do casamento nasceram dois filhos; Christopher, que morreu crian¢a, e Richard que, ainda jovem, faleceria em 1794, de tuberculo- se, trés anos antes do proprio Burke, e menos de um més depois de eleger-se deputado. Pode-se imaginar, facilmente, como a morte de seu tinico filho deixou Burke abalado. Porque bem sabia que, mesmo que ele, Burke, conquistasse © enobrecimento, nunca poderia deixar de ser um “novus homo”, como se definiu mais de uma vez, mas esperava que seu filho Richard pudesse ser o primeiro rebento, o pri- meiro carvalho de uma nova linhagem por ele fundada. Em uma carta de 1772, ao duque de Richmond, Burke compa- rou-se, homem novo que era, ao melo, fruta sazonal, de intenso chei- ro mas breve duragao, e comparou Richmond, 0 aristocrata, ao “gran- de carvalho que sombreia a country e perpetua seus beneficios de geracao em geracao”. Assim, para Burke, a morte do filho, como bem riotou Lord Stanhope, “encerrava para sempre qualquer tipo de feli- cidade terrena, punha fim a todos os seus sonhos de grandeza terrena.”¢ Por tudo isso - isto ¢, por sua condigao de homem novo, sem fortuna, empregado da aristocracia, ainda por cima irlandés e suspeito de catolicismo~- nao surpreende que os contemporneos 0 vissem como um aventureiro e arrivista, os adversarios 0 xingassem de adulador e servical da aristocracia, € os caricaturistas o representassem. como jesuita e papista, Assim, se se quer compreender o carater @ a sensibi- lidade de Burke, suas reagdes mais intensas e subconscientes, ¢ a pro- fundidade extrema com que viu a Revolucdo francesa e os revoluciona- rios, no se pode, nem por um instante, esquecer sua condicao de irlandés, intelectual e politico profissional. Pois, Burke fez-se politico no sentido weberiano e pleno do ter mo, isto é, passou a viver da e para a politica. Tendo rompide com Hamilton em 1765 (por considerar que este, sem recompensa-lo fi- nanceiramente a contento, Ihe tomava todo o tempo e energia, impe- dindo-o de prossequir suas atividades intelectuais), consequiu, no mes- mo ano, tornar-se secretério particular do Marqués de Rockingham, umn dos patrones do partide Whig. Como secretario de Rockingham, de 1765 até a morte deste, em 1782, Burke iria viver os melhores anos de sua vida. Rockingham encontrou em Burke o auxiliar perfeito, o homem extremamente ha- 37 bilidoso, laborioso, disciplinade, devotade e politicamente criative, como que capaz nao s6 de dar forma a todas as aspiracées politicas de Rockingham, mas capaz até mesmo de interpreté-las e de fazé-las vir & luz. Por sua vez, Burke encontrou em Rockingham o aristocrata ideal, sensivel, sempre pronto a ouvir, a respeitar, a reconhecer e a recom- pensar, generosamente, os seus talentos e méritos; como que capaz de entender e atender aos desejos e as necessidades do homem novo e ambicloso que Burke era. Eleito deputado, pela primeira vez, em 1765, Burke permane- ceu quate trinta anos, sem interrupgao, na Camara des Comuns; pre- cisamente até 1794, quando se aposentou. Excetuando um mandato (de: 1774 a 1780, quando representou a cidade de Bristol), elegeu-se sempre por “burgos podres” ou de “colete”, isto é, controlados por aristocratas do seu partido. Com exce¢ao de dois curtos periodos - em 1765-66 e 1782-83, quando esteve no poder guindado por seu patrono (o primeire como seu secretério e © segundo também como tesoureiro geral, cargo que lhe dew o direito de ser chamado de Right Honorable) - Burke passou praticamente toda sua carreira politica na oposic&o, como um dos membros mais atuantes da faccdo reformista do partido whig, liderada por Rockingham e, depois da morte deste, pelo também aristocrata, tnas membro da Camara dos Comuns, Charles James Fox. Foi, pois, enquanto politico whig, enquanto liberal e oposicio- nista, que Burke se celebrizou como um dos maiores oradores parla- mentares de todos os tempos: defensor das prerrogativas do Parla- menito @ dos interesses dos habitantes das colonias inglesas, fossem estes irlandeses, norte-americanos, ou hindus; critico implac4vel da politica arbitraria da Coroa e do rei Jorge Ill ("Nao posso deixar de observar que todas as nossas desgracas se devem a influéncia da Co- roa, fatal e desmesurada.... que se insinua em todas as coisas do rei- no”, declarou em discurso de 1779); porta-voz e principal idedlogo do whigguism, entao encarnado pelos rockinghamistas; 0 primeiro a defi- nir partido (“um conjunto de homens unidos para promever, com seus esforgos reunidos, o interesse nacional, sobre a base de algum princi- pio particular com © qual todos concordam”); e, last but not least, promotor, e alma, do processo de impeachment (1786-1795) contra Warren Hastings, governador inglés da India.” 38 Datam do periodo em que, gracas a Rockingham, Burke foi o principal idedlogo do partido whig, os panfletos Observations on a late Publication Intituled ‘The Present State of the Nation’, de 1769, e Thoughts on the Cause of the Present Discontents, de 1770; os discursos sobre as colonias inglesas da América do Norte (em 1770, Burke foi escolhido agente em Londres:do Estado de Nova York, com um salario de 500 libras por ano), “On American Taxation”, de 1774, e@ “On Moving his Resolutions for Conciliations with the Colonies”, de 1775; ea carta “Letter to the Sheriffs of Bristol”, de 1777. Nos poucos anos, porém, transcorridos entre a morte de Rockingham, em 1782, e 0 inicio do processo de impeachment, em 1786, a situagao (financeira), a posig&o (politica) e a imagem (publica) de Burke se deterioraram rapidamente. Ac perder, em 1783, © cargo de secretario-geral do tesouro, Burke também perdeu sua tltima chance de enriquecer e quitar as enormes dividas contraidas para manter um trem de vida:senhorial na propriedade, hipotecada, de Beaconsfield.* A partir de 1787, quanto mais Burke se envolvia com o impeachment (que, uma vez iniciado, arrastou-se por nove longos anos, gragas, unicamente, ao empenho e obstinag&o. com que Burke, praticamente sozinho, sustentou e conduziu todo o processo, pois os demais lideres whigs logo se desinteressaram do affaire), mais se isola- va dentro do seu partido. E, no ano seguinte, em 1788, sua imagem acabou por ficar completamente desacreditada por causa do agodamente com que agiu no episédio da loucura de Jorge Ill. Burke, que ansiava ver o principe de Gales declarado sucessor (pois, com isso esperava retornar ao poder), ao tentar demonstrar “cientificamente” que a loucura do rei era irreversivel na idade ern que se encontrava, caiu no ridiculo quando este recobrou, pouco depois, sua sanidade. No Parlamento, nao. eram poucos os que, mesmo no partido whig, nao entendendo a fitria com que Burke atacava Warren Hastings @ a paixdo com que defendia a India, passaram a achar que havia enlouquecido’ Ao discursar, sempre sobre o impeachment, nao s6 nao era mais ouvido (ao contrario do que ocorrera durante tantos anos, quando, com sua eloqtiéncia irresistivel, prendera a atengao de todos), nem mesmo pelo seu partido, como se tornara objeto de chacotas. Em uma das sesses, depois de proferir um violento discurso, “foi adverti- do por seus colegas parlamentares de que se nao se controlasse se arriscava a ser preso por louco.”® 39 Falava-se, e muito, dentro e fora do Parlamento, da sua loucura. O:deputado William Windham, que tinha Burke na mais alta conta, e que é, portanto, neste caso, insuspeito de exagero, ao ler as Refle- x6es, registrou em seu diario de 7 de novembro de 1790: “Poder-se-ia pensar que o autor de um tal trabalho, seria chamado a fazer parte do governo do seu pais, pelas vozes combinadas de cada homem. O que se dira da situagao quando for lembrado que o escritor é um homem denegrido, perseguido e proscrito; pouco valorizado até mesmo pelo seu proprio partido, e considerado pela metade da nago como pouco melhor do que um maluco genial?” E, em 1791, o historiador Gibbon, que, come muitos, ficara encantado com as Reflexdes, disse: “pobre Burke, & 0 louco mais elogiiente que jamais conheci."”” Assim, quando a Revolugao Francesa chegou, em 1789, encon- trou Burke financeiramente endividado e politicamente isolado e desa- creditado. Na feliz expressao do historiador A. Cobban, “no verao de 1789 a fortuna politica de Burke estava no seu nadir,”"! Estava velho e nao podia se sentir menos que amargurado e frustado, pois nao tinha alcangado nem poder nem riqueza, e nem mesmo, apesar de bastante conhecido politica e intelectualmente, reconhecimento social; antes pelo contrério, como acabamos de ver. Mas a chegada ¢ © curso da Revolugao Francesa iriam operar uma reviravolta na carreira e imagem de Burke, Gragas as Reflexdes (e, a sequir, aos demais escritos contra a Revoluco Francesa), Burke obteve da Coroa ura pensdo anual (a0 se aposentar, em 1794), bem como cbteve 0 reconhecimento e a gratidao de praticamente todas as Cortes e aristocracias da Europa.'? Apesar de nao voltar ao poder, Burke voltou a marcar com seu nome a vida politico-partidaria inglesa, como nunca o havia feito an- tes. Contribuiu, de maneira decisiva, com seus discursos e escritos, para a decis&o historica de Portland, e demais lideres da maioria whig, de se juntarem ao partido do governo, formando-se, com isso, em 1793, um verdadeiro “partido da ordem” (ficando a minoria whig re- duzida a umas poucas dezenas de deputados, liderados por Fox"). E, 40

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